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Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Eletrocardiograma O ECG é a inscrição elétrica do que acontece dentro do coração, isso aparece dividido em uma onda P, complexo QRS, uma onda T e eventualmente uma onda U. Como mostra na imagem, o que devemos observar em um ECG é a duração da onda T, intervalo PR, duração do QRS, altura do ponto J, o segmento ST, segmento STT e o intervalo entre e onda T e a onda P. O ECG precisa ser transcrito em um papel milimetrado para que possam ser realizadas as medidas, sendo que esse papel segue algumas regras: O papel deve sempre correr numa velocidade constante de 25 mm/s, no eixo x vemos a medida do tempo em segundos, sendo que cada quadrado menor mede 40 ms ou 0,04 segundos, e o quadrado maior tem 200 ms ou 0,2 segundos. Quando avaliamos o eixo y, estamos avaliando voltagem e amplitude, 1mm ou 1 quadradinho, corresponde a 0,1 mV, e o quadrado maior tem 5 mm ou 0,5 mV. Dentro dos intervalos que vamos analisar, cada um tem um tempo normal de duração, que são os intervalos normais: - Onda P: Possui uma duração de 0,10 segundos e uma amplitude menor ou igual a 2,5mm. - Intervalo PR: Tem que ter uma duração de 0,12 a 0,2 segundos (um quadrado grande inteiro). - Intervalo QRS: Deve ter uma duração entre 0,07 a 0,10 segundos. - Ponto J: Está no segmento ST e vai ser medido quando há alterações de supra ou infra do segmento ST. - Duração QT: Deve ter uma duração menor ou igual a 0,45 segundos em homens e menor ou igual a 0,47 segundos em mulheres. - Suprimento do sistema de condução cardíaco: O nó sinoatrial é suprido pela coronária direita em mais da metade dos pacientes, o nó atrioventricular é suprido pela coronária direita na maior parte dos casos, o sistema His-purkinje é suprido pela coronária direita ou descendente anterior, o feixe de His se bifurca em direito e esquerdo, sendo que o direito é suprido pela descendente anterior e o da esquerda vai tanto pela descendente anterior, quanto para coronária direita. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Localização dos nós no coração. - O que significa cada onda? Além disso, é importante saber o que significa cada onda no ECG, a onda P é a transcrição elétrica da despolarização atrial, depois há o segmento PR que significa o delay do nó atrioventricular (atraso de condução), o QRS significa a despolarização ventricular, a onda T é a repolarização ventricular. É importante saber que a repolarização atrial não é enxergada, pois ela acontece junto com o QRS. E, depois da onda T tem a linha isoelétrica, que é o momento que a célula miocárdica está sem eletricidade. - Preparação do ECG: É muito importante que o médico saiba como realizar o ECG, mesmo que no dia a dia quem vai realizar o procedimento é um enfermeiro, o médico pode fazê-lo em algumas situações. Existem 4 eletrodos com cores diferentes, do lado direito do paciente fica o flamengo, ou seja, os eletrodos vermelho e preto, sendo que as cores mais escuras sempre são em baixo, portanto o eletrodo vermelho fica no membro superior direito e o eletrodo preto fica no membro inferior direito. Do lado esquerdo do paciente fica o Brasil, que são os eletrodos amarelo e verde, como os mais escuros sempre são em baixo, o amarelo fica no membro superior esquerdo e o verde fica no membro inferior esquerdo. A máquina de ECG sempre fica do lado esquerdo do paciente. Em relação as derivações, temos que posicioná-las no lugar correto, V1 fica no 4º espaço intercostal no lado direito do esterno, V2 fica no 4º espaço intercostal do lado esquerdo do esterno, V3 fica no ponto central entre V2 e V4, V4 fica no 5º espaço intercostal na linha clavicular média esquerda, V5 fica na linha axilar anterior esquerda no 5º espaço intercostal e V6 fica linha axilar média esquerda no 5º espaço intercostal. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 As derivações do plano frontal, quando comparadas, fazem surgir as marcas das outras derivações. D1 é a comparação entre os dois membros superiores, D2 é entre o membro superior direito e o membro inferior esquerdo, D3 é entre o membro superior direito e o membro inferior esquerdo. aVR vai ser uma somatória do membro superior e inferior esquerdo comparados com o membro superior direito, aVL vai ser uma somatória entre o membro inferior esquerdo e o membro superior direito comparados com o membro superior esquerdo e aVF vai ser uma somatória entre os dois membros superiores comparada com o membro inferior esquerdo. Triangulo de Einthoven. As derivações direitas e as derivações posteriores são feitas nos seguintes locais. Mesmo o QRS sendo uma onda que representa a despolarização dos ventrículos, ela aparece com o q e o s negativas no ECG, isso se dá por conta da orientação dos vetores dessa despolarização, a onda q refere a despolarização dos septos, a onda R refere a despolarização da parede livre do ventriculo e a onda s refere a despolarização da porção basal do ventrículo, a orientação dos vetores de q e s não são em direção onde o ECG enxerga como positivo, por isso aparecem negativas no exame. - Avaliação do ECG: Na avaliação do ECG, vamos determinar o ritmo e a regularidade (vai de um ritmo normal, chamado de sinusal, até um arrítmico, que são as arritmias), frequência cardíaca (medir entre um P e outro P, ou um R e outro R), avaliação da onda P por si só, cálculo do intervalo PR, análise do QRS, examinar a onda T, calcular o intervalo QT e depois observar outras caracteristicas. Portanto, os passos para a análise do ECG são: 1. Ritmo. 2. Eixo. 3. Bloqueio de ramo. 4. Aumento de cavidade. 5. Isquemia ou infarto. 6. Outras anormalidades. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 *Existe o eixo do QRS e o eixo da onda P, mas o mais usado é o do QRS. o Ritmo: O ritmo é considerado sinusal quando a onda P está positiva nas derivações inferiores, que são D2, D3 e aVF e negativa em aVR, sendo que a frequência tem que variar entre 50 e 100 bpm. Quando a FC é maior que 100 bpm, o termo a ser utilizado é taquicardia sinusal, quando a FC é menor que 50 bpm, o termo a ser utilizado é bradicardia sinusal. Se na análise a onda P estiver negativa nas derivações inferiores, vamos ter que nos atentar para o posicionamento errado dos eletrodos, se existe um marcapasso ectópico (que está fora do nó atrial) ou se existe uma dextrocardia (posicionamento do coração do lado direito do tórax). Existem algumas alterações de ritmo importantes de serem discutidas: O flutter atrial é quando a origem do estímulo elétrico não é feita no nó sinusal, mas em algum local do eixo cavo-tricuspídeo do átrio direito, apresenta-se no ECG como um cerrilhado, o que chama atenção nas ondas de flutter é que elas vão conduzir cerca de 300 batimentos por minuto, mas conduz para o ventrículo em uma relação, pode ser de 1:1, 1:2, sempre uma relação, por exemplo no 1:2, o átrio bate 300 bpm e o ventriculo bate 150 bpm. Mostrando a origem do estímulo. A fibrilação atrial é algo mais caótico, o estimulo pode surgir em qualquer ponto do átrio direito e esquerdo, pode ir até a mais de 300 bpm, mas o átrio tem zero de contração, é como ele ficasse apenas tremendo e fibrilando, e o que passa no nó atrioventricular e se dirige ao ventriculo não tem uma ordenação muito boa e proporção, como existe no flutter, tem uma ausência de onda P e uma distância de QRS desproporcional. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Taquicardia ventricular é quando o estimulo elétrico e estimulação vem das próprias câmaras inferiores do coração, podendo ser monomórfico (todas as conduções são idênticas) ou polimórfico (quando as conduções variam de voltagem de tempo). Tipo de alteração específico que fica alto e baixo, alto e baixo, como se tivessemtorcendo as pontas, por isso é chamada de Torsades de pointes. A fibrilação ventricular é outra coisa caótica em que não há nenhum batimento efetivo do coração, que é um ritmo de parada cardíaca, sem contração ventricular, podendo ser grosseira, como na primeira imagem, e um pouco mais fina, como na segunda imagem, a segunda não podemos confundir com assistolia, que é uma linha mais retinha. o Frequência cardíaca: É só medir a distância entre os QRS e ir vendo o número de batimentos, uma estimativa boa é que se a distância entre 2 QRS for a de um quadro grande do ECG, vai ter 300 bpm, daí é só ir fazendo a regrinha, distância de 2 quadrados grande são 150bpm, distância de 3 quadros grandes são de 100 bpm, distância de 4 quadros grandes são de 75 bpm. Lembrando que a cada 5 quadrados grandes temos 1 segundo. o Eixo: O eixo normal vai variar de -30 a +90, em cada quadrante desse vemos uma derivação, aVL, D1, aVR, D2 e aVF. Cada ponta da seta indica a parte positiva, ou seja, se temos na derivação D1, um QRS positivo, ele vai ficar voltado para onde aponta a seta, se tem um QRS negativo em D1, ele vai ficar voltado para o lado oposto ao que a seta aponta. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Os eixos são vistos dessa forma nesse esquema, sempre ficar atendo para os graus e para os quadrantes e a relação deles com as derivações. OBS: O que significa dizer que o QRS é positivo ou negativo? Quando o QRS é positivo, assim como mostra a primeira imagem, isso significa que o impulso elétrico se aproxima da derivação de medição. Quando o QRS é negativo, como mostra a segunda imagem, isso significa que o impulso elétrico se afasta da derivação de medição. O QRS positivo ou negativo pode ser dado pela somatória da parte positiva e negativa também, não precisa necessariamente estar todo positivo ou todo negativo. Alguns exemplos de eixos desviados para a esquerda ou direita, e derivações abaixo mostrando como que vamos encontrar o QRS nelas. O que significa o desvio do eixo? Esse desvio pode ter relação patológica cardíaca, por exemplo, o desvio do eixo para a esquerda pode refletir envelhecimento, estenose aórtica, IAM de parede inferior, bloqueio do ramo esquerdo, hipertrofia ventricular esquerda, alterações mecânicas como ascite, gestação e tumores, já o desvio para a direita pode estar relacionado com enfisema pulmonar, hipertensão portal, IAM de parede lateral, estenose pulmonar, bloqueio de ramo direito e hipertrofia ventricular esquerda. *No caso da hipertrofia, o musculo desse lado recebe mais estimulo por conta da quantidade de massa, isso puxa o vetor para o lado da hipertrofia, por isso que uma hipertrofia de VE vai gerar um desvio para a esquerda e uma hipertrofia de VD vai gerar um desvio para a direita. *Diferente da hipertrofia, no infarto é ao contrário, quando há um infarto inferior, o mais acometido é o lado direito, portanto fica com um estimulo menor, é como se o estimulo do lado esquerdo puxasse mais o vetor por estar maior, por isso o vetor vai ser deslocado para o lado contrário do infarto, se é um infarto inferior (predominante lado direito), o vetor vai ser deslocado para a esquerda, se o infarto for lateral (predominante lado esquerdo) o vetor vai ser deslocado para a direita. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Exemplo de como definir o eixo do ECG, a seguir temos um eletro para determinar o eixo dele: Primeira derivação que devemos olhar é o D1, se o QRS está positivo ou negativo, nesse caso, o QRS em D1 está positivo, então no eixo ele só pode estar entre -90 e 90, como mostra a imagem abaixo: A próxima derivação a ser observada é aVF, como o QRS está positivo nessa derivação, o vetor só pode estar entre 0 e 180, como mostra a linha azul na figura. A próxima derivação a ser analisada é D2, como o QRS está positivo, vamos traçar a partir da linha do eixo em relação a ser positivo ou negativo, e por último vai ser analisada aVR, que está negativo, vai ficar do lado oposto do vetor, vamos traçar a partir da linha do eixo para o lado positivo ou negativo do vetor o resultante de todos esses exemplos seria a imagem abaixo: Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Portanto, o vetor resultante do eixo só poderia estar entre 30 e 60 graus, que é um eixo normal. Tomando como base o eletro anterior, podemos definir o ritmo também, vemos que em D2, D2 e aVF a onda P é positiva, então é um ritmo sinusal, em relação a frequência cardíaca, podemos definir pelo eletro também, há mais ou menos 4 quadrados entre as ondas R, provavelmente este paciente está com aproximadamente 75 bpm. o Bloqueios atrioventriculares: Os impulsos elétricos atriais sempre sofrem um retardo ou podem sofrer falhas em atingir os ventrículos, que são os bloqueios, sendo que a característica normal eletrofisiológica no nódulo AV é uma condução decremental, que significa a redução da velocidade de condução do estímulo elétrico no nó AV, que pode ser avaliada pelo intervalo PR no ECG, que é normal no adulto entre 120 e 200 milissegundos (mas pode depender da idade e da FC). Os bloqueios podem ocorrer em algumas regiões, como no próprio nó AV, no sistema His-Purkinje (chamado de bloqueio intra-His) ou abaixo do sistema His-Purkinje (chamados de infra-His), sendo que os atrasos causados pelo bloqueio do nó cursam com um complexo QRS estreito e bom prognóstico, e os intra e infra-His cursam com complexos QRS alargados e um pior prognóstico. Os bloqueios atrioventriculares podem ser transitórios, como numa vagotonia, cardiopatia (miocardite, endocardite e insuficiência coronária), medicamentos (BB, digital, outros) e distúrbios metabólicos (hiperpotassemia). Os bloqueios persistentes (não adianta corrigir que não vai mudar o bloqueio) podem ser causados em idosos, pacientes com doença de chagas, doença arterial coronariana e outras cardiopatias. Bloqueio AV 1º grau Representa um retardo na condução do nó AV (é um atraso dentro do nó AV), pode ser medicamentoso com o uso de BB, degeneração do sistema de condução e miocardiopatias. Tem um bom prognóstico, sem um tratamento específico, nesse bloqueio o intervalo PR fica maior que 200 milissegundos. Nesse caso, todo estímulo vai conduzir, ou seja, toda onda P gera um QRS, e o BAV de 1º grau não reduz a FC do paciente. Bloqueio AV 2º grau tipo 1 (Mobitz 1) Pode ser chamado de fenômeno de Wenckebach e consiste em um prolongamento progressivo do intervalo PR até que um impulso atrial não conduza e com isso fica uma onda P sem o QRS, sendo que esses eventos vão acontecendo sucessivamente, ou seja, o intervalo PR vai se alargando a cada batimento até que em um determinado momento uma onda P não conduz o QRS, a próxima onda P vai conduzir com um intervalo PR próximo do normal, depois vai se alargando até ter uma falha na condução novamente, tudo isso ocorre dentro do nó AV. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Bloqueio AV 2º grau (Mobitz tipo 2) Quando o intervalo PR é constante com uma não condução súbita de um QRS por falha na condução, ocorre após o nó AV, no feixe de His ou nas fibras de Purkinje. Nesse caso, o intervalo PR não se alarga, há um bloqueio de QRS pós onda P sem um “aviso prévio”. Quando tem um bloqueio do 2º grau com mais de uma onda P seguida sem condução, chamamos de bloqueio AV avançado, nesse caso a frequência cardíaca do paciente vai diminuir. Bloqueio atrioventricular total Também chamado de bloqueio atrioventricular de terceiro grau, ocorre quando não existe comunicação elétrica entre o átrio e o ventrículo, os achados desse tipo incluem onda P presentes e complexo QRS presentes, mas eles estão dissociados um do outro, dessa forma o átrio e o ventriculo funcionam de forma independente,o que é um prejuízo para a função cardíaca, já que é necessária uma função integrada, portanto uma dissociação atrioventricular. O intervalo PP e o intervalo RR vão ser constantes, porém não vão possuir uma sincronia, paciente fica bradicárdico. Ex: Podem haver momentos em que a sístole do átrio ocorra junto com a sístole do ventriculo, e isso é um problema ao funcionamento cardíaco. O ritmo causado pela função cardíaca é mantido por um ritmo de escape juncional ou ventricular, o juncional tem um escape com complexo QRS estreito menor que 120 milissegundos, o ventricular possui um escape com complexo largo, ou seja, maior que 120 milissegundos, isso significa uma origem abaixo da bifurcação do feixe de His, tendo um prognóstico pior. Imagem mostrando um escape ventricular, com QRS alargado. Bloqueios AV de forma resumida... o Bloqueios Intraventriculares: As principais entidades dessa parte são os bloqueios de ramo, sendo os mais importantes o bloqueio de ramo esquerdo e bloqueio de ramo direito, eles consistem num alteração na condução do Lucas Melo – Medicina Ufes T103 estímulo elétrico em qualquer ponto do sistema de His ocasionando uma despolarização sequencial das câmaras ventriculares, e não uma despolarização simultânea, isso promove um prolongamento do tempo de despolarização ventricular, vemos isso por um prolongamento do QRS (um QRS estreito não ocorre mais nos bloqueios infra His). Bloqueio do ramo esquerdo No BRE o QRS vai estar alargado, vai ter uma ausência de Q em D1, aVL, V5 e V6 por conta da modificação do vetor, onda R alargada com entalhes ou empastamentos médio-terminais em D1, aVL, V5 e V6, uma onda R com crescimento lento de V1 a V3, onda S alargada com espessamento e entalhe em V1 e V2, eixo elétrico do QRS entre -30 e 0 e uma depressão de ST e T assimétrica em oposição ao retardo médio-terminal. Pode existir o bloqueio incompleto do ramo esquerdo, que é quando o estimulo elétrico atravessa lentamente o ramo esquerdo, mas ele atravessa, o ECG está quase normal pois só ocorre uma despolarização septal anômala, o diagnóstico diferencial seria com infarto septal e fibrose septal. Em V5 e V6 vemos um alargamento de QRS com um entalhe, que está circulado em vermelho, além de ver alargamentos e entalhes em D1 e aVL, em V1 e V2 fica complicado enxergar o segmento ST, por isso podemos pensar que tem um infarto, como na imagem abaixo que V1 e V2 podem ter uma onda QS ou RS, que fica muito amplo, o que nos faz pensar de forma errada em sobrecarga. *Quando tem um bloqueio do ramo esquerdo, tudo conduz pelo meu ramo direito, e por isso que há uma alteração dos vetores, assim como se houver um bloqueio do ramo direito, tudo conduz pelo ramo esquerdo, o que provoca outra alteração nos vetores. Bloqueio de ramo direito No BRD temos QRS alargados com mais de 120 milissegundos como condição fundamental, ondas S empastadas em D1, aVL, V5 e V6, ondas QR em aVR com R empastada, o eixo elétrico pode ser variável tendendo para a direita no plano frontal, onda T assimétrico em oposição ao retardo final de QRS. Basicamente, vamos ver uma morfologia de letra M em V1, enquanto que bloqueio de ramo esquerdo enxergamos mais em V5 e V6, o bloqueio de ramo direito vamos enxergar em V1 e V2. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 BRD x BRE Em V1 no BRE não é um supra de ST, é uma alteração de ST alargado. No BRD em V6 parece um infra de ST, mas não é, é pela alteração que o bloqueio causa. o Sobrecargas: Vamos analisar as amplitudes das ondas, não mais a duração delas, por exemplo, uma onda P normal é a somatória das ondas da despolarização dos átrios. Se colocarmos isso numa situação de estenose mitral, com uma sobrecarga e hipertrofia do AE, a onda de despolarização do AE seria mais alta que a do AD demonstrando que precisa de uma energia maior para a massa muscular do AE, e um pouco mais longa também, aumento da duração, como mostra a imagem abaixo, vemos isso tanto pela amplitude da onda, como pela deflecção (final da onda), que é mais aguda. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Quando vamos observar a derivação de V1, temos que lembrar que ela fica do lado direito do peito, ou seja, a despolarização causada pelo AD vai se apresentar de forma positiva no ECG, e a despolarização causada pelo AE vai se apresentar de forma negativa no ECG, isso normalmente, como mostra a primeira imagem, mas em uma situação de estenose mitral que a massa do AE é maior e a despolarização tem uma maior amplitude, vai ter um ponto um pouco mais negativo na onda P em V1, como mostra a segunda imagem. Quando nos colocamos em uma situação de onda P pulmonale, estamos pensando em uma situação de estenose pulmonar, a sobrecarga do ventriculo direito vai passar para o átrio direito por conta da diferença de pressão das duas câmaras que não é tão grande quanto do lado direito, por isso uma estenose pulmonar pode causar uma hipertrofia de AD. Nessa situação, ao olharmos a derivação D2 vamos ver uma onda mais ampla, pois diferente da estenose mitral, a onda P pulmonale não fica com uma duração maior e sim com uma amplitude bem maior. Quando vamos analisar a derivação V1, vamos notar que a parte positiva da onda P em V1 vai ficar mais alta, com uma maior amplitude por conta dessa hipertrofia do AD. Quando partimos para analisar o complexo QRS, deixamos de lado a sobrecarga dos átrios, que vemos nas ondas P, e focamos nos ventrículos, que vão nos mostrar as sobrecargas ventriculares. Quando nos atemos ao que é normal, a derivação V1 enxerga o vetor de despolarização ventricular (que é resultante para a esquerda) de forma negativa, já que ele é medido do lado direito, e V6 enxerga o vetor de despolarização ventricular de forma positiva, já que é medida do lado esquerdo. Quando eu tenho uma hipertrofia do ventriculo esquerdo, o vetor resultante vai ser outro, V1 passa a enxergar ele mais negativo ainda, então o complexo QRS vai ser mais profundo, enquanto que V6 passa a enxergar ele mais positivo ainda, por isso QRS vai ser mais alto. Numa hipertrofia de ventriculo direito, o vetor muda completamente, quando estou em V1, ao invés de estar vendo a cauda da seta, estou vendo a ponto, por isso ele vai ser positivo, já em V6 ela não é totalmente positiva como o normal, mas tem um pedaço negativo que reflete que voce está enxergando um pouco da cauda da seta. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 *Sobrecarga e hipertrofia no ECG são o mesmo. *Índice de Sokolov-Lion e Cornell são para classificar o quanto é aumentado e para ver se tem ou não tem essa sobrecarga, mas é muito específico. Exemplo de sobrecarga de VE, reparar em V1 e V6. o Isquemia e infarto: Primeiro passo é definir as paredes que são representadas pelas derivações, como mostra a imagem abaixo: Em relação ao segmento ST: o segmento ST faz parte da repolarização ventricular, que vai estar alterada nas isquemias por conta da alteração do potencial elétrico da célula em sofrimento, por isso o vetor vai se alterar, e dependendo de qual lado ele apontar vai ser possível a visualização de um infra ou um supra do segmento ST. Quando há um infarto com uma oclusão completa do vaso com uma área isquêmica mais pesada, ou seja, um supra do segmento ST, pois o vetor resultante dessa parede que está entrando em apoptose vai modificar o vetor de repolarização, que seria uma linha isoelétrica, e vai levar essa linha para cima. *Depressões fisiológicas do segmento ST, denominado upsloping de ST, ao invés do segmento ST seguir numa linha isoelétrica, ele sobe como se fosse uma rampa, muito comum acontecer na atividade física, visualizado com frequência no teste ergométrico e issoé considerado normal se a onda T não for invertida. Estados de hiperventilação podem causar alteração semelhante. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 *Depressões não específicas do segmento ST: Podem ser causadas por hipercalemia, tônus simpático aumentado (nesses dois primeiros a onda T fica achatada e pode ter uma onda U, que é o resultado final da repolarização ventricular que normalmente não está presente), uso de digoxina, etc. *Infra de ST* Nessa imagem vemos que há uma manutenção da onda P, o intervalo PR está mantido, QRS simétrico, mas o problema vai ser no segmento ST, que está deprimido significativamente e com a manutenção da onda T. Os infras de ST típicos da isquemia são o horizontal e uma rampa descendente chamada de downsloping, mostrados a seguir: Mas acabamos vendo essas alterações de algumas outras formas na vida real, como nos exemplos abaixo que vemos uma depressão horizontal com um ST bem marcado, um downsloping com uma onda T positiva, downsloping com uma onda T invertida e segmento ST que é inicialmente horizontal e depois começa a subir. *Sinal de Winter: Marca grande isquemia miocárdica da parede anterior, apontando para uma oclusão da descendente anterior, vemos um upsloping do segmento ST com uma onda T bem proeminente. Outras alterações que podem indicar uma alteração na repolarização ventricular gerando um infra de ST são bloqueio de ramo esquerdo, hipertrofia ventricular esquerda, bloqueio do ramo direito, hipertrofia ventricular direita, etc Lucas Melo – Medicina Ufes T103 *Supra de ST* Vemos que a onda P está com o mesmo comprimento, intervalo PR conservado, o complexo QRS tem a mesma distância, porém, ao invés de ter Q>R e depois descer para o S vamos ter o supra e para medir o tamanho desse supra, só pegar de referencia a linha isoelétrica e contar os quadradinhos. As elevações clássicas de isquemia no segmento ST são quando o supra é convexo, quando ele é uma rampa ascendente, quando ele é horizontal e quando ele é uma rampa descendente. Em contrapartida, quando temos um supra côncavo com um ponto S bem definido, isso não está relacionado com isquemia pois o supra começa depois do ponto J, o que nas outras imagens vemos que o supra começa junto ao ponto J e não depois, como a imagem abaixo: *Algumas dicas, quando vemos alterações dentro do QRS, como uma onda Q patológica, isso nos diz sobre necrose (o músculo já morreu), quando temos uma alteração no segmento ST, isso nos diz a favor de uma lesão no miocárdio, e quando temos uma alteração da onda T, isso nos diz mais a favor dos estágios iniciais de isquemia, sem lesão e necrose ainda. Alguns exemplos que vamos encontrar na vida real de isquemia causando supra de ST são: *Evolução do infarto, começamos com um ECG normal, depois vemos um supra de segmento ST, ainda é discreto, na terceira imagem esse supra fica mais acentuado, na quarta imagem já conseguimos ver uma inversão da onda T, depois uma onda T invertida mas sem supra do segmento ST, e a normalização do ECG. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 A imagem acima também mostra a evolução do infarto, uma área miocárdica normal sem nada, em 2 começa com uma área isquêmica apresentando onda T invertida e um pouco pontiaguda, a zona de isquemia avança e em 3 vemos uma leve subida do segmento ST, quando temos uma área definida de infarto, assim como em 4, vemos o supra de ST, depois que essa lesão vai se resolvendo o supra cai e a onda T invertida se mantém, até voltar a normalidade com a cicatriz. Em relação a onda T, temos que entender que há a onda T normal e a variante normal da onda T, que são apresentada na imagem a seguir: Algumas ondas T maiores podem refletir uma alteração de hipercalemia, que é uma onda T com aumento simétrico e pontiaguda, e a onda T hiperaguda no infarto indicativa de isquemia associada com o supra inicial do segmento ST. o Outras anormalidades/diversos: Na presença de hipocalemia a onda T fica mais baixa e prolongada, permitindo a visualização apenas de uma onda U. Na hipercalemia há uma onda T apiculada, essas são as alterações em relação aos distúrbios de potássio. Quando nos referimos aos distúrbios do cálcio, que age bastante na repolarização do miocárdio, na hipocalcemia vemos um prolongamento no segmento QT, na hipercalcemia há uma aproximação ou encurtamento do intervalo QT. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 A hipotermia não é um distúrbio eletrolítico, mas conseguimos ver as marcações eletrocardiográficas que ela apresenta que é bem marcante, chamada de onda de Osborne, que fica dentro do QRS, ela fica no ponto J, por isso pode ser chamada de onda J também. Além dessa onda, vemos um prolongamento do intervalo PR com a onda T prolongada também. O acidente vascular cerebral faz uma alteração de onda T denominada onda T cerebral, a onda T vai negativando e ficando um negativo simétrico profundo sem respeitar as paredes, ao contrário de simétrica positiva de hipercalemia.