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• O retorno do conteúdo gástrico através do esfíncter esofagiano inferior é o refluxo gastroesofágico o Quando causal e de curta duração é fisiológico e assintomático • O refluxo interprandial recorrente e de longa duração origina sintomas que resultam da agressão a mucosa esofágica pelo material refluído → doença do refluxo gastroesofágico o Afecção crônica secundária ao refluxo patológico de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e órgãos adjacentes, acarretando sinais e sintomas esofágicos/extraesofágicos que podem ser acompanhados ou não de lesões teciduais • É o distúrbio mais comum do TGI alto no mundo ocidental → 75% das esofagopatias • A pirose (queimação retroesternal) é utilizada na epidemio como indicativo da presença de refluxo patológico → referido por 20% da população • A DRGE pode aparecer em qualquer faixa etária, mas a prevalência aumenta com a idade o Na criança, predomina em lactentes → desaparece em 60% ate os 2 anos, e quase 100% ate os 4 ▪ Principal explicação é a imaturidade do EEI e a permanência em posição recumbente • Os sintomas tendem a ser mais frequentes e intensos em pessoas obesas e durante a gestação • A esofagite erosiva relacionada a DRGE é fator de risco para o adenocarcinoma de esôfago → podendo ocorrer por metaplasia intestinal → epitélio estratificado normal substituído por um colunar com maior resistência o pH acido o Quando 1/3 distal do esôfago apresentar essa alteração → condição chamada de esôfago de barrett ▪ Esse epitélio é mais propenso a evoluir com displasia progressiva, podendo culminar em neoplasia maligna (adenocarcinoma) o O aumento da prevalência de DRGE explica aumento da incidência desse câncer nas ultimas décadas • O risco geral de câncer de esôfago secundário a DRGE é baixo → dos portadores de pirose diária, um em cada 2500 pctes/ano desenvolverá esse câncer o A chance aumenta para 200/ano na presença de esôfago de barrett • Três anormalidades básicas podem originar refluxo RELAXAMENTOS TRANSITÓRIOS DO EEI NÃO RELACIONADOS À DEGLUTIÇÃO • 60-70%, mais comum • Característico de pctes sem esofagite ou com esofagite leve → refluxo menos intenso e + prolongado • Relaxamento mediado por reflexo vagovagal anômalo (vago aferencia e eferencia do reflexo) estimulado pela distensão gástrica • O relaxamento patológico é mais duradouro (> 10s) e não seguido de peristalse esofagiana eficaz HIPOTONIA VERDADEIRA DO EEI • A pressão média do EEI costuma ser normal (entre 10-30 mmHg), mas alguns pctes tem o esfíncter constantemente hipotônico (< 10 mmHg) • Na maioria das vezes não tem etiologia, mas algumas condições podem justificar o Esclerose sistêmica (fibrose e atrofia da musculatura esofagiana), lesão cirúrgica, tabagismo, uso de drogas com efeito anticolinérgico ou miorrelaxante, e a gestação o A própria esofagite erosiva é capaz de reduzir o tônus do EEI → agressões repetidas resultam em fibrose e atrofia da musculatura → gerando um ciclo vicioso. o Hormônios como a colecistocinina (CCK) e a secretina também reduzem o tônus do EEI • Este é o principal mecanismo patogênico em pctes com esofagite erosiva grave → o refluxo aqui tende a ser mais intenso e mais prolongado DESESTRUTURAÇÃO ANATÔMICA DA JUNÇÃO ESOFAGOGÁSTRICA - HÉRNIA DE HIATO • As hérnias de hiato favorecem o refluxo uma vez que a musculatura diafragmática deixa de ser um reforço mecânico ao EEI o O EEI passa a ficar dentro da cavidade torácica, onde a pressão externamente exercida sobre esse é menor → isso facilita o re-refluxo, a partir do material no saco herniario • Esse fenômeno ocorre durante os relaxamentos fisiológicos do EEI induzidos pela deglutição • A hérnia de hiato nem sempre acompanha DRGE → mas no geral, se presente, costuma ser mais grave • O principal agressor da mucosa esofágica no DRGE é o material gástrico com pH < 4 o Em alguns pctes, refluxo de bile e secreções pancreáticas podem contribuir • A maioria dos episódios de refluxo intenso ocorre nas 3h após refeições • Quando o estomago está cheio, parte do suco gástrico produzido no fundo “boia” acima do bolo alimentar o Isso cria uma “bolsa acida” → localizada perto da cárdia, e o que reflui durante o relaxamento do EEI no periprandial ❖ Mecanismos de Defesa • Bicarbonato salivar, que neutraliza a acidez do material refluído • Peristalse esofagiana, que devolve esse material para o estômago o Contribuem para a ocorrência/gravidade da DRGE a disfunção das glândulas salivares (ex.: síndrome de Sjögren, medicamentos com efeito anticolinérgico) e distúrbios motores do esôfago. SINTOMAS ESOFAGIANOS • Pirose → principal sintoma, é a queimação retroesternal o Geralmente ocorre nas primeiras 3h após as refeições e ao deitar o Pode ou não ser acompanhada de regurgitação → percepção de fluido salgado ou acido na boca • Pode haver disfagia em 1/3 dos casos → sugere complicações como estenose péptica ou adenocarcinoma o Pode resultar apenas do edema inflamatório na parede do esôfago ou da coexistência de um distúrbio motor associado • Dor precordial → menos frequente, se faz diagnostico diferencial com angina o Geralmente associado a distúrbios neuropsiquiátricos SINTOMAS EXTRAESOFAGIANOS • Nesses casos há incompetência também do esfíncter esofágico superior • Podem ser relacionados ao refluxo ácido para a boca → erosão do esmalte dentário o Faringe → irritação da garganta, sensação de globus o Laringe → rouquidão, granuloma de corda vocal o Cavidade nasal → sinusite crônica, otite média o Árvore traqueobrônquica → tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa ▪ Broncoespasmo pode ser desencadeado indiretamente por um reflexo esofagopulmonar mediado pelo nervo vago • Em muitos pctes a DRGE funciona como fator agravante de alguma patologia extraesofagiana de base → se cogita a possibilidade quando os sintomas atípicos aparecem com os sintomas típicos ou sozinhos • Anemia ferropriva por perda crônica de sangue → aparece em pctes que desenvolvem esofagite erosiva grave, com formação de úlceras profundas → raramente evoluem com perfuração do esôfago • Na maior parte das vezes feito pela anamnese → quando o pcte refere pirose pelo menos uma vez por semana, por um período mínimo de 4 a 8 semanas. o A resposta à prova terapêutica (redução sintomática > 50% após 1-2 semanas de uso de IBP) é considerada o principal teste confirmatório → se não confirmar, faz-se exames • Os principais diagnósticos diferenciais da DRGE são → esofagite infecciosa ou eosinofílica o Dispepsia não ulcerosa, úlcera péptica gastroduodenal o Doença do trato biliar, doença coronariana, ou distúrbios motores do esôfago • Essas condições também podem coexistir com a DRGE → indício é a ausência de resposta ao tratamento ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA • Principal finalidade é identificar as complicações da DRGE → esofagite (30- 40%), estenose péptica, esôfago de Barrett e adenocarcinoma. • Também útil par a o diagnóstico diferencial com condições que simulam os sintomas de refluxo ❖ Se diz que o pcte tem esofagite de refluxo quando desenvolve alterações inflamatórias na mucosa esofagiana visíveis na endoscopia o Nem sempre essas alterações possuem correspondência direta com os sintomas → maioria dos sintomáticos apresenta EDA normal, enquanto outros, a despeito de esofagite grave, podem não referir queixa • Esofagite de importância é aquela que possui erosões → soluções de continuidade limitadas à mucosa, com pelo menos 3 mm de extensão • Na vigência de esofagite erosiva devem ser coletadas biópsias da mucosa → costumam revelar hiperplasia da camada basal do epitélio estratificado, associada à papilomatose o A alteração histopatológica mais precoce é o aumento do espaço intercelular no epitélio estratificado → mostra que o ácido refluído “penetra” entre as camadas de células escamosas o A biópsia é imprescindívelpara confirmar o diagnóstico de esôfago de Barrett (metaplasia intestinal) e para a pesquisa de displasia/neoplasia nesse tecido PH-METRIA DE 24H • Método padrão ouro para a confirmação diagnostica → sensibilidade e especificidade de +90% • Indicações → sintomas refratários ao tratamento clínico o Avaliação de sintomas atípicos (ex.: tosse, rouquidão, dor torácica) o Documentação da real existência de DRGE antes de uma cirurgia antirrefluxo o Reavaliação de pacientes ainda sintomáticos após a cirurgia antirrefluxo • É passado um fino cateter dotado de 2 sensores de pH → um mais distal a 5 cm acima do EEI, e um mais proximal a 20 cm. o O refluxo é detectado pela queda do pH intraesofágico (pH < 4,0). o 6 variáveis são aferidas → percentual do tempo total de refluxo, tempo de refluxo em ortostase, tempo de refluxo em posição supina, número de episódios, n de episódios com > 5min, e duração do maior episódio • Através de uma fórmula, calcula-se o chamado “índice de refluxo” (Índice de De Meester) → sintetiza num único parâmetro todas as anormalidades encontradas • O diagnóstico estabelecido quando o índice de De Meester é > 14,7. o Ou se o pH intraesofagiano permanece abaixo de 4,0 por mais do que 7% do tempo de exame ESOFAGOMANOMETRIA • Não diagnostica, mas auxilia no planejamento cirúrgico e pode esclarecer um diagnostico diferencial • Utiliza um cateter capaz de medir a pressão em diversos pontos ao longo do órgão → quantifica o número e a intensidade das ondas peristálticas, além de se conseguir medir diretamente o tônus do EEI. o Define se a fundoplicatura será parcial (270º ou 180º) ou completa (360º) • Indicam-se fundoplicaturas parciais na vigência de fatores de risco para acalásia pós-operatória, como o Menos de 60% das ondas peristálticas atinge a porção final do esôfago o A pressão das ondas peristálticas é inferior a 30 mmHg ESOFAGOGRAFIA BARITADA • Pcte deglute contraste baritado e são obtidas imagens radiológicas que revelam a anatomia do esôfago. • O principal papel da esofagografia é na caracterização das hérnias de hiato. o Também podemos solicitar este método em pacientes com disfagia • A estenose péptica (benigna) aparece como afunilamento progressivo, enquanto o adenocarcinoma (maligno) demonstra súbita redução do lúmen (sinal do “degrau de escada”), tipicamente no terço distal ESTENOSE PEPTICA DO ESOFAGO • 5% dos portadores de esofagite erosiva, pela cicatrização intensamente fibrótica das lesões • Se inicia no terço inferior, ascendendo com o passar dos anos • A disfagia por obstrução mecânica é a característica clinica mais marcante → geralmente aparece de forma insidiosa, precedida por anos com sintomas como pirose o A pirose costuma diminuir/desaparecer quando a estenose é instalada → atua como barreira antirrefluxo • Esses pctes perdem pouco ou nenhum peso → pois o apetite é preservado e eles mudam a consistência da dieta e não reduzem a ingestão • Abaixo da estenose geralmente há epitélio metaplásico (barrett) o Biopsia sempre indicada para diferenciar de câncer • Tratamento feito com dilatação endoscópica por balão para aliviar a disfagia → número de sessões variável, dependo do grau de fibrose. • Estenoses que se refazem rapidamente podem receber injeção endoscópica de glicocorticoide (triancinolona), o que aumenta a durabilidade do procedimento. o É obrigatório manter esses pacientes com IBP em longo prazo. • A correção cirúrgica (esofagectomia) constitui medida de exceção → a cirurgia antirrefluxo pode ser considerada desde que a obstrução tenha sido aliviada com a dilatação, e câncer tenha sido descartado o A cirurgia antirrefluxo pode ser feita pois a fibrose do 1/3 distal do esôfago compromete o EEI → quando a dilatação é bem sucedida, o pcte passa a se comportar como se tivesse um EEI hipotônico, ficando predisposto à ocorrência de refluxo ainda mais grave ÚLCERA ESOFÁGICA • A esofagite de refluxo pode complicar com a formação de úlceras → lesões mais profundas que alcançam a submucosa e a muscular • Pctes se queixam de dor ao deglutir (odinofagia) e têm hemorragia digestiva oculta (anemia ferropriva) → raramente eles perfuram o esôfago. • As úlceras se localizam em áreas de epitélio metaplásico (“úlcera de Barrett”) → sempre presentes no 1/3 distal do órgão • Os principais diagnósticos diferenciais são a síndrome de Zollinger-Ellison (gastrinoma) e as úlceras induzidas por comprimidos. o No 1, o paciente apresenta múltiplas ulcerações em esôfago, estômago e duodeno, cursando com hipergastrinemia nos exames laboratoriais. o No 2, a lesão geralmente se localiza na altura da carina, local onde o lúmen esofagiano é naturalmente mais estreito, devido à compressão exercida por aquela estrutura → onde um comprimido pode ficar impactado, causando lesão química da mucosa esofagiana ASMA RELACIONADA A DRGE • O refluxo pode ser a única causa de broncoespasmo, ou a DRGE pode exacerbar uma asma existente o O tratamento da asma com agonistas beta adrenérgicos também pode induzir o refluxo • Suspeita-se em → asma de difícil controle, crises asmáticas no período pós prandial, e coexistência de sintomas típicos de DRGE o Na suspeita, pode-se indicar a realização de uma pHmetria de 24h • Se existirem sintomas típicos, se faz teste terapêutico com IBP em dose dobrada (2x dia) por 2-3 meses • O tratamento pode ser a manutenção do IBP na menor dose eficaz, ou com a cirurgia antirrefluxo o Preferência pela cirurgia pois → mesmo que o IBP suprima a acidez gástrica, a microaspiração continua ocorrendo ▪ Para serem eficazes no controle dos sintomas respiratórios, os IBP precisam ser empregados em doses elevadas, demorando de 2-3 meses para começar a surtir efeito • Os critérios de resposta clínica são → melhora de pelo menos 20% no VEF1 o Redução na dose de corticoide inalatório superior a 20%. ESOFAGO DE BARRETT • Quando o refluxo é acompanhado por esofagite erosiva, a cicatrização das lesões pode ser pela substituição do epitélio escamoso por um epitélio colunar de padrão intestinal, resistente ao pH ácido • É encontrado em 10-15% dos pacientes submetidos à EDA devido a sintomas de refluxo. o Doença principalmente de homens brancos o Prevalência aumenta com a idade → pico entre 45-60a, podendo estar presente cerca de 20 anos antes de ser reconhecida. o Obesidade também é fator de risco independente para EB. • Dificuldade no diagnóstico pela ausência de queixas específicas → os sintomas, quando presentes, são oriundos da DRGE subjacente, e muitos pctes são oligo ou assintomáticos o O epitélio colunar pode diminuir os sintomas da DRGE → até 25% dos pctes com EB são insensíveis ao ácido o O consumo de vinho tinto, a infecção crônica por H. pylori e a raça negra são fatores de proteção contra o esôfago de Barrett! ❖ Diagnóstico é suspeitado pela inspeção do endoscopista → típicas “línguas” de coloração vermelho- salmão no terço inferior o Confirmação feita pela biópsia → o que define a presença de metaplasia é o encontro de células caliciformes (repletas de mucina), identificadas pelo corante alcian-blue, que torna azuis claras • O grande problema do EB é que ele representa uma lesão precursora do Adenocarcinoma de esôfago o Risco 40x maior → 0,5% ao ano ou 10% total ▪ O risco não é suficiente para indicar uma intervenção a todos os casos → 90% não evoluirão com câncer • Só será indicada se houver displasia na biópsia • TODOS os portadores EB devem receber inibidores de bomba de prótons! • A maioria dos pctes apresenta forma mais ou menos branda (e sem complicações) → evoluindo com melhora dos sintomas após as medidas gerais antirrefluxo e drogas antissecretoras gástricas o A maioria (80%) também apresenta recidiva do quadro após a suspensão da terapia → beneficiando-se do retorno da mesma. • A cirurgia antirrefluxoé essencialmente reservada para casos refratários ou com complicações MEDIDAS ANTIRREFLUXO • Indicadas de maneira individualizada, conforme as queixas TRATAMENTO FARMACOLÓGICO • As classes de medicamentos são → bloqueadores do receptor H2 de histamina, inibidores da bomba de prótons e antiácidos ❖ BLOQUEADORES H2 → bloqueiam os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas → inibindo uma das 3 vias de estímulo neuroendócrino à secreção ácida (histamina, acetilcolina e gastrina) • Menos eficazes do que IBP → não devem ser prescritos se esofagite grave ou outras complicações • Devem sempre ser tomados 2x ao dia. ❖ INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS → inibem a H+ /K+ ATPase, bloqueando a via final para a secreção de ácido pelas células parietais do estômago • Drogas de escolha quando o pcte é muito sintomático, ou apresenta esofagite/outras complicações • A melhora da pirose é observada em 80-90%, desaparecendo por completo em 50% o A resolução da esofagite é esperada em > 80% quando a dose padrão é utilizada (1x dia, 30min antes do café da manhã), e quase todo o restante melhora quando a dose é “dobrada” (2x dia, 30min antes do café da manhã e jantar). • O omeprazol é o que tem maior número de interações, mas é também o mais barato • Raramente produzem efeitos adversos → cefaleia, diarreia e dor abdominal são os paraefeitos AGUDOS mais comuns → podem ser resolvidos com uma simples troca da medicação • Paraefeitos CRÔNICOS mais importantes → maior risco de enterocolite infecciosa, incluindo infecção por Clostridium difficile o Maior risco de pneumonia (enteropatógenos Gram-negativos que passam a colonizar a mucosa gástrica e podem ser aspirados) o Má absorção intestinal de ferro, cálcio, magnésio e vitamina B12 → provocando anemia (ferropriva e/ou megaloblástica), hipomagnesemia e fraturas osteoporóticas • Usuários crônicos estão mais propensos a desenvolver pólipos gástricos fúndicos, porém, o significado clínico deste achado ainda é incerto → a causa é a hipergastrinemia (estímulo trófico sobre as glândulas fúndicas), decorrente da hipo/acloridria gerada pelos IBP. ❖ ANTIÁCIDOS → hidróxido de alumínio/magnésio → neutralizam diretamente a acidez do suco gástrico, sem interferir na secreção cloridropéptica das células parietais. • NÃO são úteis no tratamento prolongado, pois seu efeito é de curta duração (cerca de 2h) o Podem ser utilizados como “SOS” para alívio imediato • Isolados não têm eficácia na cicatrização da esofagite erosiva ou outras complicações • Formulações com magnésio devem ser evitadas em portadores de DRC → risco de hipermagnesemia CIRURGIA ANTIRREFLUXO • O tratamento cirúrgico visa restabelecer a competência do EEI → circunda a extremidade inferior do esôfago com um manguito (ou válvula) formado pelo fundo gástrico → Fundoplicatura o Atualmente feita por videolaparoscopia preferencialmente → 85% de sucesso • Na presença de complicações, a maioria dos cirurgiões indica a cirurgia → alguns autores clínicos preconizem que, na vigência de controle farmacológico satisfatório, pode não se realizar a cirurgia. • Autores cirúrgicos defendem a cirurgia indivíduos jovens (< 49a) o Se a resposta ao tratamento clínico é satisfatória, a resposta ao cirúrgico será excelente o Estudos sugeriram que, em longo prazo, para jovens, seja mais custo-eficaz realizar a cirurgia antirrefluxo de maneira precoce • Autores clínicos → estudos que mostraram equivalência entre as abordagens clínica e cirúrgica após 5 anos (remissão da pirose em 85-92%) → porém, ao custo de mais efeitos colaterais da cirurgia ❖ FUNDOPLICATURA LAPAROSCÓPICA DE NISSEN → 360º → o estômago proximal é envolvido em torno do esôfago distal de maneira a formar uma barreira antirrefluxo ❖ FUNDOPLICATURAS PARCIAIS → 189-279º → indicadas se dismotilidade esofagiana (< 60% das ondas peristálticas completas ou a pressão delas < 30 mmHg) pelo menor risco de acalasia SINTOMAS LEVES E INTERMITENTES • Sintomas < 1x/semana → tratamento sob demanda • Drogas de escolha são antiácidos ou BH2 • Quando o pcte prevê o inicio dos sintomas, os BH2 devem ser tomados 30min antes da refeição SINTOMAS MAIS GRAVES E FREQUENTES • Drogas de escolha para tratamento inicial são os IBP 1x/dia por 4-8semaas o Se não melhora nas primeiras 2-4 semanas → 2x dia ▪ Se ainda não responder → exames complementares • Pctes que foram diagnosticados já com complicações, podem começar com 2x/dia • Pctes que respondem satisfatoriamente ao IBP na dose padrão dever tentar suspender a medicação após o tratamento inicial o Cerca de 80% tem recidiva nos primeiros 3 meses → reintroduzir IBP na dose padrão e mantê- lo indefinidamente ▪ Utilizar IBP na dose padrão mas intermitente → cursos alternantes de 2-4 semanas ▪ Utilizar IBP sob demanda ❖ TRATAMENTO DO ESÔFAGO DE BARRETT • Pcte deve realizar múltiplas biopsias a procura de displasia ou neoplasia o Na ausência de displasia → EDA com biopsia a cada 3-5a o Displasia de baixo grau → EDA anual ou terapia endoscópica o Displasia de alto grau → terapia endoscópica ou esofagectomia → 1ª de preferencia • A terapia endoscópica é pela ressecção da mucosa ou ablação com ondas de radiofrequência o Ressecção indicada na presença de nódulos ou irregularidades o Ablação para eliminar o restante do epitélio metaplásico • Distúrbio motor primário mais comum do esôfago o Incidência de 1 a 3/100.000, geralmente evidenciada entre 25 e 60 anos. • Caracterizada por 1. Déficit de relaxamento fisiológico do EEI durante a deglutição 2. Graus variados de hipertonia do EEI 3. Substituição total da peristalse normal do esôfago por contrações anormais → mais fracas, de pequena amplitude, ou muito vigorosas ❖ Causada pela degeneração de neurônios do plexo de auerbach na parede esofagiana o Ocorre perda de interneurônios inibitórios secretores de oxido nítrico ▪ Fisiologicamente, eles medeiam o relaxamento do EEI durante a deglutição, e a propagação sequencial da peristalse. o Em casos mais avançados também há perda de neurônios colinérgicos • Evidências sugerem que a causa da degeneração seja um processo autoimune atribuível a uma infecção latente pelo herpes-vírus humano tipo 1 em indivíduos geneticamente predispostos • A disfunção do EEI e do corpo do esôfago obstrui a passagem do bolo alimentar → originando a disfagia de condução o Costuma surgir insidiosamente, desenvolvendo-se ao longo de meses/anos • A obstrução a passagem do bolo alimentar faz com que o esôfago retenha material não digerido → podendo sobrevir graus de dilatação em seu corpo • Disfagia acompanhada de regurgitação e broncoaspiração o A regurgitação de material alimentar não digerido misturado com saliva ocorre em 1/3 dos pctes → podendo resultar em tosse e broncoespasmo, geralmente em decúbito ▪ Pode haver pneumonia e abcesso pulmonar ou bronquiectasias pela aspiração o Em estados avançados ocorre halitose • Perda de peso, geralmente insidiosa • Odinofagia não é sintoma característico, mas pode ocorrer principalmente no início da doença • Dor torácica relatada em alguns pctes nos estágios iniciais → pelas contrações vigorosas que tentam vencer o EEI ❖ A acalasia é uma lesão pré maligna → complicando de 1 a 10% dos casos em 15-25 anos • O mecanismo é a irritação da mucosa pelo material estagnado no corpo do esôfago RADIOGRAFIA DE TÓRAX o Ausência da bolha gástrica (ar no estômago) o Massa mediastínica tubular ao lado da aorta o Nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta → material estagnado no esôfago ESOFAGOGRAFIA BARITADA o Dilatação do corpo esofágico (megaesôfago) o Imagem de estreitamento em “bico de pássaro” na topografia do EEI o Atraso no esvaziamento esofagiano o Presença de contrações esofagianas não peristálticas ESOFAGOGRAFIA → permite classificara doença em diversos estágios (classificação de Rezende) I. Forma anectásica → esôfago de calibre normal (até 4 cm), com pequena retenção de contraste, 1min após a deglutição. II. Esôfago discinético → pequeno aumento de calibre (entre 4-7 cm) e franca retenção do contraste (megaesôfago leve) III. Esôfago francamente dilatado → megaesôfago clássico, entre 7-10 cm, atividade motora reduzida e grande retenção de contraste IV. Dolicomegaesôfago → maior que 10 cm ou tortuoso ESOFAGOMANOMETRIA → principal exame, principalmente se os radiográficos são normais ou inconclusivos. o Não relaxamento do EEI em resposta à deglutição (principal) o Graus variados de hipertonia do EEI o Aperistalse (ou ausência de contrações eficazes) ENDOSCOPIA ALTA o Confirma a dilatação do corpo do esôfago e exclui uma possível obstrução mecânica. o Uma “esofagite irritativa” (mas não de refluxo) pode ser detectada. ❖ Presença de refluxo gastroesofágico fala contra acalasia ❖ A acalásia deve ser diferenciada do carcinoma estenosante distal (pseudoacalásia) e da estenose péptica → todos com suspeita de acalásia devem fazer biópsia do esôfago distal e da cárdia • Dividida em acalasia primaria (idiopática e mais comum) ou secundaria (principalmente por chagas) o Nas áreas endêmicas da doença sempre devemos considerar a possibilidade de “esofagopatia chagásica” em pacientes com acalásia. • A invasão do plexo mioentérico pelo protozoário Trypanosoma Cruzi causa disfunção e necrose dos interneurônios responsáveis pelo relaxamento do EEI → e lesa neurônios importantes para a peristalse • A doença é mais comum no sexo masculino, e tem o mesmo quadro clínico da acalásia idiopática • Os exames baritados e manométricos apresentam as mesmas anomalias. • A acalásia chagásica acomete indivíduos na fase crônica da doença → diagnóstico sorológico: ELISA (método de escolha), ou a clássica reação de Machado-Guerreiro. • A acalasia não pode ser evitada/revertida por qualquer intervenção → objetivo é reduzir a pressão do EEI, de forma que a gravidade e a pressurização esofágica promovam esvaziamento do esôfago. • Nitratos (via sublingual) antes das refeições e antagonistas de cálcio (10 mg nifedipina VO 6/6h) reduzem a pressão do EEI → podem ser usados em pctes com sintomas leves a moderados. • Injeção intramural e circunferencial de toxina botulínica → pode ser usada quando resultados imediatos são desejáveis (eficácia de 90% em um mês) o Atua pela inibição de neurônios excitatórios parassimpáticos (colinérgicos) → duração de 3-6m o Reservada principalmente para os casos de alto risco cirúrgico • Pctes com sintomatologia proeminente ou refratários à terapia clínica devem ser abordados por métodos intervencionistas → dilatação endoscópica e cirurgia de miotomia do EEI. o Dilatação pneumática (por balão) do esfíncter → alivia os sintomas em 60-85% dos casos ▪ Problemas → perfuração esofágica, em 2-6% dos casos, e recidiva dos sintomas, em 50% ▪ O refluxo gastroesofágico desenvolve-se em 2% o Miotomia de Heller → secção das camadas longitudinal e circular da musc lisa do esôfago distal ▪ Aumenta o risco de refluxo → pode associar com fundoplicatura ▪ Sucesso em 70-90% • Distúrbio da motilidade de etiologia neurogênica → o peristaltismo normal é substituído por intensas contrações não propulsivas fásicas → principalmente nos 2/3 inferiores o Degeneração mais intensa nos axônios de neurônios inibitórios do plexo de auerbach • Mais rara que acalasia • A maioria dos pctes é do sexo feminino e possui distúrbios psicossomáticos associados • Dor retroesternal associada a disfagia para líquidos e sólidos o Pode ser intensa e se irradiar para as costas, lados do tórax, braços e mandíbula o Dura de alguns segundos a minutos o Em geral no repouso → mas pode se associar a deglutição, tensão emocional e exercícios • Dor sem disfagia confundida com angina • Sempre lembrar da possibilidade de EED para todo pcte com clínica típica de angina, sem evidências objetivas de doença coronariana → principalmente se houver queixa de disfagia DIAGNÓSTICO • Dado por meio da manometria → revela contrações prolongadas, de grande amplitude e repetitivas o Se inicial de forma simultânea nos 2/3 inferiores • É preciso que > 30% das contrações sejam desse tipo • Sempre investigar doença coronariana antes • Única classe que mostrou beneficio foram os ansiolíticos o Para muitos pctes, o esclarecimento da etiologia já traz alivio, possuindo efeito terapêutico • Os nitratos, antagonistas do cálcio e antidepressivos tricíclicos são uteis em alguns casos • A dilatação endoscópica com balão e injeção de toxina botulínica são empregadas com certo sucesso em pctes refratários ou que não toleram os medicamentos • Quando associado ao refluxo gastresofagiano, o tratamento antissecretor gástrico costuma aliviar os sintomas → a cirurgia antirrefluxo pode ser indicada para restituir a competência do EEI • Em geral, portadores de esofagite infecciosa são indivíduos imunodeprimidos CANDIDA ALBICANS • Fungo que habita normalmente a flora oral – determinadas condições favorecem mais o crescimento destes fungos em relação às bactérias • Pctes podem ser assintomáticos ou queixarem-se de odinofagia e, raramente, de disfagia. • A candidíase oral está em 75% dos casos → o diagnóstico de esofagite por Candida não pode ser dado só por causa disso, pois tal achado pode estar presente nas esofagites por outros agentes o A endoscopia revela placas mucosas amarelo-esbranquiçadas → coleta de material seguida por cultura sela o diagnóstico • Tratamento sistêmico, com fluconazol → casos resistentes podem ser tratados com caspofungina, voriconazol ou anfotericina B HERPES-SIMPLES • Geralmente cursa com odinofagia intensa e podem existir sintomas sistêmicos → febre (por vezes elevada), e vesículas nos lábios (1/3 dos casos) • A endoscopia revela vesículas umbilicadas e ulcerações PEQUENAS e PROFUNDAS → biópsias revelam corpúsculos de inclusão típicos • Tratamento com aciclovir, a princípio pela via oral, por 14 dias → via endovenosa indicada nos pacientes com apresentação mais extensa ou grave. CITOMEGALOVÍRUS • Pode causar esofagite ulcerada em pctes imunodeprimidos, caracterizando-se pela formação de uma ou mais úlceras GRANDES e SUPERFICIAIS. o Portadores de esofagite por CMV geralmente apresentam doença disseminada, com acometimento concomitante do cólon e da retina, por exemplo • O diagnóstico diferencial com esofagite herpética depende da análise de material por biópsia. o Toda úlcera esofágica deve ser SEMPRE biopsiada endoscopicamente em dois locais ▪ Bordas → onde se obtém maior positividade para o diagnóstico do herpes ▪ Centro → maior sensibilidade para o diagnóstico do citomegalovírus. • O tratamento deve ser feito com ganciclovir venoso ou com foscarnet → passando, posteriormente, para tratamento oral com valganciclovir. • Profilaxia secundária pode ser necessária devido ao grande número de recidivas • Também conhecida como esofagite alérgica, acomete crianças e adultos jovens → geralmente associada com história pessoal ou familiar de atopia o Gênese parece envolver alergia a alimentos, embora nem sempre seja identificado um específico. • A principal queixa é a disfagia, embora pirose e dor torácica também possam estar presentes. • Eosinofilia e aumento de IgE no sangue podem ser encontrados em metade dos casos, mais em crianças • A endoscopia pode revelar → presença de anéis mucosos, com aspecto de traqueia ao esôfago o Pápulas esbranquiçadas, correspondendo a microabscessos eosinofílicos o Erosões lineares • Em até 10% dos casos a endoscopia é normal • Biópsia é diagnóstica → mostra 15+ eosinófilos por campo de grande aumento o Testes cutâneos para pesquisa de alergia devem ser realizados, buscando a identificaçãodo alérgeno • A terapia consiste no uso empírico de IBP em dose dobrada (2x dia) por 8 semanas → seguido de nova EDA + biópsia o Se houver resolução dos sintomas e lesões, o diagnóstico é de eosinofilia esofagiana responsiva aos IBP → faz diagnóstico diferencial com a esofagite alérgica propriamente dita o Se o IBP empírico não resolver, o diagnóstico estará confirmado → inicia corticoterapia tópica com budesonida oral (suspensão) ou puffs de fluticasona (deglutir em vez de inalar) • Sempre que cabível, o alérgeno agressor deverá ser retirado da dieta • Herniação de vísceras (geralmente estômago) dentro do mediastino, pelo hiato esofágico do diafragma POR DESLIZAMENTO • 95% dos casos → quando a junção gastroesofágica e a cárdia do estômago sofrem translocação cefálica o Acontece em consequência do enfraquecimento do ligamento frenoesofágico que fixa a junção gastroesofágica o Elas aumentam com a elevação da pressão intra-abdominal, a deglutição e a respiração → resultado do desgaste e da laceração junto de fatores hereditários que predispõem essa condição • A incidência aumenta com a idade → pela diminuição do tônus muscular do diafragma • Predispõem os indivíduos acometidos por doença do refluxo gastroesofágico. PARAESOFÁGICA • O fundo gástrico se hernia para cima do diafragma, mas a junção esofagogástrica permanece normal • É mais frequentemente assintomática, • Classificados de acordo com a sua localização → mais comuns os epifrênicos, hipofaringe e mesoesofagicos • Os divertículos epifrênico e hipofaringe são pseudodivertículos → consistem na herniação da mucosa e da submucosa através da camada muscular do esôfago o Resultam da elevação da pressão intraluminal associada a obstrução distal.