Buscar

cinomose canina

Prévia do material em texto

1 
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO 
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
 
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO 
 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" EM CLÍNICA MEDICA E CIRURGICA DE 
PEQUENOS ANIMAIS 
 
 
 
 
 
CINOMOSE CANINA – REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
 
 
 
 
Brunno Medeiros dos Santos 
 
 
 
Goiânia, agosto de 2006 
BRUNNO MEDEIROS DOS SANTOS 
 
Aluno do Curso de Especialização “Lato sensu” em 
Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais 
 2 
 
 
 
CINOMOSE CANINA – REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Goiânia, agosto de 2006 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÂO ............. .................................................................................. 1 
2. REVISÂO DE LITERATURA ......................................................................... 2 
2.1. ETIOLOGIA ................................................................................................ 2 
2.2. EPIDEMIOLOGIA ....................................................................................... 3 
Trabalho monográfico do curso de pós-graduação 
"Lato Sensu" em Clínica Médica e Cirurgica de 
Pequenos Animais apresentado à UCB como 
requisito parcial para a obtenção de 
título de Especialista em Clínica Médica e 
Cirúrgica de Pequenos animais, sob a orientação do 
Prof. Adilson Donizeti Damasceno. 
 
 3 
2.3. PATOGENIA ............................................................................................... 4 
2.4. SINAIS CLÍNICOS ...................................................................................... 5 
2.5. DIAGNÓSTICO ........................................................................................... 6 
2.6. TRATAMENTO ........................................................................................... 8 
2.7. PROFILAXIA .............................................................................................. 9 
3. CONCLUSÂO .............................................................................................. 10 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A cinomose foi verificada na Europa na segunda metade do século XVIII, proveniente da Ásia. 
Sua natureza contagiosa foi conhecida meados do século XIX, porém foi Caré (1905) quem considerou-a 
como enfermidade causada por vírus, no entanto seus estudos não foram aceitos de imediato pela 
comunidade científica da época, pois se atribuía grande valor ao papel patogênico da Bordetella 
bronchiseptica. Somente após os trabalhos de Laidlaw e Dunkin (1926), a doença foi aceita como sendo 
de etiologia viral. 
Durante a primeira metade do século XX a cinomose foi uma enfermidade fatal nos cães e 
comum em todo mundo. As vacinas de vírus inativados produzidas na década de 40 não controlaram a 
doença. Uma queda drástica foi observada nos anos subseqüentes com o aparecimento das vacinas de 
vírus vivo modificado, mas nos últimos anos a incidência parece ter aumentado devido a falhas na 
vacinação e/ou imunização insuficiente (APPEL e SUMMERS, 1999) 
 4 
A cinomose canina é uma moléstia febril altamente contagiosa de cães e outros carnívoros, 
sendo considerada a doença viral mais prevalente nos cães e a causa mais comum de convulsões em 
cães com menos de 6 meses de idade (ETTINGER e FELDMAN, 1997). 
As enfermidades inflamatórias e infecciosas do sistema nervoso central (SNC) representam um 
importante grupo de doenças nos cães. Sinais clínicos graves, muitas vezes incompatíveis com a vida do 
animal, podem ser determinados por diferentes etiologias. O vírus da cinomose canina é um importante 
patógeno que determina altas taxas de mortalidade, com letalidade inferior apenas à raiva canina 
(SHELL, 1990; TIPOLD, 1995; APPEL e SUMMERS, 1995; STETTLER e ZUBRIGGEN, 1995).
 5 
2. REVISÃO DE LITERATURA 
 
2.1. ETIOLOGIA 
 
O vírus da cinomose canina (Canine Distemper Vírus – CDV) pertence à família 
Paramyxoviridae e ao gênero Morbillivirus (VAN REGENMORTEL et al., 2000). O CDV é um vírus 
envelopado, pleomórfico, relativamente grande, variando de 150 a 250 nm (PRINGLE, 1999). O genoma 
viral consiste de uma fita de RNA de polaridade negativa, não segmentada, com 16000 a 20000 pares de 
bases de extensão (DIALLO, 1990). 
Quanto às suas características físico-químicas sabe-se que o envelope do virion não possui 
hemoaglutininas e neuraminidase, é sensível ao éter e aos solventes lipídicos, instável a pH menores 
que 4,5, inativado pelo calor em 1 hora a 55 ºC e em 30 minutos a 60 ºC, permanecem viáveis a 
temperatura de 20 ºC por 1 hora, nos exudatos por 20 minutos, por várias semanas entre 0 - 4 ºC e a 
- 76 ºC ou liofilizado por 7 anos ou mais (GORHAM, 1960; APPEL e GILLESPIE, 1972). 
Segundo Greene (1984) é inativado com formol a 0,5% em 4 horas, com fenol a 0,75% em 10 
minutos e com desinfetantes a base de amônia quaternária a 0,3% em 10 minutos, e embora seja 
susceptível à radiação ultravioleta, as lâmpadas germicidas têm pouca valia no controle da cinomose em 
hospitais veterinários e canis. 
 6 
2.2. EPIDEMIOLOGIA 
 
A enfermidade tem distribuição mundial e é endêmica. Já foi descrita nos animais das famílias: 
Canidae – cão doméstico, raposa, dingo, coiote, lobo e chacal; Mustelidae – furão, vison, doninha, marta, 
cangambá, texugo e lontra; Procyonidae – guaxinim, panda, jupará e quati; possivelmente Felidae 
exóticos, mas não os gatos domésticos (BIRCHARD e SHERDING, 2003). 
Não há predileção sazonal, por sexo ou raça, a incidência é mais alta entre os 60 e 90 dias de 
idade, período em que diminui a taxa de anticorpos maternos, no entanto cães até os 2 anos de idade 
são comumente afetados, e em função da não vacinação, falhas imunológicas ou ausência de contato 
com o vírus. Cães a partir dos 7-9 anos também desenvolvem a doença (CORREA e CORREA, 1992). 
A transmissão ocorre principalmente por aerossóis e gotículas infectantes provenientes de 
secreções e excreções oculares, respiratórias, digestivas e urinárias (ETTINGER e FELDMAN, 1997). A 
transmissão transplacentária constitui uma fonte rara de cinomose nos cãezinhos jovens (BIRCHARD e 
SHERDING, 2003). 
O vírus é eliminado por até 60-90 dias após a infecção, mas principalmente na fase aguda, 1-2 
semanas, sendo as fontes de infecção mais comuns o ar, fomitos, água e alimentos contaminados 
(CORREA e CORREA, 1992). As maiores oportunidades de disseminação ocorrem em ambientes onde 
os cães são mantidos em grupos, como lojas de animais, abrigos, canis, clínicas veterinárias e colônias 
de pesquisas (BIRCHARD e SHERDING, 2003). 
 
 7 
2.3. PATOGENIA 
 
A via de ingresso mais comum é a respiratória, entretanto o vírus pode ingressar pela via 
digestiva ou conjuntival por contato direto (CORRÊA e CORREA, 1992). No 1º dia as células afetadas 
são os macrófagos do trato respiratório alto e das amídalas, no 2º e 3º dias o vírus faz viremia e é 
encontrado nas células mononucleares do sangue, do 3º ao 6º dia o vírus se replica no sistema linfóide 
de todo o organismo, como medula óssea, timo, baço, linfonodos e placas de Peyer, quando ocorre o 
primeiro pico febril (BRAUND, 1980). 
Esta fase de replicação no sistema linfóide é marcada pela imunossupressão (KRAKOWKA et 
al., 1987). Nesta fase, cães capazes de montar uma resposta imune rápida e efetiva conseguem eliminar 
o vírus e se recuperar completamente, com ausência ou com sinais clínicos discretos (infecção 
subclínica – 50% casos) e aqueles que montam uma resposta falha ou intermediária permitem a 
disseminaçãodo vírus para os tecidos epiteliais (trato respiratório e gastrintestinal) e posteriormente para 
o SNC (BIRCHARD e SHERDING, 2003). 
Quando há disseminação para os epitélios, após o 9º dia, o vírus é encontrado nos epitélios 
das mucosas conjuntival, nasal, traqueal, bronquial, glândulas mucosas, trato urinário e reprodutor, e 
num período de mais 3 dias ou mais tardiamente, o vírus também alcança o SNC, se distribuindo nas 
grandes células mononucleares da pia-meninge, células gliais, de Purkinje, do cerebelo, nos neurônios 
do córtex cerebral, gânglio basal e hipocampo (GILLESPIE e KARZON, 1981; KOVACS, 1975; 
KRISTENSEN e VANDEVELVE, 1978). 
Aparentemente, as estirpes virais que induzem doença de curso agudo fatal localizam-se na 
substância cinzenta e determinam destruição neuronal, resultando em encefalomalácia (WILD et al., 
1995), e os que induzem doença crônica ocasionam lesões que tendem a se localizar na substância 
branca, promovendo a desmielinização (APPEL e SUMMERS, 1999). 
Estudos sobre a patogenia da infecção pelo CDV no SNC consideram dois estágios de 
desenvolvimento da desmielinização, um agudo e outro crônico, a desmielinização inicial ocorre em 
torno da 3ª semana pós-infecção e não tem a participação de resposta imune inflamatória, presente no 
estágio crônico da infecção (VANDEVELVE e ZURBRIGGEN, 1995). 
A Encefalite do Cão Velho (ODE), a Encefalomielite Multifocal dos Cães Adultos (MDEMD), a 
Encefalomielite dos Cães Jovens (CDEID), a Encefalomielite Crônica Recidivante e a Encefalite Pós-
vacinal são síndromes clínicas associadas a infecção pelo CDV. 
A CDEID é a forma mais comum da infecção pelo CDV, geralmente é precedida ou 
concomitante a sintomatologia sistêmica (BRAUND, 2001). A Encefalite Pós-vacinal ocorre em cães 
jovens está associada ao uso de vacinas de vírus vivo (CORNWELL et al., 1998; HARTLEY, 1974). 
 8 
2.4. SINAIS CLÍNICOS 
 
A manifestação clínica da infecção depende do título, da estirpe viral infectante, da idade e 
perfil imunológico do animal (APPEL, 1969). Sinais epiteliais da doença são freqüentes e geralmente 
precedem ou ocorrem simultaneamente aos sinais neurológicos (TIPOLD et al., 1992; KOUTINAS et al., 
2002; OKITA et al., 1997), sendo que estes últimos podem ocorrer sem sinais sistêmicos associados 
(BAUMGARTNER et al., 1989). 
Os principais sinais epiteliais são: descarga naso-ocular serosa a mucopurulenta 
(ceratoconjuntivite e rinite), tosse, dispnéia e estertores pulmonares (pneumonia inicialmente intersticial - 
efeito viral e posteriormente broncopneumonia - infecção bacteriana secundária), vômito, diarréia, lesões 
oftálmicas e cegueira (BIRCHARD e SHERDING, 2003). 
A forma de coxins plantares fibrosados - hiperceratose - costuma ser progressiva, comumente 
só é notada de 3 a 6 meses após a infecção aguda, podendo surgir até anos após a fase clínica, também 
é comum a depilação ao redor dos olhos com formação de crostas, dando o aspecto de óculos 
(CORREA e CORREA, 1992). Podem ocorrer exantemas cutâneos, que progridem até a formação de 
pústulas, especialmente no abdômen (ETTINGER e FELDMAM, 1997). 
AMUDE et al. (2006), em estudo de 3 casos de encefalomielite pelo CDV sem sinais 
sistêmicos, correlacionou a sintomatologia com a síndrome neurológica. Um cão manifestou Síndrome 
Cerebral, com alterações de comportamento (agressividade), nível de consciência alerta com conteúdo 
inapropriado, andar compulsivo e em círculos, compressão da cabeça e hipercinesia, os outros dois 
apresentaram Síndrome Vestibular e Cerebelar, com ataxia, dismetria, hipermetria, tremor de intenção, 
nistagmo posicional vertical, mioclonia em membros posteriores e músculos mastigatórios e tetraparesia. 
A mioclonia, caracterizada por movimentos espasmódicos rítmicos e repetitivos espontâneos, 
já foi considerada patognomônica de infecção pelo CDV, no entanto já é relatada em outras desordens 
inflamatórias do SNC, embora bem menos freqüente (KOUTINAS et al., 2002). 
Se a fêmea estiver grávida pode haver infecção transplacentária e neonatal. Na infecção 
transplacentária os cãezinhos desenvolvem sinais neurológicos durante as 4-6 primeiras semanas de 
vida e dependendo do estágio da gestação em que se der a infecção, podem ocorrer abortos, natimortos 
ou neonatos vivos fracos (KRAKOWKA et al., 1977). 
Na infecção neonatal pode ocorrer hipoplasia do esmalte dentário, devido a ação direta do 
vírus sobre as células da membrana ameloblástica (DUBIELZIG et al., 1981), lesões cardíacas - 
representadas por degenerações das células do miocárdio com necroses e calcificações multifocais 
(HIGGINS et al., 1981), lesões do nervo óptico, que pode resultar em pupilas dilatadas e não 
responsivas a estímulos luminosos, na retina aparecem lesões crônicas, circunscritas, hipereflexivas e 
atróficas na região fúndica retiniana chamadas de medalhões dourados (FISHER e JONES, 1972). 
 9 
2.5. DIAGNÓSTICO 
 
O diagnóstico da cinomose geralmente baseia-se nos sinais clínicos típicos em um cão jovem 
(2-6 meses) que tenha uma história de vacinações inadequadas e possibilidades de exposição ao vírus 
(BIRCHARD e SHERDING, 2003). 
O diagnóstico clínico de cinomose em cães sem sinais sistêmicos precedentes ou 
concomitantes é difícil (VANDEVELVE e CACHIN, 1993). No entanto essa manifestação clínica não é 
tão freqüente (TIPOLD et al., 1992). Em estudos clínicos, 80 a 100% dos animais com encefalomielite 
acometidos pela cinomose apresentam vários sinais extra-neurais, mas quando esses não ocorrem, o 
apoio laboratorial é necessário para confirmar a doença (KOUTINAS et al., 2002; OKITA et al., 1997). 
Dentre os principais achados de hemograma temos a neutropenia, caracterizada pela redução 
absoluta do número de neutrófilos segmentados, que pode ser explicada por três mecanismos 
fisiopatogênicos, tais como a diminuição de produção pela medula óssea, a destruição e o aumento da 
demanda tecidual (LATIMER, 2003). 
O CDV tem tropismo por células linfóides e pode ocasionar linfopenia transitória que coincide 
com o primeiro pico virêmico e febril, sendo que esse evento ocorre usualmente antes da manifestação 
neurológica (GREENE e APPEL, 1998). Após esse período o número de linfócitos retorna aos valores 
normais. 
A anemia já foi citada como uma alteração relacionada ao CDV, assim como a 
imunossupressão e a encefalite (HIGGINS et al., 1981). No entanto parece não haver fundamentação 
biológica entre a infecção pelo CDV e a anemia, uma vez que o vírus não tem tropismo por eritrócitos ou 
por seus precursores nucleados intramedulares (GREENE e APPEL, 1998). 
As inclusões descritas por Lentz em 1907 e Sinigaglia em 1912, denominadas Inclusões de 
Lentz ou de Sinigaglia-Lentz, histoquimicamente são compostas por agregados de nucleocapsídeos e 
debris celulares resultantes da ação virica (HUNT et al., 1963). São coradas por corantes de base 
Romanowsky e não apresentam a mesma freqüência nos diversos tecidos, como bexiga, brônquios, 
parênquima pulmonar, terceira pálpebra, hipocampo, fígado, cerebelo, córtex cerebral e medula oblonga 
(CORREA e CORREA, 1992). Seu número é pequeno em linfócitos e menor ainda em neutrófilos e 
hemácias (GOSSET et al., 1982). 
Segundo Greene (1984), é necessária precaução para confirmar absolutamente o diagnóstico 
de cinomose baseado somente na presença de inclusões, infortunadamente as inclusões além de 
inespecíficas também aparecem tardiamente para serem usadas rotineiramente. 
No líquido encefaloraquidiano (LCR) na maioria das vezes encontra-se aumento de proteínas e 
pleocitose com predomínio de linfócitos, que são achados não específicos mas que sugerem etiologia 
viral, como o CDV (AMUDE et al., 2006a; CHRISMAN, 1992; SARMENTO, 2000). 
O diagnóstico ante-mortemfinal de cinomose é baseado na demonstração de antígenos virais 
em esfregaço de fluidos corpóreos, como os esfregaços conjuntival, vaginal, lavado traqueal e sedimento 
urinário (TIPOLD et al., 1992). Com esse propósito a imunofluorescência direta tem sido rotineiramente e 
amplamente utilizada, mas na forma subaguda ou crônica da doença este teste pode originar resultados 
 10 
falso negativos (JOéWIK e FRYMUS, 2005). 
A avaliação sorológica não tem sido útil no diagnóstico de cinomose, uma vez que altos títulos 
de anticorpos anti-CDV podem ser resultado de vacinação prévia, assim como infecção clínica ou 
subclínica anteriores e os baixos títulos podem ser decorrentes às propriedades imunossupressoras do 
CDV. 
Os métodos disponíveis para o diagnóstico ante-mortem da cinomose são de valor limitado e, 
na maioria dos casos, o diagnóstico definitivo só é possível post-mortem (BAUMGARTNER, 1993). 
Atualmente a técnica da reação em cadeia pela polimerase precedida de transcrição reversa 
(RT-PCR) vem sendo empregada com sucesso na detecção do CDV em diferentes tipos de amostras 
biológicas provenientes de cães com sinais clínicos sistêmicos e neurológicos (FRISK et al., 1999; 
SAHIN et al., 1995; SAITO, 2001; GEBARA, 2002). 
Recentemente, observou-se que a urina é uma amostra biológica sensível para a detecção 
ante-mortem do CDV por RT-PCR em cães com encefalomielite pela cinomose, nos quais o diagnóstico 
clínico não foi possível de ser idealmente realizado, neste estudo em 4 dos 5 cães o vírus pode ser 
detectado na urina por RT-PCR (AMUDE et al., 2006). 
No exame histológico do SNC a presença de vacúolos multifocais – desmielinização, infiltrados 
mononucleares perivasculares e em meninges e reação glial, são sugestivos de encefalomielite por 
cinomose (VANDEVELVE e ZURBRIGGEN, 1995; GEBARA et al, 2004). 
Nos órgãos do encéfalo, principalmente no cerebelo, ponte e véu bulbar que recobre o 4º 
ventrículo, podem se observar manguitos linfóides perivasculares e, no cérebro, edema perivascular e 
congestão, estas lesões, vistas em pequeno aumento, oferecem o aspecto de esponja (CORREA e 
CORREA, 1992). 
Diversas etiologias (degenerativas, inflamatórias, imunomediadas, neoplásicas, metabólicas, 
tóxicas e infecciosas) são potencialmente capazes de causar disfunções neurológicas em cães 
(BRAUND, 1994). 
Deve-se levar em conta para fins de diagnóstico diferencial a parainfluenza, broncopneumonia 
verminótica, estrongiloidose, dipilidiose, toxoplasmose, neosporose, isosporose e intoxicações (CORREA 
e CORREA, 1992). 
 
 11 
2.6. TRATAMENTO 
 
Não há medicamentos anti-virais ou agentes quimioterápicos de valor prático para o tratamento 
específico da cinomose em cães, antibióticos de amplo espectro são indicados para o controle das 
infecções bacterianas secundárias, líquidos, eletrólitos, vitaminas do complexo B e complementos 
nutricionais são indicados para terapia auxiliar (ETTINGER e FELDMAN, 1997). 
Bons cuidados de enfermagem são importantes, olhos e nariz mantidos limpos de descargas, 
suporte nutricional, consumo de fluidos adequados ou fluidoterapia (BIRCHARD e SHERDING, 2003). 
 
 12 
2.7. PROFILAXIA 
 
As vacinas de vírus vivo modificado induzem imunidade efetiva contra cinomose, no entanto, 
há de se considerar a interferência da imunidade derivada da mãe, a idade na qual os filhotes tornam-se 
susceptíveis a cinomose é proporcional ao título de anticorpos maternos, cerca de 50% já são passíveis 
de vacinação às 6 semanas de idade (CORREA e CORREA, 1992). Devem ser revacinados a cada 3 
semanas até completarem 14 semanas de idade, este é um dos esquemas mais utilizados, é pratico e 
resulta na imunização de 95% ou de mais dos cãezinhos (ETTINGER e FELDMAN, 1997). 
 
 13 
3.0. CONCLUSÃO 
 
A manifestação multisistêmica, a dificuldade em se estabelecer um diagnóstico clínico preciso, 
o alto custo e valor limitado dos exames laboratoriais disponíveis e a desatualização de muitos 
profissionais da área podem estar contribuindo para que a cinomose canina esteja sendo 
hiperdiagnosticada em muitos estabelecimentos veterinários de todo país. 
Nesse sentido, ressalta-se a importância de pesquisas que abordem o tema, não só no que se 
refere a utilização de métodos diagnósticos mais precisos e acessíveis mas também no desenvolvimento 
de protocolos de tratamento mais eficientes, que venham bloquear a ação do vírus e restaurar a 
qualidade de vida do paciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 14 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
CARRE, H. On the disease of young dogs. Comp. Rev. Acad. Sci. 140 : 689-690, 1905. 
LAIDLAW, P. P.; DUNKIN, F. W. Studies in dog, distemper III. The nature of the virus. J. Comp. 
Pathol. Ter. 39 : 222-230, 1926. 
APPEL, M. J. G.; SUMMERS, B. A. Canine Distemper: Current Status. In: Carmichael L. (Ed.), 
Recent Advances in Canine Infectious Diseases. Ithaca: International Veterinary Information 
Service (www.ivis.org), 1999. 
ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 4 ed. São Paulo: 
Manole, 1997. 
SHELL, L. G. Canine distemper. Comp. Small Animal, v. 12, p. 173 -179, 1990. 
TIPOLD, A. Diagnosis of inflamatory and infectious diseases of the central nervous system in dogs: 
a retrospective study. J. Vet. Int. Med., v. 9, p. 304-314, 1995. 
APPEL, M. J.; SUMMERS, B. A. Pathogenicity of morbilliviruses for terrestrial carnivors. Vet. 
Microbiol. v. 44, p. 187-191, 1995. 
STETTLER, M.; ZUBRIGGEN, A. Nucleotide and deduced aminoacis sequences of the 
nucleocapsid protein of the virulent A75/17- CDV strain of canine distemper virus. Vet. Microbiol., 
v. 44, p. 211-217, 1995. 
VAN REGENMORTEL, M. H. V. et al. Virus taxonomy: the classification and nomenclature of 
viruses. Report of the International Committee on Taxonomy of Viruses, 7. San Diego: 
Academic, 2000. 1167 p. 
PRINGLE, C. R. Virus Taxonomy – 1999. The Universal System of virus taxonomy, updated to 
include the new proposal ratified by the International Committee on Taxonomy of Viruses 1998 
(Suplem. 2). Archives of Virology, v. 144, n. 2, p. 421-429, 1999. 
DIALLO, A. Morbillivirus group: genome organization and proteins. Veterinary Microbiology, v. 
23, p. 155-163, 1990. 
GORHAM, J. R. Canine Distemper, Ad. In Vet. Sci .: 287-351, Academic Press, 1960. 
APPEL, M. J.; GILLESPIE, J. H. Canine Distemper virus in Virology Monographs II : 1-96 – 
Springer – Verlog, New York, 1972. 
GREENE, G. E. Canine Distemper : 386-405 in Clinical Microbiology and Infections Diseases 
on the Dog and Cat. 967 pp. W. B. Saunders Company, 1984. 
BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Manual Saunders, Clinica de pequenos animais. 2. ed. 
São Paulo: Rocca, 2003. 
 15 
CORREA, W. M.; CORREA, C. M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. 2. 
ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1992. 
BRAUND, K. G. Encephalitis and meningitis. Symposium on advances in veterinary neurology. 
Vet. Clin. N. Am. 10: 31-36, 1980. 
KRAKOWKA, S.; RINGLER, S. S.; LEWIS, M. et al. Immunosuppression by canine distemper 
virus: modulation of in vitro immunoglobulin synthesis, interleukin release and prostaglandin E2 
production. Vet. Immunol. Immunopathol, 1987; 15: 181-201. 
GILLESPIE, J. H.; KARZON, D. T. A study of the relationship between canine distemper and 
mézales in the dog. Proc. Soc. Exp. Biol. Med. 105: 547-551, 1960. 
KOVACS, M. D. Studies on the diagnostic values of cell inclusion in canine distemper. Acta Vet. 
Acad. Sci. Hung. 25: 185-200, 1975. 
KRISTENSEN, B.; VANDEVELVE, M. Immunofluorescence studies of canine distemper 
encephalitis on paraffin-embedded tissues. Am J. Vet. Res. 39: 1017-1021, 1978. 
WILD, T. F. et al. Made of entryof morbillivirus. Veterinary Microbiology, v. 44, n. 2-4, p. 271-
280, 1995. 
VANDEVELVE, M.; ZURBRIGGEN, A. The neurobiology of canine distemper virus infection. 
Veterinary Microbiology, v. 44, n. 2-4, p. 271-280, 1995. 
BRAUND, K. G. Inflammatory Diseases of the Central Nervous System [on line], 2001. 
Disponivel em www.ivis.org . Acesso em 11 de novembro de 2001. 
CORNWELL, H. J. et al. Encephalitis in dogs associated with a bath of canine distemper 
(Rockborn) vaccine. Vet. Rec. 1988,122: 54-59. 
HARTLEY, W. J. A post-vaccinal inclusion body encephalitis in dogs. Vet. Pathol. 1974, 11: 301-
312. 
APPEL, M. J. G. Pathogenesis of canine distemper. American Journal of Veterinary Research. 
v. 30, n. 7, p. 1167-1182, 1969. 
TIPOLD, A. et al. Neurological manifestation of canine distemper virus infection. Journal of Small 
Animal Practice, v. 33, n. 10, p. 466-470, 1992. 
KOUTINAS, A. F. et al. Relation of clinical signs to pathological changes in 19 cases of canine 
distemper encephalomyelitis. Journal of Comparative Pathology, v. 126, n. 1, p. 47-56, 2002. 
OKITA, M. et al. Histopathological features of canine distemper recently observed in Japan. 
Journal of Comparative Pathology, v. 116, n. 4, p. 403-408, 1997. 
BAUMGARTNER, W.; ORVELL, C.; REINACHER, M. Naturally occurring canine distemper virus 
encephalitis: distribuition and expression of viral polypeptides in nervous tissues. Acta 
Neuropathologica, v. 78, n. 5, p. 504-512, 1989. 
 16 
AMUDE, A. M. et al. Encefalomielite pelo virus da cinomose canina em cães sem sinais sistêmicos 
da doença – estudos preliminares em três casos. Clínica Veterinária, Ano XI, n. 60, p. 60-66, 
2006. 
KRAKOWKA, S. et al. Experimental and naturally ocurring transplacental transmission of canine 
distemper vírus. Am. J. Vet. Res. 38 : 919-922, 1977. 
DUBIELZIG, R. et al. Lesions of the enamel organ of developing dog teeth following experimental 
inoculation of ginotobiotic puppies with canine distemper virus. Vet. Pathol. 18 : 684-689, 1981. 
HIGGINS, R. J. et al. Canine distemper virus – associated cardiac necrosis in the dog. Vet. Pathol. 
18 : 472-486, 1981. 
FISHER, C. A.; JONES, G. T. Optic neuritis in dogs. J. Am. Vet. Med. Assoc. 190 : 68-79, 1972. 
VANDEVELVE, M.; CACHIN, M. The Neurologic form of Canine Distemper. In: BONAGURA, J. D.; 
KIRK, R. Kirk’s Current Veterinary Therapy XV, Small Animal Practice. Philadelphia: W. B. 
Saunders, p. 1003-1007, 1993. 
LATIMER, K. S. Neutropenia In: TILLEY, C. P.; SMITH, F. W. K. Consulta Veterinária em 5 
minutos. 2. ed. Barueri: Manole Ltda, p. 306-307, 2003. 
GREENE, G. E.; APPEL, M. J. G. Canine Distemper. In: GREENE, G. E. Infectious diseases of 
the dog and the cat. Philadelphia: W. B. Saunders, p. 9-22, 1998. 
HUNT, R. D. et al. A hitochemical comparasion of the inclusion bodies of canine distemper and 
infections canine hepatitis. Am. J. Vet. Res. 24: 1248-1255, 1963. 
GOSSET, K. A. et al. Viral inclusions in hematopoietic precursors in a dog with distemper. J. Am. 
Vet. Med. Assoc. 181: 387-388, 1982. 
AMUDE, A. M. et al. Severe lymphocytic pleocytosis in cerebrospinhal fluid from a dog with 
neurological deficits. Journal of Veterinary Clinical Pathology, “in press”, 2006. 
CHRISMAN, C. L. Cerebrospinhal Fluid Analysis. Veterinary Clinics of North America: Small 
Animal Practice, v. 22, n. 4, p. 781-810, 1992. 
SARMENTO et al. Coleta, análise e interpretação do líquido cefaloraquidiano de cães e gatos – 
revisão. Clínica Veterinária, Ano IV, n. 25, p. 19-26, 2000. 
JÓèWIK, A.; FRYSMUS, T. Comparision of the Immunofluorescence Assay with RT-PCR and 
Nested PCR in the Diagnosis of Canine Distemper, Veterinary Research Communication. v. 29, 
p. 347-359, 2005. 
BAUMGARTNER, W. Virale Infektionskrankrankheiten bei Junghunden. Praktische Tierarzt, v. 1, 
p. 26-32, 1993. 
 17 
FRISK, A. L. et al. Detection of canine distemper virus nucleoprotein RNA by reverse transcription 
– PCR using serum, whole blood, and cerebrospinhal fluid from dog with distemper. J. Clin. 
Microbiol., v. 37, p. 3634-3643, 1999. 
SAHIN, Y. et al. Detection of canine distemper virus nucleocapsid protein gene in canine peripheral 
blood mononuclear cells by RT-PCR. J. Vet. Med. Sci., v. 57, p. 439-450, 1995. 
SAITO, T. B. Padronização da técnica da Reação em Cadeia pela Polimerase (RT-PCR) para 
o diagnóstico ante e post-mortem do vírus da cinomose canina. 2001. 100f. Dissertação. 
(Mestrado em Sanidade Animal). Centro de Ciências Agrárias, UEL – Londrina, PR. 
GEBARA, C. M. S. Achados clínicos e histopatológicos em cães com diagnóstico molecular 
do vírus da cinomose canina. 2002. 94f. Dissertação (Mestrado em Sanidade Animal). Centro de 
Ciências Agrárias, UEL – Londrina, PR. 
AMUDE, A. M.; ALFIERI, A. A.; ALFIERI, A. F. Antemortem Diagnosis of CDV Infection by RT-PCR 
in Distemper Dogs without the Typical Clinical Presentation. Veterinary Research 
Communication, v. 29, “in press”, 2006. 
GEBARA, C. M. S. et al. Lesões hitopatológicas no sistema nervoso central de cães com 
encefalite e diagnóstico molecular da infecção pelo vírus da cinomose canina – Arquivos 
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 56, n. 2, p. 168-174, 2004. 
BRAUND, K. G. Clinical syndromes in veterinary neurology. 2. ed. St. Louis: Mosby, p. 
477,1994. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 18

Continue navegando