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CONNELL, Raewyn PEARSE, Rebecca Gênero uma perspectiva global

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CONNELL, Raewyn; PEARSE, Rebecca. Gênero: uma perspectiva global. Tradução Marília Moschkovich. São Paulo: nVersos, 2015.
	 Esta é uma obra que promove a reflexão acerca das formações de categorias de gênero e seus impactos a nível global. A proposta das autoras é que haja uma democratização do gênero. O uso de termos como “Norte Global” e “Sul Global” não remete a uma questão territorial, e sim ao papel econômico-político desempenhado e herdado por cada caís desde o período colonial, o qual pode ser observado ainda hoje em um contexto de globalização neoliberal. Para além disso, essa obra importa para a execução da tese pois coloca o gênero como um processo que passa pela corporificação, fazendo com que o corpo seja o principal campo de batalha das dinâmicas construtivas e mantenedoras de categorias de gênero. 
- “O gênero é uma dimensão central na vida pessoal, das relações sociais e da cultura. É uma arena em que enfrentamos questões práticas difíceis no que diz respeito à justiça, à identidade e até à sobrevivência” (p. 25).
- “Alguns homens acreditam que as mulheres que dependem deles são sua propriedade. Esse é um cenário comum da violência doméstica: quando as mulheres dependentes não aceitam as exigências de seus maridos ou namorados, são surradas. [...]. Homens não são tão frequentemente surrados por suas esposas e esposos, mas estão sob o risco de sofrerem outras formas de violência. A maioria das lesões registradas formalmente na polícia, em países que mantém esse tipo de estatística, é comunicada e causada por homens. Alguns homens sofrem violência física e outros, de fato, são assassinados, simplesmente por serem entendidos como homossexuais, e parte dessa violência vem da própria polícia. A maioria dos presos são homens” (p. 34-35). 
- “Os homens estão desproporcionalmente envolvidos em situações de violência parcialmente porque são preparados para isso. [...]. Meninos sofrem também pressão dos colegas para se mostrarem corajosos e implacáveis e temem ser taxados de “maricas” ou poofters (um termo local usado no sentido de afeminado ou homossexual). Mostrar-se capaz de cometer atos violentos se torna, então, um recurso social. Meninos da classe trabalhadora, que não têm acesso a outros recursos que os encaminhem a uma carreira, são massivamente recrutados para funções que operam com violência: polícia, Forças Armadas, segurança privada, crimes de colarinho azul e esportes profissionalizados. As mulheres jovens são as principais recrutadas para as funções que lidam com as consequências dessa violência: enfermagem, psicologia e assistência social” (p. 35-36). 
- Identidade de gênero: “[...] sensação de pertencimento a uma categoria de gênero. A identidade inclui nossas ideias sobre esse pertencimento e o que este significa, ou seja, que tipo de pessoa somos, como consequência de sermos mulher ou homem. Essas ideias não nos são apresentadas quando bebês como um pacote fechado no início da vida. Desenvolvem-se [...] e vão sendo detalhadas ao longo dos anos enquanto crescemos” (p. 38).
- “As pessoas constroem a si mesmas como masculinas ou femininas” (p. 39)
- “Em muitos países, incluindo alguns com populações muito densas, as mulheres têm menos chances que os homens de aprenderem a ler e escrever. Por exemplo, dados recentes sobre o analfabetismo na Índia mostram que 75% dos homens aprenderam a ler, enquanto apenas 51% das mulheres tiveram acesso à alfabetização” (p. 41). 
- Que é gênero? “Em última instância, vem de um radical que significa ‘produzir’ (generate / gerar) e que deu origem a palavras que significam ‘tipo’ ou ‘classe’ (genus) em diversas línguas. Na gramática, o ‘gênero’ se tornou uma referência à distinção específica entre classes de substantivos ‘que correspondem mais ou menos’ [...] ‘a distinções de sexo (e ausência de sexo) nos objetos de que se trata’” (p. 45)
- O ideal para pensarmos em uma política de gênero é não mais focar nas diferenças, e sim nas relações. “Acima de tudo, o gênero é uma questão de relações sociais dentro das quais indivíduos e grupos atuam. A manutenção de padrões amplamente difundidos entre relações sociais é o que a teoria social chama de ‘estrutura’. Nesse sentido, o gênero deve ser entendido como uma estrutura social. Não é uma expressão da biologia, nem uma dicotomia fixa na vida ou no caráter humano. É um padrão em nossos arranjos sociais, e as atividades do cotidiano são formatadas por esse padrão” (p. 47). 
- “[...] o gênero, como outras estruturas sociais, é multidimensional. Não diz respeito apenas à identidade, nem apenas ao trabalho, nem apenas ao poder, nem apenas à sexualidade, mas a tudo isso ao mesmo tempo. Padrões de gênero podem ser radicalmente diferentes entre contextos culturais distintos, e há certamente muita variedade entre as maneiras de pensa-los, mas ainda é possível pensar (e agir) entre culturas em relação ao gênero. Poder das estruturas na formação da ação individual faz com que o gênero quase sempre pareça não se transformar. No entanto, os arranjos de gênero estão sempre mudando, conforme as práticas humanas criam novas situações e as estruturas se desenvolvem tendendo a crises” (p. 49). 
- “[...] não podemos tratar as relações de gênero como um sistema mecânico. A ação humana é criativa e estamos sempre nos movendo para espaços históricos que ninguém ocupou antes. Ao mesmo tempo, não criamos a partir de um vácuo. Agimos em situações particulares criadas por ações passadas de outros e pelas nossas próprias” (p. 69). 
- “Está claro que os corpos são afetados por processos sociais. O modo como nosso corpo cresce e funciona é influenciado pela distribuição de comida, costumes sociais, guerras, trabalho, esporte, urbanização, educação e medicina, para citar apenas as influências mais óbvias. Todas essas influências são estruturadas pelo gênero. Então, não podemos pensar em arranjos sociais de gênero como mero efeito que flui de propriedades do corpo. Eles também precedem o corpo, formando as condições em que este se desenvolve e vive” (p. 93)
- “Corpos têm agência e corpos são construídos socialmente. [...] Cada corpo tem sua trajetória ao longo do tempo; cada um deles muda conforme envelhece. Alguns corpos vivem acidentes, partos traumáticos, violência, fome, doenças, cirurgias e precisam se reorganizar para continuarem. Alguns não resistem a essas experiências. Ainda assim, a multiplicidade de corpos não é, em nenhum sentido, aleatória. Nossos corpos são interconectados por meio de práticas sociais e de coisas que fazemos em nosso cotidiano. Simultaneamente, corpos são objetos e agentes das práticas sociais. As práticas em que corpos são envolvidos formam estruturas sociais e trajetórias pessoais, o que, por sua vez, fornece condições para novas práticas nas quais os corpos são envolvidos. Processos corporais e estruturas sociais se conectam pelo tempo. Somam-se ao processo histórico no qual a sociedade é corporificada e os corpos são arrastados pela história” (p.112).
- Corporificação social é o que chamamos quando entendemos que “corpos têm uma realidade que não pode ser reduzida; são levados à história sem deixarem de ser corpos. [...]. A corporificação social envolve a conduta do indivíduo, mas também grupos, instituições, e complexos de instituições” (p. 112).
- “Gênero é uma forma específica de corporificação social. A característica distintiva do gênero é que este se refere a estruturas corporais e processos ligados à reprodução humana. Gênero envolve um conjunto de práticas sociais humanas – incluindo cuidados com crianças, parto, interação sexual – que mostram as capacidades de corpos humanos de parir, dar leite, dar e receber prazer sexual. Só podemos começar a entender o gênero se compreendermos o quão próximos os processos sociais e corporais se encontram” (p.113).
- É importante ter em mente que “a reprodução sexual não causa práticas de gênero, nem mesmo fornece modelo para elas. Há muitos campos em que comportamentos fortemente generificados ocorrem, que não têm a menor conexão lógicacom a reprodução sexual [...]” (p. 113).
- “A arena reprodutiva é sempre o ponto de referência dos processos de gênero, mas está longe de englobar tudo o que o gênero significa. Também precisamos do conceito de domínio do gênero, indicando todo o terreno da vida social que é socialmente ligado à arena reprodutiva. No domínio do gênero, as relações entre pessoas e grupos são estruturadas por essa conexão e podem, assim, ser entendidas como relações de gênero” (p. 115).
- “Um dos jeitos mais incipientes de exercer o gênero é por meio do assédio sexual – um exercício de poder direcionado ao corpo da vítima” (p. 115). 
- “Essa desigualdade e violência em relacionamentos muitas vezes se relaciona a uma cumplicidade com um ideal de masculinidade hegemônica orientado ao poder (Jewkes e Morrell, 2010) (p. 116). 
- Uma teoria de gênero precisa falar sobre: “instituição da família, divisões do trabalho segundo o gênero, ideologias sobre o ser mulher, estratégias de mudança nas relações de gênero” (p.121)
- Sobre sair do eixo do Norte Global nos estudos: “Não se trata de uma questão de geografia, mas sim de um conhecimento mais adequado e democrático” (p. 121).
- “O colonialismo teve um impacto massivo e quase sempre altamente destrutivo nas ordens de gênero das sociedades colonizadas. As populações de colonos também precisavam negociar grandes mudanças em seu modo de vida e alguns pensamentos importantes vieram de intelectuais que tinham ali suas origens, como Sor Juana e Oliver Schreiner. O registro histórico é enviesado para o lado dos colonizadores. No entanto, é claro que à época em que o feminismo do século XIX e as ciências sociais se cristalizaram na metrópole, os intelectuais das sociedades colonizadas também lutavam com relações de gênero mutantes” (p. 126-127). 
- “Grande parte da teoria de gênero na metrópole anglófona se tornou abstrata, contemplativa ou analítica em seu estilo ou se focou inteiramente na subversão cultural. Toda a literatura de teoria de gênero não faz praticamente referência alguma à educação das meninas, à violência doméstica, à saúde das mulheres, às visões dominantes de gênero, ao Estado, ao desenvolvimento econômico nem a nenhuma outra questão ligada a políticas públicas com as quais as feministas têm batalhado” (p.140-141)
- “Feministas brancas haviam enxergado principalmente a família como campo da opressão das mulheres [...]. Mas no contexto de um racismo profundamente enraizado, a família pode ser um bem crucial para mulheres negras e mulheres em comunidades recentes de imigrantes” (p. 143)
- “Em uma longa introdução chamada ‘Cartographies of struggle” (Cartografias da luta) e em ensaios posteriores presentes na coletânea Feminism without borders (Feminismo sem fronteiras) (2003), Mohanty propõe uma abordagem do gênero que começa com a experiência histórica do imperialismo. Fazer e refazer o gênero é um processo entrelaçado com a produção da raça e as dinâmicas do capitalismo global. Mohanty concorda com o desconstrucionismo, quanto a não haver uma categoria universal preexistente de ‘mulher’. Mas por uma razão prática, e não filosófica: porque os sistemas de dominação constantemente dividem as pessoas” (p. 146-147)
- “Amina Mama (1997), uma das maiores pensadoras feministas da África, enfatiza que os altos níveis de violência baseada em gênero na sociedade contemporânea estão ligados à violência generificada do colonialismo” (p. 151)
- “As pessoas envolvidas em condutas do cotidiano – por todo um espectro que varia de conversas e trabalho doméstico até estilos de interação e comportamento econômico – são cobradas nos termos de suas ‘categorias sexuais’ presumidas como homem ou mulher. A conduta produzida em resposta a essa cobrança não é um produto do gênero – é o gênero em si. Fazemos nosso próprio gênero, mas não somos livres para o fazermos como quisermos. Nossa prática de gênero é poderosamente formatada pela ordem de gênero em que nos encontramos. [...]. Os arranjos de gênero de uma sociedade são uma estrutura social nesse sentido. Por exemplo, se as práticas religiosas, políticas e de comunicação colocam os homens em posição de autoridade sobre as mulheres, podemos falar em uma estrutura patriarcal das relações de gênero” (p. 156). 
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