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1 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Introdução O sistema nervoso central é composto basicamente pelo neuro-eixo que é composto pelo: cérebro – telencéfalo e diencéfalo; tronco encefálico – mesencéfalo, ponte e bulbo; e cerebelo - cerebelo. No final do bulbo começa a medula espinhal que é a parte do neuro eixo que se encontra no canal medular. O sistema nervoso central é um sistema originado do ectoderma, mesmo folheto embrionário de onde vem a derme. É um tecido que tem pouca substância intercelular, ou seja, as células ficam muito próximas uma da outra com pouco tecido estromal entre elas (dando a impressão na microscopia que todas as células são “grudadas”). As células do sistema nervoso central são células muito especializadas e por causa disso a capacidade dos neurônios do SNC de se regenerar é pequena, exceto os neurônios do bulbo olfatório e células da glia. Como o tecido é muito especializado, o tecido do SNC tem uma alta taxa metabólica, sendo altamente vascularizado para suprir sua enorme necessidade de oxigênio e nutrientes. Assim, o tecido é pouco resistente a hipóxia, caso o suprimento sanguíneo seja retirado esse tecido dura no máximo 5 minutos antes de entrar em processo de morte celular. No SNC temos os vasos sanguíneos, os ventrículos que transportam e drenam o líquor e não se tem vasos linfáticos no sistema nervoso central. E, também ali não são encontrados nervos. Todo o resto corresponde ao sistema nervoso periférico: nervos, gânglios autonômicos. Na patologia vamos estudar as doenças do sistema nervoso central. Não vamos estudar as neuropatias periféricas porque é menos prevalente. - Síndrome de Guillén Barret - Neuropatias compressivas, infecciosas, traumáticas, degenerativas, autoimunes. O SNC é formado por tecido nervoso. O tecido nervoso é divido em substância branca (rede de axônios que fazem a comunicação intracelular do tecido nervoso) e substância cinzenta (parte que apresenta os neurônios, células funcionais do SNC). A substância cinzenta é dividida em duas: Córtex: substância cinzenta periférica do SNC, reveste as circunvoluções cerebrais e cerebelares. E onde temos as várias camadas de neurônios funcionais (6 a 7 camadas: camada molecular, camada piramidal externa, camada piramidal interna, camada ganglionar externa, camada ganglionar interna). O cérebro já foi todo mapeado, temos as chamadas áreas de Brodmann. A substância cinzenta também é encontrada no interior da substância branca, nos conhecido núcleos. Núcleos talâmicos, núcleos cerebelares núcleo do trato solitário, por exemplo, são formados por substância cinzenta. Tanto os núcleos quanto o córtex apresentam áreas funcionais no cérebro. Dependendo da área funcional afetada tem-se um comprometimento neurológico, clínico específico. Lesão no sulco calcarino: afeta o córtex visual, paciente apresenta problema visual. Através do exame neurológico pode-se saber qual a área do SNC afetada. O exame neurológico permite a análise da topografia da lesão. Neuropatologia MÓDULO III 2 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Lesão no giro pré-central: leva ao aparecimento de problemas motores, afeta os primeiros neurônios motores da via motora principal da via piramidal. Lesão no giro pós-central: promove alterações sensoriais no dermátomo correspondente. Histologia básica do tecido nervoso As células que são encontradas no SNC são: - Neurônio: célula principal do SNC que recebe, interpreta e distribui os impulsos nervosos. É a célula funcional presente apenas na substância cinzenta. A célula é formada pelo corpo celular, dendritos e axônios. Célula altamente especializada e com regeneração praticamente inexistente. As células da glia sustentam, envolvem e protegem os neurônios cada uma com uma função mais especificas. A neuroglia (astrócitos, oligodendrócitos e a micróglia) sustenta os neurônios e tem grande capacidade de proliferação e regeneração. Astrócitos: células de sustentação e permitem a nutrição dos neurônios; presente tanto na substância cinzenta quanto na substância branca. Astrócitos são células grandes e estreladas ligadas aos vasos sanguíneos e tem como função nutrir os neurônios. Os pedículos estrelados se ligam de um lado ao vaso sanguíneo e de outro lado ao neurônio, e funcionam como se fosse uma ponte de sustentação física e de nutrição. Também ajudam no caso de lesões reversíveis aos neurônios que vão fornecer os substratos necessário para recuperar as células neuronais. Oligodendrócitos: formadores de mielina; presente tanto na substância cinzenta quanto na substância branca. Os oligodendrócitos são células ovais que fazem progressões que ficam fixadas ao neurônio. Micróglia: células residentes de defesa da linhagem macrofágica residentes do tecido nervoso central. Células da micróglia são macrófagos teciduais do SNC. Células ependimárias são células colunares ciliadas que revestem os ventrículos cerebrais. Essas células movimentam e reabsorvem o líquor, então devido a essas células o liquido pode ser escoado. Células Schwann são as células que formam nódulos na bainha de mielina e também terão por função facilitar a passagem do impulso nervoso, vão envolver os axônios junto com os oligodendrócitos. Elas auxiliam na propagação mais rápida do potencial de ação, fazendo com que o impulso nervoso passe mais rápido de uma célula para outra. Neurônios lesados não se regeneram, pois não possuem a capacidade de divisão celular. Não há linfáticos ou nervos. Vasos sanguíneos – barreira hematoencefálica (BHE): feita de um conjunto de características histológicas que impedem a passagem de substâncias, toxinas, microrganismos e substâncias indesejadas aos neurônios. A BHE evita muitos problemas no sistema nervoso central, mas ela pode ser quebrada em várias situações. A BHE pode ser quebrada por: Quando a hipertensão arterial é muito alta o líquido consegue escapar do vaso para o SNC, causando o edema cerebral. Durante o desenvolvimento de recém-nascidos a BHE não está totalmente formada. Então, em até 2 meses de vida a BHE é bastante imatura, havendo a possibilidade da passagem de substâncias indesejáveis para o SNC. Se uma substância estiver presente em grandes concentrações no sangue, ela pode conseguir entrar “à força” pela BHE, devido a hiperosmolaridade. O aumento da permeabilidade vascular pode acontecer devido a radiação, infeção com agentes infecciosos diversos, trauma, isquemia e inflamação. Outras lesões e tumores podem levar a quebra da barreira hematoencefálica. A neuro sífilis é a sífilis congênita que acomete o feto/recém-nascido, em que a bactéria atravessa pela placenta (via de contaminação vertical: mãe para o feto). No feto, a bactéria da sífilis, o Treponema pallidum pode causar diversas lesões, não apenas a neuro sífilis, pode causar lesões no sistema nervoso central e periférico, pode lesionar o sistema cardiovascular, pode provocar alterações ósseas, má formação esqueléticas. Outros exemplos de transmissão vertical: vírus da Dengue, vírus da Zika, vírus da rubéola (pode causar cegueira, alterações neurológicas, má formação cardíaca, podendo levar até o aborto espontâneo no primeiro trimestre da gravidez). Medula espinhal 3 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Inversão da arquitetura do sistema nervoso, arquitetura invertida: com substância cinzenta no meio e a substância branca mais periférica. A substância cinzenta forma o conhecido “H medular” que apresenta tanto os núcleos sensitivos (posição posterior) quanto os núcleos motores (posição ventral), e na regiãointermediária se tem núcleos de associação intramedulares. Externamente, se tem os tratos motores (ventral: tratos piramidais laterais e anterior) e os tratos sensoriais (dorsal e lateral externa). A estrutura branca são os chamados fascículos próprios são fascículos de intercomunicação de neurônios e núcleos intramedulares, ou entre o crânio encefálico e a medula, principalmente, na região cervical. Patologias do sistema nervoso central Hipertensão intracraniana Definição de livro: é uma condição que ocorre quando a pressão media interna do compartimento liquórico ultrapassa de 15 mmHg (PIC > 20 cm H2O). Exemplo: na meningite ocorre vasodilatação com formação de edema inflamatório, ocorre a queda da BHE e leva ao edema cerebral. A pressão liquórica estará aumentada em várias doenças. Compartimento intracraniano: encéfalo, sangue e o líquor (100-200mL). Tudo isso fica preso na calota craniana, reveste as estruturas do SNC, que é rígida e inelástica. Quando se tem uma condição que altera a quantidade de líquor, que altera a quantidade de sangue, ou seja, que altera o volume total de encéfalo ocorre a patologia, porque a calota craniana não permite que as estruturas sejam acomodadas, levando ao aumento da pressão interna e desenvolvimento da hipertensão intracraniana. Lesão lenta e gradual tem uma tentativa de adaptação: caixa craniana consegue reorganizar as estruturas ali dentro, mas um dia essa adaptação cessa. Lesão rápida, processos rápidos de instalação, por exemplo uma grande hemorragia ou um aneurisma que rompeu, ou tumor maligno de crescimento muito rápido vão levar a hipertensão intracraniana franca desde o início. Existe uma tentativa de compensação inicial, mas com a progressão da condição a compensação é perdida, principalmente porque a calota é rígida e inelástica. A hipertensão intracraniana ocorre quando há lesões expansivas ou lesões que causam o efeito de massa (não necessariamente sólida, mas o tamanho dela faz com que ela tenha aparência de pressão sólida em termos de força e pressão). As metástases e tumores são lesões expansivas, originalmente sólidas. Abcessos (pus), hemorragia (sangue), hidrocefalia (líquor), lesões infecciosas e o edema (liquido exsudato e transudato) são lesões com efeito de massa, porque o material que leva a hipertensão intracraniana não possui natureza sólida. Edema cerebral O edema cerebral leva a morte se não for tratado rapidamente, se aumenta muito a pressão intersticial a circulação do sangue fica comprometida e o tecido nervoso entra num processo de hipóxia e leva a morte generalizada das células cerebrais (principalmente, neurônios motores que morrem em questão de minutos). O SNC não aguenta o edema porque ele está confinado dentro do crânio, não tendo para onde “fugir” /expandir. É o acúmulo anormal de líquido (de qualquer natureza) no interstício e nos neurônios (espaço intra e extracelular) que resulta no aumento do volume encefálico. Esse líquido acumulado pode ser derivado do plasma/ líquor no SNC. Causas: são numerosas as causas podendo ser locais (isquemia, trauma, tumores, infecções, etc.) ou sistêmicas (tóxicas, choque hemodinâmico, HAS, abcessos cerebrais – edema cerebral localizado por bactérias ou outros parasitas, etc). O edema pode provocar hérnias encefálicas (deslocamento de estruturas do SNC). Três principais tipos de hérnias: cíngulo; uncus; amígdala cerebelar. E, também pode provocar morte se não tratado. Hipertensão intracraniana Edema cerebral Hidrocefalia Traumatismo craniano Hemorragias 4 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Edema cerebral clássico: giros alargados e achatados, sulcos adelgaçados, aumento de peso, brilho aumentado na superfície de corte. Sulcos são espaços entre os giros. O acúmulo de líquido pode estar relacionado a 4 causas: - Aumento da permeabilidade capilar, permitindo a passagem de liquido entre as células ou dentro da própria célula – lesão na BHE. Exemplo: meningite, inflamação das meninges que leva ao aumento da permeabilidade da barreira. - Isquemia cerebral: leva a necrose, e após a necrose tem inflamação aguda para poder remover o debri celular, com isso leva ao acúmulo de líquido. - Aumento da pressão intravascular: relacionado à má formação, tumor, que obstrui a passagem do líquor pelos ventrículos, impede que o líquor seja reabsorvido e descartado. O líquor continua sendo produzido, mistura líquor antigo e novo, aumentando ainda mais a pressão. - Diminuição na osmolaridade do plasma: uma das pressões que controla a saída e entrada de água no tecido é a pressão osmótica. Condições que levam a diminuição da pressão oncótica leva ao acumulo de liquido, isso pode ocorrer em uma hiper-hidratação do paciente, podendo levar ao edema cerebral. Por isso é importante saber calcular a quantidade de soro que você vai prescrever para o paciente. Aspectos clínicos do edema cerebral: cefaleia, vômito e o papiledema. O vômito acontece ocorre porque a hipertensão atinge ramos do nervo vago e ramos do nervo vestibulococlear, causando a ânsia de vômito e o vômito propriamente. O papiledema é o inchaço do disco óptico, possível ser visualizado no exame oftalmológico do paciente. 4 tipos de classificação do edema cerebral: Edema Vasogênico: edemas relacionados a alterações vasculares, em geral, alteração de permeabilidade. Ocorre quebra da barreira hematoencefálica através do aumento da permeabilidade e/ou da pressão hidrostática. Citotóxico: relacionado a isquemias, ocorre dentro das células, e não entre elas, associado a lesão intracelular irreversível, morte e necrose. Corresponde a tumefação causada pela lesão das membranas celulares que provoca o aumento da sua permeabilidade. Isso acontece por hipóxia, lesões tóxicas, radiação, infecções. A tumefação do sistema nervoso central também pode ser chamada de edema cerebral citotóxico, embora não seja o nome correto. Intersticial: é aquele edema de obstrução da circulação de líquor, aquele em que está impedida a drenagem do líquor, o que impede o líquor de escoar. Corresponde ao aumento de pressão liquórica que leva a hidrocefalia, por exemplo. Hipo-osmótico; diminuição da pressão osmótica do plasma, distúrbios hemodinâmicos. Edemas cerebral vasogênicos são mais comuns. Causada por alterações vasculares. Como por exemplo, hemorragias (lesão vascular, perde-se a integridade do vaso, assim ocorre a passagem de sangue com moléculas maiores), neoplasias (destruição da BHE e dos vasos causada pela infiltração da neoplasia), radiação (inflamação, reparo e fibrose. Quando ocorre o reparo há o fenômeno da neoformação vascular que são mais permeáveis) e infarto (associados a inflamação aguda, retirada da área de necrose, ocorrendo o aumento da permeabilidade), todas essas situações alteram de certa forma a integridade da BHE. 5 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Assim, o líquido passa com mais facilidade, e se acumula na substância branca, porque é onde tem mais material intercelular, onde tem mais espaço. Essas causas levam a uma maior atividade pinocitica do endotélio e lesão do BHE – aumento da permeabilidade capilar. Microscopia: expansão do espaço extracelular, entre uma célula e outra. Lâmina A: patológica com edema, é possível ver as áreas brancas, é possível individualizar as células umas das outras porque o espaço foi expandido pela presença de água. Há dissociação das fibras nervosas. - Doença de chagas: dissociação das fibras musculares. Ocorre tumefação celular (degeneração celular por acúmulo de água). A célula fica balonizada. A região fica mais pálida e eosinofílicapor que a água dilui um pouco a coloração do corante. Letra B: lâmina normal com pouco espaço entre as células. Edema cerebral citotóxico também recebe a denominação de edema celular. Esse edema resulta de uma isquemia regional causada por uma obstrução do fluxo sanguíneo, ou seja, não chega sangue no SNC. Como o SNC é um tecido de alto metabolismo e depende muito da oferta de oxigênio, na isquemia ocorre rapidamente a falta de ATP. Se não chega oxigênio a mitocôndria não funciona, não há síntese de ATP, bombas celulares não funcionam. A bomba de sódio e potássio ATPase também não funciona. O astrócitos é rico em bombas de sódio e potássio ATPase, é principal célula do SNC que capta sódio (trocador de sódio por potássio). Então, o excesso de sódio no interior do astrócitos leva a sua tumefação. O edema cerebral citotóxico é um edema reversível. Lembre-se que a tumefação é um processo reversível. Caso se consiga perfundir novamente a área da isquemia no paciente em uma janela de tempo pequena. Por que já sabemos que o SNC exige uma alta quantidade de nutrientes. 5 minutos para que ocorra a regeneração, após isso ocorre morte celular. Edema cerebral intersticial ocorre quando tem obstáculo na circulação de líquor, ocorre quando há hidrocefalia obstrutiva. O SNC é formado por vasos sanguíneos e por líquor. Os ventrículos são grandes cisternas revestidas por células ependimárias que tem por função captar, drenar e movimentar o líquor que possui excretas e todo o material que deve ser lançado para o plasma. No edema intersticial ocorre um obstáculo à drenagem e à absorção do líquor, levando a um acumulo de líquor nas cavidades ventriculares, o que eleva a pressão dentro da cavidade, lembrando a pressão hidrostática. Pressão hidrostática = pressão que o líquido exerce na parede do vaso. Quando a pressão hidrostática aumenta a tendência é do líquor fugir do ventrículo e ir em direção a substância branca. O líquor desenha o ventrículo, mas também extravasa, penetrando na substância branca (onde a pressão menor) através da passagem pelo epêndima. A aparência, em termos de microscopia, é semelhante com o edema vasogênico. Células tumefeitas, coloração pálida. Por isso, a diferença entre esses edemas se faz pelo exame de imagem do cérebro. Edema hipo-osmótico: edema que ocorre pela diminuição da osmolaridade do plasma (redução da Astrócitos tumefeitos menos material intercelular 6 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 concentração de proteínas, principalmente de albumina no plasma sanguíneo). Ocorre por hiper-hidratação por uma grande infusão de solução salina e glicosada (concentração de proteínas no plasma cai) ou por hiponatremia (secreção inapropriada de ADH, produz mais do que deveria, acúmulo de líquido no plasma, o que reduz a concentração de proteínas). Com a produção exagerada do ADH ocorre ação importante no eixo angiotensina-aldosterona, o que gera o aumento da reabsorção de sódio e água pelo rim (retenção de sódio e consequente aumento da reabsorção de água). O que leva a um maior volume de água no interior do vaso, dilui a quantidade de proteína no interior do vaso, pressão osmótica cai. Assim, a água passa a se acumular fora da célula, gerando o acúmulo de água no parênquima. Microscopia muito semelhante a visualizada nos outros edemas com tumefação e palidez. A macroscopia do edema cerebral é igual para todos os quatro tipos. Ocorre aumento do peso e volume, o cérebro fica úmido e brilhante, os giros ficam achatados (devido a calota craniana), os sulcos ficam mais discretos, menores (o parênquima está aumentando, ocupando qualquer espaço livre). Os espaços ventriculares ao longo do tempo diminuem, exceto no edema intersticial que aumenta, já que o líquor não está sendo escoado. Hidrocefalia Condição também relacionada ao surgimento da hipertensão intracraniana que consiste no aumento tanto do volume quanto da pressão do líquor no interior da calota. Ou seja, ocorre devido ao aumento da quantidade de líquor no sistema ventricular, o que leva ao aumento da pressão liquórica. A formação do líquor ocorre no plexo corióides (60%) e epêndima das paredes ventriculares (40%). O líquor penetra nos ventrículos cerebrais, escoa para o aqueduto de Sylvius, preenche o 4º ventrículo. O aumento da pressão liquórica gera o aumento da cavidade ventricular, uma dilatação dos ventrículos laterais. Causas: Congênita: malformações do sistema ventricular, obstrução ao nível do aqueduto de Sylvius, levando a uma hidrocefalia não comunicante. Assim, o aumento da pressão se localiza exatamente nos ventrículos laterais e não no espaço subaracnóideo. Exemplo: hidrocefalia provocada pelo vírus da Zika. DVP = derivação ventrículo peritoneal (válvula). Lembre-se que a reabsorção do líquor ocorre nas granulações aracnóideas, principalmente na região da convexidade craniana, drenando o líquor que está no espaço subaracnóideo. Adquirida: por obstrução → processos inflamatórios crônicos que obstrui o líquor, principalmente na região do aqueduto, por ser uma região com calibre limitado. Exemplo: meningite pode comprometer a reabsorção liquórica pelas granulações aracnóideas quando se tem um processo de encefalite grave e fribrosante. A hidrocefalia também pode ser classificada quanto a posição (local de instalação): interna ou externa. A hidrocefalia interna é aquela onde o liquido se acumula no interior do ventrículo. Mais comum, relacionada a obstruções no sistema ventricular e/ou a formação de tumores. A hidrocefalia externa ocorre quando o líquor fica retido no espaço subaracnóideo, abaixo das meninges. Mais rara, em geral, relacionada a má formação congênita (anomalias cromossômicas). A hidrocefalia também pode ser classificada quanto a forma em que o líquor se acumula: comunicante ou obstrutiva. Comunicante: acontece quando a circulação do líquor não está bloqueada, ocorre uma baixa absorção do líquor. As células ependimárias não conseguem absorver o líquor. Exemplo: fibrose pós meningite (célula ependimária foi substituída pelo tecido fibroso, houve perda de função, hidrocefalia interna) e hemorragia subaracnóide (hidrocefalia externa, célula ependimária não consegue entrar em contato com líquor, a célula vai estar em contato com o sangue). Obstrutiva: bloqueio da drenagem de líquor, ou seja, é sempre interna. Exemplo: tumores, malformações, hemorragias, cisticercos dentro do ventrículo. Isso impede que o líquor escoe do ventrículo. Hemorragia subaracnóidea (aspecto fribrosante) e tumores que comprometam o 3º ventrículo, aqueduto de Sylvius ou o 4º ventrículo. Alguns tumores cerebelares ao crescerem podem comprimir o 4º 7 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 ventrículo provocando uma hidrocefalia secundária por obstrução. Meningioma surge mais na convexidade do cérebro e na tenda do cerebelo, e, dificilmente, irá causar uma obstrução liquórica. A clínica comum do meningioma são alterações focais, em que as consequências dependem de onde ele se forma. Por produção excessiva de líquor: pode ocorrer nas neoplasias e hiperplasias do plexo corióide e pode ocorre na hidrocefalia de pressão normal (aumento discreto de pressão) que acomete mais pessoas idosas (faixa de 60-70 anos). A hidrocefalia por produção excessiva do líquor de pressão normal é diagnóstico diferencial em doenças como Alzheimer, demência vascular, demência hipertensiva, demência hipóxia. Hidrocefalia ex vacuo – consequente à perda de tecido nervoso periventricular. Essa perda de tecido da parede do ventrículo leva a dilatação do ventrículo. Isso acontece, por exemplo, em um acidente vascularencefálico. Exemplo: atrofia senil pode levar a ex vacuo, o que é normal encontrar. Tanto o edema quanto a hidrocefalia são estados fisiopatológicos consequentes a várias doenças. Formação de hérnias pelo edema Hérnias encefálicas Processo de expansão local rápida do edema cerebral com deslocamento de um compartimento cerebral para outro. Hérnia do cíngulo/subfalcina/supracalosa: compressão da A. cerebral anterior → infarto hemorrágico do corpo caloso. Giro do cíngulo está localizado abaixo da foice do cérebro e acima do corpo caloso. Hérnia do uncus ou transtentorial: causa muita compressão no mesencéfalo e na ponte podendo levar a diferentes consequências. Compressão do nervo oculomotor → midríase unilateral. Distorção do mesencéfalo → hemorragias de Duret. Essa hemorragia pode levar o individuo até a morte porque no tronco encefálico estão os principais núcleos de sobrevivência. Secção da base do pedúnculo cerebral → hemiplegia contralateral. Compressão da A. cerebral posterior → infartos calcarinos (área 17 de Brodmann). Uncus é o giro temporal interno que se insinua para o mesencéfalo. Hérnias de amígdala (tonsila) cerebelar: compressão do centro respiratório bulbar → parada respiratória central e morte. Lesão em região frontoparietal causando hérnia do cíngulo. Hérnia do uncus 8 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Trauma Trauma crânio encefálico (TCE) TCE são uma das principais causas de morte em paciente com idade inferior a 45 anos e por estarem relacionados com acidentes de trânsito e a violência ele tem uma importância muito grande na clínica. Trauma: ação de agente externo sob o sistema nervoso central. A maioria dos traumas são de natureza física, ação mecânica (pancada, queda, atropelamento, tiro). No entanto o TCE também pode ser causado por calor, radiações, lesões químicas. Alguns autores aceitam lesões de natureza química como trauma. Mas, aqui vamos considerar trauma causado por lesões de natureza mecânica. O trauma gera lesão tecidual e essas lesões vão trazer consequências de acordo com o foco e característica da lesão. As lesões traumáticas são classificadas em: Lesões fechadas (sem fratura e lesão em couro cabeludo, de tal maneira que o SNC continua isolado dentro do crânio, mas houve uma alteração traumática). Lesões abertas (penetrantes, transfixantes) – lesões sem ou com fratura craniana e feridas de couro cabeludo. Elas provocam: As lesões fechadas são principalmente as contusões e lacerações. Quando ocorre trauma na superfície craniana o cérebro se desloca, gerando um trauma indireto, a contusão e/ou laceração. Contusão é a alteração física/mecânica mais comum. Lesões parenquimatosas: - Contusões: concussão é o nome da síndrome clínica, em que ocorre alteração da vigília. Pode ocorrer perda de consciência por períodos mais curtos ou prolongados. O paciente pode atingir o estado de coma estado mais grave da alteração da consciência, além disso pode ter alteração da sensibilidade e da movimentação. Pode ter também alterações de memória, geralmente, na contusão ocorre a amnésia retrógrada. Isso pode estar presente em todo esporte com impacto. O trauma repetitivo crônico pode levar a alterações axonais graves. A alteração axonal difusa pode levar inclusive à demência, fugilistica. Ex.: Boxeadores. - Lacerações: lesão direita com destruição de tecido com necrose. Estão muito associadas ao “Golpe e contragolpe”: lesões a distância do local de impacto. O SNC “balança” podendo causar lesões a distância (indiretas) - Lesão axonal difusa (LAD): estiramento/cisalhamento axonal. Ocorre principalmente na região da substância branca, no corpo caloso. A lesão axonal difusa também pode ser encontrada na medula, nos traumatismos raquimedulares (TRM) pode ocorrer o deslocamento da medula levando a dissecção de medula e até lesão dos feixes medulares. Quanto mais alto o nível do traumatismo medular mais grave é a lesão. A LAD pode ser aguda ou crônica. Hemorragias intracranianas e suas causas principais: Extradural – trauma Subdural – trauma Subaracnóide – trauma, aneurismas, malformações vasculares. Intraparenquimatosa – trauma, infarto, vasculopatias, HAS, tumores. Intraventricular – complicação da anterior. Os traumatismos cranioencefálicos ainda podem ser divididos em primários e secundários: Primários – fratura do crânio, laceração cerebral, hematomas extra e subdural, contusões cerebral e lesão axonal difusa. Ou seja, um TCE primário é aquele que ocorre imediatamente no trauma. Paciente sofreu o trauma e a lesão se apresentou na hora. Lesões determinadas por ação direta e pelo tipo do agente Secundárias – são lesões tardias. Ou seja, o trauma levou ao aparecimento de alguma condição que predisponha o aparecimento de TCE. Como por exemplo, edema cerebral, hipertensão intracraniana e aos distúrbios circulatórios e ou respiratórios. Essas condições levam como consequência ao aparecimento de danos secundários, isquemia, hipóxia, edema Hérnia da tonsila cerebelar 9 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 cerebral e infecções. Então, é uma alteração inicial que tem potencial para evoluir. O mecanismo mais importante nas lesões primárias é o relacionados as forças aplicadas no trauma. Isso significa que a presença ou não de lesão por um traumatismo está relacionada com física. Quais são as forças da física que vão atuar para o aparecimento de uma TCE? Força de impulso e força de impacto. A atuação de cada uma delas determina o que vai acontecer com o paciente. A força de impulso é uma força que vai ocorrer com uma aceleração súbita e que não encontra um anteparo para desacelerar. É o exemplo do soco, golpe na face. Em que se tem a cabeça do paciente sendo movimentada de forma rápida e intensa sem entrar em contato com outra superfície, a cabeça simplesmente será deslocada em alta velocidade, e depois ela vai voltar para posição inicial ou não dependendo do que acontecer com aquela pessoa. Exemplos: box; síndrome de chacoalhamento do bebê (causando micro hemorragias). A força de impacto é a força onde se tem uma aceleração súbita e uma desaceleração também súbita. Gera o impacto, a cabeça é jogada para trás e ela entra em contato com o anteparo, e de repente para de se mover mesmo que haja ainda energia cinética. Exemplo: acidente automobilístico, concussão. Essas forças (separadas ou em conjunto) que podem levar as deformações teciduais por compressão, estiramento e secção. Projétil é força e energia que o tiro libera naquele parênquima. Consequências de TCE é o rompimento de vasos com extravasamento de sangue, ou seja, hemorragias cerebrais ou hematomas. Relembrando os planos estruturais da calota craniana... Os hematomas são classificados de acordo com a região em que o sangue vai se acumular. Os hematomas são classificados em dois tipos: extradural ou subdural. Hematoma extradural/epidural ocorre quando há sangue acumulado entre a dura-máter e os ossos do crânio. São hematomas principalmente relacionados as forças de impacto, quedas e acidentes de carro, onde há a desaceleração súbita devido ao impacto com o anteparo, levando ao rompimento dos vasos sanguíneos. Esses hematomas ocorrem principalmente na região temporo-parietal, devido a fratura no local porque o osso nessa região é mais delgado e fino. Além disso, no leito do osso temporo-parietal repousam as artérias e veias meníngeas médias que se rompem quando há fratura. 10 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Dentre esses dois vasos, a artéria meníngeamédia costuma romper mais. E, como o fluxo arterial é mais exuberante, há maior acumulo de sangue local, causando coleções no espaço extradural. Assim, a pressão desse líquido é capaz de deslocar a massa cerebral (efeito de massa), descolando a dura-máter do crânio. Quando há rompimento da veia meníngea média o acúmulo de sangue é lento e ocorre o intervalo lúcido no paciente (período sem sintomas neurológicos, paciente lúcido e orientado). Porque o sangue demora para acumular, assim, o paciente no momento do trauma não apresenta sintoma neurológico e acha que não precisa de avaliação médica. Paciente volta dois dias depois com hipertensão intracraniana e com sintomas neurológicos. Hematoma subdural ocorre quando há uma coleção de sangue em qualquer espaço entre a dura-máter e a aracnoide. As principais causas são quedas, agressões e acidentes de trânsito. Mas, em geral são aqueles acidentes em que o paciente acaba não tendo uma desaceleração súbita, ocorre quando o paciente é projetado e não bate no anteparo, aceleração de alta intensidade e curta duração eu leva a diferença de movimento dentro do crânio (encéfalo vai para um lado e a calota para o outro). Assim, são rompidos os vasos que ligam a aracnoide (ligada a pia-máter) com a dura-máter (ligada a calota), esses vasos de ligação são as veias cerebrais superiores, todas as veias se rompem, a quantidade de sangramento é muito grande e muito intensa. São lesões de alta mortalidade e morbidade, podendo gerar morte cerebral na hora. O paciente do hematoma subdural em geral não tem intervalo lúcido. O hematoma subdural tem preferencia nas concavidades, áreas mais convexas da calota craniana. Leva a compressão com hipertensão e possível herniação cerebral pelos forames, principalmente, pelo forame magno. Assim, perde-se a BHE, a integridade, expõe o encéfalo ao microambiente onde ele não está acostumado. Dependendo do tempo de instalação, esse hematoma subdural pode ser dividido em três grupos: Agudo quando a morte se dá em até 48 horas após o traumatismo. Subagudo quando tem sangue liquido e coagulado misturado e o óbito se dá em um intervalo de 2 a 14 dias. Crônico líquido turvo escuro, com até um pouco de sangue fresco e que o óbito surge após 14 dias do traumatismo. Em geral, já que se passaram 14 dias ao redor da area hemorrágica se vê uma capsula de tecido fibrovascular na tentativa de isolar aquela area, tentativa que a dura- máter promove para tentar curar o paciente. Microscopia: o sangue fresco indica a hematoma aguda, e no caso do subagudo e crônico já pode-se observar o extravasamento de hemácias e os depósitos de hemossiderina (material marrom). A morte se dá por isquemia, aumento da pressão, herniação. Tumores do SNC Visão geral Os tumores do SNC são neoplasias relativamente raras, correspondem a menos de 2% dos tumores que se desenvolvem no ser humano. A maioria dos tumores do SNC são primários. Apesar de serem muitos raros eles correspondem ao décimo grupo de tumores mais frequentes na mulher. Esses 11 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 tumores tem alta taxa de morbimortalidade, pois ocupam uma área muito nobre, área de grande importância. Apenas 1/3 dos tumores do SNC são malignos. São tumores bimodais, ou seja, alcançam pessoas em todas as faixas etárias, desde crianças à idosos. É o segundo tipo de neoplasias mais frequentes nas crianças, só perdendo para as leucemias. O tumor do SNC tem localizações preferenciais, sendo mais comum ser encontrado na região supratentorial (acima da tenda do cerebelo, estruturas do diencéfalo e telencéfalo) nos adultos, enquanto nas crianças os tumores do SNC são localizados preferencialmente nas regiões infratentoriais (abaixo da tenda do cerebelo, na ponte, no bulbo, no início da medula espinal). Clínica – ligada com a localização. Clínica extremamente variada e que vai estar diretamente ligada com a posição dele. Depende de qual estrutura que está acometida, do tempo que ele está crescendo e do tamanho. Existem tumores do SNC que são assintomáticos e que só vão apresentar sintomatologia quando eles estiverem com um tamanho muito grande. Alterações neurológicas – motoras, sensoriais, psíquicas. Cefaleia – localizada ou global. Paciente acorda de madrugada com cefaleia. Aumento da PIC Sintomas agudos tipo AVC – só para tumores de crescimento muito rápido, tumores malignos. Sintomas sistêmicos – metástase, principalmente por via liquórica. A maioria dos indivíduos morre antes de ocorrer a metástase. Diagnóstico Correlação dos achados clínicos (suspeita), dos achados de imagem (localização anatômica, planos de clivagem, lesão ressecável?) e biópsia (estadiamento, define o prognóstico). RNM – imagem com e sem contraste Biópsia – subtipo histológico e estadiamento. Tipos de tumores primários do SNC Existem mais de 100 subtipos de tumores do SNC. Dividimos esses subtipos em grandes grupos, como os a seguir: 1. Gliomas – tumores de célula da glia 2. Meningiomas – tumores de células da meninge 3. Neuronais ou glioneuronais – tumores de células progenitoras de células tronco do SNC 4. Linfoma do SNC – pacientes com imunodeficiência 5. Metástase para o SNC 6. Tumores neuroepiteliais embrionários (crianças) 7. Tumores pineais – tumores da hipófise Na disciplina vamos estudar os dois tumores mais comuns, o meningioma e gliomas. Meningioma é o tumor do SNC mais comum. Gliomas tumores de hemisfério mais comum. Dentro da classificação dos gliomas tem-se 5 subtipos: Astrocitomas (glioblastoma, ETC); Oligodendrogliomas; Tumores do epêndima: ependioma; Astroblastoma; Gliossarcoma Meningiomas Origem: Células meningoteliais da aracnoide. Células de revestimento da meninge. De todos os tumores do SNC eles são mais frequentes nos adultos, predominando no sexo feminino. Localização preferencial pela superfície cerebral ou pelo sistema ventricular, mas principalmente pelo seio sagital superior. São tumores com comportamento diferente, similar a neoplasia maligna ou benigna. Mas, eles têm o crescimento lento, assim a clínica é bastante insidiosa. Em geral, quando o paciente começa a apresentar cefaleia, o tumor já tem pelo menos dois anos de evolução. E, mesmo assim, ele ainda apresenta um tamanho pequeno, benigno em termo de comportamento. Clínica: insidiosa – 2 anos Sinal e sintoma: hipertensão intracraniana porque o tumor cresce comprimindo a área da meninge, convulsões, sintomas semelhantes a epilepsia, déficit motor, anosmia, cegueira (diminuição da acuidade visual), exoftalmia. São tumores que reconhecemos fatores de risco relacionados com o seu desenvolvimento. Radioterapia de cabeça e pescoço, hormônios femininos. 12 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 PS.: Meningiomas exibem receptores para estrogênio e progesterona, assim, o crescimento desse tumor pode ter relação com os hormônios femininos. Quanto maior o estímulo de hormônios femininos mais o meningioma cresce. Macroscopia do meningioma O meningioma em geral é uma massa nodulares, firme, de superfície lise ou um pouco granular. Ele fica aderido a dura-máter, eles crescem em direção a caixa craniana, em direção ao canal vertebral comprimindo as estruturas ao seu redor. Por ele ter comportamento compressivo, ele é mais benigno, não invadem. Em geral, são pardo-claros, mas podem ser avermelhados quando são muito vascularizados. Meningiomas de grau 4 costumam ser mais vermelhos porque tem mais vasos. Microscopia do meningioma é muito variável. Ela vai depender diretamente do grau histológico do meningioma, que pode ser classificado em 3 tipos. Grau I – Baixograu, neoplasia totalmente benigna. Contém 9 subtipos histológicos. Grau II – Grau intermediário. Contém 3 subtipos. Grau III – Meningioma maligno. Como tem muita particularidade em cada um desses graus, nós não vamos dar a microscopia. Devemos saber a clínica e a macroscopia dos meningiomas. Gliomas São tumores malignos (exclusivamente malignos) mais comuns. Apesar de as vezes terem um grau mais baixo, comportamento mais insidioso. Esse tumor tem origem em células progenitoras da glia. Esses tumores são divididos em grupos de acordo com as células de origem: Astrocitomas (75%): tumores dos astrócitos. Oligodendrogliomas: tumores dos oligodendrócitos. Ependimomas: tumores das células ependimárias. Oligossarcomas: tumores de outras formas dos oligodendrócitos. Classificação quanto aos graus histológicos: classificações quanto ao grau de malignidade. Graus histológicos Grau I Bom prognóstico, comportamento benigno, crescimento lento, raros, sem recidiva. (astrocitoma pilocitico, xantoastrocitoma pleomórfico, tumor neuroepitelial disembrioplástico) Grau II Agressividade baixa, 2-4 décadas de vida, infiltrativos, raros, média de 5-10 anos de sobrevida, cura em cerca de 2/3 dos pacientes. (astrocitoma difuso, oligodendroglioma, oligoastrocitoma) Anotações Meningioma aderido à dura-máter crescendo em direção ao telencéfalo e diencéfalo, empurrando essas estruturas, por isso o caráter compressivo que leva ao aparecimento de sintomas de aumento da pressão intracraniana e epilepsia. 13 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Grau III Intermediários para alto grau, sobrevida 2-5 anos, anaplasia. Área de anaplasia é muito pequena. Grau IV Alto grau, muito agressivo, necrose, em média 60 anos, cerca de 1 ano de sobrevida, os mais comuns. (Glioblastomas – astrocitoma mais maligno). Esses graus histológicos não são fixos. Assim, o tumor grau I se não for abordado cresce podendo modificar até se transformar em grau IV. Por isso, é importante identificar, diagnosticar a abordar, porque se eles ficam muito tempo crescendo eles conseguem alterar o grau de malignidade. Grau IV é o mais comum principalmente em serviço público, onde a negligência é maior devido à dificuldade do sistema. Astrocitomas são tumores neuroepiteliais que vem das células da glia, especificamente dos astrócitos que tem origem no ectoderma, então eles são considerados células epiteliais. Correspondem a 75% dos tumores presentes no adulto. Atingem principalmente os hemisférios cerebrais dos adultos entre a 4 e 5 décadas de vida. E, dentro dos astrocitomas temos 2 grupos: localizado (pilocitico) e infiltrante (que se divide novamente em 3 subgrupos). Grupos dos astrocitomas infiltrantes Astrocitoma difuso II/IV Astrocitoma anaplásico III/IV Glioblastoma IV/IV Ir para a prova sabendo glioblastoma! Astrocitoma pilocitico – grau I É uma neoplasia de grau, potencial de malignidade baixo, crescimento mais expansivo que infiltrativo. É um tumor que acomete principalmente criança, adolescente e adultos jovens. O local preferido do astrocitoma pilocitico é o nervo óptico, tálamo e cerebelo. Na clínica se vê diminuição e perda de acuidade visual, papiledema, exoftalmia unilateral e alterações de movimentos oculares (movimentos oculares anômalos). Macroscopia do astrocitoma pilocitico: possui uma área bem definida e uma área pouco definida (ora irregular ora bem circunscrito), uma vez que é uma neoplasia maligna com comportamento um pouco benigno. Pode ser compacto, mas o mais comum é o aspecto sólido-cístico com aparência gelatinosa, branco ou acinzentado e brilhante. Principal padrão é cístico. Microscopia do astrocitoma pilocitico: áreas compactas de células fusiformes com longos prolongamentos. Os astrócitos neoplásicos produzem fibras gliais (fundo eosinofilico). Pode haver áreas frouxas de astrócitos estrelados. Pode ter corpos eosinofilico granulares e fibras de Rosental. O que é a fibra de Rosental? É o prolongamento do astrócitos neoplásico que tem seus prolongamentos espessados (ricamente eosinofilicos). Característico do astrocitoma pilocitico. 14 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Prolongamento dos astrócitos. Astrocitomas infiltrantes a. Astrocitoma difuso – grau II Tumor maligno de baixo grau de malignidade, se infiltra difusamente nas estruturas adjacentes, principalmente no lobo frontal e temporal. Na TC a massa é mal definida, não capta contraste. É possível notar a massa que deforma o hemisfério, mas ela não capta contraste. Apesar de ser um tumor infiltrante, ele preserva a barreira hematoencefálica, por isso o contraste não passa para ele. Acomete indivíduos de 25-45 anos. Macroscopia do astrocitoma difuso – grau II: Esse processo tumoral tem afinidade pela substância branca e devido a isso forma uma massa firme de limites imprecisos, de crescimento infiltrativo, com alguns cistos visíveis por sua extensão. Como esse tumor tem aspecto parecido com a substância branca é difícil saber onde ele começa e termina, aqui está a dificuldade da ressecção desse processo tumoral. Microscopia do astrocitoma difuso – grau II: apresenta mais astrócitos neoplásicos que o grau I, bem diferenciados, tem produção de fibras (fundo fibrilar), poucas atipias, mitoses raras ou ausentes, capilares delicados de endotélio plano. b. Astrocitoma anaplásico – grau III Dentro dos astrocitomas difusos é um tumor de grau III que pode ter evoluído do grau II ou que é uma lesão nova. Acomete pessoas de 30-50 anos. E, que cerca de 1/3 tem uma taxa de sobrevida de 5 anos (prognóstico ruim). Na TC, o contraste capta parcial o astrocitoma anaplásico porque ele invade, infiltra e destrói a barreira hematoencefálica. Macroscopia astrocitoma anaplásico – grau III: praticamente igual ao astrocitoma difuso, mas o anaplásico vai ser maior, mais destrutivo, mais granuloso. Tem aparência pardo claro, se mistura com a substancia branca. A diferença será no comportamento e na microscopia. Microscopia astrocitoma anaplásico – grau III: densidade celular moderada a elevada, tem atipias nuclear, célula grande, célula pequena, célula gigante, mitose atípica com índice de proliferação de 5-10%, áreas com células pouco diferenciadas (anaplásica), capilares delicados com única camada de endotélio para irrigar o tumor. 15 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 c. Glioblastoma – grau IV Astrocitoma de alto grau de malignidade. É o tumor maligno mais frequente do SNC. Acomete adultos de 45-75 anos. Pacientes tem menos de 1 ano de sobrevida após o diagnóstico (pior prognóstico). Em geral, são massas supra tentoriais que acometem os hemisférios com rápida disseminação para as regiões vizinhas. Tem preferencia pelo lobo frontal, temporal e parietal. Na TC se apresenta como uma massa irregular com zona periférica em anel hipercaptante, centro hipocaptante (muita necrose, neoangiogênese não acompanha o crescimento do tumor). Sintomas de HIC: 6 meses de evolução. Macroscopia do glioblastoma – grau IV: Lesão de limite impreciso. Em geral, com áreas firmes e áreas amolecidas (necrosadas). Coloração branca ou amarelo necrótico. Friável, opaco e granuloso. Pode apresentar hemorragias devido a grande proliferação vascular e a invasão, infiltração e destruição dos vasos adjacentes. Microscopia do glioblastoma – grau IV: hipercelularidade com grande variabilidade celular (variação dos aspectos celulares muito grande), todas células são atípicas. Mitoses frequentes com índices de proliferação de 15-20%, em média. Áreasde necrose rodeada por células – aspecto de pseudo paliçada (halo, aspecto de desenho de flor de criança). A vasculatura é abundante. O vaso deixa de ter uma camada de célula epitelial, passa a ter várias células epiteliais que as vezes são hipertróficas e as vezes são cuboides, distorcendo a arquitetura do vaso que passa a lembrar o glomérulo renal; por isso, vasos glomeruloides (aspecto retorcido). No glioblastoma também é muito frequente a formação de trombose na região. Aspecto de pseudo paliçada. Oligodendrogliomas São tumores formados por células similares aos oligodendrócitos (progenitoras dos oligodendrócitos). São tumores de grau II. Tem uma faixa etária de 30 a 60 anos. São tumores de evolução lenta e longa. O principal sintoma são convulsões, então o paciente apresenta o quadro típico de epilepsia. O principal local de acometimento é o córtex e a substância branca. São tumores que em geral levam o paciente à óbito pela hemorragia. São tumores com bastante vascularização. E, como o comportamento deles é mais lento, o paciente vai a morte porque o tumor vai invadindo e gerando hemorragia focal. Macroscopia dos oligodendrogliomas – grau II: são massas sólidas que alargam os giros e apagam os limites da sustância branca. Nos cortes em geral eles são homogêneos ou granulares, tendo consistência gelatinosa acinzentado, lembrando o astrocitoma pilocitico. O oligodendroglioma pode formar cistos grandes, e tem uma característica bastante peculiar que é formar calcificações. Tem também a característica de causar hemorragias focais. Como diferenciar pela imagem o astrocitoma pilocitico e o oligodendroglioma? Basicamente, deve- se observar a localização. O oligodendroglioma tem preferencia pelos hemisférios, enquanto o astrocitoma pilocitico tem preferencia pela região do cerebelo, bulbo. 16 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu e Maria Clara – Fernanda Pereira - 4º período – 2021.1 Microscopia dos oligodendrogliomas – grau II: são formados por células ovoides/arredondadas, de núcleo redondo e cromatina granular com citoplasma vacuolado (halo branco na micro). As células fazem invasão, infiltração no espaço subpial, espaços perineuronais e perivasculares. O fenômeno das células tumorais quererem ficar próximo a neurônios e vasos é conhecido como satelitose perineuronal/perivascular. A vasculatura se apresenta como capilares arqueados e ramificados. Nesse caso, pode observar frequentemente calcificações. Calcificação é a parte mais escura presente na lâmina do oligodendroglioma – grau II. Ependimomas Tumor de baixo grau, tumor grau II. Proveniente das células do epêndima, revestimento das cavidades. O principal local de aparecimento do ependimoma é o IV ventrículo, pois é o ventrículo principal. Nesse ventrículo as células se tornam malignas. É um tumor de criança menores de 10 anos. É o glioma mais comum da medula espinhal. Clínica: hipertensão intracraniana. Distúrbios endócrinos (comprime a glândula pineal), distúrbios sensitivos e motores. Macroscopia dos ependimomas: são tumores sólidos, firmes, homogêneos, lisos, de limites nítidos e, em geral, cor cinza. Microscopia de ependimoma: células justapostas e uniformes, núcleo ovoide e cromatina granular (pontilhado basofílico), formam rosetas e pseudo- rosetas (células ao redor dos vasos ou dispostas de maneira concêntrica), sem atipias, sem mitose, áreas paucicelulares, astrócitos comuns produzem fibras. São tumores em geral que tem herança genética envolvida, em que a criança herda um alelo mutado de um dos pais e a segunda mutação ocorre durante a infância. Satelitose perineuronal → marcação verde Satelitose perivascular → marcação laranja
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