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Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais CLÍNICA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE GRANDES ANIMAIS Acidose Ruminal É a alteração causada pelas consequências da queda do pH no rúmen. É classificada em: Acidose Láctica Aguda (ALA) e Acidose Latente Crônica (ALC). Também pode ser classificada em Acidose Lática Ruminal (ALR) ou Acidose Ruminal Por Ácidos Graxos De Cadeia Curta (ARAGCC) → ácido propiônico e/ou ácido acético. As acidoses surgem quando existem oferecimento anormal tanto em quantidade como na forma, dos carboidratos solúveis, falta de fibra efetiva e principalmente erros no manejo, entre eles: ausência ou pequeno tempo de adaptação às novas dietas, atrasos no oferecimento de alimento e erros na distribuição de rações. Entre muitas situações descritas destaca-se também a introdução de animais não-adaptados entre os já adaptados, acessos a depósito de alimentos ou oferecimento súbito de frutas e certos legumes. Etiologia: excessiva ingestão de carboidratos de fácil digestão, solúvel ou não estrutural. • Grãos: milho, trigo, sorgo, arroz, etc. • Frutas: pera, maçã, uva, laranja, etc. • Tubérculos: mandioca, batata, beterraba, nabo, etc. • Farinhas: fubá, farelo de trigo, etc. • Sub-produtos industriais: melaço, polpa de laranja, malte de cervejaria, soro lácteo etc. • Ração concentrada Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais Tipos de carboidratos solúveis Maior risco de acidose Monossacarídeos (frutas) Dissacarídeos (melaço e lactose) Polissacarídeos (amido) Ração completa Menor risco de acidose Alimentos ricos em carboidratos solúveis quando são quebrados, triturados, ou passam por outro processo que facilita ainda mais a digestão do carboidrato aceleram a ocorrência da acidose. Alimentos oferecidos já degradados fazem com que a fermentação ocorra de forma mais rápida, como exemplo, massa de mandioca e farelo de milho possuem rápida fermentação ruminal, já o milho inteiro ou reduz significativamente a velocidade de fermentação do alimento. Animais alimentados com carboidratos de fácil digestibilidade tendem a possuir acidose ruminal, são alimentos como farelo de milho e ração peletizada, são alimentos ricos em amido, o contrário ocorre com os alimentos que possuem carboidratos de difícil digestibilidade, que são ricos em celulose, são eles o capim (Mombaça, Camerom e outros). Patogênese Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais Etiopatogenia Animal alimentado com 100% de fibra: • pH 7,1 – 6,8; • Tempo de ruminação: 7 a 8hs/dia • Concentração de Lactato -1mMol/L • Estratificação - presente • + + + protozoários • - - - S. bovis e Lactobacilus • + + + acetato • - - - propionato • + + CH4 • + + + fungos • - - - Megasphera elsdenii • + + + gordura no leite Animal alimentado com 70% de fibra e 30% de concentrado: • pH 6,5 – 5,8; • Tempo de ruminação: 7 a 8hs/dia • Concentração de Lactato -1mMol/L • Estratificação - presente • + + + protozoários • - - S. bovis e Lactobacilus • + + acetato • - - propionato • + + CH4 • + + + fungos • - - - Megasphera elsdenii • + + + gordura no leite Animal alimentado com 55% de fibra e 45% de concentrado: • pH 6,4 – 5,8; • Tempo de ruminação: 5 a 6hs/dia • Concentração de Lactato -1mMol/L • Estratificação - presente • - - protozoários • + S. bovis e Lactobacilus • - acetato • + + propionato • - - CH4 • - - fungos • + + Megasphera elsdenii • - - gordura no leite Animal alimentado com 45% de fibra e 55% de concentrado: • pH 6,0 – 5,5; • Tempo de ruminação: 4 a 5hs/dia Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais • Concentração de Lactato -10mMol/L • Estratificação – não definida • + + tamanho das papilas • - - - protozoários • + + + S. bovis e Lactobacilus • - - - acetato • + + + propionato • + + butirato • + + lactato • - - - CH4 • - - - fungos • + + + Megasphera elsdenii • - - - gordura no leite Animal com quadro agudo de acidose: • pH 5,8 – 4,8; • Tempo de ruminação: <3hs/dia • Concentração de Lactato -15mMol/L • Estratificação – não definida • + + + tamanho das papilas • + + atonia ruminal • + + abscessos hepáticos • Ausência de protozoários • + + + S. bovis e Lactobacilus • + + clostridium (tiaminase) • - - - acetato • + + + propionato • + + + butirato • + + + lactato • - - - CH4 • Ausência de fungos • - - - Megasphera elsdenii • - - - gordura no leite • Osmolaridade da dieta → hemoconcentração Consequências da acidose ruminal • Queda do pH ruminal; • Poliencefalomalácia; • Laminite; • Paraqueratose; • Cetose sub-clínica; • Úlcera na mucosa do rúmen; • Menor % na produção de leite; • Acidose metabólica; • Timpanismo espumoso; • Perda e grãos nas fezes; • Aumento da osmolaridade e ruminal; • Liquefação do conteúdo ruminal. Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais Acidose Latente Aguda (ALA) É mais comum em bovinos de corte que não estão acostumados com ração e acabam consumindo uma grande quantidade quando têm acesso a essa ração, uma vez que o consumo de ração é feito sem nenhum tipo de adaptação prévia. Devido à grande quantidade de carboidratos fermentescíveis que serão transformados em lactato pelos microrganismos do rúmen. O acúmulo de lactato reduz cada vez mais o pH ruminal. Se o animal não for tratado, pode chegar ao óbito. A diferença entre a forma crônica desta alteração é marcada pela agressividade mais elevada que a forma aguda confere ao animal. Acidose Lática Crônica (ALC) Acidose crônica: quando o pH fica entre 5,5 e 5,0, e retorna ao normal sozinho. Isso acontece durante um tempo até a vaca se acostumar com a dieta; quando se acostuma o pH não cai mais após a alimentação. Essa acidose acontece frequentemente em vacas leiteiras pós-parto, em que há mudança na dieta. Isso ocorre durante um mês, aproximadamente. O problema disso é o pH baixo causa lesões que vão interferir principalmente na produção de leite. A ALC é menos letal e nem sempre apresenta os sinais clínicos. Também é também é classificada como ARAGCC. Acidose Lática Ruminal (ALR) É uma doença metabólica de evolução aguda ou crônica, causada pela ingestão exagerada de carboidratos solúveis, que fermentados no rúmen produzem grande quantidade de ácido lático, provocando inicialmente acidose ruminal, seguida de acidose sistêmica, desidratação, prostração, coma e consequentemente morte. Ela é gerada por consumo exagerado de carboidratos solúveis, muitas vezes em bovinos não adaptados a estas dietas, o pH no interior do rúmen normalmente é inferior a 5,2 nesse tipo de acidose. Mecanismo de fermentação dos alimentos no rúmen: Produto obtido pela formação dos AGV: Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais Fermentação normal (40% concentrado e 60% forragem), produção de ácidos e pH do suco ruminal: Fermentação em casos de ALR; produção de ácidos e pH do suco ruminal: Ocorrência: mudanças bruscas na alimentação: mudança no sistema extensivo para intensivo (confinamento) sem adequada adaptação; livre acesso a depósitos de ração; preparo para exposição do animal, erro no oferecimento de ração (máquinas desreguladas). A ALR geralmente ocorre em surtos superagudos, com um quadro clínico bem exacerbado e evidente, levando frequentemente animais à morte. Devido ao grande aumentoda osmolaridade ruminal, que se torna muito superior à do sangue, fluidos migrarão para o rúmen dando origem à desidratação. Embora acredita-se que os surtos de ALR sejam mais comuns em gado de corte, também têm sido descritos em gado leiteiro, principalmente por erros grosseiros na distribuição de concentrados. Sinais Clínicos: anorexia (provocada pelo aumento súbito da osmolaridade ruminal), atonia ruminal, desidratação crescente que pode levar a morte do animal em poucas horas, arritmias, depressão, diarreia aguda, pH fecal ácido, alterações respiratórias (excreção de muco), afundamento da fossa paralombar direita e aumento da região ruminal. Tratamento: Mesmo com o tratamento, a recuperação é bem mais lenta na ALR que na ARAGCC, sendo que o apetite só se recupera totalmente no sétimo dia, fazendo com que a fossa paralombar esquerda esteja bem afundada, ou menos preenchida. Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais Acidose Ruminal Por Ácidos Graxos De Cadeia Curta (ARAGCC) As ARAGCC ocorre pela baixa no pH do rúmen pela grande quantidade dos AGCC. Nesta acidose ocorre produção temporária anormal de AGCC no rúmen, acima de 100 mM/L com o pH não sendo inferior a 5,2, com mínima produção de ácido láctico. O excesso de carboidratos solúveis, num pH abaixo de 6,0, proporciona um crescimento explosivo na população de Streptococcus bovis (Gram +) que se duplica a cada doze minutos, e que desdobra os carboidratos solúveis em ácido propiônico, e em menor grau em ácido butírico e ácido láctico. As alterações da ARAGCC causam danos inflamatórios às papilas, morte parcial de bactérias ruminais gram-negativas, que por terem lipopolissacarídeos (LPS) em sua parede, provocam um aumento destas substâncias no rúmen, as quais absorvidas, geram o surgimento de proteínas inflamatórias sanguíneas. Sinais Clínicos: O quadro clínico é brando e é também chamada de acidose ruminal subaguda. As alterações também são discretas e inespecíficas. Os principais sinais são: perda de apetite, menor preenchimento da fossa paralombar esquerda, redução dos movimentos ruminais, redução da força de contração do rúmen, redução do tempo de ruminação, depressão, diarreia pastosa, fezes ácidas com alimento não digerido, alimentação mais seletiva por fibras longas, Patologia clínica: é fundamental para confirmar o diagnóstico das acidoses ruminais. Sem dúvida, o pH ruminal é considerado crucial. Porém, o suco ruminal obtido por sonda esofágica é grandemente contaminado com saliva, o que torna os valores de pH, em média, 0,8 graus mais altos, interferindo em algumas outras provas ruminais, o ideal seria a extração do suco ruminal por meio de ruminocentese, do flanco medial esquerdo. Devido à variação individual do pH ruminal em animais comendo a mesma dieta, no diagnóstico da ARAGCC tem sido recomendada, para grandes rebanhos, a ruminocentese em pelo menos doze vacas que estejam entre 45 e 150 dias de lactação, e o encontro de duas delas com pH < 5,5 já é indicativa do problema. Na ALR o pH fecal é de grande valia no diagnóstico, pois entre a 13º a 24º hora do quadro há queda significativa do pH com valores entre 4,9 a 5,7 (normal: 6,0 a 7,2). Na ARAGCC o pH fecal diminui ligeiramente (cerca de 0,3 a 0,5), principalmente no primeiro dia após a queda de pH ruminal, o que torna a prova de difícil constatação na prática clínica. Ainda na ARAGCC, foi descrita a presença macroscópica de fibras nas fezes com mais de 1cm de tamanho (normal: 0,5 cm). A hemogasometria é de grande valia para identificar o grau de acidose metabólica, quer seja pela avaliação do pH, dos teores do excesso de base (EB) e do bicarbonato. O pH urinário é um teste rápido, e passível de ser realizado ao pé do animal, para predizer e identificar a presença de quadros de acidose metabólica sistêmica gerados no decorrer de ALR, porém não tem caráter diagnóstico na ARAGCC. Complicações: ruminite, laminites, lesão perianal, broncopneumonia, abscessos hepáticos e poiencefalomalácia. Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais A laminite pode ocorrer em todas as formas de acidoses e está ligada ao processo de absorção de endotoxinas ruminais (LPS), isso provoca uma reação em cascata que leva a lesões degenerativas e vasculares nas lâminas do casco, seus sinais clínicos são: dor ao caminhar, claudicação e reação inflamatória podal. As ruminites são causadas pela ação dos ácidos na mucosa do rúmen. A lesão perianal é decorrente das fezes ácidas, são muito recorrentes nos casos crônicos de acidose, uma vez que os sinais de acidose crônica são pouco notáveis mas o pH das fezes é baixo suficiente para lesionar a região perianal. A poliencefalomalácia é causada pela destruição da vitamina B1 dentro do rúmen. Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais Patologia: na ALR a ruminite ulcerativa é frequentemente encontrada em animais que sucumbem. Em casos de polioencefalomalácia são verificadas alterações cerebrais classicamente descritas, como edema cerebral, circunvoluções cerebrais amareladas, amolecidas e afundadas, etc. Diagnóstico Na ALR, além do histórico de erro no manejo nutricional, são de grande importância os sintomas digestivos (atonia ruminal, aumento de volume abdominal, diarreia, etc.) e sistêmicos (desidratação, diminuição da consciência, assim como o exame do pH ruminal, fecal e urinário). Outras provas ruminais também podem servir de subsídio ao diagnóstico. Na ARAGCC, como os sintomas são vagos e inespecíficos, deve-se dar muita atenção aos índices da frequência de laminite asséptica, do percentual de animais em ruminação e nos teores individuais de gordura ou da relação proteína/gordura no leite. No caso de suspeita deve-se realizar a ruminocentese para exame do pH, do POR e do TRAM, entre a 6° e 9° horas pós-alimentação. Prognóstico: Na ALR o prognóstico em relação à vida deve se basear no pH ruminal, grau de hidratação e estado mental. Quanto ao pH ruminal o prognóstico é: bom entre 4,5 e 5,0; reservado entre pH 4,0 a 4,5 e ruim no pH < 4,0. A diarreia é indicativa de bom prognóstico. Tratamento: A ruminotomia, para retirada do conteúdo é indicada, em especial nos casos mais graves quando o animal se encontra em decúbito, hipotermia, diminuição da consciência e com grande distensão de volume abdominal, contudo o tratamento médico tem uma vantagem sobre o tratamento cirúrgico, pois o último também pode aumentar a acidose sistêmica. Assim, as metas do tratamento médico na ALR são as seguintes: retirada máxima do conteúdo ruminal acidótico e transplante de microbiota ruminal, correções da desidratação e da acidose metabólica. Devido à maior presença de fluido ruminal na ALR, sua retirada por sonda esofágica é bem fácil, se comparada às condições normais. A máxima retirada de conteúdo diminui a quantidade de ácidos no rúmen, mitiga a alta osmolaridade e abre espaço para a administração intraruminal de água, que fará parte da correção da desidratação. Essa retirada máxima de fluido ruminal evita a necessidade do uso de tampões via oral, como o bicarbonato ou hidróxido de magnésio, pois o primeiro, num ambiente ácido desencadeia meteorismo gasoso ruminal, e o segundo pode desencadear quadros de alcalose rebote posterior, além de reduzir a microbiota transplantada. A hidratação com solução hipertônica é um ponto essencial no tratamento da ALR, em Eliel Valentim | PL2 | Clínica de Grandes Animais especial naqueles animais com desidratação muito intensa, já com choque hipovolêmico, prestes a sucumbir.Quadros de polioencefalomalácia devem ser tratados com 3g/dia de tiamina, por três dias consecutivos, por via intramuscular e pela administração de altas doses de vit. B1. A laminite asséptica aguda é outra complicação frequente nas acidoses ruminais que pode ser tratado com três diferentes AINEs (meloxican 0,5 mg/kg PC; cetoprofeno 3 mg/kg PC e flunixin meglumine mg/kg PC, uma vez ao dia, por três dias consecutivos) na laminite asséptica aguda, induzida na ALR, o meloxican é muito eficaz na diminuição da sensibilidade podal, melhorando talmbém o escore de locomoção. O tratamento na ARAGCC, embora possível nos casos mais severos, se seguem as bases da terapia de ALR. Geralmente não é feito, uma vez que os quadros são mais brandos, dando-se grande ênfase às medidas preventivas. Prevenção: a adaptação gradual às dietas ricas em carboidratos solúveis, a limitação de ingestão excessiva destes, o manejo alimentar adequado, o estímulo à salivação e a absorção dos AGCC, a adição de tampões ruminais e de compostos ou probióticos que impeçam o crescimento bacteriano indesejado, manutenção do conforto animal, entre outros. Valorização do sistema semi-intensivo com animais adaptados Valorizar a ingestão de volumoso (celulose e lignina) Animais criados livres possuem menor risco de serem acometidos por inúmeras doenças, dentre elas, acidose rumina, deslocamento de abomaso, úlceras nos pré-estômagos e outras. Alta densidade de animais e a alimentação distribuída de forma irregular são fatores predisponentes para uma série de doenças digestivas e metabólicas.
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