Buscar

educacao_ambiental_e_cidadania_09

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

A hipótese Gaia
A hipótese Gaia surgiu no final da década de 1960, e até hoje é bastante criti-cada por vários pesquisadores. Ao afirmar que a Terra é um superorganis-mo capaz de autorregulagem, a hipótese vai contra todas as afirmações de 
que a Terra é simplesmente uma “bola” de rocha com vida sobre ela. As grandes 
dimensões do planeta e longas escalas de tempo dificultam pensar em Gaia como 
um ser vivo de maneira concreta. A palavra Gaia é de origem grega e significa 
“Deusa Terra” ou “Mãe Terra”.
A origem da hipótese Gaia
O químico James Lovelock foi contratado pela Nasa (Administração Nacio-
nal de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos) nos anos 1960 para descobrir se 
há condições de vida em outros planetas, como Vênus e Marte.
Lovelock questionou como seria a vida nesses planetas e se há meios de des-
cobrir se tal vida seria semelhante à da Terra. Foi pensando sobre isso que o cientista 
concluiu que, para viver, os seres vivos retiram matéria e energia do meio em que 
vivem e descartam os resíduos também nesse meio. No caso da Terra, há a atmosfera 
(meio gasoso) e os oceanos (meio líquido), que servem como meios fluidos de retirada 
de energia e descarte de resíduos. Logo, se ele analisasse a atmosfera do planeta pode-
ria concluir se existe vida ou não, sem precisar ir até o planeta.
Na Terra, a atmosfera tem 21% de oxigênio, que é altamente reativo e seria 
facilmente eliminado por outros gases, como hidrogênio, amônia, entre outros. 
Isso se explica porque a vida no planeta é responsável pela constante produção do 
gás, repondo sua quantidade na atmosfera.
Quadro 1 – Diferença da composição da atmosfera dos três planetas 
(Terra, Marte e Vênus)
Vênus Terra Marte
Nitrogênio (N2) 1,9% 78% 2,7%
Oxigênio (O2) 0,1% 21% 0,13%
Gás carbônico (CO2) 98% 0,03% 95%
A explicação para isso é que, se a composição da atmosfera é constante, sem 
compostos resultantes de metabolismo sendo alterados, não há vida.
Para mim, a revelação pessoal de Gaia veio subitamente – como um flash ou lampejo de 
iluminação. Eu estava numa pequena sala do pavimento superior do edifício do Jet Pro-
pulsion Laboratory, em Pasadena, na Califórnia. Era outono de 1965, e estava conversan-
A hipótese Gaia
98
do com Dian Hitchcock sobre um artigo que estávamos preparando... Foi nesse momento 
que, num lampejo, vislumbrei Gaia. Um pensamento assustador veio a mim. A atmosfera 
da Terra era uma mistura extraordinária e instável de gases, e, não obstante, eu sabia que 
sua composição se mantinha constante ao longo de períodos de tempo muito longos. Será 
que a Terra não somente criou a atmosfera, mas também a regula – mantendo-a com uma 
composição constante, num nível que é favorável aos organismos vivos? (LOVELOCK 
apud TIO ALÊ, 2005.)
Para ajudá-lo na formulação da hipótese Gaia, Lovelock convidou a bióloga 
microbiologista Lynn Margulis. Através da hipótese, eles questionam a ideia de 
que a vida surgiu na Terra por causa das condições atmosféricas e climáticas fa-
voráveis do planeta. Pelo contrário, dizem que a vida cria as condições necessárias 
para continuar existindo. Além disso, afirmam que o planeta é um ser vivo, inteli-
gente e que se autorregula, mantendo as condições favoráveis para a manutenção 
da vida, sendo capaz de superar os desequilíbrios ambientais, criando novas con-
dições de equilíbrio, mesmo que isso resulte em adaptação, grandes extinções ou 
surgimento de novas espécies.
Em outras palavras, a hipótese Gaia afirma que a superfície da Terra, que sempre temos consi-
derado o meio ambiente da vida, é na verdade parte da vida. A manta de ar – a troposfera – de-
veria ser considerada um sistema circulatório, produzido e sustentando pela vida [...] Quando 
os cientistas nos dizem que a vida se adapta a um meio ambiente essencialmente passivo de 
química, física e rochas, eles perpetuam uma visão mecanicista seriamente distorcida, própria 
de uma visão de mundo falha. A vida, efetivamente, fabrica, modela e muda o meio ambiente 
ao qual se adapta. Em seguida, esse “meio ambiente” realimenta a vida que está mudando e 
atuando e crescendo sobre ele. Há interações cíclicas, portanto, não lineares e não estritamente 
determinísticas. (Margulis apud TIO ALÊ, 2005.)
As evidências da hipótese
O calor irradiado pelo Sol aumentou cerca de 25% desde que a vida surgiu 
na Terra. O questionamento de Lovelock foi como a temperatura conseguiu se 
manter estável, com um clima favorável à vida, durante 4 bilhões de anos? A 
resposta encontrada foi Gaia, a Terra como um superorganismo capaz de regular 
suas condições físicas e químicas. Nessa hipótese, os fatores bióticos agem sobre 
os abióticos modificando o ambiente. Todas as evidências apontam para essa re-
lação entre os fatores.
Para explicar e comprovar que a Terra é um superorganismo, os cientistas 
citam vários acontecimentos no planeta como sendo evidências da hipótese. A 
formação de ilhas por corais, as dunas com vegetais, a acidez do solo, surgimento 
do oxigênio na atmosfera, entre outros.
Durante milhões de anos, a Terra foi habitada apenas por micro-organismos 
anaeróbios, ou seja, que não dependem do oxigênio para sobreviver. Com seu me-
tabolismo simples, nutriam-se de compostos orgânicos, liberando como resíduos 
A hipótese Gaia
99
compostos inorgânicos simples. A proliferação desses organismos fez com que a 
quantidade de compostos orgânicos diminuísse. Na tentativa de se adaptar às no-
vas condições ambientais, alguns desses organismos evoluíram e deram origem às 
plantas verdes, que conseguem assimilar as substâncias inorgânicas e transformá-
-las em compostos orgânicos através da fotossíntese. Mas como produto desse 
novo processo surge o oxigênio, letal para os seres anaeróbios. Novamente, os 
seres evoluíram para conseguir utilizar essa nova substância e controlar sua pre-
sença de uma maneira que todos conseguissem sobreviver.
Os solos cultivados, por exemplo, seriam muito ácidos se não houvesse as 
bactérias para transformar o nitrogênio inorgânico em formas assimiláveis pelas 
plantas. Os corais também são exemplos, pois seu metabolismo permite fixar o 
cálcio da água do mar e transformar suas colônias em “rochas”. Isso modifica todo 
funcionamento no local onde se instalam. As dunas locomovem-se com os ventos, 
mas a partir do momento que começam a receber vegetação, ficam mais estáveis. 
A matéria mineral das dunas (silício) junta-se com a matéria orgânica dos seres 
vivos que passam a viver nelas, e transforma-se em solo.
Hoje, é impensável a vida sem o oxigênio. Porém, sem os organismos fotos-
sintetizantes, o oxigênio deixaria de ser reciclado e a maior parte dos seres vivos 
morreria.
O planeta das margaridas
James Lovelock postulou o modelo do Planeta das Margaridas para explicar 
como os seres vivos conseguem agir sobre o ambiente.
Supondo-se que haja apenas três espécies de margarida vivendo no pla-
neta: as brancas, as cinzentas e as pretas. Se a temperatura está muito baixa, as 
margaridas pretas reproduzem-se mais e espalham-se por todas as regiões. Isso é 
possível graças à sua coloração que permite que elas absorvam mais calor. À me-
dida que elas vão se proliferando, o planeta vai se tornando mais quente por causa 
do calor absorvido por elas. Se o planeta é mais quente, as margaridas brancas se 
proliferariam, pois suas pétalas refletiriam mais o calor. Logo, o planeta também 
se tornaria mais frio. Porém, se a temperatura é média, as margaridas cinzentas 
iriam se proliferar mais do que as outras.
Pode-se juntar às margaridas mais duas populações: coelhos e raposas. Se o 
número de coelhos aumentar, diminuirá o número de margaridas que seriam co-
midas pelos coelhos. Entretanto, se as margaridas se esgotassem, a população de 
coelhos morreria de fome. Nesse caso, é necessário atingir um equilíbrio no qual 
o número de margaridas é exatamente o suficiente para alimentar a população 
de coelhos. A mesma lógica se aplica para a população de coelhos e de raposas, 
sendo estas os predadores doscoelhos.
A hipótese Gaia
100
Ações humanas e a hipótese Gaia
Os seres humanos têm uma grande capacidade para alterar o meio em que 
vivem. Suas atividades de caça, desmatamento, mineração, produção agrícola e 
pecuária e desenvolvimento de cidades transformam a paisagem e intensificam os 
acontecimentos naturais.
Desde as civilizações pré-históricas, animais foram extintos pela caça. O 
desmatamento deixa o solo exposto à ação do tempo, fragmentando a paisagem 
natural, levando espécies à extinção e provocando catástrofes. A mineração polui 
rios e destrói a vegetação. A atividade agropecuária também provoca grandes 
estragos na paisagem, empobrecendo o solo, poluindo a água e o ar. As cidades 
constituídas e administradas sem planejamento estratégico provocam o mal-estar 
da população e dos demais seres vivos. Enchentes, enxurradas, deslizamentos, 
erosão, poluição – esse é o resultado da presença humana no planeta.
Além disso, podem ser citadas mais consequências para o ambiente. A chu-
va ácida, por exemplo, é resultante da emissão de óxidos de enxofre pela queima 
de combustíveis derivados do petróleo. Esses óxidos reagem com a água existente 
na atmosfera e transformam-se em ácido sulfúrico (água + óxido de enxofre). 
O resultado é a precipitação desses ácidos, que prejudicam estruturas metálicas, 
vegetação e construções, afetando a composição química do solo e da água na 
superfície do planeta.
O aquecimento global, o derretimento de geleiras, o aumento do nível do 
mar são acontecimentos naturais que estão sendo intensificados e catalisados pela 
ação do homem sobre a natureza. Pela hipótese Gaia, é a Terra (Gaia) tentando 
achar uma saída para regular o ambiente e deixá-lo novamente favorável à vida. O 
estresse causado nas catástrofes resultou em extinções.
Os impactos causam estresse no ambiente. Eles podem ser agudos, quando 
percebidos imediatamente, ou crônicos, quando percebidos depois de um tempo. 
Na história evolutiva do planeta, grandes e rápidas modificações foram catastró-
ficas para a vida.
Como exemplo de estresse crônico pode ser citado o uso de gás CFC, des-
coberto como maléfico para a camada de ozônio após anos de uso. Hoje, sofre-se 
a consequência da ignorância de gerações passadas, assim como gerações futuras 
ainda vão sofrer com a ignorância das gerações atuais.
Perspectivas futuras
Para conservar é preciso amar. [...] minha visão de ecologia, ao contrário de muitos livros 
lançados sobre o assunto, não está centralizada no homem. Se quisermos ter sucesso em 
conservação da natureza, precisamos de uma outra lógica diferente da nossa lógica econô-
mica atual. [...] só vamos poder conservar a natureza se o fizermos para o seu próprio bem.
Fernando Fernandez
A hipótese Gaia
101
À medida que o tempo passa e as catástrofes começam a afetar a huma-
nidade, o posicionamento dos governos em relação à natureza começa a mudar. 
Muito já foi destruído para que as pessoas se dessem conta do que já foi perdido 
em relação à natureza.
A inclusão da Educação Ambiental no currículo das escolas brasileiras, a 
conscientização sobre os problemas já causados é um bom começo. Ainda falta 
muito! As pessoas consomem mais do que realmente precisam. A tradição de 
se ter muito faz com que o ser humano não perceba os recursos naturais como 
finitos. Além disso, as ideias “conservacionistas” ficam apenas nas palavras e 
não aparecem nas atitudes do dia a dia . Poucas pessoas se preocupam em gastar 
menos água, menos energia. Apenas aquelas que veem seu bolso sendo atacado 
cada vez que precisam pagar a conta é que começam a racionar.
Imagine uma cena de uma família de quatro pessoas andando na rua, pai, 
mãe e dois filhinhos. O pai com um pacote de bala na mão. Ele “descasca” a bala, 
põe na boca e joga o papel no chão, e os filhinhos fazem o mesmo. É certo que 
as crianças serão exatamente assim quando crescerem, pois se inspiram nos pais 
para aprender a viver. Na natureza acontece isso. Filhotes imitando os pais e co-
piando seus hábitos e habilidades. Com o ser humano não seria diferente, apesar 
de esquecermos que somos animais, da espécie Homo sapiens, e que nosso DNA 
tem 98% de semelhança com os chimpanzés. A população humana esquece que 
sua sobrevivência está intimamente ligada à sobrevivência das outras espécies. 
Quanto mais degradamos, mais danos causamos a nós mesmos.
[...] A projeção animista também serve de base para uma moderna religião travestida de ci-
ência, que atende pelo nome de hipótese Gaia. A ambiciosa ideia, formulada pelo químico James 
Lovelock, é de que o planeta inteiro teria evoluído para servir de abrigo adequado à vida, e fun-
cionaria como uma espécie de superorganismo autorregulado. A fragilidade da argumentação de 
Gaia chega a ser comovente. Toda e qualquer característica do ajuste Terra-organismos apontada 
como evidência a favor da hipótese Gaia, é explicada de maneira muito mais simples e óbvia por 
seleção natural. Por exemplo, Lovelock argumenta que o planeta desenvolveu uma alta concen-
tração de oxigênio em sua atmosfera para se tornar acolhedor para os animais, que respiram oxi-
gênio. No entanto, é infinitamente mais simples e plausível conceber que, por ser o oxigênio um 
recurso abundante, a seleção natural tenha favorecido os organismos que desenvolveram a capaci-
dade de utilizá-lo. A popularidade da hipótese Gaia, apesar de evidente falta de bons argumentos 
a seu favor, a meu ver é bastante fácil de explicar: Gaia fala exatamente o que as pessoas queriam 
ouvir, ao fornecer um motivo “superior”, maior que nós, pelo qual deveríamos agir corretamente 
com o nosso planeta, que afinal de contas também seria um organismo vivo. O segundo livro 
A hipótese Gaia
102
de Lovelock chama-se As Idades de Gaia; é bem claro que pelo menos a ideia de Gaia de fato é 
muito antiga: nada mais é que a velha projeção animista em grandiosa escala, com uma roupagem 
“modernosa” e pseudocientífica. O caráter religioso também é bastante claro, não faltando nem 
mesmo a revelação (o próprio Lovelock afirma ter percebido que o nosso planeta era vivo ao ver 
pela primeira vez uma foto da Terra vista do espaço). Como qualquer religião, Gaia pode ser efe-
tiva em mobilizar pessoas por uma causa, no caso a conservação. Porém, uma vez que Gaia não 
se assume como religião e prefere manter seu disfarce de ciência, espero que a conservação não 
dependa dela, pois cedo ou tarde vai surgir alguém para dizer “o rei está nu”, como alguns aliás já 
estão fazendo (FERNANDEZ, 2004, p. 237-238).
1. Sobre a hipótese Gaia, levante aspectos positivos e negativos.
2. Você acha que a hipótese Gaia pode ser verdadeira, ou não passa de religião? Como é apresen-
tada no texto complementar?
TAVARES, Marina de Lima; EL-HANI, Charbel Niño. Um Olhar Epistemológico Sobre A Trans-
posição Didática da Teoria Gaia. Disponível em: <www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol6/n3/v6_n3_
a4.htm>. Acesso em: 29 set. 2005.