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Universidade de Ribeirão Preto Faculdade de Direito Laudo de Camargo Curso de Direito Mandado de Segurança Coletivo MARIA EDUARDA CASTRO CORRÊA RIBEIRÃO PRETO Junho/2021 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO RESUMO O presente trabalho acadêmico tem como finalidade tratar sobre o instituto mandando de segurança coletivo, bem como sua diferença com o convencional mandado de segurança individual e a pertinência dos partidos políticos. Para tanto foram utilizadas doutrinas, legislação vigente e jurisprudências. 1 INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 visando a celeridade e economia processual estabeleceu institutos referentes a proteção dos interesses coletivos e difusos, tais como a possibilidade de manuseamento do mandado de segurança não apenas de forma singular, mas também coletiva. Esse direito é regulado nos artigos 21 e 22 da Lei nº 12.016, e similar ao mandado de segurado individual, o coletivo pretende amparar direito líquido e certo, mas voltado à classe corporativa, isto é, não relacionado a um indivíduo isoladamente, e sim a um grupo de pessoas. Desde que, haja ato ilegal ou abusivo cometido por autoridade, e esse direito não seja amparado por habeas corpus ou habeas data. O objetivo deste presente trabalho é tratar sobre o instituto do mandado de segurança coletivo, mais especificamente, identificar e analisar as diferenças deste e o mandado de segurança individual. Ademais tratar sobre a eventual discussão a respeito da pertinência temática aos partidos políticos e analisar julgado sobre o tema. 2 CONSIDERAÇÕES 2.1 Diferenças entre mandado de segurança individual e coletivo O mandado de segurança coletivo, como já mencionado acima, cuida do direito líquido e certo de um grupo de pessoas, o qual não seja amparado por Habeas Corpos ou Habeas Data, e que tenha sido negado ou ameaçado por autoridade pública. Enquanto a modalidade individual, como o próprio nome já aponta, se refere ao direito de um indivíduo isoladamente. No que diz respeito a legitimidade ativa para propor o mandado de segurança, enquanto que no individual compete às partes da relação processual (legitimidade ordinária); no coletivo essa legitimidade é limitada (legitimidade extraordinária), estabelecida no art. 5º, LXX, da CRFB/88 e repetidas no art. 23 da Lei nº 12.016, quais sejam: partido político com representação no Congresso Nacional; organização sindical; entidade de classe e associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; Como visto, a legitimidade do mandado de segurança coletivo é extraordinária, ou seja, os legitimados pleiteiam direitos dos sujeitos a eles associados. Ademais, já pacífico o entendimento de que se trata de uma substituição processual e não representação, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial a seguir: “Quando expresso dispositivo constitucional permitiu que o partido político, a organização sindical, a entidade de classe e a associação impetrassem mandado de segurança coletivo, agindo, assim, em juízo, em nome próprio, como autores, para defesa de direito líquido e certo de seus membros ou associados (art. 5º, LXX, a e b), pela primeira vez, em nosso direito processual e constitucional, a figura da substituição processual foi acolhida, com relação ao writ of mandamus.”1 “AgRg nos EDcl na PET no REsp 573482 / RS. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA PETIÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. 2003/0112989-7 PROCESSUAL CIVIL – MANDADO DE SEGURANÇA – RENÚNCIA AO DIREITO QUE SE FUNDA A AÇÃO – ATO UNILATERAL DO AUTOR – ILEGITIMIDADE DOS SUBSTITUÍDOS PROCESSUAIS. 1. O STJ pacificou o entendimento de que a desistência do mandado de segurança pode ser requerida a qualquer tempo, desde que efetuada em momento anterior à prolação da sentença. 2. "A renúncia ao direito é o ato unilateral com que o autor dispõe do direito subjetivo material que afirmara ter, importando a extinção da própria relação de direito material que dava causa à execução forçada, consubstanciando instituto bem mais amplo que a desistência da ação, que opera tão-somente a extinção do processo sem resolução do mérito, permanecendo íntegro o direito material, que poderá ser objeto de nova ação a posteriori." (EREsp 35.615/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 22.4.2009, Dje 11.5.2009.) 1 CRETELLA JÚNIOR, José. Do mandado de segurança coletivo . 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 58. 3. Carecem os substituídos processua is de legitimidade para renunciar o direito a que se funda a ação, pois este direito assiste somente ao autor impetrante do mandado de segurança coletivo. Agravo regimental improvido”. Por consequência dessa substituição processual, não há necessidade de autorização prévia e expressa dos associados das entidades previstas no rol de legitimadas a propor mandado de segurança coletivo. Consoante a esse entendimento, o Tribunal de Justiça deliberou nesse sentido: “AgRg no REsp 1030488 / PE AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2008/0029150-2 PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO AO INCRA. ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. INSTRUÇÃO DA INICIAL COM A RELAÇÃO NOMINAL DOS FILIADOS. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. DESPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. 1. Esta Corte de Justiça, seguindo o posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, firmou entendimento no sentido de que "(...) as entidades elencadas no inciso LXX, 'b', do art. 5º da Carta Magna, atuando na defesa de direito ou de interesses jurídicos de seus representados - substituição processual, ao impetrarem mandado de segurança coletivo, não necessitam de autorização expressa deles, nem tampouco de apresentarem relação nominativa nos autos" (REsp 220.556/DF, 5ª Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 5.3.2001). 2. Agravo regimental desprovido. (destacado) Por fim, o Supremo Tribunal Federal consagrou o entendimento da dispensa de autorização para o ingresso da ação de mandado de segurança coletivo editando a Súmula n. 629, que tem a seguinte redação: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe de autorização destes”. Com isto, indiretamente, admitiu também a existência de substituição processual relativamente aos legitimados do mandado de segurança coletivo. 2.2 Pertinência temática no caso dos partidos políticos O artigo 21 da Lei nº 12.016, foi claro ao delimitar a competência dos partidos políticos ao interesse de seus integrantes ou à finalidade partidária: Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legít imos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária Antes da criação da citada lei, havia controvérsias quanto aos direitos a serem defendidos pelos partidos políticos. Alguns entendiam que, em razão da regra aberta do artigo 5º, inciso LXX, a, da CRFB/88, os partidos políticos poderiam defender, através de mandado de segurança coletivo, quaisquer direitos, até mesmo não relacionados com seus filiados e questões políticas. Agora, com o advento da nova lei, não restam dúvidas quanto a admissibilidade da substituição processual dos partidos políticos. Contudo, apesar da expressa previsão, o entendimento que prevalece é de que não seria ilícito acatar a literalidade do artigo 21 da Lei 12.016 sem considerar a destinação institucional dos partidos políticos, prevista no artigo 1º da Lei nº 9.096/1995 (Lei dos Partidos Políticos), que dispõe ser pessoa jurídica de direito privado que se destina a “assegurar, no interesse do regime democrático,a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal”. Sendo assim, a função do partido político, no sistema democrático de direito, não se restringe a defesa de seus filiados, mas sim uma entidade que se empenha em defender os direitos de toda comunidade a qual a instituição destina-se a servir, tanto política como socialmente. Nesse sentido escreve TEORI ALBINO ZAVASCKI, in verbis: “No que respeita à legitimação dos partidos políticos, em suma, a pretensão do mandado de segurança coletivo não está limitada aos interesses particulares de seus filiados. Tal limitação implicaria não apenas o desvirtuamento da natureza da agremiação partidária – que não foi criada para satisfazer interesses dos filiados – como também a eliminação, na prática, da faculda de de impetrar segurança coletiva. Assim, há de se entender que o partido político está legitimado a impetrar mandado de segurança coletivo com objetivos mais abrangentes, com a única limitação de estarem situados no âmbito de sua finalidade institucional e do seu programa”.2 Na jurisprudência, prevalece o entendimento de que os direitos fundamentais podem ser protegidos pelos partidos políticos por meio do mandado coletivo, sem se restringir ao plano dos seus integrantes, conforme julgado do STJ: “CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. (...) EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS DO INTERESSE DA COLETIVIDADE. ART. 5º, XXXIII, DA CF. 2 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo. Tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 197. 1. Dentre os Direitos e Garantias Fundamentais capitulados no art. 5º da Constituição Federal está inserido o de que ‘todos têm direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo em geral, que serão prestados no prazo de lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado’ (inciso XXXIII). 2. Inequívoco que os documentos cuja exibição foi requerida pelos impetrantes não estão protegidos pelo sigilo prescrito no art. 38 da Lei 1.595/64, sendo sua publicidade indispensável à demonstração da transparência dos negócios realizados pela Administração Pública envolvendo interesses patrimoniais e sociais da coletividade como um todo. 3. Recurso ordinário conhecido e provido para, reformando o acórdão impugnado, conceder a segurança nos termos do pedido formulado pelos recorrentes”. A citada Jurisprudência referente a mandado de segurança coletivo, não apenas exemplifica a aplicação do instituto, mas também esclarece o assunto quanto a pertinência temática dos partidos políticos com representação no Congresso Nacional. Não se limitando a assuntos referentes a seus integrantes, tão pouco voltados exclusivamente a política, tendo em vista sua destinação institucional. 3 CONCLUSÃO Com base no que foi apresentado, pode-se observar que o instituto de mandado de segurança coletivo foi um avanço de suma importância à tutela dos direitos coletivos e individuais homogêneos no sistema jurídico brasileiro. Que se difere do mandando de segurança em individual em diversos sentidos, especialmente quanto a sua abrangência e seus legitimados ativos. Apesar de haver controvérsias quando a pertinência temática dos partidos políticos, tem se entendido pela proteção mais abrangente, permitindo que este maneje mandado de segurança coletivo a fim de proteger e resguardar direitos e garantias individuais, considerando sua destinação institucional expressa em lei. Portanto, o objetivo do presente trabalho não foi esgotar o tema, mas sim abordar entendimentos recentes que são fruto de discussões tanto doutrinarias quanto jurisprudenciais sobre o referido tema. REFERÊNCIAS BRASIL, legislação. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Apud BRASIL. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei do Mandado de Segurança comentada: artigo por artigo. 2. ed. Rio de Janeiro, 2019.
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