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SEGURANÇA INTERNACIONAL - AULA 2

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SEGURANÇA INTERNACIONAL 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Caroline Cordeiro Viana e Silva 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Seja bem-vindo(a)! 
Nesta aula, aprenderemos o conceito de segurança, com o objetivo de 
entender como esse conceito foi introduzido nas Relações Internacionais, ou 
seja, pensar em que momento e de que forma os analistas de Relações 
Internacionais iniciaram os estudos de segurança. Vimos que o estudo teve início 
na área de assuntos estratégicos e, aos poucos, foi sendo desenvolvido nas 
grandes correntes teóricas das RI. 
Com o desenvolvimento da área de Relações Internacionais como um 
todo, foi possível que as subáreas se desenvolvessem e se responsabilizassem 
pelas conquistas de seus objetos. Isso inclui a subárea de Segurança 
Internacional. Pesquisadores de Relações Internacionais se dedicaram, 
exclusivamente, a entender a segurança internacional, o seu conceito, a sua 
evolução e também a sua aplicabilidade nos dias atuais. 
Tendo em vista o desenvolvimento da subárea de segurança 
internacional, nesta aula vamos nos dedicar às correntes teóricas específicas da 
área de segurança. Iniciaremos conversando sobre a teoria de securitização da 
Escola de Copenhague. Essa teoria será vista em dois momentos: 
primeiramente em sua versão ampliada e depois em seu conceito de processo 
de securitização. Em seguida, trataremos do conceito de segurança sob a luz da 
corrente de segurança humana. Seguiremos para a teoria pós-estruturalista e, 
por fim, veremos os debates dos estudos feministas de segurança internacional. 
TEMA 1 – ESCOLA DE COPENHAGUE – VISÃO AMPLIADA 
Na área de segurança internacional, conforme vimos anteriormente, o 
conceito de segurança era debatido particularmente entre as teorias clássicas 
das RI. Especial destaque para a teoria realista e neorrealista, que dominaram o 
debate de segurança desde o final da Primeira Guerra Mundial até os anos de 
1980. Essa prevalência da teoria realista foi questionada por acadêmicos de 
Relações Internacionais, em especial os pesquisadores da Europa. (Pereira; 
Silva, 2018) 
Importante lembrar que esse movimento de renovação teórica liderado 
pelos europeus reflete o contexto vivenciado pelo continente. As marcas da 
Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria permaneciam no dia a dia das 
 
 
3 
pessoas, alavancando o processo de análise acadêmica sobre o conceito de 
segurança. Nesse contexto foi criada, em 1985, a Escola de Copenhague, 
originalmente chamada de Copenhagen Peace Research Institute (Tanno, 
2003). 
A Escola, formada inicialmente por Barry Buzan, Lene Hansen, Ole 
Waever e Jaap de Wilde, surgiu da insatisfação com o engessamento da teoria 
realista que mantinha apenas o Estado e suas teses militares como foco das 
questões de segurança. A insatisfação com o conceito de poder militar na 
segurança foi estimulada pelas agendas internacionais ambientais e econômicas 
durante as décadas de 1970 e de 1980. 
O argumento central dos autores da Escola foi formulado com base em 
três premissas: 1. A segurança deveria deixar de ser pensada apenas como 
defesa ou ataque. 2. As armas nucleares – reflexão feita em detrimento do 
contexto do pós-Segunda Guerra Mundial. Analisar somente os meios militares 
para entender a segurança não era mais suficiente, especialmente para entender 
a utilização ou não de armas nucleares. A disputa nuclear se tornou a arte de 
evitar guerras. 3. Um caráter civil fortalecido. Eram necessárias novas 
especialidades para desabilitar o oponente. Era importante, por exemplo, 
também analisar as fragilidades econômicas dos adversários (Silva, 2013). 
Os autores de Copenhague deixaram claro que o objetivo da Teoria de 
Securitização não é uma ruptura com as teorias tradicionais das Relações 
Internacionais, mas sim uma nova forma de analisar a política internacional. Os 
autores optaram por desenvolver a ideia lançando mão de conceitos clássicos 
da Teoria Realista e também da Teoria Construtivista (Silva, 2017). 
Na Teoria Realista é utilizada a centralidade do Estado, ou seja, a análise 
de securitização de um tema é baseada no Estado. Desta forma, a pergunta 
parte sempre da premissa de como um Estado securitiza determinado tema de 
segurança. Essa centralidade no Estado organiza a aplicação da Teoria de 
Securitização, vinculando o analista aos meios de o Estado lidar com 
determinado tema de segurança (Silva, 2013). 
Já na Teoria Construtivista, o conceito de construção social que é 
utilizado. Os autores de Copenhague entenderam que um problema de 
segurança é compreendido como de segurança por ser argumentado como tal. 
O mundo é construído por falas, conversas e relações sociais. Se um objetivo é 
visto como um tema de segurança, significa que houve um discurso nesse 
 
 
4 
sentido. Um agente securitizador argumenta em sua fala que determinado tema 
é uma ameaça à existência do Estado. É assim que se inicia a construção social 
do tema (Silva, 2019). 
Sendo assim, a securitização é um processo que trata de uma 
argumentação sobre o futuro. Os argumentos sempre envolvem a decisão em 
duas possibilidades de caminho: o que irá acontecer se não for tomada uma 
ação e o que ocorrerá se a ação for tomada. Partindo da ideia de que todo tema 
de segurança é visto efetivamente como um tema de segurança porque foi 
argumentando como tal, os autores definem que: a) Existe sempre um 
interlocutor, alguém que discursa pelo tema. Esse interlocutor é chamado de 
agente securitizador. b) O agente securitizador discursa sobre um tema, 
alegando que esse tema é uma ameaça à existência do Estado. (Buzan; Waever; 
Wilde, 1998) 
Nessa etapa da discussão, os autores argumentam que questões de 
segurança devem ser analisadas de forma mais ampla; não devemos olhar 
apenas para o setor militar. Os pesquisadores afirmam que uma ameaça à 
existência do Estado pode vir de diversos setores: econômico, político, societal, 
ambiental, militar e cibernético. Essa possiblidade de análise de diversos setores 
é chamada de visão ampliada da agenda de segurança (Silva, 2019). 
 O setor militar concentra os temas focados em ameaças externas e 
também internas. Refere-se à possibilidade de um Estado ser atacado por outro 
Estado e a capacidade que ele tem de se defender militarmente de ameaças 
internas. Sendo assim, está relacionado às forças armadas, tanto ofensivas 
quanto defensivas. Também trata da capacidade dos Estados em perceberem a 
intensão (força, impetuosidade) dos outros Estados. O setor militar ocupa-se do 
uso do poder militar para defender os estados e governos de ameaças à sua 
integridade territorial (Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). 
No setor político são todas as questões que podem destruir ou abalar a 
estabilidade organizacional do Estado. Nesse setor são pensadas ameaças aos 
ideais do Estado, a sua base física e as instituições do Estado. As ameaças 
desse setor são pressões para a adoção de determinadas políticas, pedidos de 
substituição do governo e incentivos à sucessão (Buzan, Barry; Waever, Ole; 
Wilde, 1998). 
No setor societal, as ameaças vêm de identidades coletivas que podem 
existir e funcionar sem a necessidade do Estado. São identidades que funcionam 
 
 
5 
como uma nação ou uma determinada religião e essa existência é independente 
do Estado local. Esse setor está ligado ao setor político, à segurança societal 
está relacionada com a estabilidade da organização governamental, ao sistema 
de governo e às ideologias de governos, que são ameaçadas por identidades 
coletivas de determinados grupos, sociedades. 
O setor econômico está vinculado à sobrevivência do Estado em uma 
lógica capitalista. Uma ameaça econômica pode também se tornar uma ameaça 
política e militar. Um tema econômico pode vir a se tornar um tema de segurança. 
É ameaçada a habilidade do Estado de manter a capacidade de produção 
quando existe a possibilidadede dependência econômica no mercado global e 
pela ameaça ao abastecimento de um Estado. Além desses aspectos singulares 
das economias estatais, também existe o temor de que a economia internacional 
viva uma grande crise econômica, ameaçando a existência de alguns Estados 
(Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). 
O setor ambiental é composto de duas premissas: o meio ambiente por si 
só e a qualidade de vida. O primeiro ponto é vinculado à agenda científica, já o 
segundo ponto é vinculado à agenda política. Embora elas se sobreponham e 
se moldem, a agenda científica é tipicamente incorporada por ciência e 
atividades não governamentais. Ela é construída fora dos fóruns políticos e 
composta, principalmente, por cientistas e instituições de pesquisa e oferece 
uma lista de problemas ambientais que prejudicam ou tem potencial para 
prejudicar a evolução da civilização atual. Já a agenda política é essencialmente 
governamental e intergovernamental. Consiste no processo público de tomada 
de decisão e políticas públicas que atendam às preocupações ambientais 
(Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998). 
O último setor é o cibernético. A inclusão desse setor ocorreu com a 
revisão da Teoria de Securitização. Em sua versão original, publicada em 1998, 
eram previstos cinco setores, porém, com a inclusão da participação da autora 
Lane Hansen à Escola, foi incorporada também a sua pesquisa, propiciando a 
adesão do 6.º setor, o cibernético. Esse setor prevê que temas ciberespaciais 
também possam gerar ameaças à existência de Estados. Desta forma, crimes 
cibernéticos, por exemplo, podem ser temas favoráveis para o processo de 
securitização (Silva, 2019). 
 
 
 
6 
TEMA 2 – ESCOLA DE COPENHAGUE – PROCESSO DE SECURITIZAÇÃO 
O segundo tema desta aula está intimamente ligado com o primeiro. 
Conforme vimos na primeira parte da aula, a proposta da Escola de Copenhague 
para a Teoria de Securitização é de que a securitização é um processo 
socialmente construído pela interação entre agentes e estrutura. Os autores 
argumentam que um tema só se torna uma ameaça à existência de um Estado 
porque foi defendido em discurso como tal. Mas o discurso não é o único 
elemento para a securitização do tema, é necessária também a aceitação do 
público alvo (Buzan; Waever; Wilde, 1998). 
Para entender melhor essa afirmação, os pesquisadores do assunto 
definiram que todo tema passa um processo; inicia como uma ideia, uma 
sensação; percorre um caminho para que, ao fim, seja visto como uma real 
ameaça ao Estado. Esse caminho é chamado de processo de securitização 
(Silva; Pereira, 2017). 
O processo de securitização é definido em três etapas, sendo elas: não 
politizado, politizado e securitizado. Todo tema, quando considerado como um 
tema de segurança e analisado com a Teoria de Securitização, passa por essas 
etapas. Cabe ao pesquisador identificar em qual momento do processo está o 
seu tema de análise. Da mesma forma que todo tema pode caminhar de não 
politizado para politizado e, enfim, para securitizado, o caminho contrário 
também pode ocorrer, sendo chamado de dessecuritização (Silva, 2019). 
Para entender melhor, vamos analisar cada uma dessas etapas do 
processo e pensar como o tema caminha de uma etapa para outra. 
2.1 Não politizado 
Em um processo de securitização, o primeiro status do tema é o não 
politizado. Estar como não politizado significa que já existe um discurso sobre 
o tema, porém o Estado não é envolvido. Ou seja, existe um agente securitizador 
que coloca em seu discurso um determinado tema. Esse discurso alega que o 
tema é uma ameaça à existência do Estado. 
Nessa etapa, o analista consegue identificar o agente securitizador e fazer 
a análise do conteúdo do discurso desse agente, mas ainda não é possível 
identificar uma pauta pública sobre o tema (Silva, 2013). 
 
 
7 
2.2 Politizado 
O avanço do tema no processo de securitização para a segunda etapa 
leva ao politizado. Nessa etapa, o agente securitizador permanece como 
responsável pelo discurso, o que muda é que o discurso do agente se ampliou 
de tal modo que temos o envolvimento do Estado. 
Para definir que o tema está em politizado é preciso confirmar o não 
politizado. Além disso, é necessário conferir se há uma política pública, se há 
decisões governamentais e se há alocação de recursos públicos para o tema. 
Importante notar que nessa etapa o tema ainda não é visto como uma real 
ameaça à existência do Estado, mas o discurso inicia o convencimento e o 
Estado passa a se envolver com o tema, utilizando o aparato estatal disponível 
para lidar com ele. 
Sendo assim, dois pontos são extremamente relevantes para essa etapa: 
o discurso do agente securitizador e o envolvimento do Estado com o tema, por 
meio da utilização dos aparatos estatais disponíveis. 
2.3 Securitizado 
A última etapa possível para o processo de securitização é denominada 
securitizado. Nesse momento, existe a soma dos elementos das etapas 
anteriores e além disso: 
 Aceitação do público-alvo de que é uma ameaça à existência do Estado. 
 Exige uma ação do Estado que é emergencial, pontual e foge dos 
procedimentos políticos normais. 
Importante notar que essa etapa não conta apenas com o discurso, mas 
também com o chamado ato de fala. O ato de fala é um divisor de águas, muda 
o status do tema, por exemplo: “Estamos em Guerra”. O status anterior era sem 
guerra, o status atual é em guerra. 
Essa etapa exige um esforço do analista para a confirmação da 
securitização de um tema. É necessário que o analista identifique todos os 
elementos da etapa anterior e some a ela a identificação do ato de fala, a 
identificação da confirmação do público-alvo e a identificação de uma ação 
emergencial, pontual e que fuja da política comum do Estado. 
 
 
8 
Apenas com todos esses elementos é possível afirmar que um 
determinado tema foi securitizado. 
TEMA 3 – SEGURANÇA HUMANA 
Ao final dos anos de 1990, a agenda internacional e, especialmente, a 
agenda dos Estados Unidos priorizavam dois grandes temas: o desenvolvimento 
econômico e a segurança militar. Com o fim da Guerra Fria, foi possível 
entrelaçar esses dois temas. O entrelaçamento do desenvolvimento com a 
segurança oportunizou o surgimento do conceito de segurança humana (King; 
Murray, 2000, p. 585). 
Os dois grandes autores da teoria de segurança humana, King e Murray 
(2000), definem que a segurança humana é o número de anos de vida futura 
fora do estado de pobreza generalizada, sendo que o conceito de pobreza 
generalizada é estar abaixo do limiar do bem-estar humano. Desta forma, 
segurança humana é o número de anos de vida sem estar abaixo do limiar do 
bem-estar. Segurança não é sinônimo do nível médio de bem-estar futuro, mas 
refere-se aos riscos de ser severamente privado. 
E o que podemos entender por bem-estar? Buscando compreender o que 
pode ser considerado bem-estar, a ONU cria a Unicef e passa a pensar no 
desenvolvimento humano. O objetivo era não pensar apenas na renda per capita, 
mas analisar outras variáveis como expectativa de vida, nutrição e escolaridade 
populacional. 
Esse é um importante marco para o conceito de segurança: a ONU, 
representando seus Estados-membros, aponta para a necessidade de se parar 
de falar em segurança apenas limitando-se a fronteiras. Foi o início das 
verificações de IDH. Desde então, a ONU lança anualmente os dados de IDH 
por país. Apesar de ser questionado na academia, o IDH representou uma 
importante mudança de foco ao enfatizar as dimensões do desenvolvimento 
vinculadas diretamente aos seres humanos. Representa a primeira corrente 
teórica que pensou a segurança do indivíduo e não do Estado. 
Importante notar que esse encontro entre os analistas de 
desenvolvimento e os analistas de segurança foi importante por capturar 
interesses políticos e recursos financeiros. Vendo a segurança humana não 
comopreocupação com armas, e sim como a preocupação com a dignidade 
humana. 
 
 
9 
Os autores King e Murray (2000, p. 592) definem a segurança humana da 
seguinte forma: “Definimos a segurança humana de um indivíduo como a 
expectativa de anos de vida sem enfrentar o estado de pobreza generalizada. A 
segurança humana da população é então uma agregação da segurança humana 
dos indivíduos.” (tradução nossa). O conceito de segurança humana traz um 
importante ganho para as teorias de relações internacionais. Durante a década 
de 1990, todas as construções conceituais foram importantes, principalmente por 
apresentarem perspectivas diferentes da visão realista clássica e mesmo sua 
versão neorrealista. 
TEMA 4 – PÓS-ESTRUTURALISMO 
Os pós-estruturalistas aqui representados por Campbell apresentam uma 
crítica à teoria neorrealista, e, com isso, repensam o conceito de segurança. Nas 
décadas anteriores, o perigo era constatado como dado, como fixo; os eventos 
eram vistos como uma ameaça por si só. Esse é o ponto questionado pelos pós-
estruturalistas. Campbell demonstra que a reação a um determinado evento é 
que determinará se um tema é de segurança ou não. 
Para entender essa visão, Campbell nos convida a refletir sobre como o 
Iraque passou a representar um perigo aos Estados Unidos, mesmo estando tão 
distante. Essa noção de perigo mudou ao longo do tempo. Na década de 1980, 
Irã e Iraque entraram em conflito e os EUA não reagiram com intensidade, ou 
seja, não consideraram o evento como um risco à segurança do país. Já na 
década de 1990, o Iraque é compreendido como um risco, como uma relevante 
questão de segurança, revelando como o perigo é um efeito da interpretação de 
eventos. 
O conceito de segurança é uma interpretação dos riscos. Ou seja, é 
necessário que primeiro ocorra um evento para depois verificar a interpretação 
desse evento. A interpretação pode variar conforme a identidade de cada ator. 
O que é considerado um perigo, uma questão de segurança, é o resultado do 
cálculo de uma ameaça que objetiva eventos, disciplina as relações e sequestra 
um ideal de identidade das pessoas que estão em risco. Avançando, o autor 
afirma que não existe nada que esteja fora do discurso, o que gera um peso 
sobre a interpretação. 
A obra de Cynthia Weber (1995) contribuirá, também, para a construção 
do pensamento pós-estruturalista. Enquanto o ponto central de Campbell era a 
 
 
10 
identidade, Weber desenvolveu seu argumento centrado na questão da 
soberania. O importante é notar que ambos os autores focam seus estudos na 
importância da análise de conteúdo de discurso. O discurso dos agentes é que 
irá determinar se uma questão é ou não de segurança internacional. 
TEMA 5 – ESTUDOS FEMINISTAS DE SEGURANÇA 
Os estudos feministas também fizeram importantes contribuições para os 
estudos de segurança. Dentre toda a produção dos estudos feministas de 
segurança, dois deles serão enfatizados em nossa aula. O primeiro é o clássico 
texto de Ann Tickner: Gender in international relations: feminist perspectives on 
achieving global security, publicado em 1992 e amplamente debatido nos anos 
2000. O segundo texto apresentado será de Cynthia Enloe: Base women, que 
teve sua primeira publicação em 1969, mas que será trabalhado aqui segundo a 
versão do capítulo do livro International security, de 2007. 
Tickner tem o propósito de mostrar como a política internacional é uma 
esfera de atividade masculinizada. Para a autora, a disciplina acadêmica de 
Relações Internacionais privilegia questões que crescem com base em 
experiências dos homens. As Relações Internacionais – como disciplina – leva 
seus acadêmicos a acreditarem que as políticas de guerra e poder são esferas 
de atividade em que os homens têm uma afinidade especial e que suas vozes 
na descrição e prescrição para este mundo são, portanto, mais autênticas 
(Tickner, 1992). 
Especificamente sobre segurança internacional, Tickner defende que a 
segurança deve ser entendida como ampla. Pensar no conceito ampliado de 
segurança desprende os analistas do pensamento exclusivo militar e propicia a 
possibilidade de debates mais próximos das experiências das mulheres. E com 
essa proposta de ampliação, a autora sugere que o conceito de segurança 
verdadeiramente abrangente inclui questões de gênero e a eliminação de 
dominação e subordinação. 
Cynthia Enloe também contribui para a construção dos estudos feministas 
de segurança. Assim como Ticker, Enloe trabalha com a invisibilidade feminina. 
A diferença é que Ticker trabalhou com invisibilidade acadêmica e Enloe 
trabalhou com bases militares. Enloe mostra em seus estudos como as bases 
militares passam a fazer parte da rotina, da vida cotidiana da localização em que 
estão, e quais são as consequências disso. 
 
 
11 
Uma base estrangeira exige um ajuste especialmente delicado das 
relações entre homens e mulheres, pois se o ajuste entre homens locais e 
estrangeiros e mulheres locais e estrangeiras se romper, a base poderá perder 
sua camuflagem protetora. Pode se tornar alvo de ressentimentos nacionalistas, 
o que pode subverter a própria estrutura de uma aliança militar. 
Desde a Segunda Guerra Mundial, a mulher ocupou diversos papéis, no 
retorno dos militares aos seus países de origem, na administração individual da 
família durante o período dos homens nas bases, mulheres como militares. Mas 
a academia pouco pensou nas mulheres que viveram no entorno da base e a 
sua relação com os militares. Ao analisar o conjunto, essas experiências 
aparentemente diferentes das mulheres se somam a uma política governamental 
de gênero. Ao analisar bases militares, é possível identificar a política de gênero 
no setor mais tradicional das Relações Internacionais, o setor militar (Enloe, 
2007). 
As duas autoras apresentadas nessa subseção são apenas o início do 
pensamento feminista sobre segurança. O que lhes é comum é a identificação 
da falta de representatividade feminina ao se pensar em segurança e relações 
internacionais. 
NA PRÁTICA 
Refletindo especialmente sobre os estudos feministas de segurança e 
tentando repensar sobre a área de Relações Internacionais de maneira geral, 
retome seus livros das disciplinas: Teoria de Relações Internacionais, Teorias 
Contemporâneas de Relações Internacionais e História Contemporânea das 
Relações Internacionais. Visite as referências bibliográficas e verifique quantas 
das referências citadas são mulheres. Reflita, particularmente, sobre as Teorias 
Clássicas de Relações Internacionais: realismo, neorrealismo, liberalismo, 
neoliberalismo, Teoria Crítica, Escola Inglesa e Teoria de Regimes. Quem são 
os autores principais dessas teorias? Há mulheres? Quantas? 
FINALIZANDO 
Nesta aula, estudamos o desenvolvimento da área de estudos de 
segurança internacional. Vimos que muitas das teorias contemporâneas nascem 
do descontentamento do engessamento das teorias tradicionais da área. Todas 
 
 
12 
as novas vertentes contribuíram com a área ao refletirem sobre o conceito de 
segurança e por pensarem em como esse conceito melhor se adequa para a 
análise das relações internacionais. 
Iniciamos a aula conversando sobre a Escola de Copenhague, em 
especial a sua teoria de securitização. Vimos que a colaboração da Escola foi 
importante por sugerir a ampliação da agenda de segurança. Os autores 
propõem que temas de segurança podem vir de seis setores, são eles: militar, 
ambiental, político, econômico, societal, cibernético. 
Além disso, a Escola de Copenhague sugere que temas de segurança 
são socialmente construídos, ou seja, dependem da relação entre agente e 
estrutura. Todo tema precisa de um agente securitizador que discurse sobre ele. 
Os temas passam por um processo de securitização, dividido em três etapas: 
não politizado, politizado e securitizado. 
Seguindo em frente, tratamos do conceito de segurança humana.O 
diferencial dessa corrente é a proposta de pensar segurança por indivíduos e 
não por Estados. Atrelada ao desenvolvimento e à segurança, a proposta é 
pensar a segurança humana como o número de anos de vida sem estar abaixo 
do limiar do bem-estar. Alinhado a esse pensamento está a ONU e a verificação 
do IDH dos países. 
A próxima teoria que estudamos foi o pós-estruturalismo pensado para a 
área de segurança. Aqui verificamos que o conceito de segurança é uma 
interpretação dos riscos, ou seja, é necessário que primeiro ocorra um evento 
para depois verificar a interpretação desse evento. Assim como a Teoria de 
Securitização, para os pós-estruturalistas o discurso é a chave para a 
compreensão. 
Por fim, o último tema de nossa aula esteve voltado aos estudos 
feministas de segurança internacional. Nesse ponto, verificamos a ausência das 
mulheres nos temas de segurança. Essa ausência ocorre de duas formas. A 
primeira é na própria academia. As autoras mulheres não são estudadas e 
referenciadas. O segundo ponto é a ausência de estudos sobre mulheres em 
regiões de bases militares e em regiões de conflito. 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
BUZAN, B.; WAEVER, O.; WILDE, J. de. Security: a new framework for analysis. 
Boulder: Lynne Reinner, 1998. 
ENLOE, C. Base women. In: BUZAN, B.; HANSEN, L. (Org.). International 
security. 1. ed. Londres: Sage Publications, 2007. p. 105–128. v. II. 
KING, G.; MURRAY, C. Rethinking human security. Political science quarterly, 
v. 116, n. 617, p. 585–610, 2000. 
PEREIRA, A. E.; SILVA, C. C. V. e. Processo de securitização: uma análise 
sistêmica da aplicação do conceito de securitização em artigos internacionais. 
In: 11.º ENCONTRO DA ABCP, 2018, Curitiba. Anais... Curitiba: 11° Encontro 
da ABCP, 2018. 
SILVA, C. C. V. e. Escola de Copenhague: um avanço teórico. In: 6.º 
ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS, 2017, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Anais 
eletrônicos, 2017. 
______. C. C. V. e. Segurança internacional e novas ameaças: a securitização 
do narcotráfico na fronteira brasileira. 127 f. Tese. (Doutorado em Ciência 
Política) – Universidade Federal do Paraná, 2013. 
______. Securitização: uma análise da aplicação empírica para operacionalizar 
o conceito de securitização da Escola de Copenhague. 225 f. Tese. (Doutorado 
em Ciência Política) – Universidade Federal do Paraná, 2019. 
TANNO, G. A contribuição da Escola de Copenhague aos estudos de Segurança 
Internacional. Contexto Internacional, v. 25, p. 47–80, 2003. 
TICKNER, J. A. Gender in international relations feminist perspectives on 
achieving global security. Nova Iorque: Columbia University Press, 1992. v. 4. 
Disponível em: 
<http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09612029500200139>. Acesso 
em: 19 nov. 2019. 
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09612029500200139

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