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EMBRIOLOGIA Segmentação do mesoderma Transição epitélio-mesenquimal As células da linha primitiva perdem a adesão celular devido à perda de expressão de E- caderinas – encontradas anteriormente no epiblasto. Na região onde ocorre a gastrulação, a perda de adesão das E- caderinas são substituídas pelas N- caderinas, que realizam função semelhante, porém de forma mais fraca. Dessa forma, as células passam da organização epitelial para a organização mesenquimal. Outra mudança vista durante a gastrulação no epiblasto é a perda da membrana basal (matriz extracelular com os componentes principais sendo laminina e fibronectina), que funciona como uma espécie de barreira protetora, dando estrutura e resistência ao epitélio. Essa degradação da membrana é feita a partir de peptidases. A partir dessas duas mudanças é que se pode ocorrer a invaginação das células durante a fase de gastrulação e posterior propagação. Gastrulação Dependendo do momento em que as células invaginam durante a gastrulação, elas podem já ter um destino pré-estabelecido. As primeiras células a se invaginar, por exemplo, encontram-se perto do nó primitivo e irão substituir o hipoblasto e formar o endoderma definitivo – futuro tubo digestivo. A segunda onda de células a invaginar no nó primitivo também terá destino bem preciso, originando o mesoderma cardiogênico, que irá contribuir na formação do coração. A próxima onda de células irá formar o mesoderma extraembrionário. Depois, terão outras ondas de células que, ao longo do tempo, vão ingressando no nó primitivo e se espalhando no organismo para formar importantes estruturas, como a notocorda, o mesoderma da cabeça, somitos, mesoderma intermediário e mesoderma da placa lateral. Após isso, termina a gastrulação e o que sobra do epiblasto vira ectoderma. O ectoderma, posteriormente, também irá se dividir em ectoderma cutâneo e neural. Com isso, ao fim da gastrulação o embrião terá os três folhetos embrionários: endoderma, mesoderma e ectoderma – camadas caracterizadas por células pluripotentes. EMBRIOLOGIA Segmentação do mesoderma Endoderma e seus derivados Tubo digestivo primitivo: sistema digestório e sistema respiratório. Mesoderma e seus derivados Notocorda; Paraxial: vértebras e músculos esqueléticos (somitos); Intermediário: sistema urogenital; placa lateral: somatopleura (membrana que contribui para formação da pele) e esplacnopleura (membrana que contribui para a formação do tubo digestivo, junto com a endoderma). OBS: Coluna vertebral e a maioria dos ossos também são originados a partir do mesoderma. Ectoderma e seus derivados Neuroectoderma: Sistema Nervoso Central (cérebro e medula) e Sistema Nervoso Periférico, podendo gerar também músculos, ossos da face e pescoço e melanócitos; Ectoderma não neural: epiderme (pele). OBS: Dos dois lados do tubo neural há somito, e ao lado dos somitos se encontram o mesoderma intermediário e, posteriormente, o mesoderma de placa lateral. Formação da notocorda Um dos primeiros mesodermas que se formam durante a gastrulação é o que dará origem a notocorda. A notocorda é um cordão de células (espécie de tubo) que começa a se formar a partir do nó primitivo e se alonga em direção ao crânio. Ao longo do desenvolvimento, o nó primitivo se retrai porém a notocorda continua a se alongar cranialmente, embaixo do epiblasto – sendo uma das primeiras estruturas a se formar. O processo notocordal ocorre entre o 16º e 22º dias, começando como um tubo oco. Uma vez formada, a notocorda vai se fundir com o endoderma definitivo que se localiza logo abaixo. Quando completamente fundida ao endoderma, a estrutura se abre. No entanto, depois a estrutura reverte o processo até a notocorda se soltar do endoderma, sendo essa agora um tubo fechado. Na fase de formação da notocorda, aparece temporariamente um canal neurentérico – que permite o saco vitelínico de se comunicar com o âmnio, porém ainda não se sabe ao certo sua função. A notocorda não permanece no adulto – acredita-se que parte desta forma o núcleo pulposo dos discos intervertebrais, mas somente em estágios iniciais do desenvolvimento, ou seja, em crianças. No entanto, é uma importante estrutura para o desenvolvimento do embrião. Ela proporciona um eixo rígido para formar os movimentos morfogenéticos e funciona como um centro EMBRIOLOGIA Segmentação do mesoderma de sinalização que coordena a formação dos somitos, que irão formar as vértebras e os músculos. Além disso, a notocorda contribui para a indução da placa neural, que irá formar o SNC e SNP. Somitos O mesoderma paraxial se segmenta em somitos, que se reorganizam em duas subdivisões: dermomiótomo (epitelial) e esclerótomo (mesenquimal). O esclerótomo dá origem às vértebras, enquanto o dermomiótomo se subdivide em dermátomo (abaixo do ectoderma) e miótomo (subjacente ao dermátomo). O dermátomo forma a derme da pele na região do tronco e o miótomo forma os músculos dorsais e ventro-laterais do corpo. Após a formação dos membros, as células do miótomo migram para o membro em desenvolvimento e dão origem aos músculos dos membros. Todos esses destinos são organizados através da localização de suas células nos somitos. A interação e comunicação entre os tecidos que estão se desenvolvendo são de extrema importância. A intersecção de várias vias de sinalização determina o destino das células, ou seja, sua diferenciação. Desenvolvimento de um somito: O somito sofre uma transição epitelial-mesenquimal, ou seja, as células passam a poder migrar. Quando as células, principalmente da região mediana, do somito se soltam, ele se abre e começa a se organizar. Dessa forma, as células migram para debaixo da notocorda, para entre a notocorda e tubo neural e para acima do tubo neural. Essas células mesenquimais (esclerótomo) se reorganizam e se fecham através da notocorda e através do tubo neural, o que vai formar a vértebra. O resto do somito (dermátomo e miótomo) também migram: as células do miótomo podem entrar no broto do membros – formando os futuros músculos –, enquanto as do dermátomo se fundem com o ectoderma não neural e forma a pele. Processo de ressegmentação: Intuitivamente, pensaria-se que cada vértebra é formada por dois somitos que estão dispostos contralateralmente, com o tubo neural entre eles. No entanto, não é isso que acontece. O somito se divide em dois compartimentos: uma anterior e outro posterior. Esses dois compartimentos se separam, o posterior se funde com o anterior do somito seguinte e essa novo estrutura – que é um híbrido de dois somitos consecutivos – se junta com a estrutura correspondente contralateral, formando a vértebra. Esse processo também é fundamental para os nervos espinhais alcançarem os músculos esqueléticos. EMBRIOLOGIA Segmentação do mesoderma Caso haja defeitos no desenvolvimento dos somitos e/ou fechamento das vértebras, ocorre o surgimento de doenças congênitas, como a espinha bífida ou a escoliose – que podem ser corrigidas com cirurgia. Formação de somitos: Pode ser explicado pelo modelo relógio e onda frontal. As células do mesoderma pré-somítico adquirem competência para se tornar somitos em resposta a gradientes opostos de FGF (começa na parte caudal do embrião e se difunde em direção a parte anterior) e ácido retinóico (começa na parte anterior do embrião e se difunde em direção a parte posterior). Entre os dois gradientes, onde encontra-se pouco FGF e ácido retinóico, o potencial de se formar somitos. Para acontecer a formação dos somitos, ocorre aexpressão de um gene marcador especial (Mesp). A medida que o embrião se alonga e cresce, a região caudal que expressa FGF se movimenta posteriormente. Ao mesmo tempo, novos somitos que são formados expressam ácido retinóico. Dessa forma, a região de competência se desloca posteriormente, permitindo a formação de novos somitos na direção crânio-caudal. FGF – fator de crescimento de fibroblasto; proteína sinalizadora e secretada que pode difundir e gerar um gradiente. Para ser possível saber quando formar novos somitos, é utilizado a via de sinalização de Notch. Notch é uma proteína que, quando ativada é capaz de sinalizar, indo para o núcleo e ativando a expressão de diversos genes. Um desses genes (Lunatic fringe) é inibidor de Notch – por isso ele oscila. Quando os níveis de Notch estão baixos, sinaliza que não é a hora de fazer um somito. Quando aumenta, significa que a zona é competente para fazer um novo somito. As oscilações dos níveis de Notch são o relógio no modelo Clock-Wavefront (modelo relógio e onda frontal). A ativação de Notch oscila ao longo do mesoderma pré-somítico. Ele é ativo no futuro compartimento anterior do somito, onde propicia a expressão de Mesp. Por sua vez, Mesp é um regulador negativo de Notch – ou seja, inibe sua expressão, pois significa que um somito já começou a ser feito. Para ocorrer a formação dos somitos, a proteína Mesp induz a expressão do receptor Eph (receptor da efrina) no compartimento anterior dos somitos. Por sua vez, Eph induz a expressão de efrina no compartimento posterior do somito antecedente. A efrina gera uma transição mesenquimal-epitelial, propiciando a epitelização do mesoderma pré-somítico através da expressão de moléculas de adesão intracelulares (integrinas), que organizam as células e o epitélio. Assim, forma-se o limite entre dois somitos vizinhos. EMBRIOLOGIA Segmentação do mesoderma Migração celular da crista neural A crista neural tem que atravessar os somitos, assim como os nervos. A efrina funciona como uma molécula “repelente química” pelas células da crista neural. Sempre que é expressa no compartimento posterior do somito, é capaz de bloquear a migração das células. Com isso, as células da crista neural que migram a partir da parte dorsal do tubo neural (lateralmente e ventralmente) e precisam atravessar os somitos conseguem o fazer somente pela parte anterior. Isso é importante pois, futuramente, as células da crista darão origem aos gânglios nervosos ao longo do corpo. Logo, a migração destas pelos somitos de forma controlada e precisa é fundamental para posicionar os gânglios de forma correta pelo corpo. Diferença de número e tamanho de vértebras em espécies distintas A diferença entre humanos e outras espécies não é grande a ponto de mudar o comprimento do mesoderma pré-somítico. O que muda é a frequência dos picos de Notch e o tempo de desenvolvimento do mesoderma pré-somítico (tempo necessário para formar os somitos). Por isso, em serpentes, por exemplo, há muito mais vértebras que em galinhas – pois possuem um tempo de desenvolvimento e oscilações de Notch mais rápidas. Diferença entre os tipos de vértebras A identidade das vértebras é concedida através dos genes Hox – são organizados em quatro grupos de genes parálogos (de A a D), em que cada grupamento pode ter até treze genes. A posição dos genes ao longo do cromossomo é colinear com o padrão de expressão durante o desenvolvimento e ao longo do eixo anterior-posterior do embrião. Os genes Hox na extremidade 3’ do agrupamento são expressos mais cedo durante a semitogênese e contribuem a especificar a identidade dos somitos mais craniais. Ou seja, genes Hox que se encontram na região inicial do agrupamento são expressos antes no desenvolvimento e regulam a identidade de vértebras mais cervicais. Ao contrário, genes que são expressos tardiamente se encontram na parte mais posterior do agrupamento e são responsáveis pela identidade de vértebras localizadas mais posteriormente. Os genes Hox não regulam a formação, em si, das vértebras – elas se formam por outros mecanismos. No entanto, os genes Hox dão a identidade dos tipos de vértebras. Transformações homeóticas devido à manipulação dos genes Hox em camundongos. EMBRIOLOGIA Segmentação do mesoderma Miótomo O miótomo é necessário para fazer os músculos esqueléticos e a expressão de MyoD é essencial pois especifica os precursores das células musculares (miótomo). Essas células irão formas os músculos esqueléticos e dos membros. Obviamente, a expressão da proteína MyoD precisa ser regulada e há mecanismos que realizam isso, como a miostatina – regula negativamente o desenvolvimento dos músculos. Mutações que eliminam ou inativam a miostatina levam a proliferação e crescimento anormal das fibras musculares, pois ocorre uma superexpressão de MyoD.
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