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HELOÍSA LÜCK AÇÃO INTE,GRADA A drnini,str aç ã,o, SuP erai,são e Orientação Educaci,onal 18'Edição 0;a;:y Petrópolis 2001 lrtll&,**irlu,-, A ESCOLA COMO SISTEMA E A DIVISÃO DE TRABALI-iO A fim de se conJrecer, analisar e controlar o que se passa dentro da escola e direcionar as inovações necessárias ao bom desempenho de suas funções, sem que se corra o risco de se tomar posições e medidas unilaterais e exciusivas a alguns setores, em desconsideraçáo ou até em detrimento de outros setores e do conjunto, é preciso examinar a escola por meio de uma concepçáo sistêmica. Por sua própria funçáo, a escola constitui-se em uma organízaçáo sistêmica aberta, isto é, em um conjunto de elementos (pessoas, com diferentes papéis, estrutura de relacionamento, ambiente físico, etc.), que interagem e se influenciam mutuamente, conjunto esse relacionado, na forma de troca de influências, ao meio em gue se insere. I ) il Dessa forma, qualquer mudança em qualquer dos elementos da escola produz mudança nos outros elementos, mudança essa que provoca novas mudan- ças no elemento iniciador, e assim sucessivamente. A interinfluência será tanto mais forte quanto maior proximidade e relacionamento tiverem os elemen- tos. Essa interinfluência ocorre, quer tenhamos cons- ciência dela ou náo; e o entendimento de como ela funciona na escola é sobremaneira Ímportante, a fim de que esta possa exercer equilibradamente sua função educativa. Com referência ao relacionamento de mútua in- fluência com o meio em que está inserida, o que a torna um sistema aberto, e náo fechado em si mesmo, sabe-se que a escola tem uma função de promover a melhoria da sua comunidade, pela edu- cação de seus filhos, e que, ao fazê-lo, recebe influ- ência dessa comunidade, adaptando seus objetos, programas, métodos e técnicas às suas necessidades. Também aí as mudanças são recíprocas. Portanto, quando se pensar em algum setor da escola, deve-se pensar em suas relações com os demais setores, bem como com a comunidade. Como a escola, por sua vez, é uma unidade de um sistema educacional maior, formado por um con- junto de escolas que se interinfluenciam direta ou indiretamente, a idéia desse conjunto maior deve-se ter em mente ao se enfocar o funcionamento de qualquer área do sistema. Posições e medidas tomadas após esse exame teráo melhores condições de ação coordenada e efieaz. Quanto maior e melhor for o entendimento 10 ,l:rs funções e condições de funcionamento das par- lls do sistema e de como interagem, maiores serão ;rs probabilidades de se tirar vantagens de seus .sforços e resultados. A Divisão de Trabalho e Distribuição de Papéis As unidades de estrutura social de uma institui- «;ão se constituem em papéis sociais. Um papel social corresponde a um padráo esperado de determina- da posição em um contexto social. O papel é a expressão da posição gue corresponde à localizaçá'o da pessoa no sistema. A divisão do trabalho corresponde ao agrupamen- to de funções, seguindo determinados critérios, de forma a permitir que a carga total de trabalho seja desempenhada satisfatoriamente pelas pessoas dis- poníveis para o seu desemPenho. Por uma influência da tecnologia industrial, tam- bém em educaçáo, foi adotado o critério de divisáo do trabalho por especialização de funções. Assim é que determinada pessoa ou conjunto de pessoas recebe a incumbência de uma parte do processo de ensino-aprendizagem, outra de outra parte, e assim sucessivamente. Em escolas pequenas, cujo volume de trabalho é relativamente pequeno, vários agrupamentos de fun- ções, que poderiam corresponder a papéis diferen- tes, sáo naturalmente assumidos por uma ou umas poucas pessoas. É na medida em que as escolas 11 crescem e, na proporção da afluência econômica, que vai ocorrendo a divisão de tarefas entre diferen- tes pessoas de diferente formação ou treinarnento profissional. Observa-se, no entanto, que esse agrupamento espe- cializado de funções e sua atribuição a pessoas dife- rentes produz situações de conflito no sistema. Ele tende a promover disparidade de interesses e a dificultar a comunicação. Considerações aos princípios de funcionamento do sistema e aplicaçáo de medidas integradoras devem ser preocupação de todos os participantes do sis- tema, a fim de que o paralelismo e os conflitos gerados pela divisão de trabalho ocorram ao nível mínimo possível. Consideragões a Respeito do Frofessor e da Equipe Técnico.Administrativa no Processo Educativo Qualquer papel social é determinado por uma série de fatores interferentes, uns de maior impacto que outros, dependendo das circunstâncias. Esses fatores interferentes sáo, por exemplo, a avaliaçáo das necessidades e características da escola, a quan- tidade e formação dos seus recursos humanos, a expectativa mantida por pessoas que participam do mesmo sistema social, a própria concepção do papel, pelo seu ocupante. Saloe-se que, tendo em vista que todos os demais fatores interferentes sáo filtrados pela percepçáo do ocupante da posição à sua irnpor- 72 F tância, esta tem um papel signÍficativo na deter- minação de papéis (Sargent, 1951); esse é um fator significativo na determinação de papéis enquanto desempenho, paraleJ.amente às expectativas dos co- participantes, que é carreada dia a dia no relaciona- mento interpessoal mantido. Os papéis são analisados ao nÍvel de generaliza- çáo. Sua tradução em desempenho ocorre na medi- da em que os ocupantes das posições percebem o seu papel da mesma forma, e as pessoas ocupando papéis circunstantes mantêm expectativas corres- pondentes. 0 Professor O papel do professor constitui-se, basicamente, em ajudar o educando a aprender em todos os aspectos, Ísto é, na aquisiçáo e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, valo- res, ideais ou qualquer tipo de aprendizagem ainda náo desenvolvida e julgada importante e necessária para o educando tanto pessoal como socialmente (Reeder, 1943). Observa-se que a concepçáo do papel do professor como agente de educaçáo inte- gral e não apenas como transmissor de conhecimen- tos ou agente do desenvolvimento de aptidões cogni- tivas não é recente. Os cursos de formaçáo dos professores vêm enfa- tizando, no entanto, mais os aspectos de conheci- mento de áreas ou conteúdos específicos e conheci- mentos de prática e procedimentos básicos (métodos 13 e técnicas) em seu currículo. Observa-se que outros aspectos vitais para a promoçáo de uma educação integral e humanizada são colocados, via de regra, em segundo plano, como por exemplo: o conhecimento dos processos de desenvolvimen- to humano (em termos de exemplificaçáo e apli- cabilidade); o conhecimento dos processos de aprendizagem (em termos de exemplificaçáo e aplicabilidade); o compreensáo das influências do ambiente sócio- econômico-cultural sobre o educando; . compreensáo de e sensibilidade para as diferen- ças individuais dos educandos; o habilidade em manter um relacionamento hu- mano eficaz; o habilidade em comunicar-se clara e eficazmente; o habilidade em resolver problemas de sala de aula; o habilidade em motivar seus alunos; o habilidade em selecionar e desenvolver formas de desempenho adequados ao processo de ensino; o habilidade em trabalhar cooperativamente; o interesse em trabalhar com crianças e em fun- ção de suas necessidades. Esses aspectos seriam, em nosso entender, mais importantes que os reforçados nos cursos de treina- mentos, pois, conforme já" afirmava em 1958 o relatório Rockefeller (Rockefeller Brothers Founda- tion, 1958) sobre a melhoria da escola, "nenhum sistema educacional será melhor que a qualidade l4 ,' ltttlti,l.idude de seus professores" (p. 49, grifo .r, rr.r;r:clltado). A <:oncepção de que o professor é a figura-chave rr;r. cscola e de que na sua pessoa está centrada a possibilidade de eficácia do processo educativo é vrir;nlada por vários dos seus analistas e teorizado- r'rs, como por exempio Dewey e Bruner. Análises lcilas reforçam a Ídéia de que é a qualidade do rela- (:ionamento professor-alunoque tornam o processo crlucativo e a escola significativos para o educando, c náo outros aspectos, como por exemplo métodos c técnicas interessantes, atividades extraclasse varia- <las, etc. (Foster, 1969). Em síntese, a eficácia do processo educativo <;entra-se no professor: seus conhecimentos, suas habilidades e suas atitudes em relação ao aluno ir quem deve motivar. Torna-se, poÍs, de vital im- portância promover, antes de mais nada, o desen- volvimento desse professor, orientá-lo-e assisti-lo na promoção de um ambiente escolar e processo edu- cativo significativos para o educando. Como "a chave do êxito na educação reside nas pessoas" (Kaufman, 1978, p. 11), mudanças curriculares, inovação de métodos e técnicas de ensino ou do próprio currí- culo não tornarão por si só o processo ensino-apren- dizagem repentinamente eficazes. Se este tiver que ser melhorado, terá que ser a partir dos professores, do desenvolvimento de suas atitudes, habilidades e conhecimentos a respeito das mudanças e inova- ções necessárias. 15 A Equipe Técnico.Administrativa A equipe técnico-administrativa tem como funçáo precípua coordenar e orientar todos os esforços no sentido de que a escola, como um todo, produza os melhores resultados possÍveis no sentido de atendi- mento às necessidades dos educandos e promoção do seu desenvolvimento. Dentro de uma concepção de educação integral, e tendo em vista a relevància e a problemática do papel do professor no processo educativo, confor- me analisado anteriormente, devem revestir-se de sentido e natureza especiais os esforços de coorde- I nação e assii;tência aos professores. Esse sentido e natureza devem estar voltados para o desenvolvi- mento de conhecimentos, habilidades e atitudes no professor, a fim de que a sua atuação juntq ao aluno torne-se gradativamente mais eficaz. l. O Papel do Diretor É do diretor da escola a responsabilidade má- xima quanto à consecuçáo eficaz da potítica educa- cional do sisterna e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionaÍs, organizando, dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido, ê con- trolando todos os recursos para tal. Devido à sua posiçáo central na escolâ, o desem- penho de seu papel exerce forte influência (tanto positiva, como negativa) sobre todos os setores e pessoas da escola. É do seu desempenho e de sua lmbllldade em infiuenciar o ambiente que depende, etn grande parte, a qualidade do ambiente e clima êtoolar, o desempenho do seu pÕssoal e a qualidade do processo ensino-aprendizagem. A fim de desincumbir-se do seu papel, o diretor $Bsume uma série de funções, tanto de natureza uclministrativa, quanto pedagógica. Do ponto de vista gdministrativo, compeie-Ihe, por exemplo, a: o organização e articulaçáo de todas as unidades componentes da escola; o controle dos aspectos materiais e financeiros da escola; o articulação e controle dos recursos humanos; o articulaçáo escola-cornunidade; o articulaçá,o da escola com o nÍvel superior de administração do sistema educacional; o formulaçáo de normas, regulamentos e adoção de medidas condizentes com os objetivos e prin- cÍpios propostos; c supervisão e orientaçáo a todos aqueles a quem sáo delegadas responsabilidades. Do ponto de vista pedagógico, é de sua alçada, por exemplo, a: c dinamização e assistência aos membros da es- cola para que promovam ações condizentes com os objetivos e princípios educacionais propostos; o liderança e inspiração no sentido de enrique- cimento d.esses objetivos e princípios; o promoçáo de um sÍstema de açáo integrada e cooperativa; t716 o manutençáo de um processo de comunicaçáo claro e aberto entre os membros da escola e entre aescolaeacomunidade; o estimulação à inovaçáo e melhoria do processo educacional. Quanto maior Íor a escola e mais complexo for o seu ambiente, mais árdua se torna a tarefa do diretor para desincumbir-se do seu papel. Âssim é que se promove em escolas de tamanho médio e grandes a subdivisáo das funções inerentes à posi- çáo do diretor e a possibilidade de o mesmo dele- gar a execuçáo de várias delas a outras pessoas, notadamente ao supervisor escolar. l.l. Em Relaçdo à, Superaisdo Escolar I'ace à divisáo de trabalho que ocorre nas escolas, e principalmente em função da introduçáo da super- visáo escolar, observa-se que na prática o papel do diretor vem se restringindo ao de administrador dos recursos materiais da escola e o de administrador de pessoal, considerado em seu sentido burocrático. A liderança e inspiração pedagógica, inerentes, em quaisquer circunstâncias, à sua posiçáo, tornaram-se obscurecidas em seu papel, uma vez entendidas como próprias do supervisor escolar. No entanto, observa-se, muito comumente, na liderança ofere- cida pelo supervisor escolar, uma preocupaçáo mais relativa a métodos, técnicas, conteúdos, que ao sentido do processo educativo. 1B - t,irrrlrr:rrr1,o que à supervisão escolar compete dina- ,,,i ,il. o rrssistir na Operacionalizaçáo do sentido do yr.r'r'ri,.-i() cducativo na escola, e, portanto, atuar no , r rt rr io pedagógico, cabe à sua direção oferecer ,,,rrtrrrutr inspiraçáo e liderança nesse sentido. Essa rr' lrorrsirt)ilidade náo é delegável. 1.2. Eru Relação ir, Orientaçd,o Educacional. A cducaçáo para o desenvolvimento integral, pre- r rrrrizad.â pela Lei 5692/71, só é possível vendo-se o ,.ilrrczrndo como um ser integral, cujos componentes ,'r,rlr)itivos, psicomotores e afetivos devem ser desen- v,lvid.os equilibrada e harmoniosamente; só é pos- :,rvcl uma vez que se parta das peculiaridades e rr,,t:essidades de desenvolvirnento dos educandos. (Ima açáo educativa relevante e um currículo posi- livo unem em uma associação harmoniosa os conhe- cirnentos, habilidades e sentÍmentos. Consideram .rluilibradamente tanto as necessidades individuais (:omo as de grupo, as pessoais e as institucionais. A educação sob esse ângulo traduz o ponto de vista «la orientaçáo educacional. Dada a sua posiçáo única na escola, as perspecti- vas do diretor quanto a esse ponto de vista sáo importantíssimas para que o mesmo seja imple- mentado, haja ou não orientador educacional na escola. E cabe ao diretor criar condições para que essa implementação ocorra, tanto quanto possível, não só tomando decisões e assumindo medidas coe- rentes àqueie ponto de vista, mas também, por um t9 lado, assegurando que os demais participantes do processo educativo apóiem e incentivem ações nes- se sentido. 2. O Papel do Superaisor Escolnr O papel do supervisor escolar se constitui, em última análise, na somatória de esforços e ações desencadeados com o sentido de promover a me- Ihoria do processo ensino-aprendizagem. Esse esfor- ço voltou-se constantemente ao professor, num pro- cesso de assistência aos mesmoS e coordenação de sua açáo. O processo de assistência e coordenação recebeu enfoques variados durante a história da supervisão escolar, como por exemplo a melhoria: o dos materiais de instrução; o dos métodos, técnicas e procedimentos do en- sino; o dos programas curriculares; o do processo de avaliaçáo dos alunos; o da descrição de objetivos educacionais; o do processo de recuperaçáo dos alunos; o do desempenho do professor; o outros. Embora assumindo uma açáo voltada ao profes- sor, nem sempre a açáo do supervisor escolar preo- cupou-se com a melhoria do seu desempenho. A preocupação pela melhoria do processo ensino-apren- 20 ,li.',r rti()ln traduziu-se, via de regra, no esforço de 'rrr,rlrsirr algum aspecto desse processo (qualquer um ,1,:: lrlt€riormente apontados, com exceção do de- r.nrl)onho do professor), organizá,-lo, inová-lo, rea- lrrrrr,rrl,á-1o e entregá-lo ao professor para que o mes- rrí) o aplicasse. E nisso se constituía a assistência ,ro llrofessor. Mrris recentemente, a supervisão escolar ganhou unur nova dimensáo, mais dinâmica e com maior lrrrl,cncial de eficácia a longo ptazo: a melhoria do rl,scmpenho do professor, isto é, o desenvolvimen- lo de conhecimentos, habilidades e atitudes dos nrosmos em relaçáo ao processo ensino-aprendiza- 1ilrn.Os aspectos de materiais de instrução, métodos, l(()nicas, etc., passam a ser meios ou aspectos desse r lcsenvolvimento. Essa linha de ação condiz com as colocações fei- l:rs com relação ao papel do professor na escola o a necessidade de assisti-lo para que melhor de- scmpenhe esse papel. Ela direciona a supervisão cscolar para assumir funções relativas ao treinamen- l,o de professores, nas mais variadas formas; à observaçáo e leedback ao seu desempenho; à reali- 'r,açáo de entrevistas de ajuda, tanto individualmente como em grupos; à tealização de reuniões, etc. A eficácia da açáo do supervisor escolar torna-se pois diretamente ligada à sua habilidade em pro- mover mudanças de comportamento no professor (Koran, 1969), isto é, a aquisiÇáo de novas habili- dades ou reforço a outras já existentes; o desenvol- vimento de novas perspectivas, idéias, opiniões, ati- tudes, etc. Isto porque, ern última anáIise, o apri- 2t moramento do processo ensino-aprendizagem, pre- coniuado pela supervisáo escolar, não depende tanto do dÍretrizes preestabelecidas e de planos prontos, multas vezes pouco aceitos, ou aceitos passivamente pelo professor, mas das condições apresentadas por este profissional para implementá-los. É o poten- cial do professor canalizado para o processo ensino- aprendizagem que "faz diferença" nesse processo (Foster, 1.969), conforme já foi analisado. Uma das grandes dificuldades da educação reside no fato de que idéias de inovação propostas não se traduzem em açáo onde de fato ocorre â educação: na sala de aula. Às vezes, observa-se, a nível de pro- posições, até uma certa sofisticaçáo de idéias e métodos. Porém, a nível de sala de aula, encontra-se, muito comumente, o professor atuando orientado por sua intuiçáo ou, quem sabe, até por sua exas- peraçáo face a sua perspectiva de desesperança diante das dificuldades que enfrenta. Somente se poderá afirmar que a educação melho- rou a partir do momento em que houve melhora na sala de aula, isto é, na maneira como se desen- volve o processo ensino-aprendizagem. O desempenho do professor em termos de seus conhecimentos, ati- tudes e habilidades com relaçáo ao processo ensino- aprendizagem são o cerne da melhoria da qualidade da educaçáo e, conforme afirma Cogan (1973), muito mais do que a melhoria de prédios, de materiais de ensino, de métodos e de programas. A falta de uma assistência ao professor quanto a seu desempenho em sal,a de aula é considerado por Cogan (1973) como uma das importantes causas 22 ,r, , nrl):rrirÇo do processo educativo. Porl,anl,o, pare- ( utciirl que o supervisor escolar preste áro pr()- t r,:,{)r' uma assistência sistemática, no sentido de .r, llrorill, contínua do seu desempenho. .i O Papel do Orientador Educacional l\ orientaçáo educacional, assim como a super- vlsáo escolar, tem recebido enfoques variados. 3.1. Ori,entaçã,o Direta ao Aluno Tradicionalmente, o orientador educacional tem sido visto e tem-se visto como um profissional, r:ujo papel principal é atuar com os educandos. Assim é que a orientação educacional é definida como "um método pelo qual o orientador educacio. nal ajuda o aluno, na egcola, a tomar consciência de seus valores e dificuldades, concretizando, princi- palmente através do estudo, sua realizaçá,o em to- das as suas estruturas e em todos os planos de vida" (Schmidt e Pereira, 1969, p. 71). Em vista disso, o mesmo faz levantamento de dados (sondagem de aptidões), realiza sessões de orientação e de acon- selhamento e. desempenha uma série de funções de maior ou menor importância, relacionadas com a concepçáo do atendimento ao educando. Dentre todas essas atuações o aconselhamento tem sido considerado como a principal e mais im- portante (Smith, 1955; Arbuckle, 1972). No entanto, o2 a fundamentaçáo, habilidade e eficácia de tal papel na escola têm sido largamente questionadas recente- mente, face à dificuidade de o orientador educacional demonstrar, objetivamente, que, dedicando grande parte do seu tempo ao aconselhamento do educando, faz melhor uso do seu tempo e contriloui da melhor maneira possível para o atendimento da problemá- tica do educando (Koch, 1972). Senão, vejamos: 3.1.1. Os modelos e técnicas de aconselhamento utilizadas em orientaçáo educacional desenvolveram- se originariamente no âmbito da psicoterapia, e implicitamente assumem a noçáo de que o indivíduo e náo o ambiente do qual faz parte é que deve modi- ficar-se, pois é ele, indivíduo, e não o ambiente que está perturbado, doente ou com problemas (Kuriloff, 19?3). De fato, observa-se facilmente a transposiçáo de tal concepçáo em posições assumidas pelo orien- tador educacional na escola, posições essas que correspondem a expectativas de pessoas que par- ticipam do processo educativo. Por exemplo, o acon- selhamento é mais comumente utilizado em casos relacionados com indisciplina (Lück, 1979) e a, prá- tica freqüente é do aluno ser encaminhado à orien- taçáo educacional com a expectativa impiícita de que o mesmo seja modificado, corrigido. A supo- sição implícita é de que no aluno está a causa do problema. TaI procedimento não reconhece QUê, muitas vezes, comportamentos inadequados do edu- cando sáo causados, dentre outros, por disfunções ambienl;ais como, por exemplo, currículo e progra- mas inadequados às suas necessidades e condições 24 irrdividuais, regulamentos infiexíveis, ou insensibili. rlade de professores e adultos em geral à individua- liclade do educando. Além da parcialidade com que vê a situaçáo do rrluno, tal posição assumida incorre em erro por chocar-se com os princípios do próprio aconselha- rnento quanto à aceitação e compreensão do edu- r:ando. 3.1.2. Os modelos e técnicas de aconselhamento «lesenvolveram-se principalmente mediante sua apli- r:ação com clientes adultos e voluntários. A viabili- rlade de sua aplicação com outro tipo de poputação - na escola, a criança e o adolescente - geralmenteniro voluntários, necessita ser evidenciada empi- ricamente. No plano da argumentação Iógica, questionam-se: a) que o relacionamento naturalmente desigual cntre orientador educacional e aluno (adulto-crian. r;a, adolescente) deixe de influir no educando como Lal, mormente em nossa cultura em que o adulto r! naturalmente visto como autoridade pela criança, independentemente da posiçáo que ocupe em rela- «;áo a ela (Sheibe e Spaccaquerque, 1976); b) que o educando, na maioria das vezes um cli- cnte involuntário do aconselhamento, possa sentir liberdade de discutir qualquer assunto. Essa desi- llua1dade e a participação involuntária são alguns rlos aspectos que põem em dúvida a possibilidade rle se desenvolver na escola um ambiente condizente c necessário ao aconselhamento. 25 3.1.3. Os modelos e técnicas de aconselhamento desenvolveram-se principalmente em clínicas, in- dependentes de pressões organizacionais como as que ocorrem na escola, com relação a expectati- vas e quanto ao tempo gasto no trabalho com o educando e o resultado desse trabalho. Problemas podem ser esperados em função de sua transposi- çáo para a escola, tendo em vista que, inserido no contexto escolar, o orientador educacional se acha naturalmente associado às suas normas, regras e aos regulamentos, os quais nem sempre funcionam no sentido da promoçáo do desenvolvimento do educando; mais ainda, por sua posiçáo junto ao corpo técnico docente-administrativo da escola, é limitado e pressionado em certo grau por expecta- tivas, exigências (explícitas ou impiícitas) que ocor- rem. Questiona-se, pois, que o orientador educa- cional, dentro da escola, possa criar o preconizado clima propício ao aconselhamento, iivre de disposi- ções para moldar o aluno no sentido de confor- mar-se a determinados padrões de comportamentos. 3.1.4. O aconselhamento individual e mesmo em grupo, como forma principal de atuaçáo em orien' taçáo educacional, obriga a uma proporção reiativa- mente pequena de alunos por orientador educacio- nal. Idealmente esta proporçáo é de 450 alunos por orientador educacional nas escolas de ensino de Lç grau.Tal proporção, já considerada impraticável em países desenvolvidos como norma sistêmica, mais ainda o é entre nós, ainda mais considerando-se 26 r r r.r i('('rll,c necessidade de expansão das redes irrl'lr';lj tio ensino. Itunul cscola com número elevado de alunos em r,r(,lr(,r'(.:lro a orientadores educacionais, em que se .rrl,lcnl irs funções de aconselhamento como forma t,rrr{'rl)irI de atuaçáo, ocorre certamente o atendi- rr,nl() de uns poucos alunos, ficando a maioria rli lr,ri scrrl receber os benefícios da orientação edu- ,,r, rorull. Mais ainda, pressionados pelo tempo limi- l.rrlo. dada a sobrecarga Ce alunos, tenderá o orien- l,rrlol educacional a abreviar a duração e o número rl;r; sesSõês de aconselhamento com cada aluno e, ln;rrlvertidamente, o orientador poderá forçar um ,r lrrsl,amento prematuro e artificial. 3.2. Orientação como Prestaçã.o de S,eruiços () atendimento individual ao educando, que vem r';rracterizando a orientaçáo educacional, fundamen- l:t rje no pressuposto de que os educandos têm rrcr:essidades especiais e que os professores náo cst;ão preparados ou não têm condições para aten- rkl-las. Segundo esse enfoque o orientador educa- r:ional "presta serviços" na medida em que emergem :rs necessidades (Lück, 1978). Tal concepçáo de prestaçáo de serviços e atendi- rnento direto ao educando, de acordo com a emer- qência de necessidades psicoemocionais, parece ter :terado uma mudançà na abrangência e sentido do lrapel do p'rofessor em relaçáo ao aluno. Observa-se, l)or exemplo, que, quando o professor percebe que 27 a,lgum aluno seu tem dificuldades especiais, enca- minha-o para o orientador educacional a quem transfere a responsabilidade de resolvê-las. Ora, o professor é figura central na formação dos educan- dos. É ele quem forma no aluno o gosto ou des- gosto pela escola; a motivaçáo ou náo pelos estu- dos; o entendimento da significância ou insignifi- cância das áreas e objetos de estudo; a percepção de sua capacidade de aprender, de seu valor como pessoa, etc. Da qualidade do relacionamento inter- pessoal professor-a1uno, de responsabilidade do pri- meiro, depende, entre outras coisas, o ajustamento emocional do aluno na sala de aula e na escola. Por- tanto, náo se concebe a eficiência de uma ação para sanar dificuldades dos alunos em sala de aula sem a participação do professor. Em vista dos problemas expostos, preconiza-se que o orientador educacional assuma funções de assistência ao professor, aos pais, às pessoas da escola com as quais os educandos mantêm contactos significativos, no sentido de que estes se tornem mais preparados para entender e atender às neces- sidades dos educandos, tanto com relação aos aspec- tos cognitivos e psicomotores, como aos afetivos. 28 It