Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2012 Gestão de turismo Prof. Rodrigo Borsatto Sommer da Silva Prof.ª Daniele Cristine Maske Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof. Rodrigo Borsatto Sommer da Silva Prof.ª Daniele Cristine Maske Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 338.4791068 S586g Silva, Rodrigo Borsatto Sommer Gestão de turismo / Rodrigo Borsatto Sommer Silva; Daniele Cristine Maske. Indaial : Uniasselvi, 2012. 218 p. : il ISBN 978-85-7830- 631-1 1. Turismo - Organização e planejamento. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III ApresentAção Olá, acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) ao estudo da disciplina de Gestão de Turismo. O estudo desta disciplina está voltado para os seguintes objetivos: conhecer as funcionalidades e aplicações da gestão perante o desenvolvimento do turismo; analisar a abordagem mercadológica da gestão do turismo e refletir sobre os apontamentos do fenômeno turístico. O conteúdo deste caderno visa estimular a sua reflexão e as suas habilidades sobre a gestão de turismo. Por conta disso, faz-se uma relação do turismo com os princípios administrativos para nortear as ações diante dos afazeres do turismo público ou privado. A gênese do turismo público é diferente do turismo privado, mas os princípios norteadores são os mesmos, porque nestes cenários é necessário compreender as características sociais do local trabalhado. Por isso, torna-se necessário que o gestor de turismo tenha habilidades de comunicação para promover os canais de comunicação diante dos atores sociais do turismo e tornar o planejamento turístico mais participativo. O processo de participação dos atores sociais torna o planejamento turístico mais coerente e racional, porque provoca a legitimação das relações do território turístico analisado. O turismo de base comunitária comunga desta ideia e convoca os envolvidos do turismo a preocupar-se com o desenvolvimento socioespacial. A influência do turismo de base comunitária gera a minimização dos impactos negativos do turismo de massa e qualifica a tipologia turística no que diz respeito aos segmentos voltados ao meio ambiente, cultura e inclusão social. Sendo assim, desejamos que o estudo do conteúdo deste caderno de estudos contribua com a sua profissionalização e principalmente com a tomada de decisão enquanto futuro(a) gestor(a) de turismo(a). Bons estudos e conte conosco! Prof. Rodrigo Borsatto Sommer da Silva Prof.ª Daniele Cristine Maske IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 - FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO .................................................................... 1 TÓPICO 1 - REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO .................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O CONCEITO DE GESTÃO E SUA ADERÊNCIA COM O TURISMO ................................... 3 3 REFLEXÕES SOBRE PLANEJAMENTO ......................................................................................... 8 4 APONTAMENTOS SOBRE ORGANIZAÇÃO .............................................................................. 10 5 DIÁLOGO SOBRE DIREÇÃO ........................................................................................................... 11 6 O PAPEL DO CONTROLE NO PROCESSO DE GESTÃO .......................................................... 13 7 SOBRE A ANÁLISE AMBIENTAL .................................................................................................... 13 7.1 ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO ......................................................................................... 14 7.2 ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO .......................................................................................... 15 8 GESTÃO DE PROJETOS TURÍSTICOS .......................................................................................... 15 8.1 ELABORAÇÃO DE PROJETOS TURÍSTICOS ............................................................................ 17 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO .................................................. 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 PERFIL PROFISSIONAL DO GESTOR DE TURISMO ............................................................... 21 2.1 DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ..................................................................................... 22 2.2 HABILIDADES E APTIDÕES DO GESTOR DE TURISMO ...................................................... 24 3 INICIATIVAS DE RECONHECIMENTO PROFISSIONAL DO GESTOR DE TURISMO .. 26 4 ASPECTOS SOBRE A MOTIVAÇÃO HUMANA ......................................................................... 29 4.1 TEORIAS MOTIVACIONAIS ......................................................................................................... 31 4.1.1 Teorias de conteúdo ................................................................................................................ 32 4.1.2 Teorias de processo ................................................................................................................. 35 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 37 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................38 TÓPICO 3 - GESTÃO DE EMPRESAS TURÍSTICAS ..................................................................... 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS .................................................................... 39 2.1 DEFININDO EMPRESAS TURÍSTICAS ...................................................................................... 40 2.2 GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS ................................................................... 41 2.3 PARTICULARIDADES NA GESTÃO DE EMPRESAS TURÍSTICAS ...................................... 44 3 CLIENTES: SEGMENTAÇÃO, CAPTAÇÃO E RETENÇÃO ....................................................... 46 3.1 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO ................................................................................................ 47 3.2 CAPTAÇÃO, RETENÇÃO E FIDELIZAÇÃO DE CLIENTES ................................................. 52 4 LINHAS DE FINANCIAMENTO PARA A INICIATIVA PRIVADA ......................................... 55 sumário VIII 5 EMPREENDEDORISMO .................................................................................................................... 60 5.1 ORIGEM DO TEMA ........................................................................................................................ 61 5.2 CONCEITOS ..................................................................................................................................... 62 5.3 CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES ...................................................................... 64 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 67 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 89 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 71 UNIDADE 2 - ABORDAGEM MERCADOLÓGICA DA GESTÃO DO TURISMO ................. 73 TÓPICO 1 - ESTUDO DO MERCADO TURÍSTICO ....................................................................... 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MERCADO TURÍSTICO ........................................................... 75 3 OFERTA TURÍSTICA .......................................................................................................................... 78 4 DEMANDA TURÍSTICA .................................................................................................................... 81 5 POLÍTICA DE PREÇOS ...................................................................................................................... 86 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INVENTARIAÇÃO TURÍSTICA.............................................. 90 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 94 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 96 TÓPICO 2 - COMPREENSÕES SOBRE O MARKETING TURÍSTICO ..................................... 97 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 97 2 REFLEXÕES SOBRE O MARKETING TURÍSTICO ...................................................................... 97 3 OPORTUNIDADES DO MERCADO TURÍSTICO .....................................................................102 3.1 ANÁLISE DO MERCADO INTERNACIONAL E NACIONAL DO TURISMO .................104 4 CRITÉRIOS DE COMPETITIVIDADE TURÍSTICA ..................................................................112 RESUMO DO TÓPICO 2 .....................................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................118 TÓPICO 3 - TENDÊNCIAS DA GESTÃO DO TURISMO ...........................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 ATORES SOCIAIS DO TURISMO ................................................................................................119 3 GESTÃO PARTICIPATIVA ..............................................................................................................121 3.1 GESTÃO PARTICIPATIVA DO TURISMO ................................................................................124 4 DESTINOS TURÍSTICOS COMPETITIVOS ...............................................................................127 4.1 PARIS ...............................................................................................................................................127 4.2 NOVA IORQUE .............................................................................................................................131 4.3 RIO DE JANEIRO ..........................................................................................................................133 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 UNIDADE 3 - APONTAMENTOS SOBRE O FENÔMENO TURÍSTICO .................................141 TÓPICO 1 - ESTUDO DA MOTIVAÇÃO PARA O TURISMO ...................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 TIPOS DE PERSONALIDADES DOS TURISTAS ......................................................................143 3 OS ESTÍMULOS AO TURISMO .....................................................................................................149 IX 4 NORMAS, REGULAMENTOS E CERTIFICAÇÕES ..................................................................154 4.1 NORMALIZAÇÃO NO TURISMO .............................................................................................157 RESUMO DO TÓPICO 1 .....................................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................161 TÓPICO 2 - CONCEITOS E TIPOS DE TURISMO ........................................................................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163 2 BASES CONCEITUAIS DO TURISMO.........................................................................................163 3 TIPOLOGIA TURÍSTICA .................................................................................................................175 3.1 ECOTURISMO ...............................................................................................................................178 3.2 TURISMO CULTURAL .................................................................................................................179 3.3 TURISMO DE AVENTURA ..........................................................................................................180 3.4 TURISMODE SOL E PRAIA .......................................................................................................181 3.5 TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS ....................................................................................183 3.6 TURISMO RURAL .........................................................................................................................183 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................184 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................185 RESUMO DO TÓPICO 2 .....................................................................................................................187 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188 TÓPICO 3 - A INFLUÊNCIA DO TURISMO NA TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM ....189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 FORMAÇÃO DE TERRITÓRIOS TURÍSTICOS .........................................................................189 2.1 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – APLs ............................................................................193 3 INTERFERÊNCIAS DA GESTÃO TURÍSTICA NA TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM ...................................................................................................................................196 4 PERSPECTIVAS DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) .......................................199 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................203 RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................205 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................206 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................207 X 1 UNIDADE 1 FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • discutir o conceito de gestão; • relacionar os conceitos de planejamento, organização, controle e direção; • expressar a importância da elaboração de projetos turísticos; • descrever como se dá o desenvolvimento do profissional do turismo; • relacionar as habilidades e aptidões do gestor de turismo; • discutir sobre as iniciativas de reconhecimento profissional; • apresentar os principais aspectos sobre motivação humana; • relacionar as principais teorias da motivação humana. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará o resumo do conteúdo e as autoatividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO TÓPICO 2 – CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO TÓPICO 3 – GESTÃO DE EMPRESAS TURÍSTICAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 1 INTRODUÇÃO As reflexões lançadas neste tópico visam relacionar os princípios de gestão com o planejamento e a organização do turismo público ou privado. Dessa forma, o conceito de gestão será refletido sob a perspectiva do planejamento, organização, controle e direção. É importante compreender que o planejamento e a organização do turismo devem estar pautados em princípios que gerem racionalidade, sistematização e otimização. Para tanto, o gestor de turismo deve ter consciência de que está em suas mãos a responsabilidade de gerir recursos humanos e técnicos. Por serem essenciais, estes recursos são apreciados por estratégias que contribuem com a eficiência e eficácia da gestão do turismo. Sendo assim, o conteúdo deste tópico envolve uma reflexão acerca da aderência conceitual entre gestão e turismo; lança um diálogo sobre os princípios da gestão: planejar, organizar, dirigir e controlar; trata sobre a análise ambiental das organizações e apresenta orientações sobre a gestão e elaboração de projetos turísticos. 2 O CONCEITO DE GESTÃO E SUA ADERÊNCIA COM O TURISMO Quando você pensa em gestão, que pensamentos surgem em suas reflexões? Gerir? Planejar? Administrar? Talvez você não tenha associado a ideia de gestão com um pensamento, mas sim a uma frase tal qual: ato de estabelecer critérios para tornar uma ação eficiente e eficaz. Pense no seu dia a dia, quanto ao momento de gerenciar o seu tempo para o estudo das disciplinas de seu curso de graduação. Acreditamos que, em primeira ordem, você deve elaborar um mapa mental sobre as ações a serem desenvolvidas para atingir a finalidade da atividade citada acima. Provavelmente você estipula um período de tempo para estudar. Depois, se for seu desejo, você pode materializar o mapa mental, descrevendo-o numa folha e fixando-a num lugar de fácil visualização. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 4 Vejamos, esta situação configura a existência de gestão: você estabeleceu um propósito, ou seja, estudar, e uma estratégia para atingir este resultado, contida no mapa mental e na sua materialização. Neste caso, a gestão proporciona que os seus estudos avancem sem atropelos e superficialidade, no que diz respeito à irregularidade de tempo para o estudo e o aprendizado, respectivamente. Assim, você não terá que concentrar longas horas diárias para estudar, porque as distribuiu durante a semana e poderá refletir com racionalidade sobre o conteúdo estudado. Perceba que a gestão tem a finalidade de direcionar racionalmente um processo idealizado. Este processo pode ser de cunho pessoal ou profissional. Então podemos apontar um direcionamento conceitual para gestão. Refere-se ao ato de gerir. Andrade (2001, p.16) contribui com nossas reflexões, pois o autor disserta sobre gestão e diz que “[...] em seu sentido original, a palavra portuguesa “gestão” vem do termo latino gestio, que expressa a ação de dirigir, de administrar e de gerir a vida, os destinos, as capacidades das pessoas e as próprias coisas que lhes pertencem ou de que fazem uso”. Perceba que o conceito de gestão apresentado se remete ao verbo “agir”. O que você entende por agir? Produzir um efeito? Atuar? É isto mesmo. Dessa forma, gerir é agir. No entanto, a concepção de gestão demonstra a necessidade de agir com racionalidade. Agir sobre situações, capacidades e estruturas. É sobre este cenário que você, futuro(a) gestor(a) de turismo, atuará. Dias (2002) contribui com este momento conceitual ao proferir uma revisão crítica sobre o conceito de gestão. O autor disponibiliza um diálogo que apresenta elementos característicos da gestão. Ele afirma que “[...] gestão é lançar mão de todas as funções e conhecimentos necessários para através de pessoas atingir os objetivos de uma organização de forma eficiente e eficaz.” (DIAS, 2002, p. 11). Ele descreve que as funções referem-se aos aspectos técnicos para gerir algo e os conhecimentos referem-se às habilidades antropológicas, psicológicas para gerir algo. Esta descrição se dá porque o autor discute as características conceituais que diferenciam gestão de administração. O marco teórico da obra de Dias apresenta contribuições de estudiosos do tema que apontam semelhança conceitual entre gestão e administração, porque as publicações em outras línguas também apresentam a sinonímia dos conceitos. Ainda assim, Dias (2002) afirma que há diferença conceitual entre gestão e administração, pois para o autor gestão significa gerir algo e administração está em algo. TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 5 Neste momento não vamos discutir o possível antagonismo conceitual entre gestãoe administração. Para fins teóricos e didáticos, apontamos os conceitos como sinônimos, porque entendemos que os fundamentos da gestão e da administração são os mesmos. Ou seja, gestão e administração se remetem ao ato de planejar, organizar, dirigir e controlar. FIGURA 1 – COMPONENTES CARACTERIZADORES DA GESTÃO Planejar Controlar Organizar Dirigir FONTE: Fernandes; Godinho Filho (2007) Ao longo deste tópico, lançaremos mão dos fundamentos da gestão para as abordagens referentes aos aspectos organizacionais e planejáveis do turismo. Sendo assim, você poderá utilizar estes fundamentos na gestão pública ou privada do turismo. Kwasnicka (2010, p. 22) discute os princípios da administração e diz que: • uma organização nunca está fundamentada em apenas um objetivo, mas em um grupo de objetivos que são às vezes gerados em cadeia. Por exemplo, produzir com eficiência para obter maior rentabilidade que, por sua vez, está ligada à manutenção dos custos baixos; • uma organização é parte integrante de um sistema maior e depende do intercâmbio mantido com esse sistema, ou seja, ela não é autossuficiente para se manter; • não existem regras administrativas que possam ser aplicadas automaticamente a todos os problemas. Assim como as situações mudam, os princípios da administração precisam mudar também para poder enfrentar as novas condições. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 6 Perceba que nos princípios citados estão intrínsecas as perspectivas de interação e flexibilidade, pois no cenário corporativo atual as organizações públicas e privadas influenciam e sofrem influência umas das outras. FIGURA 2 – VISÃO SISTÊMICA DO PROCESSO DE GESTÃO Liderança Clientes Pessoas Sociedade Processos ResultadosEstratégia e Planos Info rmações e Conhecimento Informações e Conhecime nto FONTE: Fundação Nacional de Qualidade (2012) A figura anterior demonstra que os resultados são reflexos das influências e das interações referentes às variáveis que giram em torno das informações e conhecimento sobre liderança, sociedade, clientes, estratégias, planos, processos e pessoas. Lembre-se de que você administrará organizações e pessoas. É importante lembrar que organizações são [...] entidades sociais dirigidas por metas, são desenhadas como sistemas de atividades deliberadamente estruturados, coordenados e ligados ao ambiente externo. (DAFT, 2002, p.12). TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 7 Dessa forma, é necessário que você utilize da interação e da flexibilidade para analisar as estratégias dos seus concorrentes e compreender as necessidades de seus clientes, respectivamente. Na gestão pública do turismo, os seus concorrentes são os demais destinos turísticos e os seus clientes, que podemos chamar de turistas. Já na gestão privada do turismo, os seus concorrentes são as demais empresas do mesmo ramo e os seus clientes, os consumidores de seus serviços. Dessa forma, não tenha receio de interagir e de se flexibilizar, porque é importante que a sua atuação na gestão de turismo seja preenchida por informações e atitudes atualizadas e de acordo com o comportamento social contemporâneo. Ainda, é importante lembrar, de acordo com os princípios citados, que a organização que você administra ou administrará pertence a um sistema. Isto significa que é um elemento de um todo, ou seja, ela existe por causa do “todo” e o “todo” existe por causa dela. Percebeu a relação de causalidade entre ambos? Esta relação é explicada pela teoria geral dos sistemas estruturada por Ludwig von Bertalanffy. “A teoria geral de sistemas procura a formulação de um esquema teórico e sistemático, que permita a descrição de todas as relações que se apresentam no mundo real”. (KWASNICKA 2010, p. 44). Esta teoria vai mais longe e diz que podemos observar sistemas fechados e abertos. A principal característica que os diferenciam é a interação com o meio. O sistema fechado prima por uma postura conservadora que exclui a ideia de interação e mudança. Já o sistema aberto usa da interação e da mudança como causa de sua existência. Dessa forma, é possível afirmarmos que as organizações públicas e privadas do turismo se caracterizam como sistemas abertos. Uma empresa é uma organização criada pelos homens que mantêm interação dinâmica com seu ambiente: clientes, competidores, organizações de trabalho, fornecedores, governo etc. Além disso, é um sistema integrado por diversas partes relacionadas entre si, que trabalham em harmonia uma com as outras, com o fim de alcançar objetivos tanto da organização como de seus integrantes. (KWASNICKA, 2010, p. 45). Repare que a fala de Kwasnicka está embebida pela relação e harmonia das diversas partes de um sistema, para atingir os objetivos da organização. Com o intuito de aprofundarmos estas reflexões, iremos nos ater com mais profundidade para o diálogo referente aos fundamentos da gestão: planejar, organizar, dirigir e controlar. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 8 3 REFLEXÕES SOBRE PLANEJAMENTO O planejamento é um tema que sempre deve estar na pauta de reflexão sobre gestão, porque é necessário sabermos onde queremos chegar e como queremos chegar. Como você conceitua o planejamento? Planejar é o ato de determinar objetivos para alcançar um resultado futuro. Chiavenato (2010, p. 193) fundamenta nossa observação sobre planejamento ao dizer que “[...] planejar significa olhar para a frente, visualizar o futuro e o que deverá ser feito, elaborar bons planos e ajudar as pessoas a fazer hoje as ações necessárias para melhor enfrentar os desafios de amanhã”. A contribuição de Chiavenato sobre planejamento é útil para os cenários profissionais e não profissionais, pois o conceito aponta a finalidade do planejamento para o desenvolvimento humano. Você deve estar se perguntando: existe prioridade para o planejamento voltado ao meio ambiente, à manutenção da cultura e ao crescimento econômico? Da mesma maneira que a prioridade dada para as pessoas, pois a vida humana, pelo menos neste momento, torna-se inviável sem a preservação do meio ambiente, da manutenção das culturas locais e do crescimento regional e global da economia. Assim, quando pensamos em planejamento para as pessoas, elencamos uma série de condicionantes (sociais, culturais, ambientais e econômicas) que devem ser atendidas no ato de planejar. Perceba como esta perspectiva é holística e horizontal. Interpretam-se as condicionantes e incluem-se os interessados pelo planejamento proposto. É de um posicionamento deste que o gestor de turismo deve se apropriar, pois a gestão pública ou privada do turismo clama por um olhar estratégico, mas ao mesmo tempo participativo e democrático. Planejar é observar, refletir, sintetizar, praticar e monitorar. No primeiro momento do planejamento é necessário observar para identificar as características do objeto planejável. O objeto planejável pode ser um município, uma empresa, uma cooperativa, um parque ecológico, ou seja, que necessita de uma transformação. No momento de observação identificam-se as dimensões das necessidades, dos desafios e do conjunto de elementos humanos e naturais que podem contribuir com a transformação. TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 9 Após a observação surge a necessidade de refletir sobre o ambiente observado. Neste momento, inicia-se a elaboração das redes solucionadoras, ou seja, aponta-se o caminho para que os elementos humanos e naturais entrem em ação. Em seguida surge a síntese, que se refere à materialização do que foi observado e refletido. A síntese se refere aos planos, programas e projetos. É neste sistema que serão materializadas as ideias e informações do planejamento. NOTA Planos são macrodiretrizes para atingir um determinado objetivo. Neles estão contidos os programas e projetos. Já os programas estão voltados para a apresentaçãode macroestratégias e, por fim, os projetos são a menor unidade de planejamento. Neste documento é que devem ser apresentadas as estratégias, ações e tarefas a serem executadas sincronicamente com as diretrizes dos planos e programas. Por fim, é necessário praticar o planejamento, pô-lo em ação. Esta etapa exige a flexibilidade e a coordenação do gestor do turismo, porque é na fase de execução que o planejamento sofrerá as diversas influências de cunho colaborativo ou não. Chiavenato (2010, p. 200) acredita que o planejamento contribui com os gestores porque: • o planejamento é orientado para resultados. Cria um senso de direção, isto é, de desempenho orientado para metas e resultados a serem alcançados; • o planejamento é orientado para prioridades. Assegura que as coisas mais importantes receberão atenção principal; • o planejamento é orientado para vantagens. Ajuda a alocar e a dispor recursos para sua melhor utilização e desempenho; • o planejamento é orientado para mudanças. Ajuda a antecipar problemas que certamente aparecerão e a aproveitar oportunidades à medida que se defronta com novas situações. Ao compreender que o planejamento é orientado para resultados, prioridades, vantagens e mudanças, cita-se a relevância da característica cíclica e de renovação do planejamento. Esta característica é respaldada pelo processo de monitoramento. É neste momento que se devem levar em consideração as mudanças que ocorreram ao longo da prática do planejamento. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 10 A Coordenação Geral de Regionalização do Ministério do Turismo que tem o objetivo de coordenar o Programa de Regionalização do Turismo dedicou um dos seus módulos operacionais para o monitoramento do programa porque O sucesso de um programa, ou de um projeto, não depende única e exclusivamente de um bom planejamento, ou da eficiência e eficácia com que seus executores atuam na implementação das ações. É necessário que se construa um bom Sistema de Monitoria e Avaliação para que esse sucesso seja realmente alcançado. (BRASIL, 2007a, p. 14). Os escritos deste programa contribuem com nossas observações sobre monitoramento. A monitoria, ou monitoramento, é um instrumento gerencial. Seu objetivo é o acompanhamento sistematizado, contínuo e permanente, das ações e do cumprimento das metas propostas, assim como dos avanços alcançados pelo projeto num determinado período de tempo. (BRASIL, 2007a, p. 18). Dessa forma, na etapa de monitoramento, analisa-se a pertinência dos objetivos do planejamento, se estes são respeitados ou necessitam sofrer ajustes, devido a condições determinantes. Por conta disso, esta etapa é decisiva para a sustentabilidade e eficácia do planejamento. 4 APONTAMENTOS SOBRE ORGANIZAÇÃO Neste momento, trataremos do termo organização sob a perspectiva de organizar, tornar organizado. A ideia de organização está intimamente ligada às perspectivas do planejamento, por usar características da racionalidade para atingir os resultados pretendidos. Chiavenato (2010, p. 15) corrobora o assunto e aponta que organização “[...] visa estabelecer os meios e recursos necessários para possibilitar a realização do planejamento e reflete como a organização ou empresa tenta cumprir os planos”. A racionalidade está intrínseca na caracterização de organização por duas principais perspectivas: otimização e cooperação. A capacidade de otimização, orientada pela racionalidade da organização, visa eliminar desperdícios. Dessa forma, as orientações oriundas do ato de organizar minimizam nos cenários financeiros e processuais os desperdícios como extravio de objetos, desajustes em ordens de serviço etc. Sob os aspectos da cooperação, percebe-se a orientação para a eficácia da comunicação corporativa, fortalecimento do espírito de equipe e dos laços de comprometimento organizacional. TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 11 Oliveira e Silva (2006, p. 48) afirmam que [...] o principal elemento de uma organização não é o edifício em que ela se estabelece ou o conjunto de suas políticas e procedimentos; as organizações são compostas por pessoas e seus relacionamentos. Uma organização existe quando as pessoas interagem para realizar funções essenciais que a auxiliam a alcançar as suas metas. Estas perspectivas estão inclinadas para contribuir com as ações elencadas no planejamento organizacional porque compõem as habilidades necessárias para interpretá-las e colocá-las em prática. A organização é a função administrativa relacionada com a atribuição de tarefas, agrupamento de tarefas em equipes ou departamentos e alocação dos recursos necessários nas equipes e departamentos. É, portanto, o processo de arranjar e alocar o trabalho, estabelecer a autoridade e os recursos entre os membros de uma organização para que eles possam alcançar os objetivos organizacionais. (CHIAVENATO, 2010, p. 15). Sendo assim, percebe-se que a organização referente ao ato de organizar é fundamental para atingir os resultados pretendidos. 5 DIÁLOGO SOBRE DIREÇÃO Neste momento abordaremos a concepção de direção sob o ponto de vista da autoridade, poder e liderança. Anteriormente refletimos sobre planejamento e organização. Suas finalidades serão atendidas se forem executadas de acordo com os seus objetivos. A eficiência e eficácia de tal execução se consolidarão se estiverem condicionadas às orientações de uma direção. Ao refletirmos a respeito do conceito de direção vamos compreender que se remete a um rumo, a uma série de critérios a serem atendidos para contribuir com o alcance dos objetivos. Chiavenato (2010, p. 386) comenta que direção “[...] significa interpretar os planos organizacionais para as pessoas e proporcionar a orientação necessária sobre como executá-los e garantir o alcance dos objetivos”. Dessa forma, a direção observada sob o ponto de autoridade refere- se à capacidade de tomar a decisão, porque o gestor toma posicionamentos subsidiados pelo grau de autoridade que lhe pertence. “A eficiência do tomador de decisão e o tipo de decisão que ele pode tomar são determinados pelo poder e pela autoridade que ele tem”. (KWASNICKA, 2010, p. 251). Kwasnicka (2010, p. 251) aprofunda o diálogo sobre poder e autoridade ao dizer que o UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 12 [...] poder e a autoridade são ingredientes necessários ao processo de tomada de decisão e fundamental para sua atividade e direção. Poder e autoridade formam um relacionamento recíproco entre indivíduo ou grupos, um relacionamento entre os que têm poder e autoridade e aqueles que respondem ao poder e à autoridade. Dessa forma, verifica-se que o discurso sobre autoridade e poder lançado anteriormente se refere ao posicionamento do gestor na organização e não a um posicionamento autoritário sobre quem lideram. A lacuna colocada pelo paradoxo autoridade versus autoritário é preenchida pelos princípios de liderança. A liderança se remete a um posicionamento estratégico do dirigente em compreender que as determinações serão executadas e validadas pelo corpo organizacional, ou seja, pela equipe dirigida. Para que o planejamento e organização possam ser eficazes, eles precisam ser complementados pela orientação e apoio às pessoas, através de uma adequada comunicação, liderança e motivação. Para dirigir as pessoas, o administrador precisa saber comunicar, liderar e motivar. (CHIAVENATO, 2010, p. 386). A liderança tomada pelo diálogo, comunicação e motivação torna-se mais atraente aos olhos da organização, porque prima pelo alcance dos resultados e pelo sucesso da coletividade. Este tipo de liderança se fundamenta nos pressupostos na teoria Y de McGregor, pois O administrador que pensa e age de acordo com a teoria Y tende a dirigir as pessoas com maior participação, liberdade e responsabilidade no trabalho, pois acha que elas são aplicadas, gostamde trabalhar e têm iniciativa própria. Tende a delegar e ouvir opiniões, pois acha que as pessoas são criativas e engenhosas. (CHIAVENATO, 2010, p. 387). Já o administrador que não comunga destes princípios é caracterizado pela teoria X, pois “[...] tende a dirigir e controlar os subordinados de maneira rígida e intensiva, fiscalizando seu trabalho, pois acha que as pessoas são passivas, indolentes, relutantes e sem qualquer iniciativa pessoal”. (CHIAVENATO, 2010, p. 387). Sendo assim, perceber o princípio da direção como uma estratégia é reconhecer a inclinação dos envolvidos para o resultado organizacional. TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 13 6 O PAPEL DO CONTROLE NO PROCESSO DE GESTÃO Perceba que estamos refletindo sobre os fundamentos da gestão. O controle faz parte destes fundamentos e está intimamente ligado ao planejamento. Possui a tônica do monitoramento e manutenção dos objetivos propostos pelo planejamento. O controle administrativo é um esforço sistêmico de estabelecer padrões de desempenho, com objetivos de planejamento, projetar sistemas de feedback de informações, comparar desempenho efetivo com estes padrões predeterminados, determinar se existe desvio, medir sua importância e tomar qualquer medida necessária para garantir que todos os recursos estejam sendo usados da maneira mais eficaz e eficiente possível, para a consecução dos objetivos da empresa. (MOCKLER, 1971 apud KWASNICKA, 2010, p. 262). As atribuições do controle estão voltadas para a avaliação de desempenho, devolutivas referentes a processos organizacionais e para observar a presença de desvios, com objetivo de minimizá-los. “O controle consiste basicamente em um processo que guia a atividade exercida para um fim previamente determinado. A essência do controle reside em verificar se a atividade controlada está ou não alcançando os resultados desejados”. (CHIAVENATO, 2010, p. 512). Sendo assim, o controle exerce papel fundamental diante dos objetivos organizacionais e deve ser visto como um fundamento da gestão capaz de garantir o resultado esperado. 7 SOBRE A ANÁLISE AMBIENTAL A gestão pública ou privada do turismo exige de seus gestores a realização da análise ambiental para identificar as oportunidades e ameaças do ambiente externo e os pontos fortes e pontos fracos do ambiente interno. A análise ambiental refere-se ao exame das condições variáveis ambientais, suas perspectivas atuais e futuras, as coações e restrições, os desafios e contingências, as oportunidades e brechas percebidas no contexto ambiental que envolve a organização. Significa o mapeamento do macroambiente e do ambiente de tarefa da organização. A análise ambiental leva em conta o que existe em termos de possibilidades viáveis e de riscos que cercam a organização e como ela melhor poderia servir à sociedade em um contexto altamente competitivo e mutável. (CHIAVENATO, 2010, p. 581). O ambiente externo refere-se ao conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos e ambientais que influenciam a gestão do turismo independentemente das estratégias tomadas pelo gestor de turismo. Estes elementos são o governo, o mercado de capitais, os fatores climáticos, os movimentos sociais etc. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 14 A influência sempre se dará, mas as estratégias de gestão podem torná-la positiva ou negativa. Dessa forma, a influência positiva é uma oportunidade e a negativa constitui-se uma ameaça. Já o ambiente interno é representado pelo conjunto de fatores ligados diretamente à gestão do turismo. O gestor de turismo possui maior domínio sobre este ambiente. Os elementos são os colaboradores, os aspectos financeiros, a comunicação interna etc. Quando as estratégias de gestão respondem positivamente, caracterizam-se como pontos fortes, em caso contrário, definem- se como pontos fracos. 7.1 ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO Como foi apontado anteriormente, o ambiente externo refere-se ao conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos e ambientais que influenciam a gestão do turismo. Os fatores sociais dizem respeito ao comportamento das pessoas, crescimento demográfico, escolaridade etc. Oliveira e Silva (2006, p. 171) afirmam que os fatores sociais afetam as estratégias de gestão porque “[...] a qualidade de vida, os padrões de conforto, as preferências de lazer, os costumes referentes a vestuário, passeios, interesses etc. influenciam os produtos e serviços desejados pela sociedade em geral, bem como sua qualidade, preço e importância”. Os fatores econômicos são caracterizados pelas políticas monetárias, resultados de produtos internos brutos, renda per capita, taxas de juros, desemprego etc. Os fatores econômicos abrangem o nível de atividade econômica (economia em depressão, recessão, recuperação ou prosperidade), as flutuações nos preços de bens e serviços (inflação ou deflação), as políticas monetárias, fiscal e cambial, a balança de pagamentos, as taxas de juros e de desemprego etc. Cada uma dessas facetas da economia pode facilitar ou dificultar o alcance dos objetivos da organização e o sucesso ou o fracasso de sua estratégia. (OLIVEIRA; SILVA, 2006, p. 170). Já os fatores políticos referem-se às relações internacionais, aos conflitos entre nações, às políticas públicas, às correntes políticas etc. Os fatores políticos envolvem principalmente decisões governamentais, em nível federal, estadual e municipal, capazes de afetar as atividades e as operações da organização. Os governos podem ser grandes compradores de bens e de serviços, podem subsidiar as organizações que os ajudam a sobreviver e prosperar, proteger as organizações locais da concorrência estrangeira e, sobretudo, ver nas organizações as oportunidades de empregos indispensáveis para a sobrevivência e o bem-estar dos cidadãos. (OLIVEIRA; SILVA, 2006, p. 170). Por fim, os fatores ambientais correspondem aos ecossistemas que são fontes de recursos naturais tais como: água, minérios, alimentos, petróleo entre outros. TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 15 Estes recursos, em abundância ou não, são utilizados para a gestão do turismo diante da perspectiva da segmentação turística ou gestão de organizações. Sendo assim, os fatores do ambiente externo projetam na gestão do turismo oportunidades e ameaças que devem ser analisadas e monitoradas. 7.2 ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO O ambiente interno diz respeito aos colaboradores e aos líderes de uma organização. Já quando se fala em gestão de destinos turísticos, consideram- se elementos do ambiente interno: os moradores locais, a iniciativa privada, o governo local etc. Por conta disso, o gestor de turismo deve estabelecer estratégias de aproximação com este público, com o objetivo de torná-lo parceiro dos objetivos traçados pelo contexto da gestão do turismo. 8 GESTÃO DE PROJETOS TURÍSTICOS O planejamento e a organização do turismo sob o ponto de vista da gestão pública ou privada compreendem etapas voltadas à concepção e execução de ideias. Abordamos anteriormente que o projeto é a menor unidade de planejamento, remetendo-se à esfera de execução de ações. Roldão (2010, p. 7) contribui com as reflexões a respeito da gestão de projetos ao defini-la como “[...] o processo de planejamento, execução e controle de um projeto, desde seu início até sua conclusão, com vista à consecução de um objetivo final em certo prazo, com certo custo e qualidade, por meio da mobilização de recursos técnicos e humanos”. A reflexão compreende a ideia de planejamento, execução e controle. Percebe-se a necessidade de refletir com os seus pares sobre o objetivo a ser atingido, como atingi-lo e garantir a sua manutenção. A gestão do projeto forma um ciclo dinâmico, que começa no Planejamento, com fixação de objetivos, estabelecimento de recursos e definição de estratégias, passando à Execução, com alocação de recursos, gestão da execução e coordenação de esforços,e, finalmente, ao Controle, com avaliação de resultados, elaboração de relatórios e resolução de problemas com eventual tomada de medidas corretivas. (ROLDÃO, 2010, p. 7). Diante disto, podemos lançar mão das fases que caracterizam a concepção e implementação de projetos turísticos. Na fase de concepção é necessário determinar a unidade a ser planejada que, no caso da gestão pública ou privada do turismo, pode ser um destino ou atrativo turístico ou até mesmo um hotel, uma agência de viagens etc. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 16 Em seguida, lança-se o objetivo desejado com o projeto. Neste momento é importante apresentar um objetivo coerente com as condições do mercado pretendente e com as possibilidades físicas e humanas disponíveis. Para Roldão (2010, p. 8) a fase da concepção “[...] envolve estudos de oportunidade e coerência, sendo definidos os principais requisitos do projeto e gerando-se informação que permita esboçar alternativas”. Além disso, a fase de concepção de um projeto turístico deve ser compreendida por um cenário participativo, ou seja, é imprescindível que o gestor de turismo compartilhe deste momento com aqueles que pertencem a ele. Após a fase de concepção, dá-se a fase de implementação que, sem sombra de dúvidas, é a mais desafiadora porque coloca à prova o que foi pretendido no projeto turístico. Por conta disso, é importante que o andamento do projeto seja respaldado pelas orientações do projeto turístico e que as interferências provocativas da mudança sejam analisadas e se necessário reconhecidas. FIGURA 3 – CICLO DA GESTÃO DE PROJETOS TURÍSTICOS Preparar Planejar Acompanhar Revisar FONTE: Universidade Federal da Bahia (2012) Sobre esta perspectiva iterativa Roldão (2010, p. 11) diz que Na fase de implementação, as previsões são permanentemente confrontadas com a realidade e os desvios são medidos por meio de um processo contínuo de decisão. Implementar implica execução e controle permanentes, liderando uma equipe, no que é especialmente relevante a motivação, a gestão de execução e a medida de resultados. Sendo assim, a implementação e monitoramento de projetos turísticos são influenciados por condicionantes que prejudicam ou facilitam o seu andamento. TÓPICO 1 | REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE GESTÃO 17 8.1 ELABORAÇÃO DE PROJETOS TURÍSTICOS O projeto turístico é formalidade e diretriz voltadas para auxiliar o gerenciamento do turismo público ou privado. Dessa forma, é importante que o projeto turístico apresente os itens a seguir com a finalidade de alcançar os objetivos propostos pela gestão do turismo. A seguir apresentamos um quadro com a proposta de exemplificar a estruturação de um projeto turístico. QUADRO 1 – PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO DE PROJETO TURÍSTICO ITEM DESCRIÇÃO Título do projeto Apresentar claramente e objetivamente o título do projeto. Identificação do responsável pelo projeto Apresentar informações da pessoa, física ou jurídica, responsável pelo projeto. Introdução Caracterizar o objeto planejável e apresentar a finalidade do projeto. Justificativa Descrever a pertinência e a importância do projeto para o desenvolvimento turístico. Definição dos objetivos Apresentar o objetivo geral e os objetivos específicos do projeto. O objetivo geral se refere ao propósito, finalidade do projeto, e os objetivos específicos referem-se aos posicionamentos necessários para alcançar este propósito, ou seja, o objetivo geral. Definição das metas Este item diz respeito aos aspectos quantitativos do projeto. Exemplo: Capacitar 200 pessoas para atuar no receptivo turístico de Manaus-AM. Recursos necessários nas etapas de execução Apresentar os recursos humanos, financeiros e físicos necessários para a execução do projeto. Parceiros Caso necessário ou convergente ao propósito do projeto, apresentar as entidades, representações públicas ou privadas que podem configurar-se como parceiros do projeto. Público-alvo Apresentar o perfil do grupo social a ser beneficiado pelo propósito do projeto. Resultados Descrever quantitativamente e qualitativamente os resultados pretendidos com a execução do projeto. Monitoramento Apontar as estratégias de monitoramento e acompanhamento das etapas do projeto. FONTE: Adaptado de: Paraná (2004) O quadro aponta os itens fundamentais para a elaboração de um projeto turístico. Perceba como estes itens são interdependentes e realçam a pertinência de seus detalhamentos. Dessa forma, futuro(a) gestor(a) de turismo, elabore os projetos turísticos que exponham detalhadamente o seu propósito para aqueles que serão envolvidos ou beneficiados. 18 Neste tópico vimos que: • Os princípios da gestão estão pautados nas perspectivas do planejamento, organização, direção e controle. • O planejamento refere-se à iniciativa de determinar objetivos para a modificação de um cenário atual. • A organização está relacionada à otimização, eficiência e eficácia dos processos. • A direção envolve a liderança como uma iniciativa de delegação e controle das atividades. • O controle está intimamente ligado ao ato de monitorar os processos. • A gestão e elaboração de projetos turísticos ocorrem pela apresentação de etapas que tornam a proposta clara, comunicativa e objetiva. RESUMO DO TÓPICO 1 19 1 A contribuição da gestão do turismo é notável nos cenários de planejamento e organização deste segmento. Dessa forma, conceitue gestão. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ AUTOATIVIDADE 2 Dentro dos princípios de gestão, fala-se em planejamento, organização, direção e controle. Dessa forma, conceitue planejamento. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 20 21 TÓPICO 2 CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Entender de que forma e maneira se dá a formação do profissional do setor turístico e quais as habilidades por ele requeridas é muito importante para o desenvolvimento de cursos e outras atividades que possibilitem desenvolver e aperfeiçoar mão de obra qualificada para trabalhar em qualquer empresa ligada ao turismo. A reflexão sobre algumas aptidões especiais necessárias aos gestores de turismo no dia a dia de sua profissão não pode passar despercebida. As características peculiares dos serviços e da demanda turística exigem dos profissionais da área habilidades e capacidade para lidar com estas categorias específicas. A importância deste perfil está no fato de que o reconhecimento do profissional desta área é cada vez mais evidente e acontece em diversas áreas de atuação, oportunizando empregos para muitas pessoas. Por fim, é ainda necessário entender como o ser humano é motivado para o trabalho e na realização de suas atividades cotidianas, para uma gestão onde todos trabalham por um objetivo comum, eficaz e de qualidade. Dessa forma, este tópico irá apresentar o perfil necessário ao gestor de turismo, as iniciativas de reconhecimento da profissão e os aspectos mais importantes sobre a motivação humana. 2 PERFIL PROFISSIONAL DO GESTOR DE TURISMO O setor turístico abrange uma variedade de atividades, como a hospedagem, transporte, agenciamento, entretenimento, alimentação etc. Em qualquer que seja a empresa, relacionada direta ou indiretamente com o turismo, a função principal é satisfazer as expectativas dos turistas. Somente com a execução de serviços dealtíssima qualidade é possível que a empresa obtenha lucro e seja competitiva no mercado. Mas estas tarefas são complexas, por isso é necessário que o gestor de turismo seja um profissional qualificado (ANSARAH, 2002). UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 22 O turismo é uma atividade multidisciplinar e interdisciplinar, pois o seu processo exige uma ampla variedade de áreas de conhecimento e, ao mesmo tempo, todas estas áreas devem estar interligadas. O universo do turismo é cada vez mais amplo, com várias hierarquias de complexidade, sendo imperativo reafirmar a necessidade de profissionais preparados, sejam eles de nível técnico, superior ou treinados para um cargo específico. Considerando a importância de haver profissionais preparados para trabalhar neste setor, que possuem contato direto com os clientes, sendo que deles depende, em grande parte, a qualidade do serviço oferecido, é importante sabermos como se dá o desenvolvimento profissional neste setor e quais as habilidades e aptidões necessárias para trabalhar com turismo. 2.1 DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL A formação profissional é uma estratégia para a diferenciação no competitivo ambiente onde o turismo está inserido. Formar recursos humanos no turismo pode envolver, de acordo com Rejowski e Carneiro (2003), diversos cursos e programas, com diferentes objetivos. Estes podem ser divididos em cursos superiores, técnicos, livres e outros programas ou modalidades. Vamos especificar cada um deles a seguir: • Cursos superiores: podem ser de graduação ou de pós-graduação. A graduação forma profissionais de nível universitário em nível de bacharelado ou tecnológico. A pós-graduação pode ser definida como de lato sensu (especialização) ou de stricto sensu (mestrado e doutorado). Alguns exemplos são os cursos de hotelaria, de turismo e gestão de turismo. • Cursos técnicos: também exigem 2º grau completo (Ensino Médio) ou em andamento e visam à formação técnico-profissional para atuar na área. Como exemplo, podemos citar o curso técnico de Guia de Turismo. • Cursos livres: são dirigidos às necessidades de formação, treinamento e atualização de recursos humanos em áreas específicas. São cursos que não necessitam de autorização de órgãos oficiais, podem ser planejados conforme necessidades específicas de uma empresa, entidade ou localidade. Estes cursos incluem cursos de reciclagem, de aperfeiçoamento, oficinas, eventos técnico-científicos e outros. Há uma infinidade de ofertas de cursos e programas que visam à capacitação para trabalhar no setor turístico, em diferentes níveis e com diferentes objetivos. Perante o exposto, vale lembrar que, quanto mais longe você quer chegar na sua profissão, quanto mais bem-sucedido no setor, mais você terá que se esforçar e se aprofundar. Atualmente não basta finalizar o curso superior ou técnico. É necessário estar em constante aprimoramento. Para isso é importante continuar seus estudos com uma pós-graduação ou com cursos livres que podem suprir necessidades específicas e mantê-lo(a) atualizado(a). TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO 23 Ansarah (2002) defende que, para se tornar um profissional completo e competitivo, são necessários estudos e atividades complementares, que deixarão seu currículo atrativo para atuar na área. Isto inclui, de acordo com a autora: • Estágio profissional: a realização de estágios em empresas da área permite a aquisição de conhecimentos específicos e prepara o acadêmico para o mercado de trabalho. • Leituras específicas: a leitura de livros, revistas e artigos específicos da área são fundamentais para o desenvolvimento contínuo e a atualização. • Cursos extracurriculares: o curso de graduação deve ser complementado com outros cursos que aumentam a capacitação profissional e o aperfeiçoamento contínuo. • Cursos de pós-graduação: são importantes para a aquisição de conhecimentos em áreas específicas de interesse. • Participação em eventos: a participação ativa em eventos da área também estimula o desenvolvimento contínuo e a atualização, além de permitir o contato com profissionais e pesquisadores da área. • Estudo de idiomas: o turismo, sendo um fenômeno internacional, exige mais do que outros setores o conhecimento de línguas estrangeiras, principalmente o inglês e o espanhol. As atividades listadas permitem, a este profissional, a integração entre atividades práticas e teóricas, a constante atualização e aprendizagem, o que é primordial num mundo que se encontra em constante transformação e num setor dinâmico como o turismo. Dessa forma é possível obter o profissional requisitado pelas organizações, que deve “[...] necessariamente possuir um conjunto de habilidades específicas, ser um membro ativo e participativo na sociedade em que está inserido, ser generalista e ao mesmo tempo ser um especialista [...]” (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2002 apud FABBRIS; SILVA, 2007, p. 87). Mas, além de conhecimentos técnicos na área, da teoria e da prática, algumas habilidades e aptidões são necessárias para completar o perfil do gestor de turismo, e torná-lo uma pessoa capaz de gerir qualquer empresa do setor turístico. Vamos continuar nossos estudos, entendendo um pouco mais sobre as características necessárias a esse profissional. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 24 2.2 HABILIDADES E APTIDÕES DO GESTOR DE TURISMO Pela natureza singular do setor de serviços, mais especificamente do turismo, o perfil do gestor de turismo é um pouco diferenciado de gestores de outras áreas. O estudo do perfil do profissional do turismo pode auxiliar na orientação e desenvolvimento das habilidades necessárias para a gestão na indústria da hospitalidade, que devido às suas demandas específicas, exige valores pessoais e comportamentos também peculiares (MULLINS, 2004). Mullins (2004) expõe em seu livro uma série de atributos dos gestores de turismo, compilados de estudos realizados por pesquisadores com profissionais da área. Em resumo, ele afirma que há três valores básicos que se destacam: honestidade, responsabilidade e capacidade. Porém ele acredita que estes valores são muito genéricos e pouco expressam sobre as verdadeiras características de um gestor eficiente. Dessa forma, aprofundando estes dados, Mullins (2004, p. 122) coloca que os gestores do setor da hospitalidade são: • mais calmos, realistas e estáveis; • mais afirmativos, competitivos e persistentes; • mais bem-dispostos, ativos e entusiasmados; • mais confiantes socialmente e mais espontâneos; • mais realistas, independentes e céticos; • mais difíceis de enganar, mais determinados e comprometidos consigo próprios; • mais interessados com questões práticas e detalhes. Mullins (2004) ainda apresenta, além disso, as aptidões necessárias para um processo eficiente de gestão e execução do trabalho. Para que isto ocorra, ele alega que o gestor deve possuir competência técnica, habilidades sociais e capacidade criativa. Complementando esta visão, temos mais duas aptidões propostas por Ansarah (2002), que é a disposição para a profissão e qualidades comportamentais. Vamos entender melhor cada um destes atributos. • Competência técnica: possuir conhecimentos, métodos e informações específicas para realizar as tarefas cotidianas dirigidas à efetiva prestação do serviço e estar constantemente atualizado. • Habilidades sociais: ter relações interpessoais no local de trabalho e saber liderar a equipe para alcançar altos níveis de desempenho. TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO 25 • Capacidade criativa: possuir a capacidade de analisar o ambiente interno e externo, de forma globalizada, para realizar um eficiente planejamento estratégico e tomar decisões. • Disposição para a profissão: ter vocação para lidar com a heterogeneidade da demanda turística, em relação à nacionalidade, idioma, cultura, necessidades, diferenças sociaisetc. • Qualidades comportamentais: possuir qualidades que transmitam confiança para o cliente e permitam entregar um serviço adequado e de qualidade. Levando em conta a opinião de outros autores, temos ainda os pressupostos de Chon e Sparrowe (2003). Eles consideram como essenciais duas habilidades. Primeiramente citam a comunicação, como uma habilidade que já é reconhecida há muito tempo. Depois, citam uma habilidade mais recente, que é saber lidar com computadores. Para que a comunicação seja eficaz, é preciso: • transmitir a mensagem de maneira clara; • falar com clareza; • falar pausadamente; • ser entusiasta; • ter certeza de que quem ouve entendeu a mensagem; • transmitir mensagens curtas e simples; • incentivar a comunicação. Saber utilizar novas tecnologias e trabalhar com computadores é primordial. São necessários alguns conhecimentos básicos nessa área. Você deve saber usar: • processadores de texto; • planilhas; • banco de dados. Complementando as colocações dos autores que vimos anteriormente, não podemos deixar de expor a opinião de Ruschmann e Widmer (2004, p. 76) sobre o assunto, que resumem, em poucas palavras, o que já foi exposto. Para eles UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 26 [...] o planejador em turismo deve ser uma pessoa dinâmica, criativa, de atitudes e pensamentos rápidos, de fácil relacionamento, possuir ampla visão de mundo, estando constantemente informada sobre os acontecimentos e tendências globais gerais, além, especificamente, daqueles relacionados ao turismo. Com o perfil proposto, somado à competência profissional, é possível alcançar o maior de todos os objetivos almejados pelas empresas turísticas: satisfazer os turistas. A satisfação dos clientes é essencial para o sucesso de qualquer negócio e transmite a seriedade e determinação de gestores preparados. 3 INICIATIVAS DE RECONHECIMENTO PROFISSIONAL DO GESTOR DE TURISMO O cenário profissional contemporâneo está embebido por uma série de profissões destinadas a atender as diversas características mercadológicas oriundas das relações entre a oferta e a demanda. Percebe-se a presença de profissionais atuantes nos três setores da economia, ou seja, setor primário, setor secundário e setor terciário. No setor primário apresentam-se as atividades econômicas ligadas à agricultura, pecuária e extrativismo. É o setor que fornece a matéria-prima para ser beneficiada pela indústria. O setor secundário é representado pela indústria que promove a produção de bens de consumo, máquinas e equipamentos e geração de energia. Este setor distribui os produtos pela via atacadista. A via atacadista se refere à comercialização de grande quantidade de produtos para o comércio varejista, ou seja, os produtos que não são comercializados diretamente para os consumidores finais. O setor terciário é caracterizado pelo comércio varejista. O comércio varejista refere-se à comercialização de produtos e serviços diretamente para os consumidores finais. Dessa forma, o turismo pertence ao setor terciário por se caracterizar como um serviço. E por isso necessita de mão de obra qualificada para aperfeiçoar e desenvolver esta atividade econômica, porque: A qualidade dos produtos turísticos está intrinsecamente associada à qualificação dos serviços prestados. O padrão de qualidade desejado deve estar referenciado na satisfação dos consumidores e nos pressupostos do turismo sustentável, o que implica estabelecer uma política que estimule a melhoria contínua da qualidade e segurança dos serviços prestados. (BRASIL, 2007b, p. 74). TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO 27 Diante desta perspectiva o gestor de turismo é o profissional indicado a contribuir nesta questão. Para isso, o governo federal por meio do Ministério do Turismo possui políticas públicas de qualificação e reconhecimento profissional do gestor de turismo. Entre as iniciativas voltadas para o reconhecimento e qualificação profissional deste ator do desenvolvimento turístico, citam-se o macroprograma de qualificação dos equipamentos e serviços turísticos e a publicação de relatórios acerca da profissão. O macroprograma de qualificação dos equipamentos e serviços turísticos, por meio de seu programa de qualificação profissional, visa “[...] promover a qualificação e o aperfeiçoamento dos agentes atuantes em toda a cadeia produtiva do turismo, nos diversos níveis hierárquicos, tanto do setor público quanto do setor privado”. (BRASIL, 2007b, p. 12). DICAS Deseja saber mais sobre este macroprograma? Acesse o Plano Nacional do Turismo 2007-2010 através do endereço eletrônico: <http:// www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/plano_nacional/index.html>. Segundo Mendonça (2012), a profissão de gestor de turismo está entre as 13 profissões do futuro. “Empresas do setor de turismo começam uma fase de investimentos em capacitação profissional e inovação. Para lidar com a segmentação do mercado, o profissional de gestão, que conhece toda a cadeia do setor e é o responsável por incorporar inovações, será valorizado”. A Organização Mundial do Turismo aponta ainda a importância do turismo para o desenvolvimento social e econômico, porque na reunião do G-20, grupo representativo das 20 maiores economias do mundo, realizada em maio de 2012, o turismo foi citado pela primeira vez como uma atividade capaz de estimular o crescimento da economia global. “Os representantes desses países ressaltaram o papel do turismo na economia – como um meio de estimular a demanda e os gastos e, assim, promover a criação de emprego – e se comprometeram a trabalhar visando à facilitação de viagens”. (BRASIL, 2012a, p. 9). Continuemos a olhar para as oportunidades profissionais para o gestor de turismo. “Segundo a OMT, o turismo é responsável pela geração de 6% a 8% do total de empregos no mundo. Além disto, é uma das atividades econômicas que demanda o menor investimento para a geração de trabalho”. (BRASIL, 2010, p. 29). UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 28 É possível compreender este cenário, pois o crescimento de empregos do turismo no Brasil é expressivo. De acordo com metodologia da OMT e os dados da RAIS, o mercado formal de trabalho nas Atividades Características do Turismo – ACTs –, no Brasil, passou de 1,71 milhão de pessoas empregadas, em 2002, para 2,27 milhões de pessoas empregadas em 2008, o que representa um crescimento da ordem de 32,70% em seis anos. No ano de 2008, este número correspondeu a 5,76% do total de empregos formais acumulados no país. (BRASIL, 2010, p. 30). Dessa forma, verifica-se a pertinência do gestor de turismo para a qualificação do turismo nacional. Uma das carências relacionadas ao mercado de trabalho em turismo está vinculada à eficiência e à efetividade da qualificação profissional, que tem grande impacto na qualidade dos serviços prestados e na ampliação e valorização das ocupações em turismo. Essa carência está relacionada à limitação de informações sobre a mão de obra de turismo no Brasil, tanto no que se refere à demanda, quanto à oferta de qualificação. (BRASIL, 2010, p. 16). O reconhecimento deste profissional se dá em diversas áreas de atuação do turismo (BRASIL, 2009, p. 66): • nos vários segmentos turísticos: Turismo de Lazer, Turismo de Negócios, Turismo Cultural, Turismo Religioso, Turismo de Aventura, Turismo de Saúde; • em equipes multidisciplinares; • no ensino, pesquisa e extensão, contribuindo para ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre o turismo; • em organizações públicas, privadas e não governamentais, atuando na gestão do turismo; • na análise e interpretação do fenômeno turístico, avaliando o impacto da atividade turística e propondo alternativas para o desenvolvimento local, regional e nacional; • na pesquisa, para subsidiar a formulação de políticas públicas que possam contribuir para o efetivo desenvolvimentodo setor de turismo; • no mercado turístico, contribuindo para melhorias contínuas da relação entre o turista, o destino e a comunidade local; TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO 29 • na preparação da comunidade local para receber os visitantes, contribuindo para a melhoria do atendimento ao turista e para a qualidade de vida da própria comunidade; • na educação socioambiental, por meio de uma atuação orientada por premissas de um modelo de turismo sustentável; • no planejamento, organização, gestão e avaliação de empreendimentos turísticos, e de planos, programas e projetos de desenvolvimento turístico. Sendo assim, o gestor de turismo possui oportunidades para contribuir e progredir com o desenvolvimento do turismo. 4 ASPECTOS SOBRE A MOTIVAÇÃO HUMANA Para iniciar este tópico, vamos inicialmente entender o que significa a palavra motivação. Para Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999, p. 86), “[...] a motivação se refere às forças dentro de uma pessoa responsáveis pelo nível, direção e persistência do esforço dispendido no trabalho”. A definição de Chiavenato (2004, p. 476) pode dar mais clareza ao termo. Para ele, “a motivação funciona como o resultado da interação entre o indivíduo e a situação que o envolve”, ou ainda, “é o processo que leva alguém a se comportar para atingir os objetivos organizacionais, ao mesmo tempo em que procura alcançar também os seus próprios objetivos individuais” (CHIAVENATO, 2004, p. 478). O autor ainda complementa que As pessoas diferem quanto ao seu impulso motivacional básico, e a mesma pessoa pode ter diferentes níveis de motivação que variam ao longo do tempo, ou seja, ela pode estar mais motivada em um momento e menos motivada em outra ocasião. A conclusão é que o nível de motivação varia entre as pessoas e dentro de uma mesma pessoa através do tempo. Além das diferenças individuais, existem as variações no mesmo indivíduo em função do momento e da situação. (CHIAVENATO, 2004, p. 476). Nem todas as pessoas são motivadas pelas mesmas ações. Nem uma mesma pessoa é continuamente motivada pelas mesmas coisas. Isso acontece porque somos diferentes uns dos outros e porque situações distintas também exercem influência sobre a motivação humana. Isto quer dizer que as pessoas possuem necessidades e expectativas diferentes. Dessa forma, podemos basicamente classificar as motivações humanas em dois tipos, conforme proposto por Mullins (2004): UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 30 • Motivação extrínseca: são as recompensas tangíveis, como benefícios, segurança no trabalho, promoções, ambiente de trabalho adequado e outras. • Motivação intrínseca: são as recompensas psicológicas, como satisfação pessoal no trabalho, oportunidade de enfrentar desafios, reconhecimento e outras. Diversas e diferentes são as maneiras de motivar as pessoas. Na prática a motivação não se dá apenas por recompensas financeiras e mudanças comportamentais. Empresas bem-sucedidas no mercado estão colocando em prática diversos incentivos para motivar seus colaboradores. Para incentivar a motivação, Chiavenato (2004, p. 500) cita os seguintes aspectos: • Participação ativa das pessoas nos processos decisórios. • Atribuição de maiores responsabilidades e desafios. • Rotação de cargos e estágios em diferentes atividades para aumentar a multifuncionalidade. • Ampliação do trabalho para aumentar as competências individuais. • Nomeação em público para aumentar a visibilidade das pessoas. • Reconhecimento público do bom desempenho e do alcance de resultados. • Conhecimento do conjunto e visão sistêmica e holística. • Estímulo institucional da organização. • Solenização e honrarias por trabalhos realizados. • Estímulo à autorrealização pessoal. • Incentivo aos supervisores para que ouçam as pessoas. • Atitude positiva dentro da organização. • Remuneração variável. Então, motivar pessoas pode não ser uma tarefa muito fácil, não é? Para tentar facilitar esta situação, vamos estudar um pouco as principais teorias motivacionais que devem ser de conhecimento de líderes e gestores, pois auxiliam no processo de motivação de colaboradores e equipes de trabalho. TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO 31 4.1 TEORIAS MOTIVACIONAIS Existem diversas teorias que procuram explicar a motivação humana. Os comportamentalistas verificaram que é necessário saber quais são as necessidades humanas, para então compreender o comportamento das pessoas e, consequentemente, os aspectos da motivação humana, para melhorar as relações dentro das empresas e a qualidade do trabalho (CHIAVENATO, 2003). Uma administração eficaz depende de relações de qualidade estabelecidas entre a equipe de trabalho, o que pode ser conseguido quando se dá atenção especial aos aspectos emocionais e motivacionais. Para Mullins (2004), isto é especialmente importante em organizações de serviço, como o ramo da hospitalidade, no qual a qualidade e a satisfação dependem dos colaboradores, que possuem contato direto com os clientes. Porém, não é fácil explicar as questões que motivam as pessoas a trabalhar bem. A motivação é uma variável complexa, influenciada por aspectos individuais, sociais, culturais e situacionais. Devido à sua natureza complexa, a motivação foi estudada por diversos pesquisadores que elaboraram teorias que procuram explicar os motivos que afetam o comportamento e o desempenho das pessoas (MULLINS, 2004). Existem dois tipos de teorias, divididas de acordo com suas abordagens. São elas as teorias motivacionais de conteúdo e as teorias motivacionais de processo, explicadas a seguir por Chiavenato (2004). • teorias de conteúdo: proporcionam uma visão geral das necessidades humanas, pois estão relacionadas àquilo que está dentro do indivíduo ou no ambiente que o rodeia. Estas teorias ajudam o gestor a entender o que os colaboradores desejam e o que satisfará suas necessidades; • teorias de processo: proporcionam o entendimento dos processos cognitivos e dos pensamentos das pessoas que influenciam em seu comportamento. Existem diversas teorias de conteúdo e de processos, vamos agora conhecer as mais importantes e suas principais particularidades. UNIDADE 1 | FUNCIONALIDADES E APLICAÇÕES DA GESTÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 32 4.1.1 Teorias de conteúdo a) Teoria da hierarquia das necessidades de Maslow Este modelo, publicado originalmente em 1946, provavelmente é o mais falado e conhecido de todos. Na proposição de Maslow, as pessoas são seres que sempre querem mais, e o que elas querem depende do que elas já possuem. Ele organiza as necessidades do ser humano numa escala de cinco níveis, numa hierarquia de importância (BOWDITCH; BUONO, 2004; MULLINS, 2004), que é a Pirâmide de Maslow, da qual você já deve ter ouvido falar. Para entender perfeitamente este modelo, vamos visualizá-lo na seguinte figura. FIGURA 4 – PIRÂMIDE DE MASLOW NECESSIDADES DE AUTORREALIZAÇÃO Realização de todo o potencial, tornar-se tudo o que se é capaz de ser. NECESSIDADES DE AUTOESTIMA OU EGO Ter respeito próprio, ser confiante, ser realizado, ter prestígio, status. NECESSIDADES SOCIAIS OU DE AFEIÇÃO Necessidades de afeto, de pertencer a um grupo, de ter amizades e atividades sociais. NECESSIDADES FISIOLÓGICAS Satisfação de necessidaes básicas, como fome, sede, sono, sexo. NECESSIDADE DE SEGURANÇA Estar seguro contra a dor, ameaças físicas e perdas. Necessidade de prever. FONTE: Adaptado de: Mullins (2004, p. 176) b) Teoria ERC de Alderfer Este modelo foi uma tentativa de modificar e simplificar a teoria de Maslow, reduzindo o modelo para três níveis. Os três conjuntos básicos de necessidades propostos por Alderfer foram as necessidades existenciais, de semelhança e de crescimento. Entenda este modelo na figura seguinte: TÓPICO 2 | CARACTERIZAÇÃO DO GESTOR DE TURISMO 33 FIGURA 5 – TEORIA DE ALDERFER NECESSIDADES DE CRESCIMENTO Referem-se ao desenvolvimento
Compartilhar