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CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ANAMNESE E EXAME FÍSICO DA MAMA fontes: Berek (cap.21) e Tratado de ginecologia - FEBRASGO (seção mastologia) Polimastia: regressão anormal das cristas mamárias, o que gera mais de 2 mamas presentes. ANATOMIA DA MAMA: As glândulas mamárias permanecem subdesenvolvidas até a puberdade, fase esta em que as mamas começam a aumentar sob a influência dos estrógenos e progesterona produzidos pelo ovário, levando à proliferação do epitélio e tecido conectivo. Na puberdade, as mamas aumentam devido ao desenvolvimento das glândulas mamárias e da deposição de tecido adiposo. A mama feminina repousa na parede torácica anterior, com sua base se estendendo da segunda a sexta costela. Os limites anatômicos da mama são: 1) superior: segunda ou terceira costela; 2) inferior: sulco ou prega inframamária; 3) medial: borda lateral do esterno; 4) lateral: linha axilar média. Cerca de dois terços da mama repousam sobre o músculo peitoral maior, e o restante está em contato com o músculo serrátil anterior e a porção superior do músculo oblíquo abdominal. O tecido mamário encontra-se ligado à pele pelos ligamentos suspensórios de Cooper, que são faixas fibrosas de tecido conectivo que correm através do parênquima mamário e se inserem perpendicularmente na derme. A contração dos ligamentos suspensórios pode levar a retrações da pele, clinicamente associadas a tumores malignos. O componente epitelial corresponde a cerca de 10% a 15% do volume mamário total, e o volume remanescente é constituído por elementos estromais. A mama é composta por 15 a 20 lobos. Os lobos mamários são divididos adicionalmente em lóbulos, que variam de 20 a 40. Os lóbulos são constituídos de ramificações formadas por glândulas túbulo-alveolares. Cada lobo drena para um ducto lactífero maior. Os ductos lactíferos se dilatam sob a aréola, formando os seios lactíferos, e se abrem através de um estreito orifício para o mamilo. O espaço entre os lobos é preenchido por tecido adiposo. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 A mama é dividida em 4 quadrantes: superior medial, superior lateral, inferior medial e inferior lateral. A maioria do volume mamário está presente nos quadrantes laterais, onde também é a localização mais comum dos tumores mamários. *Importante lembrar que o que diferencia os tamanhos das mamas é o componente adiposo! A papila está localizada sobre o quarto espaço intercostal de mama não pendular e está rodeada pela aréola pigmentada. Durante a puberdade, a pigmentação torna-se mais escura e a papila se eleva da superfície. Durante a gravidez, a aréola se alarga e a pigmentação torna-se mais acentuada. A aréola contem glândulas sebáceas e sudoríparas, porém nenhum folículo piloso. Os tubérculos de Morgagni são elevações nodulares formadas pelas aberturas das glândulas de Montgomery na periferia da aréola. Essas glândulas podem secretar leite e representam um estágio intermediário entre as glândulas sudoríparas e mamárias. Feixes de fibras musculares lisas se estendem pela papila, sendo eles responsáveis pela ereção papilar que ocorre com variados estímulos sensoriais. Mais de 75% da drenagem linfática da mama é feita por meio de linfonodos axilares. Há geralmente 20 a 30 linfonodos na região da axila. A via linfática é a principal na disseminação de metástase do câncer de mama. Os seis grandes grupos de linfonodos axilares reconhecidos são: 1) grupo da veia axilar (nível 1); 2) grupo mamário externo (nível 1); 3) grupo escapular (nível 1); 4) grupo central (nível 2); 5) grupo supraclavicular (nível 3); 6) grupo interpeitoral - linfonodos de Rotter (nível 2); CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ANAMNESE DA MAMA: A avaliação dos problemas da mama deve se concentrar nos seguintes pontos: • Descarga papilar e suas características (espontânea ou não, aspecto, uni ou bilateral, acometimento de um ou vários ductos); • Achado de tumor na mama (tamanho e mudança de tamanho, densidade ou textura); • Dor na mama (cíclica ou contínua); • Relação dos sintomas com o ciclo menstrual; • Alteração de formato, tamanho ou textura da mama; • Biópsias anteriores da mama; • História de traumatismo da mama; A paciente deve ser questionada sobre os fatores de risco para o câncer de mama: • Sexo; • Idade avançada (cerca de 50% dos cânceres de mama ocorrem depois dos 65 anos de idade); • Menarca antes dos 12 anos; • Nuliparidade ou primeira gravidez depois dos 30 anos; • Menopausa tardia (depois dos 55 anos); • História familiar e pessoal de câncer de mama (em especial, antes da menopausa ou doença bilateral); • Número de parentes em primeiro grau com câncer de mama e idade por ocasião do diagnóstico; • História familiar de câncer de mama masculino; • Distúrbios hereditários associados a alto risco de câncer de mama, dentre eles, genes BRCA1 e BRCA2, síndrome de Li-Fraumeni, doença de Cowden, síndrome de ataxia-telangiectasia e síndrome de Peutz-Jeghers; • Outros cânceres (ovário, cólon e próstata); • Exame histopatológico de biopsia de mama prévia mostrando atipia ou carcinoma lobular ou ductal in situ; • Hormonoterapia; • Consumo de álcool; • Ganho de peso após a menopausa; É importante obter uma relação completa dos medicamentos prescritos, inclusive hormonoterapia e fitoterápicos, como os fitoestrogênios. A história gestacional deve levar em conta a possibilidade de gravidez atual ou uma história de aborto espontâneo ou induzido. A história pessoal de exposição à radiação, sobretudo para o tratamento de câncer na infância. O objetivo da avaliação da mama é identificar com clareza se o sintoma representa uma afecção benigna da mama ou indica um processo neoplásico. Deve-se avaliar paciente de acordo com o modelo de Gail (com base na raça da paciente, idade, menarca, idade do primeiro parto com feto vivo, número de parentes em primeiro grau com câncer de mama, número de biópsias de mama anteriores e atipia à biópsia) para avaliação de risco de câncer de mama. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 EXAME FÍSICO DA MAMA: A mama costuma modificar-se um pouco durante o ciclo menstrual. Durante a fase pré-menstrual, a maioria das mulheres apresenta aumento inócuo da nodularidade e leve ingurgitamento das mamas. O melhor momento para realizar o exame físico das mamas é após a menstruação. O exame físico deve ser completo, incluindo inspeção estática e dinâmica, palpação e avaliação de linfonodos axilares e supraclaviculares. ● INSPEÇÃO DINÂMICA E ESTÁTICA: A inspeção é iniciada com a paciente sentada em posição confortável, com os braços relaxados ao lado do corpo. As mamas são comparadas com relação à simetria, contorno e aspecto da pele. A presença de edemas, ondulações da pele ou retração da papila são demonstradas ao solicitar que a paciente levante os braços acima da cabeça e, depois, coloque as mãos sobre os quadris e pressione, contraindo assim os músculos peitorais. Essas manobras são importantes para detecção de distorção dos ligamentos de Cooper, causados por tumores palpáveis e impalpáveis. Manobras de inspeção dinâmica: ● PALPAÇÃO: Um método muito eficaz é a palpação em círculos concêntricos crescentes, até que toda a mama tenha sido palpada. A mama pendular pode ser examinada colocando-se uma das mãos entre a mama e a parede torácica e palpando-se com delicadeza a mama entre as mãos do examinador. As regiões axilar e supraclavicular devem ser palpadas à procura de linfonodos aumentados. Toda a axila, o quadrante superior externo da mama e o prolongamento axilar de Spencer são palpados à procura de possíveis tumores. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 Com a paciente em decúbito dorsal, com um braço sobre a cabeça, a mama ipsilateral é mais uma vez palpada metodicamente desde a clavícula até a margem costal, e desde o esterno até o músculo latíssimo do dorso. Se a mama for grande, é necessário pôr um travesseiro ou uma toalha sob a escápula para elevar o lado examinado; caso contrário, a mama tende a cair para o lado,dificultando a palpação da sua porção lateral. As principais características a identificar durante a palpação da mama são: temperatura, textura e espessura da pele, dor à palpação generalizada ou local, nodularidade, densidade, assimetria, tumores dominantes e descarga papilar. A maioria das pacientes na pré-menopausa costuma ter um parênquima mamário nodular. A nodularidade é difusa, mas predomina nos quadrantes superiores externos, em que é maior a quantidade de tecido mamário. Esses nódulos parenquimatosos benignos são pequenos, de tamanhos semelhantes e indistintos. Por sua vez, o câncer de mama geralmente é um tumor firme, indolor, com margens irregulares. Um tumor maligno mostra-se bem diferente da nodularidade adjacente à palpação; sendo maligno, pode estar fixado à pele ou à fáscia subjacente. Em geral, um tumor suspeito é unilateral. No autoexame a mulher deve inspecionar as mamas na posição de pé ou sentada de frente para o espelho, observando se há alguma assimetria, abaulamentos na pele ou retração da papila. Deve-se fazer as manobras da inspeção dinâmica. Por fim, a mulher deve examinar as mamas enquanto inclina o corpo para frente. De pé ou sentada, deve palpar meticulosamente as mamas com os dedos da mão oposta; então, deve se deitar e palpar mais uma vez cada quadrante da mama e também a axila com as pontas dos dedos. Realizar o exame das mamas na mesma época, todos os meses, ajuda a criar uma rotina. As mulheres na pré-menopausa devem examinar as mamas todos os meses, 7 a 10 dias após o início do ciclo menstrual. Após a menopausa, a escolha de uma data específica ajuda a lembrar do autoexame mensal. As mulheres devem ser instruídas a relatar quaisquer anormalidades ou alterações ao médico. Deve-se palpar as regiões axilar e supraclavicular. Caso tenha algum linfonodo aumentado, avaliar a localização, número, diâmetro, consistência, fixação a estrutura vizinhas, nível doloroso. Para avaliação de possíveis descargas papilares a paciente deve estar deitada com as mãos atrás da cabeça e os braços bem abertos. Faz-se delicada pressão no nível da aréola e da papila. Qualquer tipo de secreção que estiver presente deve ser submetida a exame citopatológico. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● Mamografia: Os cânceres de mama de crescimento lento são identificados por mamografia ao menos 2 anos antes que o tumor alcance um tamanho detectável pela palpação. O comportamento biológico desses tumores é menos agressivo que o do câncer de mama de intervalo. A mamografia é o único método reprodutível de detecção do câncer de mama impalpável, mas seu uso depende da disponibilidade de equipamento de alta tecnologia e de um radiologista especialista em mama. A compressão da mama é necessária para obter boas imagens, e as pacientes devem ser previamente advertidas de que essa compressão é desconfortável. As indicações são: 1. Rastreamento periódico de mulheres com alto risco de câncer de mama. Em torno de 1/3 das anormalidades detectadas à mamografia de rastreamento é maligna quando se faz biópsia. 2. Avaliação de um tumor questionável ou mal definido ou de outra alteração suspeita na mama detectada ao exame clínico. 3. Estabelecimento de uma mamografia de referência e reavaliação anual das pacientes para diagnóstico de um câncer de mama que possa ser curado antes de ser diagnosticado pelo exame físico. 4. Pesquisa de câncer de mama oculto em paciente com doença metastática nos linfonodos axilares ou em outro local cuja origem primária seja desconhecida. 5. Investigação de câncer não suspeitado antes de cirurgias estéticas ou biópsia de um tumor. 6. Monitoramento de pacientes com câncer de mama tratadas com cirurgia conservadora da mama e radioterapia. Como inicialmente o câncer de mama é uma doença local, a mamografia de rastreamento em mulheres assintomáticas detecta tumores pequenos e oferece um melhor prognóstico. Esses tumores tiveram menos oportunidades de produzir metástases regionais ou sistêmicas; desse modo, as mulheres dispõem de mais opções de tratamento com agressividade reduzida. → Para as mulheres com idade de 20 a 39 anos, é sugerido um exame clínico da mama pelo menos a cada 3 anos, como parte do exame de uma mulher saudável. → Para as mulheres com mais de 40 anos, a recomendação é de exame clínico da mama e mamografia anuais. → Nas mulheres idosas, as recomendações de rastreamento mamográfico podem ser individualizadas de acordo com a existência de comorbidades. → Nas mulheres de alto risco, pode-se considerar o início antecipado do rastreamento (5 a 10 anos mais cedo que a idade do aparecimento do câncer na família) e intervalos menores entre os exames. Uma anormalidade mamográfica inclui um tumor (sólido ou cístico), microcalcificações (benignas, indeterminadas, suspeitas), densidade assimétrica, distorção da arquitetura e aparecimento de uma nova área de densidade antes não observada. Devem ser observadas as seguintes características: distribuição da calcificação, número de calcificações, descrição das calcificações, margem do tumor, formato do tumor, densidade do tumor e achados associados. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 Categorias de avaliação: - BI-RADS 0: incompleto precisam de avaliação de imagem adicional (visualizações mamográficas ou ultrassom adicionais) e/ou para mamografia, obtenção de imagens anteriores não disponíveis no momento da leitura; - BI-RADS 1: negativo simétrico e sem massas, distorção arquitetônica ou calcificações suspeitas; - BI-RADS 2: benigno 0% de probabilidade de malignidade; - BI-RADS 3: provavelmente benigno <2% de probabilidade de malignidade acompanhamento de curto intervalo sugerido; - BI-RADS 4: suspeito de malignidade 2-94% de probabilidade de malignidade para mamografia e ultrassom, eles podem ser divididos: BI-RADS 4A: baixa suspeita de malignidade (2-9%) BI-RADS 4B: suspeita moderada de malignidade (10-49%) BI-RADS 4C (à direita): alta suspeita de malignidade (50-94%) biópsia deve ser considerada. - BI-RADS 5: altamente sugestivo de malignidade; > 95% de probabilidade de malignidade ação apropriada deve ser tomada. (à esquerda) *Para as categorias 4 e 5 estão indicadas biópsias, se não houver contra indicação clínica! - BI-RADS 6: malignidade comprovada por biópsia conhecida; CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● Exames complementares: A ultrassonografia ajuda a distinguir lesões benignas e malignas identificadas por mamografia. Pode ser particularmente útil quando a paciente percebe um tumor, mas o médico não consegue detectar uma anormalidade, que também não é mostrada pela mamografia. Embora seja capaz de identificar cânceres no tecido mamário denso de mulheres na pré-menopausa, em geral, é usada para distinguir um cisto de um tumor sólido. Útil para detecção de anormalidades em mulheres mais jovens que possuem mamas mais densas e, por isso, a mamografia pode não demonstrar alterações presentes. A ressonância magnética (RM) ajuda a avaliar lesões da mama de natureza indeterminada, detectadas por exame clínico e mamográfico ou em pacientes com implantes. A RM é o exame de diagnóstico por imagem da mama que tem a maior sensibilidade, isto é, ela identifica cânceres que os outros métodos não identificam, mas tem baixa especificidade. Entretanto, possui algumas limitações como: alto custo, baixa disponibilidade, falta de treinamento necessário para a realização do exame. Tanto a RM quanto a PET-TC são usadas para identificar lesões ocultas. A RM pode ser útil na avaliação de situações específicas e possui indicações para: • Estadiamento de tumor para descartar doença multicêntrica; • Diferenciação entre fibrose pós-operatória e recorrência após cirurgia conservadora da mama; • Detecção de lesão observada em apenas uma incidência da mamografia; • Avaliação de linfonodos axilares positivos em casos de resultados negativos da mamografia e do exame clínico da mama; • Excluir ruptura do implante de silicone; • Avaliação de assimetria focal; • Detecção de outroscânceres ipsilaterais e contralaterais; • Avaliação do resultado da quimioterapia neoadjuvante; CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● Alterações da mama: O termo “doenças benignas da mama” engloba um grupo heterogêneo de lesões que pode representar uma ampla variedade de sinais e sintomas, e em faixas etárias variadas. A incidência das lesões benignas mamárias começa a aumentar durante a segunda década de vida, com picos na quarta e quinta década. Diferentemente, as lesões malignas continuam a aumentar após a menopausa. A maioria das doenças benignas da mama originam-se de alterações normais no desenvolvimento mamário, ciclos hormonais e evolução reprodutiva. Três ciclos vitais refletem diferentes fases reprodutivas na vida de uma mulher: 1. No início do período reprodutivo (15 a 25 anos), há formação dos lóbulos e do estroma (alterações fibrocísticas). 2. Durante o período reprodutivo maduro (25 a 40 anos), alterações hormonais cíclicas afetam o tecido glandular e o estroma (mastalgia e nódulos). 3. A terceira fase é a involução de lóbulos e ductos ou a renovação dos epitélios, que ocorre entre 35 e 55 anos (descarga papilar, alteração de papila, hiperplasia leve). A alteração fibrocística, a lesão mais comum da mama, é um termo impreciso que abrange uma variedade de sinais e sintomas clínicos e alterações histológicas. O termo indica um quadro histológico de fibrose, formação de cisto e hiperplasia epitelial. Os cistos originam-se dos lóbulos mamários e são uma deformidade da involução normal da mama. Essas lesões estão associadas a alterações benignas no epitélio da mama. As alterações fibrocísticas podem levar ao surgimento de um tumor assintomático uniforme, móvel e potencialmente compressível. Na maioria das vezes, a alteração fibrocística é acompanhada de dor espontânea ou dor à palpação e, algumas vezes, de descarga papilar. Em muitos casos, o desconforto coincide com a fase pré-menstrual do ciclo, quando os cistos tendem a aumentar. As oscilações de tamanho e o rápido surgimento ou desaparecimento de um tumor na mama são comuns. Tumores múltiplos ou bilaterais são frequentes, e muitas pacientes têm história de tumor transitório na mama ou de dor mamária cíclica, sendo este o sintoma mais comum associado a alterações fibrocísticas. Os achados característicos à ultrassonografia que confirmam um cisto simples são: tumor com paredes finas, formato redondo regular, ausência de ecos internos e realce acústico posterior. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 O nódulo de mama é uma das queixas mais comuns nos consultórios de mastologia, respondendo por cerca de 60% das consultas. Na maioria das vezes, trata-se de patologia benigna, sobretudo até a terceira década de vida, mas, após a menopausa, é importante que se diferenciem precocemente nódulos com aspectos suspeitos. Após a identificação do nódulo, as principais características que devem ser descritas são: consistência, limites, regularidade, tamanho e localização. Em casos de seguimento, essas características devem ser comparadas retrospectivamente. A dor mamária ou mastalgia é uma das queixas mais comuns nos consultórios de mastologia, acometendo 60% a 70% das mulheres, principalmente em sua idade reprodutiva. As citocinas inflamatórias foram apontadas como causadoras da dor mamária. A elevação do estrogênio, a diminuição da progesterona ou um desequilíbrio na razão entre estrogênio e progesterona foram sugeridos como possível causa dos sintomas. Pode ser dividida em cíclica, quando relacionada com o ciclo menstrual, ou acíclica, sem interferência com o ciclo. A primeira não tem fisiopatologia totalmente conhecida, porém o entendimento é que pode estar relacionada com um desequilíbrio na relação estrogênio/progesterona no final da segunda fase do ciclo menstrual. Esse desequilíbrio atua em nível central (sistema dopaminérgico), podendo acarretar secreção aumentada de prolactina, o que aumenta a sensibilidade do tecido mamário. Já a mastalgia acíclica pode estar relacionada a diversas causas: hipertrofia mamária, macrocistos, nódulos de grande dimensão, cirurgia mamária prévia, ectasia ductal, mastites, trauma, medicamentos, gestação, neoplasias, entre outros. A dor extramamária é percebida na região mamária, mas não está relacionada com a mama. Dor muscular na parede torácica, sintomas relativos às cartilagens costais, herpes-zóster, radiculopatias e fraturas costais estão dentre algumas das causas mais comuns de dor extramamária. A costocondrite (síndrome de Tietze) é uma manifestação de dor na parede torácica que, muitas vezes, é interpretada como dor nas mamas. O diagnóstico de mastalgia é clínico e de fácil execução. A história clínica e o exame físico são fundamentais e geralmente suficientes para classificar a dor e orientar o tratamento. A anamnese deve avaliar o início, a duração, a localização, a intensidade, os fatores desencadeantes, atenuantes, agravantes ou associados e, principalmente, sua relação com o ciclo menstrual. Durante o exame físico, atentar para: existência de sinais flogísticos na pele, nódulos ou espessamentos, descarga papilar, retração do mamilo, presença de dor focal e presença de linfonodomegalias. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 A descarga ou derrame papilar, os fluxos papilares representam a exteriorização espontânea de material fluido pela papila mamária fora do ciclo gravídico-puerperal. Quando a saída de material se dá pela expressão mamária, isto é, induzida, é denominada de secreção. A secreção láctea é denominada de galactorreia e a não láctea, de telorreia. Embora seja um achado angustiante, a descarga papilar espontânea poucas vezes está associada a carcinoma. - Intraductais → inerentes à parede interna do ducto: Proliferações epiteliais (papilomas, adenomas, hiperplasias etc.); Infecções intraductais (galactoforites); Neoplasia intraductal com necrose; - Extraductais → patologias que possam romper parcialmente a parede do ducto ganhando a sua luz e exteriorizando-se: Neoplasias malignas; Infecções; Outras patologias; - Galactorreia → secreção de coloração clara (láctea) ocasionada por fatores não mamários, em geral por alterações que causem hiperprolactinemia. Algumas pacientes, entretanto, podem apresentar galactorreia sem aumento de níveis de prolactina detectáveis. A causa mais comum de aumento dos níveis de prolactina é a utilização de fármacos supressores da dopamina. O derrame papilar pode ser classificado ainda em fisiológico, pseudoderrame e patológico. No fisiológico, até 2/3 das mulheres não lactantes podem apresentar pequena quantidade de secreção, principalmente após estimulação excessiva do mamilo. Corresponde à secreção apócrina e normalmente não espontânea, com coloração escura e multiductal. Não está associado a patologias malignas; uma vez diagnosticado, não há terapêutica específica, além de orientações. CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 O pseudoderrame é caracterizado por alterações como mamilos invertidos, infecção da glândula mamária, eczemas e maceração da pele, que podem produzir secreção similar a um derrame papilar. Os derrames patológicos são aqueles associados a lesões proliferativas ou carcinomas. Caracterizam-se por serem uniductais, espontâneos, unilaterais, aquosos ou sanguíneos. Na história clínica, são importantes a idade, sexo, uso de medicações, história familiar, uso de terapia hormonal, presença de patologia mamária pregressa, manipulação excessiva do mamilo ou traumas. Da mesma forma, é fundamental definir as seguintes características da descarga papilar: lateralidade (uni ou bilateral); número de orifícios (único ou múltiplos); aparecimento (espontâneo ou provocado à expressão); aspecto macroscópico (lácteo, purulento, multicolorido, esverdeado, marrom ou amarelado, viscoso, cristalino, seroso, hemorrágico). No exame físico, é importante visualizar a secreção sobre uma gaze branca. A palpação deve ser orientada no sentido de promover a saída da secreção e estabelecer a localizaçãoou segmento mamário que está originando o derrame. Quando há história de descarga papilar unilateral, a localização não é possível e não há tumor palpável, a paciente deve ser reexaminada semanalmente durante 1 mês. Se a descarga unilateral persistir, mesmo sem localização definida ou tumor, deve-se considerar a exploração cirúrgica. Os processos inflamatórios da mama, também denominados de mastites, são, por conceito, infecções que se instalam no tecido mamário. As mastites são classificadas em: → Aguda: a principal representante é a mastite puerperal, com evolução clínica com duração inferior a 30 dias e caracteriza-se pela infecção do parênquima mamário no puerpério; - Puerperal ou lactacional: ocorre no período de amamentação, sendo mais comum da segunda a quinta semana do puerpério. Acometa mais as primigestas e após cesarianas eletivas. A estase láctea e a prática de má higiene CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 com o complexo areolopapilar são fatores predisponentes. Apresenta-se com edema, eritema e aumento da temperatura da mama. Quando houver área de flutuação, suspeitar sempre de abscesso associado com a mastite. Podem ocorrer, ainda, sintomas sistêmicos como febre alta, anorexia, náuseas e vômitos. → Crônicas: são caracterizadas por tempo de evolução maior que 30 dias ou pela recorrência após o tratamento. De evolução lenta, podem ou não ser precedidas por infecção aguda. Podem ter origem infecciosa ou não. - Abscesso subareolar crônico recidivante (ASCR): caracterizado por infecção recorrente e crônica da região subareolar, associado fortemente com tabagismo, diabetes e obesidade. Normalmente são unilaterais, mas podem ser bilaterais. Inicia-se como inflamação de uma área subareolar bem localizada, que evolui para a formação de um pequeno abscesso, que tende a drenar espontaneamente com a formação de uma fístula que cicatriza posteriormente. - Mastite viral: processos infecciosos mamários podem também ser ocasionados por vírus, especificamente por herpes simples ou herpes-zóster. Observam-se lesões na pele da mama com vesículas dolorosas e recorrentes. A duração do processo infeccioso costuma ser autolimitado, com resolução em 7 a 10 dias. Os processos inflamatórios da mama apresentam diversos agentes causadores. Realizar o diagnóstico diferencial entre as diversas mastites pode ser difícil. A utilização de métodos de imagem e de biópsia do tecido mamário comprometido é fundamental para os casos com diagnóstico diferencial complicado, especialmente para excluir o carcinoma mamário. Na maioria das vezes, o manejo clínico adequado é suficiente para o tratamento das mastites. A cirurgia está indicada nos casos de abscessos e/ou falha do tratamento clínico. Os fibroadenomas são os tumores benignos mais comuns da mama. Em uma série, representaram 50% de todas as biopsias de mama. Em geral, ocorrem em mulheres jovens (20 a 35 anos de idade) e podem surgir em adolescentes. Em mulheres com menos de 25 anos, os fibroadenomas são mais comuns que os cistos. São raros após a menopausa, embora algumas vezes sejam encontrados, com frequência calcificados, em mulheres na pós-menopausa. Por essa razão, supõe-se que os fibroadenomas respondem à estimulação estrogênica. A apresentação clínica comum é de uma mulher jovem que tem notado um tumor ao tomar banho ou se vestir. A maioria dos tumores tem 2 a 3 cm de diâmetro quando detectados, podendo alcançar tamanhos muito grandes (fibroadenoma gigante). Ao exame físico, são firmes, regulares e têm consistência elástica. Não provocam reação inflamatória, são livremente móveis e não causam abaulamentos na pele ou retração da papila mamária. Com frequência, são bilobulados e, ao exame, pode ser palpado um sulco. À mamografia e ultrassonografia, as características típicas são de tumor sólido, regular e bem definido, com margens nítidas, comprimento maior que a largura e dimensão craniocaudal menor que o comprimento. O fibroadenoma não está associado ao aumento do risco de câncer de mama. Os tumores fibroepiteliais são raros e apresentam um espectro de comportamento clínico e patológico benigno, limítrofe e maligno. A distribuição dos tumores filoides mostra que a maioria é benigna (70%) em comparação com as lesões malignas (23%) e limítrofes (7%).Os tumores filoides podem ocorrer em qualquer idade, CLÍNICAS IV Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 porém são mais comuns em mulheres com quase 40 anos até os 59 anos de idade. Essas lesões raramente são bilaterais e costumam apresentar-se como tumores isolados, sendo difícil a distinção clínica de um fibroadenoma. Muitas vezes, as pacientes contam uma longa história de um nódulo estável que subitamente aumenta de tamanho. Os tumores filoides malignos tendem a recorrer localmente e, eventualmente, podem metastatizar para o pulmão, embora também possam ocorrer metástases para o encéfalo, a pelve e o osso. Com frequência, o surgimento de metástases é o primeiro sinal de malignidade de um tumor filoide. A adenomatose erosiva da papila é um distúrbio benigno raro da papila que simula a doença de Paget (tipo raro de câncer de mama que envolve mamilo e aréola). As pacientes buscam tratamento em razão do prurido, da queimação e da dor. Ao exame clínico, observa-se ulceração, crosta, descamação, endurecimento e eritema na papila, a qual pode estar aumentada e mais proeminente durante os ciclos menstruais. EXAME FÍSICO DA GENITÁLIA EXTERNA FEMININA fonte: Tratado de ginecologia (FEBRASGO), Berek https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/neoplasia s-ginecol%C3%B3gicas/c%C3%A2ncer-vulvar Distopia: Localização anômala de órgãos. ANATOMIA DA GENITÁLIA EXTERNA: Ao nascimento, os ossos componentes da pelve são: ílio, ísquio, púbis, sacro e cóccix. Ílio, ísquio e púbis se fundem de 16 aos 18 anos de idade para formar um osso único, denominado osso do quadril. Na mulher adulta, o esqueleto da pelve é constituído por dois ossos do quadril (direito e esquerdo), anterior e lateralmente, e pelo sacro e cóccix, posteriormente. Tipos de pelve: → Ginecoide: a abertura superior é oval e o diâmetro transverso é maior que o anteroposterior. Corresponde a 40% das pelves femininas; → Androide: com frequência de 30% entre as mulheres, apresenta achatamento transverso da pelve, com diâmetro anteroposterior igual ou ligeiramente maior que o transverso; → Antropoide: há nítida predominância do diâmetro anteroposterior sobre o transverso. Frequência de aproximadamente 20%; → Platipeloide: tem frequência de 10% e caracteriza-se pela predominância https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/neoplasias-ginecol%C3%B3gicas/c%C3%A2ncer-vulvar https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/neoplasias-ginecol%C3%B3gicas/c%C3%A2ncer-vulvar
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