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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES INSTITUTO DE PSICOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CAMILA TEODORO DA SILVA A CONSTITUIÇÃO DO APARELHO PSÍQUICO E A REGRESSÃO NOS SONHOS Trabalho apresentado à disciplina Teoria Psicanalítica II, ministrada pela professora Sônia Alberti, para obtenção de nota parcial no curso de graduação em Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro - RJ 2021 INTRODUÇÃO Na obra A Interpretação dos sonhos (FREUD, 1996), Freud começa a investigar os sonhos e busca, através de várias análises dos processos oníricos, correlaciona-las e tecer hipóteses psicológicas para poder explicar o sonho como um processo psíquico. Os sonhos seriam produzidos, segundo Freud, não somente objetivando a realização de um desejo, mas também como resultado da transformação de um pensamento, geralmente sobre algo desejado, em uma cena, ou seja, em imagens visuais e fala, sendo, portanto, vivenciado. Para explicar como ocorreria essa transformação, Freud começa a esboçar um quadro esquemático ilustrando como ele entendia o aparelho psíquico. Este trabalho visa mostrar a relação entre a explicação sobre a constituição do sujeito nos vídeos da Professora Sônia Alberti (PRINCÍPIO, 2021; PROCESSOS, 2021) e a regressão dos sonhos, que é a parte B do capítulo VII do texto que foi passado para leitura no mesmo módulo, A interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud. REPRESENTAÇÃO DO APARELHO PSÍQUICO Na parte B do capítulo VII de A interpretação dos Sonhos, Freud vai esboçar a primeira representação do aparelho psíquico, que seria um conjunto formado por dois sistemas, um sistema perceptivo (Pcpt), localizado na extremidade sensorial, por onde o sujeito recebe os estímulos, e um sistema motor (M), localizado na outra extremidade, e que daria acesso à atividade motora. O aparelho psíquico se constituiria como um aparelho reflexo, e os processos reflexos seriam o modelo das funções psíquicas. As percepções, ao deixar traços de memória na extremidade sensorial, provocariam modificações permanentes nos elementos do sistema. Mas o sistema Pcpt não poderia, ao mesmo temo, possuir as funções de percepção e memória. Para contornar esse problema, Freud fez uma distinção entre a parte que recebe os estímulos e a parte responsável pelo armazenamento dos traços mnêmicos (Mnem). Dessa forma, os vários sistemas mnêmicos recebem as excitações do primeiro sistema e as transforma em traços permanentes, ou traços mnêmicos. Mas essa representação ainda não era suficiente, pois deveria existir uma instância crítica com função de excluir da consciência a atividade de outra instância. A instância crítica deveria estar localizada na extremidade motora, por se relacionar com a consciência (Cs), que era a instância criticada e a responsável pelas ações voluntárias e conscientes do sujeito. Ao substituir essas instâncias por sistemas, Freud chega ao seguinte esquema do aparelho psíquico: Qualquer conteúdo pertencente ao inconsciente (Ics) poderá ser conhecido se for transcrito pela sintaxe do pré-consciente/consciente (Pcs/Cs). Isto é, o sistema Ics só pode ter acesso à consciência através do sistema Pcs/Cs. CONSTITUIÇÃO DO APARELHO PSÍQUICO A Professora Sônia Alberti, para explicar a constituição do aparelho psíquico, traz o exemplo da fome do bebê. Quando o bebê nasce, não há diferenciação entre Ics e Pcs, o seu corpo é regulado pelo princípio do prazer, a primeira lei do aparelho psíquico. O bebê vai buscar voltar ao estado em que as excitações se mantêm em um nível homeostático, em que ele [o bebê] não é perturbado pelas estimulações. A fome fará com que ele saia desse estado de prazer, devido a um aumento dos estímulos na parede do estômago, um desprazer. Na tentativa de descarregar esse quantum de excitação, ele vai tentar abreagir, chorando e se mexendo, por exemplo, mas isso não resolverá. A ajuda virá de fora, do seio, que ele sugará instintivamente, abreagindo ao quantum de excitação ao mesmo tempo em que a fome é aliviada. Isso configura uma experiência de satisfação. O bebê retorna, portanto, ao estado de prazer. Dessa experiência de satisfação, vão se inscrever na memória os traços mnêmicos, que neste caso, será a lembrança da representação do seio que se apresenta à percepção. O bebê passa a investir no traço mnêmico com o intuito de abreagir, sugando o seio do traço mnêmico, o seio alucinado, fazendo movimento de sucção e permitindo que as excitações caiam. Mas como não há leite, a fonte de excitação continuará. Ao gritar, a mãe escuta e dá o seio, tendo o bebê uma nova experiência de satisfação. Ele percebe que o seio da mãe, seio da realidade, é diferente do seio da memória, fazendo, portanto, uma diferenciação. Dessa forma, a alucinação se dará quando investirmos um quantum de excitação em um traço mnêmico que é, então, ativado. Após a diferenciação, da próxima vez que o bebê sentir fome, ele permitirá que a excitação cresça, que o limiar de aumento da excitação se estenda, para otimizar uma resposta ao princípio do prazer, sem precisar perder tempo alucinando o seio. Ele guarda o quantum para ter energia suficiente para chorar e ser ouvido. Essa é a segunda lei do aparelho psíquico, o princípio da realidade, que contradiz a primeira lei. Em nosso aparelho psíquico, permanecem os traços mnêmicos, os traços das percepções que incidem sobre o aparelho psíquico. Os traços mnêmicos são inserções das experiências de satisfação, aquilo que se quer repetir, mas também das experiências de desprazer, aquilo que se quer evitar. Essas inscrições vão formando uma memória. Os traços mnêmicos vão se inscrevendo e funcionam através do investimento ou do não investimento, ou seja, para se reviver as experiências, os traços mnêmicos podem ser investidos. Como nossas percepções ocorrem de forma simultânea a nossas memórias, ocorrem associações, que podem se dar por simultaneidade temporal ou similaridade, por exemplo. A maneira de associar um traço mnêmico a outro segue uma lógica de significante, ou por serem semelhantes ou por se ligarem a um terceiro significante. Essas relações são registradas no aparelho psíquico. A satisfação experimentada ou o desprazer não são inscritos como traços mnêmicos e, a cada experiência, novos gozos são experimentados. No Ics podem ser investidos traços mnêmicos diferentes ao mesmo tempo, porque nele não há contradição. Diferentemente do Ics e do Pcs, a consciência é a projeção dos traços mnêmicos na tela da percepção. Apenas pode ser projetado, na Cs, um traço mnêmico por vez. Podemos pensar, de forma análoga, em uma tela de televisão: ao se colocar muita coisa nessa tela, não é possível distinguir nada. REGRESSÃO Freud diz, em A interpretação dos Sonhos, que os pensamentos oníricos pertencem ao Pcs, e que o processo de formação dos sonhos se liga a eles. No entanto, a força propulsora dos sonhos, que é o desejo, é fornecida pelo Ics. Ele acredita que o desejo, durante o sonho, assim como outras estruturas do pensamento, fará um esforço para chegar ao Pcs e, então, ter acesso à Cs. Durante a vigília, o desejo seria barrado pela censura imposta pela resistência, mas durante o sonho, por haver uma queda na força da resistência, conseguiria o acesso. No entanto, Freud acredita que se somente houvesse uma diminuição da resistência, os sonhos seriam da ordem das ideias, e não possuiriam caráter alucinatório. Ele chega à conclusão de que o sonho alucinatório só é possível se a excitação se mover em direção retrocedente no aparelho psíquico, no sentido da extremidade sensorial, a fim de atingir o sistema perceptivo. Ele conclui que os sonhos têm um caráter regressivo, mas que a regressão também ocorrena vigília, como quando rememoramos algo. Neste caso, porém, só alcançamos imagens mnêmicas, sem produzir a revivescência alucinatória das imagens perceptivas. Nas visões e nas alucinações da paranoia e da histeria, também ocorre regressão, mas Freud diz que os únicos pensamentos que sofrem essa transformação são aqueles que se ligam de forma íntima a lembranças que foram outrora suprimidas ou que permaneceram inconscientes. Freud ressalta ainda que, se o processo onírico é uma regressão, então todas as relações lógicas pertencentes aos pensamentos oníricos desaparecem durante o sonho, ou só se expressam com dificuldade. Como essas relações não estão nos primeiros sistemas mnêmicos, mas sim em posteriores, elas só conseguem se expressar por imagens perceptivas na regressão: “na regressão, a trama dos pensamentos oníricos decompõe-se em sua matéria prima” (FREUD, 1996, p. 136). Ele também destaca os facilitadores da regressão. As lembranças com muita força sensorial querem ser revividas e atraem o pensamento que quer se expressar. Por outro lado, a resistência não deixa o pensamento chegar à consciência. Além disso, durante o sonho não entram estímulos sensoriais, facilitando ainda mais esse processo. O enorme papel que as experiências infantis ou as fantasias baseadas nelas desempenham nos pensamentos oníricos é muito destacada por Freud, além da frequência com que os fragmentos dessas experiências ou fantasias ressurgem no conteúdo dos sonhos e do quão frequentemente os próprios desejos oníricos derivam delas. Freud vai dizer, então, que o sonho é um substituto de uma cena infantil, modificada por transferir- se para uma experiência recente. As experiências de satisfação da infância, ou suas reproduções como fantasias, funcionam, portanto, como modelos para os conteúdos dos sonhos. REFERÊNCIAS FREUD, S. Capítulo VII – A psicologia dos processos oníricos. In: FREUD, S. A interpretação dos sonhos (II) e sobre os sonhos (1900-1901). Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 129-140. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 5). PRINCÍPIO do Prazer. 2021. 1 Vídeo (82 min). Publicado pelo canal Sônia Alberti. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5_5I8wZMgRc&t=3967s. Acesso em: 21 abr. 2021. PROCESSOS primário e secundário. 2021. 1 Vídeo (29 min). Publicado pelo canal Sônia Alberti. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ai7BRF4EmCs. Acesso em: 21 abr. 2021. https://www.youtube.com/watch?v=5_5I8wZMgRc&t=3967s https://www.youtube.com/watch?v=ai7BRF4EmCs
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