Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXERCÍCIO FÍSICO PARA POPULAÇÕES ESPECIAIS Diego Santos Fagundes Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os tipos de obesidade, incluindo a infantil e as comorbidades. Analisar as respostas fisiológicas e metabólicas em obesos. Definir os parâmetros de prescrição de exercícios para indivíduos obesos, as formas de controle e acompanhamento necessários. Introdução A obesidade é uma doença cada vez mais comum, cuja prevalência já atinge proporções epidêmicas. A essa pandemia mundial se atribui uma serie de comorbidades que impactam negativamente a qualidade de vida dos indivíduos obesos. E a obesidade não é apenas uma preocupação da população adulta, já que atinge atualmente ao redor do mundo um grande número crianças e adolescentes. Suas causas estão vinculadas a elementos genéticos, endócrino-metabólicos, ambientais farmacoló- gicos, nutricionais e comportamentais (como o sedentarismo), que se inter-relacionam e se potencializam mutuamente. Nesse contexto, entre outras estratégias terapêuticas, os exercícios físicos quando bem prescritos podem ser utilizados para a prevenção e tratamento da obesidade. Neste capítulo, você verá em detalhes a definição, os tipos de obe- sidade e as comorbidades associadas a esta condição patológica, além de analisar as respostas fisiológicas e metabólicas em obesos a partir de substâncias orgânicas relacionadas ao tecido adiposo. Por fim, ficará a par dos parâmetros de frequência, intensidade, tempo e tipo de exercício recomendado, além das formas de controle necessárias para a prescrição de um programa de atividades físicas para indivíduos obesos. Obesidade e as comorbidades associadas A obesidade representa uma epidemia no mundo atual e, por estar associada a morbidades e mortalidade, um ônus à sociedade e ao sistema público de saúde. A obesidade pode ser defi nida como uma doença crônica vinculada ao acúmulo excessivo de gordura no tecido adiposo localizado ou generalizado, apresentando uma causa multifatorial e complexa da interação de estilos de vida, ambiente, genes e fatores emocionais. O índice de massa corporal (IMC) é o critério mais utilizado para defi nir obesidade. Contudo, esse índice retrata o grau de corpulência sem defi nir com exatidão as parcelas corporais de gordura e massa magra. Além disso, é importante ressaltar que o IMC não caracteriza o aspecto epidemiológico metabólico e cardiovascular, ou seja, a distribuição da adiposidade corporal. Nesse sentido, a concentração de adiposidade localizada na região central do corpo, em especial na região abdominal, está associada a um maior risco cardiometabólico; já a concen- tração de adiposidade periférica, em especial nos membros inferiores, parece conotar um papel protetor. Sendo assim, torna-se essencial uma avaliação minuciosa das medidas antropométricas (IMC, circunferência da cintura e do quadril, peso e altura) (MANCINI et al., 2018). Em crianças e adolescentes, a classificação de sobrepeso e obesidade utilizando o IMC não se correlaciona com os aspectos de morbidade e mortalidade tal como se percebe em adultos, já que existe uma variação da corpulência durante o crescimento. Nesse sentido, deve haver uma in- terpretação diferenciada em relação ao sexo e à faixa etária de crianças e adolescentes, fazendo com que, para essa população, o limite da normalidade seja fundamentado mediante curvas de percentil do IMC de acordo com a idade e o sexo. Desde o ano de 2007, o Brasil utiliza as curvas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ajustadas para a idade e sexo para diagnóstico de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes. Nesse sistema de classificação, são considerados sobrepeso ou obesidade IMCs entre o percentil 85–95 e acima de 95, respectivamente. E, como para os adultos, é importante considerar as medidas antropométricas nas crianças e adolescentes para que se possa avaliar a distribuição de gordura corporal (NERI et al., 2017; MANCINI et al., 2018). Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico2 O termo sobrepeso refere-se a valores de massa corporal que se encontram entre a massa considerada como normal e a obesa, podendo ocorrer em função de excesso de gordura corporal ou de valores elevados de massa magra (BARBOSA, 2009). Em relação à perspectiva anatômica, as crianças, em geral, apresentam um tipo de obesidade classificada como tipo I, em que a gordura não está centralizada em determinado lugar do corpo. Além dessa categoria, existem outras três subdivisões. A seguir, são apresentados os quatro tipos de obesidade a partir de um prisma anatômico (BARBOSA, 2009): Tipo I: caracterizado pelo excesso de massa corporal ou porcentagem de gordura distribuída por todo o corpo. Tipo II: constitui a forma androide, caracterizada pelo acúmulo de gordura no tronco, em particular no abdômen. Tais características são encontradas principalmente em homens, e associam-se à hipertensão e ao diabetes melito. Tipo III: apresenta como característica o acúmulo excessivo de gordura na região visceral. Tipo IV: corresponde à forma feminina, em que o acúmulo de gordura concentra-se na parte inferior do corpo; esta forma de obesidade também é chamada de ginecoide. A existência de comorbidades relacionadas à obesidade é uma preocupação que emerge com mais frequência por parte dos profissionais da área da saúde. É importante que tais profissionais tenham conhecimento das comorbidades mais frequentes relacionadas à obesidade para que, desta maneira, possam proferir um diagnóstico cada vez mais precoce, a fim de orientar e conduzir ações de prevenção e tratamento dessas condições. Nesse sentido, a partir deste conhecimento, também podem, é claro, identificar os indivíduos que possam se beneficiar de perda de peso. Atualmente, existe consenso quanto a uma 3Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico série de doenças associadas ao sobrepeso e à obesidade, caracterizando, desta maneira, comorbidades. As doenças associadas à obesidade afetam os sistemas cardiovascular, respiratório, endócrino-metabólico, gastrointestinal, reprodutivo, urinário, musculoesquelético e articular, imunológico, nervoso e cognitivo. A seguir, são apresentadas algumas dessas patologias associadas ao sobrepeso e à obesidade (CFM, 2016): hipertensão arterial, dislipidemia, doenças cardio- vasculares (incluindo doença arterial coronariana), hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral), esteatose hepática, infarto do miocárdio, incontinência urinária de esforço na mulher, colecistopatia calculosa, angina, pancreatites agudas de repetição, estigmatização social e depressão, hipertensão e fibrilação atrial, acidente vascular cerebral, infertilidade masculina e feminina, insuficiência cardíaca congestiva, síndrome dos ovários policísticos, asma grave não controlada, osteoartroses, hérnias discais, refluxo gastroesofagiano, cardio- miopatia dilatada, cor pulmonale e síndrome de hipoventilação, disfunção erétil, veias varicosas e doença hemorroidal, diabetes melito tipo 2 e apneia do sono. O que são comorbidades no âmbito da obesidade? São doenças que acabam sendo agravadas pelo excesso de gordura corporal. E o inverso também é válido: seus sintomas melhoram quando a obesidade é tratada de maneira eficaz. Respostas fisiológicas e metabólicas em obesos A obesidade é um fenômeno complexo e multifatorial que vai além apenas do aumento de peso, pois o acúmulo de gordura no tecido adiposo promove ações no organismo ainda não compreendidas em sua totalidade. Esse acúmulo causa não somente o aumento do volume corporal como também o aumento das funções do tecido adiposo, confi gurando, desta maneira, o principal fator das respostas e desordens fi siológicas e metabólicas relacionadas ao sobrepeso e à obesidade em indivíduos com tais características. Diversosestudos identificam as adipocinas (substâncias relacionadas ao tecido adiposo) como mediadoras de reações que interferem na homeostasia do organismo, levando a disfunções orgânicas, contribuindo para cenários patológicos e evidenciando as comorbidades associadas ao excesso de gor- Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico4 dura corporal. Um exemplo disso é que o excesso de adipocinas na infância atrasa o desenvolvimento psicomotor e cognitivo da criança, ocasionado um atraso global do desenvolvimento neurológico com repercussão no sistema imunológico e, desta maneira, propiciando cenários patológicos mentais, além de contribuir para a suscetibilidade infectocontagiosa e aumentar as chances de obesidade futura nessa população. Alguns pesquisadores suportam a ideia de que a obesidade futura está relacionada ao tecido adiposo “armazenado” na infância e sua capacidade de multiplicar-se na vida adulta a partir de novas células, chamadas pré-adipócitos, tornando, desta forma, a obesidade infantil um elemento desencadeador de obesidade entre os adultos. Na adolescência, níveis elevados de adipocinas interferem de maneira direta na puberdade, em especial no que tange a definição dos caracteres sexuais secundários, em razão de competirem com os mediadores da síntese de hormônios esteroides e de apresentarem interferência na expressão e transporte de outros hormônios secundários. Nos adultos, o excesso de gordura em tecidos e órgãos proporciona uma lenta substituição lipofílica, apresentando efeitos compressivos que se relacionam a uma redução da qualidade de vida, em razão de causarem interferência em aspectos psicológicos, precipitando a tendência a transtornos depressivos e emocionais entre os obesos. Já na chamada terceira idade, em razão do turnover fisiológico, a cons- tituição morfológica é caracterizada de maneira lenta e gradual por tecido adiposo, acarretando em substituição de diversas estruturas por adipócitos. Cabe ressaltar que este cenário integra o envelhecimento e que o “desgaste natural” é potencializado pelas adipocinas, intensificando as comorbidades (POWERS; HOWLEY, 2017; LIMA et al., 2018) A obesidade promove o desajuste dos mecanismos de ação das adipocinas, e um exemplo disso é a adipocina grelina (sintetizada no estômago). Essa adipocina está relacionada à ingestão alimentar, atuando no centro da fome que regula o apetite. No indivíduo obeso, os mecanismos relacionados à grelina são potencializados, sensibilizando as vias de apetite e estimulando o consumo alimentar (LIMA et al., 2018). 5Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico As adipocinas são peptídeos bioativos secretados pelos adipócitos e apresentam importante papel na resposta inflamatória, na resposta imunológica e na regulação energética, capazes de desenvolver diversos mecanismos e estimular vias metabólicas. As adipocinas mais conhecidas e estudadas são adiponectina, resistina, omentina, leptina, apelina, proteína estimuladora de acilação, vaspina, grelina, proteína G, visfatina e interleucina 6. As substâncias sintetizadas pelos adipócitos atuam em diversas vias metabólicas, promovendo ações e respostas fisiológicas necessárias para o balanço energético do organismo. Cabe ressaltar que a síntese em excesso das substâncias sintetizadas pelos adipócitos promove e propicia a falha da homeostase orgânica, desencadeando um processo de resposta inflamatória contínuo e controlado, apon- tado como o principal fator nocivo do sobrepeso e da obesidade, pois o aumento da expressão contínua das substâncias sintetizadas pelos adipócitos causa interferência nos diversos sistemas orgânicos (POWERS; HOWLEY, 2017; LIMA et al., 2018; MANCINI et al., 2018). Existe uma adipocina naturalmente antagônica à grelina, chamada leptina, que atua no hipotálamo para controlar a fome. Neste sentido, o indivíduo obeso apresenta grandes concentrações de grelina e, para antagonizar os efeitos desta adipocina, a leptina atua ativamente, estimulando as vias metabólicas de controle da fome e saciedade. Acontece que essa ação vigorosa da leptina produz radicais livres derivados da estimulação das vias metabólicas no hipotálamo, o que pro- gressivamente leva à oxidação do tecido nervoso no hipotálamo, promovendo um processo inflamatório hipotalâmico irreversível, com perda do controle dos mecanismos da fome e saciedade, e, desta maneira, propiciando o acúmulo de tecido adiposo. Neste contexto, o excesso de leptina é danoso ao sistema nervoso e, devido ao sinergismo da leptina com a insulina (insulina promove maior ex- pressão dos receptores de leptina), há uma retroalimentação positiva que promove progressivamente mais oxidação do tecido nervoso, o que, por sua vez, desencadeia importantes alterações inflamatórias irreversíveis, já que o estado de obesidade cursa com hiperinsulinemia (LIMA et al., 2018; MANCINI et al., 2018). Nesta mesma linha de oxidação do tecido nervoso, a adipocina denominada proteína estimuladora de acilação acaba ativando, em ambientes hiperlipídicos, a via do receptor Toll-like 4 (TLR4), promovendo a ativação de mecanismos de apoptose de neurônios do hipocampo, o que ocasiona dano nas áreas neuro- cognitivas, podendo levar a cenários de demência precoce. Além de afetarem o sistema nervoso, os estados hiperlipídicos associados à obesidade promovem a hiperestimulação do sistema simpático e da via renina-angiotensina-aldosterona, Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico6 promovendo uma maior retenção de sódio, o que leva a uma tamanha retenção hídrica que propicia uma sobrecarga do sistema vascular. O aumento do débito cardíaco associado à resistência vascular periférica leva a um quadro de hiper- tensão arterial sistêmica que pode, com o decorrer do tempo, ocasionar uma hipertrofia ventricular esquerda, predispondo o indivíduo obeso a um maior risco de arritmia cardíaca e insuficiência cardíaca congestiva. Ainda em relação ao sistema cardiovascular, estudos apontam que o excesso de leptina promove o desencadeamento do cenário de calcificação arterial coronariana, o que explicaria o estado de “pró-aterosclerose” comumente encontrado em obesos. A adipocina resistina contribui para os eventos de alteração da dinâmica circulatória, promovendo disfunção vascular e aumen- tando os riscos de acidente vascular encefálico e infarto agudo do miocárdio, bem como outros distúrbios cardiovasculares. Estes distúrbios ocasionados pela resistina parecem estar ligados ao aumento de expressão de moléculas de adesão intercelular-1 e antivascular-1 e do fator nuclear kappa beta (NFkB) nas células do endotélio, propiciando o avanço da gênese aterogênica (BARONA et al., 2011; LIMA et al., 2018; MANCINI et al., 2018). É importante ressaltar que muitas alterações cardiovasculares também afetam o sistema respiratório, devido à estreita relação entre ambos os sistemas. Além disso, em quadros de obesidade, o sistema respiratório é comprometido pela diminuição da complacência torácica e infiltrações de tecido adiposo nas estruturas que compõem o sistema ventilatório. Esta situação de diminuição de complacência torácica contribui para o desencadeamento de pneumonias (restritivas e inflamatórias). Como se não bastasse, a adipocina resistina in- terfere no epitélio respiratório, tornando-o hiper-responsivo, como ocorre na doença asmática. Isso pode levar a um déficit das trocas gasosas e a hematose, afetando diretamente os tecidos que necessitam de oxidação energética, como, por exemplo, o sistema muscular (LIMA et al., 2018; MANCINI et al., 2018). A obesidade interfere na fisiologia articular e musculoesquelética não somente pela contínua pressão exercida sobre o sistema articular em razão do sobrepeso, com consequente desgaste articular, mas também pela atuação em mecanismos de remodelamento ósseo através do excesso típico de leptina em obesos, o que diminui a osteocalcina (responsável pelo remodelamento ósseo). A fisiologiado sistema muscular em obesos apresenta-se comprometida, uma vez que as adipocinas antagonizam a ação das miocinas, promovendo uma diminuição dos principais receptores de insulina no músculo (GLUT 4). Por sua vez, a diminuição destes receptores promove uma diminuição da atividade muscular e aumenta o estado de hiperinsulinemia dos obesos (LIMA et al., 2018; MANCINI et al., 2018). 7Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico A obesidade também é caracterizada por um estado de “inflamação crônica”, devido ao estímulo excessivo de substâncias, fatores e mediadores inflamatórios pelas adipocinas. Mesmo considerada de baixa intensidade, este estado de in- flamação crônica da obesidade colabora para o incremento do risco de diabetes melito, doenças cardiovasculares, doenças osteomusculotendinosas, entre outras comorbidades associadas à obesidade. A obesidade ocasiona múltiplas variações nos mecanismos fisiológicos, o que afeta direta e indiretamente a manutenção da homeostasia, promovendo ao longo do tempo cenários deletérios ao organismo humano (LIMA et al., 2018; MANCINI et al., 2018). Parâmetros de prescrição de exercícios para indivíduos obesos Para a manutenção do peso corporal, é essencial o equilíbrio energético entre o consumo e o gasto energéticos. Neste sentido, para que um indivíduo com sobrepeso ou obeso diminua seu peso corporal, seu gasto enérgico deve ser maior que seu consumo. É importante salientar que existem evidências cientí- fi cas de que uma perda de apenas 5% do peso corporal propicia uma redução clínica signifi cativa de diversos fatores de risco relacionados à obesidade. Em razão do benefício da perda de peso para indivíduos com sobrepeso e obesos, mudanças no estilo de vida se fazem necessárias, sobretudo aquelas que diminuem o consumo e aumentam o gasto enérgico. Uma das opções de aumento do gasto energético é a realização de exercícios orientados por um programa de atividade física. Segundo diretrizes do American College of Sports Medicine (ACSM), existe uma íntima relação entre dose e resposta da atividade física e a proporção de perda de peso, conforme apresentado no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Riebe et al. (2018). Tempo de atividade física/semana Perda de peso < 150 minutos Perda de peso mínima > 150 minutos Perda de peso modesta (2 a 3 kg) 225 a 420 minutos Perda de peso de 5 a 7,5 kg Quadro 1. Relação entre tempo de atividade física semanal e perda de peso Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico8 O ACSM faz recomendações à prescrição de exercícios para indivíduos com sobrepeso ou obesidade, exaltando que, durante a fase de perda de peso, o objetivo dos exercícios é aumentar o gasto calórico e consequentemente au- mentar a perda de peso; já para uma fase de manutenção de peso, os exercícios devem integrar o estilo de vida do indivíduo. Em relação aos parâmetros de exercício físico para indivíduos com sobrepeso ou obesos, o ACSM propõe algumas recomendações sobre os parâmetros de frequência, intensidade, tempo e tipo, resumidas no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Riebe et al. (2018). Aeróbico Resistência Flexibilidade Frequência ≥ 5 dias/semana 2 a 3 dias/semana ≥ 2 a 3 dias/semana Intensidade A intensidade inicial deve ser moderada (40 a 59% VO2R e de FCR); progredir para intensidade vigorosa (≥ 60% de VO2R ou FCR) para melhores resultados 60 a 70% de 1–RM; aumentar gra- dualmente para melhorar a força e a massa muscular Alongamento até o ponto de estira- mento muscular ou leve desconforto Tempo 30 min/dia (150 min/ semana); aumentar para 60 min/dia ou mais (250 a 300 min/ semana) 2 a 4 séries de 8 a 12 repetições para cada um dos grandes grupos musculares Manter o alonga- mento estático por 10 a 30 segundos; de 2 a 4 repetições para cada exercício Tipo Atividades ritmadas e prolongadas que recrutem grandes grupos musculares (p. ex., caminhar, pedalar ou nadar) Equipamentos de resistência, pesos livres e/ou peso corporal (p.ex., calistenia entre outros.) Alongamentos estáticos, dinâmicos e/ou FNP VO2R — porcentagem da reserva do consumo de oxigênio; FCR — frequência cardíaca de reserva; RM — repetição máxima; FNP — facilitação neuromuscular proprioceptiva. Quadro 2. Recomendações de parâmetros de frequência, intensidade, tempo e tipo para indivíduos com sobrepeso e obesidade 9Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico Ao considerar a prescrição de exercícios em um programa de atividade física para obesos, existem algumas considerações a serem observadas além dos parâmetros. Tais considerações estão centradas em atividade física, dieta, motivação, entre outras. Assim, devemos considerar inicialmente que a atividade física deve progredir para um mínimo de 30 minutos por dia; para a manutenção a longo prazo da perda de peso, deve-se incrementar a quantidade de exercícios de intensidade moderada a vigorosa para pelo menos 250 minutos por semana (ou 2.000 kcal/semana), divididos em 5 a 7 dias; pode-se adotar inicialmente uma metodologia intermitente de realização de exercícios físicos até que se contabilize um tempo mínimo de 30 minutos por dia (tal como 3 sessões de 10 minutos de exercícios), com o objetivo de vencer o sedentarismo e integrar os exercícios ao estilo de vida e à rotina do indivíduo, de modo que ele possa progredir futuramente; integrar ao longo do tempo exercícios de resistência para aumentar a força muscular e as condições de equilíbrio e estabilidade musculoesquelética, além de beneficiar o indivíduo com a diminuição de al- guns fatores de risco a saúde (como diabetes melito, doenças cardiovasculares e doenças crônicas); definir metas alcançáveis a curto, médio e longo prazos; orientar a busca por um profissional da área da saúde que forneça um programa de nutrição adequado aos objetivos (nutricionista, endocrinologista ou nutrólogo); orientar a procura de profissional que contribua com a saúde mental do indivíduo obeso (psicólogo ou psiquiatra). O ACSM ainda recomenda que durante a fase de perda ou manutenção de peso, o paciente seja orientado por informações e recomendações fundamentadas em evidências para a realização de exercícios aeróbicos (DIAS; MONTENEGRO; MONTEIRO, 2014; RIEBE et al., 2018). A obesidade é uma patologia que atinge boa parcela da população mundial, sendo considerada uma pandemia mundial. Além disso, a obesidade atinge não somente os adultos, mas também crianças, adolescentes e idosos, existindo estudos que corroboram que crianças com sobrepeso ou obesas apresentam tendência a desenvolverem obesidade quando adultos. A obesidade promove uma série de alterações e disfunções nos sistemas fisiológicos orgânicos, o que propicia o aparecimento de patologias ou disfunções associadas, chamadas de comorbidades. Neste contexto, a prevenção e o tratamento adequado são de suma importância para que o indivíduo obeso possa ter qualidade de vida e uma adequada funcionalidade, seja orgânica ou relacionada às atividades de vida diária. Para isso, a inclusão regular de exercícios físicos com parâmetros adequados e uma dieta personalizada e balanceada pode contribuir para a perda de peso e sua manutenção em um patamar mais baixo. Outras estratégias de tratamento não conservador, como os tratamentos cirúrgicos, muitas vezes são indicadas, mas não suprimem a indicação da realização de atividade física regular e alimentação saudável e equilibrada. Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico10 BARBOSA, V. L. P. Prevenção da obesidade na infância e na adolescência: exercícios, nutrição e psicologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2009. BARONA I. et al. Role of TLR4 and MAPK in the local effect of LPS on intestinal contrac- tility. Journal of Pharmacy and Pharmacology, v. 63, n. 5, p. 657–62, 2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21492167. Acesso em: 5 ago. 2019. CFM. Resolução no. 2.131, de 12 de novembro de 2015. Altera o anexo da Resolução CFM nº1.942/10, publicadano DOU de 12 de fevereiro de 2010, Seção 1, pág. 266. Diário Oficial da União, 13 jan. 2016. Disponível em: http://www.in.gov.br/web/guest/materia/-/ asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/22175085/do1-2016-01-13-resolucao-n-2- -131-de-12-de-novembro-de-2015-22174970. Acesso em: 5 ago. 2019. DIAS, I. B. F.; MONTENEGRO, R. A.; MONTEIRO, W. D. Exercícios físicos como estratégia de prevenção e tratamento da obesidade: aspectos fisiológicos e metodológicos. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, v. 13, n. 1, p. 70–79, 2014. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/9808. Acesso em: 5 ago. 2019. LIMA, R. C. A. et al. Principais alterações fisiológicas decorrentes da obesidade: um estudo teórico. Sanare, v. 17, n. 2, p. 56–65, 2018. Disponível em: https://sanare.emnuvens.com. br/sanare/article/viewFile/1262/670. Acesso em: 5 ago. 2019. MANCINI, M. C. et al. Tratado de obesidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. NERI L. C. L. et al. (org.). Obesidade infantil. Barueri: Manole, 2017. POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condiciona- mento e ao desempenho. 9. ed. Barueri: Manole, 2017. RIEBE, D. et al. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Leitura recomendada BUSSE, S. (org.). Anorexia, bulimia e obesidade. Barueri: Manole, 2004. 11Síndrome metabólica, obesidade e treinamento físico
Compartilhar