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Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 1 DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO HIPOTALÂMICA E HIPOFISÁRIAS - HIPOPITUITARISMOS E TUMORES HIPOFISÁRIOS Hipotálamo-hipófise: anatomia e fisiologia O hipotálamo secreta fatores excitatórios e inibitórios para atuar na adenohipófise. Na hipófise anterior, existe um sistema porta, onde chegam os fatores hipotalâmicos. Quando tem tumores hipofisários, pode comprimir haste e impedir a chegada dos fatores hipotalâmicos – pode causar hiperprolactinemia, deficiência de GH, LH, FSH, ACTH... A neurohipófise recebe diretamente os neurônios do hipotálamo. Os núcleos supraóticos e paraventriculares secretam ocitocina e paraventriculares vasopressina. Hipófise: Pesa cerca de 0,5 a 1,0g. Mede em torno de 1,0cm. Divisão anatômica, funcional e embriológica: - Hipófise anterior - derivada do ectoderma. - Hipófise posterior - derivada do neuroectoderma. Localizada na sela túrcica. Proximidade com estruturas (quiasma óptico). Observe que o TRH estimula PRL, por isso que o hipotireoidismo primária pode cursar com hiperprolactinemia. →Hipopituitarismo Deficiência parcial ou completa de um ou mais hormônios. Alteração primária da hipófise ou secundária a disfunção hipotalâmica. Causas adquiridas ou genéticas. Manifestações clínicas do hipopituitarismo Comprometimento de 75% parênquima para começar a ter manifestações clínicas. As deficiências manifestam-se, em geral, na seguinte ordem da hipófise anterior: 1.Gonadotrofinas (LH, FSH) 2.Somatotrofina (GH) 3.Tireotrofina (TSH) Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 2 4.Corticotrofina (ACTH) 5.Prolactina (PRL) →Deficiência de gonadotrofinas (FSH e LH) - Hipogonadismo hipogonadotrófico: Causas: Doenças hipotalâmicas Doenças da haste hipofisária Doenças da hipófise !!!Lembrete!!! Excluir hiperprolactinemia, hipotireoidismo primário, insuficiência adrenal, excluir anorexia nervosa (excesso de atividade física), excluir uso de medicações. →Mulheres: Manifestações clínicas: Amenorreia primária ou secundária Perda de libido Atrofia mamária Dispareunia Osteoporose Infertilidade →Homens: Redução de massa muscular Astenia Atrofia testicular Ginecomastia Redução de caracteres sexuais secundários Perda de libido e disfunção erétil Redução do ejaculado e azoospermia Osteoporose → Achados laboratoriais: FSH e LH basais: baixos ou normais (lembrar que doenças centrais, os hormônios sempre vem baixos ou normais). Esteroides sexuais baixos - Testosterona no homem / Estradiol na mulher →Tratamento - reposição estrogênica: Estradiol (Prymogina®) Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 3 Estrogênios conjugados (Premarin®) Estrogênio transdérmicos ou em gel (Estraderm®, Estreva® gel) →Tratamento - reposição androgênica: Ésteres de testosterona (Durateston®) Cipionato de testosterona (Deposteron®) Undecanoato de testosterona (Nebido®) Testosterona em gel (Testim®) Testosterona em adesivos (Androderm®) Testosterona solução tópica (Axeron®) →Deficiência de somatotrofina (GH) Causas: Idiopática (esporádica, familiar, associadas ao diabetes insipidus). Iatrogênica (pós-cirurgia, pós-radioterapia). Neoplásicas (tumores selares ou supra-selares). Doenças crônicas (DM tipo 1, talassemia, disgenesia gonadal, displasias ósseas). Mutações no gene do GHRH-R ou no gene do receptor de GH. →Manifestações clínicas em crianças: Diminuição da velocidade de crescimento; Baixa estatura; Implantação anômala dos dentes; Micropênis; Hipoglicemia neonatal; Lipodistrofia abdominal; Hipotrofia muscular. →Manifestações clínicas em adultos: Fraqueza; Depressão; Osteoporose; Labilidade emocional; Redução de massa magra e na capacidade para o exercício; Aumento de massa gorda (predominante em tronco). Aumento do LDL e do risco cardiovascular →Deficiência de somatotrofina (GH): Achados laboratoriais: GH basal (difícil de dosagem, pois a secreção é em picos), IGF-I e IGFBP3 baixos. Se IGF-I baixo: (É importante avaliar se a criança não tem distúrbio crônico, como anemia, desnutrição... pois essas alterações podem dar IGF-I baixo). Teste de tolerância à insulina (ITT): induz a hipoglicemia (porque secreta GH, cortisol e hormônios hiperglicemiantes) e monitora colhendo glicemia e GH. Em indivíduos normais, ocorre secreção de pico de GH. Se pico de GH reduzido, infere deficiência do GH. Necessário “priming” com Premarin 0,325mg/dia durante 05 dias Pico de GH reduzido (<5-7ng/mL em crianças e <3ng/mL em adultos). Testes confirmatórios: L-dopa ou glucagon. Tratamento: GH recombinante humano (rhGH) Crianças: 0,1 a 0,2UI/Kg/dia, subcutâneo Adultos: 0,45 a 0,90UI/dia, subcutâneo Lembrete: estadiamento puberal, curvas de crescimento, idade óssea; Excluir doenças sistêmicas; Excluir hipotireodismo primário, síndrome de Cushing, síndrome de Turner. →Deficiência de tireotrofina (TSH) – hipotireoidismo central: Manifestações clínicas: Astenia Sonolência Intolerância ao frio Pele seca e descamativa Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 4 Voz arrastada Hiporreflexia profunda Edema facial Anemia Bradicardia Lembrete: 10 a 15% da função tireoidiana não depende do TSH Achados laboratoriais: TSH baixo, normal ou discretamente elevado T4 livre baixo; T3 normal ou baixo Tratamento: Levotiroxina 1,0 a 1,5µg/Kg/dia; Monitorar com T4 livre. →Deficiência de corticotrofina (ACTH): Manifestações clínicas: Fraqueza Astenia Anorexia Perda de peso Hipotensão postural leve Hipoglicemia Hiponatremia (raro) Lembrete: Perda de produção de cortisol e andrógenos adrenais; Sistema renina-angiotensina-aldosterona íntegro. Achados laboratoriais: ACTH basal: baixo ou normal. Cortisol basal: baixo ou normal. Teste de tolerância à insulina (ITT): - Pico de cortisol reduzido (< 18-20µg/dL) Tratamento Acetato de hidrocortisona 15 a 25mg/dia ou 15 a 20mg/m² em crianças OU Prednisona 5 a 7,5mg/dia →Deficiência de prolactina (PRL): Manifestações clínicas: Impede a lactação. Lembrete: Extremamente rara. Achados laboratoriais: PRL baixa. Tratamento? →Deficiência de vasopressina (ADH) Manifestações clínicas: Poliúria – definição: Em adultos: diurese >3000mL/dia ou >50mL/Kg/dia – tem que fazer balanço hídrico. Em crianças – até 2 anos: >100mL/Kg/dia; acima de 2 anos: >50mL/Kg/dia Lembrete: excluir causas de poliúria (hiperglicemia, hipercalcemia, hipocalemia, doença renal, potomania); excluir uso de diuréticos ou outras medicações. Achados laboratoriais: osmolaridade urinária baixa (Uosm < 300 mOsm/Kg); osmolaridade sérica normal ou elevada; teste de restrição hídrica seguido de desmopressina. Tratamento: desmopressina intranasal (dDAVP) – dose inicial 5µg/dia. Tumores hipofisários Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 5 Massasselares 90% adenomas hipofisários 10% demais etiologias: lesões vasculares, tumorais, císticas, infecciosas e inflamatórias. Investigação diagnóstica: Sintomatologia do paciente, exames de imagem, dados laboratoriais. Diagnóstico diferencial: Tratamento; Prognóstico; Acompanhamento Desafio diagnóstico: Manifestações clínicas; Achados radiológicos . →Quadro clínico – sintomas dependentes do efeito de massa: Hemianopsia bitemporal Cefaleia (distensão da dura-máter) → pouco frequente Compressão de nervos cranianos -Ptose palpebral (III par) -Diplopia (VI par) -Dor trigeminal ou parestesia de face (V par) → raro →Quadro clínico – sintomas dependentes das alterações hormonais: Deficiências hormonais Por compressão ou destruição das células hipofisárias. Por alterações do hipotálamo ou da haste hipofisária Perda da função: FSH e LH GH TSH ACTH Hiperfunção: Hiperprolactinemia por compressão de haste ou produção tumoral; Acromegalia Doença de Cushing Exames complementares: Exames de Imagem: RM de sela é exame de escolha; TC em alguns casos; Avaliação hormonal; Depende do tamanho da lesão, suspeita clínica e idade do paciente Lesões > 1,0cm: avaliar hipo e hiperfunção (PRL, T4 livre, cortisol, hormônios sexuais, IGF-I). Se lesão > 1cm, já pode ter comprometimento de função e efeito de massa. →Prolactinomas: Sinais e sintomas de hipogonadismo; Galactorreia; Diagnósticos diferenciais: Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 6 Lembrar que tumor secretor de GH geralmente é cossecretor de prolactina! Por isso deve dosar IGF-I e GH se hiperprolactinemia. Médias de hiperprolactinemia em cada patologia: →Efeito gancho: O efeito gancho se caracteriza pela presença de níveis falsamente baixos de prolactina (PRL), quando se empregam imunoensaios de dois sítios em pacientes com grandes prolactinomas e hiperprolactinemia muito acentuada. O Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 7 efeito gancho pode ser identificado através de uma nova dosagem da PRL após diluição do soro a 1:100, quando se observará um aumento dramático do valor da PRL. Efeito gancho: quanto maior o nível de prolactina, maior a leitura do ensaio. No entanto, há um momento de saturação e começa haver queda da leitura (gráfico em forma de gancho). Paciente com tumor grande, com pouca secreção de prolactina. Pede diluição do ensaio, para avaliar se o valor está alto e condizente com o macroprolactinoma e descartar pseudoprolactinoma. Prolactinomas – tratamento: Agonistas dopaminérgicos: Bromocriptina – 2,5mg, 2-3x/dia; Cabergolina – 0,5 a 2,0mg/sem. Cirurgia: Indicada em poucos casos. Radioterapia: pouco eficaz. ***Pseudoprolactinoma – hiperprolactinemia por compressão de haste – tto cirúrgico. →Doença de Cushing: Sinais e sintomas de hipercortisolismo Endocrinologia – FMBM Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini 8 →Acromegalia: Sinais e sintomas de excesso de IGF-I _______________________________________________________________________________________________ Caso clínico: mulher, 20 anos, assintomática, com ciclos menstruais regulares, relata ter feito avaliação hormonal com GO e vem para avaliação devido alteração nos exames laboratoriais. Tireoide normopalpável, exame físico normal. Macroprolactinemia – paciente tem excesso macroprolactina (ao invés de monoprolactina), que não tem atividade biológica, por isso hiperprolactinemia assintomática. Para corrigir resultado laboratorial, solicita-se investigação laboratorial com precipitação de polientilenoglicol, assim a macroprolactina não é contabilizada e o resultado da prolactina vem com o valor normal.
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