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DIAGNÓSTICO E CONDUTA EM INFECÇÕES DE TRANSMISSÃO VERTICAL quarta-feira, 23 de junho de 2021 18:41 • Existem inúmeras doenças com potencial de infecção do feto, algumas com sequelas bastante graves - HPV, sífilis, toxoplasmose, varicela, rubéola, CMV, hepatite B, HIV, herpes, influenza, tétano, dengue, HCV, zika, sarampo, febre amarela, Chikungunya e EGB • Doenças que se intervenção adequada durante pré-natal mudam o prognóstico - sífilis, toxoplasmose, hepatite B e HIV SÍFILIS NA GESTAÇÃO • Vivemos desde os anos 2000 uma epidemia nacional de sífilis. Taxa d grávidas infectadas com a doença teve um aumento de 224% desde 2005, mortalidade entre as crianças é pequena, mas infecção pode deixar sequelas → É uma epidemia apesar de ser causada por agente conhecido, que não desenvolveu resistência, diagnóstico e tratamento barato • No mundo, cerca de 2 milhões de gestantes são afetadas por sífilis anualmente - 69% das gestantes infectadas com resultados adversos. Cerca de 270.000 RNs com sífilis congênita, 460.000 abortos/morte perinatal, 270.000 crianças com baixo peso ou prematuras. Na África, 1/3 dos natimortos são secundários a sífilis → São situações evitáveis • Brasil tem taxa 9:1.000 nascidos vivos de sífilis congênita com subnotificação de quase 50% - considera-se aceitável uma taxa de 0,4 • Atualmente, é comum encontrar grávidas com sintomatologia • A partir do contato com Treponema, 1/3 dos indivíduos torna-se infectado. Em 10-90 dias após, indivíduo pode apresentar lesão típica da fase primária da doença representada por cancro (lesão ulcerada, de bordas elevadas, fundo limpo e não dolorosa), nessa fase indivíduo altamento infectivo - chance de transmissão vertical é 100% - VDRL positivo em apenas 25% dos casos. • Cancro desaparece em 1-3 meses, evoluindo para fase secundária da doença cujo grande marcador são os rashes cutâneos que tem a característica de serem maculopapulares, disseminados pelo corpo e atingindo palmas de mãos e pés. Nessa fase, transmissão vertical é de 90%, sendo VDRL positivo em 100% dos casos. → Outras manifestações: condiloma plano e alopecia em caminho de rato • Lesão desaparece em 1-3 meses, evoluindo para fase de latência precoce (1 ano a partir do contato). Nessa fase, apresenta VDRL com títulos baixos com recaída em 25% • Fase latente tardia (mais de 2 anos após contato) leva a VDRL com títulos baixos ou negativos com transmissão vertical de até 30% • A partir da latência, há remissão em 2/3 dos casos ou evolução para sífilis terciária em 1/3. Na sífilis terciária pode haver comprometimento de pele (forma benigna tardia - 16%), cardiovascular (9%) e/ou neurossífilis (6,5%) → Sífilis terciária leva a arterite obliterativa com perda de tecido • Maioria das grávidas (86%) em fase de latência indeterminada, onde tempo de infecção é desconhecido - "silêncio clínico", sendo necessário exames laboratoriais para realizar diagnóstico • Treponema é um agente grande, precisando de uma placenta mais antiga para que possa infectar. Pode passar em qualquer período, mas placenta é mais permeável no 3º trimestre → Quanto mais avançada a gestação e mais recente for a sífilis materna, maior o risco de infecção fetal • Sífilis congênita leva a morte perinatal em 40% dos fetos infectados - anemia severa, hidropsia, hepatoesplenomegalia, plaquetopenia, exantema bolhoso, rinorreia sanguinolenta, acometimento de epífises leva a tortuosidade de ossos longos, RCIU → 75% dos fetos nascem assintomáticos e apresentarão lesão nos primeiros 2 anos de vida • Sífilis congênita: fronte olímpica e nariz em sela, palato ogival ou fendido, rinorreia sanguinolenta pode evoluir para importante perda de tecido nasal e dentes com chanfradura central • Testes sorológicos para sífilis são divididos em → Testes para detectar anticorpos anti-cardiolipina: não treponêmicos → Testes para detectar anticorpos anti-treponema: treponêmicos - detectam interação entre as Igs séricas e os antígenos de superfície do treponema • Principal exame não treponêmico é o VDRL, sendo um teste bastante sensível, mas não específico - titulação, permitindo avaliar resposta ao tratamento • Exames treponêmicos são FTA-ABS, TPHA, ELISA e teste rápido são confirmatórios - marca sorológica, diagnóstico de reinfecção pelo VDRL • Sorologia para sífilis é feita no início do pré-natal, no 3º trimestre e na admissão para parto ou aborto - VDRL + treponêmico • Recomendações para triagem da sífilis no pré-natal do MS: → Teste rápido na primeira consulta, 3º trimestre e parto de maneira universal → Teste rápido é treponêmico, portanto já é confirmatório em uma única avaliação → Realizar VDRL para seguimento após tratamento → Lembrar que teste rápido, assim como todos os testes treponêmicos, não negativam após tratamento - segue como marca sorológica • Tratamento é feito com penicilina benzatina de acordo com a fase clínica → Sífilis primária ou secundária ou latência recente (< 1 ano): penicilina benzatina 2.400.000 U IM - dose única → Sífilis latente tardia (<2 anos) ou indeterminada: penicilina benzatina 2.400.000 U, 1x/semana, 3 semanas seguidas - total de 7.200.000 → Sífilis terciária (SNC): penicilina cristalina ou procaína • Conduta após identificação de gestante ou puérpera com sífilis: tratamento imediato e adequado à fase clínica, tratar parceiro, seguimento sorológico com VDRL mensal e pesquisar outras DSTs (HBV, HIV e HCV) • Se tratamento é feito no início da gestação pode-se considerar que tratamento é da mãe. No entanto, se a partir do 2º trimestre ou sífilis recente, está tratando feto também • Tratamento adequado: com uso de penicilina, dose e tempo corretos de tratamento, início do tratamento 30 dias antes do parto e tratamento correto do parceiro sexual - VDRL mensal após tratamento HEPATITE B NA GESTAÇÃO • OMS 2015: hepatite B corresponde a 257 milhões de infectados (3,5% da população mundial), sendo 2,7 milhões coinfectados com HIV - África e Ásia respondem por 68% das infecções no mundo → Hepatite B e C: 1,34 milhões de mortes (96% das mortes por hepatites) - 720.000 por cirrose e 470.000 por câncer → Está em franca ascensão • Se paciente com viremia elevada, alto risco de transmissão intraútero com morbidade a longo prazo - paciente com infecção aguda • A partir de contágio, em 1-3 meses há ascensão do HBsAg, mostrando infecção aguda, que pode permanecer positivo por até 6 meses. Se paciente nesse período de viremia, há risco de transmissão vertical → Risco é maior se HBeAg, marcador de replicação viral positivo • Após infecção recente, quando há evolução para cura, há surgimento de anti-HBc e de anti- HBs • Quando não há evolução para cura, HBsAg permanece de forma crônica - portador crônico → Presença de HBeAg é o principal marcador de risco para transmissão vertical → Quando portador crônico com anti-Hbe positivo, há uma doença com melhor prognóstico de evolução • Maioria das mulheres jovens apresenta fase de imunotolerância com HbsAg e HBeAg positivos. Apresentam intensa replicação viral, porém sem doença hepática ativa (enzimas normais) • Estado de imunossupressão fisiológico pode levar a aumento da replicação viral no 3º trimestre, geralmente sem elevação de enzimas. Podendo ocorrer reativação de replicação viral com exacerbação da doença hepática no pós-parto • Filhos de mães HBsAg + e HBeAg + tem 95% de transmissão vertical e 90% de cronicidade → 25% dessas crianças evoluem ainda na infância para cirrose hepática e/ou câncer • Filhos de mães HBsAg + e HBeAg - tem menos transmissão vertical e 10-15% de cronicidade - HBsAg é transiente • Conduta no RN de gestante HbsAg+ é imunoprofilaxia neonatal com imunoglobulina específica contra hepatite B (HBIg) e vacinação universal na sala de parto → Nas pacientes não replicadoras a eficácia é de quase 100%. No entanto, eficácia de apenas 68% em gestantes com níveis deHBV DNA acima de 106 U/mL porque essas crianças já se infectaram no ambiente intrauterino • O que fazer para reduzir a transmissão vertical em mãe com HBeAg+ ou alta carga viral (>200.000UI)? Uso de HBIg (imunoglobulina específica) no 3º trimestre ou antivirais profiláticos (Lamivudina ou Tenofovir) a partir de 28 semanas • Transmissão vertical e cronificação similar no parto cesárea e no vaginal - não há benefício em alterar a via de parto para prevenção da transmissão vertical • Conduta pré-natal de gestantes HBsAg+ → Rastreamento universal no 1º trimestre com HBsAg → Para as mulheres com HBsAg negativo e sem história prévia de vacinação, vacinar em qualquer idade gestacional → Se HBsAg positivo, pedir outros marcadores e função hepática → Tratar as portadoras de HBeAg+ independente da carga viral para prevenir transmissão vertical → Quantificar carga viral das pacientes HBeAg negativas para definir tratamento quando CV > 200.000 UI → Droga de escolha é o Tenofovir a partir de 28 semanas - manter tratamento até 30 dias após o parto → Não contraindica aleitamento materno em mulheres tratadas com antivirais → Imunoprofilaxia neonatal até 12 horas (ideal até 2 horas de vida) nos recém-nascidos (vacina+HbIG) TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO • No Brasil, é a principal causa de cegueira congênita, tem grande prevalência nos estados do Centro-Oeste e Sul do país. • OMS 2015: mais de 60% da população teve contato com o Toxoplasma • Toxoplasma gondii é um parasita grande, necessitando de placenta mais permeável para que possa infectar • Principal forma de contaminação no país é a ingestão de carne malpassada, outras formas é a manipulação de fezes contaminadas de gato (hospedeiro definitivo) ou alimentos mal higienizados • Acometimento feto-neonatal: déficits sensoriais auditivo e visual, retardo de desenvolvimento neuropsicomotor, lesões SNC (microcefalia, convulsões, calcificações intracranianas periventriculares, hidrocefalia e convulsões - tétrade de Sabin) e retinocoroidite → 95% são assintomáticas ao nascimento → Mortalidade geral de 12% em sintomáticos → "Cepa" brasileira tem predileção por olho e SNC • Risco de transmissão vertical é maior quanto mais avançada a gravidez, pois placenta fica mais permeável - cerca de 5% no 1º tri, 40% no 2º tri e 80% no 3º tri • Já o risco de malformação é maior quando infecção no início da gravidez - até 60% no 1º tri e 5% no 3º tri → Retinocoroidite tem risco estável de 25% independentemente da idade gestacional • No Brasil, incidência média é 6:10.000 RN - 54% com retinocoroidite, 37,5% com calcificações intracranianas e 37,5% com alterações no líquor • A maioria (95%) das pacientes é assintomática, assim o diagnóstico é sorológico. No entanto, o marcador de fase aguda é o IgM, que pode ter uma longa duração - até 1 ano, podendo chegar a 2 anos → Altos índices de IgM residual que mostra infecção pregressa - até 60% de falso positivo de IgM → Necessidade de confirmação por diferentes técnicas em laboratório de referência • Necessário parasitemia para infectar o feto seja por infecção aguda ou reativação de doença latente nas imunossuprimidas → Parasitemia é considerada nos primeiros 3 a 4 meses de infecção • Se paciente IgG negativa, retestar sorologia a cada trimestre (na França é a cada 3 semanas) e orientações para evitar contágio - não ingerir carne malpassada, lavar bem alimentos e não manipular fezes de gato • Se paciente IgG positivo, sugere que já foi infectada. Então, fazer IgM para determinar tempo de infecção → IgG + e IgM - mostra infecção com mais de 1 ano - sem risco nessa gravidez → IgG + e IgM + - mostra infecção a menos de 2 anos OU falso positivo IgM - enviar para laboratório de referência para ver avidez de anticorpos de IgG • Se IgM + e IgG - gestante tem uma possível infecção recente OU falsa positividade de IgM, sendo necessário repetir exames em 2 semanas. Se persistir apenas com IgM positivo, é falso positivo. Se positivar IgG, é soroconversão e infecção aguda verdadeira • Avidez de anticorpos: quando mais recente avidez baixa (<30%), quando alta sugere infecção mais antiga - quando baixa não dá certeza → Atenção para técnicas diferentes e interpretações outras dos testes de avidez • Se gestante com infecção recente (soroconversão ou IgG+ IgM+ e baixa avidez) deve ser realizada investigação da infecção fetal • Diagnóstico de infecção fetal: ecografia ou exames laboratoriais (PCR para toxo em líquido amniótico) • Nas gestantes com primo-infecção deve ser indicada amniocentese para realização de PCR → Se negativa, provável infecção placentária, mas feto não infectado - espiramicina 3g/d seguindo com US de 2/2 semanas → Se positiva, feto infectado sendo necessário tratamento fetal com drogas que alcancem o ambiente fetal - pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico ✓ Pirimetamina bloqueia conversão do ácido fólico em folínico, sendo necessário a suplementação de ácido folínico para evitar aplasia de medula ✓ Sulfa não pode ser utilizada no 1º trimestre, porque causa malformação cardíaca no feto, e deve ser evitada após 37 semanas, pois pode causar bloqueio no metabolismo da bilirrubina causando icterícia grave neonatal • Tratamento da toxo na gestação até o parto → Feto não acometido: espiramicina 500 mg - 2cp VO 8/8 hrs → Feto acometido: sulfadiazina 500mg 2cp VO 8/8 hrs, pirimetamina 25mg 2cp VO/dia e ácido folínico 15mg 1cp VO/dia - espiramicina após 37 semanas - rastreamento sistemático de anemia materna (hemograma a cada 15 dias) e fetal (doppler da ACM fetal - velocidade acelerada) • Tratamento tem bom resultado perinatal quando o tratamento é introduzido logo após a infecção materna - menor taxa de transmissão e menor ocorrência de sequelas HIV NA GESTAÇÃO • Evolução dos tratamentos aumentou a qualidade de vida, diminuiu morbimortalidade e transmissão vertical • Tratar a mulher portadora do HIV como portadora de uma doença crônica de base em mulheres em idade reprodutiva, ou seja, compensar a doença de base para programar a gestação • Um dos principais objetivos no cuidado da gestante infectada pelo HIV é a prevenção da transmissão vertical do HIV. Além de controle adequado da doença materna → Objetivo: estar em esquema terapêutico capaz de suprimir a carga viral e que seja liberado para usar na gestação • Atualmente, transmissão vertical é de 0-0,8% • Fatores que interferem na TV do HIV: carga viral, terapia antirretroviral, via de parto, fatores obstétricos, idade gestacional no parto, infecções concomitantes e aleitamento → Fatores obstétricos e via de parto são importantes para as mulheres não adequadamente tratadas → Aleitamento é contraindicado • Transmissão vertical sem terapia antirretroviral (TARV) é de 21%, com AZT apenas é de 8%, TARV potente com IP chega a menos de 1% → Em grávidas, sempre se usa o esquema mais potente • Infecção não tratada pelo HIV aumenta liberação de mediadores inflamatórios trazendo risco para o indivíduo - tratamento é universal • Objetivos da TARV na gestação: reduzir a viremia, aumentar a contagem de células TCD4, retardar a progressão para AIDS e reduzir a transmissão vertical • Necessário balancear a redução do risco de transmissão vertical com minimização de efeitos colaterais para mãe e de risco para a criança • Toda gestante infectada pelo HIV deve receber terapia antirretroviral potente, independente da sua situação imunológica ou virológica • Nas gestantes que descobrem HIV durante a gestação, tratamento antirretroviral deve ser iniciado na gestação sem suspensão após o parto com TARV potente → Se diagnóstico no 1º trimestre e assintomática poderá aguardar para iniciar TARV após o término do 1º tri - grande risco de transmissão vertical é 3º trimestre e periparto ✓ Risco de transmissão vertical no 1º trimestre existe - mãe usuária de drogas, doença vascular ou outras infecções (toxo e sífilis) → Não há completa segurançada exposição a antirretrovirais no 1º trimestre, mas dados reforçam a ausência de efeitos adversos graves - preferível iniciar após 1º trimestre • Foi visto malformação de tubo neural em uso de dolutegravir, mas não é maior que da população geral. No entanto, a partir dessa informação se for confirmada uma gestação de 1º trimestre em usuárias de DOL, o esquema deve ser preferencialmente trocado • Esquema utilizado hoje em adultos é lamivudina + tenofovir + dolutegravir (3TC+TDF+DOL) → Terapia inicial para NAIVE (grávida virgem de tratamento) recomendada é 3TC+TDF+DOL, devendo ser iniciada após 12 semanas de gestação → Terapia inicial para NAIVE que precisa tratar no 1º trimestre é tenofovir + lamivudina + atazanavir/ritonavir - também é o esquema recomendado para as grávidas que estavam em uso de dolutegravir • Em mulheres com carga viral baixa e na ausência de fatores de risco, AZT intravenoso parece não ser necessário. Assim, uso de AZT IV no trabalho parto e parto deve ser feito apenas para mulheres HIV+ com carga viral detectável ou desconhecida • Quanto a via de parto, cesárea eletiva (fora de TP) se carga viral detectável e parto vaginal se carga viral indetectável → Carga viral indetectável: parto vaginal sem AZT IV → Carga viral detectável (>1.000): recebe AZT IV 3 horas antes de cesárea eletiva → Carga viral detectável (<1.000): recebe AZT IV, mas pode tentar parto vaginal
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