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SEGURANÇA INTERNACIONAL AULA 2 Prof.ª Caroline Cordeiro Viana e Silva 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo(a)! Nesta aula, aprenderemos o conceito de segurança, com o objetivo de entender como esse conceito foi introduzido nas Relações Internacionais, ou seja, pensar em que momento e de que forma os analistas de Relações Internacionais iniciaram os estudos de segurança. Vimos que o estudo teve início na área de assuntos estratégicos e, aos poucos, foi sendo desenvolvido nas grandes correntes teóricas das RI. Com o desenvolvimento da área de Relações Internacionais como um todo, foi possível que as subáreas se desenvolvessem e se responsabilizassem pelas conquistas de seus objetos. Isso inclui a subárea de Segurança Internacional. Pesquisadores de Relações Internacionais se dedicaram, exclusivamente, a entender a segurança internacional, o seu conceito, a sua evolução e também a sua aplicabilidade nos dias atuais. Tendo em vista o desenvolvimento da subárea de segurança internacional, nesta aula vamos nos dedicar às correntes teóricas específicas da área de segurança. Iniciaremos conversando sobre a teoria de securitização da Escola de Copenhague. Essa teoria será vista em dois momentos: primeiramente em sua versão ampliada e depois em seu conceito de processo de securitização. Em seguida, trataremos do conceito de segurança sob a luz da corrente de segurança humana. Seguiremos para a teoria pós-estruturalista e, por fim, veremos os debates dos estudos feministas de segurança internacional. TEMA 1 – ESCOLA DE COPENHAGUE – VISÃO AMPLIADA Na área de segurança internacional, conforme vimos anteriormente, o conceito de segurança era debatido particularmente entre as teorias clássicas das RI. Especial destaque para a teoria realista e neorrealista, que dominaram o debate de segurança desde o final da Primeira Guerra Mundial até os anos de 1980. Essa prevalência da teoria realista foi questionada por acadêmicos de Relações Internacionais, em especial os pesquisadores da Europa. (Pereira; Silva, 2018) Importante lembrar que esse movimento de renovação teórica liderado pelos europeus reflete o contexto vivenciado pelo continente. As marcas da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria permaneciam no dia a dia das 3 pessoas, alavancando o processo de análise acadêmica sobre o conceito de segurança. Nesse contexto foi criada, em 1985, a Escola de Copenhague, originalmente chamada de Copenhagen Peace Research Institute (Tanno, 2003). A Escola, formada inicialmente por Barry Buzan, Lene Hansen, Ole Waever e Jaap de Wilde, surgiu da insatisfação com o engessamento da teoria realista que mantinha apenas o Estado e suas teses militares como foco das questões de segurança. A insatisfação com o conceito de poder militar na segurança foi estimulada pelas agendas internacionais ambientais e econômicas durante as décadas de 1970 e de 1980. O argumento central dos autores da Escola foi formulado com base em três premissas: 1. A segurança deveria deixar de ser pensada apenas como defesa ou ataque. 2. As armas nucleares – reflexão feita em detrimento do contexto do pós-Segunda Guerra Mundial. Analisar somente os meios militares para entender a segurança não era mais suficiente, especialmente para entender a utilização ou não de armas nucleares. A disputa nuclear se tornou a arte de evitar guerras. 3. Um caráter civil fortalecido. Eram necessárias novas especialidades para desabilitar o oponente. Era importante, por exemplo, também analisar as fragilidades econômicas dos adversários (Silva, 2013). Os autores de Copenhague deixaram claro que o objetivo da Teoria de Securitização não é uma ruptura com as teorias tradicionais das Relações Internacionais, mas sim uma nova forma de analisar a política internacional. Os autores optaram por desenvolver a ideia lançando mão de conceitos clássicos da Teoria Realista e também da Teoria Construtivista (Silva, 2017). Na Teoria Realista é utilizada a centralidade do Estado, ou seja, a análise de securitização de um tema é baseada no Estado. Desta forma, a pergunta parte sempre da premissa de como um Estado securitiza determinado tema de segurança. Essa centralidade no Estado organiza a aplicação da Teoria de Securitização, vinculando o analista aos meios de o Estado lidar com determinado tema de segurança (Silva, 2013). Já na Teoria Construtivista, o conceito de construção social que é utilizado. Os autores de Copenhague entenderam que um problema de segurança é compreendido como de segurança por ser argumentado como tal. O mundo é construído por falas, conversas e relações sociais. Se um objetivo é visto como um tema de segurança, significa que houve um discurso nesse 4 sentido. Um agente securitizador argumenta em sua fala que determinado tema é uma ameaça à existência do Estado. É assim que se inicia a construção social do tema (Silva, 2019). Sendo assim, a securitização é um processo que trata de uma argumentação sobre o futuro. Os argumentos sempre envolvem a decisão em duas possibilidades de caminho: o que irá acontecer se não for tomada uma ação e o que ocorrerá se a ação for tomada. Partindo da ideia de que todo tema de segurança é visto efetivamente como um tema de segurança porque foi argumentando como tal, os autores definem que: a) Existe sempre um interlocutor, alguém que discursa pelo tema. Esse interlocutor é chamado de agente securitizador. b) O agente securitizador discursa sobre um tema, alegando que esse tema é uma ameaça à existência do Estado. (Buzan; Waever; Wilde, 1998) Nessa etapa da discussão, os autores argumentam que questões de segurança devem ser analisadas de forma mais ampla; não devemos olhar apenas para o setor militar. Os pesquisadores afirmam que uma ameaça à existência do Estado pode vir de diversos setores: econômico, político, societal, ambiental, militar e cibernético. Essa possiblidade de análise de diversos setores é chamada de visão ampliada da agenda de segurança (Silva, 2019). O setor militar concentra os temas focados em ameaças externas e também internas. Refere-se à possibilidade de um Estado ser atacado por outro Estado e a capacidade que ele tem de se defender militarmente de ameaças internas. Sendo assim, está relacionado às forças armadas, tanto ofensivas quanto defensivas. Também trata da capacidade dos Estados em perceberem a intensão (força, impetuosidade) dos outros Estados. O setor militar ocupa-se do uso do poder militar para defender os estados e governos de ameaças à sua integridade territorial (Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). No setor político são todas as questões que podem destruir ou abalar a estabilidade organizacional do Estado. Nesse setor são pensadas ameaças aos ideais do Estado, a sua base física e as instituições do Estado. As ameaças desse setor são pressões para a adoção de determinadas políticas, pedidos de substituição do governo e incentivos à sucessão (Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). No setor societal, as ameaças vêm de identidades coletivas que podem existir e funcionar sem a necessidade do Estado. São identidades que funcionam 5 como uma nação ou uma determinada religião e essa existência é independente do Estado local. Esse setor está ligado ao setor político, à segurança societal está relacionada com a estabilidade da organização governamental, ao sistema de governo e às ideologias de governos, que são ameaçadas por identidades coletivas de determinados grupos, sociedades. O setor econômico está vinculado à sobrevivência do Estado em uma lógica capitalista. Uma ameaça econômica pode também se tornar uma ameaça política e militar. Um tema econômico pode vir a se tornar um tema de segurança. É ameaçada a habilidade do Estado de manter a capacidade de produção quando existe a possibilidadede dependência econômica no mercado global e pela ameaça ao abastecimento de um Estado. Além desses aspectos singulares das economias estatais, também existe o temor de que a economia internacional viva uma grande crise econômica, ameaçando a existência de alguns Estados (Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). O setor ambiental é composto de duas premissas: o meio ambiente por si só e a qualidade de vida. O primeiro ponto é vinculado à agenda científica, já o segundo ponto é vinculado à agenda política. Embora elas se sobreponham e se moldem, a agenda científica é tipicamente incorporada por ciência e atividades não governamentais. Ela é construída fora dos fóruns políticos e composta, principalmente, por cientistas e instituições de pesquisa e oferece uma lista de problemas ambientais que prejudicam ou tem potencial para prejudicar a evolução da civilização atual. Já a agenda política é essencialmente governamental e intergovernamental. Consiste no processo público de tomada de decisão e políticas públicas que atendam às preocupações ambientais (Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). O último setor é o cibernético. A inclusão desse setor ocorreu com a revisão da Teoria de Securitização. Em sua versão original, publicada em 1998, eram previstos cinco setores, porém, com a inclusão da participação da autora Lane Hansen à Escola, foi incorporada também a sua pesquisa, propiciando a adesão do 6.º setor, o cibernético. Esse setor prevê que temas ciberespaciais também possam gerar ameaças à existência de Estados. Desta forma, crimes cibernéticos, por exemplo, podem ser temas favoráveis para o processo de securitização (Silva, 2019). 6 TEMA 2 – ESCOLA DE COPENHAGUE – PROCESSO DE SECURITIZAÇÃO O segundo tema desta aula está intimamente ligado com o primeiro. Conforme vimos na primeira parte da aula, a proposta da Escola de Copenhague para a Teoria de Securitização é de que a securitização é um processo socialmente construído pela interação entre agentes e estrutura. Os autores argumentam que um tema só se torna uma ameaça à existência de um Estado porque foi defendido em discurso como tal. Mas o discurso não é o único elemento para a securitização do tema, é necessária também a aceitação do público alvo (Buzan; Waever; Wilde, 1998). Para entender melhor essa afirmação, os pesquisadores do assunto definiram que todo tema passa um processo; inicia como uma ideia, uma sensação; percorre um caminho para que, ao fim, seja visto como uma real ameaça ao Estado. Esse caminho é chamado de processo de securitização (Silva; Pereira, 2017). O processo de securitização é definido em três etapas, sendo elas: não politizado, politizado e securitizado. Todo tema, quando considerado como um tema de segurança e analisado com a Teoria de Securitização, passa por essas etapas. Cabe ao pesquisador identificar em qual momento do processo está o seu tema de análise. Da mesma forma que todo tema pode caminhar de não politizado para politizado e, enfim, para securitizado, o caminho contrário também pode ocorrer, sendo chamado de dessecuritização (Silva, 2019). Para entender melhor, vamos analisar cada uma dessas etapas do processo e pensar como o tema caminha de uma etapa para outra. 2.1 Não politizado Em um processo de securitização, o primeiro status do tema é o não politizado. Estar como não politizado significa que já existe um discurso sobre o tema, porém o Estado não é envolvido. Ou seja, existe um agente securitizador que coloca em seu discurso um determinado tema. Esse discurso alega que o tema é uma ameaça à existência do Estado. Nessa etapa, o analista consegue identificar o agente securitizador e fazer a análise do conteúdo do discurso desse agente, mas ainda não é possível identificar uma pauta pública sobre o tema (Silva, 2013). 7 2.2 Politizado O avanço do tema no processo de securitização para a segunda etapa leva ao politizado. Nessa etapa, o agente securitizador permanece como responsável pelo discurso, o que muda é que o discurso do agente se ampliou de tal modo que temos o envolvimento do Estado. Para definir que o tema está em politizado é preciso confirmar o não politizado. Além disso, é necessário conferir se há uma política pública, se há decisões governamentais e se há alocação de recursos públicos para o tema. Importante notar que nessa etapa o tema ainda não é visto como uma real ameaça à existência do Estado, mas o discurso inicia o convencimento e o Estado passa a se envolver com o tema, utilizando o aparato estatal disponível para lidar com ele. Sendo assim, dois pontos são extremamente relevantes para essa etapa: o discurso do agente securitizador e o envolvimento do Estado com o tema, por meio da utilização dos aparatos estatais disponíveis. 2.3 Securitizado A última etapa possível para o processo de securitização é denominada securitizado. Nesse momento, existe a soma dos elementos das etapas anteriores e além disso: Aceitação do público-alvo de que é uma ameaça à existência do Estado. Exige uma ação do Estado que é emergencial, pontual e foge dos procedimentos políticos normais. Importante notar que essa etapa não conta apenas com o discurso, mas também com o chamado ato de fala. O ato de fala é um divisor de águas, muda o status do tema, por exemplo: “Estamos em Guerra”. O status anterior era sem guerra, o status atual é em guerra. Essa etapa exige um esforço do analista para a confirmação da securitização de um tema. É necessário que o analista identifique todos os elementos da etapa anterior e some a ela a identificação do ato de fala, a identificação da confirmação do público-alvo e a identificação de uma ação emergencial, pontual e que fuja da política comum do Estado. 8 Apenas com todos esses elementos é possível afirmar que um determinado tema foi securitizado. TEMA 3 – SEGURANÇA HUMANA Ao final dos anos de 1990, a agenda internacional e, especialmente, a agenda dos Estados Unidos priorizavam dois grandes temas: o desenvolvimento econômico e a segurança militar. Com o fim da Guerra Fria, foi possível entrelaçar esses dois temas. O entrelaçamento do desenvolvimento com a segurança oportunizou o surgimento do conceito de segurança humana (King; Murray, 2000, p. 585). Os dois grandes autores da teoria de segurança humana, King e Murray (2000), definem que a segurança humana é o número de anos de vida futura fora do estado de pobreza generalizada, sendo que o conceito de pobreza generalizada é estar abaixo do limiar do bem-estar humano. Desta forma, segurança humana é o número de anos de vida sem estar abaixo do limiar do bem-estar. Segurança não é sinônimo do nível médio de bem-estar futuro, mas refere-se aos riscos de ser severamente privado. E o que podemos entender por bem-estar? Buscando compreender o que pode ser considerado bem-estar, a ONU cria a Unicef e passa a pensar no desenvolvimento humano. O objetivo era não pensar apenas na renda per capita, mas analisar outras variáveis como expectativa de vida, nutrição e escolaridade populacional. Esse é um importante marco para o conceito de segurança: a ONU, representando seus Estados-membros, aponta para a necessidade de se parar de falar em segurança apenas limitando-se a fronteiras. Foi o início das verificações de IDH. Desde então, a ONU lança anualmente os dados de IDH por país. Apesar de ser questionado na academia, o IDH representou uma importante mudança de foco ao enfatizar as dimensões do desenvolvimento vinculadas diretamente aos seres humanos. Representa a primeira corrente teórica que pensou a segurança do indivíduo e não do Estado. Importante notar que esse encontro entre os analistas de desenvolvimento e os analistas de segurança foi importante por capturar interesses políticos e recursos financeiros. Vendo a segurança humana não comopreocupação com armas, e sim como a preocupação com a dignidade humana. 9 Os autores King e Murray (2000, p. 592) definem a segurança humana da seguinte forma: “Definimos a segurança humana de um indivíduo como a expectativa de anos de vida sem enfrentar o estado de pobreza generalizada. A segurança humana da população é então uma agregação da segurança humana dos indivíduos.” (tradução nossa). O conceito de segurança humana traz um importante ganho para as teorias de relações internacionais. Durante a década de 1990, todas as construções conceituais foram importantes, principalmente por apresentarem perspectivas diferentes da visão realista clássica e mesmo sua versão neorrealista. TEMA 4 – PÓS-ESTRUTURALISMO Os pós-estruturalistas aqui representados por Campbell apresentam uma crítica à teoria neorrealista, e, com isso, repensam o conceito de segurança. Nas décadas anteriores, o perigo era constatado como dado, como fixo; os eventos eram vistos como uma ameaça por si só. Esse é o ponto questionado pelos pós- estruturalistas. Campbell demonstra que a reação a um determinado evento é que determinará se um tema é de segurança ou não. Para entender essa visão, Campbell nos convida a refletir sobre como o Iraque passou a representar um perigo aos Estados Unidos, mesmo estando tão distante. Essa noção de perigo mudou ao longo do tempo. Na década de 1980, Irã e Iraque entraram em conflito e os EUA não reagiram com intensidade, ou seja, não consideraram o evento como um risco à segurança do país. Já na década de 1990, o Iraque é compreendido como um risco, como uma relevante questão de segurança, revelando como o perigo é um efeito da interpretação de eventos. O conceito de segurança é uma interpretação dos riscos. Ou seja, é necessário que primeiro ocorra um evento para depois verificar a interpretação desse evento. A interpretação pode variar conforme a identidade de cada ator. O que é considerado um perigo, uma questão de segurança, é o resultado do cálculo de uma ameaça que objetiva eventos, disciplina as relações e sequestra um ideal de identidade das pessoas que estão em risco. Avançando, o autor afirma que não existe nada que esteja fora do discurso, o que gera um peso sobre a interpretação. A obra de Cynthia Weber (1995) contribuirá, também, para a construção do pensamento pós-estruturalista. Enquanto o ponto central de Campbell era a 10 identidade, Weber desenvolveu seu argumento centrado na questão da soberania. O importante é notar que ambos os autores focam seus estudos na importância da análise de conteúdo de discurso. O discurso dos agentes é que irá determinar se uma questão é ou não de segurança internacional. TEMA 5 – ESTUDOS FEMINISTAS DE SEGURANÇA Os estudos feministas também fizeram importantes contribuições para os estudos de segurança. Dentre toda a produção dos estudos feministas de segurança, dois deles serão enfatizados em nossa aula. O primeiro é o clássico texto de Ann Tickner: Gender in international relations: feminist perspectives on achieving global security, publicado em 1992 e amplamente debatido nos anos 2000. O segundo texto apresentado será de Cynthia Enloe: Base women, que teve sua primeira publicação em 1969, mas que será trabalhado aqui segundo a versão do capítulo do livro International security, de 2007. Tickner tem o propósito de mostrar como a política internacional é uma esfera de atividade masculinizada. Para a autora, a disciplina acadêmica de Relações Internacionais privilegia questões que crescem com base em experiências dos homens. As Relações Internacionais – como disciplina – leva seus acadêmicos a acreditarem que as políticas de guerra e poder são esferas de atividade em que os homens têm uma afinidade especial e que suas vozes na descrição e prescrição para este mundo são, portanto, mais autênticas (Tickner, 1992). Especificamente sobre segurança internacional, Tickner defende que a segurança deve ser entendida como ampla. Pensar no conceito ampliado de segurança desprende os analistas do pensamento exclusivo militar e propicia a possibilidade de debates mais próximos das experiências das mulheres. E com essa proposta de ampliação, a autora sugere que o conceito de segurança verdadeiramente abrangente inclui questões de gênero e a eliminação de dominação e subordinação. Cynthia Enloe também contribui para a construção dos estudos feministas de segurança. Assim como Ticker, Enloe trabalha com a invisibilidade feminina. A diferença é que Ticker trabalhou com invisibilidade acadêmica e Enloe trabalhou com bases militares. Enloe mostra em seus estudos como as bases militares passam a fazer parte da rotina, da vida cotidiana da localização em que estão, e quais são as consequências disso. 11 Uma base estrangeira exige um ajuste especialmente delicado das relações entre homens e mulheres, pois se o ajuste entre homens locais e estrangeiros e mulheres locais e estrangeiras se romper, a base poderá perder sua camuflagem protetora. Pode se tornar alvo de ressentimentos nacionalistas, o que pode subverter a própria estrutura de uma aliança militar. Desde a Segunda Guerra Mundial, a mulher ocupou diversos papéis, no retorno dos militares aos seus países de origem, na administração individual da família durante o período dos homens nas bases, mulheres como militares. Mas a academia pouco pensou nas mulheres que viveram no entorno da base e a sua relação com os militares. Ao analisar o conjunto, essas experiências aparentemente diferentes das mulheres se somam a uma política governamental de gênero. Ao analisar bases militares, é possível identificar a política de gênero no setor mais tradicional das Relações Internacionais, o setor militar (Enloe, 2007). As duas autoras apresentadas nessa subseção são apenas o início do pensamento feminista sobre segurança. O que lhes é comum é a identificação da falta de representatividade feminina ao se pensar em segurança e relações internacionais. NA PRÁTICA Refletindo especialmente sobre os estudos feministas de segurança e tentando repensar sobre a área de Relações Internacionais de maneira geral, retome seus livros das disciplinas: Teoria de Relações Internacionais, Teorias Contemporâneas de Relações Internacionais e História Contemporânea das Relações Internacionais. Visite as referências bibliográficas e verifique quantas das referências citadas são mulheres. Reflita, particularmente, sobre as Teorias Clássicas de Relações Internacionais: realismo, neorrealismo, liberalismo, neoliberalismo, Teoria Crítica, Escola Inglesa e Teoria de Regimes. Quem são os autores principais dessas teorias? Há mulheres? Quantas? FINALIZANDO Nesta aula, estudamos o desenvolvimento da área de estudos de segurança internacional. Vimos que muitas das teorias contemporâneas nascem do descontentamento do engessamento das teorias tradicionais da área. Todas 12 as novas vertentes contribuíram com a área ao refletirem sobre o conceito de segurança e por pensarem em como esse conceito melhor se adequa para a análise das relações internacionais. Iniciamos a aula conversando sobre a Escola de Copenhague, em especial a sua teoria de securitização. Vimos que a colaboração da Escola foi importante por sugerir a ampliação da agenda de segurança. Os autores propõem que temas de segurança podem vir de seis setores, são eles: militar, ambiental, político, econômico, societal, cibernético. Além disso, a Escola de Copenhague sugere que temas de segurança são socialmente construídos, ou seja, dependem da relação entre agente e estrutura. Todo tema precisa de um agente securitizador que discurse sobre ele. Os temas passam por um processo de securitização, dividido em três etapas: não politizado, politizado e securitizado. Seguindo em frente, tratamos do conceito de segurança humana.O diferencial dessa corrente é a proposta de pensar segurança por indivíduos e não por Estados. Atrelada ao desenvolvimento e à segurança, a proposta é pensar a segurança humana como o número de anos de vida sem estar abaixo do limiar do bem-estar. Alinhado a esse pensamento está a ONU e a verificação do IDH dos países. A próxima teoria que estudamos foi o pós-estruturalismo pensado para a área de segurança. Aqui verificamos que o conceito de segurança é uma interpretação dos riscos, ou seja, é necessário que primeiro ocorra um evento para depois verificar a interpretação desse evento. Assim como a Teoria de Securitização, para os pós-estruturalistas o discurso é a chave para a compreensão. Por fim, o último tema de nossa aula esteve voltado aos estudos feministas de segurança internacional. Nesse ponto, verificamos a ausência das mulheres nos temas de segurança. Essa ausência ocorre de duas formas. A primeira é na própria academia. As autoras mulheres não são estudadas e referenciadas. O segundo ponto é a ausência de estudos sobre mulheres em regiões de bases militares e em regiões de conflito. 13 REFERÊNCIAS BUZAN, B.; WAEVER, O.; WILDE, J. de. Security: a new framework for analysis. Boulder: Lynne Reinner, 1998. ENLOE, C. Base women. In: BUZAN, B.; HANSEN, L. (Org.). International security. 1. ed. Londres: Sage Publications, 2007. p. 105–128. v. II. KING, G.; MURRAY, C. Rethinking human security. Political science quarterly, v. 116, n. 617, p. 585–610, 2000. PEREIRA, A. E.; SILVA, C. C. V. e. Processo de securitização: uma análise sistêmica da aplicação do conceito de securitização em artigos internacionais. In: 11.º ENCONTRO DA ABCP, 2018, Curitiba. Anais... Curitiba: 11° Encontro da ABCP, 2018. SILVA, C. C. V. e. Escola de Copenhague: um avanço teórico. In: 6.º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2017, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Anais eletrônicos, 2017. ______. C. C. V. e. Segurança internacional e novas ameaças: a securitização do narcotráfico na fronteira brasileira. 127 f. Tese. (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2013. ______. Securitização: uma análise da aplicação empírica para operacionalizar o conceito de securitização da Escola de Copenhague. 225 f. Tese. (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2019. TANNO, G. A contribuição da Escola de Copenhague aos estudos de Segurança Internacional. Contexto Internacional, v. 25, p. 47–80, 2003. TICKNER, J. A. Gender in international relations feminist perspectives on achieving global security. Nova Iorque: Columbia University Press, 1992. v. 4. Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09612029500200139>. Acesso em: 19 nov. 2019. http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09612029500200139
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