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Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 1 AV1 – 26/03 a 31/03 AV2 – 28/05 a 02/06 AULA 03 DE FEVEREIRO DA ORDEM DO PROCESSO NO TRIBUNAL 1. INTRODUÇÃO Na vigência do CPC de 73, embora houvesse, no CPC, uma parte dedicada a essa temática, nas aulas não se costumava destacar um encontro, ou mais de um, para tratar disso. Curiosamente o CPC 73 trazia previsões dessa temática, mas não separava esse momento. Era um tema não explorado objetivamente num encontro específico. Com a entrada em vigor do CPC 15, ganhou mais corpo essa temática, passando a ser mais explorada, com redações mais objetivas. Os livros de doutrina começaram a trazer capítulos a parte da ordem dos processos nos Tribunais e, então, também, nas aulas, os professores de processo começaram a destacar o tema. Esse tema é disciplinado nos artigos 929 a 946 do novo CPC. Esses dispositivos tratam, em realidade, do processamento de processos no Tribunal. Processamento de recursos, ações de competência originária e incidentes de competência do Tribunal. Além desses dispositivos, há, também, dispositivos de regimentos internos dos tribunais que tratam desse assunto. Então essa temática é disciplinada não apenas no CPC, mas também em regimentos internos dos tribunais. Em IED Processual foram estudadas as fontes de normas processuais e uma das fontes é o regimento interno. Todo Tribunal pode editar o seu próprio regimento interno, nos termos do artigo 96 da CF/88. Nesse regimento interno dos tribunais, que cada um tem o seu, haverá dispositivos que tratam dessa temática do processamento de recursos, ações de competência originária e incidente de competência do tribunal. Ou seja, muito dos dispositivos estudados são dispositivos repetidos em regimentos internos do tribunal ou são dispositivos mais bem explorados nos regimentos internos dos tribunais. Explorados de uma forma mais detalhada. 2. PROTOCOLO, REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 2 Disciplinado pelo art. 929 do CPC. Trata do nascimento do processo no Tribunal: protocolo, registro e distribuição. “Art. 929. Os autos serão registrados no protocolo do tribunal no dia de sua entrada, cabendo à secretaria ordená-los, com imediata distribuição.” É desse dispositivo que se extrai o regramento dos atos de protocolo, registro e distribuição, que são atos intimamente ligados à origem do processo no Tribunal. Em primeiro lugar, quando o processo chega ao tribunal, há de ser feito o protocolo. O que é o protocolo? Nada mais é do que livro oficial e cada Tribunal tem o seu e esse protocolo pode ser eletrônico ou físico. Feito o protocolo, é possível já obter certidão de que existe o processo. Esse protocolo pode ser feito diretamente no Tribunal ou podem existir ofícios de justiça de primeiro grau descentralizados, em que se admite a realização de protocolo ligado ao Tribunal. Os tribunais estão autorizados a criar câmaras regionais ou ofícios de justiça de primeiro grau capazes de receber processos que vão tramitar no tribunal e esse protocolo poderá ser feito de maneira descentralizada. Em Salvador, por exemplo, na Justiça Federal tem o protocolo descentralizado. O TRF-1 fica em Brasília. Então ele criou um ofício de justiça de primeiro grau descentralizado para receber protocolos dirigidos ao Tribunal. É bem verdade que a maior parte desses processos já tramitam eletronicamente. O recurso de agravo de instrumento, por exemplo, protocola no sistema do TRF-1 eletronicamente. Mas o sistema não tem capacidade ilimitada. Ele não recebe documentos de todo e qualquer tamanho. Assim, a depender da limitação, se o recurso tiver muito documento, não vai ser possível fazer o protocolo eletronicamente. Então tem de imprimir tudo, ir à Justiça Federal de primeiro grau e levar o físico, fazendo o protocolo. O ofício de justiça vai levar o processo para Brasília, ao TRF-1, para que depois os atos de registro e distribuição sejam realizados. Isso é o que se extrai do parágrafo único do art. 929: “Parágrafo único. A critério do tribunal, os serviços de protocolo poderão ser descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.” Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 3 Feito o protocolo, imediatamente deve ser realizado o registro do processo no Tribunal. O registro tem como finalidade viabilizar que o Tribunal faça levantamentos quantitativos, ou seja, quantos processos estão cadastrados, quantos processos já foram iniciados e já se encerraram ou ainda estão em curso etc. Mas o registro também tem uma finalidade fundamental que é a publicidade a respeito da existência daquele processo. Após o registro, também imediatamente, deve ser realizada a distribuição do processo no Tribunal. A distribuição deve observar a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade (art. 930, caput, CPC). “Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno do tribunal, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a publicidade.” Na verdade, são características que também são observadas na distribuição de processos em primeiro grau. No Tribunal não acontece diferente. Por que isso? Em relação à alternatividade, é para garantir uma igualdade na distribuição de trabalhos entre os órgãos e os membros do Tribunal. Além disso, é preciso também se observar o sorteio eletrônico, pois é preciso preservar, também no âmbito dos tribunais, o juiz natural. As partes e nem mesmo o órgão jurisdicional pode escolher aquele caso que ele quer julgar. As partes não podem escolher o órgão jurisdicional ou o membro do tribunal que vai julgar o seu processo. Por fim, é preciso observar a publicidade, pois tanto a sociedade quanto as partes devem, a partir da publicidade, controlar o ato de distribuição. Este está diretamente relacionado à preservação de juiz natural, de competência, de imparcialidade. Esse ato, então, deve ser amplamente publicizado para que não apenas as partes, mas também a própria sociedade, tenha condições de fazer esse controle. Pode acontecer de o recurso ser distribuído livremente, mas pode haver um órgão jurisdicional ou um julgador prevento, isto é, em relação de um vínculo anterior, deveria receber os processos incidentes e recursos subsequentes a respeito daquela mesma relação jurídica. Então pode haver um equívoco na distribuição ou pode ocorrer de que havia já um órgão predefinido que deveria receber em razão de prevenção, mas por alguma razão a distribuição foi livre, desconsiderando-se a prevenção, o que deverá ser suscitado pelas partes ou pela sociedade, sem prejuízo de o próprio tribunal sinalizar esse equívoco. Não apenas as partes e a sociedade podem fazer esse controle, mas também o órgão jurisdicional, o que é bem comum eles próprios fazerem. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 4 3. CONEXÃO E PREVENÇÃO A conexão e prevenção também são fenômenos que acontece em processos que tramitam no Tribunal. Quando se está diante de ações de competência originária do Tribunal, o regramento da conexão e prevenção é exatamente o mesmo que se aplica às ações de primeiro grau. Quem é o juízo prevento? Aquele que primeiro recebeu uma das causas conexas por meio de registro ou por meio de distribuição de petição inicial. Então quando estamos diante de ações de competência originária do tribunal, o regramento é esse. Agora se estivermos diante de recurso ou até mesmo incidente de competência do Tribunal, aplica-se um dispositivo específico, que é o parágrafo único do art. 930 do CPC: “Parágrafo único. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo.”Exemplo: está tramitando em primeiro grau uma ação qualquer. Nessa ação, foi proferida uma decisão liminar, indeferindo o pedido de tutela provisória. Contra essa decisão, cabe o recurso de agravo de instrumento. Interposto o agravo, qual órgão julga? Algum órgão do tribunal. Então o agravo vai ser protocolado no tribunal, vai ser registrado e distribuído no tribunal. Feita a distribuição, ele vai ser direcionado para um órgão específico do tribunal (Primeira Câmara Cível, por exemplo). Além disso, esse recurso vai cair em algum relator. A ação em primeiro grau continua tramitando normal, porque o julgamento definitivo tem de acontecer, vez que, até então, só foi proferida a decisão liminar. Digamos que o processo prosseguiu e foi proferida sentença, que é a decisão que encerra o processo em primeira instância. Contra a sentença cabe, em regra, apelação. Quem julgará essa apelação será o Tribunal e tem de ir para algum órgão do Tribunal. Nesse caso concreto, essa distribuição será distribuída por prevenção, ou seja, direcionada ao órgão e relator do agravo. OBS 1: Esse recurso subsequente pode ter sido interposto no mesmo processo ou pode ter sido interposto num processo conexo. Exemplo: existe uma ação de cobrança decorrente de um contrato e uma ação de indenização que decorre do mesmo contrato. Mesma causa de pedir remota. Se duas demandas têm a mesma causa de pedir, ainda que Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 5 seja remota, elas são causas conexas. Digamos que a ação de cobrança foi julgada, foi proferida a sentença, existindo uma apelação sendo processada no tribunal. Depois foi proferida uma sentença na ação indenizatória, que discute a mesma relação jurídica, fundada no mesmo contrato. Novamente veio uma apelação. Essa segunda apelação da ação indenizatória vai ser distribuída livremente no Tribunal? Não, será por prevenção. OBS 1.1: As duas demandas narradas deveriam ter sido reunidas, em regra, mas se uma já tinha sido sentenciada antes da outra começar, não poderá haver a reunião, que é o caso narrado. OBS 2: O órgão jurisdicional e o relator especificamente serão preventos para o recurso subsequente, para o incidente subsequente manejado naquele mesmo processo e processo conexo, ainda que o primeiro recurso que gerou a prevenção já tenha sido julgado em definitivo (trânsito em julgado). OBS 3: Embora o parágrafo único fale apenas em recurso, dá para inserir no âmbito do seu alcance incidente processual que se desenvolva no tribunal e, também, mandado de segurança impetrado contra decisões jurisdicionais. Esse mandado de segurança para questionar uma decisão jurisdicional funciona como se um recurso fosse. Então se um MS é impetrado contra uma decisão proferida num processo, esse MS será de competência do Tribunal. Esses recursos subsequentes ou até mesmo o MS, que serão de competência do Tribunal serão distribuídos livremente ou o MS primeiro torna prevento o relator aos recursos subsequentes? Vem se entendendo que o MS, assim como o recurso, também torna prevento o relator. Tem regimento interno de tribunal que prevê expressamente isso. A prevenção faz surgir, para o juízo prevento, competência funcional e, portanto, absoluta. Apesar disso, a prevenção poderá ser suscitada a qualquer tempo, por qualquer das partes, até mesmo pelo próprio órgão jurisdicional, até antes do julgamento. Realizado o julgamento, aquele órgão terá exercido jurisdição e não há que se falar em vício que gere nulidade daquela decisão. Nada impede que depois do julgamento da demanda possa o órgão jurisdicional reconhecer a prevenção, remetendo o processo ao relator prevento para julgar o recurso seguinte, mas a decisão proferida não poderá ser anulada. É importante destacar isso, pois o vício de incompetência absoluta é Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 6 um vício muito grave que enseja a nulidade do processo. Isso é uma realidade no âmbito dos processos de competência originária. 4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS: VOTO, JULGAMENTO, ACÓRDÃO E EMENTA No Tribunal, os julgamentos são e devem ser, em regra, colegiados, ou seja, o julgamento de processos no Tribunal (recursos, ação de competência originária, incidentes) deve ser feito com a participação de mais de um membro do Tribunal. Nesses julgamentos, cada membro do Tribunal, que faz parte da Turma julgadora, emite uma manifestação individual chamada de voto. Então o voto nada mais é do que a manifestação individual de um julgador ou de um membro que compõe o órgão fracionário julgador de determinada demanda. No julgamento colegiado, cada julgador emitirá o seu voto e, findo o julgamento, esses votos proclamados serão reunidos no chamado acórdão. Então o julgamento colegiado não se confunde com o acórdão. O julgamento é o momento em que se proclamam os votos de cada membro do órgão fracionário julgador do Tribunal, e o acórdão é a decisão lavrada/redigida posteriormente ao julgamento e que reunirá exatamente esses votos. O acórdão vem do termo acordar e, teoricamente, o acórdão deveria exatamente ser a reunião de votos que se dirigem no mesmo sentido. Ocorre que no Direito brasileiro criou-se uma ficção jurídica, que é a do “voto vencido”, que é, inclusive, o chamado “voto divergente”. Ou seja, vai em direção contrária ao voto vencedor ou voto da maioria. Apesar disso, é uma manifestação individual que deve, necessariamente, constar do acórdão. Então embora o acórdão venha da ideia de acordar, de se chegar a um acordo, em razão dessa ficção jurídica, o acórdão precisa contemplar, também, o voto vencido, sob pena de nulidade do acórdão. Portanto, o acórdão é uma espécie de decisão jurisdicional colegiada. Teoricamente, o acórdão deve ser a reunião dos fundamentos determinantes de todos os votos vencedores. O acórdão não deve simplesmente compilar os votos. Mas, na prática, o que ocorre é a cópia dos votos, uma mera compilação dos votos. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 7 O acórdão, como toda decisão, deve ter o relatório, a fundamentação e o dispositivo. Depois do julgamento, no momento imediatamente seguinte, será feita a redação do acórdão. Mas antes disso, costuma-se publicar o resumo do julgamento e, em seguida, o processo será remetido para o relator para que este minute o acórdão. Depois da elaboração do acórdão, elabora-se a sua ementa, que nada mais é do que o resumo do acórdão: deve conter os fundamentos determinantes extraídos dos votos, a norma jurídica individual, ou seja, a solução que foi dada àquele caso específico, deve conter o breve relato dos fatos etc. Se houver divergência entre o acórdão e a ementa, deve prevalecer o que consta do acórdão. Há precedentes do STJ nesse sentido. Mas nada impede de que a parte oponha alguns embargos de declaração para obter esclarecimento. Não ocorrendo o esclarecimento, prevalecerá o acórdão. Elaborada a ementa, haverá a sua publicação e, a partir daí, se inicia o prazo para eventual recurso. É possível que por algum erro, falte a ementa, não seja elaborada. A princípio, isso não gera vício no julgamento em si, no acórdão, pois a ementa é um elemento que se elabora após a lavratura do acórdão e é apenas um resumo dele. Mas é possível que a falta da ementa gere vício do ato de intimação do acórdão. Quando há a publicação da ementa, a parte já tem ideia do resultado do julgamento que ocorreu, pois a ementa espelha o acórdão. Se não há ementa, provavelmente essa publicação se dará com o dispositivo do acórdão apenas, ou apenas com aquele resultado de duas linhas que geralmente se coloca no extrato da ata de julgamento, que diz “acórdãos os ministros em dar provimento/negar provimento ao recurso tal”. Então é possível que se busque o ato de intimação e não do acórdão,se provar eventual prejuízo. Muitas vezes o relator faz o seu voto e os outros simplesmente dizem que concorda com o relator, sem acrescentar nada. Assim, o acórdão será o voto do relator. Mas existem situações, principalmente nos tribunais superiores, e às vezes em órgãos especiais em tribunais locais, que cada julgador escreve o voto próprio: diz quais são os fatos, o enquadramento jurídico que entende que deve ser feito e diz o resultado. Muitas vezes esses votos chegam ao mesmo resultado, exemplo todos dando provimento ao recurso, mas cada voto acolhe o recurso com fundamento diferente. O que acontece muitas vezes é que o acórdão será a compilação desses votos. Mas o que seria correto tecnicamente é o relator pegar esses votos, olhar a fundamentação e ver como extrair daquelas Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 8 fundamentações distintas os fundamentos determinantes médios ou aqueles que todos estiveram de acordo, embora tenham sido feitos complementações, para fazer o acórdão. OBS: Depois de lavrado o acórdão e elaborada a ementa, ela precisa ser publicada, para que se inicie o prazo recursal. Mas pode ser que não haja publicação do acórdão através da sua ementa, pode ocorrer que haja uma demora, algum equívoco. Se for esse o caso, se o acórdão não for publicado através da sua ementa, no prazo de 30 dias, a contar da sessão de julgamento, as notas taquigráficas substituirão o acórdão para todos os fins legais, independentemente de revisão. Nessa hipótese, o presidente do órgão julgador determinará, de imediato, a lavratura das conclusões do julgamento e a ementa, mandando publicar o acórdão de imediato (art. 944, caput, parágrafo único, CPC). AULA 10 DE FEVEREIRO 5. TUTELA PROVISÓRIA NOS TRIBUNAIS Assim como é possível formular pedidos de tutela provisória nos processos de primeiro grau, também é possível nos tribunais, seja no âmbito de recurso, de um incidente ou ações de competência originária do tribunal. Esse pedido pode ser de tutela provisória de urgência, que pode ser de natureza satisfativa ou cautelar; mas também pode ser um pedido de tutela provisória de evidência. Claro que esse pedido de tutela provisória que pode ser formulado nos tribunais, precisa ter fundamento em alguns requisitos, quais sejam: (a) fumus boni iures; (b) periculum in mora, no caso da tutela provisória de urgência. E em relação ao pedido de tutela de evidência, existem alguns requisitos, que são previstos no art. 311 do CPC. O pedido de tutela provisória pode ser formulado em caráter antecedente ou em caráter incidental. Antes de que seja formulado o pedido de tutela jurisdicional definitivo, pode ser formulado o pedido de tutela provisória. Quando isso ocorre, se diz que a tutela provisória foi requerida em caráter antecedente. Exemplo: quer ajuizar ação rescisória, mas está vendo que a sentença que vai ser objeto da ação rescisória está em vias de ser executada. Mas existe um vício grave naquela sentença. Só que não dá tempo de fazer a ação rescisória tão rápido quanto se pode fazer Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 9 um pedido de tutela provisória. Nesse caso, enquanto está fazendo a ação rescisória, pode fazer um pedido de tutela provisória de caráter antecedente. Pode ser que a tutela provisória seja requerida incidentalmente, quando já há a formulação do pedido de tutela jurisdicional definitiva. O pedido de tutela provisória é requerido perante o Relator. No mais das vezes, não sempre, esse pedido é apreciado pelo diretamente pelo relator, monocraticamente. 6. PRODUÇÃO DE PROVA EM TRIBUNAL É um equívoco se pensar que no âmbito do tribunal não é possível se produzir prova. Há pelo menos três razões que conduzem a essa conclusão: i. Os Tribunais são compostos por órgãos fracionários e dentro de cada órgão fracionário há magistrados que compõem aquele órgão fracionário. Nos termos do art. 370 do CPC, caput e parágrafo único, se ver que o juiz tem poder instrutório. Ora, se o art. 370, caput e parágrafo único diz que juiz tem poder instrutório e se os órgãos fracionários dos tribunais são compostos por magistrados, não há como se chegar a outra conclusão, senão aquela, segundo a qual no âmbito dos tribunais é possível a produção de provas, já que os processos nos tribunais são conduzidos por juízes. Eles podem deferir ou indeferir uma prova que tenha sido requerida e podem até mesmo conduzir a própria produção da prova. ii. Existem alguns dispositivos do CPC, como o art. 342, 493, 1.014, que permitem a alegação de fato novo ou de fato superveniente no âmbito dos tribunais. Não existe num processo alegar por alegar. No processo, toda alegação de fato deve ser acompanhada da respectiva prova, ainda que essa prova seja documental. Se é possível alegar fato novo, é preciso que seja admitida produção de prova. É uma questão de necessidade. Então também por essa razão, não há que se ter dúvida a possiblidade da produção de prova no tribunal. iii. Por fim, o art. 435 do CPC permite que as partes, em qualquer tempo, inclusive no Tribunal, juntem documentos novos. Vem se entendendo que esse dispositivo, embora fale apenas em prova documental, ele pode ser interpretado de forma mais ampla, para permitir a produção não apenas da prova documental no tribunal, mas qualquer outra prova, desde que ela esteja relacionada a fatos novos. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 10 E como se daria essa produção? Há pelo menos três maneiras, do ponto de vista operacional. Numa primeira forma, essa prova pode ser conduzida apenas pelo relator. Uma segunda maneira, é que a prova seja encaminhada pelo órgão colegiado. Então ao invés do relator sozinho ouvir a testemunha, por exemplo, ele vai submeter a oitiva ao órgão colegiado. Claro que o relator vai fazer a parte prévia, como a intimação etc. É uma possibilidade, mas isso é raro, por uma razão de dificuldade de se comprometer as agendas de vários julgadores para ouvir uma testemunha ou fazer acompanhamento de uma audiência. Uma terceira forma, ao invés de a prova ser produzida diretamente pelo relator ou pelo órgão colegiado, é possível que o tribunal solicite que a produção da prova seja feita no âmbito do órgão jurisdicional de primeiro grau. Então o tribunal manda uma carta de ordem (aquela enviada por um órgão jurisdicional hierarquicamente superior a um inferior) ao órgão de primeiro grau para que ele faça a coleta da prova. 7. RELATOR Em regra, os julgamentos no tribunal são colegiados. Só que não é possível que todos os membros de um órgão colegiado pratiquem todos os atos necessários para a condução e desenvolvimento de um processo no tribunal. Por isso que se cria a figura do Relator. Quem é o relator? Na verdade, o relator é o julgador que fica responsável pela demanda que tramita no tribunal, cabendo a ele a prática de vários atos referentes a essa demanda. Cada demanda que chega ao tribunal, será atribuída a um relator. Pode se dizer que o relator é aquele que vai melhor conhecer a demanda, não havendo como todos os membros do órgão fracionário conhecer aquela demanda com a mesma profundidade que conhece o relator. Para que o relator possa fazer a condução dessas demandas, ele tem alguns poderes. Poder ordinatório (art. 932, I) Em primeiro lugar, são reconhecidos ao relator os chamados poderes ordinatórios, de organização do processo. No exercício desse poder ordinatório, o relator praticará alguns atos no processo, por exemplo: ele irá determinar a intimação do MP, nos casos em que a intervenção do MP for necessária. Também irá estabelecer os poderes do amicus Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 11 curiae. Cabe ao relator, também, tentar conciliar as partes,a qualquer tempo, durante o curso do processo no tribunal. Cabe ao relator reprimir/prevenir a prática de atos de litigância de má-fé, atos atentatórios à dignidade da justiça. Cabe ao relator organizar a ordem da produção das provas. Cabe ao relator encaminhar ofícios à Defensoria Pública e MP, para que esses entes ajuízem a respectiva ação coletiva, nos casos em que essa ação for recomendada. Todos esses atos devem ser praticados observando se há igualdade no tratamento das partes, a razoável duração do processo, tentando manter a ordem etc. No âmbito desse poder ordinatório, o relator também irá fazer o controle de eventuais vícios que existam no processo. Então se o relator constatar a ocorrência de algum vício, o próprio relator determinará a realização ou a renovação do ato processual. Havendo a correção desse vício, com a sua realização ou com a renovação, a demanda será julgada normalmente. Nada impede que esse vício seja detectado no meio do próprio julgamento colegiado. Nada impede que outros membros do órgão colegiado identifiquem aquele vício. Nessa perspectiva, cita-se o art. 938, §§ 1º, 2º, 3º e 4º. Poder probatório (art. 932, I) O segundo poder que se atribui ao relator é o poder probatório/instrutório. O relator tem poder instrutório. Significa dizer que o relator pode determinar a produção de provas de ofício e pode, também, deferir ou indeferir, desde que por meio de decisão fundamentada, provas requeridas pelas partes. Além disso, o relator tem poder para conduzir a produção da prova no tribunal. Poder decisório (art. 932, II, III, IV, V) Também se atribui ao relator o chamado poder decisório. Em primeiro lugar, no exercício do poder decisório, o relator homologará autocomposição, eventualmente celebrada entre as partes. É verdade que a autocomposição pode ser feita sem que a demanda chegue ao tribunal, quando, por exemplo, as partes apelam da sentença e, antes que a demanda chegue ao tribunal, por questões meramente burocráticas, elas entre em um consenso. Independentemente disso, é o relator quem vai receber esses recursos no tribunal, que tem competência para homologar a autocomposição celebrada. OBS: Há quem diga que quando celebra o acordo, havendo recurso pendente, esse recurso perde o objeto. Assim, dá a entender que numa situação como essa, não precisaria Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 12 mandar nem o recurso ao tribunal, de modo que o próprio juiz de primeiro grau poderia fazer essa homologação. A professora tem ressalva desse entendimento, pois após o proferimento de sentença, exaure-se a parcela de jurisdição de primeiro grau. Em segundo lugar, no exercício do poder decisório, cabe ao relator apreciar pedido de tutela provisória. Claro que em algumas situações, o relator poderá remeter a apreciação desse pedido ao órgão colegiado, mas ele tem o poder de apreciar monocraticamente. Inclusive essa decisão monocrática do relator é recorrível pelo chamado Agravo Interno, que é um recurso de competência do colegiado. Ou seja, se houver agravo interno, a tutela provisória será julgada pelo colegiado, inclusive com a presença do relator. Em terceiro lugar, no exercício do poder decisório, o relator apreciará pedido de gratuidade de justiça. O benefício da justiça gratuita pode ser pedido em qualquer momento do processo. Quando ele é feito no tribunal, cabe ao relator apreciar esse pedido para deferir ou indeferir. Se o relator defere, não cabe recurso contra a sua decisão. A parte contrária poderá fazer uma impugnação, que será apreciada pelo relator, podendo revogar sua decisão, mas a parte não poderá recorrer da decisão. Já a decisão do relator que indefere ou que revoga o benefício é recorrível por meio de Agravo Interno. Em quarto lugar, o relator não conhecerá de recurso inadmissível prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrível. Não conhecer de um recurso significa inadmiti-lo, isto é, inviabilizar o julgamento de seu mérito. Quando o relator poderá fazer isso? Em primeiro lugar, quando o recurso for inadmissível, que é quando ele não atende a algum requisito de admissibilidade recursal (FALAREMOS SOBRE NA AULA DE TEORIA DOS RECURSOS). Além disso, o relator também poderá inadmitir o recurso quando ele for prejudicado. O que é recurso prejudicado? É um recurso inadmissível, só que um recurso inadmissível em razão da ocorrência de fato superveniente. Ou seja, esse recurso que era admissível, torna-se inadmissível. Exemplo: foi impetrado MS para que uma empresa conseguisse participar de um procedimento licitatório. A empresa não conseguiu a liminar, consequentemente o procedimento foi seguindo suas fases. Veio a sentença do MS, denegando a segurança. Contra essa sentença, a empresa interpõe apelação. Nesse meio tempo, o procedimento Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 13 licitatório acaba. Quando a empresa interpôs o recurso ela tinha interesse ainda, mas quando a apelação chegou ao tribunal e o tribunal foi avaliar o caso, o procedimento licitatório acabou, ou seja, houve a perda do objeto. Por fim, o relator não vai conhecer de recurso que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida. Na verdade, esse recurso que não faz a impugnação específica das razões da decisão recorrida, é um recurso inadmissível também. É requisito de admissibilidade recursal a chamada regularidade formal e, dentro do estudo da regularidade formal, há uma regra chamada de dialeticidade recursal. Essa regra diz que recurso não pode ser genérico, ele precisa impugnar especificamente as razões da decisão recorrida. Recurso genérico é inadmissível. No âmbito da admissibilidade dos recursos, há um dispositivo que se fala reiteradamente, que é o art. 932, parágrafo único, do CPC. É um dispositivo muito citado no estudo da admissibilidade dos recursos. Ele diz que “antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente, para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigida”. O relator não fará isso imediatamente. Havendo algum vício que gere inadmissão, o relator precisará intimar o recorrente, para que em cinco dias sane o vício, que enseja a inadmissão, ou complemente a documentação. Então embora o relator possa inadmitir o recurso, ele não fará isso, em regra, automaticamente. Ele precisa aplicar o parágrafo único do art. 932 do CPC. Esse dispositivo é importantíssimo que foi trazido pelo novo CPC e é fundado no princípio da primazia do julgamento de mérito. Mas claro que existem vícios sanados e vícios insanáveis. O parágrafo único do art. 932 oportuniza a correção do vício, mas no CPC há outros dispositivos também que viabilizam a correção. O preparo é a despesa que paga para que o recurso seja processado. É possível que se deixe de pagar o preparo. Se isso ocorrer, o recorrente será intimado para pagar o preparo em dobro. Ao pagar em dobro, o recorrente evita a inadmissão do seu recurso. Então o CPC tem a linha do parágrafo único do 932, mais genérico, mas existem outros dispositivos mais específicos que também estão nessa linha. Em quinto lugar, no exercício do poder decisório, o relator poderá apreciar o próprio mérito do recurso, ou seja, o relator, sozinho, poderá acolher ou rejeitar o recurso Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 14 no mérito. É claro que o relator não poderá examinar o mérito do recurso em qualquer situação, senão não faria sentido a regra da colegialidade. Quando se fala em acolhimento do recurso, diz-se que ele pode dar provimento ao recurso. Se ele nega, diz-se que ele está negando provimento ao recurso. Isso não ocorre em qualquer situação, mas apenas em situações específicas. Para negarprovimento ao recurso, o relator não precisa nem mesmo oportunizar o contraditório, pois a decisão que nega provimento ao recurso é favorável ao recorrido. Então ele não precisa ser ouvido. Por outro lado, o provimento do recurso pelo relator depende da oportunização do contraditório, sob pena de violação do contraditório. Em que situações o relator pode julgar monocraticamente o mérito do recurso? É possível que se negue quando o recurso for contrário à súmula do STJ, STF ou do próprio tribunal local; quando for contrário a acórdão proferido pelo STF ou STJ no julgamento de recursos repetitivos; ou quando for contrário ao entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou incidente de assunção de competência. Está consignado no inciso IV do art. 932 do CPC. Por outro lado, também é possível que se dê provimento monocrático ao recurso, quando a decisão recorrida for contrária a esses mesmos precedentes obrigatórios (art. 932, V). Até então estamos falando no poder decisório do relator em relação a recursos, mas o relator também pode praticar atos no exercício de poder decisório em ações de competência originária. Por meio de decisões monocráticas, ele pode indeferir uma ação de competência originária; pode julgar liminarmente improcedente uma demanda de competência originária etc. Ele pode julgar liminarmente improcedente uma demanda de competência originária sozinho, monocraticamente, sem oportunizar ao contraditório e sem submeter ao colegiado. Nessas mesmas ações de competência originária, o relator pode proferir decisões interlocutórias, como admitir ou inadmitir intervenção de terceiro. Pode ser também uma decisão que defere ou não o pedido de produção de provas. Então também no exercício do poder decisório, o relator pode proferir sozinho decisões interlocutórias. 8. PROIBIÇÃO DE DECISÃO SURPRESA NO TRIBUNAL Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 15 O contraditório carrega uma dimensão substancial que veda a prolação de decisão surpresa. A prolação de decisão surpresa viola o contraditório, portanto. E isso vale no processo em primeiro grau e no tribunal. Então o art. 9ºdo CPC que trata de contraditório é um dispositivo genérico, que se aplica no âmbito do processo de conhecimento, inclusive no âmbito dos tribunais. Agora, nos tribunais existe um dispositivo ainda mais específico que proíbe a decisão surpresa, qual seja, o art. 933 do CPC. Diz que “se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias”. Esse dispositivo diz que se há fato superveniente ou uma questão, ainda que apreciável de ofício, sobre a qual as partes não falaram, deve-se oportunizar o contraditório, num prazo de cinco dias. Então também no tribunal vale a regra que o juiz não pode julgar, em grau algum de jurisdição, a respeito de uma questão sobre a qual as partes não falaram. O parágrafo primeiro desse dispositivo diz que “se a constatação desse fato novo ocorrer durante uma sessão de julgamento, a sessão deverá ser suspensa para que as partes se manifestem. Digamos que a parte está fazendo a sustentação oral dela e, de repente, no meio da sustentação, algum julgador percebe que existe uma questão processual que ninguém se atentou, que só houve destaque naquele momento de julgamento, como, por exemplo, um vício de nulidade absoluta. Se isso ocorrer, o julgamento será paralisado para que as partes falem sobre essa questão superveniente. Agora, se essa constatação ocorrer quando o processo estiver em vista com algum julgador, é preciso que se devolva o processo ao relator do caso, para que intime as partes, para que elas possam falar sobre aquela questão, garantindo-se o contraditório. Então nem mesmo o tribunal pode proferir uma decisão surpresa, mesmo sobre aquelas questões examináveis de ofício. 9. JULGAMENTO 9.1. Colegialidade como regra Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 16 A regra é que os julgamentos no tribunal sejam colegiados. Claro que essa regra comporta algumas exceções. Esse julgamento deve ser feito em sessão pública solene, na sede do tribunal, dentro do horário de funcionamento do tribunal, mas nada impede que esse julgamento seja feito também eletronicamente. Existe o julgamento eletrônico, que é o julgamento intermediado por tecnologia e ocorre tal como ocorresse presencial, com participação da sociedade; e o julgamento estritamente eletrônico, do qual a sociedade não participa. É possível também que o julgamento em sessão pública solene ocorra em câmaras descentralizadas, que acabam estando mais próximas do jurisdicionado. Os tribunais têm sede geralmente em capitais. O TRF 1, por exemplo, tem sede em Brasília. 9.2. Convocação de outros juízes para a composição do quórum do julgamento O processo quando chega ao tribunal é distribuído ao órgão fracionário, que é composto por mais de um membro, que são magistrados. No âmbito do tribunal, são chamados de desembargadores. Estes assumem tal posição após promoção na sua carreira, de modo que, a princípio, os desembargadores se colocam numa posição hierarquicamente superior em relação aos juízes de primeiro grau. Isso ocorre na justiça comum. Nos Juizados, a realidade é um pouco diferente. Lá, a primeira instância é formada por órgãos chamado de varas, que têm seus juízes de primeiro grau e a segunda instância é composta por grupo de juízes de primeiro grau nas Turmas recursais. Então não há as promoções nem essa hierarquia. Ocorre que em algumas situações não há desembargadores suficientes para compor esses órgãos fracionários. Nessas situações, será inevitável a substituição desses desembargadores por juízes de primeiro grau. Muitas vezes juízes de primeiro grau substituem os desembargadores nessas situações. Pergunta-se, nesse ponto, se haveria violação do princípio do juiz natural, já que o processo no tribunal precisa ser julgado por desembargador. Num primeiro momento, havia precedentes afirmando que haveria sim a violação do juiz natural. Mas esses entendimentos não vingaram, de modo que atualmente tanto o STJ quanto o STF têm entendimento no sentido de que não há violação do juiz natural, quando o órgão fracionário é composto por juízes de primeiro grau, ainda que seja composto em sua maioria por juízes de primeiro grau substitutos. Mas para que se Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 17 afaste a violação do juiz natural é preciso que a convocação da substituição tenha sido pública e solene e tenha sido anterior ao julgamento daquela demanda no tribunal e é preciso que essa convocação observe, ainda, atos normativos gerais e abstratos. AULA 17 DE FEVEREIRO 9.3. Ordem de julgamento, inclusão e publicação da pauta Depois de elaborado o relatório, o processo será encaminhado para a secretaria do órgão fracionário. A partir daí, o presidente do órgão fracionário pedirá que se designe um dia para julgamento desse processo. Designado o dia, deverá haver a publicação da designação do julgamento no órgão oficial. O art. 935, caput, CPC diz que entre a data da publicação e a data em que será realizada o próprio julgamento, deve decorrer pelo menos o prazo de 5 dias. Então é preciso que o presidente peça um dia específico para julgamento daquele processo, depois disso a publicação no órgão oficial e entre a data da publicação da pauta em órgão oficial e a data do julgamento deve correr 5 dias úteis. Além da data de julgamento ser publicada no órgão oficial, é preciso também que a pauta de julgamento seja fixada na entrada da sala em que será realizada a sessão dejulgamento. Em algumas situações se dispensa a publicação do dia de julgamento de determinado processo. Mas isso ocorrerá em situações muito específicas: (a) quando se tratar de recurso de embargos de declaração julgados na sessão que se segue à data do seu protocolo. Exemplo: meu recurso de ED vai ser julgado pelo órgão fracionário que tem sessão toda sexta feira. Eu protocolo meus embargos hoje e ele já vai ser julgado na sexta, que é a sessão seguinte. Se essa situação ocorrer, e é raro, não haverá necessidade de publicação da pauta; (b) quando o processo, designado para ser julgado em uma data, deixa de ser por alguma razão, adiando-se o seu julgamento para a primeira sessão seguinte. A publicação da pauta é a regra, pois é preciso que as partes sejam intimadas na pessoa do seu advogado. É através da pauta que as partes tomam ciência de que o seu processo será julgado no Tribunal. Havendo incompletude nas informações constantes na publicação, pode ser suscitada nulidade da publicação, pedindo redesignação de Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 18 julgamento, mas é preciso que se demonstre o prejuízo. O vício pode ser suscitado por uma petição simples ou por Embargos de Declaração opostos contra a decisão proferida pelo órgão na sessão de julgamento que se realizou de forma irregular. Depois de publicada a pauta de julgamento, as partes, através dos seus advogados, aguardaram a data para, querendo, acompanhar a sessão de julgamento. Na sessão existirá uma ordem de julgamento dos processos pautados. Em primeiro lugar, serão julgados os processos em que houve pedido de sustentação oral. Nessa hipótese, será observada a ordem de requerimento de sustentação oral. A ideia de se julgar primeiro os processos de sustentação é evitar que o advogado aguarde muito tempo para fazer a exposição oral. Em segundo lugar serão julgados os processos em que haja pedido de preferência. Há situações em que as partes, através dos seus advogados, pedem a preferência, independentemente de sustentação oral. OBS: Não é uma preferência que tem previsão legal. Existem alguns tipos de processo que precisam ter julgamento prioritário. A preferência aqui não é essa. É aquela que é solicitada por qualquer parte, no sentido de que naquela pauta de julgamento ele seja julgado logo. Depois desses, serão julgados aqueles processos cujos julgamentos tenham sido iniciados em sessão de julgamento anterior. Por fim, os demais casos. 9.4. Sustentação oral Na sessão de julgamento, inicialmente o relator irá fazer a leitura do relatório. Ou seja, fará a exposição da causa. Depois disso, o presidente do órgão fracionário dará a palavra ao recorrente, ao recorrido e ao MP, nos casos em que houver, para que cada um deles sustente oralmente as suas razões em 15 minutos (art. 937, CPC). Portanto, o direito de sustentar oralmente é reconhecido ao recorrente, recorrido e Ministério Público. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 19 O recorrente e recorrido realizam sustentação através dos seus advogados, pois o advogado é quem tem capacidade postulatória. Em relação ao recorrente, ele fará a sustentação das razões de seu recurso. O recorrido, por outro lado, a princípio, fará a sustentação das razões das suas contrarrazões, que é a resposta que se dá ao recurso. E se não tiver contrarrazões ele poderá sustentar oralmente? Vem se entendendo que mesmo que o recorrido não tenha apresentado contrarrazões, deve-se admitir sustentação oral. Nessa hipótese, o recorrido defenderá as razões da decisão, a manutenção da decisão. Se o MP é parte recorrente ou recorrido, não há dúvida alguma que ele pode fazer sustentação oral. Agora o MP também pode atuar como fiscal da ordem jurídica. Se ele for fiscal, também se admite que ele realize sustentação oral. Mas é possível que no mesmo processo o MP atue como parte e como fiscal da ordem jurídica. Quando existe essa atuação dupla, os dois poderão fazer sustentação oral ou apenas um deles? (MP parte e MP fiscal). Vem se entendendo que nesses casos só se deve permitir que o MP fiscal da ordem jurídica faça a sustentação oral, para que não haja um desequilíbrio no processo, já que, embora órgãos diferentes, o MP é visto como instituição una. A sustentação oral será realizada para que o recorrente faça a exposição oral das razões do seu recurso. Só que nem todo recurso comporta sustentação oral. Não será possível realizar sustentação de todo e qualquer recurso. E no âmbito de quais recursos será possível realizar? Apelação, Recurso Ordinário, Recurso Especial, Recurso Extraordinário, nos Embargos de divergência. Significa dizer que não cabe sustentação nos embargos de declaração, no agravo interno, em regra, e no agravo de instrumento, em regra. Ou seja, nunca cabe nos embargos de declaração e, no âmbito do agravo interno e agravo de instrumento, não cabe em regra. Mas há situações em que será admitida: no âmbito do agravo interno admite-se sustentação quando o agravo interno é interposto contra decisão que extingue ação rescisória, mandado de segurança ou reclamação constitucional. Em relação ao agravo de instrumento, só caberá sustentação oral no agravo interposto contra decisão que versa sobre tutela provisória. A princípio, o art. 937 do CPC diz que só cabe agravo de instrumento nessas hipóteses acima. Mas a doutrina vem alargando essa previsão, para permitir sustentação contra decisão interlocutória que versa sobre mérito do processo. Por que a doutrina vem Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 20 defendendo isso? Porque ela entende que a decisão que versa sobre mérito do processo é uma decisão que encerra uma discussão a respeito de uma questão, em determinada instância. Mas como essa é uma decisão parcial de mérito, o recurso cabível contra ela não é uma apelação, mas sim um agravo de instrumento. Assim, nessa situação deve permitir sustentação oral, pois esse agravo faria as vezes de uma apelação. Essa discussão vem sendo refletida nos regimentos internos dos tribunais. E cabe sustentação oral na remessa necessária? Alguns entendem que a remessa necessária é uma espécie de recurso de ofício. Remessa necessária é cabível quando existe decisão proferida em desfavor da Fazenda Pública, ficando esta omissa. Por isso se diz recurso de ofício, pois é viabilizado automaticamente pelo próprio órgão jurisdicional. Em relação a essa questão não há unanimidade. Há quem diga que não cabe sustentação, pois não estaria indicada no rol do art. 937. Além disso, essa doutrina afirma que se a fazenda pública não recorreu, ela não teria razões para sustentar. Outra parte da doutrina entende, por outro lado, que deve se admitir sustentação oral na remessa necessária, pois a sustentação é manifestação do contraditório, de modo que, como não há nenhum dispositivo que proíba a sustentação oral na remessa necessária, não deve se restringir esse direito. Também cabe sustentação no âmbito de ações de competência originária do Tribunal. Também cabe no incidente de resolução de demanda repetitiva. Mas no âmbito do incidente, existem algumas especificidades. A sustentação oral será realizada depois da leitura do relatório pelo relator. Em primeiro lugar será dada a palavra ao recorrente, depois ao recorrido e depois ao MP. Se houver mais de uma parte com advogados distintos, vinculados a escritórios distintos, esse prazo de 15 minutos pode ser dobrado para 30 minutos, divididos igualitariamente entre todas as partes daquele polo. No incidente de resolução de demanda repetitiva, o prazo de sustentação é de 30 minutos. Primeiro falará o autor, depois o réu, depois o MP, pelo prazo de 30 minutos cada um. Se existirem outros interessados que queiram falar, haverá 30 minutos paradividir para todos os interessados. Como se pede sustentação oral? Diz o CPC que a sustentação oral poderá ser requerida até antes do início da sessão de julgamento. Na verdade, existem duas maneiras Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 21 de se pedir a sustentação: ou é solicitada por escrito, através de petição ou e-mail, encaminhado para a secretaria do órgão fracionário, ou é solicitada oralmente na própria sessão de julgamento. Na primeira situação, é preciso que se observe um prazo razoável para que o órgão fracionário tenha condição de identificar que tem o pedido de sustentação e para que o órgão possa organizar a ordem a partir desse pedido. O regimento interno indica o prazo razoável, de modo que é fundamental que seja consultado o regimento interno do tribunal. Quando se pede oralmente no próprio dia, é possível que esse pedido seja feito até antes do início da sessão de julgamento. Na prática, os tribunais geralmente anunciam que esses pedidos orais de sustentação oral devem ser formulados até 30 minutos antes do início da sessão de julgamento. Isso também varia de tribunal para tribunal. Se o advogado for realizar a sustentação através de videoconferência, ele precisa necessariamente pedir a sustentação oral com pelo menos um dia de antecedência, pois o tribunal vai precisar organizar a parte de tecnologia para viabilizar a sustentação oral à distância. Os interessados que queiram falar terão de pedir para realizar a sustentação com antecedência de dois dias. A sustentação oral não pode ser confundida com o pedido de esclarecimentos. O pedido de esclarecimento é aquele formulado pelo advogado ao longo da sessão de julgamento, para que faça algum esclarecimento fático. Não precisa ser solicitado previamente. Pode ser feito a qualquer tempo, desde o início da sessão de julgamento até o seu fim, desde que o advogado invoque a expressão pela ordem. No pedido de esclarecimento não se pode sustentar teses jurídicas, é meramente esclarecimento de fato. Outra diferença é que sustentação oral só cabe em âmbito de alguns recursos específicos, já o pedido de esclarecimento de fato pode ser feito em qualquer demanda que tramite no tribunal. 10. PEDIDO DE VISTA O pedido de vista é disciplinado no art. 940 do CPC. É aquele formulado pelo relator ou por qualquer outro julgador do órgão fracionário do tribunal, que ainda não se Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 22 considere apto a proferir o seu voto. Existem duas espécies de pedido de vista: (a) pedido de vista em mesa; (b) pedido de vista em gabinete. O primeiro é formulado no curso da sessão em julgamento, o que gera uma simples suspensão do julgamento. Depois de consultado os autos pelo julgador, será retomado o julgamento. O pedido de vista em gabinete, por sua vez, gera um adiamento do julgamento. Esse pedido de vista em gabinete pode ser formulado pelo prazo máximo de 10 dias, prorrogáveis por mais 10 dias, a pedido do julgador que fez o pedido de vista. Passados os 10 dias ou passados os dias da prorrogação, o presidente do órgão fracionário requisitará o processo para julgamento do recurso na sessão subsequente. É possível que quando isso ocorra, o próprio julgador ainda não se sinta apto para votar. Nessa hipótese, o próprio presidente irá convocar um substituto para proferir esse voto. 11. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E MÉRITO Toda demanda se submete a um duplo juízo: de admissibilidade e de mérito. Em primeiro lugar, é realizado o juízo de admissibilidade, avaliando-se a presença de requisitos de admissibilidade da demanda. Se algum não for preenchido, o juízo de mérito nem é realizado. Mas se todos estiverem presentes, passa-se à realização do juízo de mérito. Este, por sua vez, recai sobre o objeto litigioso do processo. Às vezes questões de admissibilidade do processo em primeiro grau se tornam questões de mérito de um recurso. Exemplo: competência. Profere-se uma decisão interlocutória, onde o juiz se diz absolutamente incompetente. Essa decisão é recorrível por agravo de instrumento, sendo o mérito a incompetência absoluta do juízo. O órgão fracionário precisa se debruçar sobre juízo de admissibilidade e juízo de mérito. É preciso que todos os julgadores votem no juízo de admissibilidade e no juízo de mérito. 12. AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO EM CASO DE DIVERGÊNCIA A regra é que o julgamento nos tribunais é colegiado. Como a regra é que seja colegiado, é possível que haja unanimidade, mas pode ser não unânime. Quando o julgamento não unânime (julgamento por maioria) ocorre no âmbito do julgamento de apelação, deverá ser aplicada uma técnica chamada de “técnica de ampliação do colegiado em caso de divergência”, prevista no art. 942 do CPC. Essa técnica é uma novidade do Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 23 novo Código. Ela veio substituir o recurso de embargos infringentes, que tinha cabimento no CPC-73. Como essa técnica é aplicada? Quando ocorre o julgamento não unânime da apelação, o julgamento da apelação não se encerra de imediato, devendo ter prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial. É preciso tentar dar prosseguimento ao julgamento no mesmo dia e na mesma hora em que se constata um julgamento não unânime. Mas às vezes isso não é possível. Por isso que às vezes tem de ser designada outra sessão de julgamento. A convocação de novos julgadores tem como objetivo ampliar o colegiado, viabilizar a oxigenação, com a possibilidade de se alterar o resultado que se obteve inicialmente. Não é que o resultado vai ser necessariamente alterado em razão da ampliação do colegiado, mas é preciso que se convoque julgadores em número suficiente para tornar possível essa alteração. Exemplo: a apelação está sendo julgada por três membros. A discussão é de guarda de criança. Um julgador diz que a guarda deve ficar com a mãe e dois julgadores dizem que tem que ficar com o pai. Há aí divergência. Mas o julgamento da apelação não unânime não pode se encerrar aí. OBS: Todos os julgadores votarão, inclusive aqueles que já haviam votado, podendo mudar o seu voto. Essa técnica de ampliação deve ser aplicada de ofício pelo órgão jurisdicional. Isso deve ser feito de forma automática, sob pena de nulidade do julgamento da apelação. Essa técnica também será aplicada na ação rescisória e no agravo de instrumento. Se o julgamento da apelação é não unânime, pouco importa o resultado desse julgamento para que a técnica da ampliação do colegiado seja aplicada. Em relação à ação rescisória e agravo é diferente: a técnica da ampliação na ação rescisória só será aplicada quando o resultado não unânime da ação rescisória for a rescisão da sentença. No julgamento da ação rescisória no tribunal, pode ser que o resultado da maioria tenha decidido inadmitir a ação rescisória. Nesse caso, não vai aplicar a técnica. Outro exemplo é que ela foi admitida, mas foi julgada improcedente. Também não vai haver a aplicação da técnica, Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 24 pois o resultado não foi a rescisão da sentença. Então a técnica de ampliação do colegiado só será aplicado quando o resultado não unanime for a rescisão da sentença. Em relação ao agravo de instrumento, só haverá aplicação da técnica quando o resultado não unânime for a reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito. Existem vários resultados possíveis num julgamento de um agravo. Mas só caberá a técnica se o agravo de instrumento atacar uma decisão interlocutória que versa sobre parcial de mérito e gerar a reforma da decisão interlocutória parcial de mérito. 13. VOTO-MÉDIO Épossível que uma decisão seja unânime quanto ao resultado, mas é possível que não haja unanimidade em relação aos fundamentos determinantes desse resultado. Essas decisões são chamadas de decisões plurais. Quando estamos diante dessas decisões, é preciso que tente extrair dessas decisões o voto-médio, principalmente quando estamos num sistema de precedentes. O problema é saber de que forma extrair esse voto-médio. Essa divergência de votos, de fundamentos determinantes, pode ser uma divergência quantitativa ou qualitativa. A extração do voto-médio em cada situação é diferente. Na divergência quantitativa, existem duas formas de extração do voto-médio: (a) técnica da continência. Imagine que todos os julgadores de uma demanda processada no tribunal dizem que é devida uma indenização para a vítima de um crime. Mas eles divergem quanto ao valor da indenização. Pela técnica da continência, o voto-médio é aquele que se localiza mais ao meio das extremidades. Nesse exemplo, um julgador fala que é 100 mil, outro 80 mil, outro 50 mil. O voto-médio é 80 mil, que é aquele que se localiza mais ao meio; (b) além dessa técnica da continência, existe a técnica da média aritmética. Nesse caso, seria 230 mil/3 julgadores. A divergência também pode ser qualitativa. Aqui é mais difícil para se extrair o voto-médio. Imagine que num julgamento, de três julgadores, a discussão era sobre guarda. Todos os julgadores compreenderam que a guarda não deveria ficar com o pai. Houve unanimidade nisso. Mas um julgador diz que deveria ficar com a mãe, outro com a tia, outro com a avó paterna. Como extrai o voto-médio aí? É muito difícil. Quando a divergência é qualitativa, há alguns caminhos que podem ser usados pelo órgão Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 25 fracionário para poder chegar à unanimidade de fundamentos. Um dos meios possíveis seria a técnica da ampliação do colegiado. Outra forma seria o órgão jurisdicional repetir o julgamento com os mesmos julgadores. AULA 24 DE FEVEREIRO 14. PROCLAMAÇÃO DO RESULTADO Na sessão de julgamento, o relator faz a exposição da causa, em seguida dá a palavra ao recorrente, recorrido e MP, pelo período de 15 minutos e, depois disso, serão proclamados os votos de cada um dos membros do órgão fracionário julgador. Depois de proferido os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento. É possível que quando da proclamação do resultado, o presidente tenha alguma dúvida a respeito de qual foi a efetiva conclusão daquele julgamento. Se isso ocorrer, o presidente pode, antes de proclamar oficialmente o resultado, sanar a sua dúvida, consultando o relator, os outros julgadores ou o próprio advogado presente na sessão do julgamento. 15. MODIFICAÇÃO DE VOTO O voto poderá ser modificado até o momento da proclamação do resultado pelo presidente. É possível que o voto seja alterado até mesmo de ofício, se essa alteração estiver voltada à correção de erro material. Essa modificação de voto pode decorrer de julgamento de embargos de declaração. Uma vez proclamado o resultado pelo presidente, nenhuma modificação poderá ser realizada no voto, salvo se for feita correção de erro material – e pode ser feito de ofício – ou pode decorrer de julgamento de embargos e declaração, que serão opostos depois da lavratura do acórdão. TEORIA E PARTE GERAL DOS RECURSOS 1. CONCEITO DE RECURSO Recurso é um meio de impugnação de decisão jurisdicional. E é um meio de impugnação que é usado nos mesmos autos do processo em que foi proferida a decisão jurisdicional. O recurso é um meio que impede o trânsito em julgado da decisão jurisdicional proferida no processo. Significa dizer que uma vez interposto o recurso, o processo não Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 26 se encerra. Haverá um prolongamento da litispendência. Muitas vezes, inclusive, esse prolongamento da litispendência acontecerá em outra instância, pois no mais das vezes o recurso é de competência de um órgão jurisdicional hierarquicamente superior. Ou seja, não há a instauração de um processo novo, mas sim um prolongamento da litispendência. Nos dizeres de Fredie Didier (2021, p.123), o recurso é todo meio empregado por quem pretenda defender o seu direito. Numa acepção mais técnica e restrita, recurso é o meio ou instrumento destinado a provocar o reexame da decisão judicial, no mesmo processo em que proferida, com a finalidade de obter-lhe a invalidação, a reforma, o esclarecimento ou a integração. 2. MEIOS DE IMPUNGAÇÃO DE DECISÕES JUDICIAIS O recurso integra o sistema de impugnação de decisões judiciais. Só que esse sistema não é composto apenas pelo recurso. Na verdade, ao lado do recurso, integram também esse sistema as ações autônomas de impugnação e os sucedâneos recursais. A ação autônoma é um meio de impugnação de decisão judicial que forma um processo próprio, que tem como finalidade o questionamento, a impugnação de uma decisão judicial. Exemplo: ação rescisória, mandado de segurança, reclamação constitucional. Além das ações autônomas, há, ainda, o sucedâneo recursal. O conceito é dado por exclusão. Sucedâneo recursal é tudo aquilo que não é recurso ou ação autônoma de impugnação. Então o sucedâneo também é um meio de impugnação de decisão judicial, que não pode ser tido como recurso nem como ação autônoma de impugnação de decisão judicial. Exemplo: pedido de reconsideração, o pedido de suspensão de eficácia de uma decisão jurisdicional. 3. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Discute-se em doutrina se seria possível falar na existência de um princípio do duplo grau de jurisdição. Parte da doutrina entende que esse princípio não existe, porque nem a Constituição, nem o CPC fazem menção à existência desse princípio. Mas há quem entenda que existe, mas que esse princípio é extraído implicitamente da CF/88. Essa parte da doutrina entende que o princípio do duplo grau de jurisdição é extraído dos dispositivos da CF que tratam da estruturação do poder judiciário. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 27 Entende essa doutrina que essa organização hierarquizada do poder judiciário tem como finalidade viabilizar que decisões jurisdicionais proferidas por instâncias inferiores sejam revisadas através de julgamento de recursos, por instâncias hierarquicamente superiores. Nas palavras de Fredie Didier (2021, p.127), considerando que o princípio não precisa estar expressamente previsto para que esteja embutido no sistema normativo, pode-se concluir que a Constituição Federal, ao disciplinar o Poder Judiciário com uma organização hierarquizada, prevendo a existência de vários tribunais, tem nela inserido o princípio do duplo grau de jurisdição. Sendo assim, é possível haver exceções ao princípio, descerrando-se o caminho para que a legislação infraconstitucional restrinja ou até elimine recursos em casos específicos. Além do mais, sendo o duplo grau um princípio, é certo que pode haver princípios opostos, que se ponham como contraponto. Em outras palavras, sendo o duplo grau um princípio, pode ser contraposto por outro princípio, de molde a que haja limites de aplicação recíprocos. Existe o duplo grau de jurisdição vertical e horizontal. No âmbito do duplo grau de jurisdição vertical, tem-se que será garantida que a revisão de decisões jurisdicionais proferida por juízos inferiores por um órgão jurisdicional hierarquicamente superior, que julgará eventual recurso interposto dessas decisões inferiores. É o que acontece, por exemplo, em relação a uma sentença. Nesse sentido, a decisão proferida pelo órgão de grau inferior é revista pela decisão proferida pelo órgão de grau hierárquico superior. A segunda decisão não é necessariamente melhor que a primeira; é apenas superior, ou seja,é apenas proferida por um órgão hierarquicamente superior. No âmbito do duplo grau horizontal, assegura que as decisões proferidas sejam revistas, através de julgamento de recursos, no mesmo grau de jurisdição. É o que ocorre, por exemplo, nos Juizados Especiais, nos quais o recurso é examinado por uma turma composta por juízes de primeira instância. Não podemos compreender o duplo grau de jurisdição como absoluto. Não necessariamente será possível submeter uma decisão jurisdicional à revisão, seja na mesma instância, seja em instância superior. Exemplo: decisão proferida colegiada no STF, numa ação de competência originária do STF. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 28 4. CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS Os recursos se submetem a duas classificações, pelo menos: a primeira é aquela que divide os recursos em recurso total e recurso parcial e a segunda é a fundamentação livre e a fundamentação vinculada. 4.1. Quanto à extensão da matéria: recurso parcial e recurso total “Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte.”. O recurso total é aquele que impugna todo o conteúdo impugnável da decisão recorrível. O recurso parcial, por outro lado, é aquele que questiona parte do conteúdo impugnável da decisão recorrível. Se se interpõe um recurso total, não haverá em relação à decisão recorrida, trânsito em julgado. Quando se interpõe um recurso parcial, o conteúdo impugnado não transita em julgado. Mas aquela parte da decisão que não foi objeto do recurso, transita em julgado. Isso significa que a parte da decisão que transitou em julgado já pode ser submetida à execução. Exemplo: alguém ajuizou ação pedindo dano moral e material. O juiz profere sentença acolhendo os dois pedidos. O réu faz o recurso total. Nenhum capítulo dessa decisão transita em julgado, havendo um prolongamento da litispendência. Mas digamos que nessa mesma situação, o réu tenha se conformado em relação ao dano material, mas recorre do dano moral. Trata-se de um recurso parcial. Assim, parte dessa decisão não transita em julgado e a parte referente ao dano material transita em julgado, podendo produzir efeitos de imediato. OBS: Havendo trânsito em julgado de parte da decisão que não foi objeto de recurso, se inicia o prazo prescricional para o exercício da pretensão executiva. OBS: Se o recorrente não especificar a parte em que impugna a decisão, o recurso deve ser interpretado como total. 4.2. Quanto à fundamentação: fundamentação livre e fundamentação vinculada Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 29 A segunda classificação é aquela que divide os recursos em recurso de fundamentação livre e recurso de fundamentação vinculada. O recurso de fundamentação livre é aquele em que pode ser tecida qualquer tipo de crítica à decisão recorrida. Qualquer tipo de erro de procedimento, de julgamento etc. A regra é que o recurso seja de fundamentação livre. Na apelação é assim, no agravo de instrumento é assim, no recurso ordinário é assim, no agravo interno é assim, no recurso inominado é assim. Mas existem recursos de fundamentação vinculada, que são aqueles em que só podem ser tecidas críticas específicas. Isso ocorre, por exemplo, nos embargos de declaração. Não dá para opor embargos de qualquer decisão. Os embargos só podem ser apresentados se houver omissão, contradição, obscuridade ou erro material na decisão recorrida. Outro exemplo é o Recurso Especial, que só se pode questionar violação de lei federal. 5. ATOS SUJEITOS A RECURSO E RECURSOS EM ESPÉCIES A princípio, os pronunciamentos judiciais com conteúdo decisório que se submetem a recurso. Significa dizer que atos jurisdicionais sem conteúdo decisório não se sujeitam a recurso. Em algumas situações, mesmo os atos judiciais sem conteúdo decisório, também são recorríveis. Os pronunciamentos judiciais sem conteúdo decisório são os despachos. A princípio, os despachos são irrecorríveis. Se do despacho decorrer prejuízo, admite-se a interposição de recurso desse despacho. Exemplo: alguém ajuizou ação pedindo tutela provisória em caráter liminar, pedindo o fornecimento de medicamento. Aí o juiz profere despacho “cite-se o réu”. Não há conteúdo decisório. Mas esse despacho gera prejuízo para a parte, pois ela pediu tutela provisória em caráter liminar. Ela pediu que antes da oitiva do réu fosse apreciada a tutela provisória. Além dos pronunciamentos judiciais sem conteúdo decisório, existem os pronunciamentos judiciais com conteúdo decisório. Esses são atos sujeitos a recurso. E quais são eles? Sentença, decisão interlocutória, decisão monocrática ou unipessoal de membro de tribunal ou turma recursal e acórdão. A sentença é uma espécie de decisão jurisdicional que encerra uma fase do processo em primeira instância. A sentença é, em regra, recorrível por apelação. Em regra, porque as vezes a sentença será recorrível por outros recursos. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 30 A decisão interlocutória, por outro lado, é uma espécie de decisão jurisdicional que não encerra uma fase do processo em primeira instância. Em regra, a decisão interlocutória é recorrível por agravo de instrumento. Em regra, porque existem decisões interlocutórias que serão recorríveis por apelação. A decisão monocrática ou unipessoal, é espécie de decisão proferida por um membro específico do tribunal ou da turma recursal. A decisão monocrática, também chamada de unipessoal, em regra, é recorrível por agravo interno. Somente excepcionalmente que essas decisões monocráticas serão irrecorríveis. É rara, mas há situações pontuais que ocorre a irrecorribilidade dessas decisões. Por fim, o acórdão é uma espécie de decisão jurisdicional colegiada. O acórdão é recorrível por recurso especial, recurso extraordinário e/ou recurso ordinário constitucional. Dessa forma, da sentença cabe apelação, havendo raros casos em que da sentença cabe agravo ou outro tipo de recurso. A decisão interlocutória pode ser passível de agravo de instrumento ou de apelação. Das decisões unipessoais de relator cabe agravo interno (art. 1.021, CPC). E dos acórdãos é possível, a depender da hipótese, ser interposto recurso ordinário, recurso especial ou recurso extraordinário. De todas as decisões cabem, desde que presentes seus requisitos, embargos de declaração. 6. DESISTÊNCIA DO RECURSO Nada mais é do que ato de revogação de recurso. Desistir é o mesmo que revogar um recurso. Nada impede que a parte desista do recurso, que poderá ocorrer até antes do início do julgamento do recurso. Essa desistência poderá ser realizada por meio de uma petição escrita ou poderá ser realizada oralmente, no bojo da própria sustentação oral, mas sempre antes do início do julgamento do recurso. A desistência pressupõe recurso já interposto. Só se pode desistir de um recurso que já foi interposto. A desistência do recurso não depende de consentimento ou anuência do recorrido e, também, não depende de homologação pelo órgão jurisdicional. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 31 Uma vez oferecida a desistência do recurso (não se pede para desistir, ela é oferecida), ela produzirá efeitos imediatos. A desistência gera extinção do procedimento recursal sem exame de mérito. A desistência é, em realidade, uma conduta determinante. Conduta determinante é aquela que uma vez praticada coloca alguém numa situação desfavorável. Quando alguém interpõe um recurso, a pessoa quer melhorar sua situação jurídica. A desistência só pode atingir aquele que desistiu. Então se houver litisconsórcio, somente o litisconsorte que desistiu do recurso será atingido pelo ato de desistência, exatamente porque se trata de conduta determinante. Agora se o litisconsortefor unitário, a desistência do recurso só produz efeitos se todos os litisconsortes unitários aderirem à desistência, isto é, se apenas um desiste, essa desistência não produz efeito algum, nem para aquele que desistiu, muito menos para os demais. A desistência é encaminhada por meio de uma petição escrita feita pelo advogado da parte ou na sustentação oral. Então para que o advogado fale em nome da parte, oferecendo desistência, ele precisa ter poderes especiais para a prática desse ato. Em algumas situações, a desistência pode gerar uma espécie de renúncia ao direito. Exemplo: foi ajuizada ação em que se pediu 50 mil de dano moral. O órgão jurisdicional deu 25 mil. O autor recorreu. Se depois houver desistência, o que vai acontecer é uma renúncia aos 25 mil complementares. É claro que o simples fato de se interpor recurso, não se garante os 25 mil a mais. Interpõe-se o recurso tentando melhorar a situação jurídica, o que não necessariamente será acolhido. Mas renuncia-se à possibilidade de ter uma quantia maior. Como em algumas situações pode haver uma espécie de ato de disposição de direito, há quem diga que o advogado deve ter poder especial para desistir e, também, para transigir. Feita a desistência de um recurso já interposto, a consequência é a extinção do processo sem resolução do mérito e aquele que desistiu não poderá interpor recurso, ainda que haja prazo recursal. A desistência do recurso é um ato incompatível com a interposição do recurso. Se o recurso for interposto, ele será inadmissível. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 32 OBS: A desistência da ação depende de anuência do réu, se ele já estiver sido citado. A desistência do recurso independe de anuência do recurso, ainda que ele tenha apresentado contrarrazões. A desistência da ação, para produzir efeitos, precisa de homologação. Na desistência do recurso haverá produção de efeitos de imediato. Por fim, a desistência da ação gera uma sentença ou uma decisão definitiva que não examine o mérito da demanda. A desistência do recurso gera uma extinção sem exame de mérito do procedimento recursal. Mas é possível que a decisão que prevaleça nesse caso, que é a decisão recorrida, tenha examinado o mérito da demanda originária. Exemplo: pedi dano moral. Sentença condenou o réu a pagar dano moral. Recorri porque queria mais. Depois desisti. O recurso não será apreciado no mérito, de modo que a decisão que vai prevalecer é a decisão recorrida. 7. RENÚNCIA AO DIREITO DE RECORRER E AQUIESCÊNCIA À DECISÃO A renúncia ao direito de recorrer se configura quando se renuncia à interposição do recurso. Enquanto a desistência pressupõe recurso já interposto, a renúncia pressupõe a não interposição do recurso. Tradicionalmente, dizia-se que só poderia haver renúncia quando o direito de recorrer já pudesse ser exercido ou quando o direito de recorrer já existisse. Com o passar do tempo, principalmente quando se começou a falar de negócio jurídico processual típico e atípico, principalmente com a entrada em vigor do CPC/15, passou a se admitir uma espécie de renúncia condicionada, isto é, renúncia de um direito futuro de recurso. Então atualmente é possível renunciar a um direito de recorrer já existente, mas nada impede que se renuncie a um direito futuro de recurso. Havendo renúncia, não será possível interpor recurso. E se o recurso for interposto, diante de um ato de renúncia, esse recurso é inadmissível, pois se trata de um recurso incompatível com a postura anterior adotada pela parte. OBS: Não confundir renúncia ao direito de recorrer com a aquiescência à decisão. Esta é ato através do qual a parte demonstra que se conforma com a decisão proferida, que inclusive observará os comandos impostos pela decisão recorrida. Haverá aquiescência, por exemplo, quando a parte protocola uma petição dizendo que está ciente da decisão e pede prazo para cumprir a decisão, ou haverá aquiescência quando a parte Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 33 peticiona após a decisão e diz que já está ali depositando em juízo a obrigação por ela devida. Então a aquiescência é uma postura através da qual a parte demonstra que está conformada e que vai se alinhar àquilo que foi imposto pela decisão. A aquiescência pode ser demonstrada de forma expressa e literal, mas pode ser uma decisão em que a parte demonstre que, de algum modo, vai cumprir a decisão. OBS: A aquiescência também é um ato incompatível com recurso. Havendo aquiescência à decisão, recurso nenhum poderá ser interposto com a decisão com a qual se conforma. Se houver a interposição do recurso, esse recurso é inadmissível, pois ele viola a boa-fé objetiva. AULA 03 DE MARÇO 8. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DE JUÍZO DE MÉRITO DO RECURSO 8.1. Distinção Na verdade, toda demanda se submete a um duplo juízo, inclusive a demanda recursal. O primeiro juízo é um juízo de admissibilidade. O segundo, é o juízo de mérito. No juízo de admissibilidade da demanda recursal, verifica-se se o recurso preenche todos os requisitos de admissibilidade recursal. Se todos os requisitos estiverem presentes, realiza-se um juízo positivo de admissibilidade. Nesse caso, fala-se em admissão do recurso, conhecimento do recurso ou seguimento do recurso. O juízo de admissibilidade opera sobre o plano de validade dos atos jurídicos. Dessa forma, a ele deve ser aplicado todo o sistema das invalidades processuais, construído exatamente para que invalidades não sejam decretadas. Passado o juízo de admissibilidade, sendo ele positivo, chega-se ao juízo de mérito. No juízo de mérito, faz-se uma análise acerca do objeto litigioso da demanda recursal. No juízo de mérito fala-se em acolhimento ou provimento do recurso e, também, rejeição ou improvimento do recurso. Dir. Processual Civil III – Leonardo David – Prof. Priscilla de Jesus – 2021.1 34 Pode ser que o juízo de mérito não seja realizado. É possível que falte algum requisito de admissibilidade recursal. Se isso ocorrer, o juízo de admissibilidade será negativo. Sendo negativo, não será possível o juízo de mérito. O juízo de admissibilidade pode ser, ainda, provisório ou definitivo. Quando o recurso for interposto perante o órgão a quo (órgão que proferiu a decisão recorrida), esse poderá, a depender da previsão normativa, exercer o juízo provisório de admissibilidade. Cabe ao órgão ad quem (órgão a quem o recurso se destina) exercer o juízo definitivo de admissibilidade. 8.2. Juízo de admissibilidade: introdução É o juízo primeiro que se realiza em relação ao recurso. É o juízo preliminar, porque ele ocorre ante que se possa falar na realização de juízo de mérito. E quem faz esse juízo de admissibilidade? Em regra, os recursos são interpostos perante o órgão jurisdicional que proferiu a decisão recorrida. Excepcionalmente, como ocorre com o agravo de instrumento, o recurso é interposto perante o órgão jurisdicional que tem competência para processar e julgar o recurso. Embora os recursos sejam interpostos, em regra, perante o órgão jurisdicional que proferiu a decisão recorrida, não é esse órgão que fará o juízo de admissibilidade, em regra. Tem competência para dar processamento ao recurso e encaminhar ao órgão competente. O juízo de admissibilidade do recurso é de competência do mesmo órgão jurisdicional que tem competência para julgar o próprio recurso. Excepcionalmente, o órgão que recebe o recurso também terá competência para realizar o juízo de admissibilidade. Exemplo: embargos de declaração, embargos infringentes de alçada, recurso especial e extraordinário. Estes últimos são os únicos recursos que submetem a um duplo juízo de admissibilidade recursal. 8.3. Objeto do juízo de admissibilidade O objeto do juízo de admissibilidade é a análise do preenchimento ou
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