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CONTRATOS EM ESPÉCIE E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

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Tipos de Contratos: Conceito e principais características
	Contrato significa, para Flávio Tartuce (2020, p. 855), negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. Por sua vez, Stolze e Pamplona (2020, p. 608), adotam entendimento semelhante, no qual contrato é negócio jurídico em que as partes, limitadas pelos princípios da boa-fé objetiva e da função social, disciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia da vontade. Dessa forma, conclui-se que, seja qual for o conceito de contrato, será necessário a presença da manifestação de vontade.
	Assim, conceituado o contrato, insta pontuar alguns dos seus tipos:
1. Compra e venda: previsto no art. 481 do Código Civil, é o contrato no qual alguém se obriga a transferir o ao comprador o domínio de coisa móvel ou imóvel mediante uma remuneração. Portanto, obriga-se a transferir a propriedade da coisa, constituindo efeitos obrigacionais para ambas as partes, como se aduz do art. 482. Ademais, são elementos do contrato de compra e venda: as partes e a livre manifestação de vontade, a coisa e o preço.
Atribuem-se as seguintes características a tal contrato: bilateralidade; onerosidade, pois há sacrifício para ambos; comutativo, em regra; formal ou informal.
2. Troca ou permuta: As partes firmam uma obrigação de dar uma coisa por outra, em troca de alguma coisa que não pode ser dinheiro. Aplica-se, pois, as disposições residuais do contrato de compra e venda, nos termos do art. 533, com apenas duas ressalvas previstas nos incisos I e II. Na primeira ressalva, atribui-se metade das despesas para cada um dos permutantes, diferente do que ocorre na compra e venda, onde as despesas correm por conta do comprador; na segunda, prevê a anulabilidade da troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes sem o consentimento dos demais e do cônjuge.
Quanto as principais características, assemelha-se novamente ao contrato de compra e venda, sendo: bilateral, oneroso, comutativo, em regra; informal, em regra;
3.	Estimatório ou venda em consignação: disposto no art. 534 do Código Civil, o contrato estimatório é aquele em que o consignante entrega bens móveis ao consignatário e este fica autorizado a vende-lo, pagando o preço ajustado, salvo se preferir restituir a coisa consignada no prazo ajustado. Explica Schreiber (2020, p. 751): 
O consignante, proprietário dos bens móveis, transfere ao consignatário a disponibilidade sobre tais bens, para que este realize sua venda a terceiros, devendo pagar ao consignante, ao fim do prazo contratualmente estabelecido, o preço estimado de venda, pactuado previamente entre as partes.
	Quanto as características, trata-se de contrato: bilateral, para doutrina majoritária; necessariamente sinalagmático; oneroso; real e comutativo.
4.	Doação: Trata-se do contrato no qual a pessoa, por livre vontade, obriga-se a transferir algo, seja bem ou vantagem, ao donatário, sem necessidade de qualquer remuneração, como se aduz do art. 538. Salienta-se, porém, que podem ser estabelecidos encargos ou condições para que o contrato seja resolvido, podendo ocorrer sua revogação em caso de descumprimento.
Nesse sentido, uma das principais características desse contrato é a unilateralidade, que não se desvirtua mesmo que estabelecido um encargo, visto que apenas o doador possui obrigações. Não há ônus da outra parte, qual seja, o donatário, mas tão somente do doador.
Trata-se, ademais, de contrato formal, nos termos do art. 541, com a exceção de bens móveis de pequeno valor; impessoal; individual, pois feito com pessoas determinadas.
Cabe ainda a ressalva quanto a aceitação, necessária pelo donatário, que pode ser expressa, tácita ou presumida, pois mesmo o silêncio, como estabelecido pelo art. 539, importa aceitação, caso não aja encargos.
Por fim, salienta-se que o CC permite que o donatário seja pessoa absolutamente incapaz, dispensando aceitação, como aduz o art. 543; ou mesmo o nascituro, com aceitação do representante, nos termos do art. 532 do mesmo código.
5.	Locação: é contrato pelo qual o uma das partes obriga-se a transferir a outra, por tempo determinado ou não, uso ou gozo de coisa infungível, mediante remuneração, como se infere do art. 565 do Código Civil. Nesse sentido, são elementos essenciais deste contrato: o tempo, a coisa e a retribuição.
	Assim, tem-se como principais características: bilateral; oneroso, pois há presença de remuneração; comutativo; consensual; informal, em regra; trato sucessivo, pois a obrigação se protrai no tempo.
6. 	Empréstimo: Trata-se do negócio jurídico onde uma pessoa entrega coisa a outra, gratuitamente, e esta se obriga a devolver a coisa emprestada ou outra de mesma espécie ou quantidade. Nesse sentido, trata-se de contrato unilateral e gratuito. A doutrina afirma existirem duas espécies do gênero contrato de empréstimo, quais sejam, o comodato e o mútuo:
a) Comodato: Definido pelo art. 579 do CC como o empréstimo gratuito de coisas infungíveis, que se perfaz com a tradição do objeto. Trata-se portanto de negócio onde o comodante transfere ao comodatário a posse de determinado bem, móvel ou imóvel, com obrigação de restituição. Ocorre que, nesse caso, trata-se de bem infungível ou insubstituível, como uma casa, por exemplo. São características: real; unilateral; gratuito; fiduciário; temporário; intuitu personae.
b) Mútuo: trata-se do empréstimo de bem fungível e consumível, noo qual o mutuante transfere a propriedade, diferentemente do comodato, e o mutuário se obriga a devolver em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade, estando presente no art. 586.
7. 	Prestação de serviços: previsto entre os arts. 593 e 609 do Código Civil, trata-se do negócio jurídico no qual uma das partes, seja pessoa física ou jurídica, se compromete a realizar uma atividade em favor do tomador de serviços, seja de modo eventual ou continuado, mas sem dependência ou subordinação e mediante remuneração.
	Como aduz a doutrina, o tomador de serviço é ao mesmo tempo, credor do serviço e devedor da remuneração, enquanto o inverso ocorre com o prestador. Trata-se pois de contrato bilateral; oneroso; consensual; comutativo e informal.
	Por fim, cabe a ressalva de que o Código Civil, por força do art. 593, não abrange a prestação de serviços sujeita às leis trabalhistas ou à outra lei especial.
8.	Empreitada: Previsto entre os arts. 610 a 626 do Código Civil, é o contrato no qual uma das partes, chamada de empreiteiro, se obriga, sem subordinação ou dependência, e mediante pagamento de remuneração determinada ou proporcional ao trabalho, a entregar uma obra à outra parte, denominada pela doutrina de “dono da obra”.
	Saliente-se a ausência de subordinação ou dependência, por não se tratar de relação de emprego. Ademais, a doutrina aponta três modalidades de empreitada, previstas no art. 610: sob administração, em que o empreiteiro administra as pessoas contratadas pelo dono da obra, que fornece os materiais; a de mão de obra ou lavor, em que o empreiteiro fornece a mão de obra e o dono da obra fornece os materiais; e a mista ou de lavor e materiais, em que o empreiteiro fornece tanto a mão de obra, quanto os materiais, assumindo uma obrigação de resultado.
	Assim, são suas principais características, idênticas às do contrato de prestação de serviços: bilateralidade; onerosidade. Comutatividade; consensualidade e informalidade.
9.	Depósito: é o negócio jurídico, conceituado pelo art. 627 do Código Civil, onde uma das partes, o depositante, transfere ao depositário a guarda de um bem móvel, para que ele conserve e, quando reclamado pelo depositante, o devolva.
	O contrato de depósito pode ser voluntário ou necessário, sendo que, neste caso, pode resultar de lei (legal) ou calamidade pública (miserável). Pode ainda se tratar de coisa fungível ou infungível.
	Trata-se, pois, de um contrato unilateral, em regra, pois só impõe obrigações ao depositário, mas que pode ser bilateral; gratuito, sempre que forunilateral ou oneroso, como aduz o art. 628 do CC. Um dos exemplos possíveis em que se estabelece uma relação de contrato de depósito oneroso são os estacionamentos pagos.
10. 	Mandato: Definido pelo art. 653 do CC, trata-se do contrato no qual alguém, o mandatário, recebe do mandante poderes para praticar atos em seu nome, ou para administrar seus interesses. Nesse sentido, perceba-se que o mandatário age em nome do mandante. Ademais, a procuração, em uma das suas formas, é o instrumento formal do mandato, por meio do qual o mandante outorga poderes.
	De acordo com o art. 654 do Código Civil, todas as pessoas capazes podem conceder procuração por instrumento particular. Trata-se, ademais, de contrato intuitu personae, que pressupõe relação de confiança, sendo também: gratuito, em que será unilateral, ou oneroso, como prevê o art. 658; verbal ou escrito; informal e individual.
	Finalmente, divide-se o mandato em algumas classificações quanto a origem, dentre as quais:
a) Mandato legal: decorre da lei e dispensa instrumento de mandato;
b) Mandato judicial: conferido em virtude de ação, em que a autoridade judicial nomeia o mandatário;
c) Mandato convencional: firmado entre as partes e podendo ser judicial, para representação no campo do Judiciário; ou extrajudicial, para administração em geral.
11.	Comissão: Tutelado nos art. 693 a 709 do Código Civil, é o contrato no qual o comissário adquire ou vende bens móveis, em seu nome e à conta do comitente, de modo que a doutrina também o denomina de representação imprópria.
	Trata-se de contrato bilateral; oneroso; consensual; comutativo; informal e personalíssimo. Salienta-se, ademais, que o comissário age em seu nome e por isso, firma obrigação direta com as pessoas com quem contratar, como aduz o art. 694 do CC. Outrossim, deve ser sempre pautado no dever de confiança recíproca e lealdade.
	Por fim, cabe ressaltar que apesar da autonomia do comissário, ele está obrigado a agir de acordo com as ordens e instruções do comitente, nos termos do art. 695, e, justamente pela confiança recíproca, presumem-se corretos os atos praticados por ele, se houver resultado vantagem para o comitente.
12. 	Transporte: Previsto entre os arts. 730 a 756, é o contrato por qual o transportador se obriga, mediante remuneração, a transportar de um local para o outro, algo o alguém, seja por meio terrestre, aquático ou aéreo. Como aduz a doutrina, tal contrato é, em regra, proveniente de relações de consumo (art. 22, CDC) e ainda, constituem-se contratos de adesão, pois não há discussão das cláusulas, de modo que o contratante tem uma proteção mais abrangente.
	Outrossim, trata-se de contrato bilateral, pois gera direitos e deveres à ambas as partes; consensual; não solene; impessoal; oneroso e comutativo. Sempre gera, por sua natureza, uma obrigação de resultado.
	Finalmente, firma-se a distinção entre o contrato de transporte cumulativo, em que há somente um contrato de transporte e vários transportadores, previsto no art. 733; e o segmentado, onde os trechos são contratados separadamente, havendo, portanto, diversos contratos de transporte.
13. 	Seguro: Conceituado no art. 757 e tutelado entre este artigo e o 802 do Código Civil, é o contrato em que o segurador se obriga, por pagamento de prêmio, a garantir os interesses legítimos do segurado, assegurando o direito de ser indenizado pelo segurador em caso de consumação dos riscos predeterminados.
	Os tipos de contratos de seguro são os mais diversos, indo desde a proteção de veículo, até a vida. Trata-se, dessa forma, como aduz Stolze e Pamplona (p.1158), de contrato importantíssimo no contexto atual e ainda, que também pela atualidade, é concretizado por meio de contrato de adesão: 
Em todos os momentos, portanto, o risco se faz presente, e os seus contornos e matizes ficam cada vez mais nítidos em uma sociedade marcada pelo avanço tecnológico e pela imprevisão institucionalizada. [...] E, dada a multiplicação incessante de situações de risco, típico aspecto de uma sociedade de massa, o seguro, hoje, concretiza-se, principalmente, por meio de contratos de adesão.
	Ademais, o contrato de seguro, mesmo firmado por adesão, é guiado pelo princípio do mutualismo e da boa-fé. Assim, são características principais do contrato: onerosidade; consensualidade; aleatoriedade, já que o risco é fator determinante do negócio, que se vincula a evento futuro e incerto; não se trata, porém, de contrato comutativo, pois poderia servir de álibi às seguradoras.
	Finalmente, divide-se o seguro em duas espécies: o seguro de dano, dirigido a garantir contra danos em bens, em que o valor está restringido ao valor do bem segurado, previsto do art. 778 ao 781; e o seguro de pessoas, que se destina a garantir quantia por conta de lesão sobre a personalidade do segurado ou de terceiros.
14. 	Jogo e aposta: A doutrina aduz que jogo se distingue da aposta por dois motivos, sendo o primeiro a participação, pois na aposta as partes não influenciam para o resultado; e o segundo, pelo motivo, já que no jogo ele seria a distração ou o ganho.	Em todo caso, trata-se de contrato: bilateral; oneroso; consensual; aleatório e informal.
	A ressalva mais importante quanto ao jogo é em relação à obrigação do seu pagamento. Ora, a doutrina o conceitua como débito sem responsabilidade, de modo que a dívida não obriga ao pagamento, não podendo ser exigida judicialmente. Dessa forma, cabe a análise de Tartuce (p.1257):
Como se sabe, em regra, as dívidas de jogo e aposta constituem obrigações naturais ou incompletas, havendo um débito sem responsabilidade (“debitum sem obligatio” ou “Schuld sem Haftung”). Isso pode ser percebido pelo art. 814 do CC: “as dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito” 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHREIBER, Anderson. Manual de direito civil: contemporâneo / Anderson Schreiber. – 3. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020
STOLZE, Pablo ; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Manual de direito civil – volume único / Pablo Stolze; Rodolfo Pamplona Filho. – 4. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.

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