Buscar

CADERNO PROCESSO CIVIL III - PROF PRISCILA DE JESUS / RODRIGO SALAZAR - INCOMPLETO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
1 
 
AV1 – 26/03 a 31/03 
AV2 – 28/05 a 02/06 
AULA 03 DE FEVEREIRO 
DA ORDEM DO PROCESSO NO TRIBUNAL 
1. INTRODUÇÃO 
Na vigência do CPC de 73, embora houvesse, no CPC, uma parte dedicada a essa 
temática, nas aulas não se costumava destacar um encontro, ou mais de um, para tratar 
disso. Curiosamente o CPC 73 trazia previsões dessa temática, mas não separava esse 
momento. Era um tema não explorado objetivamente num encontro específico. 
Com a entrada em vigor do CPC 15, ganhou mais corpo essa temática, passando 
a ser mais explorada, com redações mais objetivas. Os livros de doutrina começaram a 
trazer capítulos a parte da ordem dos processos nos Tribunais e, então, também, nas aulas, 
os professores de processo começaram a destacar o tema. 
Esse tema é disciplinado nos artigos 929 a 946 do novo CPC. Esses dispositivos 
tratam, em realidade, do processamento de processos no Tribunal. Processamento de 
recursos, ações de competência originária e incidentes de competência do Tribunal. 
Além desses dispositivos, há, também, dispositivos de regimentos internos dos 
tribunais que tratam desse assunto. Então essa temática é disciplinada não apenas no CPC, 
mas também em regimentos internos dos tribunais. Em IED Processual foram estudadas 
as fontes de normas processuais e uma das fontes é o regimento interno. Todo Tribunal 
pode editar o seu próprio regimento interno, nos termos do artigo 96 da CF/88. Nesse 
regimento interno dos tribunais, que cada um tem o seu, haverá dispositivos que tratam 
dessa temática do processamento de recursos, ações de competência originária e incidente 
de competência do tribunal. Ou seja, muito dos dispositivos estudados são dispositivos 
repetidos em regimentos internos do tribunal ou são dispositivos mais bem explorados 
nos regimentos internos dos tribunais. Explorados de uma forma mais detalhada. 
2. PROTOCOLO, REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
2 
 
Disciplinado pelo art. 929 do CPC. Trata do nascimento do processo no Tribunal: 
protocolo, registro e distribuição. 
“Art. 929. Os autos serão registrados no protocolo do tribunal no 
dia de sua entrada, cabendo à secretaria ordená-los, com imediata 
distribuição.” 
É desse dispositivo que se extrai o regramento dos atos de protocolo, registro e 
distribuição, que são atos intimamente ligados à origem do processo no Tribunal. Em 
primeiro lugar, quando o processo chega ao tribunal, há de ser feito o protocolo. O que é 
o protocolo? Nada mais é do que livro oficial e cada Tribunal tem o seu e esse protocolo 
pode ser eletrônico ou físico. 
Feito o protocolo, é possível já obter certidão de que existe o processo. Esse 
protocolo pode ser feito diretamente no Tribunal ou podem existir ofícios de justiça de 
primeiro grau descentralizados, em que se admite a realização de protocolo ligado ao 
Tribunal. Os tribunais estão autorizados a criar câmaras regionais ou ofícios de justiça de 
primeiro grau capazes de receber processos que vão tramitar no tribunal e esse protocolo 
poderá ser feito de maneira descentralizada. 
Em Salvador, por exemplo, na Justiça Federal tem o protocolo descentralizado. O 
TRF-1 fica em Brasília. Então ele criou um ofício de justiça de primeiro grau 
descentralizado para receber protocolos dirigidos ao Tribunal. É bem verdade que a maior 
parte desses processos já tramitam eletronicamente. O recurso de agravo de instrumento, 
por exemplo, protocola no sistema do TRF-1 eletronicamente. Mas o sistema não tem 
capacidade ilimitada. Ele não recebe documentos de todo e qualquer tamanho. Assim, a 
depender da limitação, se o recurso tiver muito documento, não vai ser possível fazer o 
protocolo eletronicamente. Então tem de imprimir tudo, ir à Justiça Federal de primeiro 
grau e levar o físico, fazendo o protocolo. O ofício de justiça vai levar o processo para 
Brasília, ao TRF-1, para que depois os atos de registro e distribuição sejam realizados. 
Isso é o que se extrai do parágrafo único do art. 929: 
“Parágrafo único. A critério do tribunal, os serviços de protocolo poderão ser 
descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.” 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
3 
 
Feito o protocolo, imediatamente deve ser realizado o registro do processo no 
Tribunal. O registro tem como finalidade viabilizar que o Tribunal faça levantamentos 
quantitativos, ou seja, quantos processos estão cadastrados, quantos processos já foram 
iniciados e já se encerraram ou ainda estão em curso etc. Mas o registro também tem uma 
finalidade fundamental que é a publicidade a respeito da existência daquele processo. 
Após o registro, também imediatamente, deve ser realizada a distribuição do 
processo no Tribunal. A distribuição deve observar a alternatividade, o sorteio eletrônico 
e a publicidade (art. 930, caput, CPC). 
“Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno do tribunal, 
observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade.” 
Na verdade, são características que também são observadas na distribuição de 
processos em primeiro grau. No Tribunal não acontece diferente. Por que isso? Em 
relação à alternatividade, é para garantir uma igualdade na distribuição de trabalhos entre 
os órgãos e os membros do Tribunal. Além disso, é preciso também se observar o sorteio 
eletrônico, pois é preciso preservar, também no âmbito dos tribunais, o juiz natural. As 
partes e nem mesmo o órgão jurisdicional pode escolher aquele caso que ele quer julgar. 
As partes não podem escolher o órgão jurisdicional ou o membro do tribunal que vai 
julgar o seu processo. Por fim, é preciso observar a publicidade, pois tanto a sociedade 
quanto as partes devem, a partir da publicidade, controlar o ato de distribuição. Este está 
diretamente relacionado à preservação de juiz natural, de competência, de imparcialidade. 
Esse ato, então, deve ser amplamente publicizado para que não apenas as partes, mas 
também a própria sociedade, tenha condições de fazer esse controle. 
 Pode acontecer de o recurso ser distribuído livremente, mas pode haver um órgão 
jurisdicional ou um julgador prevento, isto é, em relação de um vínculo anterior, deveria 
receber os processos incidentes e recursos subsequentes a respeito daquela mesma relação 
jurídica. Então pode haver um equívoco na distribuição ou pode ocorrer de que havia já 
um órgão predefinido que deveria receber em razão de prevenção, mas por alguma razão 
a distribuição foi livre, desconsiderando-se a prevenção, o que deverá ser suscitado pelas 
partes ou pela sociedade, sem prejuízo de o próprio tribunal sinalizar esse equívoco. Não 
apenas as partes e a sociedade podem fazer esse controle, mas também o órgão 
jurisdicional, o que é bem comum eles próprios fazerem. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
4 
 
3. CONEXÃO E PREVENÇÃO 
A conexão e prevenção também são fenômenos que acontece em processos que 
tramitam no Tribunal. Quando se está diante de ações de competência originária do 
Tribunal, o regramento da conexão e prevenção é exatamente o mesmo que se aplica às 
ações de primeiro grau. 
Quem é o juízo prevento? Aquele que primeiro recebeu uma das causas conexas 
por meio de registro ou por meio de distribuição de petição inicial. Então quando estamos 
diante de ações de competência originária do tribunal, o regramento é esse. 
Agora se estivermos diante de recurso ou até mesmo incidente de competência do 
Tribunal, aplica-se um dispositivo específico, que é o parágrafo único do art. 930 do CPC: 
“Parágrafo único. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o 
relator para eventual recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processo 
conexo.”Exemplo: está tramitando em primeiro grau uma ação qualquer. Nessa ação, foi 
proferida uma decisão liminar, indeferindo o pedido de tutela provisória. Contra essa 
decisão, cabe o recurso de agravo de instrumento. Interposto o agravo, qual órgão julga? 
Algum órgão do tribunal. Então o agravo vai ser protocolado no tribunal, vai ser 
registrado e distribuído no tribunal. Feita a distribuição, ele vai ser direcionado para um 
órgão específico do tribunal (Primeira Câmara Cível, por exemplo). Além disso, esse 
recurso vai cair em algum relator. A ação em primeiro grau continua tramitando normal, 
porque o julgamento definitivo tem de acontecer, vez que, até então, só foi proferida a 
decisão liminar. Digamos que o processo prosseguiu e foi proferida sentença, que é a 
decisão que encerra o processo em primeira instância. Contra a sentença cabe, em regra, 
apelação. Quem julgará essa apelação será o Tribunal e tem de ir para algum órgão do 
Tribunal. Nesse caso concreto, essa distribuição será distribuída por prevenção, ou seja, 
direcionada ao órgão e relator do agravo. 
OBS 1: Esse recurso subsequente pode ter sido interposto no mesmo processo ou 
pode ter sido interposto num processo conexo. Exemplo: existe uma ação de cobrança 
decorrente de um contrato e uma ação de indenização que decorre do mesmo contrato. 
Mesma causa de pedir remota. Se duas demandas têm a mesma causa de pedir, ainda que 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
5 
 
seja remota, elas são causas conexas. Digamos que a ação de cobrança foi julgada, foi 
proferida a sentença, existindo uma apelação sendo processada no tribunal. Depois foi 
proferida uma sentença na ação indenizatória, que discute a mesma relação jurídica, 
fundada no mesmo contrato. Novamente veio uma apelação. Essa segunda apelação da 
ação indenizatória vai ser distribuída livremente no Tribunal? Não, será por prevenção. 
OBS 1.1: As duas demandas narradas deveriam ter sido reunidas, em regra, mas 
se uma já tinha sido sentenciada antes da outra começar, não poderá haver a reunião, que 
é o caso narrado. 
OBS 2: O órgão jurisdicional e o relator especificamente serão preventos para o 
recurso subsequente, para o incidente subsequente manejado naquele mesmo processo e 
processo conexo, ainda que o primeiro recurso que gerou a prevenção já tenha sido 
julgado em definitivo (trânsito em julgado). 
OBS 3: Embora o parágrafo único fale apenas em recurso, dá para inserir no 
âmbito do seu alcance incidente processual que se desenvolva no tribunal e, também, 
mandado de segurança impetrado contra decisões jurisdicionais. Esse mandado de 
segurança para questionar uma decisão jurisdicional funciona como se um recurso fosse. 
Então se um MS é impetrado contra uma decisão proferida num processo, esse MS será 
de competência do Tribunal. Esses recursos subsequentes ou até mesmo o MS, que serão 
de competência do Tribunal serão distribuídos livremente ou o MS primeiro torna 
prevento o relator aos recursos subsequentes? Vem se entendendo que o MS, assim como 
o recurso, também torna prevento o relator. Tem regimento interno de tribunal que prevê 
expressamente isso. 
A prevenção faz surgir, para o juízo prevento, competência funcional e, 
portanto, absoluta. Apesar disso, a prevenção poderá ser suscitada a qualquer tempo, 
por qualquer das partes, até mesmo pelo próprio órgão jurisdicional, até antes do 
julgamento. Realizado o julgamento, aquele órgão terá exercido jurisdição e não há que 
se falar em vício que gere nulidade daquela decisão. Nada impede que depois do 
julgamento da demanda possa o órgão jurisdicional reconhecer a prevenção, remetendo 
o processo ao relator prevento para julgar o recurso seguinte, mas a decisão proferida não 
poderá ser anulada. É importante destacar isso, pois o vício de incompetência absoluta é 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
6 
 
um vício muito grave que enseja a nulidade do processo. Isso é uma realidade no âmbito 
dos processos de competência originária. 
4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS: VOTO, JULGAMENTO, 
ACÓRDÃO E EMENTA 
No Tribunal, os julgamentos são e devem ser, em regra, colegiados, ou seja, o 
julgamento de processos no Tribunal (recursos, ação de competência originária, 
incidentes) deve ser feito com a participação de mais de um membro do Tribunal. Nesses 
julgamentos, cada membro do Tribunal, que faz parte da Turma julgadora, emite uma 
manifestação individual chamada de voto. Então o voto nada mais é do que a 
manifestação individual de um julgador ou de um membro que compõe o órgão 
fracionário julgador de determinada demanda. 
No julgamento colegiado, cada julgador emitirá o seu voto e, findo o julgamento, 
esses votos proclamados serão reunidos no chamado acórdão. Então o julgamento 
colegiado não se confunde com o acórdão. O julgamento é o momento em que se 
proclamam os votos de cada membro do órgão fracionário julgador do Tribunal, e o 
acórdão é a decisão lavrada/redigida posteriormente ao julgamento e que reunirá 
exatamente esses votos. 
O acórdão vem do termo acordar e, teoricamente, o acórdão deveria exatamente 
ser a reunião de votos que se dirigem no mesmo sentido. Ocorre que no Direito brasileiro 
criou-se uma ficção jurídica, que é a do “voto vencido”, que é, inclusive, o chamado “voto 
divergente”. Ou seja, vai em direção contrária ao voto vencedor ou voto da maioria. 
Apesar disso, é uma manifestação individual que deve, necessariamente, constar do 
acórdão. Então embora o acórdão venha da ideia de acordar, de se chegar a um acordo, 
em razão dessa ficção jurídica, o acórdão precisa contemplar, também, o voto vencido, 
sob pena de nulidade do acórdão. 
Portanto, o acórdão é uma espécie de decisão jurisdicional colegiada. 
Teoricamente, o acórdão deve ser a reunião dos fundamentos determinantes de todos os 
votos vencedores. O acórdão não deve simplesmente compilar os votos. Mas, na prática, 
o que ocorre é a cópia dos votos, uma mera compilação dos votos. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
7 
 
O acórdão, como toda decisão, deve ter o relatório, a fundamentação e o 
dispositivo. 
Depois do julgamento, no momento imediatamente seguinte, será feita a redação 
do acórdão. Mas antes disso, costuma-se publicar o resumo do julgamento e, em seguida, 
o processo será remetido para o relator para que este minute o acórdão. Depois da 
elaboração do acórdão, elabora-se a sua ementa, que nada mais é do que o resumo do 
acórdão: deve conter os fundamentos determinantes extraídos dos votos, a norma jurídica 
individual, ou seja, a solução que foi dada àquele caso específico, deve conter o breve 
relato dos fatos etc. Se houver divergência entre o acórdão e a ementa, deve prevalecer o 
que consta do acórdão. Há precedentes do STJ nesse sentido. Mas nada impede de que a 
parte oponha alguns embargos de declaração para obter esclarecimento. Não ocorrendo o 
esclarecimento, prevalecerá o acórdão. 
Elaborada a ementa, haverá a sua publicação e, a partir daí, se inicia o prazo para 
eventual recurso. É possível que por algum erro, falte a ementa, não seja elaborada. A 
princípio, isso não gera vício no julgamento em si, no acórdão, pois a ementa é um 
elemento que se elabora após a lavratura do acórdão e é apenas um resumo dele. Mas é 
possível que a falta da ementa gere vício do ato de intimação do acórdão. Quando há a 
publicação da ementa, a parte já tem ideia do resultado do julgamento que ocorreu, pois 
a ementa espelha o acórdão. Se não há ementa, provavelmente essa publicação se dará 
com o dispositivo do acórdão apenas, ou apenas com aquele resultado de duas linhas que 
geralmente se coloca no extrato da ata de julgamento, que diz “acórdãos os ministros em 
dar provimento/negar provimento ao recurso tal”. Então é possível que se busque o ato 
de intimação e não do acórdão,se provar eventual prejuízo. 
Muitas vezes o relator faz o seu voto e os outros simplesmente dizem que concorda 
com o relator, sem acrescentar nada. Assim, o acórdão será o voto do relator. Mas existem 
situações, principalmente nos tribunais superiores, e às vezes em órgãos especiais em 
tribunais locais, que cada julgador escreve o voto próprio: diz quais são os fatos, o 
enquadramento jurídico que entende que deve ser feito e diz o resultado. Muitas vezes 
esses votos chegam ao mesmo resultado, exemplo todos dando provimento ao recurso, 
mas cada voto acolhe o recurso com fundamento diferente. O que acontece muitas vezes 
é que o acórdão será a compilação desses votos. Mas o que seria correto tecnicamente é 
o relator pegar esses votos, olhar a fundamentação e ver como extrair daquelas 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
8 
 
fundamentações distintas os fundamentos determinantes médios ou aqueles que todos 
estiveram de acordo, embora tenham sido feitos complementações, para fazer o acórdão. 
OBS: Depois de lavrado o acórdão e elaborada a ementa, ela precisa ser publicada, 
para que se inicie o prazo recursal. Mas pode ser que não haja publicação do acórdão 
através da sua ementa, pode ocorrer que haja uma demora, algum equívoco. Se for esse o 
caso, se o acórdão não for publicado através da sua ementa, no prazo de 30 dias, a contar 
da sessão de julgamento, as notas taquigráficas substituirão o acórdão para todos os fins 
legais, independentemente de revisão. Nessa hipótese, o presidente do órgão julgador 
determinará, de imediato, a lavratura das conclusões do julgamento e a ementa, mandando 
publicar o acórdão de imediato (art. 944, caput, parágrafo único, CPC). 
AULA 10 DE FEVEREIRO 
5. TUTELA PROVISÓRIA NOS TRIBUNAIS 
Assim como é possível formular pedidos de tutela provisória nos processos de 
primeiro grau, também é possível nos tribunais, seja no âmbito de recurso, de um 
incidente ou ações de competência originária do tribunal. 
Esse pedido pode ser de tutela provisória de urgência, que pode ser de natureza 
satisfativa ou cautelar; mas também pode ser um pedido de tutela provisória de evidência. 
Claro que esse pedido de tutela provisória que pode ser formulado nos tribunais, 
precisa ter fundamento em alguns requisitos, quais sejam: (a) fumus boni iures; (b) 
periculum in mora, no caso da tutela provisória de urgência. E em relação ao pedido de 
tutela de evidência, existem alguns requisitos, que são previstos no art. 311 do CPC. 
O pedido de tutela provisória pode ser formulado em caráter antecedente ou em 
caráter incidental. Antes de que seja formulado o pedido de tutela jurisdicional definitivo, 
pode ser formulado o pedido de tutela provisória. Quando isso ocorre, se diz que a tutela 
provisória foi requerida em caráter antecedente. 
Exemplo: quer ajuizar ação rescisória, mas está vendo que a sentença que vai ser 
objeto da ação rescisória está em vias de ser executada. Mas existe um vício grave naquela 
sentença. Só que não dá tempo de fazer a ação rescisória tão rápido quanto se pode fazer 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
9 
 
um pedido de tutela provisória. Nesse caso, enquanto está fazendo a ação rescisória, pode 
fazer um pedido de tutela provisória de caráter antecedente. 
Pode ser que a tutela provisória seja requerida incidentalmente, quando já há a 
formulação do pedido de tutela jurisdicional definitiva. 
O pedido de tutela provisória é requerido perante o Relator. No mais das vezes, 
não sempre, esse pedido é apreciado pelo diretamente pelo relator, monocraticamente. 
6. PRODUÇÃO DE PROVA EM TRIBUNAL 
É um equívoco se pensar que no âmbito do tribunal não é possível se produzir 
prova. Há pelo menos três razões que conduzem a essa conclusão: 
i. Os Tribunais são compostos por órgãos fracionários e dentro de cada órgão 
fracionário há magistrados que compõem aquele órgão fracionário. Nos termos do art. 
370 do CPC, caput e parágrafo único, se ver que o juiz tem poder instrutório. Ora, se o 
art. 370, caput e parágrafo único diz que juiz tem poder instrutório e se os órgãos 
fracionários dos tribunais são compostos por magistrados, não há como se chegar a outra 
conclusão, senão aquela, segundo a qual no âmbito dos tribunais é possível a produção 
de provas, já que os processos nos tribunais são conduzidos por juízes. Eles podem deferir 
ou indeferir uma prova que tenha sido requerida e podem até mesmo conduzir a própria 
produção da prova. 
ii. Existem alguns dispositivos do CPC, como o art. 342, 493, 1.014, que permitem 
a alegação de fato novo ou de fato superveniente no âmbito dos tribunais. Não existe num 
processo alegar por alegar. No processo, toda alegação de fato deve ser acompanhada da 
respectiva prova, ainda que essa prova seja documental. Se é possível alegar fato novo, é 
preciso que seja admitida produção de prova. É uma questão de necessidade. Então 
também por essa razão, não há que se ter dúvida a possiblidade da produção de prova no 
tribunal. 
iii. Por fim, o art. 435 do CPC permite que as partes, em qualquer tempo, inclusive 
no Tribunal, juntem documentos novos. Vem se entendendo que esse dispositivo, embora 
fale apenas em prova documental, ele pode ser interpretado de forma mais ampla, para 
permitir a produção não apenas da prova documental no tribunal, mas qualquer outra 
prova, desde que ela esteja relacionada a fatos novos. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
10 
 
E como se daria essa produção? Há pelo menos três maneiras, do ponto de vista 
operacional. 
Numa primeira forma, essa prova pode ser conduzida apenas pelo relator. Uma 
segunda maneira, é que a prova seja encaminhada pelo órgão colegiado. Então ao invés 
do relator sozinho ouvir a testemunha, por exemplo, ele vai submeter a oitiva ao órgão 
colegiado. Claro que o relator vai fazer a parte prévia, como a intimação etc. É uma 
possibilidade, mas isso é raro, por uma razão de dificuldade de se comprometer as 
agendas de vários julgadores para ouvir uma testemunha ou fazer acompanhamento de 
uma audiência. Uma terceira forma, ao invés de a prova ser produzida diretamente pelo 
relator ou pelo órgão colegiado, é possível que o tribunal solicite que a produção da prova 
seja feita no âmbito do órgão jurisdicional de primeiro grau. Então o tribunal manda uma 
carta de ordem (aquela enviada por um órgão jurisdicional hierarquicamente superior a 
um inferior) ao órgão de primeiro grau para que ele faça a coleta da prova. 
7. RELATOR 
Em regra, os julgamentos no tribunal são colegiados. Só que não é possível que 
todos os membros de um órgão colegiado pratiquem todos os atos necessários para a 
condução e desenvolvimento de um processo no tribunal. Por isso que se cria a figura do 
Relator. Quem é o relator? Na verdade, o relator é o julgador que fica responsável pela 
demanda que tramita no tribunal, cabendo a ele a prática de vários atos referentes a essa 
demanda. Cada demanda que chega ao tribunal, será atribuída a um relator. Pode se dizer 
que o relator é aquele que vai melhor conhecer a demanda, não havendo como todos os 
membros do órgão fracionário conhecer aquela demanda com a mesma profundidade que 
conhece o relator. 
Para que o relator possa fazer a condução dessas demandas, ele tem alguns 
poderes. 
Poder ordinatório (art. 932, I) 
Em primeiro lugar, são reconhecidos ao relator os chamados poderes ordinatórios, 
de organização do processo. No exercício desse poder ordinatório, o relator praticará 
alguns atos no processo, por exemplo: ele irá determinar a intimação do MP, nos casos 
em que a intervenção do MP for necessária. Também irá estabelecer os poderes do amicus 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
11 
 
curiae. Cabe ao relator, também, tentar conciliar as partes,a qualquer tempo, durante o 
curso do processo no tribunal. Cabe ao relator reprimir/prevenir a prática de atos de 
litigância de má-fé, atos atentatórios à dignidade da justiça. Cabe ao relator organizar a 
ordem da produção das provas. Cabe ao relator encaminhar ofícios à Defensoria Pública 
e MP, para que esses entes ajuízem a respectiva ação coletiva, nos casos em que essa ação 
for recomendada. Todos esses atos devem ser praticados observando se há igualdade no 
tratamento das partes, a razoável duração do processo, tentando manter a ordem etc. 
No âmbito desse poder ordinatório, o relator também irá fazer o controle de 
eventuais vícios que existam no processo. Então se o relator constatar a ocorrência de 
algum vício, o próprio relator determinará a realização ou a renovação do ato processual. 
Havendo a correção desse vício, com a sua realização ou com a renovação, a demanda 
será julgada normalmente. Nada impede que esse vício seja detectado no meio do próprio 
julgamento colegiado. Nada impede que outros membros do órgão colegiado 
identifiquem aquele vício. Nessa perspectiva, cita-se o art. 938, §§ 1º, 2º, 3º e 4º. 
Poder probatório (art. 932, I) 
O segundo poder que se atribui ao relator é o poder probatório/instrutório. O 
relator tem poder instrutório. Significa dizer que o relator pode determinar a produção de 
provas de ofício e pode, também, deferir ou indeferir, desde que por meio de decisão 
fundamentada, provas requeridas pelas partes. Além disso, o relator tem poder para 
conduzir a produção da prova no tribunal. 
Poder decisório (art. 932, II, III, IV, V) 
Também se atribui ao relator o chamado poder decisório. Em primeiro lugar, no 
exercício do poder decisório, o relator homologará autocomposição, eventualmente 
celebrada entre as partes. É verdade que a autocomposição pode ser feita sem que a 
demanda chegue ao tribunal, quando, por exemplo, as partes apelam da sentença e, antes 
que a demanda chegue ao tribunal, por questões meramente burocráticas, elas entre em 
um consenso. Independentemente disso, é o relator quem vai receber esses recursos no 
tribunal, que tem competência para homologar a autocomposição celebrada. 
OBS: Há quem diga que quando celebra o acordo, havendo recurso pendente, esse 
recurso perde o objeto. Assim, dá a entender que numa situação como essa, não precisaria 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
12 
 
mandar nem o recurso ao tribunal, de modo que o próprio juiz de primeiro grau poderia 
fazer essa homologação. A professora tem ressalva desse entendimento, pois após o 
proferimento de sentença, exaure-se a parcela de jurisdição de primeiro grau. 
Em segundo lugar, no exercício do poder decisório, cabe ao relator apreciar pedido 
de tutela provisória. Claro que em algumas situações, o relator poderá remeter a 
apreciação desse pedido ao órgão colegiado, mas ele tem o poder de apreciar 
monocraticamente. Inclusive essa decisão monocrática do relator é recorrível pelo 
chamado Agravo Interno, que é um recurso de competência do colegiado. Ou seja, se 
houver agravo interno, a tutela provisória será julgada pelo colegiado, inclusive com a 
presença do relator. 
Em terceiro lugar, no exercício do poder decisório, o relator apreciará pedido de 
gratuidade de justiça. O benefício da justiça gratuita pode ser pedido em qualquer 
momento do processo. Quando ele é feito no tribunal, cabe ao relator apreciar esse pedido 
para deferir ou indeferir. Se o relator defere, não cabe recurso contra a sua decisão. A 
parte contrária poderá fazer uma impugnação, que será apreciada pelo relator, podendo 
revogar sua decisão, mas a parte não poderá recorrer da decisão. Já a decisão do relator 
que indefere ou que revoga o benefício é recorrível por meio de Agravo Interno. 
Em quarto lugar, o relator não conhecerá de recurso inadmissível prejudicado ou 
que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrível. Não 
conhecer de um recurso significa inadmiti-lo, isto é, inviabilizar o julgamento de seu 
mérito. Quando o relator poderá fazer isso? Em primeiro lugar, quando o recurso for 
inadmissível, que é quando ele não atende a algum requisito de admissibilidade recursal 
(FALAREMOS SOBRE NA AULA DE TEORIA DOS RECURSOS). 
Além disso, o relator também poderá inadmitir o recurso quando ele for 
prejudicado. O que é recurso prejudicado? É um recurso inadmissível, só que um recurso 
inadmissível em razão da ocorrência de fato superveniente. Ou seja, esse recurso que era 
admissível, torna-se inadmissível. 
Exemplo: foi impetrado MS para que uma empresa conseguisse participar de um 
procedimento licitatório. A empresa não conseguiu a liminar, consequentemente o 
procedimento foi seguindo suas fases. Veio a sentença do MS, denegando a segurança. 
Contra essa sentença, a empresa interpõe apelação. Nesse meio tempo, o procedimento 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
13 
 
licitatório acaba. Quando a empresa interpôs o recurso ela tinha interesse ainda, mas 
quando a apelação chegou ao tribunal e o tribunal foi avaliar o caso, o procedimento 
licitatório acabou, ou seja, houve a perda do objeto. 
Por fim, o relator não vai conhecer de recurso que não tenha impugnado 
especificamente os fundamentos da decisão recorrida. Na verdade, esse recurso que não 
faz a impugnação específica das razões da decisão recorrida, é um recurso inadmissível 
também. É requisito de admissibilidade recursal a chamada regularidade formal e, dentro 
do estudo da regularidade formal, há uma regra chamada de dialeticidade recursal. Essa 
regra diz que recurso não pode ser genérico, ele precisa impugnar especificamente as 
razões da decisão recorrida. Recurso genérico é inadmissível. 
No âmbito da admissibilidade dos recursos, há um dispositivo que se fala 
reiteradamente, que é o art. 932, parágrafo único, do CPC. É um dispositivo muito citado 
no estudo da admissibilidade dos recursos. Ele diz que “antes de considerar inadmissível 
o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente, para que seja sanado 
vício ou complementada a documentação exigida”. O relator não fará isso imediatamente. 
Havendo algum vício que gere inadmissão, o relator precisará intimar o recorrente, para 
que em cinco dias sane o vício, que enseja a inadmissão, ou complemente a 
documentação. Então embora o relator possa inadmitir o recurso, ele não fará isso, em 
regra, automaticamente. Ele precisa aplicar o parágrafo único do art. 932 do CPC. Esse 
dispositivo é importantíssimo que foi trazido pelo novo CPC e é fundado no princípio da 
primazia do julgamento de mérito. Mas claro que existem vícios sanados e vícios 
insanáveis. 
O parágrafo único do art. 932 oportuniza a correção do vício, mas no CPC há 
outros dispositivos também que viabilizam a correção. O preparo é a despesa que paga 
para que o recurso seja processado. É possível que se deixe de pagar o preparo. Se isso 
ocorrer, o recorrente será intimado para pagar o preparo em dobro. Ao pagar em dobro, o 
recorrente evita a inadmissão do seu recurso. Então o CPC tem a linha do parágrafo único 
do 932, mais genérico, mas existem outros dispositivos mais específicos que também 
estão nessa linha. 
Em quinto lugar, no exercício do poder decisório, o relator poderá apreciar o 
próprio mérito do recurso, ou seja, o relator, sozinho, poderá acolher ou rejeitar o recurso 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
14 
 
no mérito. É claro que o relator não poderá examinar o mérito do recurso em qualquer 
situação, senão não faria sentido a regra da colegialidade. Quando se fala em acolhimento 
do recurso, diz-se que ele pode dar provimento ao recurso. Se ele nega, diz-se que ele está 
negando provimento ao recurso. Isso não ocorre em qualquer situação, mas apenas em 
situações específicas. 
Para negarprovimento ao recurso, o relator não precisa nem mesmo oportunizar 
o contraditório, pois a decisão que nega provimento ao recurso é favorável ao recorrido. 
Então ele não precisa ser ouvido. Por outro lado, o provimento do recurso pelo relator 
depende da oportunização do contraditório, sob pena de violação do contraditório. 
Em que situações o relator pode julgar monocraticamente o mérito do recurso? 
É possível que se negue quando o recurso for contrário à súmula do STJ, STF ou 
do próprio tribunal local; quando for contrário a acórdão proferido pelo STF ou STJ no 
julgamento de recursos repetitivos; ou quando for contrário ao entendimento firmado em 
incidente de resolução de demandas repetitivas ou incidente de assunção de competência. 
Está consignado no inciso IV do art. 932 do CPC. 
Por outro lado, também é possível que se dê provimento monocrático ao recurso, 
quando a decisão recorrida for contrária a esses mesmos precedentes obrigatórios (art. 
932, V). 
Até então estamos falando no poder decisório do relator em relação a recursos, 
mas o relator também pode praticar atos no exercício de poder decisório em ações de 
competência originária. Por meio de decisões monocráticas, ele pode indeferir uma ação 
de competência originária; pode julgar liminarmente improcedente uma demanda de 
competência originária etc. Ele pode julgar liminarmente improcedente uma demanda de 
competência originária sozinho, monocraticamente, sem oportunizar ao contraditório e 
sem submeter ao colegiado. 
Nessas mesmas ações de competência originária, o relator pode proferir decisões 
interlocutórias, como admitir ou inadmitir intervenção de terceiro. Pode ser também uma 
decisão que defere ou não o pedido de produção de provas. Então também no exercício 
do poder decisório, o relator pode proferir sozinho decisões interlocutórias. 
8. PROIBIÇÃO DE DECISÃO SURPRESA NO TRIBUNAL 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
15 
 
O contraditório carrega uma dimensão substancial que veda a prolação de decisão 
surpresa. A prolação de decisão surpresa viola o contraditório, portanto. E isso vale no 
processo em primeiro grau e no tribunal. Então o art. 9ºdo CPC que trata de contraditório 
é um dispositivo genérico, que se aplica no âmbito do processo de conhecimento, 
inclusive no âmbito dos tribunais. 
Agora, nos tribunais existe um dispositivo ainda mais específico que proíbe a 
decisão surpresa, qual seja, o art. 933 do CPC. Diz que “se o relator constatar a ocorrência 
de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício 
ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as 
partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias”. 
Esse dispositivo diz que se há fato superveniente ou uma questão, ainda que 
apreciável de ofício, sobre a qual as partes não falaram, deve-se oportunizar o 
contraditório, num prazo de cinco dias. Então também no tribunal vale a regra que o juiz 
não pode julgar, em grau algum de jurisdição, a respeito de uma questão sobre a qual as 
partes não falaram. 
O parágrafo primeiro desse dispositivo diz que “se a constatação desse fato novo 
ocorrer durante uma sessão de julgamento, a sessão deverá ser suspensa para que as partes 
se manifestem. Digamos que a parte está fazendo a sustentação oral dela e, de repente, no 
meio da sustentação, algum julgador percebe que existe uma questão processual que 
ninguém se atentou, que só houve destaque naquele momento de julgamento, como, por 
exemplo, um vício de nulidade absoluta. Se isso ocorrer, o julgamento será paralisado 
para que as partes falem sobre essa questão superveniente. Agora, se essa constatação 
ocorrer quando o processo estiver em vista com algum julgador, é preciso que se devolva 
o processo ao relator do caso, para que intime as partes, para que elas possam falar sobre 
aquela questão, garantindo-se o contraditório. 
Então nem mesmo o tribunal pode proferir uma decisão surpresa, mesmo sobre 
aquelas questões examináveis de ofício. 
9. JULGAMENTO 
9.1. Colegialidade como regra 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
16 
 
A regra é que os julgamentos no tribunal sejam colegiados. Claro que essa regra 
comporta algumas exceções. Esse julgamento deve ser feito em sessão pública solene, na 
sede do tribunal, dentro do horário de funcionamento do tribunal, mas nada impede que 
esse julgamento seja feito também eletronicamente. Existe o julgamento eletrônico, que 
é o julgamento intermediado por tecnologia e ocorre tal como ocorresse presencial, com 
participação da sociedade; e o julgamento estritamente eletrônico, do qual a sociedade 
não participa. 
É possível também que o julgamento em sessão pública solene ocorra em câmaras 
descentralizadas, que acabam estando mais próximas do jurisdicionado. Os tribunais têm 
sede geralmente em capitais. O TRF 1, por exemplo, tem sede em Brasília. 
9.2. Convocação de outros juízes para a composição do quórum do 
julgamento 
O processo quando chega ao tribunal é distribuído ao órgão fracionário, que é 
composto por mais de um membro, que são magistrados. No âmbito do tribunal, são 
chamados de desembargadores. Estes assumem tal posição após promoção na sua 
carreira, de modo que, a princípio, os desembargadores se colocam numa posição 
hierarquicamente superior em relação aos juízes de primeiro grau. Isso ocorre na justiça 
comum. Nos Juizados, a realidade é um pouco diferente. Lá, a primeira instância é 
formada por órgãos chamado de varas, que têm seus juízes de primeiro grau e a segunda 
instância é composta por grupo de juízes de primeiro grau nas Turmas recursais. Então 
não há as promoções nem essa hierarquia. 
Ocorre que em algumas situações não há desembargadores suficientes para 
compor esses órgãos fracionários. Nessas situações, será inevitável a substituição desses 
desembargadores por juízes de primeiro grau. Muitas vezes juízes de primeiro grau 
substituem os desembargadores nessas situações. Pergunta-se, nesse ponto, se haveria 
violação do princípio do juiz natural, já que o processo no tribunal precisa ser julgado por 
desembargador. Num primeiro momento, havia precedentes afirmando que haveria sim a 
violação do juiz natural. Mas esses entendimentos não vingaram, de modo que atualmente 
tanto o STJ quanto o STF têm entendimento no sentido de que não há violação do juiz 
natural, quando o órgão fracionário é composto por juízes de primeiro grau, ainda que 
seja composto em sua maioria por juízes de primeiro grau substitutos. Mas para que se 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
17 
 
afaste a violação do juiz natural é preciso que a convocação da substituição tenha sido 
pública e solene e tenha sido anterior ao julgamento daquela demanda no tribunal e é 
preciso que essa convocação observe, ainda, atos normativos gerais e abstratos. 
AULA 17 DE FEVEREIRO 
9.3. Ordem de julgamento, inclusão e publicação da pauta 
Depois de elaborado o relatório, o processo será encaminhado para a secretaria do 
órgão fracionário. A partir daí, o presidente do órgão fracionário pedirá que se designe 
um dia para julgamento desse processo. Designado o dia, deverá haver a publicação da 
designação do julgamento no órgão oficial. 
O art. 935, caput, CPC diz que entre a data da publicação e a data em que será 
realizada o próprio julgamento, deve decorrer pelo menos o prazo de 5 dias. Então é 
preciso que o presidente peça um dia específico para julgamento daquele processo, depois 
disso a publicação no órgão oficial e entre a data da publicação da pauta em órgão oficial 
e a data do julgamento deve correr 5 dias úteis. 
Além da data de julgamento ser publicada no órgão oficial, é preciso também que 
a pauta de julgamento seja fixada na entrada da sala em que será realizada a sessão dejulgamento. 
Em algumas situações se dispensa a publicação do dia de julgamento de 
determinado processo. Mas isso ocorrerá em situações muito específicas: (a) quando se 
tratar de recurso de embargos de declaração julgados na sessão que se segue à data do seu 
protocolo. Exemplo: meu recurso de ED vai ser julgado pelo órgão fracionário que tem 
sessão toda sexta feira. Eu protocolo meus embargos hoje e ele já vai ser julgado na sexta, 
que é a sessão seguinte. Se essa situação ocorrer, e é raro, não haverá necessidade de 
publicação da pauta; (b) quando o processo, designado para ser julgado em uma data, 
deixa de ser por alguma razão, adiando-se o seu julgamento para a primeira sessão 
seguinte. 
A publicação da pauta é a regra, pois é preciso que as partes sejam intimadas na 
pessoa do seu advogado. É através da pauta que as partes tomam ciência de que o seu 
processo será julgado no Tribunal. Havendo incompletude nas informações constantes na 
publicação, pode ser suscitada nulidade da publicação, pedindo redesignação de 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
18 
 
julgamento, mas é preciso que se demonstre o prejuízo. O vício pode ser suscitado por 
uma petição simples ou por Embargos de Declaração opostos contra a decisão proferida 
pelo órgão na sessão de julgamento que se realizou de forma irregular. 
Depois de publicada a pauta de julgamento, as partes, através dos seus advogados, 
aguardaram a data para, querendo, acompanhar a sessão de julgamento. 
Na sessão existirá uma ordem de julgamento dos processos pautados. Em primeiro 
lugar, serão julgados os processos em que houve pedido de sustentação oral. Nessa 
hipótese, será observada a ordem de requerimento de sustentação oral. A ideia de se julgar 
primeiro os processos de sustentação é evitar que o advogado aguarde muito tempo para 
fazer a exposição oral. 
Em segundo lugar serão julgados os processos em que haja pedido de preferência. 
Há situações em que as partes, através dos seus advogados, pedem a preferência, 
independentemente de sustentação oral. 
OBS: Não é uma preferência que tem previsão legal. Existem alguns tipos de 
processo que precisam ter julgamento prioritário. A preferência aqui não é essa. É aquela 
que é solicitada por qualquer parte, no sentido de que naquela pauta de julgamento ele 
seja julgado logo. 
Depois desses, serão julgados aqueles processos cujos julgamentos tenham sido 
iniciados em sessão de julgamento anterior. 
Por fim, os demais casos. 
9.4. Sustentação oral 
Na sessão de julgamento, inicialmente o relator irá fazer a leitura do relatório. Ou 
seja, fará a exposição da causa. Depois disso, o presidente do órgão fracionário dará a 
palavra ao recorrente, ao recorrido e ao MP, nos casos em que houver, para que cada um 
deles sustente oralmente as suas razões em 15 minutos (art. 937, CPC). 
Portanto, o direito de sustentar oralmente é reconhecido ao recorrente, recorrido e 
Ministério Público. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
19 
 
O recorrente e recorrido realizam sustentação através dos seus advogados, pois o 
advogado é quem tem capacidade postulatória. Em relação ao recorrente, ele fará a 
sustentação das razões de seu recurso. O recorrido, por outro lado, a princípio, fará a 
sustentação das razões das suas contrarrazões, que é a resposta que se dá ao recurso. E se 
não tiver contrarrazões ele poderá sustentar oralmente? Vem se entendendo que mesmo 
que o recorrido não tenha apresentado contrarrazões, deve-se admitir sustentação oral. 
Nessa hipótese, o recorrido defenderá as razões da decisão, a manutenção da decisão. 
Se o MP é parte recorrente ou recorrido, não há dúvida alguma que ele pode fazer 
sustentação oral. Agora o MP também pode atuar como fiscal da ordem jurídica. Se ele 
for fiscal, também se admite que ele realize sustentação oral. Mas é possível que no 
mesmo processo o MP atue como parte e como fiscal da ordem jurídica. Quando existe 
essa atuação dupla, os dois poderão fazer sustentação oral ou apenas um deles? (MP parte 
e MP fiscal). Vem se entendendo que nesses casos só se deve permitir que o MP fiscal da 
ordem jurídica faça a sustentação oral, para que não haja um desequilíbrio no processo, 
já que, embora órgãos diferentes, o MP é visto como instituição una. 
A sustentação oral será realizada para que o recorrente faça a exposição oral das 
razões do seu recurso. Só que nem todo recurso comporta sustentação oral. Não será 
possível realizar sustentação de todo e qualquer recurso. E no âmbito de quais recursos 
será possível realizar? Apelação, Recurso Ordinário, Recurso Especial, Recurso 
Extraordinário, nos Embargos de divergência. Significa dizer que não cabe sustentação 
nos embargos de declaração, no agravo interno, em regra, e no agravo de instrumento, em 
regra. Ou seja, nunca cabe nos embargos de declaração e, no âmbito do agravo interno e 
agravo de instrumento, não cabe em regra. Mas há situações em que será admitida: no 
âmbito do agravo interno admite-se sustentação quando o agravo interno é interposto 
contra decisão que extingue ação rescisória, mandado de segurança ou reclamação 
constitucional. 
Em relação ao agravo de instrumento, só caberá sustentação oral no agravo 
interposto contra decisão que versa sobre tutela provisória. 
A princípio, o art. 937 do CPC diz que só cabe agravo de instrumento nessas 
hipóteses acima. Mas a doutrina vem alargando essa previsão, para permitir sustentação 
contra decisão interlocutória que versa sobre mérito do processo. Por que a doutrina vem 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
20 
 
defendendo isso? Porque ela entende que a decisão que versa sobre mérito do processo é 
uma decisão que encerra uma discussão a respeito de uma questão, em determinada 
instância. Mas como essa é uma decisão parcial de mérito, o recurso cabível contra ela 
não é uma apelação, mas sim um agravo de instrumento. Assim, nessa situação deve 
permitir sustentação oral, pois esse agravo faria as vezes de uma apelação. Essa discussão 
vem sendo refletida nos regimentos internos dos tribunais. 
E cabe sustentação oral na remessa necessária? Alguns entendem que a remessa 
necessária é uma espécie de recurso de ofício. Remessa necessária é cabível quando existe 
decisão proferida em desfavor da Fazenda Pública, ficando esta omissa. Por isso se diz 
recurso de ofício, pois é viabilizado automaticamente pelo próprio órgão jurisdicional. 
Em relação a essa questão não há unanimidade. Há quem diga que não cabe sustentação, 
pois não estaria indicada no rol do art. 937. Além disso, essa doutrina afirma que se a 
fazenda pública não recorreu, ela não teria razões para sustentar. Outra parte da doutrina 
entende, por outro lado, que deve se admitir sustentação oral na remessa necessária, pois 
a sustentação é manifestação do contraditório, de modo que, como não há nenhum 
dispositivo que proíba a sustentação oral na remessa necessária, não deve se restringir 
esse direito. 
Também cabe sustentação no âmbito de ações de competência originária do 
Tribunal. Também cabe no incidente de resolução de demanda repetitiva. Mas no âmbito 
do incidente, existem algumas especificidades. 
A sustentação oral será realizada depois da leitura do relatório pelo relator. Em 
primeiro lugar será dada a palavra ao recorrente, depois ao recorrido e depois ao MP. Se 
houver mais de uma parte com advogados distintos, vinculados a escritórios distintos, 
esse prazo de 15 minutos pode ser dobrado para 30 minutos, divididos igualitariamente 
entre todas as partes daquele polo. 
No incidente de resolução de demanda repetitiva, o prazo de sustentação é de 30 
minutos. Primeiro falará o autor, depois o réu, depois o MP, pelo prazo de 30 minutos 
cada um. Se existirem outros interessados que queiram falar, haverá 30 minutos paradividir para todos os interessados. 
Como se pede sustentação oral? Diz o CPC que a sustentação oral poderá ser 
requerida até antes do início da sessão de julgamento. Na verdade, existem duas maneiras 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
21 
 
de se pedir a sustentação: ou é solicitada por escrito, através de petição ou e-mail, 
encaminhado para a secretaria do órgão fracionário, ou é solicitada oralmente na própria 
sessão de julgamento. 
Na primeira situação, é preciso que se observe um prazo razoável para que o órgão 
fracionário tenha condição de identificar que tem o pedido de sustentação e para que o 
órgão possa organizar a ordem a partir desse pedido. O regimento interno indica o prazo 
razoável, de modo que é fundamental que seja consultado o regimento interno do tribunal. 
Quando se pede oralmente no próprio dia, é possível que esse pedido seja feito até 
antes do início da sessão de julgamento. Na prática, os tribunais geralmente anunciam 
que esses pedidos orais de sustentação oral devem ser formulados até 30 minutos antes 
do início da sessão de julgamento. Isso também varia de tribunal para tribunal. 
Se o advogado for realizar a sustentação através de videoconferência, ele precisa 
necessariamente pedir a sustentação oral com pelo menos um dia de antecedência, pois o 
tribunal vai precisar organizar a parte de tecnologia para viabilizar a sustentação oral à 
distância. 
Os interessados que queiram falar terão de pedir para realizar a sustentação com 
antecedência de dois dias. 
A sustentação oral não pode ser confundida com o pedido de esclarecimentos. O 
pedido de esclarecimento é aquele formulado pelo advogado ao longo da sessão de 
julgamento, para que faça algum esclarecimento fático. Não precisa ser solicitado 
previamente. Pode ser feito a qualquer tempo, desde o início da sessão de julgamento até 
o seu fim, desde que o advogado invoque a expressão pela ordem. No pedido de 
esclarecimento não se pode sustentar teses jurídicas, é meramente esclarecimento de fato. 
Outra diferença é que sustentação oral só cabe em âmbito de alguns recursos 
específicos, já o pedido de esclarecimento de fato pode ser feito em qualquer demanda 
que tramite no tribunal. 
10. PEDIDO DE VISTA 
O pedido de vista é disciplinado no art. 940 do CPC. É aquele formulado pelo 
relator ou por qualquer outro julgador do órgão fracionário do tribunal, que ainda não se 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
22 
 
considere apto a proferir o seu voto. Existem duas espécies de pedido de vista: (a) pedido 
de vista em mesa; (b) pedido de vista em gabinete. O primeiro é formulado no curso da 
sessão em julgamento, o que gera uma simples suspensão do julgamento. Depois de 
consultado os autos pelo julgador, será retomado o julgamento. O pedido de vista em 
gabinete, por sua vez, gera um adiamento do julgamento. Esse pedido de vista em 
gabinete pode ser formulado pelo prazo máximo de 10 dias, prorrogáveis por mais 10 
dias, a pedido do julgador que fez o pedido de vista. 
Passados os 10 dias ou passados os dias da prorrogação, o presidente do órgão 
fracionário requisitará o processo para julgamento do recurso na sessão subsequente. É 
possível que quando isso ocorra, o próprio julgador ainda não se sinta apto para votar. 
Nessa hipótese, o próprio presidente irá convocar um substituto para proferir esse voto. 
11. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E MÉRITO 
Toda demanda se submete a um duplo juízo: de admissibilidade e de mérito. Em 
primeiro lugar, é realizado o juízo de admissibilidade, avaliando-se a presença de 
requisitos de admissibilidade da demanda. Se algum não for preenchido, o juízo de mérito 
nem é realizado. Mas se todos estiverem presentes, passa-se à realização do juízo de 
mérito. Este, por sua vez, recai sobre o objeto litigioso do processo. 
Às vezes questões de admissibilidade do processo em primeiro grau se tornam 
questões de mérito de um recurso. Exemplo: competência. Profere-se uma decisão 
interlocutória, onde o juiz se diz absolutamente incompetente. Essa decisão é recorrível 
por agravo de instrumento, sendo o mérito a incompetência absoluta do juízo. 
O órgão fracionário precisa se debruçar sobre juízo de admissibilidade e juízo de 
mérito. É preciso que todos os julgadores votem no juízo de admissibilidade e no juízo 
de mérito. 
12. AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO EM CASO DE DIVERGÊNCIA 
A regra é que o julgamento nos tribunais é colegiado. Como a regra é que seja 
colegiado, é possível que haja unanimidade, mas pode ser não unânime. Quando o 
julgamento não unânime (julgamento por maioria) ocorre no âmbito do julgamento de 
apelação, deverá ser aplicada uma técnica chamada de “técnica de ampliação do colegiado 
em caso de divergência”, prevista no art. 942 do CPC. Essa técnica é uma novidade do 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
23 
 
novo Código. Ela veio substituir o recurso de embargos infringentes, que tinha cabimento 
no CPC-73. 
Como essa técnica é aplicada? Quando ocorre o julgamento não unânime da 
apelação, o julgamento da apelação não se encerra de imediato, devendo ter 
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, em 
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial. 
É preciso tentar dar prosseguimento ao julgamento no mesmo dia e na mesma hora 
em que se constata um julgamento não unânime. Mas às vezes isso não é possível. Por 
isso que às vezes tem de ser designada outra sessão de julgamento. A convocação de 
novos julgadores tem como objetivo ampliar o colegiado, viabilizar a oxigenação, com a 
possibilidade de se alterar o resultado que se obteve inicialmente. 
Não é que o resultado vai ser necessariamente alterado em razão da ampliação do 
colegiado, mas é preciso que se convoque julgadores em número suficiente para tornar 
possível essa alteração. Exemplo: a apelação está sendo julgada por três membros. A 
discussão é de guarda de criança. Um julgador diz que a guarda deve ficar com a mãe e 
dois julgadores dizem que tem que ficar com o pai. Há aí divergência. Mas o julgamento 
da apelação não unânime não pode se encerrar aí. 
OBS: Todos os julgadores votarão, inclusive aqueles que já haviam votado, 
podendo mudar o seu voto. 
Essa técnica de ampliação deve ser aplicada de ofício pelo órgão jurisdicional. 
Isso deve ser feito de forma automática, sob pena de nulidade do julgamento da apelação. 
Essa técnica também será aplicada na ação rescisória e no agravo de instrumento. 
Se o julgamento da apelação é não unânime, pouco importa o resultado desse julgamento 
para que a técnica da ampliação do colegiado seja aplicada. Em relação à ação rescisória 
e agravo é diferente: a técnica da ampliação na ação rescisória só será aplicada quando o 
resultado não unânime da ação rescisória for a rescisão da sentença. No julgamento da 
ação rescisória no tribunal, pode ser que o resultado da maioria tenha decidido inadmitir 
a ação rescisória. Nesse caso, não vai aplicar a técnica. Outro exemplo é que ela foi 
admitida, mas foi julgada improcedente. Também não vai haver a aplicação da técnica, 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
24 
 
pois o resultado não foi a rescisão da sentença. Então a técnica de ampliação do colegiado 
só será aplicado quando o resultado não unanime for a rescisão da sentença. 
Em relação ao agravo de instrumento, só haverá aplicação da técnica quando o 
resultado não unânime for a reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito. Existem 
vários resultados possíveis num julgamento de um agravo. Mas só caberá a técnica se o 
agravo de instrumento atacar uma decisão interlocutória que versa sobre parcial de mérito 
e gerar a reforma da decisão interlocutória parcial de mérito. 
13. VOTO-MÉDIO 
Épossível que uma decisão seja unânime quanto ao resultado, mas é possível que 
não haja unanimidade em relação aos fundamentos determinantes desse resultado. Essas 
decisões são chamadas de decisões plurais. 
Quando estamos diante dessas decisões, é preciso que tente extrair dessas decisões 
o voto-médio, principalmente quando estamos num sistema de precedentes. O problema 
é saber de que forma extrair esse voto-médio. 
Essa divergência de votos, de fundamentos determinantes, pode ser uma 
divergência quantitativa ou qualitativa. A extração do voto-médio em cada situação é 
diferente. Na divergência quantitativa, existem duas formas de extração do voto-médio: 
(a) técnica da continência. Imagine que todos os julgadores de uma demanda processada 
no tribunal dizem que é devida uma indenização para a vítima de um crime. Mas eles 
divergem quanto ao valor da indenização. Pela técnica da continência, o voto-médio é 
aquele que se localiza mais ao meio das extremidades. Nesse exemplo, um julgador fala 
que é 100 mil, outro 80 mil, outro 50 mil. O voto-médio é 80 mil, que é aquele que se 
localiza mais ao meio; (b) além dessa técnica da continência, existe a técnica da média 
aritmética. Nesse caso, seria 230 mil/3 julgadores. 
A divergência também pode ser qualitativa. Aqui é mais difícil para se extrair o 
voto-médio. Imagine que num julgamento, de três julgadores, a discussão era sobre 
guarda. Todos os julgadores compreenderam que a guarda não deveria ficar com o pai. 
Houve unanimidade nisso. Mas um julgador diz que deveria ficar com a mãe, outro com 
a tia, outro com a avó paterna. Como extrai o voto-médio aí? É muito difícil. Quando a 
divergência é qualitativa, há alguns caminhos que podem ser usados pelo órgão 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
25 
 
fracionário para poder chegar à unanimidade de fundamentos. Um dos meios possíveis 
seria a técnica da ampliação do colegiado. Outra forma seria o órgão jurisdicional repetir 
o julgamento com os mesmos julgadores. 
AULA 24 DE FEVEREIRO 
14. PROCLAMAÇÃO DO RESULTADO 
Na sessão de julgamento, o relator faz a exposição da causa, em seguida dá a 
palavra ao recorrente, recorrido e MP, pelo período de 15 minutos e, depois disso, serão 
proclamados os votos de cada um dos membros do órgão fracionário julgador. Depois de 
proferido os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento. É possível que 
quando da proclamação do resultado, o presidente tenha alguma dúvida a respeito de qual 
foi a efetiva conclusão daquele julgamento. Se isso ocorrer, o presidente pode, antes de 
proclamar oficialmente o resultado, sanar a sua dúvida, consultando o relator, os outros 
julgadores ou o próprio advogado presente na sessão do julgamento. 
15. MODIFICAÇÃO DE VOTO 
O voto poderá ser modificado até o momento da proclamação do resultado pelo 
presidente. É possível que o voto seja alterado até mesmo de ofício, se essa alteração 
estiver voltada à correção de erro material. Essa modificação de voto pode decorrer de 
julgamento de embargos de declaração. Uma vez proclamado o resultado pelo presidente, 
nenhuma modificação poderá ser realizada no voto, salvo se for feita correção de erro 
material – e pode ser feito de ofício – ou pode decorrer de julgamento de embargos e 
declaração, que serão opostos depois da lavratura do acórdão. 
TEORIA E PARTE GERAL DOS RECURSOS 
1. CONCEITO DE RECURSO 
Recurso é um meio de impugnação de decisão jurisdicional. E é um meio de 
impugnação que é usado nos mesmos autos do processo em que foi proferida a decisão 
jurisdicional. 
O recurso é um meio que impede o trânsito em julgado da decisão jurisdicional 
proferida no processo. Significa dizer que uma vez interposto o recurso, o processo não 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
26 
 
se encerra. Haverá um prolongamento da litispendência. Muitas vezes, inclusive, esse 
prolongamento da litispendência acontecerá em outra instância, pois no mais das vezes o 
recurso é de competência de um órgão jurisdicional hierarquicamente superior. Ou seja, 
não há a instauração de um processo novo, mas sim um prolongamento da litispendência. 
Nos dizeres de Fredie Didier (2021, p.123), o recurso é todo meio empregado por 
quem pretenda defender o seu direito. Numa acepção mais técnica e restrita, recurso é o 
meio ou instrumento destinado a provocar o reexame da decisão judicial, no mesmo 
processo em que proferida, com a finalidade de obter-lhe a invalidação, a reforma, o 
esclarecimento ou a integração. 
2. MEIOS DE IMPUNGAÇÃO DE DECISÕES JUDICIAIS 
O recurso integra o sistema de impugnação de decisões judiciais. Só que esse 
sistema não é composto apenas pelo recurso. Na verdade, ao lado do recurso, integram 
também esse sistema as ações autônomas de impugnação e os sucedâneos recursais. 
A ação autônoma é um meio de impugnação de decisão judicial que forma um 
processo próprio, que tem como finalidade o questionamento, a impugnação de uma 
decisão judicial. Exemplo: ação rescisória, mandado de segurança, reclamação 
constitucional. 
Além das ações autônomas, há, ainda, o sucedâneo recursal. O conceito é dado 
por exclusão. Sucedâneo recursal é tudo aquilo que não é recurso ou ação autônoma de 
impugnação. Então o sucedâneo também é um meio de impugnação de decisão judicial, 
que não pode ser tido como recurso nem como ação autônoma de impugnação de decisão 
judicial. Exemplo: pedido de reconsideração, o pedido de suspensão de eficácia de uma 
decisão jurisdicional. 
3. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
Discute-se em doutrina se seria possível falar na existência de um princípio do 
duplo grau de jurisdição. Parte da doutrina entende que esse princípio não existe, porque 
nem a Constituição, nem o CPC fazem menção à existência desse princípio. Mas há quem 
entenda que existe, mas que esse princípio é extraído implicitamente da CF/88. Essa parte 
da doutrina entende que o princípio do duplo grau de jurisdição é extraído dos dispositivos 
da CF que tratam da estruturação do poder judiciário. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
27 
 
Entende essa doutrina que essa organização hierarquizada do poder judiciário tem 
como finalidade viabilizar que decisões jurisdicionais proferidas por instâncias inferiores 
sejam revisadas através de julgamento de recursos, por instâncias hierarquicamente 
superiores. 
Nas palavras de Fredie Didier (2021, p.127), considerando que o princípio não 
precisa estar expressamente previsto para que esteja embutido no sistema normativo, 
pode-se concluir que a Constituição Federal, ao disciplinar o Poder Judiciário com uma 
organização hierarquizada, prevendo a existência de vários tribunais, tem nela inserido o 
princípio do duplo grau de jurisdição. Sendo assim, é possível haver exceções ao 
princípio, descerrando-se o caminho para que a legislação infraconstitucional restrinja ou 
até elimine recursos em casos específicos. Além do mais, sendo o duplo grau um 
princípio, é certo que pode haver princípios opostos, que se ponham como contraponto. 
Em outras palavras, sendo o duplo grau um princípio, pode ser contraposto por outro 
princípio, de molde a que haja limites de aplicação recíprocos. 
Existe o duplo grau de jurisdição vertical e horizontal. No âmbito do duplo grau 
de jurisdição vertical, tem-se que será garantida que a revisão de decisões jurisdicionais 
proferida por juízos inferiores por um órgão jurisdicional hierarquicamente superior, que 
julgará eventual recurso interposto dessas decisões inferiores. É o que acontece, por 
exemplo, em relação a uma sentença. 
Nesse sentido, a decisão proferida pelo órgão de grau inferior é revista pela 
decisão proferida pelo órgão de grau hierárquico superior. A segunda decisão não é 
necessariamente melhor que a primeira; é apenas superior, ou seja,é apenas proferida por 
um órgão hierarquicamente superior. 
No âmbito do duplo grau horizontal, assegura que as decisões proferidas sejam 
revistas, através de julgamento de recursos, no mesmo grau de jurisdição. É o que ocorre, 
por exemplo, nos Juizados Especiais, nos quais o recurso é examinado por uma turma 
composta por juízes de primeira instância. 
Não podemos compreender o duplo grau de jurisdição como absoluto. Não 
necessariamente será possível submeter uma decisão jurisdicional à revisão, seja na 
mesma instância, seja em instância superior. Exemplo: decisão proferida colegiada no 
STF, numa ação de competência originária do STF. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
28 
 
4. CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS 
Os recursos se submetem a duas classificações, pelo menos: a primeira é aquela 
que divide os recursos em recurso total e recurso parcial e a segunda é a fundamentação 
livre e a fundamentação vinculada. 
4.1. Quanto à extensão da matéria: recurso parcial e recurso total 
“Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte.”. 
O recurso total é aquele que impugna todo o conteúdo impugnável da decisão 
recorrível. O recurso parcial, por outro lado, é aquele que questiona parte do conteúdo 
impugnável da decisão recorrível. 
Se se interpõe um recurso total, não haverá em relação à decisão recorrida, trânsito 
em julgado. Quando se interpõe um recurso parcial, o conteúdo impugnado não transita 
em julgado. Mas aquela parte da decisão que não foi objeto do recurso, transita em 
julgado. Isso significa que a parte da decisão que transitou em julgado já pode ser 
submetida à execução. 
Exemplo: alguém ajuizou ação pedindo dano moral e material. O juiz profere 
sentença acolhendo os dois pedidos. O réu faz o recurso total. Nenhum capítulo dessa 
decisão transita em julgado, havendo um prolongamento da litispendência. Mas digamos 
que nessa mesma situação, o réu tenha se conformado em relação ao dano material, mas 
recorre do dano moral. Trata-se de um recurso parcial. Assim, parte dessa decisão não 
transita em julgado e a parte referente ao dano material transita em julgado, podendo 
produzir efeitos de imediato. 
OBS: Havendo trânsito em julgado de parte da decisão que não foi objeto de 
recurso, se inicia o prazo prescricional para o exercício da pretensão executiva. 
OBS: Se o recorrente não especificar a parte em que impugna a decisão, o recurso 
deve ser interpretado como total. 
4.2. Quanto à fundamentação: fundamentação livre e fundamentação 
vinculada 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
29 
 
A segunda classificação é aquela que divide os recursos em recurso de 
fundamentação livre e recurso de fundamentação vinculada. O recurso de fundamentação 
livre é aquele em que pode ser tecida qualquer tipo de crítica à decisão recorrida. Qualquer 
tipo de erro de procedimento, de julgamento etc. A regra é que o recurso seja de 
fundamentação livre. Na apelação é assim, no agravo de instrumento é assim, no recurso 
ordinário é assim, no agravo interno é assim, no recurso inominado é assim. Mas existem 
recursos de fundamentação vinculada, que são aqueles em que só podem ser tecidas 
críticas específicas. Isso ocorre, por exemplo, nos embargos de declaração. Não dá para 
opor embargos de qualquer decisão. Os embargos só podem ser apresentados se houver 
omissão, contradição, obscuridade ou erro material na decisão recorrida. Outro exemplo 
é o Recurso Especial, que só se pode questionar violação de lei federal. 
5. ATOS SUJEITOS A RECURSO E RECURSOS EM ESPÉCIES 
A princípio, os pronunciamentos judiciais com conteúdo decisório que se 
submetem a recurso. Significa dizer que atos jurisdicionais sem conteúdo decisório não 
se sujeitam a recurso. Em algumas situações, mesmo os atos judiciais sem conteúdo 
decisório, também são recorríveis. 
Os pronunciamentos judiciais sem conteúdo decisório são os despachos. A 
princípio, os despachos são irrecorríveis. Se do despacho decorrer prejuízo, admite-se a 
interposição de recurso desse despacho. Exemplo: alguém ajuizou ação pedindo tutela 
provisória em caráter liminar, pedindo o fornecimento de medicamento. Aí o juiz profere 
despacho “cite-se o réu”. Não há conteúdo decisório. Mas esse despacho gera prejuízo 
para a parte, pois ela pediu tutela provisória em caráter liminar. Ela pediu que antes da 
oitiva do réu fosse apreciada a tutela provisória. 
Além dos pronunciamentos judiciais sem conteúdo decisório, existem os 
pronunciamentos judiciais com conteúdo decisório. Esses são atos sujeitos a recurso. E 
quais são eles? Sentença, decisão interlocutória, decisão monocrática ou unipessoal de 
membro de tribunal ou turma recursal e acórdão. A sentença é uma espécie de decisão 
jurisdicional que encerra uma fase do processo em primeira instância. A sentença é, em 
regra, recorrível por apelação. Em regra, porque as vezes a sentença será recorrível por 
outros recursos. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
30 
 
A decisão interlocutória, por outro lado, é uma espécie de decisão jurisdicional 
que não encerra uma fase do processo em primeira instância. Em regra, a decisão 
interlocutória é recorrível por agravo de instrumento. Em regra, porque existem decisões 
interlocutórias que serão recorríveis por apelação. 
A decisão monocrática ou unipessoal, é espécie de decisão proferida por um 
membro específico do tribunal ou da turma recursal. A decisão monocrática, também 
chamada de unipessoal, em regra, é recorrível por agravo interno. Somente 
excepcionalmente que essas decisões monocráticas serão irrecorríveis. É rara, mas há 
situações pontuais que ocorre a irrecorribilidade dessas decisões. 
Por fim, o acórdão é uma espécie de decisão jurisdicional colegiada. O acórdão é 
recorrível por recurso especial, recurso extraordinário e/ou recurso ordinário 
constitucional. 
Dessa forma, da sentença cabe apelação, havendo raros casos em que da sentença 
cabe agravo ou outro tipo de recurso. A decisão interlocutória pode ser passível de agravo 
de instrumento ou de apelação. Das decisões unipessoais de relator cabe agravo interno 
(art. 1.021, CPC). E dos acórdãos é possível, a depender da hipótese, ser interposto 
recurso ordinário, recurso especial ou recurso extraordinário. 
De todas as decisões cabem, desde que presentes seus requisitos, embargos de 
declaração. 
6. DESISTÊNCIA DO RECURSO 
Nada mais é do que ato de revogação de recurso. Desistir é o mesmo que revogar 
um recurso. Nada impede que a parte desista do recurso, que poderá ocorrer até antes do 
início do julgamento do recurso. Essa desistência poderá ser realizada por meio de uma 
petição escrita ou poderá ser realizada oralmente, no bojo da própria sustentação oral, 
mas sempre antes do início do julgamento do recurso. 
A desistência pressupõe recurso já interposto. Só se pode desistir de um recurso 
que já foi interposto. A desistência do recurso não depende de consentimento ou 
anuência do recorrido e, também, não depende de homologação pelo órgão 
jurisdicional. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
31 
 
Uma vez oferecida a desistência do recurso (não se pede para desistir, ela é 
oferecida), ela produzirá efeitos imediatos. A desistência gera extinção do procedimento 
recursal sem exame de mérito. 
A desistência é, em realidade, uma conduta determinante. Conduta determinante 
é aquela que uma vez praticada coloca alguém numa situação desfavorável. Quando 
alguém interpõe um recurso, a pessoa quer melhorar sua situação jurídica. A desistência 
só pode atingir aquele que desistiu. Então se houver litisconsórcio, somente o litisconsorte 
que desistiu do recurso será atingido pelo ato de desistência, exatamente porque se trata 
de conduta determinante. Agora se o litisconsortefor unitário, a desistência do recurso só 
produz efeitos se todos os litisconsortes unitários aderirem à desistência, isto é, se apenas 
um desiste, essa desistência não produz efeito algum, nem para aquele que desistiu, muito 
menos para os demais. 
A desistência é encaminhada por meio de uma petição escrita feita pelo advogado 
da parte ou na sustentação oral. Então para que o advogado fale em nome da parte, 
oferecendo desistência, ele precisa ter poderes especiais para a prática desse ato. 
Em algumas situações, a desistência pode gerar uma espécie de renúncia ao 
direito. Exemplo: foi ajuizada ação em que se pediu 50 mil de dano moral. O órgão 
jurisdicional deu 25 mil. O autor recorreu. Se depois houver desistência, o que vai 
acontecer é uma renúncia aos 25 mil complementares. É claro que o simples fato de se 
interpor recurso, não se garante os 25 mil a mais. Interpõe-se o recurso tentando melhorar 
a situação jurídica, o que não necessariamente será acolhido. Mas renuncia-se à 
possibilidade de ter uma quantia maior. 
Como em algumas situações pode haver uma espécie de ato de disposição de 
direito, há quem diga que o advogado deve ter poder especial para desistir e, também, 
para transigir. 
Feita a desistência de um recurso já interposto, a consequência é a extinção do 
processo sem resolução do mérito e aquele que desistiu não poderá interpor recurso, ainda 
que haja prazo recursal. A desistência do recurso é um ato incompatível com a 
interposição do recurso. Se o recurso for interposto, ele será inadmissível. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
32 
 
OBS: A desistência da ação depende de anuência do réu, se ele já estiver sido 
citado. A desistência do recurso independe de anuência do recurso, ainda que ele tenha 
apresentado contrarrazões. A desistência da ação, para produzir efeitos, precisa de 
homologação. Na desistência do recurso haverá produção de efeitos de imediato. 
Por fim, a desistência da ação gera uma sentença ou uma decisão definitiva que 
não examine o mérito da demanda. A desistência do recurso gera uma extinção sem 
exame de mérito do procedimento recursal. Mas é possível que a decisão que prevaleça 
nesse caso, que é a decisão recorrida, tenha examinado o mérito da demanda originária. 
Exemplo: pedi dano moral. Sentença condenou o réu a pagar dano moral. Recorri porque 
queria mais. Depois desisti. O recurso não será apreciado no mérito, de modo que a 
decisão que vai prevalecer é a decisão recorrida. 
7. RENÚNCIA AO DIREITO DE RECORRER E AQUIESCÊNCIA À 
DECISÃO 
A renúncia ao direito de recorrer se configura quando se renuncia à interposição 
do recurso. Enquanto a desistência pressupõe recurso já interposto, a renúncia pressupõe 
a não interposição do recurso. Tradicionalmente, dizia-se que só poderia haver renúncia 
quando o direito de recorrer já pudesse ser exercido ou quando o direito de recorrer já 
existisse. Com o passar do tempo, principalmente quando se começou a falar de negócio 
jurídico processual típico e atípico, principalmente com a entrada em vigor do CPC/15, 
passou a se admitir uma espécie de renúncia condicionada, isto é, renúncia de um direito 
futuro de recurso. Então atualmente é possível renunciar a um direito de recorrer já 
existente, mas nada impede que se renuncie a um direito futuro de recurso. 
Havendo renúncia, não será possível interpor recurso. E se o recurso for 
interposto, diante de um ato de renúncia, esse recurso é inadmissível, pois se trata de um 
recurso incompatível com a postura anterior adotada pela parte. 
OBS: Não confundir renúncia ao direito de recorrer com a aquiescência à decisão. 
Esta é ato através do qual a parte demonstra que se conforma com a decisão proferida, 
que inclusive observará os comandos impostos pela decisão recorrida. Haverá 
aquiescência, por exemplo, quando a parte protocola uma petição dizendo que está ciente 
da decisão e pede prazo para cumprir a decisão, ou haverá aquiescência quando a parte 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
33 
 
peticiona após a decisão e diz que já está ali depositando em juízo a obrigação por ela 
devida. 
Então a aquiescência é uma postura através da qual a parte demonstra que está 
conformada e que vai se alinhar àquilo que foi imposto pela decisão. A aquiescência pode 
ser demonstrada de forma expressa e literal, mas pode ser uma decisão em que a parte 
demonstre que, de algum modo, vai cumprir a decisão. 
OBS: A aquiescência também é um ato incompatível com recurso. Havendo 
aquiescência à decisão, recurso nenhum poderá ser interposto com a decisão com a qual 
se conforma. Se houver a interposição do recurso, esse recurso é inadmissível, pois ele 
viola a boa-fé objetiva. 
AULA 03 DE MARÇO 
8. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DE JUÍZO DE MÉRITO DO 
RECURSO 
8.1. Distinção 
Na verdade, toda demanda se submete a um duplo juízo, inclusive a demanda 
recursal. O primeiro juízo é um juízo de admissibilidade. O segundo, é o juízo de mérito. 
No juízo de admissibilidade da demanda recursal, verifica-se se o recurso 
preenche todos os requisitos de admissibilidade recursal. Se todos os requisitos estiverem 
presentes, realiza-se um juízo positivo de admissibilidade. Nesse caso, fala-se em 
admissão do recurso, conhecimento do recurso ou seguimento do recurso. 
O juízo de admissibilidade opera sobre o plano de validade dos atos jurídicos. 
Dessa forma, a ele deve ser aplicado todo o sistema das invalidades processuais, 
construído exatamente para que invalidades não sejam decretadas. 
Passado o juízo de admissibilidade, sendo ele positivo, chega-se ao juízo de 
mérito. No juízo de mérito, faz-se uma análise acerca do objeto litigioso da demanda 
recursal. No juízo de mérito fala-se em acolhimento ou provimento do recurso e, também, 
rejeição ou improvimento do recurso. 
Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 
34 
 
Pode ser que o juízo de mérito não seja realizado. É possível que falte algum 
requisito de admissibilidade recursal. Se isso ocorrer, o juízo de admissibilidade será 
negativo. Sendo negativo, não será possível o juízo de mérito. 
O juízo de admissibilidade pode ser, ainda, provisório ou definitivo. Quando o 
recurso for interposto perante o órgão a quo (órgão que proferiu a decisão recorrida), esse 
poderá, a depender da previsão normativa, exercer o juízo provisório de admissibilidade. 
Cabe ao órgão ad quem (órgão a quem o recurso se destina) exercer o juízo definitivo de 
admissibilidade. 
8.2. Juízo de admissibilidade: introdução 
É o juízo primeiro que se realiza em relação ao recurso. É o juízo preliminar, 
porque ele ocorre ante que se possa falar na realização de juízo de mérito. E quem faz 
esse juízo de admissibilidade? Em regra, os recursos são interpostos perante o órgão 
jurisdicional que proferiu a decisão recorrida. Excepcionalmente, como ocorre com o 
agravo de instrumento, o recurso é interposto perante o órgão jurisdicional que tem 
competência para processar e julgar o recurso. 
Embora os recursos sejam interpostos, em regra, perante o órgão jurisdicional que 
proferiu a decisão recorrida, não é esse órgão que fará o juízo de admissibilidade, em 
regra. Tem competência para dar processamento ao recurso e encaminhar ao órgão 
competente. O juízo de admissibilidade do recurso é de competência do mesmo órgão 
jurisdicional que tem competência para julgar o próprio recurso. 
Excepcionalmente, o órgão que recebe o recurso também terá competência para 
realizar o juízo de admissibilidade. Exemplo: embargos de declaração, embargos 
infringentes de alçada, recurso especial e extraordinário. Estes últimos são os únicos 
recursos que submetem a um duplo juízo de admissibilidade recursal. 
8.3. Objeto do juízo de admissibilidade 
O objeto do juízo de admissibilidade é a análise do preenchimento ou

Outros materiais