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Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO Espécie: Strongyloides stercoralis Morfologia: Fêmea Partenogenética Parasito – realiza o desenvolvimento sem fecundação Possui corpo cilíndrico com aspecto filiforme longo, extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Mede 1,7 a 2,5 mm de comprimento por 0,03 a 0,04 mm de largura. Apresenta cutícula fina e transparente, levemente estriada no sentido transversal em toda a extensão do corpo. Aparelho digestivo simples com boca contendo três lábios; esôfago longo, ocupando 25% do comprimento do parasito, tipo filarioide ou filariforme, cilíndrico, que, à altura do quinto anterior, é circundado por um anel nervoso também denominado colar esofágico; seguido pelo intestino simples, terminando em ânus, próximo da extremidade posterior. Não há repitáculo seminal. A fêmea, que pode viver até cinco anos, produz 30 a 40 ovos por dia, via partenogênese, ou seja, não há machos, durante a vida parasitária. Também é ovovivípara, pois elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado; a larva rabditoide, frequentemente libertada ainda no interior do hospedeiro, toma-se a forma evolutiva de fundamental importância no diagnóstico. Fêmea de Vida Livre ou Estercoral Possui aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Mede 0,8 a 1,2 mm de comprimento por 0,05 a Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO 0,07 mm de largura. Apresenta cutícula fina e transparente, com finas estriações. Aparelho digestivo simples, com boca contendo três lábios; o esôfago, que é curto, tem aspecto rabditoide, pois apresenta-se dividido em três porções sendo uma anterior, cilíndrica e alongada (corpo), uma intermediária estreitada (istmo) e uma posterior globulosa (bulbo), o anel nervoso contorna a parte estreitada um pouco adiante do bulbo; o intestino é simples e de difícil observação devido à presença dos órgãos genitais; terminando em ânus. Aparelho genital e constituído de útero anfidelfo, contendo até 28 ovos, ovários, ovidutos e a vulva situada próxima ao meio do corpo. Apresenta receptáculo seminal. Macho de Vida Livre Seu aspecto é fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior recurvada ventralmente. Mede cerca de 0,7 mm de comprimento por 0,04 mm de largura. Boca com três lábios, esôfago tipo rabditoide, seguido de intestino terminando em cloaca. Aparelho genital contendo: testículos, vesícula seminal, canal deferente e canal ejaculador, que se abre na cloaca. Apresentam dois pequenos espículos, auxiliares na cópula, que se deslocam sustentados por uma estrutura quitinizada denominada gubemáculo. Ovos São elípticos, de parede fina e transparente, praticamente idênticos aos dos ancilostomídeos. Os originários da fêmea parasitos medem 0,05mm de comprimento por 0.03 mm de largura e os da fêmea de vida livre são maiores medindo 0,07 mm de comprimento por 0,04 mm de largura. Excepcionalmente, os ovos podem ser observados nas fezes de indivíduos com diarreia grave ou após utilização de laxantes. Larvas Rabditoides Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO O esôfago, do tipo rabditoide, dá origem ao nome das larvas. As originárias das fêmeas parasitos são praticamente indistinguíveis das originadas das fêmeas de vida livre. Apresentam cutícula fina e hialina. Medem 0,2 a 0,3 mm de comprimento por 0,015 mm de largura. Apresentam vestíbulo bucal curto, cuja profundidade é sempre inferior ao diâmetro da larva, característica que a diferencia das larvas rabditoides de ancilostomídeos em que o vestíbulo bucal é alongado e sua profundidade é igual ao diâmetro do corpo (10 p.m). O intestino termina em ânus, afastado da extremidade posterior. Apresentam primórdio genital nítido formado por um conjunto de células localizadas um pouco abaixo do meio do corpo. Essa característica também auxilia na diferenciação das larvas de ancilostomídeos que apresentam somente vestígio de primórdio genital. Terminam em cauda pontiaguda. As larvas LI ou L2 originadas da fêmea parasito atingem o meio externo, sendo encontradas de uma a 25 larvas por grama de fezes. Nas formas disseminadas são encontradas na bile, no escarro, na urina ou nos líquidos duodenal e pleural e liquor. Larvas Filarioides – é a imfectante, devido as enzimas que possuem a capacidade de penetrar a pele. O esôfago, do tipo filarioide, dá origem ao nome das larvas. Este é longo correspondendo à metade do comprimento da larva. Cutícula fina e hialina. Medem de 0,35 a 0.50 mm de comprimento por 0,01 a 0,03 mm de largura. Apresenta vestíbulo bucal curto e intestino terminando em ânus, um pouco distante da extremidade posterior. A porção anterior é ligeiramente afilada e a posterior afina-se gradualmente terminando em duas pontas, conhecida como cauda entalhada, que a diferencia da larva filarioide de ancilostomídeos, que é pontiaguda. Há dois tipos de larvas L3: a larva infectante derivada dos ciclos direto ou indireto, vistas no meio ambiente e capaz, portanto, de penetrar a pele ou mucosas; e a L3 Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO autoinfectante (L3a) que se evolui no interior do hospedeiro, ocasionando os casos de autoinfecção interna. Habitat As fêmeas partenogenéticas em seu hábitat normal localizam-se na parede do intestino, mergulhadas nas criptas da mucosa duodenal, principalmente nas glândulas de Leberkühn e na porção superior do jejuno, onde fazem as posturas. Nas formas graves, são encontradas da porção pilórica do estômago até o intestino grosso. Ciclo Evolutivo Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO Strongyloides apresentam uma complexa biologia com dois ciclos de vida distintos: o ciclo direto, ou partenocenetico, e o indireto, sexuado ou de vida livre, ambos monoxênicos. As fêmeas parasitos podem produzir, simultaneamente três tipos de ovos, dando origem a três tipos de larvas rabditoides: 1) larvas rabditoides que se diferenciam em larvas filarioides infectantes, completando o ciclo direto; 2) larvas rabditoides que originam as fêmeas de vida livre; 3) larvas rabditoides que evoluem para macho de vida livre, em que as duas últimas completam um ciclo indireto A fase dos ciclos que se passa no solo exige condições semelhantes às dos ancilostomídeos: solo arenoso, umidade alta, temperatura entre 25° e 30°C e ausência de luz solar direta. No ciclo direto as larvas rabditoides no solo ou sobre a pele da região perianal, após 24 a 72 horas, transformam-se em larvas filarioides infectantes. No ciclo indireto as larvas rabditoides produzem fêmeas ou machos de vida livre. Ocorre somente um ciclo de vida livre, pois os ovos originados do acasalamento das formas adultas de vida livre uma vez que as larvas rabditoides originadas evoluem para larvas filarioides infectantes. As larvas filarioides não se alimentam e graças à ausência de bainha, são menos resistentes que as larvas filarioides dos ancilostomídeos, podendo permanecer no solo durante quatro semanas. Os ciclos direto e indireto se completam pela penetração ativa das larvas L3 na pele ou em mucosas oral, esofágica ou gástrica do hospedeiro. Essas larvas secretam metaloproteases, que as auxiliam, tanto na penetração quanto na migração através dos tecidos, que ocorre em uma velocidade de 10 cm/h. Algumas morrem no local, mas o ciclo continua pelas larvas que alcançam as circulações venosa e linfática e através desses vasos seguem para o Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO coração e os pulmões. Chegam aos capilares pulmonares, onde se transformam em L4, atravessam a membrana alveolar e, por meio de migração pela árvore brônquica,chegam à faringe. Podem ser expelidas pela expectoração ou deglutidas, chegando ao intestino delgado, onde se transformam em fêmeas partenogenéticas que depositam poucos ovos por dia na mucosa intestinal. Nesse local, as larvas rabditoides maturam, alcançam a luz intestinal e são eliminadas com as fezes do paciente, constituindo a forma diagnostica visualizada em microscopia óptica. O período pré- patente, isto é, o tempo decorrido desde a penetração da larva filarioide na pele até que ela se tome adulta e comece a eliminar ovos larvados e eclosão das larvas no intestino, é de aproximadamente 15 a 25 dias. Transmissão Hetero ou Primoinfecção -> Larvas filarioides infectantes (L3) penetram usualmente através da pele (não tendo preferência por um ou outro ponto do tegumento) ou, ocasionalmente, pelas mucosas, principalmente da boca e do esôfago. Em condições Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO naturais, a infecção percutânea realiza-se de modo idêntico à dos ancilostomídeos. Nas pessoas que não usam calçados, a penetração ocorre pela pele dos pés, particularmente nos espaços interdigitais, e lateralmente, uma vez que a superfície plantar muito espessa pode constituir uma barreira. Esse modo de transmissão parece ser o mais frequente. Autoinfecção Externa ou Exógena -> Larvas rabditoides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarioides infectantes e aí penetram, completando o ciclo direto. Esse modo de infecção pode ocorrer em crianças, idosos ou pacientes internados que defecam na fralda, ou na roupa ou ainda em indivíduos que, por deficiência de higiene, deixam permanecer restos de fezes em pelos perianais. Autoinfecção Interna ou Endógena -> Larvas rabditoides, ainda na luz intestinal de indivíduos infectados, transformam-se em larvas filarioides, que penetram a mucosa intestinal (íleo ou cólon). Esse mecanismo pode cronificar a doença por vários meses ou anos. Em casos raros, nesse tipo de autoinfecção, podem ser encontradas fêmeas partenogenéticas nos pulmões. Essa modalidade pode ocorrer em indivíduos com estrongiloidose e constipação intestinal devido ao retardamento da eliminação do material fecal. Em pacientes com ou sem retardo de eliminação das fezes, mas com baixa de imunidade (uso de substâncias imunossupressoras, radioterapia, indivíduos imunodeprimidos por neoplasias, transplantes, síndrome nefrótica, portadores do vírus da imunodeficiência humana [HIV], síndrome da imunodeficiência adquirida [AIDS], infecção pelo vírus linfotrópico T humano I [HTLV-I], tuberculose, gravidez, desnutrição proteico-calórica, alcoolismo crônico e idade avançada), pode ocorrer a autoinfecção interna com presença de Ll, L2 e L3 em diferentes órgãos. A autoinfecção interna pode acelerar-se, provocando a elevação do número de parasitos no intestino e nos pulmões (localizações Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO próprias das larvas), fenômeno conhecido como hiperinfecção; ou disseminar-se por vários órgãos do paciente, condição conhecida como forma disseminada. Ambas são consideradas formas graves, potencialmente fatais, em individuos imunodeprimidos. As associações mais comuns da hiperinfecção são aquelas induzidas farmacologicamente (corticosteroides) sobretudo por tratamento de doença autoimune, alergia ou doenças inflamatórias e no tratamento para prevenir rejeição de órgãos transplantados, sendo que os sinais e os sintomas da estrongiloidose grave surgem perto dos 20 dias após o início do uso dos corticosteroides e persistem por muitos anos mesmo sem a continuação de seu uso. Imunidade Helmintos – por ser patógeno extracelular o padrão de resposta será th2. a célula tcd4 vai se diferenciar para uma célula th2. a il4 e il13 vao atuar no macrófago, A defesa local mediada por mastócitos pode ser responsável pelo controle da intensidade da infecção, tanto diretamente, pela capacidade dessas células de lesar os parasitos, quanto indiretamente, pela desgranulação de substâncias que atraem e ativam os eosinófilos. A longa permanência do parasito no hospedeiro humano (cronicidade) e a contínua passagem de larvas fílarioides através dos tecidos resultam em incessante exposição sistêmica aos antígenos parasitários. Ocorre um equilíbrio entre o parasito e o sistema imune do hospedeiro e a infecção raramente causa doença clínica visível. A maioria dos indivíduos desenvolve anticorpos das classes IgG, IgA, IgM e IgE específicos. Os anticorpos IgG, predominantemente IgG l e IgG4, são os mais frequentemente detectados, positivam a partir da segunda semana pós-infecção, permanecendo por longo tempo, após a cura terapêutica. Sabe-se que existe um balanço entre a presença de IgE e IgG4 com demonstração de níveis elevados de IgE em pacientes imunocompetentes com estrongiloidose, indicando proteção. Na Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO doença disseminada e nos casos de imunossupressão, os níveis de IgE total e específica podem estar dentro da normalidade, enquanto níveis elevados de IgG4 ocorrem em casos graves da doença. O ciclo do parasito sugere também que ele pode estimular as respostas local e sistêmica mediadas por anticorpos IgA. O mecanismo efetor da IgA está relacionado com a modulação da eliminação das larvas pelo decréscimo da fecundidade da fêmea e da viabilidade dos ovos. A IgA pode ser detectada no soro, na saliva ou no leite materno. Crianças de áreas endêmicas podem adquirir anticorpos IgA e IgG específicos para S.stercoralis pelo leite materno. O pico de IgM sérica ocorre na primeira semana pós- infecção, mantendo-se por duas a três semanas. No homem, a imunidade para L3 infectante não é protetora contra L3a, sugerindo que esta apresenta diferente padrão de reconhecimento antigênico. As células T, da resposta protetora, são predominantemente do tipo Th2 e essa resposta é essencial para prevenir formas de hiperinfecção ou disseminação. Tais células secretam citocinas, como as interleucinas (IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-13). A estimulação de basófilos é função das IL-3 e IL-4. IL-4 também desempenha um papel na adesão e migração de eosinófilos através das membranas vasculares; IL-4 e IL-13 estimulam células B para produzir anticorpos IgE e IgG l, promovem também o aumento da contração da musculatura lisa, induzindo trânsito intestinal mais rápido e a diminuição delas propicia a transformação das larvas rabditoides em fílarioides e, consequentemente, autoinfecção; IL-5 é essencial para diferenciação, ativação e proliferação de eosinófilos, os quais estão envolvidos na morte do helminto, e também indução e produção de IgA; IL-6 é responsável pela estimulação de granulócitos e de células B e T; Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO IL-10 juntam ente com IL-13 modulam negativamente a ativação de células T hl. Desse modo, as células T respondem aos antígenos (secretados, excretados e de superfície) do parasito e estes são danificados por anticorpos e produtos dos mastócitos sensibilizados por IgE, que desgranulam após contato com o antígeno, liberando histamina, que, por sua vez, aumenta a permeabilidade do epitélio intestinal. Entretanto, esses processos não são suficientes para elim inar os helmintos. No mecanismo T-independente, moléculas pró-inflamatórias inespecíficas, secretadas por macrófagos, incluindo o fator de necrose tumoral alfa (TNFalfa) e IL-1, contribuem para a proliferação das células caliciformes e provocam aumento na secreção de muco, que reveste os parasitos facilitando a sua expulsão. IL-12 e IL-18 (citocinas produzidas primariamente por macrófagos e outras células acessórias) induzem a produção de interferon gama (IFN-y) que favorece a proliferaçãoe a ativação de células T hl, modulando ou inibindo a resposta imune protetora dependente de Th2. As infecções graves têm sido associadas à imunossupressão, como ocorre em linfomas, leucemias agudas ou crônicas, carcinomas metastáticos, síndrome nefrótica, glomerulonefrite crônica, subnutrição (deficiências proteicocalórica graus II e III), alcoolismo crônico, tuberculose, diabetes melito, transplante renal, HIV, AIDS, HTLV-I, uso de corticosteroides ou de outros imunossupressores. Sabe-se que os corticosteroides e seus metabólitos exercem efeito estimulatório direto sobre as larvas intraintestinais acelerando sua conversão (rabditoide em filarioide), e favorecendo a autoinfecção, ou ainda um efeito sobre a fêmea parasito, levando ao aumento da oviposição. Há relatos de hiperinfecção por S.stercoralis em pacientes com artrite reumatoide após terapêutica com anti-TNF-a. Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO Patogenia, Patologia e Sintomatologia A apresentação da infecção é determinada pela interação entre o parasito e o hospedeiro, uma vez que o tempo de sobrevida de S. stercoralis no hospedeiro infectado pode se dar por diversos mecanismos de evasão da resposta imune, alguns dos quais dependentes das propriedades da superfície extema do parasito. Assim, a identificação e a caracterização de proteínas de superfície de L3, obtidas por análise proteômicas, tomam-se essenciais para este entendimento. Indivíduos portadores de pequena quantidade de parasitos no intestino geralmente são assintomáticos ou oligossintomáticos, mas isso não significa ausência de ação patogênica e de lesões. Formas graves, às vezes fatais, relacionam- se com fatores extrínsecos, principalmente pela carga parasitária adquirida e com fatores intrínsecos (subalimentação com carência de proteínas provocando enterite; diarreia e vômito facilitando os mecanismos de autoinfecção; alcoolismo crônico, infecções parasitárias e bacterianas associadas; comprometimento da resposta imunitária natural ou adquirida, intervenções cirúrgicas gastroduodenais e outras cirurgias que utilizam anestesia geral, pois facilitam a estase broncopulmonar). As principais alterações na estrongiloidose são devidas a ações mecânica, traumática, irritativa, tóxica e antigênica decorrente não apenas das fêmeas partenogenéticas, mas também das larvas e dos ovos. Essas ações podem ser estudadas acompanhando as suas localizações no hospedeiro humano. Cutânea -> Em geral é discreta, ocorrendo nos pontos de penetração das larvas infectantes, tanto na pele como nas mucosas, com reação celular apenas em tomo das larvas mortas que não conseguiram alcançar o sistema circulatório. Nos casos de reinfecção, há reação de hipersensibilidade com formação de edema, eritema, prurido, pápulas hemorrágicas e urticárias. Como consequência da disseminação das larvas, Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO observa-se migração única ou múltipla das larvas filarioides no tecido subcutâneo determinando um aspecto linear ou serpiginoso urticariforme com prurido, lesão caracterizada como larva currens, que ocorre mais frequentemente no tronco, nádegas, perineo, virilha e coxas, avançando de 5 a 15 cm/h. Pulmonar -> Apresenta intensidade variável, porém presente em todos os indivíduos infectados, caracterizada por tosse, com ou sem expectoração, febre, dispneia e crises asmatiformes decorrentes das larvas filarioides e, ocasionalmente, de fêmeas, que aí podem alcançar a maturidade, produzindo ovos e larvas rabditoides. A travessia das larvas do interior dos capilares para os alvéolos provoca hemorragia, infiltrado inflamatório constituído de linfócitos e eosinófilos, que podem ser limitados, ou em casos mais graves, provocar broncopneumonia, síndrome de Lõeffler, edema pulmonar e insuficiência respiratória. Intestinal -> As fêmeas, com a finalidade de se fixar ou se alimentar, localizam-se principalmente na mucosa do duodeno e jejuno, limitando-se à zona glandular, raramente ultrapassando a muscularis mucosae, onde são aprisionadas pelas células epitelioides e depois removidas pelos leucócitos polimorfonucleares. Fêmeas partenogenéticas, ovos e larvas no intestino delgado ou ocasionalmente no intestino grosso podem determinar, em ordem crescente de gravidade: enterite catarral: os parasitos são visualizados nas criptas glandulares e ocorre uma reação inflamatória leve, caracterizada pelo acúmulo de células que secretam mucina e, portanto, acompanhada por aumento de secreção mucoide, com caráter reversível. enterite edematosa: os parasitos são visualizados em todas as túnicas da parede intestinal e ocorre reação inflamatória com edema de submucosa e desaparecimento do relevo mucoso, Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO caracterizado por síndrome de má absorção intestinal; considerado de certa gravidade, porém de caráter reversível. enterite ulcerosa: os parasitos em grande quantidade provocam inflamação com eosinofilia intensa; ulcerações, com invasão bacteriana, que durante a evolução serão substituídas por tecido fibrótico determinando rigidez da mucosa intestinal. Essa lesão é irreversível e considerada grave uma vez que a fibrose pode provocar alterações no peristaltismo, ocasionando íleo paralítico. Os sintomas mais comuns vão desde dor epigástrica antes das refeições, que melhora com a alimentação e piora com o excesso; diarreia em surtos; náusea e vômito, até síndrome disentérica com esteatorreia, seguida de desidratação, que pode levar a choque hipovolêmico, se associada a vômito, emagrecimento e acentuado comprometimento do estado geral do doente, muitas vezes fatal. Disseminada -> Observada em pacientes infectados e imunocomprometidos pelas situações citadas ou por megacólon, diverticulite, íleo paralítico, uso de antidiarreicos e constipação ntestinal, que favorecem a autoinfecção com grande prolução de larvas rabditoides e filarioides no intestino, às mais alcançam a circulação e se disseminam para múltiplos órgãos (Inúmeras larvas completam o ciclo, entretanto, além do intestino e dos pulmões, são encontradas nos rins na urina acompanhadas de hematúria e proteinúria), fígado nos espaços porta, causando padrões obstrutivos com elevação de bilirrubina e enzimas hepáticas) vesícula biliar com quadro semelhante à colecistite), coração (no líquido cericárdico), cérebro (no liquor, nos vasos das meninges e nos espaços cerebrais), pâncreas, ovários, tireóide, adrenais, nróstata, glândulas mamárias, linfonodos. Esse quadro pode complicar-se com infecções bacterianas secundárias: bacteremia, peritonite, endocardite, meningite culminando com Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO sepse de Gram negativos, preferencialmente por Escherichia coli, Enterococcus faecalis e Klebsiella pneumoniae), uma vez que bactérias intestinais poderiam ser transportadas pelas larvas para a circulação ou por ulcerações da mucosa intestinal que permitiriam que as enterobactérias penetrassem a circulação. Ocorre dor abdominal, vômito, diarreia intensa, pneumonia hemorrágica, broncopneumonia bacteriana, insuficiência respiratória, culminando em óbito. Além dos sintomas já descritos, o paciente com estrongilodíase crônica pode apresentar anemia (hipocrônica com redução da taxa de hemoglobina e número de glóbulos), eosinofilia, sudorese, incontinência urinária, palpitações, tontura, alterações no eletrocardiograma, astenia, irritabilidade, depressão, insônia e emagrecimento ou manifestações incomuns, como ascite, perfuração intestinal e artrite. Nos casos graves são relatadas perda de proteínas, hipoalbuminemia e lipopotassemia. As alterações sanguíneas na estrongiloidose (anemia e eosinofilia) sãosemelhantes às demais helmintoses intestinais, apresenlando-se discretas nas infecções leves, porém com caracleristicas peculiares nas formas graves por hiperinfecção ou disseminação. Sintomatologia slide Diagnóstico Clínico -> O diagnóstico clínico é dificultado, uma vez que em aproximadamente 50% dos casos não há sintomas; quando existentes, são comuns em outras helmintíases intestinais. A tríade clássica de diarreia, dor abdominal e urticária são sugestivas. A eosinofilia e os achados radiográficos e sorológicos podem auxiliar na suspeita diagnostica. A infeccão deve ser lembrada em situações de imunossupressão Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO mencionadas anteriormente e investigada nos casos em aue o paciente for submetido a tratamentos imunossupressores. Recomenda-se o diagnóstico diferencial com ancilostomose, ascaridose, giardose, pneumonia, urticária, colecistite, pancreatite e eosinofilia pulm onar tropical. Em pacientes asmáticos, residentes nos trópicos, que não respondem à terapia convencional, devem-se realizar repetidos exames de fezes para pesquisa de S. stercoralis, uma vez que a reação de hipersensibilidade, em decorrência imigração da larva, pode induzir ao broncoespasmo. O diagnóstico diferencial é difícil, requerendo vários métodos laboratoriais conforme indicado a seguir. Laboratorial -> 1. Exame de Fezes 2. Coprocultura - Método de Looss (carvão vegetal), método de Brumpt (papel de filtro em placa de Petri), método de Flarada e Mori (papel de filtro em tubos) e método de cultura em placa de ágar (fezes semeadas em ágar contendo extrato de carne, cloreto de sódio e peptona) podem ser utilizados. Os métodos de cultura têm como base o desenvolvimento do ciclo indireto do parasito, com possibilidade de visualização de diversas formas evolutivas, principalmente a caracterização da larva filarioide. A coprocultura é um método limitado pela demora na obtenção dos resultados (cinco a sete dias) e risco de infecção durante a manipulação de larvas infectantes. Mesmo diante dessas limitações, atualmente o método de cultura em placa de ágar alcança a mais elevada positividade quando são utilizadas três amostras de fezes e é considerado o método de escolha para o diagnóstico parasitológico da estrongiloidose. Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO 3. Pesquisa e Larvas em secreções e outros liquídos orgânicos - pesquisa das formas evolutivas por exame direto ou após centrifugação, conforme o quadro clínico: broncopulmonar - exame de escarro e lavado broncopulmonar; duodenal - coletado por tubagem; urina; líquido pleural; vômito; líquido ascítico e liquor. 4. Endoscopia Digestiva - Visualização da mucosa gastrointestinal, recomendada em pacientes com infecção maciça e alterações duodenojejunais. Propicia a ampla visualização do aspecto da mucosa intestinal, que se apresenta principalmente edemaciada, com vilosidades esbranquiçadas e eritema, e possibilita a realização de biópsia em várias localizações. 5. Biópsia e análises histopatológicas 6. Necropsia 7. Esfregaços citológicos Métodos Indiretos 1. Hemograma - Mesmo na ausência de sintomas, a eosinofilia pode ser indicativo da parasitose. Na fase aguda, a taxa de eosinófilos pode ser elevada até 82%; entretanto diminui na fase crônica (8 a 15%) desaparecendo nos casos de evoluci: grave ou fatal. A eosinopenia está associada a mau prc anóstico, uma vez que os eosinófilos desempenham pare importante na proteção à estrongiloidose fulminante. Apcs seis meses do tratamento específico, a contagem de eosinofilos volta a níveis normais (1 a 3%). 2. Imagem - Radiografia de tórax, identificando a síndrome c; Lõeffler, e de trato digestivo, demonstrando aceleração a: trânsito intestinal, ou apagamento difuso do relevo muccs-: duodenojejunal e imagem de tubo rígido nos casos gra\ es mas não há nenhum sinal patognomonico, detectado ai Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO radiologia. Ultrassonografia e tomografia computadorizadi também podem ser requisitadas. 3. Métodos Imunológicos - Esses métodos são utilizados preferencialmente para detecção de anticorpos, mas também na detecção de antígenos e de imunocomplexos, sendo úteis na avaliação da resposta imune do hospedeiro nos casos de forma: assintomáticas e no esclarecimento do diagnóstico clínic; além da possibilidade de emprego em inquéritos soroepidemiológicos por apresentarem elevada sensibilidade em relação aos métodos parasitológicos. A maior limitação encontrada na padronização dos testes é a dificuldade de >e obter quantidades suficientes de larvas filarioides de S. stercoralis, situação vencida com sucesso pelo emprego de 5 ratti, S. venezuelensis ou S. cebus como fontes alternati\ de antígenos heterólogos. Outra limitação é o fenômeno d; “reação cruzada” com outras parasitoses, principalmente esquistossomose e filariose e, dependendo do método, com ancilostomídeos. (Decteção de anticorpos, ELISA, imunofluoresencia etc) 4. Biologia Molecular (pcr) Epidemiologia A estrongiloidose tem distribuição mundial heterogênea, sendo a prevalência dividida em três categorias: esporádica (5%). Todas as áreas agrupadas como hiperendêmicas estão situadas nos trópicos; há áreas endêmicas subtropicais, mas também estão presente nos EUA, na Europa e na Ásia. Nos países desenvolvidos, a infecção prevalece em agricultores, hortigranjeiros, trabalhadores rurais, imigrantes e viajantes que visitaram áreas endêmicas. A prevalência de S.stercoralis é subestimada, sobretudo pela baixa sensibilidade dos métodos parasitológicos de diagnóstico empregados na rotina laboratorial e nos Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO inquéritos epidemiológicos que não incluem os métodos específicos para pesquisa de larvas. No Brasil, um estudo, no período de 20 anos (1990 a 2009), utilizando métodos parasitológicos revelou 5,5% de prevalência de S. stercoralis, o que confirma hiperendemia no país. Revelou também que a ocorrência aumentou com a idade, sendo de 12,1% para os indivíduos com idade superior a 60 anos, e que nos indivíduos imunossuprimidos a positividade alcançou 11,8% por métodos parasitológicos e 19,5% pelos métodos imunológicos. No final de 2015 um estudo desenvolvido por nosso grupo de pesquisa demonstrou que o risco relativo de ocorrer estrongiloidose, foi 11 vezes maior em alcoolistas do que em não alcoolistas, com razão de possibilidades (odds ratio [OR]) de 13,24. Também demonstramos que pacientes com câncer gastrointestinal apresentaram 6,7 mais chances de ser positivos para estrongiloidose e que pacientes diabéticos apresentaram OR de 3,9 vezes. Uma revisão global realizada sobre fatores de risco relacionados com a estrongiloidose revelou que pacientes com HIV/AIDS apresentaram duas vezes maior risco em comparação com indivíduos sem o vírus. A infecção natural pelo S. stercoralis confirmada em cães, gatos e macacos que estão em contato com o homem pode ser um importante reservatório da parasitose. Os fatores que influenciam o aparecimento, a manutenção e a propagação da estrongiloidose são: 1. fezes de homens ou animais infectados contaminando o solo; 2. larvas infectantes originárias dos ciclos direto e de vida livre no solo; 3. solo arenoso ou arenoargiloso, úmido, com ausência de luz solar direta; 4. temperatura entre 25° e 30°C; 5. condições sanitárias inadequadas; Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO 6. hábitos higiênicos inadequados; 7. contato com alimento contaminado por água de irrigação poluída com fezes; 8. não utilização de calçados. Profilaxia A estrongiloidose não é uma doença de notificaçãoobrigatória. Para minimizar a ocorrência do complexo ciclo de transmissão, as equipes de saúde das regiões endêmicas devem elaborar programas de controle adotando as medidas preconizadas para as geo-helmintoses, com foco na atenção aos hábitos higiênicos principalmente a lavagem adequada dos alimentos, na utilização de calçados, em educação e engenharia sanitária, além da melhoria da alimentação. A realização de métodos parasitológicos específicos para pesquisa de larvas deve ser incluída na rotina laboratorial. Convém destacar também a necessidade de padronização de novos métodos diagnósticos. Considerando-se que a unidade epidemiológica fundamental é a familiar, salienta-se a necessidade de comprovar o diagnóstico e proceder ao tratamento específico de todos os indivíduos parasitados, mesmo que assintomáticos, bem como de animais domésticos infectados, para eliminar a fonte de infecção. Instituições assistenciais, com destaque para as de atendimento a pacientes com retardo mental, podem representar um foco de infecção. Parasitologia – Anna Carolina Pinho da Silva - UNIRIO
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