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Husserl e Fenomenologia Universidade Estácio de Sá Fundamentos Epistêmicos de Psicologia Professora: Liana Ximenes Contexto Histórico Husserl nasceu em 1859, na Morávia (Antiga Áustria) e hoje República Tcheca Morreu em 1938, em Freiburg, na Alemanha. Viveu em um contexto histórico que: o conhecimento científico trazia benefícios a humanidade e que havia discussão sobre o uso negativo desse conhecimento na I Grande Guerra Mundial (1914 a 1918) Fenomenologia Husserl foi fundador da fenomenologia. Fenomenologia – A fenomenologia não é ciência de fatos, e sim ciência de essências. A fenomenologia é a descrição de todos os fenômenos, ou eidos ou essências, ou significação de todas estas realidades: materiais, naturais, ideais, culturais. Ex: Triângulo trata-se de uma figura de três lados no mesmo plano. ‘Fenomenologia’ – designa uma ciência, uma conexão de disciplinas científicas; mas, ao mesmo tempo e acima de tudo, ‘fenomenologia’ designa um método e uma atitude intelectual: a atitude intelectual especificamente filosófica, o método especificamente filosófico. E. Husserl Para Husserl, a fenomenologia seria então, "(...) uma ciência rigorosa, mas não exata, uma ciência eidética que procede por descrição e não por dedução. Ela se ocupa de fenômenos, mas com uma atitude diferente das ciências exatas e empíricas. Os seus fenômenos são os vividos da consciência, os atos e os correlatos dessa consciência". Fenomenologia significa: • Conhecimento daquilo que se manifesta para nossa consciência, daquilo que está presente para a consciência ou para a razão, daquilo que é organizado e explicado a partir da própria estrutura da consciência. • A verdade se refere aos fenômenos e os fenômenos são o que a consciência conhece. O lema de Husserl "volta às coisas nelas mesmas" é uma tentativa de aproximação às coisas sem preconceitos ou pressupostos interpretativos. Assim Husserl define a fenomenologia como "ciência dos fenômenos", sendo fenômeno compreendido como o que é imediatamente dado em si mesmo à consciência. Essências A essência buscada pela fenomenologia não é somente enquanto uma definição, mas deve ser vista como uma significação, que deve ser descrita de maneira o mais natural possível a partir não do que é pensado e sim experienciado. Consciência e objeto não são, com efeito, duas entidades separadas na natureza. Se a consciência é sempre “consciência de alguma coisa” e se o objeto é sempre “objeto para a consciência”, é impossível que se possa sair fora dessa correlação, já que, fora dela, não haveria nem consciência nem objeto. Intencionalidade da consciência Um dos princípios básicos da fenomenologia diz respeito à intencionalidade da consciência. Assim, a consciência é sempre "consciência de alguma coisa", estando dirigida para um objeto. Por sua vez, o objeto também é sempre "objeto-para-um-sujeito". Consciência e objeto não são entidades separadas na natureza, mas, definem-se, respectivamente, a partir dessa correlação. Intencionalidade da Consciência • Tudo que o homem pensa, quer, ama ou teme, é intencional. • E por sua vez, o conjunto dos fenômenos, o conjunto das significações, tem um significado maior, que abrange todos os outros. • A consciência é caracterizada pela intencionalidade, porque ela é sempre a consciência de alguma coisa. O sentido, ou significação, quando universal e necessário, é a essência das coisas. A verdade é o conhecimento das essências universais e necessárias ou o conhecimento das significações constituídas pela consciência reflexiva ou pela razão reflexiva. Consciência e objeto Pois as coisas em si não têm sentido, nós é que as interpretamos, ou seja, é somente na consciência que as coisas têm sentido. Desse modo, a consciência está sempre direcionada para um objeto e o “objeto só pode ser definido em relação a uma consciência, ele é sempre objeto-para-um-sujeito”. Pois se nos dirigirmos ao objeto em si, ou seja, àquele que está presente neste ou naquele lugar, não conheceremos nada dele; Do mesmo modo, nada conheceremos se nos direcionarmos para o objeto representado na consciência. Por essa razão, Husserl propõe o retorno “às coisas mesmas”, ou seja, à vivência original do objeto. É dessa vivência original que podemos conceber um objeto no mundo. Noesis e Noema Os atos da consciência são noesis e o que é visado por ela são os nóemas. Husserl batizará com o nome de noesis a atividade da consciência e com o nome de nóema o objetivo constituído por essa atividade. Noesis significa o ato intencional da consciência, ou seja, a disposição do sujeito para ver um objeto. Noema significa aquilo que é visto. Redução Fenomenológica ou Epoché Redução fenomenológica ou epoché - é por entre parênteses os pré-conceitos, os pré- juízos - característicos da “atitude natural” na vida cotidiana -, para chegarmos às coisas mesmas. Isto expressa que não devemos partir de “verdades” estabelecidas, de que não devemos utilizá-las como ponto de partida para um uso filosófico Redução Fenomenológica Redução é uma mudança da atitude natural para a fenomenológica, que nos permite visualizar o mundo e o sujeito como fenômeno, como constituintes de uma totalidade, na qual ambos revelam-se, reciprocamente, como significações. Epoché Epoché “[...] pela epoché fenomenológica, reduzo o meu eu humano natural e a minha vida psicológica – domínio da minha experiência psicológica interna – ao meu eu transcendental e fenomenológico, domínio da experiência interna transcendental e fenomenológica”. (Husserl, 2001, p. 39). Epoché Termo grego que quer dizer suspensão do consentimento ou do juízo. Assim, após ter colocado o mundo e o eu psicológico entre parênteses e ter atingido o eu transcendental fenomenológico, é possível construir uma ciência puramente descritiva da consciência pura transcendental. Naturalismo • Para Kant e para Husserl, o erro e a falsidade encontram-se no realismo, isto é, na suposição de que os conceitos ou as significações se refiram a uma realidade em si, independente do sujeito do conhecimento. • Esse erro e essa falsidade, Kant chamou de dogmatismo e Husserl, de atitude natural ou tese natural do mundo. Naturalismo ou Atitude Natural • A atitude natural do homem é feita de persuasões variadas, úteis e necessárias a vida cotidiana. • E a primeira dessas persuasões é a de que vivemos em um mundo de coisas existentes. • Essas persuasões devem ser postas entre parênteses. • Não é que o filósofo duvide delas: ele muito mais as põe fora de uso, não as utilizando como fundamento de sua filosofia. Racionalismo e Empirismo Através da noção de intencionalidade, é tentada a superação das tendências racionalistas e empiristas, pretendendo a fenomenologia superar a dicotomia razão-experiência no processo de conhecimento. Ao contrário dos racionalistas, a fenomenologia afirma que não há pura consciência, separada do mundo, mas toda consciência é consciência de alguma coisa. Ao mesmo tempo, contrariando os empiristas, os fenomenólogos afirmam que não há objeto em si, mas o objeto existe para um sujeito, sujeito esse que atribui significados ao objeto Husserl e Hegel A fenomenologia afasta-se da solução hegeliana, pois não admite que as formas e os conteúdos da razão mudem no tempo e com o tempo. Elas se enriquecem e se ampliam no tempo, mas não se transformam por causa do Tempo. Filosofia para Husserl Segundo Husserl, somente a filosofia, compreendida enquanto ciência absolutamente rigorosa, pode fornecer a si mesma e às demais ciências uma possibilidade real de fundamentação. A filosofia, a fim de realizar tal tarefa, deve prescindir dos dados empíricos do conhecimento prático, encontrando acesso à evidência plena a partir de uma apreensão da idealidade transcendente. Husserl classificou a “filosofiacomo ciência rigorosa”. A filosofia não é uma ciência exata, mas é rigorosa. Crítica de Husserl ao Psicologismo • A fenomenologia nasce com Husserl como polêmica antipsicologista. • No final do século XIX e no início do século XX, muitos pensadores julgaram que a psicologia tomaria o lugar da teoria do conhecimento e da lógica e, portanto, da Filosofia. Psicologia e Filosofia Na opinião deles, a ciência positiva do psiquismo seria suficiente para explicar as causas das formas de conhecimento e das demonstrações, sem necessidade de investigações filosóficas. Husserl, porém, veio demonstrar o equívoco de tal opinião. A psicologia, diz ele, como toda e qualquer ciência, estuda e explica fatos observáveis, mas não pode oferecer os fundamentos de tais estudos e explicações, pois esses cabem à Filosofia. A Psicologia explica, por meio de observações e de relações causais, fatos mentais e comportamentais, isto é, os mecanismos físicos, fisiológicos e psíquicos que nos fazem ter sensações, percepções, lembranças, pensamentos ou que nos permitem realizar ações pelas quais nos adaptamos ao meio ambiente. A Filosofia, porém, difere da psicologia, porque investiga o que é o físico, o fisiológico, o psíquico, o comportamental. Em outras palavras, não explica fatos mentais e de comportamento, mas descreve as essências da vida física e psíquica. Filósofo estuda a percepção, pergunta → “O que é a percepção?” Psicólogo pergunta → “Como acontece uma percepção?”. A razão não estuda os conteúdos psicológicos de minha vida pessoal, mas pergunta: O que é a vida psíquica? O que são e como são a memória, a imaginação, a sensação, a percepção? Importância da Fenomenologia em diversos campos Existencialismo (Heidegger e Sartre) Corrente filosófica cuja ênfase é a responsabilidade do homem sobre o seu destino e seu livre arbítrio. Jasper – visão da psicopatologia ressaltou a importância da investigação fenomenológica da experiência subjetiva do paciente. Psicopatologia fenomenológica compreende que a existência do sujeito é saúde e patologia, ao mesmo tempo. Normalidade e saúde não são aspectos dicotômicos do ser. Psicologia humanista A Psicologia Humanista busca conhecer o ser humano, contrariando a visão do homem como um ser condicionado pelo mundo externo. Esse ser humano tem consciência do mundo que o cerca, dos fenômenos e da sua experiência consciente. O psicólogo precisa encontrar o significado nos objetos do mundo ideal do seu paciente, a fim de poder lidar com a situação psicológica. Referências Chauí M. Convite à filosofia. Silva ML A intencionalidade da consciência em Husserl. Argumentos, Ano 1, N°.1 – 2009. ZILES U. Fenomenologia e teoria do conhecimento em Husserl. Rev. abordagem gestalt. 2007, vol.13, n.2, pp. 216-221. Reale G, Antiseri D. História da Filosofia. De Nietzsche à Escola de Frankfurt. São Paulo: Paulus, 2006.