Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ISSN 1807-6017 Repositório autorizado/credenciado de jurisprudência SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (inscrição sob nº 036/05, em 20.10.2005). SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA nº 55 (Portaria nº 5, de 28.11.2013, da Exma. Sra. Ministra Diretora da Revista do STJ, publicada no Diário da Justiça eletrônico de 29.11.2013). TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO (Portaria COJUD nº 4, de 08.08.2005, do Exmo. Sr. Des. Fed. Diretor da Revista do TRF da 1ª Região, publicada no Diário da Justiça de 12.08.2005, Seção 2, p. 2). TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO nº 34 (Portaria nº 1, de 10.03.2008, do Exmo. Sr. Des. Fed. Diretor da Escola da Magistratura do TRF da 4ª Região, publicada no Diário Eletrônico nº 64, de 25.03.2008). TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO nº 13 (Despacho do Exmo. Sr. Des. Fed. Diretor da Revista do TRF da 5ª Região, publicado no Diário da Justiça de 05.09.2005, Seção 2, p. 612). Juris Plenum Doutrina - Jurisprudência Classificação Qualis Capes B1 JPMiolo.indb 1 16/06/2017 14:37:12 JPMiolo.indb 2 16/06/2017 14:37:12 Juris Plenum Ano XIII - número 76 - Julho de 2017 Editor Flávio Augustin Conselho Editorial Accácio Cambi Ada Pellegrini Grinover Álvaro Villaça Azevedo Eduardo Arruda Alvim Hugo de Brito Machado Humberto Theodoro Júnior Ives Gandra da Silva Martins J. Cretella Júnior (in memoriam) Jorge Miranda José Augusto Delgado José Carlos Barbosa Moreira José Renato Nalini Maria Berenice Dias Romeu Felipe Bacellar Filho Rui Stoco Sacha Calmon Navarro Coêlho Sérgio Augustin Teori Albino Zavascki (in memoriam) Teresa Arruda Alvim Editora Plenum Ltda. Av. Itália, 460 - 1º andar CEP 95010-040 - Caxias do Sul/RS plenum@plenum.com.br www.plenum.com.br JPMiolo.indb 3 16/06/2017 14:37:12 © JURIS PLENUM EDITORA PLENUM LTDA Caxias do Sul - RS - Brasil Publicação bimestral de doutrina e jurisprudência. Todos os direitos reservados à Editora Plenum Ltda. É vedada a reprodução parcial ou total sem citação da fonte. Os conceitos emitidos nos trabalhos assinados são de responsabilidade dos autores. E-mail para remessa de artigos: plenum@plenum.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Índice para o catálogo sistemático: 1. Direito 340 2. Ciências jurídicas 340 3. Direito Civil 347 Catalogação na fonte elaborada pelo Bibliotecário Marcos Leandro Freitas Hübner – CRB 10/1253 Editoração eletrônica: Editora Plenum Ltda. Tiragem: 5.000 exemplares Distribuída em todo território nacional Os acórdãos selecionados correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos tribunais Serviço de atendimento ao cliente: 54-3733-7447 J95 Juris Plenum / Editora Plenum . Ano XIII, n. 76 (jul./ago. 2017). - Caxias do Sul, RS: Editora Plenum, 2017. 192p. ; 23cm. Bimestral ISSN 1807-6017 1. Direito. 2. Ciências jurídicas. 3. Direito Civil. I. Editora Plenum. CDU: 340 JPMiolo.indb 4 16/06/2017 14:37:12 SUMÁRIO DESTAQUE: AS ASTREINTES E A INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA CUMPRIR OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER Editorial ..............................................................................................................................7 Doutrina Efetividade e unificação dos regimes jurídicos executivos pelo CPC/2015 como funda- mento para superação (overruling) da Súmula 410 do STJ: o fim da jurisprudência lotérica e a consagração da instabilidade, integridade e coerência dos julgados RAFAEL CASELLI PEREIRA .......................................................................................9 ASSUNTOS DIVERSOS DOUTRINA O impacto das decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos no direito interno e o desenvolvimento da proteção dos direitos humanos dos migrantes, apátridas e refugiados no Brasil ANA PAULA MARTINS AMARAL, JOÃO PAULO CALVES .......................................35 A (in)aplicabilidade da indenização por danos morais pelo atraso na entrega do imóvel BRUNA LYRA DUQUE, PRISCILLA YLRE PEREIRA DA SILVA ...............................51 Compreensão crítica da mediação no processo judicial EDUARDO CAMBI, ANA PAULA MEDA ....................................................................61 O detetive particular e a investigação criminal: algumas questões pontuais EDUARDO LUIZ SANTOS CABETTE .......................................................................75 As disposições dos crimes contra as relações de consumo no Código de Defesa do Consumidor EMERSON PENHA MALHEIRO ................................................................................87 A justificação prévia nas tutelas de urgência: em busca do sentido do art. 300, § 2º, do novo CPC FELIPPE BORRING ROCHA, LUÍSA TOSTES ESCOCARD DE OLIVEIRA ..........103 JPMiolo.indb 5 16/06/2017 14:37:12 Responsabilidade civil dos provedores de internet e a proteção da imagem LEONARDO ESTEVAM DE ASSIS ZANINI ............................................................. 117 O Mandado de Segurança contra decisões jurisdicionais: evolução e o novo Código de Processo Civil brasileiro MARCELLUS POLASTRI LIMA, MARIAH OLIVEIRA SANTOS DE QUEIRÓZ ......139 OPINIÃO LEGAL Emenda a projeto de lei no Senado que cria reserva de mercado e fere o princípio da livre concorrência esculpido no artigo 170, inciso IV, da Lei Suprema IVES GANDRA DA SILVA MARTINS .......................................................................159 ACÓRDÃOS STF - Ag. Reg. no Recurso Extraordinário nº 908.337/SC ............................................167 STJ - Recurso Especial nº 1.635.771/DF ......................................................................171 TRF1 - Apelação/Reexame Necessário nº 0018397-48.2014.4.01.3300/BA ................176 TRF4 - Apelação Cível nº 5000622-16.2013.4.04.7008/PR ..........................................179 TRF5 - Apelação nº 0804444-62.2015.4.05.8400 .........................................................186 NORMAS PARA ENVIO DE ARTIGOS DOUTRINÁRIOS ...........................................191 JPMiolo.indb 6 16/06/2017 14:37:12 DESTAQUE AS ASTREINTES E A INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA CUMPRIR OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER Um aspecto em relação às astreintes está em discussão no STJ: se existe a necessidade de intimar pessoalmente a parte ou o seu procurador para cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer. Trata-se dos Embargos de Divergência em Recurso Especial nºs 1.360.577 e 1.371.209. No caso concreto destes embargos de divergência, a discussão centra-se na necessidade, ou não, de intimação pessoal da parte para disparar a incidência da multa. O relator dos EREsp 1.360.577, ministro Humberto Martins, deu provimento aos embargos de divergência sob o fundamento que o AREsp citado como paradigma é no sentido da desnecessidade da intimação pessoal para cobrança de multa por inadimple- mento de obrigação de fazer. A orientação da 2ª Seção é no sentido da imprescindibilidade da intimação prévia da parte devedora de obrigação de fazer para que possa haver cobrança de multa diária, levando em conta que o enunciado 410 da Súmula do STJ não foi cancelado ou revisto, estando firme a orientação nele contida: “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a co- brança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.” O ministro Luis Felipe Salomão em seu voto-vista divergiu do relator, ministro Humberto Martins, consignando que as multas resultam em condenações de valores as- tronômicos, visto que o devedor desconhece sobre o cumprimento da obrigação de fazer. “A orientação proposta pelo ministro Humberto choca frontalmente com a orientação da 2ª Seção. É hora de se colocar a questão em seu devido lugar.” O tema em destaque desta edição da Revista Juris Plenum debate esta questão, trazendo artigo do Dr. Rafael Caselli Pereira que aborda, minuciosamente, esta temática. Boa leitura a todos. JPMiolo.indb 7 16/06/2017 14:37:12 JPMiolo.indb 8 16/06/2017 14:37:12 EFETIVIDADE E UNIFICAÇÃO DOSREGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 COMO FUNDAMENTO PARA SUPERAÇÃO (OVERRULING) DA SÚMULA 410 DO STJ: O FIM DA JURISPRUDÊNCIA LOTÉRICA E A CONSAGRAÇÃO DA INSTABILIDADE, INTEGRIDADE E COERÊNCIA DOS JULGADOS* EFFECTIVENESS AND UNIFICATION OF THE LEGAL SYSTEMS BY 2015 CIVIL PROCEDURE CODE AS THE FOUNDATION FOR OVERRULING OF PRECEDENT 410 FROM SUPERIOR COURT OF JUSTICE: THE CONSECRATION OF THE INSTABILITY, INTEGRITY AND CONSISTENCY OF THE JUDGEMENTS RAFAEL CASELLI PEREIRA Advogado/RS. Mestre pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS. Membro da ABDPro - Associação Brasileira de Direito Processual. Membro do IBDP - Instituto Brasileiro de Direito Processual Civil. Membro do CEAPRO - Centro de Estudos Avançados de Processo. Pós-Graduado e Membro Honorário da ABDPC - Academia Brasileira de Direito Processual Civil. E-mail: rafaeladv2011@gmail.com. SUMÁRIO: Introdução - 1. A necessidade de intimação pessoal da parte na vigência do CPC/73 e a construção jurisprudencial que resultou na edição da Súmula 410-STJ - 2. Uma análise sistematizada dos fundamentos do CPC/2015 para superação da Súmula 410-STJ: a possibilidade de intimação do advogado e o fim do caos jurisprudencial - Considerações finais - Referências. * Artigo de autor convidado. Data de recebimento do artigo: 12.06.2017. Data de aprovação pelo Conselho Editorial: 16.06.2017. DESTAQUE: AS ASTREINTES E A INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA CUMPRIR OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER - DOUTRINA JPMiolo.indb 9 16/06/2017 14:37:12 10 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque RESUMO: Na vigência do CPC/73, consolidou-se o entendimento de que a prévia intimação pessoal do devedor constitui conditio sine qua non para cobrança da multa judicial (astreinte) pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (Súmula 410-STJ). Com a unificação dos regimes jurídicos executivos, ilustrada pelo art. 513, § 2º, inciso I, do CPC/2015, aparentemente, superou-se tal enunciado. A Corte Especial do STJ está próxima de acabar com a jurisprudência lotérica, ratificando ou admitindo a superação (overruling) do entendimento firmado com a Súmula 410, por meio dos julgamentos dos recursos EREsp 1.360.577 e EResp 1.371.209. O presente artigo busca analisar os fun- damentos do código revogado que resultaram na elaboração do enunciado, bem como refletir sobre o espírito traçado pelo legislador do novo código, ao permitir a intimação do advogado para executividade da multa judicial (astreinte). PALAVRAS-CHAVE: astreinte; intimação; superação; súmula; novo Código de Processo Civil. ABSTRACT: During the 1973 Civil Procedure Code, it was consolidated the understanding that the debtor must be personally notified. It was conditio sine qua non for recovery of the penalty (astreinte) for breach of obligation to do or not do (Precedent 410 of Superior Court). With the unification of legal systems, illustrated by article 513, 2nd paragraph, item I, of 2015 Civil Procedure Code, apparently overruled such statement. The Superior Court of Justice will judge, ratifying or admitting the overruling of understanding signed with the precedent 410, through the trials of the EREsp 1.360.577 and EResp 1.371.209. This paper seeks to analyze the fundamentals of the previous code which result in the drafting of the Precedent, as well as reflects on the new code, which allows the notice of attorney to enforcement the astreinte. KEYWORDS: astreinte; notice; overrule; precedent; new Civil Procedure Code. INTRODUÇÃO Na época em que foi aprovada, a Súmula 410 do STJ levou em consideração a reiterada jurisprudência, ao longo dos anos de vigência do CPC/73, sobretudo, por influência do art. 632, o qual estabelecia que: “Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe assinar, se outro não estiver determinado no título executivo”. Se formos localizar o referido artigo no CPC/73, verifica-se que estava localizado no livro II, que trata do processo de execução, e não no cumprimento de sentença de obrigação de fazer ou não fazer; ou seja, referia-se às condições para executividade dos títulos extrajudiciais. A partir das reformas executivas iniciadas com a Lei nº 8.952/94 (inserção do ins- tituto da antecipação de tutela - art. 273 do CPC/73; ampliação das medidas executivas - dentre elas, a imposição de multa judicial -, no sentido de garantir a tutela específica ou JPMiolo.indb 10 16/06/2017 14:37:12 11EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 admitir a conversão no resultado prático equivalente - art. 461 do CPC/73, por exemplo), o Processo Civil vem avançando na busca de oferecer ao seu consumidor (cidadão) um processo qualificado, pela entrega da tutela jurisdicional adequada, tempestiva e, espe- cialmente, efetiva. Posteriormente, com a vigência da Lei nº 10.444/2002, incorporou-se o § 6º ao art. 461, admitindo-se a revisão do quantum alcançado pela multa, independente da forma como se daria a intimação da parte, seja ela pessoal, seja na figura do advogado. Além disso, alterou-se o art. 644 do CPC/73, no sentido de que a sentença relativa à obrigação de fazer ou não fazer seria cumprida, de acordo com o art. 461 do CPC/73. A Lei nº 11.232/2005, completando as inúmeras alterações anteriores, unificou o processo de conhecimento com o de execução, reforçando a ideia de não mais existirem dois processos autônomos, mas sim instaurando uma nova fase do procedimento comum, denominada cumprimento da sentença, a qual permaneceu separada da execução dos títulos extrajudiciais. A modificação pretendida pelo legislador, em 2005, foi a de fielmente observar os princípios da celeridade e da efetividade, sendo despicienda, a partir daquela nova fase processual, uma nova citação ou intimação “pessoal” do executado, haja vista que haveria tão somente uma continuidade da relação processual anterior (cognitiva). Se analisarmos a eficácia de toda ordem que determina um facere ou não facere, evidencia-se seu aspecto preponderantemente mandamental, seja a medida concedida em cognição sumária, seja em cognição definitiva ou exauriente. A preocupação com o direito fundamental à duração razoável do processo, leia-se efetividade do processo (art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/88 vigente pela Emenda Constitucional 45/2004), foi supervalorizada pela inserção do art. 4º do CPC/2015, o qual estabelece que as partes têm o direito de obter, em prazo razoável, a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Com a unificação dos regimes jurídicos executivos, ilustrada pelo art. 513, § 2º, inciso I, do CPC/2015, aparentemente, superou-se o enunciado da Súmula 410 do STJ, ao dispor que “o devedor será intimado para cumprir a sentença: (i) pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos [...]”. Antes mesmo da vigência do CPC/2015, inclusive, logo após a aprovação da Súmula 410, a jurisprudência do próprio STJ já era, e permanece, dividida. Enquanto as 1ª e 2ª Turmas entendem pela desnecessidade de intimação pessoal da parte, sob o fundamento de garantir a efetividade do processo, além de primar pela isonomia e uniformização dos procedimentos executivos, as 3ª e 4ª Turmas entendem pela necessidade de manter hígido o enunciado, sob o argumento de que o valor da multa judicial, frequentemente, alcança valores astronômicos, muitas vezes, sem que o próprio devedor da obrigação esteja ciente da decisão a ser cumprida. JPMiolo.indb 11 16/06/2017 14:37:12 12 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque De qualquer sorte, a Corte Especial do STJ está próxima de acabar com a juris- prudência lotérica, ratificando ou admitindo a superação (overruling) do entendimento firmado com a referida súmula, por meio dos julgamentos dos recursos EREsp 1.360.577 e EResp 1.371.209. Diante da possível alteração, questiona-se: seráprivilegiado o direito da parte em obter, em um prazo razoável, a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa, leia-se a efetividade da tutela jurisdicional, prevista no art. 4º do CPC/2015, aceitando a intimação da parte na figura de seu advogado constituído, hipótese esta admitida pelo inciso I do § 2º do art. 513 do CPC/2015, pela superação (overruling) da Súmula 410, ou o STJ vai manter a orientação sumulada à época do CPC/73, ratificando a necessidade de prévia intimação pessoal do devedor, como condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer? Por meio do presente artigo, portanto, propomos uma reflexão acerca das razões fundamentais que levaram à aprovação da Súmula 410 pelo STJ, no ano de 2009, e tam- bém sobre o espírito traçado pelo legislador, desde o início das reformas do CPC/73 até a vigência do CPC/2015, a fim de concluir pela manutenção ou superação do enunciado, visando à extinção da jurisprudência lotérica e à consagração da segurança jurídica, mediante a manutenção da jurisprudência estável, íntegra e coerente. 1. A NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE NA VIGÊNCIA DO CPC/73 E A CONSTRUÇÃO JURISPRUDENCIAL QUE RESULTOU NA EDIÇÃO DA SÚMULA 410-STJ A questão da validade ou não da intimação pessoal da parte ou na figura de seu advogado para cumprimento de preceito de obrigação de fazer ou de não fazer, sob pena de multa judicial (astreinte), consiste numa tormentosa e controversa questão, não paci- ficada pela doutrina e tampouco pela jurisprudência de nossos tribunais, inclusive, após a chegada do CPC/2015. Na vigência do CPC/73, firmou-se o entendimento - então vigente - segundo o qual a execução ensejava uma relação processual autônoma e distinta daquela efetivada na ação de conhecimento; i.e., a execução não poderia ser entendida como “mera fase processual subsequente à cognição”,1 adverte Dinamarco. Imperava na época a autonomia dos processos (conhecimento e execução), fazendo-se necessária nova2 citação do devedor para satisfazer a obrigação de fazer ou de não fazer (especialmente, se fosse fixada multa, em caso de descumprimento), dentro do prazo fixado pelo juiz (art. 632 do CPC/73). Tal dispositivo estava localizado no livro II, que trata do processo de execução, ou seja, referia-se às condições para executividade dos títulos extrajudiciais. 1 DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 365. 2 LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p. 05. JPMiolo.indb 12 16/06/2017 14:37:12 13EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 A partir das reformas iniciadas com a Lei nº 8.952/94 (efetivação das tutelas de urgência - arts. 273 e 461), o Processo Civil seguiu sofrendo alterações substanciais, tais como a alteração dos artigos 642 e 643 do CPC/73, determinando que, no caso de execução da sentença que condena em obrigação de fazer, se procederia da mesma forma que o art. 461 do CPC/73 (Lei nº 10.444/2002), além de avançar para concretização do direito fundamental à duração razoável do processo que, certamente, influenciou na aprovação da Lei nº 11.232/2005, cuja característica precípua foi a de integrar processo de cognição e de execução num só. A modificação pretendida pelo legislador, em 2005, foi a de fielmente observar os princípios da celeridade e da efetividade, abolindo a necessidade de instaurar-se novo pro- cesso formalmente diferenciado, após o julgamento da causa,3 sendo despicienda, a partir daquela nova fase processual, uma nova citação ou intimação “pessoal” do executado, haja vista que haveria tão somente uma continuidade da relação processual anterior (cognitiva). É evidente essa preocupação do legislador com a dificuldade prática operacional que envolvia o sistema adotado pelo CPC/1973, porque a sentença condenatória não se revestia preponderantemente da “eficácia executiva”, obrigando que o autor, desejando receber o bem da vida que lhe fora reconhecido, iniciasse um segundo processo: “era instaurada, pois, uma outra e sucessiva relação jurídica processual, decorrente de nova citação”,4 destaca Athos Gusmão Carneiro, um dos principais mentores do projeto que resultou na Lei nº 11.232/2005. Após muito debate doutrinário e jurisprudencial, pacificou-se5 a controvérsia acerca 3 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Cumprimento e execução de sentença: necessidade de esclarecimentos conceituais. Revista Jurídica, n. 346, ano 54, p. 11-25, ago. 2006. p. 11. 4 CARNEIRO, Athos Gusmão. Cumprimento da sentença civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 08. 5 Informativo nº 0429 do STJ. Tratou-se de REsp remetido pela Terceira Turma à Corte Especial, com a finalidade de obter interpretação definitiva a respeito do art. 475-J do CPC, na redação que lhe deu a Lei nº 11.232/2005, quanto à necessidade de intimação pessoal do devedor para o cumprimento de sentença referente à condenação certa ou já fixada em liquidação. Diante disso, a Corte Especial entendeu, por maioria, entre outras questões, que a referida intimação deve ser feita na pessoa do advogado, após o trânsito em julgado, eventual baixa dos autos ao juízo de origem, e a aposição do “cumpra-se”; pois só após se iniciaria o prazo de quinze dias para a imposição da multa em caso de não pagamento espontâneo, tal como previsto no referido dispositivo de lei. Como destacou o Min. João Otávio de Noronha em seu voto vista, a intimação do devedor mediante seu advogado é a solução que melhor atende ao objetivo da refor- ma processual, visto que não comporta falar em intimação pessoal do devedor, o que implicaria reeditar a citação do processo executivo anterior, justamente o que se tenta evitar com a modificação preconizada pela reforma. Aduziu que a dificuldade de localizar o devedor para aquela segunda citação após o término do processo de conhecimento era um dos grandes entraves do sistema anterior, por isso ela foi eliminada, conforme consta, inclusive, da exposição de motivos da reforma. Por sua vez, o Min. Fernando Gonçalves, ao acompanhar esse entendimento, anotou que, apesar de impor-se ônus ao advogado, ele pode res- guardar-se de eventuais acusações de responsabilidade pela incidência da multa ao utilizar o expediente da notificação do cliente acerca da necessidade de efetivar o pagamento, tal qual já se faz em casos de recolhimento de preparo. A hipótese era de execução de sentença proferida em ação civil pública na qual a ré foi condenada ao cumprimento de obrigação de fazer, ao final convertida em perdas e danos (art. 461, § 1º, do CPC), ingressando a ora recorrida com execução individual ao requerer o pagamento de quantia JPMiolo.indb 13 16/06/2017 14:37:13 14 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque da necessidade de intimação do devedor, na pessoa de seu advogado, para as execuções envolvendo o pagamento de quantia certa (art. 475-J, § 1º, do CPC/73). Ante a farta divergência doutrinária e jurisprudencial existente sobre a possibilidade de intimação do advogado ou necessidade de intimação pessoal da parte para condição de executividade da astreinte, foi aprovada a Súmula 410 pela Segunda Seção do STJ, em 25.11.2009. Naquela oportunidade, definiu-se que o termo inicial, para fins de executividade da multa, é a intimação pessoal do devedor para cumprir a ordem, ex vi da Súmula 410/ STJ: “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. É interessante referir os cinco recursos utilizados como base para edição da Sú- mula 410. No AgRg no Ag 1.046.050/RS,6 da 4ª Turma, de relatoria do Ministro Fernando Gonçalves, destacou-se que: “É necessária a intimação pessoal, relativamente à decisão cominatória, da parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer, mormente quan- do há fixação de astreintes”. A 3ª Turma manifestou-se por meio dequatro julgados. No segundo deles, o Ministro Sidnei Beneti, ao julgar o AgRg nos EDcl no REsp 1.067.903/ RS,7 concluiu que: “É necessária a intimação pessoal do devedor, quando aplicada multa diária pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”; no terceiro, a Ministra Nancy Andrighi, ao julgar o AgRg no REsp 993.209/SE,8 lecionou que: “A parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer deve ser pessoalmente intimada da decisão certa, razão pela qual o juízo determinou a intimação do advogado da executada para o pagamento do valor apresentado em planilha, sob pena de incidência da multa do art. 475-J do CPC. Precedentes citados: REsp 954.859-RS, DJ 27.08.2007; REsp 1.039.232-RS, DJe 22.04.2008; Ag 965.762-RJ, DJe 01.04.2008; Ag 993.387-DF, DJe 18.03.2008, e Ag 953.570-RJ, DJ 27.11.2007. REsp 940.274-MS, Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 07.04.2010. 6 AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ASTREINTES. INTIMAçÃO PESSOAL. NECES- SIDADE. 1. É necessária a intimação pessoal, relativamente à decisão cominatória, da parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer, mormente quando há fixação de astreintes. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1.046.050/RS, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, Quarta Turma, julgado em 06.11.2008, DJe 24.11.2008). 7 AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. EXECUçÃO DE ASTREINTES. INTIMAçÃO PESSOAL. NECESSIDADE. INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO. CUMPRIMENTO DA OBRIGAçÃO. ANTERIOR À IN- TIMAçÃO. DESCABIMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. I. É necessária a intimação pessoal do devedor quando aplicada multa diária pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. II. Cumprida a obrigação de fazer antes mesmo da intimação ser efetuada - é o que se extrai do acórdão recorrido (fl. 87) - não há como incidir honorários advocatícios. III. Os agravantes não trouxeram nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. IV. Agravo improvido. (AgRg nos EDcl no REsp 1.067.903/RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 21.10.2008, DJe 18.11.2008). 8 PROCESSO CIVIL. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. EXECUçÃO DE ASTREINTES. INSCRIçÃO DO NOME DO DEVEDOR EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. MULTA DIÁRIA. OBRIGAçÃO DE FAZER. INTIMAçÃO PESSOAL. NECESSIDADE. - A parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer deve ser pessoalmente intimada da decisão cominatória, especialmente quando há fixação de astreintes. Prece- dentes. Agravo no recurso especial improvido. (AgRg no REsp 993.209/SE, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 18.03.2008, REPDJe 12.05.2008, DJe 04.04.2008). JPMiolo.indb 14 16/06/2017 14:37:13 15EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 cominatória, especialmente quando há fixação de astreintes”; o Ministro Ari Pargendler, da 3ª Turma, ao julgar o REsp 629.346,9 concluiu que: “A intimação da parte obrigada por sentença judicial a fazer ou a não fazer deve ser pessoal, só sendo exigíveis as astreintes após o descumprimento da ordem”; e, por fim, o Ministro Humberto Gomes Barros também decidiu pela necessidade da intimação pessoal da parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer, ao julgar o AgRg no Ag 774.196/RJ.10 A súmula já possuía defensores do quilate de Guilherme Rizzo Amaral, reforçado pelos pensamentos de Ronaldo Brêtas Carvalho Dias, Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Luiz Fux que, em razão da gravidade das consequências decorrentes de deter- minadas decisões mandamentais, a intimação para dar início à contagem do prazo para cumprimento da decisão ou sentença, na qual se comina multa diária, deve ser na pessoa do destinatário da ordem judicial.11 “Em geral, para a prática de atos personalíssimos da parte, esta é a via adequada, dirigida, então, diretamente à parte, e não a seu advogado”,12 des- tacavam, antes da vigência do CPC/2015, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart. Sobre a controvérsia, Guilherme Rizzo Amaral entendia (antes da chegada do CPC/2015) que “a intimação, para dar início à contagem do prazo para cumprimento da decisão ou sentença, na qual se comina multa diária, deve ser na pessoa do destinatário da ordem judicial”. E, sobre as informações que devem constar no mandado, refere que é “inadmissível a intimação para o cumprimento, ‘sob pena de multa’, sem que conste o valor unitário da astreinte. Em hipóteses como essa, a multa não incidirá, sendo que a fixação a posteriori do valor unitário da multa, não retroagirá à data de descumprimento da intimação original. Também não incidirá a multa caso não conste do mandado de intimação o prazo concebido para o cumprimento da determinação judicial, salvo, é claro, nas hipóteses em que o cumprimento deva se dar instantaneamente”.13 9 PROCESSO CIVIL. ASTREINTES. NECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL. A intimação da parte obrigada por sentença judicial a fazer ou a não fazer deve ser pessoal, só sendo exigíveis as astreintes após o descumprimento da ordem. Recurso especial não conhecido. (REsp 629.346/DF, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, julgado em 28.11.2006, DJ 19.03.2007, p. 319). 10 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. DECISÃO COMINATÓRIA. OBRIGAçÃO DE FAZER. ASTREINTES. INTIMAçÃO PESSOAL. NECESSIDADE. FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. FALTA DE ATAQUE. SÚMULA 182. - Falta prequestionamento quando o dispositivo legal supostamente violado não foi discutido na formação do acórdão recorrido. - A parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer deve ser pessoalmente intimada da decisão cominatória, especialmente quando há fixação de astreintes. - É inviável o agravo do Art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada. (AgRg no Ag 774.196/RJ, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, julgado em 19.09.2006, DJ 09.10.2006, p. 294). 11 VILANOVA, André Bragança Brant. As astreintes: uma análise democrática de sua aplicação no processo civil brasileiro. Belo Horizonte: Arraes, 2012. p. 117. 12 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 132. 13 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do art. 461 do CPC e outras. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 145. JPMiolo.indb 15 16/06/2017 14:37:13 16 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque Antes mesmo da edição da Súmula 410, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça14 já vinha decidindo pela imprescindibilidade da intimação pessoal da parte dos termos da decisão mandamental, sobretudo, no caso em que são cominadas astreintes para o caso de descumprimento. O fundamento utilizado pelo Ministro Luis Fux, relator do REsp 692.386/PB,15 para exigência da intimação pessoal seriam as consequências cíveis e penais do descumprimento das decisões mandamentais. 14 PROCESSO CIVIL. ASTREINTES. NECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL. A intimação da parte obrigada por sentença judicial a fazer ou a não fazer deve ser pessoal, só sendo exigíveis as astreintes após o descumprimento da ordem. Recurso especial não conhecido. (REsp 629.346/DF, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, DJ 19.03.2007). PROCESSUAL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. EXECUçÃO. MULTA COMINATÓRIA. ASTREINTES. INTIMAçÃO PESSOAL. NECESSIDADE. IMPROVIMENTO. I. As astreintes somente têm lugar se a parte faltosa, após a sua intimação pessoal, deixa de observar a decisão judicial. II. Agravo improvido. Astreintes excluídas. (STJ, AgRg no Recurso Especial nº 1.035.766 - MS, Min. Rel. Aldir Passarinho, em 27.10.2009). 15 PROCESSUAL CIVIL. FGTS. EXECUçÃO DE SENTENçA POR OBRIGAçÃO DE FAZER. FGTS. ART. 461 DO CPC. DESNECESSIDADE DE CITAçÃO DO DEVEDOR. SENTENçA DE CARÁTER MANDAMENTAL.1. Os artigos 461 e 632 do CPC trouxeram à lume no ordenamento processual, de forma expressa, as sentenças autoexecutáveis e mandamentais nas condenações de fazer e não fazer, de sorte que não há necessidade de citação do executado na exigibilidade judicial dessas pretensões. 2. Isto por que é cediço na doutrina que: “[...] com o advento do art. 461 do CPC tornou-se inútil o procedimento traçado para essas obrigações (de fazer e de não fazer), uma vez que a condenação nessas prestações passou a ser considerada autoexecutável, quando oriundas de sentença, isto é, realizável na própria relação de cognição donde proveio o comando condenatório. Em consequência, de nenhuma valia o recurso ao processo executivo desconcentrado nas hipóteses em que a parte pode promover simpliciter et de plano a satisfação do julgado. Nesse sentido é que a reforma de 2002 fez inserir uma nova redação ao art. 644 ao dispor: ‘a sentença relativa a obrigação de fazer ou não fazer cumpre-se de acordo com o art. 461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste Capítulo’. (NR) Ressalta evidente que o procedimento nestas espécies de obrigações varia conforme o fazer comporte prestação fungível, isto é, realizável por terceiro que não o devedor, ou infungível, em que somente o executado pode cumpri-las, inadmitindo meios de sub-rogação. (Luiz Fux. In: Curso de direito processual civil. 2. ed. Editora Forense, p. 1373-1374. Grifos nossos). [...] Com o art. 461, não se exige mais a citação do executado na execução de sentença civil condenatória que imponha o cumprimento de obrigação de fazer e não fazer. Tal circunstância afasta a aplicação do art. 632, que faz referência expressa à citação, já que a execução se processa sem intervalo (fase executiva, sem a citação do executado e sem a possibilidade de oposição de embargos do executado). Não havendo nova citação, nesses casos, não se forma um processo de execução de título judicial fundado em sentença civil condenatória de obrigação de fazer e não fazer.” (Paulo Henrique dos Santos Lucon. In: Código de Processo Civil interpretado. 1. ed. Editora Atlas, p. 1870-1871. Grifos nossos). 3. In casu, a execução lato sensu se realiza sem intervalo, tendo em vista a força mandamental da sentença que condenou a CEF à obrigação de atualizar as contas vinculadas ao FGTS com os índices de correção monetária. 4. Nada obstante, o cumprimento da sentença pressupõe ordem para fazer, o que arrasta a necessidade de comunicação in faciem, insubstituível pela publicação no diário oficial. É que na forma dos artigos 234 e 238 do CPC, as intimações são pessoais quanto ao destinatário, podendo, à semelhança do art. 11 da lei do writ, operar-se pelo correio; tanto mais pela própria citação que consubstancia o contraditório, admite esta modalidade que a receptiva de vontade. 5. Deveras, as consequências cíveis e penais do descumprimento das decisões mandamentais exigem segurança na comunicação da mesma, tornando imperiosa a necessidade de intimação pessoal. 6. Recurso especial parcialmente provido para determinar a intimação pessoal da Caixa na forma análoga do art. 11 da Lei 1.533. (REsp 692.386/PB, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 11.10.2005, DJ 24.10.2005, p. 193) JPMiolo.indb 16 16/06/2017 14:37:13 17EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 A denominada “reforma executiva”, trazida pelas Leis nº 11.232/05 e nº 11.382/06, deu continuidade ao espírito norteador das primeiras grandes reformas processuais (primeira etapa - Leis nº 8.952/94 e nº 9.079/95; segunda etapa - Leis nº 10.352/01 e nº 10.358/01), no sentido de garantir, de forma mais breve e sem obstáculos processuais, o sincretismo16 prático e teórico do processo, sobrepondo-se ao princípio da autonomia e removendo situações que dificultavam a efetividade da justiça, por meio da entrega da tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva. Com o advento da Lei nº 8.952/94, resultou alterado, de forma substancial, o pro- cedimento executivo. Com a nova redação dada ao art. 461 do CPC, importada de modo quase literal do art. 84 do CDC, a sentença que, no processo de conhecimento impõe o cumprimento de dever de fazer ou não fazer, deixou de ter força meramente condenatória, passando a ser efetivada no próprio processo em que foi proferida. As mudanças trazidas pela Lei nº 11.232/05 tiveram como finalidade precípua unificar os processos de conhecimento e execução, tornando este último um mero desdobramento ou continuação do processo de cognição. Com a mudança imprecisa trazida pela reforma, dúvidas surgiram em relação ao prazo inicial para cumprimento da obrigação prevista no artigo 475-J do CPC. De forma concomitante, surgiu outro interessante debate, desta vez, quanto ao dies a quo para executividade das astreintes. A primeira corrente doutrinária e jurisprudencial capitaneada pela 3ª17 e 4ª18 Turmas do STJ defende, até os dias atuais, a validade da Súmula 410, editada no ano de 2009, pela necessidade de intimação pessoal da parte, não sendo válida a intimação na figura do advogado constituído, uma vez que tal intimação somente era prevista para atos de postulação, privativos de advogado e que independem da atuação pessoal e/ou específica da parte. Com a reforma advinda da Lei nº 11.232/05, buscou-se a efetividade da prestação jurisdicional, prevista no art. 5º, LXXVIII, da CF, ilustrada na realização do direito material, por meio da presunção de comunicação dos atos ocorridos no processo, inerente à relação advogado-cliente. Ora, se a jurisprudência consolidada admite a possibilidade do advogado 16 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sentença civil: liquidação e cumprimento. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 419. 17 AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ASTREINTES. NECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL PARA A COBRANçA DE ASTREINTES. OCORRÊNCIA, NO CASO. SÚMULA 410/STJ. IMPOS- SIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no REsp 1.403.309/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 03.03.2016, DJe 10.03.2016). 18 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONSONÂNCIA DO ACÓRDÃO RECORRIDO COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ, NECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA A COBRANçA DE ASTREINTES. SÚMULA 410/STJ. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO PRO- VIDO. 1. “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. Súmula 410/STJ. 2. A análise da pretensão recursal sobre a alegada inexistência de cumprimento espontâneo da obrigação de fazer pela agravada, demandaria a alteração das premissas fático probatórias do acórdão. Incidência da Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 414.127/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 23.02.2016, DJe 01.03.2016). JPMiolo.indb 17 16/06/2017 14:37:13 18 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque ser intimado, em nome da parte, para pagamento da condenação (art. 475-J do CPC), inexistem razões para não ser admitido que o advogado seja intimado, em nome da parte, para atendimento da obrigação de fazer e não fazer. Na vigência do CPC/73, Cândido Rangel Dinamarco ressaltava que “diante do total silêncio da lei, é imperioso que a intimação seja feita pessoalmente ao obrigado, não ao seu patrono, pois se trata de intimar a praticar atos que dependem da atuação pessoal da parte”.19 Athos Gusmão Carneiro, sabiamente demonstrava que o sistema processual antigo obrigava ao credor “bater duas vezes às portas da Justiça para cobrar um só e mesmo crédito”.20 Sobre o desejo do legislador em uniformizar as execuções judiciais, o processualista Fredie Didier Júnior ilustra que “tal como numa escalada, a positiva experiência inicial com o art. 84 do CDC [...], posteriormente expandidapara o art. 461 do CPC serviu de estímulo para o legislador processual adotar as execuções imediatas, em processos sincréticos para as obri- gações de entrega de coisa, daí derivando, em 2002, o art. 461-A. Por conta deste sucesso e visando uniformizar as execuções judiciais, estendendo o modelo sincrético também para o procedimento executivo para pagamento de quantia, o legislador criou a Lei nº 11.232/2005”.21 A necessidade de intimação pessoal da parte, e não de seu advogado (Súmula 410), predominava na jurisprudência no STJ até o julgamento dos embargos de divergência 857.758/RS, cuja finalidade, como se sabe, é uniformizar a jurisprudência do STF e STJ. No julgamento do EAg 857.758/RS,22 a Segunda Seção do STJ decidiu que, a partir 19 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil: execução forçada. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 525. 20 CARNEIRO, Athos Gusmão. Cumprimento da sentença civil. Rio de Janeiro, Forense, 2007. p. 21. 21 DIDIER JÚNIOR, Fredie. A terceira etapa da reforma processual civil. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 106. 22 PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACÓRDÃO QUE APRECIA O MÉRITO DO RECURSO ESPECIAL. SÚMULA 315/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. OBRIGAçÃO DE FAZER OU DE NÃO FAZER. ASTREINTES. EXECUçÃO. INTIMAçÃO DO DEVEDOR. NECESSIDADE. INTIMAçÃO POR INTERMÉDIO DO ADVOGADO. POSSIBILIDADE. 1. Os embargos de divergência em agravo de instrumento, apresentados contra acórdão que ingressa na apreciação do mérito do recurso especial, não encontram óbice na Súmula 315/STJ. Precedentes. 2. A intimação do devedor acerca da imposição da multa do art. 461, § 4º, do CPC, para o caso de descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, pode ser feita via advogado por que: (i) guarda consonância com o espírito condutor das reformas que vêm sendo impressas ao CPC, em especial a busca por uma prestação jurisdicional mais célere e menos burocrática, bem como a antecipação da satisfação do direito reconhecido judicialmente; (ii) em que pese o fato de receberem tratamento legal diferenciado, não há distinção ontológica entre o ato de fazer ou de pagar, sendo certo que, para este último, consoante entendimento da Corte Especial no julgamento do REsp 940.274/MS, admite-se a intimação, via advogado, acerca da multa do art. 475-J do CPC; (iii) eventual resistência ou impossibilidade do réu dar cumprimento específico à obrigação terá, como consequência final, a transformação da obrigação numa dívida pecuniária, sujeita, pois, à multa do art. 475-J do CPC que, como visto, pode ser comunicada ao devedor por intermédio de seu patrono; (iv) a exigência de intimação pessoal privilegia a execução inespecífica das obrigações, tratada como exceção pelo próprio art. 461 do CPC; (v) uniformiza os procedimentos, simplificando a ação e evitando o surgimento de verdadeiras “arapucas” processuais que confundem e dificultam a atuação em juízo, transformando-a em terreno incerto. 3. Assim, após a baixa dos autos à Comarca de origem e a aposição do “cumpra-se” pelo Juiz, o devedor poderá ser intimado na pessoa do seu advogado, por publicação na imprensa oficial, acerca JPMiolo.indb 18 16/06/2017 14:37:13 19EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 da vigência da Lei nº 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para que se inicie o prazo para o cumprimento da obrigação de fazer. Portanto, assim como as obrigações de pagar quantia certa, também as obrigações de fazer seriam au- tomaticamente eficazes, contando-se o prazo de que a parte dispõe para cumpri-las, a partir do trânsito em julgado da sentença em primeiro grau, ou da publicação do despacho de “cumpra-se”, na hipótese em que a sentença tenha sido impugnada mediante recurso. Na oportunidade do julgamento, a Ministra Nancy Andrighi elencou as razões para a mudança de entendimento, quais sejam: (i) guarda consonância com o espírito condutor das reformas que vêm sendo impressas ao CPC, em especial, a busca por uma prestação jurisdicional mais célere e menos burocrática, bem como a antecipação da satisfação do direito reconhecido judicialmente; (ii) em que pese o fato de receberem tratamento legal diferenciado, não há distinção ontológica entre o ato de fazer ou de pagar, sendo certo que, para este último, consoante entendimento da Corte Especial no julgamento do REsp 940.274/MS, admite-se a intimação, via advogado, acerca da multa do art. 475-J do CPC; (iii) eventual resistência ou impossibilidade do réu dar cumprimento específico à obrigação terá, como consequência final, a transformação da obrigação numa dívida pecuniária, sujeita, pois, à multa do art. 475-J do CPC que, como visto, pode ser comunicada ao devedor por intermédio de seu patrono; (iv) a exigência de intimação pessoal privilegia a execução inespecífica das obrigações, tratada como exceção pelo próprio art. 461 do CPC; (v) uniformiza os procedimentos, simplificando a ação e evitando o surgimento de verdadeiras “arapucas” processuais que confundem e dificultam a atuação em juízo, transformando-a em terreno incerto”. Os Ministros da 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes daqueles autos, prosseguindo o julgamento, após o voto-vista antecipado do Sr. Ministro Luis Felipe Salomão, acompanhando o voto da Srª Ministra Relatora e dando provimento aos embargos de divergência, por unanimidade, dar provimento aos embargos de divergência nos termos do voto da Srª Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Luis Felipe Salomão (4ª Turma), Raul Araújo (4ª Turma), Paulo de Tarso Sanseverino (3ª Turma), Maria Isabel Gallotti (4ª Turma), Vasco Della Giustina e Aldir Passarinho Júnior votaram com a Srª Ministra Relatora. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro João Otávio de Noronha. Ao proferir o voto-vista, o Ministro Luis Felipe Salomão, entendendo pela manuten- ção da Súmula 410 - STJ, referiu que: “Não vejo motivo, destarte, para qualquer modificação do dever de cumprir a obrigação, sob pena de multa. Não tendo o devedor recorrido da sentença ou se a execução for provisória, a intimação obviamente não será acerca do “cumpra-se”, mas, conforme o caso, acerca do trânsito em julgado da própria sentença ou da intenção do credor de executar provisoriamente o julgado. Em suma, o cômputo das astreintes terá início após: (i) a intimação do devedor, por intermédio do seu patrono, acerca do resultado final da ação ou acerca da execução provisória; e (ii) o decurso do prazo fixado para o cumprimento voluntário da obrigação. 4. Embargos de divergência providos. (EAg 857.758/ RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 23.02.2011, DJe 25.08.2011). JPMiolo.indb 19 16/06/2017 14:37:13 20 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque no entendimento consolidado do STJ, no sentido de que o cumprimento da obrigação não é ato cuja realização dependa de advogado, mas é ato da parte, conforme preceituado no enunciado da Súmula 410 desta Corte. [...] Destarte, a decisão impugnada, de minha lavra, proferida antes da edição da referida Súmula, confirmada pela E. 4ª Turma, merece ser adequada. Na verdade, no caso concreto, antes da intimação pessoal do devedor, ocorreu o adimplemento da obrigação, de maneira que não deve incidir a multa cominatória, objeto único da execução já iniciada”. No entanto, o próprio STJ elucidou o aparente conflito entre a Súmula 410 e o de- cidido no EAg 857.758, acima referido, ao julgar o REsp 1.121.457/PR,23 em 12.04.2012, sendo interessante transcrever alguns trechos relevantes do voto da Ministra Nancy Andrighi: “O início do prazo para cumprimento da obrigação de fazer. Duas orientações nesta Corte. Enunciado 410 da Súmula/STJ e EAg 857.758/RS. Exegese. Por ocasião do julgamento, perante a Segunda Seção desta Corte, dos Embargos de Divergência em Agravo nº 857.758/RS (de minha relatoria, DJe de 25.08.2011),ficou consolidado o entendimento de que, a exemplo do que ocorre com as obrigações de pagar quantia certa, também nas obrigações de fazer é possível cientificar a parte, para dar início ao cumprimento da obrigação, mediante a intimação de seu advogado, via imprensa oficial”. Com isso, a eficácia do Enunciado 410 da Súmula/STJ, determinando que “a prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”, acabou restrita às obrigações regidas pelo sistema anterior à reforma, promovida pelas Leis nº 11.232/2005 e nº 11.382/2006. […] A nova orientação desta Corte é válida apenas para as causas colhidas pelo novo sistema processual. […] Esse foi, inclusive, o motivo pelo qual o Enunciado nº 410, da Súmula/STJ, não foi cancelado, não obstante a modificação da orientação jurisprudencial da Corte”. Posteriormente, em sessão realizada em 07.08.2013, no julgamento do AgRg no EDivAgREsp 260.190/RS,24 a Corte Especial do STJ entendeu que “Nas obrigações de fazer 23 PROCESSO CIVIL. CONDENAçÃO A OBRIGAçÃO DE FAZER. “ASTREINTE”. DIES A QUO. ENUNCIADO 410 DA SÚMULA/STJ. APARENTE CONFLITO COM O PRECEDENTE FORMADO NO JULGAMENTO DO EAG 857.758/RS. HARMONIZAçÃO. DIREITO INTERTEMPORAL. 1. No julgamento do EAg 857.758/RS ficou estabelecido que, diante do panorama processual estabelecido a partir da Lei nº 11.232/2005, seria desnecessária a intimação pessoal da parte para que se iniciasse o prazo de que disporia para cumprir uma obrigação de fazer. A exemplo do que ocorre em obrigações de pagar quantia certa, também às obrigações de fazer seriam automaticamente eficazes, contando-se o prazo de que a parte dispõe para cumpri-las antes de incidente a multa diária a partir do trânsito em julgado da sentença, em primeiro grau, ou da publicação do despacho de “cumpra-se”, na hipótese em que a sentença tenha sido impugnada mediante recurso. 2. Para as obrigações anteriores ao novo regime processual, contudo, permanece a orientação estabeleci- da no Enunciado 410 da Súmula/STJ, ou seja: a intimação pessoal da parte é imprescindível para que se inicie a contagem do prazo de que dispõe para cumprir a obrigação de fazer ou de não fazer, sem incorrer em multa diária. 3. Na hipótese dos autos, a sentença transitou em julgado antes de promulgada a Lei nº 11.232/2005, de modo que a intimação pessoal da parte seria imprescindível. 4. Recurso especial conhecido e não provido. (STJ, Relator: Ministra Nancy Andrighi, Data de julgamento: 12.04.2012, T3 - Terceira Turma). 24 PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. ACÓRDÃO EM SINTONIA COM A ORIENTAçÃO DA JURISPRUDÊNCIA DA CORTE. SÚMULA 168/STJ. 1. Tendo em vista que se trata de duas petições de agravo regimental idênticas e em atendimento ao Princípio da Preclusão JPMiolo.indb 20 16/06/2017 14:37:13 21EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 anteriores à vigência da Lei 11.232/2005, a intimação pessoal da parte é imprescindível para o início da contagem do prazo de que ela dispõe para cumprir a obrigação de fazer ou de não fazer sem incorrer em multa diária”. Em certos casos, como no julgamento do AgRg no REsp nº 1.491.472/RJ,25 de relatoria do Ministro Humberto Martins da 2ª Turma, julgado em 25.11.2014, entendeu-se dispensável a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes. Por outro lado, na mesma data acima referida, 25.11.2014, a 3ª Turma do STJ, no julgamento do AgRg no Agravo de Recurso Especial nº 133.089/RS,26 de relatoria do Ministro João Otávio de Noronha, entendeu pela necessidade da intimação pessoal, para fins de validade da execução das astreintes. A dispersão excessiva da jurisprudência num mesmo momento histórico e a mudan- ça brusca de entendimentos jurisprudenciais que já estavam absolutamente pacificados chocam e comprometem profunda e irremediavelmente a segurança jurídica (uniformidade, Consumativa, apenas a primeira será analisada. 2. Para o conhecimento dos embargos de divergência, cumpre ao recorrente demonstrar que os arestos confrontados partiram de similar contexto fático para atribuir soluções jurídicas dissonantes. 3. O acórdão embargado aplicou o entendimento firmado no Enunciado de nº 410/STJ na hipótese em que a execução foi ajuizada antes da entrada em vigor da Lei 11.232/05. Já o acórdão paradigma afastou a citada súmula embasado no fundamento de que a eficácia desta ficou restrita às obrigações regidas pelo sistema anterior à reforma promovida pela lei em questão e a sentença que se busca cumprir data de 13.12.2007. 4. Nas obrigações de fazer anteriores à vigência da Lei 11.232/05, a intimação pessoal da parte é imprescindível para o início da contagem do prazo de que ela dispõe para cumprir a obrigação de fazer ou de não fazer sem incorrer em multa diária. Incidência da Súmula 168/ STJ. 5. Agravo regimental não provido. (AgRg nos EAREsp 260.190/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Corte Especial, julgado em 07.08.2013, DJe 19.08.2013) 25 PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. FORNECIMENTO DE ÁGUA. ALEGAçÃO GENÉRICA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO. CUMPRIMENTO DE SENTENçA. ASTREINTES. DESNECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO EXECUTADO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM JURIS- PRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83/STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONHECIDA. VALOR DAS ASTREINTES. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 1. Não cabe falar em ofensa aos arts. 156, 458, incisos II e III, e art. 535 do Código de Processo Civil quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão colocada nos autos. 2. A Corte de origem decidiu de acordo com a jurisprudência desta Corte, no sentido de inexigibilidade de intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes. Incidência da Súmula 83/STJ. 3. Impõe-se o não conhecimento do recurso especial por ausência de prequestionamento, entendido como o indispensável exame da questão pela decisão atacada, apto a viabilizar a pretensão recursal. Incidência da Súmula 211/STJ. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1.491.472/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 25.11.2014, DJe 05.12.2014). 26 AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. ASTREINTES. CUMPRIMENTO DA OBRIGAçÃO DE FAZER. INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVEDOR. NECESSIDADE. SÚMULA N. 410/STJ. APLICAçÃO. VIOLAçÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Para o cumprimento de decisão judicial, é necessária a intimação pessoal da parte devedora antes da incidência das astreintes. 2. Não viola o art. 535 do CPC o acórdão que, integrado pelo julgado proferido nos embar- gos de declaração, dirime, de forma expressa, congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 133.089/RS, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Turma, julgado em 25.11.2014, DJe 11.12.2014). JPMiolo.indb 21 16/06/2017 14:37:13 22 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque estabilidade, previsibilidade, isonomia) gerando indesejável mal-estar social. Isso sem falar no descrédito do próprio Poder Judiciário,27 ensina Teresa Arruda Alvim Wambier. Como visto, em relação à aplicabilidade da Súmula 410, a jurisprudência ainda nos dias atuais permanece instável, controvertida e incoerente, comprometendo a função uniformizadora e o papel constitucional do STJ de julgar casos iguais do mesmo modo. 2. UMA ANÁLISE SISTEMATIZADA DOS FUNDAMENTOS DO CPC/2015 PARA SUPERAÇÃO DA SÚMULA 410-STJ: A POSSIBILIDADE DE INTIMAÇÃO DO ADVOGADO E O FIM DO CAOS JURISPRUDENCIAL Ao conceituar a efetividade do processo, o ilustre professor Cândido Rangel Dinamarco define-a como “aptidão a eliminar insatisfações, com justiça e fazendo cumprir o direito, além de valer como meio de educação geralpara o exercício e respeito aos di- reitos e canal de participação dos indivíduos nos destinos da sociedade e assegurar-lhes a liberdade”.28 Mesmo após o julgamento dos EAg 857.75829 e com os esclarecimentos trazidos pelo julgamento do REsp 1.121.457/PR em 23.02.2011, a divergência do STJ ainda existe. A 1ª30 e 2ª31 Turmas do STJ adotaram o entendimento de que a intimação pessoal para 27 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, apresentação. 28 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 271. 29 Resgatando as notas taquigráficas degravadas, explicou a ministra Gallotti que naquela sessão de julga- mento a então relatora, ministra Nancy Andrighi, propôs a revisão da súmula pela aplicação analógica do regramento das obrigações de pagamento de quantia certa (art. 475-J do CPC/73). Ressaltou, então, que os integrantes da Seção se manifestaram contrariamente à revisão da súmula, considerando, em linhas gerais, o fato de o legislador ter atribuído regimes jurídicos diversos para as obrigações de pagamento e obrigações de fazer ou não fazer. BALZANO, Felice. Mais do mesmo: ainda a Súmula 410 do STJ. REPRO, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 42, n. 263, p. 397-426, jan. 2017. p. 407. 30 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAçÃO ESPECÍFICA DE FUNDA- MENTO ADOTADO PELA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENçA. OBRIGAçÃO DE FAZER. DESNECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA IMPLEMENTAçÃO DA MULTA COMINATÓRIA. PRECEDENTES. 1. Inviável a apreciação do agravo regimental que deixa de atacar especificamente fundamento da decisão agravada, incidindo a Súmula 182/STJ, quanto à falta de prequestionamento da questão concernente ao valor arbitrado a título de multa pela demora no cumprimento da obrigação. 2. “Segundo entendimento do STJ, após a vigência da Lei nº 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes”. (AgRg no REsp 1.441.939/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 19.05.2014). 3. Agravo regimental parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido. (AgRg no AREsp 725.992/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 27.10.2015, DJe 09.11.2015). 31 PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE ÁGUA. CUMPRIMENTO DE SENTENçA. DESNECESSI- DADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO EXECUTADO. REVISÃO DAS ASTREINTES. IMPOSSIBILIDADE NA ESPÉCIE. SÚMULA 7/STJ. 1. Segundo entendimento do STJ, após a vigência da Lei n. 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes. 2. A revisão da multa diária só é cabível quando fixada em montante exagerado ou irrisório, o que não ocorreu no caso em apreço, sendo imperiosa, nesse caso, a JPMiolo.indb 22 16/06/2017 14:37:13 23EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer poderá se dar na pessoa do advogado, desde que a obrigação seja anterior à vigência da Lei nº 11.232/2005. No julgamento do AgRg no REsp 1.542.044/RJ, pela 2ª Turma do STJ, o Ministro Mauro Campbell Marques, ao desprover o agravo regimental, expôs seu entendimento da questão, sintetizado na ementa de que: “Segundo entendimento do STJ, após a vigência da Lei nº 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para cumpri- mento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes”. Não é outro o entendimento da 1ª Turma do STJ, ilustrado pelo Ministro Sérgio Kukina, no julgamento do AgRg no REsp 1.548.553/RJ,32 realizado em 27.04.2016, ocasião em que concluiu que: “Segundo entendimento do STJ, após a vigência da Lei nº 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes”. Ilustramos a divergência também existente em nossos tribunais, em dois casos práticos em que se discute a validade da intimação pessoal para cumprimento da obriga- ção de fazer ou não fazer na pessoa do advogado. Os recursos especiais 70062789938 (despacho pelo TJRS, em 10.02.2015, e autuado como REsp nº 1.517.588/RS, distribuído para o Ministro Raul Araújo da 4ª Turma do STJ - improvido de forma monocrática em 11.04.2017) e 70065821787 (despacho de 28.09.2015 pelo TJRS e autuado como REsp nº 1.564.107/RS, distribuído e já provido, de forma monocrática, pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino da 4ª Turma do STJ, em 16.11.2015) foram admitidos pela 3ª Vice- -Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, pelo fato de que: “O Órgão Julgador, ao solver a lide, afirmou inexistir título executivo hábil a amparar a pretensão do recorrente, pois ‘no caso, não houve intimação pessoal da financeira acerca da decisão, onde fixada multa diária para o caso de descumprimento da determinação de vedação e abstenção da inscrição do financiado em rol de inadimplentes’, consignou, assim, o entendimento no sentido da ‘necessidade de intimação pessoal do devedor para cumprimento da ordem judicial, conforme Súmula 410/STJ’ (fl. 1.255v). aplicação da Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1.542.044/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 03.09.2015, DJe 17.09.2015). 32 RECURSO FUNDADO NO CPC/73. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE IMPUG- NAçÃO ESPECÍFICA DE FUNDAMENTO ADOTADO PELA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENçA. OBRIGAçÃO DE FAZER. DESNECESSIDADE DE INTIMA- çÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA IMPLEMENTAçÃO DA MULTA COMINATÓRIA. PRECEDENTES. 1. Inviável a apreciação do agravo regimental que deixa de atacar especificamente fundamento da decisão agravada, incidindo a Súmula 182/STJ, quanto à falta de prequestionamento da questão concernente ao valor arbitrado a título de multa pela demora no cumprimento da obrigação. 2. “Segundo entendimento do STJ, após a vigência da Lei nº 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes”. (AgRg no REsp 1.441.939/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 19.05.2014). 3. Agravo regimental parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido. (AgRg no REsp 1.548.553/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 19.04.2016, DJe 27.04.2016). JPMiolo.indb 23 16/06/2017 14:37:13 24 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque O recorrente, por sua vez, alegou que a intimação judicial da parte acerca da imposição de uma obrigação de fazer, mediante a fixação de astreintes, não necessita obrigatoriamente ser pessoal, podendo ser feita na figura de seu procurador, por meio da imprensa oficial, tal como ocorreu no caso em tela (fls. 1.276-1.286). E o referido enten- dimento, como bem se observa, encontra guarida na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, tendo sido referidos os julgados: EAg 857.758/RS, Segunda Seção, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 25.08.2011; AgRg no Ag 1.408.000/RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Pri- meira Turma, DJe 11.02.2015; e AgRg no REsp 1.502.270/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 24.05.2015. Assim, uma vez caracterizado o dissídio interpretativo alegado pelo recorrente, viável se mostra a submissão da inconformidade à Corte Superior. “[...] Ante o exposto, ADMITO o Recurso Especial. Oportunamente, remetam-se os autos ao Superior Tribunal de Justiça. Intimem-se. Des. Francisco José Moesch, 3º Vice-Presidente”. Esta interpretação divergente do STJ gera a tão criticada insegurança jurídica do sistema processual brasileiro. Dessa forma, nada impede que o colegiado, ao revolver a matéria, firme um novo posicionamento díspar daqueles atéentão existentes no âmbito daquela Corte. O que realmente importa é a pacificação definitiva da questão. Comunga- mos do entendimento de que, ante as inúmeras reformas processuais para alcance da tão almejada efetividade da jurisdição junto ao processo executivo, inclusive pelas mudanças relacionadas ao tema pelo CPC/2015, ilustrados pelas decisões das 1ª e 2ª Turmas do STJ, sejam consolidadas por meio da elaboração de uma nova súmula, contendo os esclarecimentos necessários para afastar a divergência jurisprudencial existente não só no STJ, como em todos os Tribunais de Justiça da Federação.33 A título de sugestão, a 33 Admitindo a possibilidade de intimação do advogado: APELAçÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. EXECUçÃO DE SENTENçA. ASTREINTES. IMPUGNAçÃO. INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVE- DOR. DESNECESSIDADE. HARMONIZAçÃO PRODUZIDA ENTRE O ENUNCIADO 410 DA SÚMULA DO STJ E OS JULGADOS NO EAG Nº 857.758 E RESP Nº 1.121.457. 1. Nas decisões que fixam astreintes e transitadas em julgado após a vigência da Lei nº 11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal da parte para que se inicie o prazo de que dispõe para cumprir uma decisão de obrigação de fazer, antes de incidente a multa diária fixada. 2. Para as obrigações anteriores a vigência da Lei nº 11.232/2005, contudo, deve prevalecer a orientação estabelecida no Enunciado 410 da Súmula do STJ, qual seja, a necessidade de intimação pessoal da parte. 3. Novo entendimento do STJ, consolidado nos julgamentos dos EAg 857.758 e REsp 1.121.457 que passo a adotar, modificando anterior posicionamento. 4. Na hipótese dos autos, a decisão que fixou as astreintes transitou em julgado após a vigência da Lei nº 11.232/2005, de modo que basta a intimação da parte por meio do seu advogado constituído nos autos. Recurso provido. (Apelação Cível nº 70063388268, 17ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 26.03.2015); AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENçA. IMPUGNAçÃO. OBRIGAçÃO DE FAZER. EXECUçÃO DE ASTREINTES. DESNECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA O ADIMPLEMENTO DA OBRIGAçÃO. RELATIVIZAçÃO DA SÚMULA 410 DO PELO PRÓPRIO STJ EM HIPÓTESES POSTERIORES À LEI N. 11.232/05. NECESSIDADE DE IMPRIMIR CELERIDADE AOS FEITOS COMO ATENDIMENTO À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA RAZOÁVEL DURAçÃO DO PRO- CESSO. REGULARIDADE DA INTIMAçÃO DA PARTE POR MEIO DE ADVOGADO COM CAPACIDADE POSTULATÓRIA. PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. “Conforme assentado pela 2ª Seção deste STJ, diante do panorama processual estabelecido a partir da Lei 11.232/2005, a intimação da parte devedora para cumprimento de obrigação de fazer, sob pena de multa diária, pode ser realizada na pessoa do seu advogado, via imprensa oficial” (AgRg no AREsp 102.561/RS, Terceira Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, JPMiolo.indb 24 16/06/2017 14:37:13 25EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 referida súmula poderia ser elaborada da seguinte maneira: “Nas obrigações de fazer ou não fazer posteriores à vigência da Lei nº 11.232/2005, é válida a intimação pessoal do advogado, para o início da contagem do prazo para cumprimento da obrigação, sob pena de incidência da multa previamente fixada”. Pois bem, no espírito da sugestão acima exposta e tendo como origem o recurso nº 70065821787, interposto perante o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em 28.09.2015, autuado junto ao STJ como REsp 1.564.107,34 resultou provido, de j. em 26.06.2012). (TJSC, Agravo de Instrumento n. 2014.022865-6, de Criciúma, rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 08.10.2015). Admitindo a necessidade de intimação da parte em consonância com a Súmula 410 do STJ: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENçA. MULTA POR DESCUMPRIMENTO. MANUTENçÃO. NECESSIDADE DE INTIMAçÃO DO AGRAVANTE SOBRE A INCIDÊNCIA DA MULTA. Como se sabe, a multa em apreço é prevista no artigo 461, § 4º e § 5º, do Código de Processo Civil e consiste em providência destinada a compelir o devedor a cumprir a obrigação reconhecida em Juízo. A multa possui caráter coercitivo, com a finalidade de alcançar o bem da vida já reconhecido pelo Judiciário. Logo, muito embora o prazo inicialmente fixado em sentença não tenha sido cumprido pelo agravante, a natureza jurídica do instituto é incompatível com a sua aplicação retroativa, pois assim serviria apenas como punição, o que é vedado pelo ordenamento. Conforme a Súmula 410 do Superior Tribunal de Justiça, as astreintes somente são exigíveis a partir da intimação pessoal do executa- do. Deram parcial provimento ao recurso. Unânime. (Agravo de Instrumento nº 70064618655, 6ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho Braga, julgado em 24.09.2015); AGRAVO DE INSTRUMENTO. AçÃO CIVIL PÚBLICA. ASTREINTES. TERMO INICIAL DA INCIDÊNCIA. MOMENTO DA INTIMAçÃO PARA CUMPRIR A OBRIGAçÃO. DESPROVIMENTO DO AGRAVO. - “Tratando-se de astreintes fixadas em obrigação de fazer, sua incidência tem início com a intimação pessoal do devedor para cumprimento da obrigação, conforme preceituado na Súmula 410 do Superior Tribunal de Justiça, que dispõe”. (TJPB - Acórdão/Decisão do Processo nº 20113515420148150000, 1ª Câmara Especializada Cível, Relator Des. Leandro dos Santos, j. em 14.07.2015) (TJ-PB - AI 2011351-54.2014.815.0000, Relator Des. Leandro dos Santos, data de julgamento: 14.07.2015, 1 Cível). 34 RECURSO ESPECIAL Nº 1.564.107/RS (2015/0273511-4) DECISÃO [...]. Segundo entendimento pacificado desta Corte, não há necessidade de intimação pessoal do executado para cumprimento de sentença de obrigação de fazer, a fim de viabilizar a cominação da pena de multa diária, bastando a intimação do advogado via imprensa oficial. A propósito: “ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUçÃO. EXIGIBILIDADE DAS ASTREINTES. CUMPRIMENTO DE SENTENçA. DESNECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO EXECUTADO. AGRAVO REGIMEN- TAL DO ESTADO DO AMAZONAS DESPROVIDO. 1. É desnecessária a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes (AgRg no REsp 1.441.939/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 19.05.2014). 2. Agravo Regimental do Estado do Amazonas desprovido”. (AgRg no REsp 1.463.935/AM, Primeira Turma, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 07.04.2015). [...] Esclareço que a eficácia do Enunciado 410 da Súmula/STJ, que determinava que “a prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”, acabou restrita às obrigações regidas pelo sistema anterior à reforma promovida pelas Leis nº 11.232/2005 e nº 11.382/2006. A propósito: “PRO- CESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE ÁGUA. CUMPRIMENTO DE SENTENçA. DESNECESSIDADE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO EXECUTADO. REVISÃO DAS ASTREINTES. IMPOSSIBILIDADE NA ESPÉCIE. SÚMULA 7/STJ. 1. Segundo entendimento do STJ, após a vigência da Lei n.11.232/2005, é desnecessária a intimação pessoal do executado para cumprimento da obrigação de fazer imposta em sentença, para fins de aplicação das astreintes. 2. A revisão da multa diária só é cabível quando fixada em montante exagerado ou irrisório, o que não ocorreu no caso em apreço, sendo imperiosa, nesse caso, a aplicação da Súmula 7/ STJ. 3. Agravo regimental não provido”. (AgRg no REsp 1.542.044/RJ, Segunda Turma, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 17.09.2015). Desta forma, o entendimento do Tribunal de origem encontra-se em JPMiolo.indb 25 16/06/2017 14:37:13 26 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque forma monocrática, pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, na data de 11.11.2015, tendo aceitado a validade da intimação pessoal na pessoa do advogado e esclarecendo que “a eficácia do Enunciado 410, da Súmula/STJ, que determinava que ‘a prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança demulta pelo descum- primento de obrigação de fazer ou não fazer’, acabou restrita às obrigações regidas pelo sistema anterior à reforma promovida pelas Leis nº 11.232/2005 e nº 11.382/2006. [...] Desta forma, o entendimento do Tribunal de origem encontra-se em desconformidade com a jurisprudência desta Corte Superior. Ante o exposto, com fundamento no art. 557, § 1º-A, do CPC c/c art. 1º, I, a, da Res. STJ nº 17/2013, dou provimento ao Recurso Especial para restabelecer a multa diária, tendo em vista a desnecessidade de intimação pessoal”. De tal decisão a instituição financeira interpôs Agravo Regimental, o qual foi distribuído ao Ministro Luis Felipe Salomão, que, em flagrante exemplo de insegurança jurídica reconsiderou a decisão proferida pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino que havia provido o recurso especial, sob o fundamento de que a Súmula 410 do STJ estaria vigente, mesmo após a chegada da Lei 11.232/2005 e após a vigência do CPC/2015. Deparamo-nos com a aplicação da Súmula nº 410/STJ, tanto às controvérsias anteriores como posteriores35 à edição da Lei nº 11.232/2005, fator que fragiliza a segu- rança jurídica. Sobre a necessidade de que a interpretação dos dispositivos alterados seja pensada no mesmo espírito da reforma processual, José Miguel Garcia Medina leciona que isso “exige do processualista um novo modo de pensar, distinto daquele apegado a premissas dogmáticas antigas, que influenciavam o sistema jurídico de outrora. Por isso, não é possível analisar um problema novo, valendo-se de uma metodologia antiga, assim como não se desconformidade com a jurisprudência desta Corte Superior. Ante o exposto, com fundamento no art. 557, § 1º-A, do CPC c/c art.1º, I, a, da Res. STJ nº 17/2013, dou provimento ao recurso especial para restabelecer a multa diária, tendo em vista a desnecessidade de intimação pessoal. P. e I. Brasília (DF), 11 de novembro de 2015. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino Ministro Designado (Portaria n. 435/STJ de 20.08.2014). 35 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ASTREINTES. REVISÃO DO VALOR. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE VIOLAçÃO A COISA JULGADA. INTIMAçÃO PESSOAL. NECESSIDADE. SÚMULA 410/STJ. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. 1 - A jurisprudência desta Corte orienta que “o legislador concedeu ao juiz a prerrogativa de impor multa diária ao réu com vista a assegurar o adimplemento da obrigação de fazer (art. 461, caput, do CPC), bem como permitiu que o magistrado afaste ou altere, de ofício ou a requerimento da parte, o seu valor quando se tornar insuficiente ou excessiva, mesmo depois de transitada em julgado a sentença, não se observando a preclusão ou a coisa julgada, de modo a preservar a essência do instituto e a própria lógica da efetividade processual (art. 461, § 6º, do CPC)”. (AgRg no AREsp 195.303/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 28.05.2013, DJe 12.06.2013). 2 - A Segunda Seção desta Corte, no julgamento do REsp 1.349.790/RJ, da Relatoria da Ministra Maria Isabel Gallotti, confirmou o entendimento da Súmula 410 desta Corte, consignado que “a intimação do conteúdo da sentença, em nome do advogado, para o cumprimento da obrigação de pagar, realizada na forma do art. 475-J do CPC, não é suficiente para o início da fluência da multa cominatória voltada ao cumprimento da obrigação de fazer”. 3 - O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar o decidido, que se mantém por seus próprios fundamentos. 4 - Agravo Regimental improvido. (AgRg nos EDcl no REsp 1.459.296/SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 19.08.2014, DJe 01.09.2014). JPMiolo.indb 26 16/06/2017 14:37:13 27EFETIVIDADE E UNIFICAçÃO DOS REGIMES JURÍDICOS EXECUTIVOS PELO CPC/2015 podem empregar os antigos conceitos jurídicos para explicar os novos fenômenos”.36 E, após a vigência do CPC/2015, complementa, lecionando que “a intimação para cumprimento de sentença, na sistemática do CPC/2015, realiza-se na pessoa do advogado do devedor, como regra (cf. art. 513, § 2º, I - CPC/2015). Essa regra deve ser observada, qualquer que seja a modalidade de cumprimento de sentença (isso é, para cumprimento de dever de pagar quantia e também do dever de fazer, não fazer ou entregar coisa), restando sem aplicação, à luz da nova lei processual, o disposto na Súmula 410 do STJ”.37 Ao analisarmos a jurisprudência atual do STJ, verificamos uma divisão de entendi- mentos. Conforme anteriormente referido, tanto a 3ª quanto a 4ª Turma do STJ, entendem pela necessidade da intimação pessoal da parte para que se dê o início da contagem da multa. No julgamento do AgRg no REsp 1.565.710/SE,38 já na vigência do CPC/2015, rea- lizado na data de 22.06.2016, pela 3ª Turma do STJ, referiu o Ministro Moura Ribeiro que: “Nos termos da orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, sedimentada na Súmula nº 410, a prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. A 4ª Turma do STJ também entende pela obrigatoriedade da intimação pessoal do executado, para fins de executividade das astreintes, o que podemos ilustrar pelo julgamento do AgRg no Recurso Especial nº 1.259.764/MG,39 de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 05.06.2014, e no AgInt no AgRg no REsp nº 1.523.884/SP,40 36 MEDINA, José Miguel Garcia. Execução civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 25. 37 Idem. Novo Código de Processo Civil comentado: com remissões e notas comparativas ao CPC/1973. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 858. 38 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ASTREINTES. NECESSIDA- DE DE INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVEDOR. SÚMULA Nº 410 DO STJ. PRECEDENTES. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Inaplicabilidade do NCPC neste julgamento ante os termos do Enunciado Administrativo nº 2 aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 09.03.2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/73 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as inter- pretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. 2. Nos termos da orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, sedimentada na Súmula nº 410, a prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1.565.710/SE, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 16.06.2016, DJe 22.06.2016). 39 AGRAVO REGIMENTAL. OBRIGAçÃO DE FAZER. MULTA COMINATÓRIA. INTIMAçÃO PESSOAL. NECESSIDADE. MERA REPETIçÃO DOS ARGUMENTOS DO RECURSO ESPECIAL NAS RAZÕES RECURSAIS DO AGRAVO REGIMENTAL. 1. A parte a quem se destina a ordem de fazer ou não fazer deve ser pessoalmente intimada da decisão cominatória, especialmente quando há fixação de astreintes. Precedentes. 2. Ao repisar os fundamentos do recurso especial, a parte agravante não trouxe, nas razões do agravo regimental, argumentos aptos a modificar a decisão agravada, que deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1.259.764/MG, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 05.06.2014, DJe 13.06.2014). 40 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXCE- çÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ASTREINTES. TERMO INICIAL. INTIMAçÃO PESSOAL DO DEVEDOR. NECESSIDADE. SÚMULA 410/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Tratando-se de astreintes fixadas em obrigação de fazer, sua incidência tem início com a intimação pessoal do devedor para cumprimento da JPMiolo.indb 27 16/06/2017 14:37:13 28 JURIS PLENUM - Ano XIII - número 76 - julho de 2017 - Destaque julgado após a vigência do CPC/2015, tendo o Ministro Raul Araújo entendido, na data de 01.07.2016, que: “Tratando-se de astreintes fixadas em obrigação
Compartilhar