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Direito Civil III | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 1 A obrigação, em geral, não é um vinculo pessoal imobilizado. Ela pode ser transferida, ativa (crédito) ou passivamente (débito). ® A transmissão da obrigação é de grande importância, pois faz girar as engrenagens econômicas do mundo. ® Possuem natureza patrimonial. Vinculo econômico A transmissão de uma obrigação ocorre quando as partes em que se constituiu a obrigação, é substituída, de forma que a mesma relação jurídica permanece. ® Modificação subjetiva Tratam de direitos disponíveis, por isso pode haver essa circulação. A transmissão pode ocorrer: 1. Motivo Convencional: Por manifestação de vontade das partes. Ato voluntário. 2. Força da lei: sucessão hereditária até o limite da herança. Observação 1: O termo sucessão está ligado ao sujeito. A morte. Observação 2: o CC trata apenas a Transmissão da obrigação por motivo convencional, relação entre vivos = vontade das partes. Transmissão ≠ Sucessão O termo transmissão está diretamente ligado ao objeto = Crédito ou débito O termo sucessão está diretamente ligado ao sujeito. A pessoa. Modalidade de transmissão: 1. Cessão de crédito 2. Cessão de débito ou assunção da dívida 3. Cessão de contrato. Cessão de Crédito A cessão de crédito consiste em um negocio jurídico por meio do qual o credor transmite total ou parcialmente o seu credito a um terceiro, mantendo-se a relação obrigacional com o mesmo devedor. Nomenclatura da cessão de crédito: ® Credor = cedente = Aquele que cede o crédito ® Terceiro = cessionário = o que recebe o credito. É o novo credor. ® Devedor= cedido ® Objeto da obrigação= crédito cedido É negócio jurídico oneroso, com propósito lucrativo, mas pode também haver transmissão gratuita do crédito. Transmissão das Obrigações Cessão de crédito e Cessão de débito Direito Civil III | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 2 Exemplo de cessão de crédito de natureza onerosa: A emprestou $ 5.000,00 a B, pelo prazo de três anos, tendo a dívida sido afiançada por C. Passado um ano, o mutuante (A) tem inesperadamente necessidade de dinheiro. Como não pode ainda exigir a restituição da quantia mutuada, vende o crédito por $4.200,00 a D. ® Se A não tivesse cedido onerosamente, a cessão teria sido gratuita. O Art. 286 do CC conceitua cessão de crédito. “Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação” A partir do artigo, conclui-se que a cessão não poderá ocorrer: ® Se a natureza da obrigação for incompatível com a cessão = NATUREZA ® Se houver vedação legal = LEI ® Se houver clausula contratual proibitiva = VOLUNTÁRIA ¨ Da natureza da obrigação Nem toda relação obrigacional admite a transmissibilidade creditória. Como é o caso do direito aos alimentos; direitos da personalidade, obrigações infungíveis, aposentadoria... ® Trata-se de obrigações personalíssimas, pois devem ser cumpridas apenas por pessoa específica. ¨ Proibição legal Há a incessibilidade por vedação legal = proibição legal. É o caso da regra prevista no art. 520 do CC/2002, que proíbe a cessão do direito de preferência a um terceiro. Da mesma forma, o art. 1.749, III, do CC/2002 proíbe que o tutor seja cessionário de direito, contra o tutelado. ¨ Cláusula contratual proibitiva Há casos em que a cessão pode ser proibida, pois são afastadas pela vontade das partes e deve ser pré-estabelecida no contrato da obrigação. A clausula proibitiva só poderá ser oposta (aplicada) ao cessionário, se constar expressamente no instrumento da obrigação. Entretanto, se o contrato for silente (silencioso) a respeito, presume-se que é possível a cessão. ® TIRANDO ESSAS HIPÓTESES, TUDO É CESSÍVEL. Por ter natureza negocial, a cessão pressupõe a observância dos pressupostos gerais de validade: capacidade e legitimidade das partes. ¨ Art. 288 do CC: Para valer frente a terceiros, a cessão de crédito deverá constar de instrumento público ou instrumento particular, devendo revestir das solenidades previstas no §1º do art. 654 do CC, indicando: ® O lugar em que foi passado ® A qualificação das partes ® A data ® O seu objetivo e conteúdo Direito Civil III | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 3 Indispensável para ambos os atos: o registro do ato, para que gere efeito erga omnes. Transmitido o crédito, os acessórios e garantias da dívida também serão cedidos, se não houver estipulação expressa em sentido contrario. ® Art. 287 do CC. ¨ Notificação do Devedor e responsabilidade do cedente: Para que a cessão tenha eficácia jurídica, é necessário que seja feita a notificação. ® O devedor não precisa autorizar a cessão. Porém, deve ser notificado a respeito, uma vez que saberá que não pagará mais a divida ao credor primitivo (cedente), mas sim a novo (cessionário). ® O dever de informar, até faz relação com a questão da boa-fé objetiva nos contratos. Portanto, a cessão não tem eficácia em relação ao devedor, enquanto não for notificado. Mas, por notificado se tem o devedor que, em escrito ou público ou particular (ou judicial ou extrajudicial), se declarou ciente da cessão feita. ® Art. 290 do CC. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido. ¨ Art. 291 do CC Não havendo a notificação, a cessão não gerará o efeito jurídico pretendido, e o devedor não estará obrigado a pagar ao novo credor. Caso o devedor pague o credor primitivo (cedente), antes de ter o conhecimento da cessão, ele fica desobrigado. ¨ Art. 292 do CC Notificado, o devedor pode opor ao cessionário as exceções (defesas) que lhe competirem, podendo ser as que no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. ® Art. 294 do CC. Exemplo: Se A, credor primitivo (cedente), transfere o credito para B (cessionário). O cessionário faz a notificação da cessão para C, que é o devedor. Então, questiona-se, C deve pagar ao cessionário B ou pode alegar que “não vou te pagar porque o credor primitivo (cedente), está me devendo”? A resposta é que depende, no momento em que C foi notificado, se ele tiver alguma defesa pessoal contra o cedente, ele deve alegar imediatamente, sob pena de não poder usar essa defesa. Imediatamente = prazo de 5 dias, com fulcro no Art. 218 §3 do CPC. Essa regra do art. 294 significa que o sujeito passivo (devedor) da obrigação poderá defender-se, utilizando “armas jurídicas” que apresentaria contra o cedente. ® Se o crédito foi obtido mediante erro ou lesão, por exemplo, poderá opor essas exceções (defesas) à cessão do credito. ® Além de que poderá provar que já pagou ou que a divida fora remitida (perdoada). Direito Civil III | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 4 Quanto à responsabilidade pela cessão de crédito. ® Vale lembrar a sua classificação: ¨ Cessão pro soluto Aqui o cedente deverá garantir que o crédito existe, embora não responda pela solvabilidade do devedor = se o devedor pagar ou não, nada pode fazer o cedente, não há a garantia do pagamento. Na cessão a titulo oneroso, o cedente ficará responsável pela existência do crédito, ao tempo em que lhe cedeu, ainda que o contrato nada diga a respeito. Deve garantir que o crédito não é falso. ¨ Art. 295, primeira parte do CC Se a cessão tiver sido gratuita, somente remanesce a mesma responsabilidade (pela existência do crédito) se o cedente houver procedido de má-fé. ¨ Art. 295, segunda parte do CC. Ou seja, nesse caso, a responsabilidade é apenas dagarantia de existência do crédito. ¨ Cessão pro solvendo Além de garantir a existência do crédito, no ato de transmissão, o cedente expressamente se responsabiliza pela solvência do devedor. Isto é, funciona como uma garantia, se o devedor não pagar, cabe ao cedente pagar. Jamais se presume a garantia do pagamento do devedor. O cedente só garante o pagamento do devedor (cessão pro solvendo) se estiver expresso, se estiver determinado pelas partes. ¨ Art. 296 do CC. O cedente torna-se responsável pelo pagamento da dívida: até o limite do que recebeu do cessionário (o exato valor que recebeu do cessionário), tendo de ressarcir as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. ¨ Art. 297 do CC. ® Não deve responder por mais do que recebeu. E se o crédito for penhorado? Uma vez penhorado um crédito, este não mais poderá ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora. ¨ Art. 298, primeira parte, do CC. Exemplo: Se A deve uma duplicata para B, e o credor de B vai lá e penhora o bem/ crédito, e por consequência o oficial de justiça “notifica” A que o bem foi penhorado e deverá ser pago na vara cível. Significa que A não precisa pagar mais para B. Portanto, se foi notificado que houve a penhora, cabe ao devedor pagar ao órgão e não mais ao credor. Mas, caso o devedor não seja notificado da penhora e pagar ao cessionário, ficara desobrigado, restando apenas ao terceiro prejudicado entender-se com o credor. ¨ Art. 298, segunda parte, do CC. Cessão de credito onerosa gratuita ® Pró soluto ® Pró solvento Direito Civil III | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 5 Cessão de Débito O Código Civil denomina: Assunção de dívida Consiste em um negocio jurídico por meio do qual o devedor, com o expresso consentimento do credor, transfere a divida/ obrigação para terceiro. Isto é, transfere para outra pessoa pagar a divida. ® Trata-se de uma transferência debitória, com mudança subjetiva na relação obrigacional. ® A relação obrigacional permanece a mesma ® Considera-se o patrimônio do devedor como garantia da satisfação do crédito Nomenclatura da cessão de débito: ® Antigo devedor: devedor primitivo ® Novo devedor: Assuntor ® Objeto da obrigação: Divida Assumida O art. 299 do CC conceitua: Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa”. Portanto, podemos destacar: Diferente da cessão de crédito, onde o devedor apenas é notificado, aqui na assunção de dívida, o credor deve ser consultado. ® Só valerá a cessão, se o credor consentir expressamente, para que seja considerada valida e eficaz. ® O silêncio do credor é considerado como recusa. ¨ Da anulação da cessão: 1º A lei não admite a exoneração do devedor se o terceiro (a quem se transmite a obrigação), era insolvente e o credor ignorava. ¨ Art. 299, in fine, do CC Nesse tópico, vale destacar que, na assunção de dívida, deve haver total boa-fé. Se o devedor agir de má-fé, o débito (a obrigação) volta para o devedor primitivo. Se o novo devedor foi insolvente, a obrigação volta para o devedor primitivo. Portanto, é necessário que o credor saiba da solvabilidade do novo devedor. 2º Se a substituição do devedor vier a ser anulada, volta o debito para o devedor primitivo, restaurando o débito com todas as garantias, exceto as garantias prestadas por terceiro (uma fiança, por exemplo). Mas, se o terceiro (assuntor) atuou de má-fé, sabendo do vício, a sua garantia subsistirá. ¨ Art. 301 do CC. Se houver assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção de dívida (troca do devedor), as garantias especiais feitas originariamente ao credor. Isto é, quando há a cessão de débito, todas as garantias reais acompanharam o novo devedor. Mas as garantias pessoais/ especiais, por regra não seguem. ¨ Art. 300 do CC Direito Civil III | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 6 Quanto aos meios de substituição, dividem-se em: ® Delegatária = Por delegação Constitui no acordo entre assuntor (novo devedor) e o devedor primitivo, com devida anuência do credor. Há a delegação privativa: Poderá ter efeito exclusivamente liberatório, não remanescendo qualquer responsabilidade para o devedor originário (delegante). Há a delegação cumulativa ou simples: Poderá admitir a subsistência (permanência) da responsabilidade do delegante, que respondera pelo débito em caso de inadimplência do novo devedor. ® Expromissória = Por expromissão Aqui é o acordo entre o novo devedor diretamente com o credor, isto é, independente do consentimento do devedor primitivo. Há a eficácia liberatória, assim como na delegação. Há também, em situação mais rara, a expromissão cumulativa: O terceiro poderá vincular-se solidariamente ao cumprimento da obrigação, junto do devedor primitivo. Nesse caso não há a sucessão do débito propriamente dito. ¨ Da oponibilidade das exceções Na cessão de débito, o novo devedor não pode opor ao credor as exceções (defesas) pessoais que competiam ao devedor primitivo. ¨ Art. 302 do CC Exemplo: incapacidade, dolo, coação, algum vicio. Exceção: Art. 303 do CC. No tocante ao adquirente de um móvel hipotecado, poderá assumir o debito garantido pelo imóvel. Vamos supor: quando nós temos um débito hipotecário, ou seja, se eu compro a casa de um devedor hipotecário da caixa econômica federal. Eu devo consultar a caixa, se ela ficar em silencio, por 30 dias, considera-se que foi aceito a assunção da dívida. Aconselham, no caso, a assunção do débito, podendo o cessionário (adquirente do imóvel) pagar a dívida, sub-rogando-se nos direitos do credor em relação ao cedente (devedor original),