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Princípios do Direito do Trabalho Brendha Ariadne Cruz – 3º Termo (Toledo Prudente) 16/04/2021 Divide-se em princípios gerais e específicos do direito do trabalho. Mas, antes é necessário a análise da definição de princípio. Trata-se de um mandamento nuclear de um sistema, alicerce dele, sendo uma disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata apreensão e inteligência. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO i. Dignidade da Pessoa Humana: o trabalhador é ser humano, deve possuir condições dignas de trabalho. Contudo, em algumas relações de emprego existe ofensa a tal princípio. Trabalhadores são humilhados, explorados e coagidos em alguns casos. Por exemplo, o caso em andamento do professor sobre assédio sexual. ii. Igualdade: art. 5º. Busca igualar as relações. Ou seja, existe a proibição de distinção entre sexo, nacionalidade, raça, idade... iii. Princípio da liberdade: a liberdade no Direito do Trabalho pode se manifestar de diversas formas. a) locomoção – trabalho em condição análoga a de escravo; b)política/orientação política; c) religiosa; d) sexual/orientação sexual; iv. Boa-fé: está ligado a expectativas recíprocas, esperança de que as partes cumpram o combinado. Pode levar ao rompimento do contrato de emprego. Exemplo de expectativa não concretizada: 1) comum: empregador que não paga horas extras trabalhadas; 2) Empregado não cumpre aquilo que lhe foi determinado; 3) ART. 482, ALÍNEA "A", "IMPROBIDADE" (CLT) – apresentação de atestado médico falso, rasura de cartão de ponto, apropriação de valor pelo empregado PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO DO TRABALHO i. Proteção (ao trabalhador): mais genérico/básico de todos os princípios específicos. Trata-se de um princípio elementar e fundamental. Ligado à origem e sentido de existência do direito do trabalho, que é a hipossuficiência do trabalhador. → Um problema deste princípio é a sua amplitude/generalidade, a qual da margem para uma aplicação dotada de subjetividade. Além de servir de fundamento para “tudo”. - Conteúdo do princípio: “O direito do trabalho estrutura em seu interior (princípios, regras, instituições, etc.). Trata-se de uma teia de proteção à parte hipossuficiente na relação empregatícia, o obreiro, visando retificar o desequilíbrio inerente ao plano fático do contrato de trabalho. *** POSSÍVEL MITIGAÇÃO, RELATIVIZAÇÃO DO PRINCÍPIO NO CASO DO EMPREGADO HIPERSSUFICIENTE?? (ARTIGO NO PORTAL - AUTONOMIA) ii. In dubio pro operario: assemelha-se in dúbio pro réu, do Direito Penal, onde o réu é a parte mais fraca assim como o trabalhador também o é (réu/Estado; trabalhador/empregador). - Conteúdo do princípio: trata-se de um princípio de interpretação, pelo qual, diante de um texto jurídico (não apenas de leis, mas de qualquer fonte de direito do trabalho) que possa Princípios do Direito do Trabalho Brendha Ariadne Cruz – 3º Termo (Toledo Prudente) oferecer dúvidas ao intérprete e aplicador do direito, este deverá, dentre as várias interpretações possíveis, optar pela mais vantajosa ao empregado. Uma parte da doutrina defende a aplicação desse princípio em relação as provas em um processo trabalhista. Porem a doutrina majoritária não entende assim .Restringindo sua aplicação a textos jurídicos. 23/04/2021 iii. Princípio da continuidade da relação de emprego - Conteúdo do princípio: é de interesse ao direito do trabalho e à sociedade, a permanência do vínculo de emprego – vantagens sociais: educação; bem-estar do trabalhador. Dessa forma, criam-se mecanismos jurídicos-legais para manter os empregos o máximo de tempo possível. 1º) Hipóteses de estabilidade: no ramo privado tais hipóteses são provisórias. Trata-se do direito de o empregado não ser dispensado sem justa causa pelo empregador, mesmo que esse queira dispensar. Por exemplo, estabilidade gestacional; vítima de acidente de trabalho; empregado dirigente sindical, etc. 2º) Pagamento de multa pelo empregador em caso de dispensa sem justa causa (multa de 40% sobre o saldo do FGTS). 3º) Presunção de que os contratos de emprego sejam indeterminados: Quanto à duração dos contratos: dividem-se em indeterminados e determinados. 1) Indeterminado: no momento do ajuste as partes não têm intenção de encerrá-lo e não tem previsão de quando irá acabar. 2) Determinado: no momento do ajuste, as partes têm intenção de que ele se encerre e sabem disso, há previsão de quando vai acabar. ➔ No momento do ajuste se as partes nada dispuserem, presumir-se-á que o contrato foi ajustado por tempo indeterminado. *** Mas, por qual motivo se presume que seja por tempo indeterminado? Pois, na relação indeterminado/determinado, somente no fim do contrato indeterminado sem justa causa é que existe a obrigação de pagamento da multa do FGTS, e, assim, pode ser que o empregador desiste e assim o contrato continue. No fim normal do contrato determinado, isto é, pelo alcance normal do seu final, não há obrigação de pagamento da multa. 4º) Poucas hipóteses de contratação por tempo determinado. A contratação dessa forma é possível apenas em situações previstas em lei (art. 433, par 2º). *** No caso do empregador contratar empregado por tempo determinado para situações que não se enquadrem nas do par. 2º, a consequência será a conversão do contrato em indeterminado, com consequente pagamento de todas as verbas rescisórias de uma dispensa sem justa causa (inclusive da multa do FGTS). *** Mas, por que o legislador previu poucas hipóteses? O sistema conduz, força a que os contratos sejam feitos por tempo indeterminado, para que no “fim das contas” tenha que se pagar a multa e, talvez, mantenha o emprego. iv. Princípio da primazia da realidade Primazia = prevalecer, ter preferência, vem primeiro/acima. Princípios do Direito do Trabalho Brendha Ariadne Cruz – 3º Termo (Toledo Prudente) Primazia da realidade = prevalência da realidade sobre o que? Numa relação de emprego, diversos documentos são produzidos e servem para representar um fato/acontecimento. Por exemplo, a carteira de trabalho indica seu cargo e outros detalhes. ➔ Mas, a questão é: todo documento representa fielmente a realidade que se pretende apresentar? Não. Pois, podem ser alterados/forjados/conter informações erradas. Por exemplo, empregador e empregado ajustam no contrato que o horário de trabalho será 8h – 17h Mas o empregador começa a sair às 17h20. Contudo, o ponto é realizado 17h devido a ordem dada. O empregador não paga horas extras ou paga, mas não inclui na folha de pagamento. Um dia, o empregado ingressa com uma ação e pede o valor de horas extras ou inclusão na folha de pagamento. A empresa se defende alegando que nunca fez hora extra e junta os cartões de ponto. O empregado apresenta testemunhas e as empresas documentos. E agora, qual prevalece? PREVALECE A REALIDADE FÁTICA EXPOSTA PELO DEPOIMENTO DAS TESTEMUNHAS. • Conteúdo doutrinário: instrumento para a verdade real – no direito do trabalho os fatos são mais importantes que documentos. Deve se pesquisar a prática concreta efetivada ao longo da prestação de serviços independente da vontade eventualmente manifestada pelas partes. ➔ Ou seja, ele está querendo dizer que independente do que as partes inseriram em um documento, mesmo que tenha sido produzido por ambas, com assinaturas de ambos para dar um ar de legitimidade, prevalece a realidade fática. 29/04/2021 v. Princípio da prevalência da norma mais favorável ao trabalhador O direito do trabalho é plurinormativo. Logo, pode acontecer a colisão de normas. Dessa forma, deverá ser aplicada a mais favorável ao trabalhador. • Conteúdo doutrinário: quando duas ou mais normas dispuserem sobre a mesma matéria, prevalecerá a que favorecer o trabalhador. Obs.: mesmo que uma normahierarquicamente inferior prevalecer sobre uma superior. Ex: CF, art. 7° - adicional de hora extra de no mínimo 50%; ACT ou CCT preveja adicional de 70%. Aplica-se aquilo que é mais benéfico. Atenção: art. 620, CLT – se houver conflito entre ACT e CCT, sempre prevalece ACT (EXCEÇÃO). ➔ Não confundir esse princípio com o In dubio pro operario. No in dubio há só 1 texto (uma só norma) que produz mais de uma interpretação. Nessa aqui há dois ou mais textos (normas) que tratam da mesma matéria. vi. Princípio da preservação da condição mais benéfica A partir do momento que o patrão melhora a condição do empregado, não pode regredir. As condições benéficas devem ser preservadas. → Importante lembrar do Direito Adquirido previsto no art. 5º da CF, este princípio está ligado à ideia de estabilidade do empregado e financeira. Por isso que deve-se tomar cuidado no momento de concessão de direitos que impactarão financeiramente na empresa, já que pode ocorrer a impossibilidade de retirar/suprimir tais direitos. Contudo, a condição mais benéfica pode ser suprimida. Por exemplo, quando uma condição for prevista em uma norma coletiva que, com a perda de sua vigência e redação de uma nova, não contenha mais a previsão desse direito. Princípios do Direito do Trabalho Brendha Ariadne Cruz – 3º Termo (Toledo Prudente) OBS: então, em regra, a condição mais benéfica deve ser preservada, com base no artigo 468, CLT, E, S. 51, TST Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. SÚMULA Nº 51 – TST - NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurispru-dencial nº 163 da SBDI- 1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. 30/04/2021 vii. Princípio da irrenunciabilidade: Em regra, os direitos trabalhistas são irrenunciáveis. Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. Mas, nenhum direito trabalhista é renunciável? A doutrina e a jurisprudência formam um certo consenso de que dentre os inúmeros direitos trabalhistas existentes, há uma parcela deles que é irrenunciável – especialmente direitos fundamentais do art. 7º CF – cláusulas pétrea → núcleo intangível de direitos. Tal ideia ficou reforçada com o art. 611-B, CLT, o qual trata dos direitos irrenunciáveis pelas partes. Restariam direitos renunciáveis criados pelas próprias partes, derivados da autonomia destas, por exemplo, direitos criados em contrato de emprego, regulamento de empresa, ACT e CCT ➔ Como pode ser renunciado? Tem-se admitido a renúncia na transição entre normas coletivas. • Doutrina e jurisprudência dividem a história do contrato de emprego de um indivíduo em 3 momentos: 1) Admissão/contratação - não se admite renúncia, ou seja, caso a renúncia tenha ocorrido será inválida. 2) Existência/ duração do contrato – não se considera válida, pois o Estado de Sujeição do trabalhador ainda permanece, agora com medo de perder emprego 3) Pós-extinção do contrato – Aqui é admitida na maioria dos casos, especialmente se for feita em um processo. Ex: acordo.
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