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Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini HIPOTIREOIDISMOS E HIPERTIREOIDISMOS Hipotireoidismos: Etiologia → Hipotireoidismo primário ◦ Corresponde a 99% dos casos - Hipotireoidismo central ◦ Corresponde a 0,005% dos casos ◦ Secundário: causa hipofisária ◦ Terciário: causa hipotalâmica - Resistência aos hormônios tireoidianos ◦ Cerca de 1000 casos descritos → Hipotireoidismo congênito ◦ Acomete 1 de cada 4000 a 5000 recém-nascidos → Fatores associados ao risco aumentado para hipotireoidismo: ◦ Idade acima de 60 anos ◦ Sexo feminino ◦ Bócio ◦ Doença nodular tireoidiana ◦ História familiar de doença tireoidiana ◦ História de radioterapia para cabeça e pescoço: radiação externa e iodo radioativo ◦ Doença auto-imune tireoidiana e extra-tireoidiana ◦ Drogas: amiodarona, lítio, tionamidas (em excesso), α-interferon, etc. ◦ Baixa ingestão de iodo (raro no Brasil, iodação do sal). ◦ Síndrome de Down ◦ Infecção pelo vírus da hepatite C →Etiologias do hipotireoidismo primário: Diminuição do tecido tireoidiano funcionante ◦ Tireoidite de Hashimoto ◦ Tireoidites subagudas: granulomatosa , linfocítica, pós-parto ◦ Tireoidite de Riedel ◦ Doença de Graves pelo tratamento do hipertireoidismo – 2ª causa. ◦ Doenças infiltrativas: Amiloidose, hemocromatose, cistinose, esclerose sistêmica progressiva, sarcoidose ◦ Agenesia e ectopia tireoidianas ◦ Radioterapia externa: Cabeça e pescoço ou de corpo inteiro →Tireoidite de Hashimoto ◦ Maior causa de Hipotireoidismo no BRASIL (no mundo: deficiência de iodo). Descrita em 1912 por Hakaru Hashimoto. Doença autoimune (Anti-TPO positivo – marcador de autoimunidade da tireoide, não diagnostica diretamente T de Hashimoto, mas confirma diagnóstico diante do contexto clínico.) ◦ Fatores genéticos e ambientais ◦ Comum em mulheres (7-9:1) ◦ Entre 30 a 50 anos Avaliação laboratorial e de imagem ◦ TSH, T4 livre e Anti-TPO ◦ Ultrassom de tireoide – demonstra alterações inflamatórias, difusamente heterogêneas, sugestiva de tirieoidite. Tratamento: levotiroxina ◦ Possível complicação: linfoma de tireoide – muito raro! →Tireoidite subaguda granulomatosa ◦ Também conhecida como tireoidite dolorosa (único bócio doloroso), de células gigantes ou de Quervain ◦ Tireoide aumentada e dolorosa à palpação. ◦ Secundária à inflamação aguda de etiologia viral (fisiopatologia provável). ◦ Comum história prévia de IVAS ◦ Entre 30 a 50 anos, mais comum em mulheres (5:1) ◦ Febre de 37,8 a 38,3ºC ◦ Sintomas iniciais de tireotoxicose (excesso de hormônio, devido a destruição da tireoide e vazamento dos hormônios armazenados), seguido de hipotireoidismo e posterior normalização. Pode evoluir para hipotireoidismo permanente. Avaliação laboratorial e de imagem: ◦ TSH, T4 livre; e T3 se na fase tireotoxicose; e VHS (marcador inflamatório, se elevado reforça suspeita de tireoidite de de Quervain); ◦ Cintilografia de tireoide (hipocaptante, pois a tireoide está destruída e capta pouco iodo); ◦ Tratamento sintomático: beta-bloqueadores (fase de tireotoxicose), AAS, AINEs, corticoides. →Tireoidite subaguda linfocítica ◦ Tireoidite silenciosa e indolor. ◦ Etiologia autoimune (presença de Anti-TPO) ◦ Entre 30 a 60 anos ◦ Mais comum em mulheres (1,5-2:1) ◦ Sintomas iniciais de tireotoxicose seguido de hipotireoidismo, pode evoluir para resolução ou Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini hipotireoidismo permanente. Avaliação laboratorial e de imagem ◦ TSH, T4 livre e Anti-TPO ◦ Cintilografia de tireoide (hipocaptante) Tratamento sintomático: Beta-bloqueadores (tireotoxicose). →Tireoidite pós-parto ◦ Tireoide linfocítica que ocorre no período pós-parto (até 1 ano). ◦ Etiologia autoimune ◦ Mais comum com altos títulos de Anti-TPO! ◦ Acomete cerca de 5-9% das mulheres ◦ Sintomas iniciais de tireotoxicose seguido de hipotireoidismo e normalização, que pode evoluir com hipotireoidismo permante. Avaliação laboratorial e de imagem ◦ TSH, T4 livre e Anti-TPO ◦ Cintilografia de tireoide proibida se mulher lactante!!! Tratamento sintomático: Beta-bloqueadores na fase de tireotoxicose Pode evoluir para hipotireoidismo permanente. →Tireoidite de Riedel ◦ Também conhecida como tireoidite esclerosante, fibrótica, crônica produtiva, invasiva. ◦ Forma mais rara de tireoidite. ◦ Mais comum em mulheres. ◦ Entre 40 a 60 anos. ◦ Substituição fibrótica de causa desconhecida. ◦ Aderência, infiltração e sintomas compressivos locais. Avaliação laboratorial e de imagem: ◦ TSH, T4 livre e Anti-TPO ◦ Ultrassom e cintilografia de tireoide Tratamento sintomático ◦ Remoção cirúrgica ◦ Descompressão de vias aéreas Pode evoluir para hipotireoidismo permanente. Bócio volumoso – sinal de Pemberton para avaliar se há compressão – pede para paciente erguer os braços para cima por 1 minuto – pletora facial e dispneia. Etiologias do hipotireoidismo primário Defeitos na biossíntese e liberação dos hormônios tireodianos: ◦ Disormonogêse congênita - 10-15% dos casos de hipotireoidismo congênito Principal causa de hipotireodismo congênito com bócio. -Síndrome de Pendred -Mutação do gene codificador do NIS (simportador sódio-iodeto) -Defeitos na síntese de Tg (tireoglobulina) -Alterações na expressão ou função da TPO (tireoperoxidase) ◦ Grave deficiência de iodo ◦ Drogas: Antitireoidianos de síntese, Iodo em excesso, Lítio, Amiodarona; Contrastes radiológicos; Valproato de sódio, sunitinib; Bociogênicos sintéticos ou naturais. Etiologias do hipotireoidismo secundário: Perda de tecido funcionante: ◦ Tumoral: adenoma pituitário, craniofaringioma, meningioma, disgerminoma, glioma, metástases. ◦ Traumática: cirurgia, radioterapia, TCE. ◦ Vascular: Síndrome de Sheehan, apoplexia pituitária, secção da haste, aneurisma de carótida interna ◦ Infecções: Abscesso, tuberculose, sífilis, toxoplasmose ◦ Doenças infiltrativas: Sarcoidose, histiocitose, hemocromatose ◦ Hipofisite linfocítica crônica ◦ Lesões congênitas: Hipoplasia hipofisária, displasia septo-óptica, encefalocele basal →Etiologias do hipotireoidismo secundário: Defeitos na biossíntese e liberação de TSH ◦ Mutações: em receptores do TSH e TRH; gene POU1F1, PROP1, HESX1 ◦ Drogas: dopamina, dobutamina, glicocorticoides, Bexaroteno; interrupção da terapia com L-tiroxina. →Hipotireoidismos – quadro clínico: Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Fácies mixedemetosa (edema facial, edema periorbitário), cardiomegalia (segunda foto após tto com levo), ascite por hipot. Hipot congênito. *Hipotireoidismo aumenta resistência vascular periférica, aumentando a pressão arterial, HAS de componente diastólico. Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini →Hipotireoidismos – diagnóstico e tratamento: Dosar TSH e T4: →TSH alto (maior que 20) e T4 baixo: hipotireoidismo primário. →TSH alto, T4L normal: hipotireoidismo subclínico. →TSH normal, abaixo, discretamente elevado,T4L baixo: hipotireoidismo central. Tratamento hipotireoidismo primário: Tratamento hipotireoidismo subclínico ◦ TSH ≥10µIU/mL: tratar! ◦ TSH entre 5,0 e 10,0µIU/mL: tratar se: gestação (TSH tem que vir baixo), se distúrbio de crescimento, se sintomas. Se paciente não se enquadra nesses 3 últimos: acompanhamento. Importante também tratar se: dislipidemia; bócio; positividade para auto-anticorpos (Anti-TPO); tratamento prévio de hipertireoidismo; história familiar de doença tireoidiana; idade >60 anos. Hipotireoidismo em coronariopatias: Iniciar tratamento em doses baixas e aumentar gradativamente (hormônio tireoidiano aumenta débito, frequência cardíaca). Hipotireoidismo em pacientes com insuficiência adrenal: iniciar primeiro reposição com glicocorticoide. →Hipertiteoidismos: Etiologia: Tireotoxicose x Hipertireoidismo: Tireotoxicose: excesso de hormônio tireoidiano. Hipertireoidismo: excesso da função da tireoide – causa tireoitoxicose. Causas de tireotoxicose: →Hipertireoidismo primário: ◦ Doença de Graves ◦ Bócio nodular tóxico – doença de Plummer. ◦ Bócio multinodular tóxico Hipertireoidismo central ◦ Tireotropinoma Hashitoxicose Tireoidites subagudas Factícia Fácies basedowniana. Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Anti-TPO auxilia na confirmação diagnóstica. Pede TRAb na doença de Graves se houver dúvida do diagnóstico. Anti-tg e Anti-NIS: menos sensíveis, não se usa muito na prática. →Doença de Graves Resulta de doença autoimune ◦ Produção de imunoglobulinas estimuladoras da tireoide Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Fatores predisponentes ◦ Genéticos ◦ Ambientais ◦ Endógenos Manifestações clínicas principais: ◦ Hipertireodismo com bócio difuso ◦ Oftalmopatia infiltrativa ◦ Dermopatia (mixedema pré-tibial) Manifestações raras ◦ Hipertireoidismo apatético (idoso) ◦ Atrofia muscular ◦ Amenorreia / Infertilidade ◦ Paralisia periódica tireotóxica hipocalêmica – paralisia que o indivíduo acorda inteiro paralisado: paciente que não está em tratamento. É hipocalêmico. Conduta: reposição de potássio, drogas anti-tireoidianas para o paciente recuperar os movimentos; →Quadro clínico: *Bócio, palpitação, taquicardia* Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Fácies basedowniana. Manifestações oculares: além da exoftalmia, retração palpebral (inferior: lagoftalmo; superior – manobra atraso palpebral - eyelid lag), edema palpebral, infiltração do músculos orbitários, quemose, dipoplia (grave). Régua: exoftalmômetro. Dermopatia de graves: mixedema tibial com manchas hipercrômicas. Unha de Plummer: descolamento da unha do leito ungueal. →Diagnóstico e tratamento: Drogas anti-tireoitianas de síntese (tionamidas:) Carbimazol (15-40mg/dia) Metimazol ou tiamazol (20-40mg/dia) – Tapazol. Propiltiouracil (PTU) (200-400mg/dia) Mecanismos de ação: ◦ Inibem a síntese de hormônios tireoidianos ◦ Interferem na organificação e acoplamento ◦ PTU também inibe a conversão periférica de T4 a T3 ◦ Efeitos imunossupressores Tratamento ◦ Esquema com doses ajustáveis (mais utilizado) ◦ Regime de bloqueio e reposição (maior custo e risco de efeitos colaterais Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Outros tratamentos: Beta-bloqueadores ◦ Úteis no início do tratamento ◦ Inibem conversão periférica de T4 em T3 ◦ Propranolol 80-120mg/dia ou atenolol 50-100mg/dia Ácido iopanoico ou Ipodato de sódio ◦ Efeito Wolff-Chaikoff – excesso de iodo inibe a síntese de hormônio tireoidiano – usado em crise tireotóxica. ◦ Dose 1g/dia Glicocorticoides – na crise tireotóxica. ◦ Bloqueiam a captação do iodo ◦ Bloqueiam a liberação dos hormônios tireoidianos ◦ Inibem a conversão de T4 em T3 Iodo radioativo (Radioiodo ou ¹³¹I) ◦ Contra-indicado em gestantes e lactantes Tireoidectomia ◦ Indicado em casos de bócio volumoso e/ou sintomas compressivos ◦ Suspeita de malignidade ◦ Desejo do paciente´ Bócios: Epidemiologia: Doença comum em mulheres, idosos e áreas deficientes em iodo. Prevalência em áreas suficientes em iodo: 4-7% das mulheres e 1% dos homens tem nódulo palpável Estudos de ultrassonografia a prevalência é maior: 19- 67%, com predomínio em mulheres e idosos. Maioria dos nódulos são benignos (90-95%): 80% cistos coloides e tireodites, 10-15% neoplasias foliculares benignas, 5% carcinoma. Crianças: até 26% são malignos. Fisiopatologia pouco compreendida: mutação do receptor TSH e as células começam a se dividir, independentemente do estímulo. História clínica: Sexo: Mulheres / Homens (8:1) Homens tem 2-3 vezes mais risco de malignidade Idade: Câncer de tireoide mais comum em crianças (10-26%) e idosos. Sintomas locais: ◦ Crescimento rápido x lento ◦ Rouquidão , disfagia, dor local Doenças associadas: ◦ Graves x Tireoidite de Hashimoto Outros fatores: ◦ História familiar de câncer de tireoide ou NEM 2 ◦ Radioterapia externa do pescoço. Exame físico: Avaliação detalhada do pescoço: Adenomegalias cervicais. Caracterização do nódulo: ◦ Tamanho ◦ Consistência ◦ Mobilidade ◦ Sensibilidade ◦ Número de nódulos História clínica + exame físico: Sensibilidade e especificidade: 60-80% para diagnosticar malignidade tireoidiana. Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Bócios nodulares tóxicos: →BNT ou doença de Plummer →BMNT Quadro clínico: sinais e sintomas de hiprtireoidismo, presença de bócio. Diagnóstico: ◦ TSH supresso ◦ T4 e T3 normais ou elevados ◦ Cintilografia hipercaptante Tratamento do BNT e BMNT: Drogas anti-tireoidianas Iodoterapia ablativa com ¹³¹I Tireoidectomia (parcial ou total) Injeção percutânea de etanol Avaliação laboratorial TSH e T4 livre Anti-TPO Calcitonina: suspeita de carcinoma medular Tireoglobulina (Tg) Não está indicada. Avaliação por imagem: Ultrassonografia Cintilografia com ¹³¹I ou 99mTc, se TSH supresso –útil em caso de hipertireoidismo/tireotoxicose. ◦ 90% dos nódulos são hipo ou normocaptantes ◦ 15% dos nódulos “frios” são malignos ◦ 1 a 2% dos nódulos “quentes” são malignos. CT, RM e PET-CT: pouco valor na avaliação inicial. Punção aspirativa com agulha fina (PAAF): Sensibilidade diagnóstica 68-98% Especificidade diagnóstica 72-100% Baixo índice de falsos-positivos e falsos-negativos Indicações de PAAF: ◦ Nódulos “frios” ou “mornos” e ◦ Tamanho ≥1,5cm ou ◦ Tamanho ≥1,0cm e hipoecogenicidade Resultados citológicos: ◦ Insatisfatórios ◦ Satisfatórios Categorias citológicas ◦ Benignas Bócio coloide ou adenomatoso, tireoidite de Hashimoto, tireodite subaguda, cisto coloide ◦ Suspeitos ou indeterminados Neoplasias foliculares ou de células de Hürtle ◦ Malignas OtorrinolaringologiaPamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Carcinoma papilífero (95% dos casos) Carcinoma folicular Carcinoma medular -------------------------------------------------------------------------------------- Otorrinolaringologia Pamela Barbieri – T23 Prof. Dr. Sérgio Luchini Classificação de Bethesda, um consenso firmado nos EUA em 2009 Tal consenso qualifica os achados em seis categorias diferentes: Punções classificadas como ‘não diagnósticas’ passaram a ser denominadas ‘insatisfatórias’ – categoria I. Nódulos coloides, cistos benignos e tiroidites linfocitária, aguda e subaguda (granulomatosa) – categoria II. Antiga denominação “punção suspeita” foi substituída por “indeterminada” – categorias III e IV. Carcinoma papilífero, carcinoma medular, carcinoma anaplásico e linfoma de tireoide – categoriasV Evi. Vale adicionar que alguns estudos vêm mostrando a aplicabilidade clínica de marcadores de expressão gênica e da pesquisa de rearranjos e mutações em genes-alvo na avaliação dos nódulos tireoidianos (BRAF, RET/PTC, PAX8/PPARγ, entre outros).
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