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UNIVERSIDADE FEEVALE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIVERSIDADE CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL ROSANA SILVEIRA DORNELES A EVASÃO DA E NA ESCOLA: AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DOS JOVENS EVADIDOS DA EJA Novo Hamburgo 2018 ROSANA SILVEIRA DORNELES A EVASÃO DA E NA ESCOLA: AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DOS JOVENS EVADIDOS DA EJA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale como requisito a obtenção título de Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social. Orientadora: Prof.ª Dr.a Lisiane Machado de Oliveira Menegotto Novo Hamburgo 2018 ROSANA SILVEIRA DORNELES A EVASÃO DA E NA ESCOLA: AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DOS JOVENS EVADIDOS DA EJA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale como requisito a obtenção título de Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social. Aprovado em __/__/____ BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Lisiane Machado de Oliveira Menegotto (Orientadora) Universidade Feevale ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Eliana Perez Gonçalves de Moura Universidade Feevale ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Helena Venites Sardagna Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Aos sonhos, sobretudo aos sonhos dos jovens pobres, que mesmo parecendo tão distantes se fazem presentes no olhar destes que lutam por eles em batalhas desiguais. Quisera eu que os sonhos destes jovens fossem assim realizados, como hoje realizo o meu. Fica aqui minha dedicação para que esses sonhos se realizem! AGRADECIMENTOS Sozinha, esta conquista não seria possível! Por isso, começo agradecendo ao meu pai (in memoriam) que nos deixou meses antes do meu ingresso no mestrado. Homem que me deixou de herança o que há de mais importante, valores humanos. Sei que fizeste de tudo, enquanto estava neste plano, para que seguisse os meus estudos. Sei do teu orgulho aí de cima pai, e fico feliz em poder estar correspondendo todo teu esforço e dedicação. À minha mãe um agradecimento especial, por compreenderes minha distância física, em momentos que mais precisou de mim. Volto-te a olhar, mãe, agora com mais tempo, e vejo que ele passa depressa demais. Obrigada por sua luta, por acreditar em mim, por ter sempre me exigido o melhor. Obrigada por me autorizar a sonhar, a voar! Prometo-te sempre valer a pena cada suor teu derramado! Aos meus irmãos, Marta e Cito, e a minha cunhada, Nega, que são meus amigos fiéis e que se mantiveram na torcida, obrigada! Agradeço a Jô, que inscreveu em mim o desejo de “ser mais”, no sentindo freiriano, agradeço pelo apoio para o ingresso no mestrado. Muito obrigada aos meus amigos, àqueles que permaneceram à minha espera, compreendendo que o afastamento tinha uma causa sensível e de extrema relevância. Um agradecimento especial a Rose, ao Japa, a Dani e a Carol. A minha colega Tati, meu presente do mestrado. Obrigada por sua amizade, pelas trocas, pela cumplicidade. Ao grupo de colegas “Sou Vagabundo eu Confesso”, Rosa, Chiquinho, Sílvia e Orson, que deram mais sabor e cor a estes dois anos. Obrigada por me proporcionarem momentos tão bons e inesperados. Obrigada às professoras Eliana e Helena, que aceitaram prontamente compor a banca deste trabalho e que contribuíram de forma muito enriquecedora durante a qualificação. Agradeço a minha orientadora Lisiane, que me acolheu tão bem desde o nosso primeiro contato. Agradeço por ter me aceitado como orientanda, ter acreditado no meu potencial, por ter compartilhado seus conhecimentos e por toda dedicação para comigo. A tua postura, comprometida e sensível às minhas angústias, me deu segurança nesse desafio. Trilharemos, ainda juntas, novos caminhos. Agradeço de forma muito carinhosa aos quatro jovens que se dispuseram a participar da pesquisa. Aprendi muito com vocês e tenho hoje o compromisso de disseminar esse conhecimento, em prol de uma educação de qualidade. Espero que nunca deixem de acreditar nos seus sonhos e que tão logo possam retornar aos seus estudos. Obrigada a escola que abriu as portas para que pudesse desenvolver a pesquisa. Um agradecimento especial a Hilde e a Ana Paula, por toda receptividade e disponibilidade. E por fim, não menos importante, agradeço a uma força, a uma energia que me acompanha e que me protege. Obrigada, Deus! RESUMO A dissertação de mestrado, oriunda do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social, propõe uma reflexão sobre a relação que a Educação de Jovens e Adultos - EJA - estabelece com os alunos jovens, na intenção de problematizar essa modalidade de ensino como um espaço de construção de cidadania, de empoderamento na luta pelos direitos civis, políticos e sociais. No entanto, fragilizada, na medida em que vem perdendo a juventude para a evasão escolar. Assim, o estudo tem como objetivo investigar sobre os caminhos seguidos pelos jovens e as especificidades que permeiam esses percursos, considerando a evasão da EJA. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, que se utilizou da entrevista não-diretiva como instrumento para a coleta dos dados. O tratamento dos dados ocorreu a partir da análise de conteúdo que oportunizou a definição da inclusão e exclusão, como macrocategorias de análise; a pobreza, a escola e o trabalho como categorias de análise; e o feminino e a Igreja como microcategorias de análise. À luz dos aportes teóricos referendados, a pesquisa sinaliza que anteriori a inserção dos jovens na EJA, estes perpassam por processos de exclusão no sistema educacional, já na escola regular diurna. Embora tenham consciência da importância da conclusão de seus estudos, evadem na EJA devido às desigualdades sociais enfrentadas durante suas vidas, materializadas através da necessidade de trabalhar, da gravidez precoce e da entrada para o mundo do crime. A pesquisa descortina inusitadamente que há atravessamentos do feminino e da Igreja na vida dos jovens após a última evasão escolar e que estes encontram nesses artefatos sentido e sonhos para suas vidas. Tal cenário aponta a necessidade de refletir sobre uma educação, desde a escola regular diurna, que trate a inclusão social como possibilidade mudança na sociedade, que sofre com as desigualdades. Também de repensar os objetivos da EJA, que vão para além da escolarização, na intenção de compreender a necessidade de acolher e dialogar com a juventude nesta modalidade de ensino. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Jovem. Evasão. Inclusão. Exclusão. ABSTRACT This master’s thesis, deriving from the Graduate Program in Cultural Diversity and Social Inclusion, offers a debate on the relation that Youth and Adult Education establishes with young students, discussing such teaching method as an environment for the construction of citizenship and for empowerment in struggles for civil, political, and social rights. Nonetheless, such education has been undermined as it loses young students to school evasion. Thus, the present work aims at investigating the paths taken by these students and the specificities presented by such paths concerning the Youth and Adult Education evasion. This is achieved through a qualitative approach, such as a case study, using unstructured interviews as a tool for collecting data. Data handling stemmed from content analysis, which allowed the definitions of inclusion and exclusion as macro-categoriesof analysis; poverty, school, and job as categories of evaluation; and feminine and Church as micro-categories of analysis. In the light of the theoretical references substantiating this thesis, the research points out that before entering the Youth and Adult Education program, students had already suffered processes of exclusion from the educational system when in regular day school. Even though students understand the importance of finishing their studies, they evade the program due to social inequalities faced throughout their lives, materialized in their need to work, in an early pregnancy, or in involvement in criminal activities. Unexpectedly, the research uncovered crossovers of the feminine and of the Church in the life of young people after the last school evasion, which lead them to find meaning and dreams for their lives. Such scenario points to the need for thinking about an education, since regular day school, that considers social inclusion as a possibility of change in society, which suffers under inequalities. In addition, there is also need for rethinking the goals of the Youth and Adult Education programs in the sense that such goals should extend beyond schooling to embrace and engage the youth in this teaching method. Key words: Youth and Adult Education. Youth. Evasion. Inclusion. Exclusion. O inédito-viável nos diz, claramente, que não há o reino do definitivo, do pronto e do acabado; do nirvana da certeza e da quietude perfeita dos sonhos possíveis. Ele se nutre da inconclusão humana, não tem fim, um termo definitivo de chegada. É sempre, pois devenir, pois alcançado o inédito viável pelo qual sonhamos e lutamos, dele mesmo, já não mais um sonho que seria possível, mas o sonho possível realizando-se, a utopia alcançada, ele faz brotar outros tantos inéditos viáveis quantos caibam em nossos sentimentos e em nossa razão ditadas pelas nossas necessidades mais autênticas. Isso diante da dinâmica que eles implicam porque sendo palavra/práxis eles estão radical e essencialmente ligados ao que há de mais ontologicamente humano em nós: a esperança do e nos movimentos de aperfeiçoamento de nós mesmos e de nosso construir social-histórico para a paz, a justiça e a democracia (FREIRE, 2010, p. 225). LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Macrocategorias, Categorias e Microcategorias de análise ......................... 85 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 - Panorama da EJA no município de Novo Hamburgo .................................. 18 Gráfico 2 - Matrícula inicial da escola pesquisada no 1º semestre de 2016 ................... 19 Gráfico 3 - Evasões da escola pesquisada no 1º semestre de 2016 ................................ 20 Gráfico 4 - Reprovações da escola pesquisada no 1º semestre de 2016 ......................... 21 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Sínteses dos resultados dos seis Estudos selecionados .......................................... 37 Quadro 2 - Categorias de análise dos Estudos selecionados .................................................... 39 SUMÁRIO DA JUSTIFICATIVA À INTRODUÇÃO: A NOSSA INVISIBILIDADE COMO DESENCADEADORA DA PESQUISA ............................................................................... 16 1 A EVASÃO ESCOLAR NA EJA: O RETRATO DOS PROCESSOS HISTÓRICOS E DE EXCLUSÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL ............................................................ 25 1.1 DA COLONIZAÇÃO À DEMOCRATIZAÇÃO: TECENDO A HISTÓRIA DE SECUNDARIZAÇÃO DA EJA ............................................................................................... 25 1.2 OS PROCESSOS DE EXCLUSÃO E A EVASÃO ESCOLAR ....................................... 33 1.3 A EVASÃO ESCOLAR NA EJA: O QUE OS ESTUDOS SUGEREM? ......................... 36 1.3.1 Gestão Democrática ......................................................................................................... 39 1.3.2 Educação Popular ............................................................................................................ 42 1.3.3 Fracasso Escolar .............................................................................................................. 44 1.4 FRACASSO ESCOLAR: APROXIMANDO A LENTE ................................................... 45 2 A MINHA, A TUA, A NOSSA: DE QUAL JUVENTUDE ESTAMOS FALANDO NO CONTEXTO DA EJA? .......................................................................................................... 52 2.1 O JOVEM-ADOLESCENTE COMO SUJEITO DE DIREITOS NA EJA ....................... 54 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO PARA A JUVENTUDE NA EJA ......................... 63 2.3 O PERFIL JOVEM NA EJA .............................................................................................. 66 2.4 O JOVEM NA EJA: INCLUÍDO OU EXCLUÍDO? ......................................................... 69 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 74 3.1 MAPEANDO OS CAMINHOS INVESTIGATIVOS: A PESQUISA QUALITATIVA . 74 3.2 DO PROCEDIMENTO: ESTUDO DE CASO .................................................................. 76 3.3 A ENTREVISTA NÃO-DIRETIVA E O DIÁRIO DE CAMPO COMO DIPOSITIVOS PARA COMPOR AS NARRATIVAS DOS SUJEITOS DA PESQUISA .............................. 77 3.4 CARACTERIZANDO O CAMPO EMPÍRICO ................................................................ 81 3.5 A ANÁLISE DE CONTEÚDO .......................................................................................... 82 4 PISANDO EM SOLO FÉRTIL: O CONTATO COM O EMPÍRICO .......................... 87 4.1 NUNCA ME SONHARAM: A INCLUSÃO X EXCLUSÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NO CONTEXTO DA POBREZA, DA ESCOLA E DO TRABALHO DOS JOVENS EVADIDOS DA EJA ...................................................................................... 91 5 AS IMPLICAÇÕES DO FEMININO E DA IGREJA NOS CAMINHOS SEGUIDOS PELOS JOVENS .................................................................................................................. 119 5.1 O QUE QUER A (JOVEM) MULHER (POBRE)? ......................................................... 119 5.2 “REVISÃO DE VIDA”: A IGREJA COMO SALVADORA DOS JOVENS ................. 127 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS: O OLHAR PANORÂMICO SOBRE A PESQUISA .. 135 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 140 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ................................................................................................................................................ 153 16 DA JUSTIFICATIVA À INTRODUÇÃO: A NOSSA INVISIBILIDADE COMO DESENCADEADORA DA PESQUISA A presente pesquisa trata de um estudo que é fruto de inquietações que me ocorrem na posição de docente, gestora pedagógica e pesquisadora, no que se refere aos jovens da classe popular no campo da educação. A juventude, ao mesmo tempo em que é vista cotidianamente na escola pelo seu tom “barulhento”, pode facilmente se tornar invisível em seu potencial de criação, gerando, nesse cenário, problemas de convivialidade e rótulos, que, por sua vez, estereotipam e excluem de maneira hostil esses jovens da escola. Assim, faço uso das palavras de Veiga-Neto (2002, p.23, grifo nosso) para dizer por onde tudo começou: Todos nós que hoje exercemos a docência ou a pesquisa em Educação tivemos uma formação intelectual e profissional nos moldes iluministas. [...] penso que se deve desconfiar das bases sobre as quais se assentam as promessas e as esperanças nas quais nos ensinam a acreditar. Tudo indica que devemos sair dessas bases, para de fora, examiná-las e criticá-las. Sair da base, foi, de certa forma, o ocasionador de um turbilhão de questionamentos e de problematizações.Minha inserção temporária e esporádica na Educação de Jovens e Adultos, como Coordenadora Pedagógica, oportunizou que visse na outra ponta o problema que se inicia no meu consolidado campo de atuação profissional, nas séries iniciais do ensino regular. Fui lotada em uma escola de EJA após ter sido remanejada para o cumprimento da minha carga-horária de trabalho, uma vez que necessitava compensar dois turnos ausentes na escola de origem, para fins de estudo no mestrado. Ingressei no novo espaço a contragosto, pois a falta de experiência de trabalho nessa modalidade de ensino, a falta de tempo para me apropriar de suas demandas e as poucas horas que estaria exercendo a função soavam-me como limitadores para desempenhar um trabalho de qualidade. Hoje, compreendo que o sofrimento em me deslocar à EJA resultou de pré-conceitos que tinha sobre esta modalidade, quando a Secretaria de Educação dá eco ao meu sentimento de “não tem para aonde ir, então vai pra lá”. Embora tenha sido muito bem acolhida pelos colegas e pela Equipe Diretiva, senti-me por um tempo invisível enquanto profissional, suportando, apenas, essa invisibilidade ao passo que ia compreendendo que minha passagem por “lá” não seria neutra. Assim, mapeia-se uma trajetória curta, mas que proporcionou o tempo necessário para enxergar os sujeitos que, como eu, eram invisíveis e pareciam estar na escola também a 17 contragosto. Refiro-me nesse contexto aos alunos jovens, mais especificamente dentre 15 a 20 anos, que dialogavam comigo entre olhares marcados por uma empatia que apontavam para um sentimento de desamparo compartilhado, muitas vezes rompendo as regras como pedido de atenção. [...] as imagens que o mundo, principalmente, social, apresenta, a rigor, ele não apresenta isentamente, isto é, é o olhar que botamos sobre as coisas que, de certa maneira, as constitui. São os olhares que colocamos sobre as coisas que criam os problemas do mundo. Em outras palavras, não há problemas em si – seja de natureza científica, filosófica, estética, social, etc. – pairando numa exterioridade, inertes em um grande depósito à sombra, à espera de serem, antes, encontrados pela luz que lançamos sobre eles e, depois, solucionados pela razão (VEIGA-NETO, 2002, p. 30). Sobre o olhar de cumplicidade com relação a estes jovens, por estar na mesma condição de invisibilidade e, sobretudo, sobre um olhar “inadaptado” à EJA, podendo-se dizer, sem estar viciado à rotina e percalços, inicia-se o processo de problematização da juventude na EJA. Como atuante em uma escola de séries iniciais de ensino fundamental, percebo que os adultos desse espaço passam a ver os alunos que vão entrando na adolescência como alunos indisciplinados, descomprometidos já nesta etapa do ensino quando esses começam a ganhar corpos, atitudes e jeitos não mais condizentes com a infância. A intenção nesse contexto é enquadrá-los em um estereótipo de aluno, que não se relaciona com as vivências, desejos e extravagâncias da adolescência que se inicia. Os processos de exclusão começam por aqui, pois a recusa desses adolescentes ao “enquadramento” é reforçada através das multirrepetências, evasões e revoltas. A EJA passa a ser uma nova opção para a escola regular diurna que não mais dialoga com esses alunos e para quem ainda tem o desejo em terminar seus estudos. No entanto, nessa modalidade de ensino o problema se torna ainda maior. Os jovens migrados da escola “do dia” para a “da noite” já carregam marcas de uma instituição excludente e segregadora. Já percebem para qual “time” os professores jogam e já estão fartos dos mesmos discursos, nada dialógicos com a realidade vivida por muitos deles. Fala-se de outro lugar, em um outro tempo. A escola, que antes exigia que esses alunos mantivessem uma postura infantil, quando adolescentes, alegando que eles estivessem cada vez mais precoces, agora requer atitudes adultas, pois justifica ser uma modalidade de ensino que historicamente se constituiu para atender adultos em processo de alfabetização. A juventude, nesse paradoxo, não é percebida com suas especificidades e necessidades, e se torna invisível a partir do momento que ora 18 “exigem-me ser criança” e que ora “exigem-me ser adulto”. Quando posso ser jovem na escola? Muitos sujeitos acabam abandonando, ainda no início da adolescência, a escola diurna em decorrência, na maioria das vezes, de questões indisciplinares, de multirrepetência, de fracasso escolar ou da necessidade de trabalhar para auxiliar a família. Acabam, na sequência, procurando a Educação de Jovens e Adultos, que, a partir de suas especificidades construídas sobre o enfoque de uma educação voltada aos adultos trabalhadores, não oportuniza o acolhimento necessário para mantê-los na escola. Nesse viés, vem-se descortinando a temática de pesquisa que se preocupa com esses sujeitos que não gozam de seus direitos garantidos por lei, em específico o direito pela educação; preocupa-se com a escola da EJA, que apresenta grandes estatísticas de matrículas, evasões e reprovações de alunos ainda muito jovens, e sobretudo, preocupa-se com o caminho trilhado por esses após o abandono da escola. Para fins de contextualizar as problemáticas apontadas acima, já no contexto do empírico, apresentar-se-á dados estatísticos sobre matrículas, reprovações e evasões da EJA no município de Novo Hamburgo e da instituição escolar pesquisada. A escola escolhida para ser desenvolvida a pesquisa é municipal, situada na cidade de Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre. Sua escolha se concebeu pelo fato da minha passagem pelo espaço, de problematizações decorrentes dela e pela escola se constituir, dentre as quatro escolas que atendem EJA no município, a que mais matricula jovens, objeto de estudo da presente pesquisa. Usei-me dos dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação, entre o segundo semestre de 2014 ao primeiro semestre de 2016. Os dados a seguir se referem às quatro escolas municipais que atendem a EJA, sem a distinção de adultos e jovens. 19 Gráfico 1 – Panorama da EJA no município de Novo Hamburgo Fonte: A autora (2017) A partir da leitura do Gráfico 1, é possível perceber que houve um aumento de matrículas na EJA, levando em consideração o 2º semestre de 2014. O mesmo ocorreu com as reprovações que representam, respectivamente, 14,50%; 18,32%; 23,49% e 23,99% por período letivo. No que se refere às evasões, não se observou uma diminuição expressiva, obtendo, respectivamente, 27,51%; 35,48%; 25,20% e 28,22% de desistência dos alunos, por período letivo. Já para fins de contextualização da escola em pesquisa, no que diz respeito à matrícula dos jovens adolescentes, à evasão e à reprovação escolar, usei-me dos dados disponibilizados pela secretaria da instituição, através do Sistema Integrado de Gestão Administrativa Municipal (SIGAM), no período em que estive presente na escola. 407 606 498 542 93 171 95 114 59 111 117 130 0 100 200 300 400 500 600 700 2º sem/2014 1º sem/2015 2º sem/2015 1º sem/2016 Matrícula Reprovações Evasões 20 Gráfico 2 – Matrícula Inicial da Escola Pesquisada no 1º semestre de 2016 Fonte: A autora (2017) A 2ª Etapa é composta por alunos em processo de alfabetização, caracterizando-se por serem alunos adultos e idosos, multirrepetentes ou com deficiência intelectual. Assim, constata-se que, devido ao fato de não haver jovens adolescentes na Etapa referida, esses adentram a EJA oriundos da escola diurna e já alfabetizados. Quando contabilizado o total de alunos matriculados na escola, temos uma representação de 67% de jovens adolescentes, estatística que aumenta para 75% quando se leva em consideração apenas os alunos a partir da 3ª Etapa. 0 5 10 15 20 25 30 2ª Etapa 3ª Etapa 4ªEtapa 5ª Etapa 6ª Etapa Adolescentes Adultos 21 Gráfico 3 – Evasões da Escola Pesquisada no 1º semestre de 2016 0 1 2 3 4 5 6 2ª Etapa 3ª Etapa 4ª Etapa 5ª Etapa 6ª Etapa Adolescentes Adultos Fonte: A autora (2017) O Gráfico 3 possibilita analisar que 14% dos alunos evadem a escola e que 13% do total de jovens adolescentes matriculados no início do período letivo não concluem seus estudos. As evasões se concentram em maior quantidade na 4ª Etapa e na 5ª Etapa, podendo ser analisado o fato dos alunos terem maior persistência na frequência, no início das suas inserções na EJA e no semestre que antecede a formatura. Cabe destacar que as estatísticas apresentadas poderiam ser mais elevadas caso houvesse um investimento da Equipe Diretiva para o retorno dos alunos, conforme observado por mim, quando compunha o quadro funcional da escola. 22 0 2 4 6 8 10 12 14 2ª Etapa 3ª Etapa 4ª Etapa 5ª Etapa 6ª Etapa Adolescentes Adultos Gráfico 4 – Reprovações da Escola Pesquisada no 1º semestre de 2016 Fonte: A autora (2017) Já o Gráfico 4 apresenta que 58% dos alunos reprovados são jovens adolescentes. No entanto, se levarmos em consideração que na 2ª Etapa, composta apenas por adultos cuja a retenção se encontra em uma “normalidade” em respeito ao tempo de aprendizagem da diversidade ali inserida, temos 100% dos alunos reprovados como jovens adolescentes, a partir da 3ª Etapa. Assim, constata-se que a evasão e a reprovação se destacam por serem, na maioria, de alunos jovens, que ainda não saíram da adolescência. Desta forma, os dados trazidos, corroboram os estudos que apontam para a migração significativa de adolescentes da escola diurna para a Educação de Jovens e Adultos – EJA (CARRANO, 2007) e que problemas de evasão e conflitos geracionais (SCHNEIDER; FONSECA, 2013) podem ser indicadores de que a escola não vem oportunizando espaço de amparo e tampouco oportunizando sentimento de pertencimento desses jovens na escola. Tratam-se de espaços educativos que não estão preparados para receber e trabalhar com esta faixa etária, que, para além das especificidades do seu desenvolvimento, carregam consigo características relacionadas à cultura da sociedade contemporânea, marcas e dores dos processos de exclusão, fatores esses relacionados aos contextos de marginalização. Cabe destacar que os dados apresentados acima fizeram-se na diferenciação entre jovens adolescentes, em idade compreendida entre 15 a 18 anos, e adultos, devido ao fato de 23 no momento estar implicada, em especial, com os alunos desta faixa etária, ou seja, sujeitos ainda adolescentes, que migravam prematuramente à EJA. Mesmo os jovens, objeto da presente pesquisa, estarem entre 18 a 22 anos, optei em manter essa contextualização sobre matrículas, reprovações e evasões, pois foram esses dados que me chamaram a atenção para a presente discussão. Ao encontro dessas questões trazidas neste texto introdutório, também percebi que o contexto escolar desconhece a perspectiva da inclusão, no viés social, abrindo espaço apenas à inclusão de pessoas com deficiência, ainda que de forma receosa. A escola, ao desconhecer a inclusão social, como um de seus objetivos educacionais, não consegue operar para minimizar os problemas sociais postos na sociedade e deste modo refletido na dinâmica escolar, como por exemplo a evasão dos jovens na EJA. Deste modo, compreendo que tal discussão é de extrema relevância, pois a escola, sobretudo a escola pública de periferia, precisa se reconhecer como uma instituição em potencial para os diferentes processos de inclusão, assim como propõem a presente pesquisa. Nesse cenário foi surgindo claramente o meu tema de pesquisa, que verte sobre as repercussões da evasão escolar, na modalidade da Educação de Jovens e Adultos, na vida dos jovens entre 18 e 22 anos, em uma escola pública no município de Novo Hamburgo. A escolha da idade dos sujeitos da pesquisa foi devido à dificuldade de acesso aos jovens menores de idade, pela desconfiança da família e do próprio sujeito em relação ao objetivo da pesquisa. Também pelo fato de uma parcela deste público, aqueles entre 15 e 17 anos, retornarem à escola antes do término do semestre, por imposição do Conselho Tutelar. Também se observou que no ano de 2017 houve menos evasões de jovens adolescentes, quando comparado ao ano de 2016. O corte de 22 anos se fez pela intenção da pesquisa ocorrer com alunos mais jovens. Com a temática de pesquisa já construída, a definição do problema foi um trabalho árduo, por entender, após muito estudo, que precisaria “sair” dos muros da escola para compreender as implicações de um percurso escolar acidentado na vida em sociedade desses jovens. Dar-me conta disso me levou a pensar que não só a escola torna a juventude invisível, uma vez que me deparei tomada de angústia na forma como encontraria meu objeto de pesquisa, resultando noutra inquietação: se não estão na escola, onde estão estes jovens em nossa sociedade? Assim, elucidou diante desse conflito e dos dados que apontam as evasões, o problema de pesquisa que questiona sobre “Quais são os caminhos seguidos pelos jovens, considerando as repercussões da evasão da educação básica, na modalidade EJA?”. Como objetivo geral, o 24 estudo se faz em investigar sobre os caminhos seguidos pelos jovens e as especificidades que permeiam esses percursos, considerando a evasão da Educação de Jovens e Adultos. Já os objetivos específicos perpassam em compreender os processos de exclusão que auxiliam na evasão de jovens na EJA; identificar fatores que motivaram a evasão dos jovens participantes da pesquisa; e identificar as formas como ocorrem o desligamento dos jovens na EJA. Desta forma, a presente pesquisa que se propõe a investigar sobre os caminhos seguidos pelos jovens após a evasão da EJA se justifica pela relevância do tema no que concebe: o papel social e político dessa modalidade de ensino; espaço educativo voltado à inclusão social; e o jovem enquanto sujeito em potencial, no entanto, sobre as arestas de riscos sociais, as quais possam servir de acolhimento a ele. Nesta conjuntura, a Dissertação de Mestrado é composta por cinco capítulos. O primeiro trata sobre a evasão dos jovens na EJA, adentrando aspectos relacionados à história desta modalidade de ensino, os processos de exclusão que influenciam na evasão escolar, um levantamento de pesquisas sobre a evasão na EJA, bem como um estudo acerca do fracasso escolar. O segundo capítulo tece sobre a juventude no contexto da EJA, em uma reflexão sobre jovem-adolescente como sujeitos de direitos, políticas públicas para a juventude nesta modalidade de ensino, perfil do jovem que compõem a EJA e a dicotomia inclusão e exclusão dos jovens que se inserem na EJA. O terceiro capítulo apresenta os caminhos metodológicos em uma abordagem qualitativa, na qual se optou, enquanto método de coleta de dados, pela entrevista não-diretiva e a análise de conteúdo como técnica de análise de dados. Já o quarto capítulo passa a apresentar ao leitor os resultados da pesquisa, narrando situações presenciadas e vividas na escola pesquisada – o contato com o empírico, fazendo relação com os processos de inclusão e exclusão. Ainda nessa sessão, busca-se discutir a inclusão e exclusão a partir das categorias de análise pobreza, escola e trabalho. E por fim, o quinto capítulo dá sequência na apresentação dos resultados, apresentando as especificidades da vida dos sujeitos da pesquisa, numa aglutinação de semelhança entre os dois jovens homens e as duas jovens mulheres, colocando em discussão as microcategorias do feminino e da igreja, no que tange as implicações destes nos caminhos seguidos pelos entrevistados após a evasão escolar. 25 1 A EVASÃO ESCOLAR NA EJA: O RETRATO DOS PROCESSOS HISTÓRICOS E DE EXCLUSÃO DO SISTEMAEDUCACIONAL A Educação de Jovens e Adultos –EJA é uma modalidade de ensino que busca, na contemporaneidade, compensar uma dívida histórica do Estado para com os sujeitos que não tiveram acesso à escolarização na idade adequada. Considerando o aspecto histórico, ela repercute, de um lado, pelos interesses das classes dominantes e de outro, pelas lutas da sociedade civil em prol de uma educação capaz de libertar os sujeitos dos macetes opressores. Marcada por ser uma modalidade de ensino secundária, a EJA sofre cotidianamente com altos índices de evasão escolar, não conseguindo cumprir seu objetivo que é de erradicar o analfabetismo no Brasil e escolarizar os sujeitos no ensino fundamental e médio, através de escola pública de qualidade. Compreendendo que a evasão escolar é um construto social, proponho no presente capítulo, inicialmente, problematizar o contexto histórico de secundarização e de políticas públicas compensatórias, às quais a EJA sempre esteve atrelada, impedindo-a de se tornar uma educação emancipatória, como outorga a educação popular. Na sequência, busco compreender os processos de exclusão que resultam na evasão, denunciando fatores como do sistema educacional que reforça a diferença de classes, como quer o poder dominante. Em seguida realizo um levantamento de pesquisas, cuja intenção é apresentar os aspectos e as dimensões em que a problemática da evasão escolar na EJA vem sendo discutida nos estudos empíricos. E por fim, compreendendo a necessidade de me aprofundar sobre as nuances do fracasso escolar, pelo fato dele ser um dos principais motivos pela evasão, realizo uma discussão problematizando o fracasso produzido pela escola e que, de forma errônea, culpabiliza o aluno. 1.1 DA COLONIZAÇÃO À DEMOCRATIZAÇÃO: TECENDO A HISTÓRIA DE SECUNDARIZAÇÃO DA EJA A educação, em contexto histórico, está presente no Brasil desde sua colonização. No entanto, naquela época, poucas eram as escolas e quase nenhuma iniciativa do Estado, visando apenas a instrução escolar para os filhos das classes alta e média marcando, desde esse período, os processos de exclusão das camadas populares da sociedade (MOLL, 2011). A história da educação voltada aos jovens e adultos se inicia nesse mesmo período, com a chegada dos jesuítas, que tinham a pretensão de propagar a fé cristã e de doutrinar os 26 indígenas. Utilizavam o ensino como ferramenta para a disseminação catolicista, bem como o ensino da língua portuguesa como uma espécie de aculturação que, de acordo com Paiva (1983), refere-se ao surgimento de uma nova cultura, por apresentar elementos da cultura inicial e daquela absorvida. A intenção, nesse período, era “enquadrar” os indígenas nos costumes da Coroa Portuguesa (FRIEDRICH et al., 2010). Assim, dá-se início a uma lógica de educação voltada à exclusão dos pobres, bem como a um processo de escolarização que mapeia o caminho de sucesso para quem detém o poder e o saber. Cabe destacar que: A exclusão foi e é própria das sociedades tradicionais, das sociedades estamentais, como foi a nossa, aliás, durante todo o período colonial e o período imperial, e da qual sobrevivem fortes vestígios. Não só nas diferenças entre raças, entre brancos e negros e, até em uma certa época, oficialmente entre brancos e índios. Mas também nas regulamentadas diferenças entre brancos e brancos, entre nobres e pobres, entre cavaleiros e peões (MARTINS, 2008, p. 14). Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, no século XVIII, houve uma desorganização do ensino, sendo somente com a Proclamação da Independência em 1822 e a primeira Constituição Brasileira, em 1824, que outorgou no seu artigo 179 – o direito “à instrução primária e gratuita para todos os cidadãos” –, que o Império passa a tomar as frentes sobre a educação. No entanto, mesmo diante dos marcos legais, pouco foi construído para a garantia da educação a todos, embora esse tenha sido o primeiro movimento jurídico na história da educação (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Haddad e Di Pierro (2000) anunciam que o distanciamento entre a legislação e o executado se torna agravante diante dos fatores sociais daquele contexto: [...] no período do Império só possuía cidadania uma pequena parcela da população pertencente à elite econômica à qual se admitia administrar a educação primária como direito, do qual ficavam excluídos negros, indígenas e grande parte das mulheres (p.109). Complementando, Martins (2008, p. 15) afirma que A exclusão se dava aí: excluídos eram aqueles aos quais, pelo berço em que nasceram, não se reconhecia direitos ao respeito, à dignidade, ao decoro, ao tratamento digno próprio das pessoas de condição, como se dizia. Em 1854, surgiu a primeira escola noturna, com o propósito de alfabetizar os trabalhadores. A partir de então, 117 escolas, dentre os próximos 20 anos, passaram a atender adultos; no entanto, o privilégio de acesso à educação continuava sendo das classes mais favorecidas, não proporcionando a escolarização para analfabetos, pois as escolas se localizavam em grandes centros urbanos ou tinham objetivos específicos, como por exemplo a 27 alfabetização de indígenas e esclarecimento de direitos e deveres dos colonos (PAIVA, 1983). Esse movimento, mesmo que em prol da alfabetização dos adultos, tornou-se um ato missionário e de caridade, deixando, no final do Império, um alarmante índice de 82% da população analfabeta (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Já no início do século XX se ampliaram as redes escolares e as campanhas contra o analfabetismo, pois se passou a culpabilizar, de acordo com Strelhow (2010), as pessoas analfabetas pelo subdesenvolvimento do país. Nesse contexto, o analfabetismo era visto como um quadro de horror, pois ainda 72% da população, na década de 1920, não tinha domínio da leitura e da escrita. Acreditava-se que a alfabetização, diante disso, influenciaria diretamente no sucesso do desenvolvimento do Brasil (STRELHOW, 2010). Debates em torno da qualidade e otimização do ensino se acentuaram, ganhando ainda mais força com a Revolução da década de 1930. A EJA obteve espaço nas discussões, pois mudanças políticas e econômicas, a partir processo de industrialização, vinham acontecendo no país; no entanto, sofria-se com os precários índices de escolarização, comparados com os demais países da América Latina. Nesse contexto, iniciou-se a história da EJA na educação (FRIEDRICH et al., 2010). A nova Constituição, de 1934, a qual criou o primeiro Plano Nacional de Educação (PNE), determinou para as diferentes esferas públicas suas competências, reafirmando o direito de todos e o dever do Estado para com a educação, de frequência obrigatória e gratuita do ensino primário, extensiva para adultos (HADDAD; DI PIERRO, 2000; FRIEDRICH et al., 2010). Mesmo diante desses movimentos legais, de acordo com Haddad e Di Pierro (2000), até esse período não havia preocupações pedagógicas e políticas específicas em relação à EJA, pois a escola era pensada para crianças e adolescentes. Foi apenas na década de 1940 que transformações mais significativas foram ocorrendo, com “verbas vinculadas e atuação estratégica e ações em todo território brasileiro” (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 111). Começou-se a pensar sobre o material didático da educação de adultos, fomentado a partir da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) e, ainda no mesmo período, ocorreram eventos de debates importantes para a EJA, como o 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos, em 1947 e o Seminário Interamericano de Educação de Adultos, em 1949 (FRIEDRICH et al., 2010). Tais transformações vinham ao encontro dos interesses capitalistas. Vinculou-se à essa educação o ensino profissionalizante por se fazer necessário, diante da industrialização, a mão de obra qualificada, criando-se o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). 28 Assim, conforme asconsiderações de Martins (2008, p. 121), que descreve a relação do capitalismo com a força de trabalho: O que faz o capitalismo, ao desenraizar as pessoas, é transformá-las em proprietárias de uma única coisa: a sua força de trabalho. O desenraizamento do camponês não está simplesmente em sua expulsão da terra. É reduzi-lo à única coisa que interessa o capitalismo, que é a condição de vendedor de força de trabalho. Se alguém vai comprar essa força de trabalho já é outra história. Mas ele passa a ser um potencial vendedor de força de trabalho, a ser um trabalhador à procura de trabalho. Mesmo diante desse cenário, pode-se dizer, perverso, era notório que a EJA passava a se tornar uma preocupação política. No entanto, de tal forma sabido que as estratégias não estavam sendo suficientes, pois ainda o analfabetismo era visto como um problema para a economia que se encontrava estagnada no momento, visto que no final da década de 1940, 56% da população ainda era analfabeta (NAIFF; NAIFF, 2008). A organização de mais escolas e suas extensões às zonas rurais, cuja ação foi nomeada como “Educação de Várzea”, demonstravam a preocupação durante o governo Vargas com o problema do analfabetismo (FRIEDRICH et al., 2010), embora essa preocupação também perpassasse pelo interesse de refazer as bases eleitorais naquele momento histórico. Já o governo de Juscelino Kubitscheck de Oliveira voltou o olhar para as camadas mais pobres da sociedade, manifestando insatisfação com a forma com que se conduzia a alfabetização de adultos. Foi durante esse período, em 1958, que ocorreu o Congresso de Educação de Adultos, no qual um grupo liderado pelo educador Paulo Freire contribuiu com suas experiências. Realizou-se críticas em relação ao método mecanicista de alfabetizar e se passou a discutir que para o progresso do país é necessário consciência e participação do povo (FRIEDRICH et al., 2010). Ao longo da história da EJA, o cenário de interesses políticos foi o pano de fundo nas discussões e nas ações para essa modalidade de ensino. Diante das turbulências políticas, entendia-se que somente a educação era capaz de rebelar os sujeitos das classes pobres e disseminar a ideologia que estavam embutidas nas propostas políticas às camadas populares. Desta maneira, surgiram programas e projetos de alfabetização de adultos que acreditavam na educação como um ato político. Portanto, o trabalho se voltava para princípios da educação popular, que, para além de alfabetizar os sujeitos, tinham a pretensão de lhes conceder a emancipação e a autonomia necessárias para se deslocarem da condição de oprimidos. Foi assim que movimentos como Movimento de Cultura Popular, o Centro Popular de Cultura, o Movimento de Educação de Base, da CNBB, e o Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura, que contava com a contribuição do 29 professor Paulo Freire, foram implantados em prol das camadas populares (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Paulo Freire, como um dos principais militantes da educação popular, engajava-se na tarefa de teorizar a EJA, desenvolvendo, nessa perspectiva, uma proposta metodológica própria para o processo de alfabetização de adultos, a qual, contextualizada com a vida dos sujeitos, alfabetizava-os partir de palavras geradoras que, de forma ideológica, estendia o método dentro de uma educação libertadora e de conscientização (PAIVA, 1983). Esses movimentos, ocorrentes entre o período de 1958 a 1964, são marcos na história da EJA, quando a partir disso, problematiza-se a educação como forma de gerência da classe dominante e se denuncia a reprodução de classes através da exploração dos sujeitos menos favorecidos socialmente. Demarca em um momento histórico a educação como “instrumento de ação política” (HADDAD; DI PIERRO, 2000), cujos saberes populares são motores para a democratização. Rompe-se com a ideia de que o aluno analfabeto é um sujeito improdutivo e ignorante, legitimando-o como um agente de extrema importância para os grupos populares que buscavam um lugar de protagonismo na sociedade. A exclusão, nesse viés, é vista na educação popular como um problema possível de ser superado a partir da tomada de consciência dos sujeitos. Martins (2008, p. 23) afirma que Exclusão é muito mais um desafio à compreensão do que um diagnóstico sólido. Cumpre, portanto, uma função importante na percepção e no conhecimento das contradições da sociedade contemporânea, a função de ser o ponto de partida da possibilidade da reflexão crítica e da consciência crítica. Embora bandeiras militantes em prol da EJA, numa perspectiva de educação popular, hasteavam-se no país, o Golpe Militar de 1964 interrompe essa caminhada. Nenhum movimento de interesse popular era autorizado e sob repreensão se silenciavam as vozes do povo. Apenas programas conservadores, assistencialistas e de interesse do governo militar, como a Cruzada de Ação Básica Cristã (ABC), ocorriam (HADDAD; DI PIERRO, 2000). No entanto, devido às críticas a respeito dessas ações, criou-se, de acordo com a Lei 5.379, de 15 de dezembro de 1967, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), cujo objetivo era a alfabetização de sujeitos entre 15 e 30 anos, em um período de 9 meses, bem como a oportunidade de justificativa pelo ato da ditadura e uma aproximação do atual governo com o povo, demonstrando que o interesse pela alfabetização de adultos se mantinha (PAIVA, 1983). O movimento tinha a pretensão de erradicar o analfabetismo do país em 10 anos. Era, de acordo com Haddad e Di Pierro (2000), uma forma de juntar a demanda de 30 escolarização e de interesses políticos, como também a possibilidade de controle da população nesse período tenso. Nessa conjuntura, é pertinente se referir a Santos (2003), o qual traduz a atuação do Estado como uma forma de fascismo social, cujas ações se diferem claramente entre as diferentes zonas da sociedade: Nas zonas civilizadas, o Estado actua de uma forma democrática, comportando-se como um Estado protector, ainda que muitas vezes ineficaz e não fiável. Nas zonas selvagens ele actua de uma forma fascizante, comportando-se como um Estado predador, sem a menor consideração, nem se quer na aparência, pelo estado de direito (p. 21). O MOBRAL, como todo este período histórico, era uma proposta inflexível do Estado, a qual previa treinamentos de supervisores para a garantia de que se efetivassem os planos do governo. O movimento implementou diversos programas, como o Programa de Alfabetização e o Programa de Educação Integrada, tendo esse segundo o objetivo de compactar a escolarização de 1ª a 4ª séries. Permaneceu enquanto plano do Estado até a reforma política de 1985 (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Ainda no período ditatorial, houve a implementação do Ensino Supletivo, que visava o suprimento dos estudos de quem passou pelo MOBRAL ou dos sujeitos que não deram sequência à escolarização. Permanecia a ideia capitalista de qualificar a mão de obra para o progresso do país e se distanciava de uma educação popular por não se caracterizar pela classe do seu alunado. “A sociedade que exclui é a mesma sociedade que inclui e integra, que cria formas também desumanas de participação, na medida que delas faz condição de privilégios e não de direitos” (MARTINS, 2008, p.10). Assim, cabe destacar que a EJA, nesse cenário, não foi legitimada como direito dos cidadãos, mas sim, uma proposta governamental, que se utilizava de uma lógica capitalista para fins de transparecer preocupação com quem não teve as mesmas condições de acesso à escolarização. A democratização do país, em 1985, demarca no cenário brasileiro uma nova história, que passou a ser construída através de forças da sociedade civil pela busca de seus direitos. Nessa conjuntura, buscou-se, através de marcos legais, legitimar a EJA como direito para quem não cursou o ensino regular na idadecerta e também como “pagamento” de uma dívida de Estado para com esses sujeitos, gerada ao longo da história. Nessa perspectiva compensatória, inscreveram-se políticas públicas que tentaram amenizar os efeitos desastrosos de um passado em que sempre prevaleceram os interesses da classe dominante. Ao encontro disso, Martins (2008, p. 14) alerta: 31 A alternativa tem sido políticas públicas compensatórias, sem dúvidas necessárias nessa circunstância, por meio das quais se procura atenuar os efeitos danosos do modelo econômico. Elas apenas confirmam e legitimam a exclusão por meio de benefícios que não constituem legítima apropriação social dos resultados da economia. São apenas débito a fundo perdido, preço a pagar pela sustentação e uma economia cuja a dinâmica bane e descarta parcelas da população. Sobre um pano de fundo compensatório, após a democratização do país, passaram a haver mudanças no contexto educacional da modalidade de ensino em questão. Com a “caída” do MOBRAL, movimento de propostas pedagogicamente fracas e que lembrava um período autoritário que qual o país enfrentara, a Fundação para a Educação de Jovens e Adultos (EDUCAR) passou a substituí-lo e se caracterizou por suas novas diretrizes político- pedagógicas (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Nesse período, foram retomados os estudos, discussões e trabalhos, que antes aconteciam clandestinamente, sobre a educação popular. Aparece, assim, na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, a educação como direito de todos, ao garantir o ensino fundamental público e gratuito para crianças, jovens e adultos. Embora os primeiros anos, após o fim da ditadura no Brasil, se apresentassem de forma positiva para a EJA, o início da década de 1990, mediante a crise política do governo Fernando Collor de Mello, é demarcada pela extinção do EDUCAR e pela descentralização da sua responsabilidade, ficando a cargo dos órgãos públicos e entidades sua efetivação (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Ainda durante esse governo, houve a tentativa frustrada de implementação do Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), o qual tinha como promessa a transferência de recursos da esfera federal para os órgãos públicos e instituições que trabalhassem em prol da elevação do nível de escolaridade do país. Em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi implementada a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDBN), documento que retratava, naquele período, importantes reformas na educação. No entanto, para a EJA, pouco houve mudanças, apenas a afirmação do direito público e gratuito dos jovens e adultos ao ensino, sendo apto para se submeterem a exames para a suplência do ensino fundamental jovens com no mínimo 15 anos e, para ensino médio, jovens com no mínimo 18 anos. A lei também esboça a importância de o ensino respeitar as peculiaridades dos jovens e adultos trabalhadores, colocando sob a responsabilidade do Estado sua oferta. O único avanço mais significativo, trazido pelo documento, foi a integração da educação de jovens e adultos ao ensino regular comum, mesmo que no artigo 38, o texto ainda traga a expressão “exames de suplência” (HADDAD; DI PIERRO, 2000; RUMMERT; VENTURA, 2007). Uma nova expectativa sobre a EJA se firmou a partir do Plano Nacional de Educação (PNE) que, no decênio de 2001 a 2011, enunciou 26 metas entre cinco objetivos. Alguns 32 movimentos em prol das metas foram percebidos pelo governo de Luís Inácio Lula da Silva, que incrementou a colaboração da União entre os estados e munícipios, investiu na assistência dos estudantes com o transporte escolar, alimentação e livros didáticos. Os programas, de diferentes responsabilidades governamentais, articulados entre si, também foram importantes nessa administração: Programa Brasil Alfabetizado, coordenado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (MEC); o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, gerido pela Secretaria Nacional de Juventude; o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, mantido pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC; o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário; e o Exame Nacional de Certificação de Competências, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) (DI PIERRO, 2010, p. 946). No entanto, tais inciativas não foram capazes de reverter o quadro de analfabetismo e da falta de escolarização de muitos jovens e adultos, percebendo-se que ainda houve carência de políticas públicas que garantissem o financiamento adequado às necessidades da EJA, da formação docente e da avaliação bienal, uma das metas propostas. Esses fatores influenciaram para que não se conseguisse alcançar nenhum dos objetivos propostos pelo PNE para a década. Diante desse cenário político ineficaz, pensado de forma isolada e não dialética com as demais políticas públicas, as principais vítimas continuam sendo as mesmas ao longo da história: população pobre, por vezes marginalizada e suscetível aos riscos sociais. Santos (2003) localiza essa população do lado oposto a quem lidera a destruição e criação social, referindo-se a ela como uma esmagadora maioria que está “ocupada ou atarefada com adaptar-se, resistir ou simplesmente substituir, para sequer ser capaz de perguntar, quanto mais responder a questões complexas acerca do que fazem e porquê” (p.3). Ao encontro disso, Bauman (2011) propõe uma reflexão sobre a dinâmica social que se encontra na sociedade contemporânea, num estado frágil e de luta para sobreviver em um modelo capitalista fundado nos princípios da transitoriedade, constantes começos, de autoafirmação, da quantidade em detrimento a qualidade e da conexão. Os pobres, “a esmagadora maioria da população” como referiu-se Santos (2003), sujeitos sem escolarização, procuram demasiadamente meios de sobrevivência dentro dessa lógica de mercado, sofrendo, por ineficácia de políticas públicas, a violação pelo seu direito à educação, colocando-se ainda mais acentuada sua condição de pobreza e de exclusão social. 33 Pensando sobre os processos de inclusão/exclusão dos alunos adolescentes, candidatos a ocuparem vagas na EJA, a CONAE, durante a construção do novo PNE (o qual entraria em vigência em 2012), foi marcada pela discussão da elevação da idade mínima de ingresso nessa modalidade de ensino. Vale lembrar que: a LDBN/1996 estipula a idade mínima para a conclusão da EJA no Ensino Fundamental em 15 anos e Ensino Médio em 18 anos; porém, não regulamenta a idade mínima de ingresso nessa modalidade de ensino, nos dois níveis da educação básica; o Conselho Nacional de Educação – CNE, pelo parecer 11/2000, a fim de suprir essa lacuna, define a idade mínima de ingresso em 14 anos no Ensino Fundamental e 17 anos para o Ensino Médio. Durante os encontros da CONAE, educadores e pesquisadores defendem a ideia de elevar a idade mínima de ingresso para 18 e 21 anos, respectivamente, alegando que a EJA “não pode continuar a acolher toda a diversidade social e cultural rejeitadas pela escola comum, que precisaria rever os processos de exclusão dos adolescentes com defasagem na relação idade-série” (DI PIERRO, 2010, p. 951). Em sequência, o Ministro, manifestando-se ao contrário dessa posição e alegando que a elevação da idade mínima de ingresso na EJA “produziria ainda mais exclusão educacional, penalizando novamente os adolescentes, ao invés de induzir as mudanças desejáveis no sistema escolar educacional seletivo que os rejeitou” (DI PIERRO, 2010, p. 951), não homologou a resolução aprovada. Em 2010, o CNE definiu a idade mínima de ingresso no ensino fundamental em 15 anos e, no ensino médio, em 18 anos. Embora o objetivo inicial da EJA fosse erradicaro analfabetismo, constata-se que mesmo passado mais de um século, isso não se efetivou, pois de 2004 a 2013 houve uma tímida elevação na alfabetização de sujeitos maiores de 15 anos – de 88,5% para 91,5% (HADDAD; DI PIERRO, 2015). Hoje a EJA não traz consigo somente essa proposta inicial, mas também o fardo de dar continuidade no processo de escolarização de adolescentes e jovens que, por falhas do ensino regular diurno, acabam transferidos para essa modalidade de ensino. 1.2 OS PROCESSOS DE EXCLUSÃO E A EVASÃO ESCOLAR O cenário histórico de desigualdades, desde o Brasil Colônia, reforçado por uma sociedade capitalista e por um Estado cujos interesses operam pela lógica da globalização hegemônica, descortina a exclusão social e educacional de muitos sujeitos que não tiveram seus direitos garantidos. Martins (2008, p. 27) anuncia que “a categoria exclusão é resultado 34 de uma metamorfose nos conceitos que procuravam explicar a ordenação social que resultou do desenvolvimento capitalista”. Assim, o texto aborda algumas implicações da exclusão social e educacional na evasão escolar, visando compreender esse fenômeno como um construto social. A escola pública, inserida em territórios demarcados pela pobreza, tem a difícil e a ideológica tarefa de não só estar nesse lugar, mas sim de se firmar como uma instituição que busca, através da educação, a inclusão social. No entanto, antes desse processo, necessita garantir que os sujeitos ali atendidos sejam incluídos no sistema educacional, fomentando, para além da garantia do acesso, a permanência. Entretanto, a escola, na história, foi constituída para atender às classes dominantes, sendo a educação um bem disponível apenas ao público elitizado. “A distribuição do saber escrito do Brasil é marcada, historicamente [...] pela exclusão das camadas populares do processo escolar e no processo escolar” (MOLL, 2011, p. 35). Tal exclusão se fortalece a partir da falta de vagas, da inexistência de políticas públicas eficazes no que se refere às necessidades sociais presentes na escola, da forma paternalista e assistencialista das práticas escolares. Quando aberta às camadas populares, a instituição escolar esteve à serviço das intenções do Estado, se formatando, por muito tempo, sobre a lógica Fordista e Taylorista, para a produção de mão de obra e reprodução de classes (BORGES; 2011). Visando uma performance educacional homogênea, a escola não dialogava com a diversidade, excluindo do sistema público educacional pobres, trabalhadores, mulheres, negros, deficientes, homossexuais, entre outros, que não correspondiam ao padrão estabelecido de pessoas merecedoras do conhecimento. Intrigado com os processos de exclusão no campo da educação, Gentili (2013) identifica a escola como uma instituição de poder, denunciando as relações que se estabelecem nela na forma de controle, como por exemplo a relação professor e aluno, a obrigatoriedade de frequência, as notas escolares e a escolarização como pré-requisito para o emprego. Assim destaca que: As pessoas pobres, de modo geral, compreendem essa característica da escola. Ela está centralmente presente em suas mais desagradáveis experiências de educação. A experiência vivida pelos estudantes pobres de hoje não é, contudo, única. Os sistemas de educação de massa foram criados no século XIX como uma forma de intervenção do Estado na vida da classe trabalhadora, para regular e em parte assumir a educação das crianças. A obrigatoriedade legal era necessária porque tal intervenção era amplamente rejeitada (GENTILI, 2013, p. 21). 35 Esse cenário educacional, voltado à população pobre, constrói episódios de fracasso escolar, que, de acordo com Mattos (2012, p. 219), são “perpassados em estigmas e estereótipos de carência cultural, de déficit de inteligência, de deficiência intelectual e das dificuldades de aprendizagem, passados pelo imaginário social e individual”. Dessa forma, na escola contemporânea, são perceptíveis os reflexos desse sistema educacional o qual, em camufladas práticas, exclui e segrega as camadas populares. Em uma sociedade dividida em classes, considera-se as evidências históricas relevantes, no momento que a escola não se desprende do seu modelo reprodutivista, relacionando classe social com rendimento escolar (MOLL, 2011). Ao encontro disso, Gentili (2013) salienta que há uma competição no sistema escolar ao referir-se que, de acordo com o desempenho, melhor serão as oportunidades. Reforça que essa organização enfatiza a diferença de classes, uma vez que ratifica as vantagens dos privilegiados e confirma a exclusão dos pobres. Outro fator que fomenta a exclusão educacional é a falta de qualidade no ensino, embora se tenha ampliado as vagas na rede pública de educação. Haddad e Di Pierro (2000, p. 126) fazem o contraponto dessa problemática sinalizando que “antes as crianças não podiam frequentar a escola por ausência de vagas, hoje ingressam na escola, mas não aprendem e dela são excluídas antes de concluir os estudos com êxito”. Sobre essa lógica, caminha-se para a superação do analfabetismo, no qual os índices mostram que houve, ao longo do tempo, ampliação de vagas nas escolas públicas e com isso, a diminuição de pessoas que não dominavam o sistema de leitura e escrita. No entanto, a exclusão educacional continua a perpetuar, afetando os sujeitos que tiveram a oportunidade de se inserir no sistema educacional, mas que, diante da falta de qualidade no ensino, condicionam-se ao fracasso escolar e, na sequência, contribuem com os índices de evasão. Desta forma, muitos alunos abandonam o ensino regular com domínio precário da leitura, da escrita e do cálculo, inscrevendo-se na categoria de analfabetos funcionais. São, em sua maioria, os sujeitos que sofreram com os processos de exclusão educacional, evadidos do ensino regular diurno e oriundos de camadas populares, os atuais alunos da EJA (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Alunos que retornam aos bancos escolares em uma nova tentativa, acreditando que o término dos estudos possa ser uma tentativa para “uma vida melhor”, quando buscam, na verdade, por detrás dessa frase, seus direitos como cidadãos e sua inclusão social, através do emprego. No entanto, a busca dos estudantes pela escolarização se rompe a partir do momento que o sistema educacional se mantem configurado nos moldes tradicionais de ensino e inoperante sobre o fomento da cidadania. Moll (2011) considera a exclusão educacional como 36 um processo que atinge a todos devido a carência de políticas públicas adequadas às demandas sociais do ensino fundamental, a ineficiência da escola no processo de ensino e aprendizagem, gerando “mecanismos de seletividade intraescolar, denominados de reprovação, repetência e ‘deserção’ ou ‘evasão’ escolar” (p. 35). Diante desse quadro, compreende-se que os interesses da classe dominante estão embutidos no sistema educacional e que tal dominação exclui uma parcela da sociedade que evade da escola, primeiramente do ensino regular diurno e, em muitos casos, posteriormente da EJA. Assim, passa-se a compreender também que a evasão escolar é um construto social, fenômeno que não está condicionado à falta de interesse dos alunos, mas sim condicionado ao sistema educacional no nível governamental e institucional, sendo esse um resultado das desigualdades sociais e de uma lógica perversa de interesses. 1.3 A EVASÃO ESCOLAR NA EJA: O QUE OS ESTUDOS SUGEREM? Após a reflexão teórica acerca dos processos de exclusão que perpassam toda a história da EJA e as relações desses com a evasão escolar, fez-se necessário tomar posse de dados que retratem o cenário empírico dessa problemática nesta modalidade de ensino. Para isso, realizou-se o levantamento de publicações científicas que possibilitaram averiguar o que vem sendo discutido nas pesquisas sobre a evasão naEJA. Para o levantamento destes dados, buscou-se publicações científicas, dos últimos seis anos, transcritas na língua portuguesa, na base de dados Scielo e no Google Acadêmico, no mês de janeiro do ano de 2017. Utilizou-se na base de dados Scielo a busca pelos artigos através do descritor EJA e Educação de Adultos; posteriormente pelo cruzamento dos descritores “EJA and evasão”. No Google Acadêmico a busca ocorreu através dos descritores “evasão escolar and EJA”. Filtrou-se as produções pelo ano de publicação, sendo este a partir de 2011, pela transcrição em língua portuguesa, pela categoria de artigos científicos. Como a busca proporcionou uma quantidade excessiva de publicações, foi realizada a primeira seleção através dos títulos dos artigos excluindo, nessa etapa, títulos que faziam relações com disciplinas específicas ou com outras modalidades de ensino. Posteriormente, leu-se os resumos, adotando critérios de exclusão para artigos que não apresentaram objetivos claros e explicações metodológicas bem descritas, pesquisas relacionadas à EJA no campo, na prisão, na formação do pedagogo e docente, como extensão universitária e na educação profissional. A aplicação dos critérios de inclusão e exclusão permitiu a seleção de seis artigos, que foram lidos e analisados na íntegra. 37 Para a síntese dos resultados foram identificados os itens conforme as seguintes variáveis: título, autores, ano, objetivos, método, principais resultados, conforme Quadro 1: Quadro 1 - Sínteses dos resultados dos seis Estudos selecionados Título Autores/Ano Objetivos Método Principais resultados ESTUDO A Gestão democrática e os mecanismos de ação coletiva: uma contribuição para a redução da evasão na EJA Suzana do Rocio Marcelino Silva Mary Sylvia Falcão 2012 Promover ações de intervenção que ensejem o envolvimento da comunidade escolar em participar de discussões e ações que visam desvelar os problemas que envolvem a evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos, buscando soluções para a permanência com qualidade. Pesquisa-ação Efetivação de uma comissão, instituída e aprovada pelo Conselho da escola pesquisada, para o trabalho de dialogar com a comunidade escolar, com foco a diminuir a evasão, numa perspectiva de gestão democrática. A falta de participação na perspectiva da gestão democrática influencia na evasão escolar na EJA Constatou-se que numa ação coletiva, na qual a comunidade escolar se envolve nas discussões das problemáticas escolares, podem-se encontrar algumas alternativas para a permanência dos alunos na EJA. ESTUDO B Evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos: problematizando fenômeno com enfoque na cultura escrita Rosângela Pedralli Mary Elizabeth Cerutti- Rizzatti 2013 Estudo de Caso, tipo etnográfico Discutir o problema da evasão em espaços de EJA; compreender em que medida a constituição identitária pode implicar no movimento de permanência/evasão no/do espaço escolar; estabelecer relações possíveis entre as práticas de letramento e esse movimento; e refletir sobre a aproximação da condição de insider As justificativas para a evasão se referem à natureza laboral e saúde; estabelecimento de relações de diferentes ordens no espaço escolar pode ser determinante no que diz respeito à permanência ou não nesse espaço; a construção identitária do aluno influencia na sua permanência/evasão na EJA; não se identificar com o 38 ou de outsider por parte dos estudantes no espaço escolar e as implicações para a evasão. grupo pode ser um fator de desistência; documentos parametrizadores e os esforços da gestão municipal não dão conta de diminuir a evasão; práticas de letramento oportunizam a leitura extraescolar, favorecendo para a permanência dos sujeitos na escola; a condição de insider e outsider influencia na permanência e evasão da EJA, na medida que insider diz respeito ao reconhecimento dele mesmo como membro de um grupo e exige do grupo esse mesmo reconhecimento. ESTUDO C Evasão Escolar na EJA: uma escolarização questionável Kelber Abrão Ruhena Daiane Costa de Jesus 2016 Analisar a Educação de Jovens e Adultos a partir de questões reais que levam à evasão escolar, analisando a história da EJA e as causas que levam os alunos a evadirem. Estudo de Caso Constatou-se que a evasão ocorre devido a metodologias inapropriadas, falta de preparação e incentivo aos professores, fazendo com que estes não consigam aliar a teoria da práxis, baixa qualidade dos livros didáticos oferecidos pelo Ministério da Educação – com padrão escolarizado de educação e infantilizados –, relação entre professor e aluno e o mercado de trabalho ESTUDO D A evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos: Estudo de Caso de uma escola pública no munícipio Acará, Pará Marcos Jonatas Damasceno da Silva Silmara Izabel da Silva 2016 Analisar quais os principais motivos que levaram os alunos dessas quatro turmas a não concluírem o ano letivo de 2015 Estudo de Caso Os motivos que levaram aos alunos a não concluir o ano letivo foram a necessidade de trabalhar (cansaço), professores (greve), falta de interesse nos estudos e dificuldades em 39 acompanhar os conteúdos escolares (baixo rendimento). ESTUDO E Os fatores motivadores da evasão escolar na educação de jovens e adultos na Escola Municipal Caminhos do Aprender no munícipio de Grajaú-MA Francisca da Silva Leite Neusani O. Ives Félix 2016 Investigar os possíveis fatores relacionados ao alto índice de evasão escolar na EJA. Abordagem quantitativa e qualitativa, através de entrevistas e observações Professores com jornadas de trabalho exaustiva acabam cansados e desmotivados para preparar boas aulas; metodologias inadequadas, com o uso excessivo do livro didático e quadro ESTUDO F A evasão escolar na perspectiva dos ex-egressos da EJA: a Educação de Jovens e Adultos como um direito e a incoerência desse direito no recorrente fenômeno da evasão escolar Amós Santos Silva 2016 Compreender os motivos que tornam a evasão escolar na EJA recorrente a partir das razões apresentadas por alunos outrora egressos, bem como, analisar se tais causas são fatores determinantes ou não na permanência dos alunos no presente momento Pesquisa do tipo etnográfica de abordagem qualitativa e exploratória por meio de um estudo de campo A evasão ocorre devido a fatores externos: dificuldades em conciliar trabalho e escola; falta de tempo para os estudos; cuidado com a família; Fatores internos: dificuldades em aprender Fonte: A autora (2017) Os dados encontrados possibilitaram a divisão de três categorias de análise, conforme o Quadro 2: Quadro 2 - Categorias de análise dos Estudos selecionados Categoria Temática Estudos Gestão Democrática A, B Educação Popular B, C, E Fracasso Escolar D, F Fonte: A autora (2017) 1.3.1 Gestão Democrática O modelo administrativo do ensino ocorreu de forma centralizadora, autoritária e excludente, durante muito tempo. Era centrado na figura do diretor as tomadas de decisões e, 40 conforme período histórico, no qual repercutia a era industrial, as instituições escolares tinham um funcionamento semelhante às da fábrica: produção em série, controle e reprodução capitalista. Assim, a escola servia para a reprodução de classes, no momento que se visava preparar as camadas populares para a mão de obra (BORGES, 2011). Embora estudos repudiem essa forma dominante de administrar o ensino e as políticas educacionais legitimem a gestão democrática como de suma importância para a qualidade da educação, ainda se percebe fortemente reflexos desse contexto histórico, na forma de gerenciar a educação básica.Silva e Falcão (2012) sinalizam que o acesso e a permanência dos sujeitos na escola já estão garantidos em lei, conforme a Constituição Brasileira (BRASIL, 1988) e a LDBN (BRASIL, 1996); no entanto, a gestão democrática é capaz de articular ações para que se viabilize a condição de frequência escolar. Problematiza também a inclusão dos alunos na escola, pois a mesma pode promover e produzir exclusões do sistema de ensino, trazendo em sua discussão a qualidade da educação, principal objetivo da gestão democrática, quando metodologia, currículo e avaliação ocorrentes de forma inapropriada, juntamente com a precariedade que se encontra o ensino público no Brasil, podem ser desencadeadores da evasão escolar. Essa problemática se amplia quando se refere à EJA, pois, conforme já discutido no presente trabalho, esta ocupa o lugar de secundarização, inscrita em uma política compensatória. As pesquisas (SILVA; FALCÃO, 2012; PEDRALLI; RIZZATTI, 2013) apontam que é possível diminuir o índice da evasão através da categoria participação, embora Pedralli e Cerutti-Rizzatti (2013) apresentem esta discussão de forma subjetiva. Ambos citam projetos que são planejados no coletivo escolar, CASE (Contrato de Ação no Combate à Evasão) e Nenhum a Menos, com a finalidade de diminuir os índices da evasão. Na perspectiva da gestão democrática, percebe-se que a evasão não é apenas uma problemática do diretor, mas também uma problemática de ordem social, que envolve a comunidade escolar. Nesse viés, os projetos com a participação efetiva dos diferentes segmentos da escola são de suma importância, pois os seus diferentes pontos de vistas podem contribuir para compreender os motivos que levam à evasão escolar, as formas preventivas dessa problemática e até mesmo o resgate dos alunos que já deixaram os bancos da EJA. Cabe destacar que a pesquisa de Silva e Falcão (2012) propiciou a formação de uma comissão com representantes da comunidade escolar para a implementação do CASE. Essa comissão passou por formações que discutiram sobre gestão democrática e evasão de alunos na EJA. 41 Luck (2005) ressalta que o conceito de gestão participativa envolve a comunidade escolar, compreendida como todos os interessados na escola e na melhoria do processo pedagógico. Complementa afirmando que este trabalho é uma mobilização de esforçados coletivos e organizados. Nesta perspectiva a gestão democrática e participativa se apresenta como possibilidade de contribuir no enfrentamento da evasão da escola, pois esta só pode ser transformada com a participação da comunidade, portanto o fator das desistências dos alunos é algo a ser debatido, entendido e enfrentado de forma coletiva (SILVA; FALCÃO, 2012, s/p). A participação é um elemento importante para a democratização da sociedade e serve como ferramenta capaz de romper com a tradição elitista e excludente da mesma. Freire (2005) se refere a participação como possibilidade dos sujeitos se autoeducarem na medida que participam da vida da sociedade, sendo a escola uma importante instituição que desencadeia o senso de participação dos sujeitos, tornando-os mais atuantes e críticos. Pedralli e Cerutti-Rizzatti (2013) apresentam, a partir das observações realizadas, uma comunidade escolar unida, onde gestores, professores, funcionários e alunos praticam atividades conjuntamente, como lanche e esportes. Esse aspecto traz a forma horizontal das relações dentro do ambiente escolar, também característica da gestão democrática, se distanciando de posturas autoritárias e de hierarquização, nas quais Luck (2005) propõe em sua teoria a superação. A pesquisa também faz referência à maneira como a coordenação pedagógica conduzia os dias em que, devido ao inverno chuvoso, os alunos tinham dificuldades de acesso à escola. Na ocasião, a profissional se disponibilizava a buscar os alunos em casa. Longe de atribuir essa atitude à sua função, no entanto, é digno de destaque que a atitude transparece o olhar afetuoso, comprometido e preocupado, necessário quando se refere a evasão escolar. Cabe trazer a discussão posta por Pedralli e Cerutti-Rizzatti (2013) acerca da identidade, pois quando não estabelecido o vínculo necessário entre aluno e escola, a identificação desse sujeito com a instituição não se constitui, acarretando em distanciamento e até mesmo na sua desistência das aulas. É sabido que para se criar identidade escolar se necessita de sentimento de pertencimento ao espaço, o qual somente será gerado no momento em que o sujeito possa operar nele através de sua voz. Nesse sentindo, mais uma vez a gestão democrática pode favorecer, pois oportuniza os espaços legítimos de participação, autonomia e criação da comunidade escolar. Democracia e participação são conceitos inseparáveis, embora, segundo Luck (2009), no contexto escolar, possa ocorrer a participação sem espírito democrático, o que resulta num 42 “significado limitado e incompleto de participação” (p. 54), resultando desta maneira, numa pseudoparticipação. A participação, para ser democrática necessita assumir uma dimensão política, onde haja uma atuação consciente e de influência para com o meio. Cabe lembrar que toda pessoa tem o poder de influência sobre o contexto de que faz parte, exercendo-o independentemente de sua consciência desse fato e da direção e intenção de sua atividade. Todavia, a falta de consciência dessa interferência resulta em uma falta de consciência do poder de participação que têm [...] (LUCK, 2009, p.30). Assim, a problemática da evasão escolar, dividida com a comunidade e a ela atribuída a participação no que se refere a pensar sobre estratégias nesse campo, torna-se política e de relevância social, devolvendo à comunidade escolar, em contrapartida dos esforços, a consciência do poder político e participativo enquanto cidadãos. 1.3.2 Educação Popular A educação popular é uma corrente teórica que surgiu com força entre os anos 1950 e 1960, com o propósito de problematizar a educação naquele período, promovendo práticas educativas liberadoras à classe popular. Essas práticas, ainda com sentido contemporâneo, almejam a transformação da sociedade através do deslocamento do sujeito da condição de oprimido, para uma condição crítica e autônoma (FREIRE, 2000). Deste modo, a educação popular ocorre através de “uma especificidade de procedimentos educacionais que construa junto com o povo todas as possibilidades de decisão política e ação coletiva, a partir dos interesses dos grupos populares” (PACHECO JÚNIOR; TORRES, 2009, p 25). De acordo com Freire (2000), as práticas educativas que se alinham à perspectiva da educação popular apresentam uma estreita relação com a política por ter o propósito de emancipar o sujeito para o exercício da sua cidadania. O autor critica severamente a educação bancária, a qual, em uma concepção de educação tradicional, não leva em consideração os saberes dos sujeitos e tampouco faz relação com o meio que os cerca, transcorrendo as aulas através da transferência de saberes entre professor e alunos. Ruhena e Jesus (2016) relacionam a evasão com o fato de os professores não conseguirem aliar a teoria à práxis. Essa situação pode ocorrer devido à falta de tomada de consciência dos professores sobre as problemáticas de ordem social que emergem no cotidiano dos alunos da EJA. Assim, em condição de alienação, os professores, munidos da teoria, não a utilizam para ações transformadoras. Rossato (2010, p. 325), ao conceituar a práxis, de acordo com a teoria freiriana, coloca que: 43 A práxis implica a teoria como um conjunto de ideias capazes de interpretar um dado fenômeno ou momento histórico, que, num segundo momento, leva um novo enunciado, em que o sujeito diz a sua palavra sobre o mundo e passa a agir para transformar essa mesma realidade. De posse no que anunciam Ruhena e Jesus (2016) sobre a fragilidade
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