Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANTI-INFLAMATÓRIOS CASO CLÍNICO 01 Mulher, 28 anos, relata que estava caminhando no shopping com sapatos de salto quando se desequilibrou em um desnível do assoalho e “torceu” o tornozelo. No dia seguinte procurou o pronto-atendimento de ortopedia, pois sentia dor intensa e dificuldade para deambular. No momento do exame apresentava dor, hematoma, edema e a área estava quente ao toque. O médico solicitou radiografia para avaliar a existência de fraturas, o que foi descartado após o exame. Descartada a fratura, o que os sinais e sintomas apresentados pela paciente sugerem? Sugere uma inflamação aguda, devido ao tempo e aos sinais flogísticos da inflamação. Sinais flogísticos: edema,dor, vermelhidão (rubor), calor e perda da função. Qual conduta você adotaria? Indicar uma imobilização da área, crioterapia, gelo, repouso e prescrever um medicamento AINEs (anti-inflamatórios não esteroides). Preescreveria algum fármaco para alívio dos sintomas? qual? justifique AINEs, funcionam por meio da inibição da função da enzima ciclo-oxigenase (COX) e, assim, reduzem a produção de prostaglandinas. CASO CLÍNICO 02 Mulher, 64 anos, costureira de uma fábrica de roupas, hipertensa há 8 anos, em uso de losartana (100 mg/dia). Em consulta de rotina de cardiologista relatou que, há aproximadamente 4 meses, começou a sentir as articulações dos dedos das mãos inchadas, quentes, dolorosas, associada à rigidez matinal nas articulações que perdurava por até 2 horas e relacionou esses sintomas à grande carga de trabalho manual da sua atividade profissional. Progressivamente, passou a sofrer também de fortes dores nas articulações das mãos e dos pés, posteriormente envolvendo punhos, cotovelos, ombros, joelhos e região reumatologista. Diante do quadro, a paciente foi encaminhada para uma consulta com um reumatologista. Na consulta, ao exame físico, articulações metacarpofalângicas, interfalângicas proximais, punhos e joelhos estavam edemaciados e quentes. Referiu que, após o início dos sintomas, passou a ter extrema dificuldade para executar sua atividade profissional e de cuidado pessoal (pentear-se, escovar os dentes…), principalmente pela manhã, mesmo após o alívio da rigidez. Após exames complementares foi diagnosticado com artrite reumatóide. Que tipo de processo inflamatório é característico da artrite reumatóide? Doença autoimune, onde ocorre um processo inflamatório crônico. Nesse caso faz o uso de corticoides, para frear o processo de inflamação, atuando em várias vertentes, não somente nas prostaglandinas. - O tratamento farmacológico prescrito para evitar a progressão da doença foi Metotrexato (15 mg/semana) e Prednisona (10mg/dia por 2 semanas e 5 mg/dia por 3 meses). - Para alívio das dores e edema foi prescrito naproxeno (2x/dia por 2 meses) associado a omeprazol (20mg/dia em jejum). O tratamento farmacológico prescrito para evitar a progressão da doença foi: Metotrexato (imunossupressor) Prednisona (corticóide - ação nuclear) - inicialmente 10 mg/dia por 2 semanas (uso agudo - período curto) e 5 mg/dia por 3 meses (uso crônico - período longo - dose menor porque tem menor chance de causar supressão do eixo - impedindo a progressão da doença, pois não tem cura). MENOR A DOSE (ESQUEMAS POSOLÓGICOS) É MELHOR PARA O PACIENTE. → o corticoide é uma “bomba” → efeito colateral dos corticoides: supressão das adrenais. → omeprazol - protetor gástrico - inibidor de bomba de prótons - diminui o ácido clorídrico. O médico indicou esse medicamento junto com o naproxeno, para proteger a mucosa gástrica. → O médico indicou o naproxeno (AINEs)?? OBJETIVO DA AULA: • Diferenciar os AINEs e AIEs de acordo com seus mecanismos de ação • Conhecer o emprego clínico dos anti-inflamatórios • Discutir as indicações e principais contra-indicações de cada uma das classes dos anti-inflamatórios QUESTÕES NORTEADORAS: • Como ocorre o processo inflamatório e quais são os principais mediadores envolvidos? • Como é o mecanismo de ação dos AINEs e dos AIEs? • Quais as principais indicações e contra-indicações dos AINEs e dos AIEs? • Quais os principais efeitos colaterais dos AINEs e dos AIEs? INFLAMAÇÃO A inflamação é uma resposta normal do organismo como forma de defesa devido alguma lesão tecidual, isso pode ocorrer através de uma queimadura, uma bactéria, radiação, trauma, infecção, entre outros motivos e essa reação então tem como objetivo destruir qualquer invasor presente no organismo. Quando ocorre esse processo é ativado então uma cascata de reações com eventos bioquímicos, vasculares e celulares. FISIOLOGIA DA INFLAMAÇÃO A resposta inflamatória é a inicial da lesão tecidual ou celular, fazendo com que ocorra um aumento de permeabilidade vascular e migração dos leucócitos (principalmente os leucócitos, que tem como principal função a defesa do organismo). Os principais sinais numa inflamação são os cincos sinais cardinais; calor (aquecimento), rubor (vermelhidão), tumor (inchaço), dor e perda de função, todas essas respostas são geradas por subtâncias do plasma, do endotélio, dos leucócitos e das plaquetas, as quais são responsáveis por regular a inflamação. Dentre esses mediadores químicos da inflamação tem as prostaglandinas (principal precursor é o ácido araquidônico, que influencia no processo inflamatório) que tem como função aumentar a ação capilar do vaso, atraindo cada vez mais leucócitos para o local da lesão. A produção do ácido araquidônico pode ser feita através de duas vidas, a ciclo-oxigenase e a via lipoxigenase. Via ciclo-oxigenase: envolve duas isoformas (COX-1 e COX-2) e é responsável pela síntese das prostaglandinas (PGs), tromboxanos e prostaciclinas. • COX-1 (constitutiva) – importante na regulação da homeostase. • COX-2 (induzida e constitutiva) – importante no processo inflamatório e constitutivamente no endotélio, cérebro, intestinos, rins, testículos, ovários, tireóide, pâncreas. • COX-3 (isoforma da COX-1) – encontrada no cérebro, na medula espinal e coração. Via lipoxigenase: responsável pela síntese final de moléculas como os leucotrienos, porém não está diretamente relacionada à ação dos anti-inflamatórios. FARMACOCINÉTICA A absorção dos AINES é rápida (entre 1 a 4 horas) e sua meia vida varia, porém no geral tem uma ação curta (menos de seis horas, incluindo ibuprofeno, diclofenaco, cetoprofeno e indometacina) já a ação prolongada tem mais de seis horas (naproxeno , celecoxibe , meloxicam , nabumetona e piroxicam). INFORMAÇÕES SOBRE OS AINEs: - Tem absorção no trato gastrointestinal - tem picos de concentração de 1-4 horas - metabolismo hepático - excreção renal TRATO GASTROINTESTINAL PROSTAGLANDINA E2: Tem como principal função aumento da vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, fazendo com que tenha um aumento de muco e bicarbonato no trato gastrointestinal. A PGE2 aumenta a sensibilidade à dor e outros estímulos que interagem com as citocinas, causando então a febre.Isso acontece porque ela age como sensibilizadores nociceptores (hiperalgesia) que estimulam os centros hipotalâmico de termorregulação. PROSTAGLANDINA D2: A PGD2 é o principal metabólito da via da cicloxigenase nos mastócitos; em conjunto com PGE2 e PGF2-alfa (que se distribuem mais amplamente e é responsável pela contração do útero, ou seja, as mulheres ao sentirem cólica e tomarem um anti-inflamatório inibe a prostaglandina F2, fazendo com que o útero relaxe, eliminando a dor), causa vasodilatação e potencializa a formação de edema (inibição da agregação plaquetária). PROSTAGLANDINA I2: A prostaglandina I2 (prostaciclina) predomina no endotélio vascular e atua causando vasodilatação e inibição da adesividade plaquetária., fazendo com que tenha um aumento no muco e no bicarbonato do trato gastrointestinal. A principal limitação no uso dos AINES são os seus efeitos gastrointestinais que estão entre os mais graves. Os efeitos colaterais podem variar desde leve dispepsia até hemorragia maciça causada por úlcera gástrica perfurada, como resultado de inibição da produção de prostaciclina.A irritação gástrica também pode ser causada por irritação direta dos próprios medicamentos. Embora os inibidores de COX-2 sejam mais específicos para a enzima COX-2, alguns ainda retêm certa inibição de COX-1, causando risco de sangramento gastrintestinal, embora menos que AINEs não-específicos. RENAIS Sob condições fisiológicas normais, a prostaciclina e o óxido nítrico levam ao relaxamento do músculo liso no endotélio vascular e, portanto, à vasodilatação. - PGE e PGI mantém a vasodilatação compensatória na arteríola aferente em resposta à norepinefrina ou angiotensina II - Especialmente em pacientes com comprometimento renal, pacientes idosos, cardiopatas ou hepatopatas: A inibição de produção de prostaciclinas pode levar a uma taxa menor de filtração glomerular, retenção de sal e água, e lesão renal aguda. A prostaglandina I2 (prostaciclina) - anti agregante, predomina no endotélio vascular e atua causando vasodilatação e inibição da adesividade plaquetária., fazendo com que tenha um aumento no muco e no bicarbonato do trato gastrointestinal. O tromboxano A2 (pró-agregante), predominante nas plaquetas, causa efeitos contrários como vasoconstrição e agregação plaquetária. RESPIRATÓRIO Um mecanismo de ação proposto é que a inibição do metabolismo do ácido araquidônico pela COX leve ao aumento na produção de leucotrienos. Os leucotrienos têm ações broncoconstritoras diretas. O paciente tem asma e desenvolveu uma dispneia, tosse, o que aconteceu com esse paciente? Os AINEs podem causar crise de asma, uma vez que a redução da formação de prostanoides pela inibição da COX, aumenta a via da lipooxigenase causando aumento dos cis leucotrienos que atuam levando à broncoespasmo. NÃO ESTEROIDAIS - AINEs Fármacos que apresentam propriedades analgésicas, antipiréticas e anti-inflamatórias usados no tratamento dos sintomas da inflamação. AÇÃO ANALGÉSICA (CONTROLE DA DOR): Os AINEs diminui as PGs (prostaglandinas) que sensibilizam nociceptores a mediadores inflamatórios como bradicinina, ILs e histamina, respondendo menos a dor, devido a diminuição da prostaglandina e a consequente diminuição da sensibilização. Exemplo: bursite, artrite, dor de dente, cefaléia, dores musculares, cólica, etc. AÇÃO ANTIPIRÉTICA (CONTROLE DA FEBRE): IL-1, IL-6, TNF-α no hipotálamo induzem a produção de PGE2 que aumenta a taxa de disparos dos neurônios alterando a termorregulação. - AINEs impede a produção de PGE2. CLASSIFICAÇÃO DOS AINEs QUANTO A SUAS AÇÕES AINEs ATÍPICOS: fármacos que são bons antitérmicos e analgésicos, mas NÃO são bons anti-inflamatórios. Exemplo: ácido acetilsalicílico (AAS), paracetamol e dipirona. AINEs TÍPICOS: todos os outros, exceto os que são atípicos. ▪ Não Seletivos: inibem COX-1 e COX-2. ▪ Seletivos: inibem a COX-2. Os seletivos reduzem prostaciclinas e por isso causam agregação plaquetária e formação de trombos. AINEs ATÍPICOS ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS) - AINE mais prescrito. - Bloqueio irreversível da COX-1 - fisiológica (modifica a enzima). - Usos: dor leve e moderada, cefaléia, mialgia, artralgia, anti-agregante plaquetário. - Contra indicados em caso de suspeita de dengue. - Efeitos farmacológicos: - Anti-inflamatório: interfere na biossíntese de PGs (efeitos em doses altas (1g, 4-6 h ) - Analgésico: eficácia para reduzir dor de baixa a média intensidade (325 - 650 mg, 4-6 h) - Antipirético: reduz a temperatura de forma rápida e eficaz - Antiagregante plaquetário: 100 até 325 mg - Uso crônico de AAS: para cirurgias, suspender o uso ~10 dias antes do procedimento. AA (ACIDO ARACDONICO) Produz prostaciclina, no vaso faz vasodilatação (efeito autócrino). Célula endotelial: - Ácido araquidônico por ação de COX 1 produz PGI2 que ocasiona vasodilatação. - TXA2 por aumento de Ca2 + leva à vasoconstrição. Plaqueta: - PGI2 causa diminuição da agregação. - TXA2 por aumento de Ca2+ leva à agregação plaquetária MECANISMO DE AÇÃO DO AAS: - Inibição irreversível de COX 1. - Redução de TXA2 leva a redução da agregação plaquetária. BAIXAS DOSES DE AAS, BAIXA QUANTIDADE DE TROMBOXANO. IMPORTANTE: A Cox 1 é inibida ate 325mg, acima disso o fármaco vai começar a inibir COX2, diminuindo prostaglandina, que diminui o efeito de agregante plaquetário. PARACETAMOL (ACETAMINOFENO) - Muito utilizado em crianças, para reduzir a febre e alívio de dor - Menos efeitos em plaquetas e TGI – pois é um fraco bloqueador de COX-1 - Extremamente hepatotóxico (cuidado com a dose – não exceder 4g/dia) - Tratamento de intoxicação por paracetamol: • Lavagem gástrica com carvão ativado • N-acetilcisteína – em casos de que o fármaco já foi absorvido. A N-acetilcisteína é um fármaco antioxidante. Farmacodinâmica - Efeitos analgésicos e antipiréticos fortes - Efeitos anti-inflamatórios menos pronunciados Efeitos indesejáveis - Reações cutâneas alérgicas - hipersensibilidade - Lesão renal - Hepatotoxicidade Contraindicações - Hipersensibilidade ao fármaco - IR (insuficiência renal) ou comprometimento hepático Farmacocinética - Via oral - Rapidamente absorvido • Altas doses à Bioativação à Saturação das enzimas hepáticas à Hepatotoxicidade • Meia vida 2-4h (doses terapêuticas) 4-8h (doses tóxicas) Por que ocorre a hepatotoxicidade? O paracetamol ao ser metabolizado, em caso de ingestão de doses, haverá indução de morte dos hepatócitos. Isso ocorre pois, a glutationa (GSH), que é um antioxidante endógeno que é produzido na via das pentoses fosfato. O excesso do metabólito NAPBQI irá se associar com a glutationa causando a inativação/destruição da glutationa. Dessa forma, irá acontecer estresse oxidativo que leva a morte celular. Outras formas de levar a morte celular é a associação de NAPBQI com proteínas de membrana, que irá destruí-las ou ele pode causar a peroxidação de lipídeos de membrana ou pode se oxidar a grupos tióis. A inibição da morte celular não será completa, porém será bem reduzida. Resumido: A hepatotoxicidade é causada pelo estresse oxidativo, decorrente do excesso do metabólito NAPBQI, que irá induzir a morte de hepatócitos. DIPIRONA Farmacodinâmica - Efeitos analgésicos, antipirético e espasmolítico - Efeitos anti-inflamatórios menos pronunciados - Pró-droga – metabolização de 1a passagem - Inibição COX 1 e 2 (?) – ainda não é bem definido cientificamente - Inibição de síntese de prostaglandinas no SNC - Possível inibição COX-1 SNC – causando a inibição da síntese de prostaglandinas, favorecendo a diminuição da temperatura, em caso de febre Efeitos Indesejáveis - Reações cutâneas alérgicas - Agranulocitose (redução de neutrófilos, basófilos, eosinófilos) - Aplasia medular (deficiência medular) – diminuição de produção das células da medula - Hipotermia pode ocorrer Contraindicações - Hipersensibilidade ao fármaco - Função da medula óssea prejudicada ou doenças do sistema hematopoiético - Com deficiência congênita da glicose-6-fosfato- desidrogenase (G6PD) – Anemia Hemolítica Farmacocinética - Não está completamente elucidado - VO, IM, IV - Efeito analgésico em 30-60 min após administração e duram cerca de 4h AINEs TÍPICOS INIBIDORES NÃO SELETIVOS DA COX ÁCIDO ACÉTICO: diclofenaco (cataflam e voltarem), indometacina, etodolaco e cetorolaco (toragesic). ÁCIDO PROPIÔNICO: naproxeno, ibuprofeno e cetoprofeno ÁCIDO ENÓLICO: meloxicam (melocox), piroxicam (feldene)
Compartilhar