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@claimafra - MEDufob DEFINIÇÃO Pode ser definida de várias maneiras: seja em relação ao volume e/ou constância, seja em relação à frequência dos movimentos intestinais. Na prática, diarreia é uma condição relacionada com o aumento da frequência e a diminuição da consistência das fezes. Tecnicamente, é quando há evacuação de mais de 20g/kg/dia em bebês e crianças pequenas ou mais de 200g/dia em crianças mais velhas e adultos. EPIDEMIOLOGIA ● Dois bilhões de casos de doença diarreica ao ano no mundo ● 1,9 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade morrem por causa de diarreia ● Isso significa 18% de todas as mortes de crianças com menos de 5 anos ● Mais de 5.000 crianças morrem a cada dia como resultado de doenças diarreicas ● 78% destas mortes ocorrem na África e no sudeste Asiático FISIOPATOLOGIA Ocorre quando quantidades excessivas de fluido permanecem dentro da luz do intestino – pode ocorrer devido ao aumento da secreção na luz intestinal, ou redução da absorção de água da luz para o corpo. Ocorre por 3 mecanismos distintos: 1. Perda de absorção de nutrientes ou a presença de solutos não absorvíveis na luz intestinal. Ex: doença celíaca ou inflamação. 2. Aumento da secreção ou absorção reduzida de eletrólitos (Na+, Cl-, K+, HCO3-) através do epitélio. Ex: Diarreia secundária à infecção por Vibrio Cholarae, secreção excessiva de cloreto e perda de absorção de sódio eletroneutro. 3. Trânsito intestinal rápido: Tempo reduzido para absorção de fluidos. Ex: Hipermotilidade do intestino. CLASSIFICAÇÃO - Pela patogênese, duração, etiologia ou pelo segmento intestinal acometido. SEGMENTO INTESTINAL Diarreia alta: se tiver alimentos não digeridos (intestino delgado). Nessa deixa de absorver muito líquido, são mais aquosas pode ter uma diminuição da frequência, no entanto, com um volume maior. Ocorre na Cólera, ETEC, Clostridium perfrigens e toxinas que causam a diarreia aquosa, S. aureus, Bacillus cereus, rotavírus, norovírus, cryptosporidium, microsporídios. Diarreia baixa: Frequência maior com volume menor de fezes. Diarreia inflamatória, acometimento do cólon, presença de leucócitos em exames de fezes e de lactoferrina. Patógenos: Shigella, EIEC, EHEC, entamoeba hytolítica, salmonelas não tifoides, clostridium dificile, campylobacter jejuni. @claimafra - MEDufob POTENCIAIS COMPLICAÇÕES DE DIARREIAS AGUDAS - Bacteremia: Shhigella, salmonela entérica, Campulobacter fetus – o risco fica aumentado em pacientes com SIDA. - Síndrome hemolítico urêmica: Shigella, E. coli produtora de Shiga toxina – dano endotelial. - Síndrome de Guillain-Barré: Campylobacter jejuni - Artrite reativa: Campylobacter jejuni, Salmonela, Shigella flexneri. PATOGÊNESE Induzida pela dieta (osmótica): substâncias osmoticamente ativas estão presentes na luz intestinal, resultando na retenção de água. Ex: intolerância à lactose, ou administração de um soluto não absorvível como Polietilenoglicol 3350. A diarreia nesses casos pode diminuir com o jejum 12h. Relacionada ao transporte de eletrólitos (secretória): resultado de alterações nos mecanismos de transporte de íons em células epiteliais – persiste sem diminuição durante o jejum, por ser independente de nutrientes osmo-ativos ingeridos. - Bactérias enterotoxigênicas: Vibrio cholerae (cólera) – causa secreção fluida maciça de Cl- e água e também enterotoxinas do Clostridium perfringens e C. dificile, além da E. coli. - Vírus enterotoxigênicos: Rotavírus – causa secreção de Cl- transepitelial dependente de Ca2+. - Outras: Mediada por peptídeos gastrointestinais, ácidos biliares e medicamentos, defeitos congênitos. Motiliddade: Hipermotibilidade contribui para a patogênese da diarreia funcional. Ex: síndrome do intestino irritável. Relacionada à inflamação: Múltiplos mecanismos – componente induzido pela dieta (destruição ou comprometimento das células epiteliais); Diarreia relacionada ao transporte de eletrólitos, induzindo secreção de Cl- ativa e perda de absorção de Na+. Processo inflamatório também pode levar à quebra da função da barreira intestinal resultando na exsudação de muco, proteína e sangue no lúmen intestinal. FATORES MICROBIANOS Neurotoxinas: S. aureus SN autônomo hiperperistaltismo Enterotoxinas: Vibrio cholerar mucosa aumento de secreção e a E. coli também (EPEC). Citotoxinas: Shigella destruição da mucosa – inflamação; E coli (EHEC), Clostridium, S. aureus, Campulobacter jejuni. Invasibodade: Destruição da mucosa inflamação (Shigella) Outros: Rotavírus, norovírus destroem células da borda em escova diminui a absorção. FATORES DO HOSPEDEIRO Genotipo, higiene pessoal, acidez gástrica e outras barreiras físicas, motilidade intestinal, microflora intestinal, imunidade (fagócitos, humoral, mediada por células), fatores de leite humano. ANAMNESE Frequência – Diferenciação entre alta e baixa Presença de sangue – Diarreia inflamatória Presença de muco – Diarreia inflamatória Presença de restos alimentares – Acometimento do delgado Volume – Diferenciação entre alta e baixa Febre – Diarreia inflamatória Uso de antimicrobianos e resposta – diarreia associada a antimicrobianos – diarreia bacteriana Viagens – Patógenos locais Vômitos Estado de hidratação Associação com alimentos específicos – intolerâncias Associação com jejum - intolerâncias Comorbidades – etiologias específicas Tenesmo – diarreia baixa Perda ponderal – associada à desidratação OBS: Presença de febre e sangue são indicativos de antibiótico. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Doença celíaca Diverticulite – inflamação e sangramento Síndrome do intestino irritável Doenças inflamatórias intestinais como doença de Crohn. EXAME FÍSICO Peso corporal Temperatura Pulso/frequência cardíaca e respiratória @claimafra - MEDufob Pressão arterial Detalhes pediátricos: Evidência de problemas associados nas crianças COMO AVALIAR O ESTADO DE HIDRATAÇÃO? - Sinal da prega: no adulto – utilizar a região supraclavicular, no idoso pode não ser eficaz. Nas crianças pode ser feito em vários locais. Sede Capacidade de ingesta Fontanela Nível de consciência (irritabilidade – rebaixamento): Letargia, sonolência excessiva, hipoatividade severa Pulso – frequência, amplitude Mucosas Pele – presença cutânea – turgor, pele fria, acinzentada, levedo reticular, axila seca Tempo de enchimento capilar PA – PAM Débito urinário Laboratoriais: Lactato, pH, ureia e creatinina ETIOLOGIA E PATOGÊNESE CARACTERÍSTICAS E REVISÃO Se a diarreia aparece até 8h após a ingestão de um alimento – Causada por toxina, que pode ser de S. aureus, clostridium d., clostridium perfrigens. Muitas toxinas mexem com o funcionamento da célula, aumentando secreção, e consequentemente a perda de água. Outras toxinas podem causar destruição tecidual também, a exemplo da Shigella (inúculo muito pequeno), E. coli enterohemorrágica, clostridium perfrigens, clostridium dificile. O S. aureus e compulobacter por exemplo, produzem toxinas que levam a destruição da mucosa. O rotavírus destroem a borda em escova, causando diarreia por diminuição da absorção. Cólera – diarreia aquosa por mecanismos secretórios com grandes volumes. A diarreia típica da cólera é em água de arroz. Importante classificar a diarreia em inflamatória X não inflamatória: Buscar leucócitos nas fezes (sangue ou muco), presença de lesão de mucosa. OBS: FALANDO SOBRE PATÓGENOS ESPECÍFICOS SALMONELAS Salmonelas são bactérias gram-negativas com formato de bacilo da família enterobacteriaceae: importância epidemiológica, pois podem estar presentes em vários mamíferos e outros animais. Existem dois grupos as que causam febre tifoide,febre reumáticas e as não tifoides. As que causam febre tifoide causam uma série de alterações orgânicas específicas e podem não causar enterites. As não tifoides causam as enterites que podem causar uma bacteremia: artrite, endocardite. Várias complicações associadas à salmonela: gastroenterites, febre tifoide, bacteremia e infecção endovascular, infecções metastáticas focais como osteomielites ou abscessos e o estado de carreador assintomático. Transmissão Tipos de alimentos: Ovo, frango, leite, maionese, carne, peixe, leite, água contaminada, frutas. Contato com animais: Répteis e anfíbios (cobras, lagartos, tartarugas, iguanas, sapos, galinhas, patos, cachorros, gatos, hamsters e ratos. Tratamento: antimicrobiano, se tiver desidratação é importante hidratar o paciente. . @claimafra - MEDufob SHIGELLA Patogênese: invasão da mucosa, reação inflamatória intestinal Complicações: Megacólon tóxico – dilatação do cólon com isquemia associada que pode levar à perfuração; bacteremia, hipovolemia, hiponatremia, quadro neurológico, artrite reativa. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA E DIAGNÓSTICO As vezes será necessário a busca do patógeno, mas maioria das vezes o tratamento será empírico ou só hidratação ou antimicrobiano empírico + hidratação. Quando solicitar testes? Surtos, casos internados (evolução grave), diarreia persistente – mais de 14 dias sem melhora com antimicrobiano. Pós-carnaval é normal ter doenças diarreicas e faringoamigdalites. O período de incubação pode sugerir qual a provável causa – quando o tempo é muito rápido após ter comido determinado alimento, provavelmente tenha sido causada por toxinas pré- formadas (S. aureus e bacillus cereus), quando passa de 24h já não pensamos mais em toxinas TRATAMENTO Terapia de reidratação em adultos e crianças TRO: Reidratação – água e eletrólitos para repor as perdas; Terapia líquida de manutenção para compensar as perdas que persistem após alcançar a reidratação. Tratamento suplementar com zinco, multivitaminas e minerais em crianças: adicionada à TRO – reduz modestamente a severidade. 20mg de zinco por dia durante 10 dias em todas as crianças com diarreia. Lactentes de 2 meses ou menores recebem 10mg por dia durante 10 dias. Dieta: Interromper a administração de alimentos durante mais de 4 horas é incorreto! Continuar com alimentação normal nos casos nos quais não há sinais de desidratação, e reintroduzi-la apenas seja corrigida a desidratação moderada ou severa. Probióticos para diarreia aguda: reduzem a gravidade e a duração da idarreia aguda infecciosa infantil. @claimafra - MEDufob Antibióticos quando necessário: Indicações de antibioticoterapia: Presença de sangue e muco nas fezes, febre alta e persistente, necessidade de hospitalização, menores de 1 ano, idosos, pacientes com aids, imunossupressores, paciente com anomalias cardíacas ou válvulas cartíacas com predisposição a endocardite (principalmente na possibilidade de salmonela). Em casos que não responderem ao tratamento antibiótico inicial, poderemos pedir exames de fezes e também podemos tratar empiricamente com metronidazol. - Agentes para anti-motilidade (loperamida) e alguns opióides diminuem a motilidade do TGI e podem ser usados em algumas diarreias (não na inflamatória). - Probióticos: Em casos de desorganização da flora. PREVENÇÃO Aconselhamento sobre hábitos de higiene, uso de água potável, aleitamento materno, saneamento básico, processamento adequado de alimentos e imunização. MORTALIDADE - Shigella e cólera – dos casos não tratados, 10-20% de moralidade para Shigella e 40% para cólera. Nos casos tratados, 5% para Shigella e 1% para cólera. ABORDAGEM DO MANEJO DE ADULTOS COM DIARREIA AGUDA 1. Realizar a avaliação inicial. 2. Manejar a desidratação. 3. Evitar a desidratação em pacientes que ainda não apresentam sinais de desidratação, utilizando líquidos caseiros ou SRO. · Reidratação dos pacientes que já apresentam certa desidratação utilizando SRO, e correção da desidratação dos pacientes com desidratação severa, administrando líquidos apropriados por via intravenosa. · Manter a hidratação utilizando uma SRO. · Tratamento dos sintomas (se necessário, considerar subsalicilato de bismuto ou loperamida na diarreia do viajante sem características disentéricas). 4. Estratificar o manejo posterior: · Pistas epidemiológicas: alimentos, antibióticos, atividade sexual, viagens, comparecimento a centros de atenção diurna, outras doenças, surtos, estação. · Pistas clínicas: Diarreia sanguinolenta, dor abdominal, disenteria, caquexia,sinais de inflamação nas fezes. 5. Obter amostra para análise de fezes: · Se houver diarreia persistente, severa, com fezes sanguinolentas ou com características inflamatórias, e no início de surto ou epidemia. 6. Considerar terapia antimicrobiana para patógenos específicos. 7. Notificar às autoridades sanitárias. · Nos surtos conservar placas de cultura e isolamentos; congelar as amostras de fezes e de água a - 70°C · Etiologias de declaração obrigatória nos EUA: cólera, criptosporidiose, giardíase, salmonelose, shigelose e infecção por E. coli produtora de Shiga toxina (ECTS).
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