Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Doença infamatória intestinal (DII) e doença de Crohn (DC) - DII: Doenças caracterizadas pela infamação crônica do intestino. Essas doenças diferem quanto à localização e ao comprometimento das camadas do intestino, mas também pela fisiopatogenia. - Inclui: Doença de Crohn e Colite Ulcerativa ETIOPATOGENIA DA DII Diversos fatores, incluindo fatores ambientais (expossoma), microbiota intestinal (microbioma) e imunidade do hospedeiro (imunoma), interagem para iniciar e perpetuar a infamação da mucosa gastrointestinal em indivíduos predispostos geneticamente (genoma/epigenoma). GENOMA - doença poligênica (Apesar das inúmeras correlações e predisposições genéticas descritas, a correlação entre gêmeos monozigóticos é de 30% para DC e 15% para RCU) - O componente genético parece ser maior na DC quando comparado a RCU. - Esses genes estão envolvidos em diversas funções celulares responsáveis pela homeostase intestinal, incluindo: função de barreira; restituição epitelial; defesa da microbiota; regulação da resposta imune inata e adaptativa; geração de espécies reativas de oxigênio, autofagia e funcionamento do retículo endoplasmático. - Os genes podem ter caráter protetor ou de suscetibilidade EPIGENÉTICA - a dieta do indivíduo e a infamação criam um microambiente favorável às reprogramações epigenéticas, podendo modifcar a própria resposta imune durante o curso da doença. - sugere a importância da interação genética com o meio ambiente (epigenética) como sendo uma das causas. - Os principais mecanismos envolvidos na epigenética são a metilação do DNA, modifcação das histonas, interferência no RNA e posicionamento do nucleossoma. EXPOSSOMA - grande infuência do meio ambiente na etiopatogenia - fatores ambientais como o aleitamento materno e a apendicectomia foram considerados protetores, ao passo que a exposição a vacinas, o estresse psíquico e o uso de anticoncepcional oral seriam desencadeantes da doença. - Experimentalmente, a dieta rica em gordura foi capaz de acelerar o processo infamatório (por alterar a fora intestinal por meio de mecanismos envolvendo aumento da permeabilidade intestinal, alteração de fatores luminais, maior recrutamento de células dendríticas e direcionamento da resposta imune para uma resposta tipo Th17). - Mudanças no estilo de vida infuenciam o surgimento da DII: consumo de dieta mais industrializada e consequentemente maior ingestão de xenobióticos; menor exposição a microrganismos patogênicos pela melhora nas condições higiênico- sanitárias; maior facilidade de uso de antibiótico e outros medicamentos. - o uso repetido de antibióticos no primeiro ano de vida aumenta o risco de desenvolver DII na fase adulta, o tabagismo é outro fator ambiental relacionado a DII e está associado a um curso mais agressivo e a maior risco de recidivas na DC. - A hipótese da higiene postula que a menor exposição a microrganismos na infância resultaria em maior vulnerabilidade a doenças imunológicas, incluindo as DII, em virtude do papel das bactérias no desenvolvimento das células T regulatórias MICROBIOMA - não se tem certeza se o desequilíbrio da fora intestinal (disbiose) na DC e RCU seja causa ou efeito do processo infamatório. - Pacientes com DII têm uma redução na diversidade da microbiota. Acredita-se que essa pobreza na fora a tornaria mais suscetível a variações decorrentes de alterações no meio ambiente, como uso de medicamentos ou infecções agudas do trato gastrointestinal, incluindo aquelas por Clostridium difcile. - A dieta infuencia diretamente o microbioma. O consumo de açúcares, gordura animal e ferro estimula o crescimento de bactérias potencialmente patogênicas, ao passo que a ingestão de fbras aumentaria a população de bactérias aparentemente benéfcas ao hospedeiro IMUNOMA (componentes que constituem o sistema imunológico) - Em indivíduos saudáveis, o intestino encontra-se em um estado de “infamação fsiológica” finamente controlado, o que permite ao sistema imune local responder de maneira diferente às bactérias da fora autóloga e às bactérias patogênicas. - Esse discernimento necessita do pleno funcionamento de diversas estruturas do intestino e envolve um complexo mecanismo de tolerância, com supressão ativa das células linfoplasmocitárias residentes no intestino - A mucosa intestinal contém um grande número de células linfoides, incluindo células T, células B, granulócitos, mastócitos, NK, células T com características de NK (NKT), macrófagos e células dendríticas - Atualmente, sabe-se que o sistema imune mantém íntima relação com antígenos da luz intestinal por meio de células M, células epiteliais e captação intencional de antígenos da luz intestinal por células dendríticas, sem ruptura da integridade da barreira intestinal. - As células epiteliais também expressam estruturas semelhantes a receptores, capazes de reconhecer padrões específcos presentes nos micróbios da luz intestinal, como os receptores toll-like (TLR), presentes na superfície das células epiteliais e diversas células do sistema imune inato e adaptado e seu equivalente intracitoplasmático NOD. Os TLR geralmente são pouco expressos no indivíduo saudável, mas têm sua expressão aumentada na presença de processo infamatório. - células como as de Paneth, localizadas no interior da cripta, produzem peptídeos com capacidade antimicrobiana, chamados de defensinas e que ajudam na regulação da microbiota - As células dendríticas são fundamentais, pois são essenciais na estruturação do tipo de resposta elaborada para determinado antígeno. O estado de maturação das células dendríticas é um fator crucial na dicotomização funcional entre uma resposta imune celular com proliferação de células T (T-1, T-2, T-17) e uma resposta supressora, com geração de células reguladoras T (Treg), produtoras de IL-10 e TGF-beta. - Uma das características fundamentais do sistema imune é sua capacidade de discriminar antígenos próprios e exógenos, impedindo reações contra autoantígenos e a própria fora autóloga. - Células T isoladas da mucosa intestinal de indivíduos com DC proliferam mais, expressam mais marcadores de ativação (receptor de IL-2) e apresentam maior capacidade citotóxica quando comparadas às células de pacientes com RCU, - Na RCU, os antígenos da luz intestinal ativam as células epiteliais e apresentadoras de antígenos a produzem IL-13, que age sobre os linfócitos intraepiteliais transformando-os em células T com característica de NK (NKT). Esses linfócitos transformados em células NKT reconhecem o antígeno apresentado pelas células epiteliais associado à molécula CD1, liberam granzima e perforina e causam a lise das células-alvo (células epiteliais), explicando a continuidade do processo infamatório. ESTRESSE DO RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO - O outro mecanismo envolvido na fsiopatogenia da DII seria o estresse do retículo endoplasmático, com acúmulo de proteínas não enoveladas ou mal enoveladas e que culminaria na apoptose da célula, especialmente com a destruição das células de Paneth e células caliciformes DOENÇA DE CROHN (DC) - doença inflamatória transmural e recidivante que pode acometer qualquer segmento do tubo digestório, da boca ao ânus, caracterizada por inflamação distintas descontínua dos segmentos digestivos acometidos, com formas de manifestações em cada indivíduo (luminal, penetrante ou fistulizante). - doença sistêmica, pois apresenta manifestações extraintestinais que podem ou não estar ligadas à atividade da doença digestiva. EPIDEMIOLOGIA - retocolite ulce.rativa (RCU) e a doença de Crohn (DC) são doenças inflamatórias crônicas idiopáticas e heterogêneas, comuns também entre crianças e adolescentes.25% dos casos de doença inflamatória intestinal (DII). - DC apresenta distribuição bimodal em relação à idade: maior pico entre 20 e 40 anos, e menor de 60 a 80 anos. - Predisposição familiar é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento da DC. - A prevalência da DC parece mais alta em áreas urbanas que nas rurais e nas classes sociais mais elevadas. - Hipótese da higiêne: sugere pessoas menos expostas a infecções na infância ou a condições sanitárias de maior contaminação com organismos "amigos", estariam associados a maior incidência de doenças imunológicas crônicas, incluindo-se a Dll. FISIOPATOLOGIA - O aumento da permeabilidade intestinal tem sido implicado na patogênese da DC com consequente aumento da carga de antígenos pelo sistema imune da mucosa que inicia e perpetua a inflamação. - A DC pode afetar qualquer área do intestino. Tipicamente, há áreas descontinuamente afetadas (lesões em salto). - A primeira anormalidade visível é o aumento dos folículos linfoides com um anel de eritema em volta (sinal do anel vermelho). Isso leva à ulceração aftoide que, por sua vez, progride a ulcerações profundas, fissurando, com aspecto de "pedra de calçamento", fibrose, estenose e fistulização. Inflamação e fibrose predispõem a estenoses intestinais, apresentando-se com sintomas obstrutivos e perfuração local da parede intestinal, levando à formação de abscesso. - Na DC a dor abdominal, no início da doença, decorre de obstrução funcional, por espasmo e edema, e, posteriormente, a obstrução se toma orgânica por fibrose e estenose. O comprometimento seroso, pela inflamação transmural lesando terminações nervosas, vai intensificar e perpetuar a dor com a evolução da doença. - A inflamação da mucosa, o edema, a fibrose, a obstrução linfática, quando localizados no intestino delgado, podem provocar diferentes fenômenos disabsortivos. A extensão e a localização anatômica da lesão determinam o grau de má absorção, assim como a especificidade do nutriente envolvido (Comprometimento do duodeno e jejuno proximal leva à má absorção de folatos, vitaminas, ferro, gliddios e lipídios; comprometimento do íleo distai provoca má absorção de gorduras e de aminoácidos; e comprometimento do fleo terminal, má absorção de vitaminas B12 e de lipídios). - Depleção de potássio: ocorre com certa frequência por falta de ingestão e por perda excessiva através das fezes. -Hipopotassemia, hipomagnesemia, hipoalbuminemia, anemia, anorexia - Esses fenômenos disabsortivos somados à ingestão insuficiente de calorias levam ao grande déficit de crescimento, observado em 20 a 30% dos pacientes pediátricos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - O quadro clínico é muito variado, pois depende da duração, localização, extensão, atividade da doença, e presença ou não de complicações. - dor abdominal é o sintoma mais comum, geralmente em caráter de cólica, intensa e mais presente do que na RCUI.Em algumas ocasiões, é caracterizada como cólica periumbilical, pós-prandial, mas geralmente tende a se localizar em quadrante inferior direito, devido à grande frequência do comprometimento do fleo terminal. - O desconforto abdominal tende a se iniciar após as refeições e a cólica aumenta antes da defecação, relacionada com o trânsito do conteúdo intestinal através do segmento intestinal inflamado e/ou estenosado. - Odinofagia, disfagia, pirose e anorexia estão presentes quando há envolvimento do esôfago. - A febre aparece em 20 a 50% dos casos, diarreia é de intensidade moderada, o sangramento retal na DC, de modo geral, é menos frequente do que na RCU, perda de peso. - O déficit de crescimento e o retardo de maturação sexual ocorrem em cerca de 6 a 50% dos casos de crianças. - A doença perianal é observada em 15 a 40% dos pacientes e pode se destacar como a primeira manifestação da DC. - Manifestações sistêmicas: como fadiga, febre e emagrecimento, são notadas na maioria dos pacientes com DC. Pode haver comprometimento de vários órgãos, mas os chamados órgãos-alvo costumam ser: articulações, pele e mucosas, olhos, fígado e rins. COMPLICAÇÕES - Hemorragia, Perfuração intestinal, Abscesso intrabdominal, Estenoses, Suboclusão e obstrução intestinal, Fístulas e doença perianaL, Megacólon tóxico, Malignidade e Complicações extraintestinais (quadro 32.4). DIAGNÓSTICO - História Clínica: Queixa de dor abdominal intensa, noturna e associada a diarreia constituem os dados mais valorizáveis na anamnese. - Exame Físico: Dados antropométricos e de desenvolvimento sexual relacionados com a idade; dor à palpação principalmente no quadrante inferior direito do abdome com ou sem massa palpável; presença de fissuras, abscessos ou fístula na região perianal e lesão perineais são importantes, podendo ser o único achado de exame. -Exame de fezes e de sangue. - raios X simples de abdome, ultrassonografia, tomografia computadorizada de abdome e ressonância magnética. - Enteroscopia, colonoscopia TRATAMENTO Cirúrgico Medicamentos antidiarreicos Aminossalicilatos Corticosteroides Medicamentos imunomoduladores Agentes biológicos Antibióticos Regimes alimentares
Compartilhar