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Patologia Médica I Luiza Andrade @medbyluiza Sistema Nervoso Central O tecido nervoso é distribuído pelo organismo, interligando-se e formando uma rede de comunicações, que constitui o sistema nervoso. Anatomicamente é dividido em: • SNC: encéfalo, constituintes neurais do sistema fotorreceptor e medula espinal • SNP: nervos e gânglios nervosos Estímulo (informação do ambiente) à recebido e encaminhado ao SNC por meio dos neurônios aferentes à No SNC, o estímulo é interpretado e transmitido para órgãos efetores por meio de neurônios eferentes à órgão efetor realiza uma ação ordenada. Telencéfalo:: dividido em dois hemisférios separados por uma fissura longitudinal. Rosa: lobos frontais. Roxo: lobos parietais. Amarelo: lobos occipitais. Verde: lobos temporais. Áreas importantes do telencéfalo. • Lobo frontal: Área de Broca (área da palavra falada), córtex motor primário (anterior ao sulco de Rolando/sulco central, giro pré-central). • Lobo parietal: córtex somestésico/sensorial primário (giro pós-central), área do paladar, área sensorial da fala (Área de Wernicke, área da palavra ouvida). • Lobo temporal: córtex primário da audição. • Lobo occipital: córtex visual. Circulação arterial: Duas carótidas; Duas artérias vertebrais à se unem e formam a artéria basilar. Vertebrasil + carótidas + basilar à Polígono de Willis à principais ramificações: aa. cerebral anterior, cerebral média e cerebral posterior. A. cerebral anterior → parte do córtex motor e parte do córtex sensitivo. Alteração: paralisia e perda da sensibilidade no membro inferior do lado oposto do hemisfério acometido (decussação das pirâmides). A. cerebral média → é a mais importante, uma vez que irriga parte considerável dos lobos frontal, temporal e parietal. Grande parte do córtex motor e sensitivo, além das áreas de Broca e Wernicke. Alteração: paralisia e redução da sensibilidade de todo o lado oposto do corpo, exceto o membro inferior. A. cerebral posterior → irriga o córtex visual. Alteração: perda parcial ou total da visão. Meninges: são as membranas que revestem o SNC com função protetora. Dura máter, aracnoide e pia máter (de externo para interno) Aracnoide + pia máter → leptomeninges. Espaço epidural (epi: a cima) → dura máter → espaço subdural → aracnoide → espaço subaracnoideo (líquor cefalorraquidiano) → pia mater. O líquor é produzido pelos plexos coroides nos ventrículos laterais e é estéril. Ele circula pelo sistema ventricular, preenchendo o espaço subaracnóideo Célula do SNC: neurônio → função sensitiva, motora, autônoma. Existem 86 bilhões de neurônios, sem capacidade mitótica → a lesão gera sequelas graves e permanentes. Existem células tronco, chamadas de progenitoras neurais, com potencial mitótico limitado. Os neurônios são responsáveis pela recepção, transmissão e processamento de estímulos, por meio de neurotransmissores (adrenalina, acetilcolina, dopamina, serotonina, etc). O neurônio é composto pelos dendritos, corpo celular (ou pericárdio), axônio. No SNC, os corpos células localizam-se somente na substância cinzenta. A substância branca apresenta apenas os prolongamentos (axônio) Células da glia: apresentam importantes relações estruturais e metabólicas com os neurônios, além de funções individualizadas. • Astrócitos: Responsáveis pelo reparo e cicatrização; conectam os neurônios e os vasos sanguíneos. • Oligodendrócitos: produzem as bainhas de mielina; • Células epéndimárias (são células epiteliais colunares): revestem os ventrículos do cérebro (barreira entre o encéfalo e o líquor). • Micróglia: quando ativadas assumem a forma dos macrófagos e tornam-se fagocitárias e apresentadoras de antígenos. Células da glia: núcleo central e vários prolongamentos. Os tamanhos dos núcleos e prolongamentos varia. Célula ependimária: colunar epitelial, às vezes até ciliada. Os distúrbios circulatórios do SNC é uma das principais causas de morbimortalidade no mundo; correspondendo a aproximadamente 10% de todos os óbitos anuais no Brasil. É a 2ª causa de morte no Brasil, só perde para o IAM. Ocorre aumento da incidência com o avançar da idade. “Acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE)” → termo clínico para déficits neurológicos de início agudo, resultantes de lesões vasculares obstrutivas ou hemorrágicas; Doença cerebrovascular: Qualquer anormalidade do encéfalo causada por alterações vasculares. DOENÇAS CEREBROVASCULARES: Conceito: lesões encefálicas em consequência de fluxo sanguíneo alterado (isquemia ou hemorragia); o predomínio em homens, negros, acima de 60 anos; Fatores de risco: HAS, tabagismo, DM, dieta “inadequada”, hipercolesterolemia, obesidade, sedentarismo, uso abusivo de álcool, estresse crônico. Divisão (fisiopatologia): 1- Hipóxia, isquemia e infarto: redução do fluxo sanguíneo e O2 → lesão (ex. infarto). Causas: Embolia / trombose 2- Hemorragia: ruptura de vasos do SNC → lesão hemorrágica. Ocorre por hipertensão e anomalias vasculares (MAV > malformação arteriovenosa e aneurismas) Metabolismo no SNC: quase totalmente aeróbico → o oxigênio é o limitante da função encefálica e não a glicose (glicose = substrato metabólico). Requer 20% do débito cardíaco e consome 15% do O2 circulante no repouso. O fluxo sanguíneo cerebral Distúrbios circulatórios do SNC Hipóxia, isquemia e infarto se mantém constante mesmo com as variações da PA e da PIC (pressão intracraniana), em condições normais (autorregulação da resistência vascular). Alterações da oferta de O2 podem resultar em isquemia e/ou hemorragia Mecanismos para privação do oxigênio: ● Hipóxia funcional ○ Baixa pressão parcial do oxigênio (pO2 ); ○ Comprometimento da capacidade de carreamento do oxigênio pelo sangue; ○ Inibição do uso de oxigênio pelo tecido. ● Isquemia: iInterrupção do fluxo sanguíneo normal: ○ Transitória → redução na pressão de perfusão (ex: hipotensão); ○ Permanente → obstrução vascular. Obs. se a hipotensão for permanente, pode gerar uma isquemia permanente. Variáveis na sobrevivência do tecido nervoso frente à isquemia: definem o tamanho da lesão + localização anatômica → defict clínico ● Disponibilidade de circulação colateral ● Tempo de isquemia ● Grau da isquemia ● Tempo de instalação do evento (agudo ou crônico) ● Idade do paciente Lesão isquêmica pode ser: Global → Isquemia cerebral global (Encefalopatia hipóxico-isquêmica): ocorre redução generalizada da perfusão cerebral; ● Ex: Parada cardíaca, choque... → hipotensão severa. Regional → Isquemia cerebral focal (Infarto cerebral): ocorre redução ou interrupção do fluxo para uma determinada área; ● Ex: Trombose, embolia, aterosclerose, vasculites Sinônimo: Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica (EHI). É Resultante de redução generalizada do FSC, com repercussão clínica variável: Casos leves ● Estado confusional pós-isquêmico transitório; ● Recuperação completa e sem lesão irreversível. Essa é a regra geral, mas em alguns casos pode haver lesão irreversível. Casos graves ● Morte neuronal generalizada; ● Se sobrevive → o paciente tem déficit neurológica severa ● Estado vegetativo persistente (coma profundo) ● Morte cerebral Morfologia: Macroscopia → cérebro tumefeito, com giros alargados e sulcos estreitos. ● Superfície de corte inicial → pobre distinção entre as substâncias branca e cinzenta ISQUEMIA CEREBRAL GLOBAL ● Superfície de corte após algumas semanas → necrose pseudolaminar Imagem A: cérebro tumefeito. Imagem B: necrose pseudolaminar → áreas lineares ou irregulares de destruição do córtex, que fica bem adelgaçado e acastanhado. Microscopia: Isquemia precoce (12-24h): “neurônios vermelhos” (necrose neuronal seletiva → apenas neurônios sofrendo); chegada de neutrófilos. Imagem A: Isquemia precoce → núcleos picnóticos,neurônios vermelhos porque o citoplasma está muito eosinofílico. Os neurônios são as células do SNC mais sensíveis à isquemia. Imagem B: chegada de neutrófilos, no final das 24hs. Subagudas (24h-2 sem): necrose tecidual, influxo de macrófagos, prolif. vascular e gliose (início) Reparo: (> 2 semanas): remoção da necrose, gliose Imagem A: Fase subaguda. Necrose de todo o tecido + ativação da micróglia + chegada de macrófagos + proliferação vascular + gliose (forma de reparação do SNC). B: fase do reparo. Remoção da necrose. Gliose mais evidente → é como se fosse a fibrose do SNC, porém quem faz são os astrócitos em vez dos fibroblastos. Os astrócitos aumentam suas ramificações para reparar o tecido, dando o aspecto de uma malha fibrilar. Sinônimo: Infarto cerebral. É Resultante da redução/interrupção acentuada do FSC para área localizada do encéfalo. Causa: oclusão vascular • Trombose: arterial ou venosa • Embolia arterial OBS: outras causas → hipotensão arterial, vasoespasmo, arterites (redução do lúmen). Consequência: necrose (infarto) → Tamanho e forma são influenciados pela duração da isquemia e adequação do fluxo colateral (polígono de Willis) Causas principais do infarto cerebral: Tromboembolia: Descolamento de trombos murais cardíacos (IAM, FA, valvopatias, etc). Ocorre aterosclerose de carótidas. O local mais frequentemente comprometido: território da artéria cerebral média (é quase uma extensão direta da carótida interna) OBS: outras embolias ISQUEMIA CEREBRAL FOCAL ● gasosa, gordurosa e neoplásica ● séptico → “aneurisma micótico”. Vimos na endocardite infecciosa. Nome impróprio. Pode infeccionar a parede vascular, enfraquecendo-a e causando seu rompimento → hemorragia (além da isquemia). Aterosclerose: Doença vascular mais frequente no SNC. Fatores de risco: HAS, DM, Dislipidemia, Tabagismo. Os locais preferenciais são: bifurcação da Carótida, a. Cerebral Média, a. Basilar e aa. Vertebrais; Fisiopatologia: ● Mecanismos locais: placa é formada e sofre complicações > hemorragia e trombose → oclusão da luz → infarto cerebral. ● Mecanismos sistêmicos: por algum motivo, a perfusão cerebral reduz (ex. hipotensão, menor DC e menor volemia, IC) + presença de placa ateromatosa → já tem um certo grau de obstrução pela placa e a placa pode gerar perda da autorregulação → diminuição do fluxo sanguíneo cerebral → infarto cerebral. Ainda, placas ateromatosas extra-cranianas (ex. carótida) podem liberar trombos, que podem levar ao infarto cerebral. Morfologia: Infarto hemorrágico: reperfusão de uma área com um infarto branco anteriormente; irrigação por colaterais dissolução ou fragmentação do êmbolo que causou o infarto branco → reperfunde a área, causando hemorragia. Infarto branco Infarto branco recente: Área de infarto, edemaciada, tumefeita, por um trombo na cerebral média O infarto branco antigo tem cavitações bem delimitadas e retraídas Transformação hemorrágica à trombo oclui uma artéria e move ou quebra uma parte, permitindo a reirrigação da área proximal do território. Isso pode ocorrer se o paciente tomar um trombolítico também. A linha vermelha corresponde a divisão dos hemisférios: esquerdo e direito à desvio da linha media --. Pode acarretar consequências Áreas de inundação hemorrágica, na região do lobo parietal (região cortical e subcortical) Microscopia: 12h à Picnose nuclear, neurônios vermelhos (citoplasma esosinófilo). 48h à Chegada de neutrófilos e macrófagos à células grânulo- adiposas: macrófagos espumosos, fagocitam os restos da necrose para limpar a região. 2 a 3 semanas à Gliose: astrócitos modificados. Malha fibrilar (prolongamentos) para fazer reparo da lesão. São chamados de astrócitos gemistocíticos. Clínica: O déficit produzido é determinado pelo território de irrigação do vaso comprometido, e não pela causa do infarto. Os sintomas surgem rapidamente (poucos minutos) e podem piorar ou melhorar com o tempo, a depender da evolução: • Deslocamento/ dissolução espontânea do tromboêmbolo Tratamento: • Uso de fibrinolíticos e anticoagulantes: AVC isquêmico (já que a causa é um trombo) • Risco da terapêutica: transformar o AVC isquêmico em hemorrágico OBS: zona de penumbra à zona ao redor da área isquêmica, que terá um aporte sanguíneo reduzido à há preservação da autorregulação da resistência vascular à neurônios permanecem viáveis mais ou menos por 48hs após o evento isquêmico inicial. Se tratar a causa, recupera a área. Mas se passar 48hs, a área do infarto pode aumentar e acometer essa área da zona de penumbra. Hemorragias podem ocorrer em qualquer localização do SNC: (Clinicamente: AVC Hemorrágico) Podem ocorrer: Dentro do encéfalo → hemorragia Intraparenquimatosa Externamente ao encéfalo (associadas, geralmente, ao TCE) → hemorragia subaracnoide: é uma exceção, geralmente ocorre de forma espontânea. Mas também pode estar associada ao trauma. Ocorre ruptura de pequenos vasos intraparenquimatosos, possui alta morbimortalidade. Acomete indivíduos de meia idade ou idosos (50 a 70 anos), negros. A principal causa é a HAS: ● Responsável por mais de 50% das hemorragias intraparenquimatosas; ● 15% dos pacientes com HAS morrerão com AVE Hemorrágico; ● Arteriolosclerose (pequenas artérias): paredes mais fracas ficam sujeitas a rupturas. ● Microaneurismas de Charcot-Bouchard: ○ Pequenos aneurismas decorrentes da HAS crônica; ○ Podem ser alvos de sangramento em picos hipertensivos. Localização: • Tálamo e núcleos da base → locais onde mais ocorre. A hemorragia pode gerar o desvio da linha média para o lado contralateral. Círculo: local de formação de um hematoma Linha média: pode ser deslocada → lado contralateral Hemorragia intracraniana HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA Vasos rompidos: artérias lenticulo-estriadas (irriga os núcleos da base) → ramos da artéria cerebral média e anterior Morfologia: extravasamento de sangue intraparenquimatoso, com compressão do parênquima adjacente Clínica, evolução e prognostico: dependem do local e extensão (volume do sangramento) Sangramento pode ser pequeno ou mínimo: silencioso ou com sinais/sintomas neurológicos transitórios Sangramento importante: cefaleia, crises convulsivas, alterações visuais e da fala, queda do nível de consciência, coma. A hemorragia pode ser maciça à efeito de massa à hipertensão intracraniana à hérnias cerebrais à compressão do tronco encefálico à coma à óbito Hemorragia entre as camadas meníngeas aracnoide e pia-máter; sendo sua principal causa: ruptura de aneurismas saculares de aa. cerebrais → correspondem a 80% dos casos de hemorragia subaracnoide. É o tipo mais comum de aneurisma intracraniano. Acomete mulheres (3:2); raro em crianças. A maioria dos pacientes são assintomáticos → 5ª década (ruptura) O aneurisma “congênito” é o mais comum e são chamados de congênitos porque se desenvolvem com o tempo devido a defeitos estruturais da parede e, às vezes, fatores genéticos envolvidos. O adquirido tem o tabagismo e a HAS como fatores predisponentes. Outras causas: ● Malformação arteriovenosa (MAV) → ocorre quando artérias e veias se comunicam diretamente sem capilares entre elas ● Secundária a hemorragia intraparenquimatosa (a hemorragia pode penetrar o ventrículo, por ex, e caminhar até o espaço subaracnóide) ● Distúrbios hematológicos, neoplasias, uso de trombolíticos, etc. HEMORRAGIA SUBARACNOIDE Aumento agudo da pressão intracraniana (PIC): defecação, atividade física, relação sexual. A hemorragia vai tomando o espaço do líquor, acumulando nas cisternas e sulcos do encéfalo. Clínica: ● Cefaleia súbita e excruciante: “pior dor de cabeça da vida”. ● Perda de consciência (até mesmo por essa cefaleia intensa); ● Náuseas,vômitos e sinais de irritação meníngea; ● 25-50% morre na primeira ruptura; ● Quem sobrevive, melhora e recupera a consciência, mas pode haver recorrência ou déficits neurológicos; Tratamento cirúrgico (aberto ou endovascular); o ideal é tratar antes da ruptura (perceber a cefaleia). Mas se rompeu e sobreviveu, pode haver intervenção para evitar novas rupturas. Consequências: Aguda → lesão isquêmica devido ao vasoespasmo em decorrência do sangue extravasado. Esse vaso espasmo parece estar relacionado ao aumento da permeabilidade vascular onde o sangue extravasou → passagem de substâncias vasoconstritoras do sangue extravasado de volta para a circulação. Ex. endotelina, tromboxano A2… ou seja, o paciente já teve hemorragia e, por causa do vasoespasmo, pode ter uma lesão isquêmica sobreposta. Fase tardia → fibrose (cicatrização) meníngea → obstrução ao fluxo do LCR (hidrocefalia). Efeitos da HAS no encéfalo incluem ● Hemorragia intraparenquimatosa (hipertensiva ● Infartos Lacunares ● Encefalopatia hipertensiva A HAS compromete artérias penetrantes profundas e superficiais (artérias lentículo-estriadas e artérias pontinas perfurantes) que nutrem os núcleos da base, substância branca e tronco encefálico. Esses pequenos vasos podem sofrer oclusão e formar pequenas áreas de infartos cavitários (daí o nome lacunar); Espaços em forma de lago, definidos como tendo < 15 mm de largura; Clinicamente silenciosos ou graves prejuízos neurológicos (depende do local no SNC). Causa do infarto: lipo- hialinose → tipo de arterioloesclerose, como consequência da HAS. Deposição de proteínas plasmáticas, como fibrina, na parede do vaso. O vaso acometido é o da direita. Aguda: ● Aumento rápido e grave da pressão arterial cursando clinicamente com disfunção cerebral difusa; ● Hipertensão intracraniana à cefaleia, diminuição do nível de consciência, vômitos e convulsões, podendo levar ao coma; ● Pode cursar com hemorragia cerebral intraparenquimatosa; ● Tratamento: objetivo à reduzir a hipertensão intracraniana Crônica: ● Consequência de múltiplos infartos cerebrais; ● “Demência vascular” à demência, alterações de marcha... ○ Arteriosclerose cerebral ○ Trombose vascular ou embolização (placas de ateroma nas carótidas e trombos murais no coração) OBS: “Doença de Biswanger”: ● Infartos envolvem grandes áreas de substância branca subcortical à perda axonal e de mielina; ● Importante diagnóstico diferencial de outras demências. É o acúmulo anormal de líquido no parênquima cerebral, de forma localizada ou difusa, resultando em aumento do volume encefálico. Mecanismos de formação à Doença cerebrovascular hipertensiva INFARTOS LACUNARES ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA Edema cerebral É o mais comum, ocorre lesão da barreira hematoencefélica (parede dos pequenos vasos) à isso leva ao aumento da permeabilidade vascular: • Líquido intravascular à espaço intercelular cerebral; • Pobreza em vasos linfáticos para drenar o excesso; Causas: hemorragia cerebral; infarto cerebral, encefalopatia hipertensiva, neoplasias, TCE, convulsões Pode ser localizado: ex à adjacente ao local de inflamação, hemorragia e neoplasias ou generalizado: ex à isquemia global (EHI), encefalopatia hipertensiva Aumento de fluido intracelular em consequência de agressão à membrana celular de neurônios, células da glia ou endotelial. Ocorre após fenômenos hipóxico-isquêmicos ou intoxicações. Pode ser localizado: ex à Isquemia regional (obstrução vascular); ou generalizado: ex à Isquemia global (encefalopatia hipóxico- isquêmica); encefalopatia hepática, metabólitos tóxicos Patogênese dos edemas cerebrais: Ocorre de diversas maneiras: • Diminuição de O2 (isquemia) à diminuição de ATP à dificuldade no transporte ativo de alguns ions à acúmulo de sódio intracelular à entrada de água na célula à edema celular citotóxico • Isquemia à lesão endotelial (lesão BHE) à aumento da permeabilidade capilar à extravasamento de líquido à edema vasogênico • Aumento da expressão de aquaporina nos pés vasculares dos astrócitos (em torno de lesões focais) à aumento do transporte de água para o espaço extravascular à piora de ambos edemas Edema celular e edema vasogênico à elevação da pressão intracraniana = diminuição da perfusão cerebral e hérnia cerebral Morfologia: giros aplainados (aumentam de volume), sulcos estreitos e encéfalo mais volumoso e pesado. As câmaras ventriculares podem estar estreitadas (foram comprimidas pelo edema do parênquima) ou alargadas (edema hidrocefálico à obstrução do sistema ventricular). O LCR normal é produzido no plexo coroide, no interior dos ventrículos laterais e quarto ventrículo. Além disso, esse líquor circula de uma porção para outra. A hidrocefalia consiste no acúmulo excessivo do líquor no sistema ventricular e consequente aumento pressórico. Causas: comprometimento do fluxo (obstrução) ou reabsorção; além da produção excessiva de líquor por tumores do plexo coroide (raro). EDEMA CEREBRAL EDEMA CITOTÓXICO OU CELULAR Hidrocefalia Classificação: à por ter as fontanelas abertas, a cabeça expande seu volume, por isso a HIC é menos acentuada (compressão do parênquima é menor) à paciente sem isquemia do tecido à se surge após o fechamento, não ocorre expansão, mas sim compressão do parênquima (maior HIC) à isquemia do tecido nervoso Classificação anatômica: Hidrocefalia comunicante: o sistema ventricular se comunica com o espaço subaracnóide e há aumento de todo o sistema ventricular. Ex: por redução da reabsorção liquórica na fibrose das leptomeninges Hidrocefalia não comunicante (ou obstrutiva): ocorre quando o sistema ventricular está obstruído, não havendo comunicação com o espaço subaracnoide. Ex: neoplasias, cisticercose, hemorragia ventricular... Hidrocefalia ex-vácuo: decorrente da dilatação ventricular e alargamento do espaço subaracnoide secundários a atrofia cerebral de qualquer natureza. Ex: infarto cerebral, doenças neurodegenerativas. Morfologia: cavidade ventricular dilatada, pelo acmulo de LCR Síndrome clínica causada por diversas enfermidades, que podem afetar o conteúdo do crânio, cursando com o aumento da pressão em seu interior. Patogênese: • Compensação espacial do encéfalo: o parênquima não se reduz, mas é possível reduzir o espaço das cavidades onde circula o líquido à mecanismo compensatório Consequências da HIC graves e fatais: Clínica: Manifestações clínicas das hérnias; Manifestações neurológicas gerais causadas pela lesão expansiva à Cefaleia, vômito e papiledema (tumefacao da papila do nervo óptico. Diagnóstico: exame clínico neurológico, exames de imagem e xame de fundo de olho Hipertensão intrcraniana à subfalcina (a hérnia aparece embaixo da foice do cérebro) ou supracalosa (acima do corpo caloso). Ocorre deslocamento do cíngulo sob a borda livre da foice do cérebro para o lado contralateral. Pode comprimir a artéria cerebral anterior e seus ramos: déficit motor e sensitivo do MMII. Macroscopia: giro do cíngulo herniando para o lado contralateral à hérnia do uncus, transtentorial, ou mesial temporal. Ocorre deslocamento do uncus ou de todo o giro para-hipocampal (face medial do lobo temporal) para o compartimento infratentorial. Consequências: • Se afetar o III nervo craniano (oculomotor) à midríase e oftalmoplegia ipsilaterais; • Se comprimir a artéria cerebral posterior à isquemia do córtex visual; • Se comprimir o mesencéfalo à deterioração do nível de consciência • Se comprimir o pedúnculo cerebral contralateral (entalhe de Kernohan) à hemiparesia (dificuldade de movimento) /hemiplegia ipsilateral (paralisita total à do lado da hérnia: “sinal de falsa localização” à ex: o paciente tem hemiplegia do lado esquedo do corpo, ou seja, lesão do lado esquerdo, mas comprimeo lado direito) • A progressão pode cursar com lesões hemorrágicas em mesencéfalo e ponte à hemorragias de Duret Imagem A: hemorragia na ponte Imagem B: pontos enegrecidos e hemorrágicos na ponte à ou hérnia tonsilas. Ocorre deslocamento das tonsilas cerebelares do forame magno Em amarelo: tronco encefálico seccionado Em verde: tonsilas herniando pelo forame magno (não representado) Pode ocorrer compressão do trocno encefálico à compressão de centros respiratórios e cardíaco do bulbo à risco de morte HÉRNIA DO GIRO DO CÍNGULO HÉRNIA DO GIRO PARA-HIPOCAMPAL HÉRNIA DAS TONSILAS CEREBELARES Traumas em geral à principal causa de morte em indivíduos < 45 anos.1/3 das mortes por traumas à TCE Acidentes de trânsito: 3a causa de morte em adultos jovens no mundo; metade dos óbitos à TCE. No Brasil: 35 a 40 mil óbitos por ano TCE: • Pacientes que sobrevivem ao TCE: 3% à permanecem em estado vegetativo; 16% à ficam gravemente incapacitados • Grande importância médica e social. Mecanismo de formação: Impulso: individuo está com aceleração e tem desaceleração brusca sem impacto à encéfalo movimenta de um lado pro outro Impulso + impacto: aceleração e desaceleração por contato/impacto, podendo causar lesões e sequelas Fatores que interferem no trauma: • Objeto causador do trauma? • Força do impacto? • Lesão penetrante x contusa? • Lesão aberta x fechada? • Fratura do crânio? • Lesão parenquimatosa? • Lesão vascular associada? Lesões encefálicas traumáticas também possuem gravidade variável a depender da localização: Podem ser: clinicamente silenciosa (ex: lobo frontal); incapacitante (ex: medula espinhal) e até fatal (ex: tronco encefálico) Lesões primárias: No momento do trauma à determinadas pelo local, pela ação imediata do traumatismo e pelo tipo de agente traumatizante. Podem progredir e piorar com o passar do tempo. • Ex: - fraturas cranianas; lesões parenquimatosas à concussão, contusão, laceração, LAD, Shaken Baby, ETC, lesões vasculares traumáticas à hematomas / hemorragias Lesões secundárias: São tardias (lesões adicionais)�consequências funcionais • Ex: isquemia, edema, HIC, convulsões, infecções, vasoespasmos, distúrbios circulatórios e respiratórios... Resulta da ação de agente traumatizante, com forte impacto no crânio. A espessura dos ossos do crânio é variável e, por isso, também variam sua resistência ao trauma; Variáveis que podem influenciar o tipo de fratura: idade (idoso tem maios chance); local do impacto; tamanho da área atingida; força do impacto; tipo do agente traumatizante. Tipos de fratura: Fratura linear: impacto contra superfície plana (parede, vidro) à Imagem A: na região temporal, o impacto foi com superfície plana Fratura deprimida: impacto contra objetos pequenos e irregulares Traumatismo crâniano Fraturas cranianas Penetrante (ou aberta): objetos pontiagudos, PAF (projetil de arma de foco), com laceração da dura-máter (chega no encéfalo); à Imagem B: fratura provavelmente por PAF, com laceração da dura-máter Fraturas de contragolpe: produzidas longe do local de impacto Fratura de base do crânio: Impacto violento occipital ou nas laterais da cabeça; podem cursar com fístula liquórica (otoliquorréia e rinoliquorréia), lesão de nervos cranianos (I, VII e VIII), hematomas da mastoide e orbitários (sinal do guaxinim), entrada de ar e bactérias no interior do crânio (meningite). Síndrome clínica caracterizada pela alteração da consciência; É secundária a um trauma craniano: alteração do movimento da cabeça à movimento da cabeça interrompido por uma superfície rígida (mecanismo de impacto/contato); Quadro clínico • Início instantâneo de disfunção neurológica àperda da consciência, parada respiratória e perda dos reflexos; • Transitório; • Recuperação neurológica completa; • Amnésia do evento é frequente. Substrato anatômico: lesão axonal difusa Lesão causada diretamente por traumatismo da substância branca devido à aceleração/desaceleração da cabeça, É encontrada em 50% dos indivíduos com coma por trauma e em 80% dos indivíduos que falecem por acidente de trânsito; Além disso, pode ser causada por quedas (própria altura ou grandes alturas) esportes e agressões. É a principal responsável pela morbimortalidade no TCE sem lesão expansiva; Substrato anatômico de: • Inconsciência no momento do TCE à concussão cerebral; • Estado vegetativo (quando há); • Incapacidade permanente pós TCE. Gravidade variável: graus I a III à grau III: menor sobrevida, alteração grave e persistente da consciência Mecanismo: Aceleração/desaceleração rotacionais bruscas da cabeça, em geral na direção lateral com ou sem impacto: lesão estrutural de axônios e pequenos vasos sanguíneos por torção / estiramento Lesões parenquimatosa CONCUSSÃO LESÃO AXONAL DIFUSA Morfologia: sangramento por ruptura, lesões visíveis nos pontos de fixação dos hemisférios cerebrais: estruturas iner-hemisféricas à corpo caloso e tronco encefálico Seta vermelha: hemorragia região do corpo caloso Microscopia: tumefação de axônios e ruptura Lesão cerebral fechada à meninges íntegras e sem perda tecidual; Mecanismo da contusão: aceleração/desaceleração de alta intensidade e curta duração à leva a uma lesão direta do encéfalo (diferente de concussão) por transmissão da energia cinética. Impacto da superfície interna do crânio contra o encéfalo; • Comum em vítimas de quedas, agressões e acidentes de trânsito. Contusão por fratura à ocorre no local do osso fraturado; Contusão por golpe à ocorre no local de trauma (não fraturado) Contusão de contragolpe àocorre nas áreas distantes/opostas ao trauma. Ex: um boxeador toma um soco, contusão por golpe. O encéfalo se move e se choca com saliência óssea, contusão de contragolpe. Sedes frequentes: temporal, orbitofrontal e bordas do sulco lateral. Nesses locais, é comum movimento de aceleração e desaceleração; possui relevos e saliências ósseas à maior atritro e impacto Morfologia: Fase inicial: focos múltiplos de hemorragia nas cúpulas dos giros (região mais externa). Pode extravasar, levando a hemorragia subaracnoide Fase tardia: cicatrização (gliose) de cor ferruginosa ou acastanhada pela deposição de hemossiderina Clínica: Poucos sintomas, com manutenção da consciência e evolução clínica favorável à lesão focal em áreas não vitais. Se ocorrerem complicações ou associação com outras lesões traumáticas à evolução pode ser desfavorável; Se edema cerebral intenso à HIC e deterioração do quadro clínico em 24 a 72 hs após o TCE. CONSTUSÃO CEREBRAL Lesão cerebral aberta à perfuração de ossos e meninges, com lesão tecidual podendo haver perda de massa encefálica para o exterior. Causas comuns: golpe violento, PAF, objetos pontiagudos, quedas, acidentes. Morfologia: imagem A: área de destruição. Imagem B: destruição do parênquima com inundação hemorrágica associada. Imagem C: fase tardia, formação de cavidade após retirada de necrose e gliose. Consequências: Repercussão clínica variável, geralmente grave; • Objeto pontiagudo: déficit focal à depende da área lesada • PAF: mortalidade elevada à direção e extensão do trajeto determinam a gravidade Complicações precoces: infecções (meningite e ventriculite purulentas, abscessos, empiema subdural..) Complicações tardias: epilepsia pós-traumática (por aderências entre meninges e encéfalo) Antigamente chamada de demendcia do pugilista à traumas repetidos ao longo do tempo. Comum em esportes em que há impacto na cabeça: lutas, futebol americano, rugby, hockey, futebol. Morfologia: encéfalos atróficos, com ventrículos aumentados, Patogênese: acúmulo de proteína tau hiperfosforilada em emaranhados neurofibrilares, que se depositam em neurônios e células gliais. Clínica: perda de memória, alterações comportamentais e de personalidade,declínio cognitivo, parkinsonismo, distúrbios da fala e da marcha. São frequentes componentes do TCE. São decorrentes da lesão direta do trauma. Ocorre ruptura da parede vascular levando à hemorragia. Pode apresentar características específicas a depender da localização do sangramento: epidural (Extradural); subdural, subaracnoide, intraparenquimatoso Nem sempre não isolados, pode ser combinações dos tipos. Sangue coagulado entre dura-máter e calota craniana, resulta de impacto sobre a cabeça, especialmente em quedas e acidentes de trânsito. Associa-se a fratura do crânio em 95% dos casos. Afeta principalmente homens jovens. Hematoma epidural: artéria Local mais comum: região temporoparietal (osso menos espesso), onde circulam as aa. meníngeas médias (50%), LACERAÇÃO CEREBRAL ENCEFALOPATIA TRAUMÁTICA CRÔNICA Lesões vasculares traumáticas HEMATOMA EPIDURAL Morfologia: TC: o sangue pelo rompimento da artéria sai com pressão à pressiona o parênquima à formato biconvexo Clínica: “Intervalo lúcido” (paciente lucido e sem sintomas) entre o trauma e a piora neurológica: ocorre pelo aumento progressivo do hematoma à período assintomático (horas a dias) Sintomas surgem por compressão do parênquima: HIC, herniaçõe secompressão do mesencéfalo. Hematomas que se expandem rapidamente: emergência neurocirúrgica à tratamento: drenagem cirúrgica do hematoma. Hematomas pequenos, sem progressão: assintomáticos e ser absorvidos pelo organismo 4 a 6 semanas após o TCE. Sangue coagulado entre dura-máter e aracnoide; mais frequentes que o epidural (2 a 3 : 1). Resulta de impacto sobre a cabeça: quedas > agressões > acidentes de trânsito. Pode ser classificado pela temporalidade: agudo (até 48h), subagudo (2 a 14 dias) ou crônico (>14 dias). Ocorre pelo estiramento e ruptura das veias-ponte (vv. cerebrais superiores) Hematoma subdural: veia Local mais comum: convexidade dos hemisférios cerebrais Comum em pacientes que apresentam quedas repetidas: idosos e etilistas Morfologia: TC: forma de meia-lua, imagem côncava e hiperdensa. A hemorragia é de origem venosa à sague sai com menos pressão e se espalha no hemisfério. Além disso, observa- se também desvio da linha média Classificação pela temporalidade: Imagem A: hematoma recente, com sangue coagulado Imagem B: hematoma subdural crônico, a cor muda pois há organização do hematoma. Essa organização acontece com a formação de uma capsula fibrosa Clínica Agudo: morbimortalidade elevada: associação com outras lesões cerebrais traumáticas à sem intervalo assintomático, cefaleia e confusão mental. A pressão exercida sobre o encéfalo adjacente à clínica de HIC; Crônico: acontece quando o traumatismo inicial discreto, especialmente em idosos, com surgimento de sintomatologia semanas a meses após o trauma à crescimento progressivo do hematoma pelas hemorragias de vasos neoformados (quando o hematoma se organiza à capsula fibrosa) Tratamento: pequenos (expectante) e grandes (cirúrgico) HEMATOMA SUBDURAL Sinônimos: shaken baby syndrome e síndrome da criança espancada. Causa mais comum de morte e sequela neurológica grave de agressão a bebês. Os traumatismos se dão pelo tabanho do encéfalo do bebê, e pela musculatura subdesenvolvida. Lesões múltiplas e variadas: Traumatismo da medula espinhal pode ocorrer isoladamente ou associado ao TCE. Causas mais frequentes: acidentes de trânsito, atividades esportivas, PAF, quedas. 15 a 20% das fraturas da coluna vertebral à lesão de medula. Acomete principalmente homens jovens. Quanto mais alto o nível da lesão, mais grave à repercussão: 60% ocorre em nível cervical à ruim para o paciente à pode gerar tetaplegia. Complicações: Motoras: • Tetraplegia à quando há lesão acima de C6. Acima de C4 à possível comprometimento de nervo frênico (diafragma) • Paraplegia à lesões em vértebras torácicas / lombares Sensitivas: • Hipoestesia / anestesia (diminuição ou perda da sensibilidade) à ocorre pelo comprometimento dos tratos ascendentes • Perda do tato, sensibilidade para calor/frio, para a dor à comprometimento dos tratos ascendentes que levam informações dos receptores periféricos. Autônomas: • Incontinência urinária • Incontinência fecal, constipação intestinal... Generalidades: Fatores de proteção: ● Ossos do crânio e da coluna vertebral (protegem encéfalo e medula espinhal); ● Meninges à inflamação das meninges podem se estender para o interior do encéfalo e medula espinal ● Barreira hematoencefálica Meios de defesa do SNC são de baixa eficácia, quando o patógeno consegue penetrar as barreiras: ● Baixos níveis de complemento e imunoglobulinas no líquor ● Micróglia à apenas a micróglia no início e só depois que chegam os leucócitos Síndrome do bebê sacudido Traumatismo raquimedular Doenças infecciosas do SNC Infecções oportunistas são comuns em pacientes imunossuprimidos e infecções no SNC geralmente são secundárias (acomete outro local do organismo e depois o SNC) Vias de infecção (portas de entrada): 1- Disseminação hematogênica: via mais comum, pode ocorrer pela circulação arterial ou de forma retrógrada pelas veias (triângulo da morte na face à nariz, lábio superior e início da testa). 2- Implantação direta: ex: trauma e cirurgias no SNC à pode romper a barreira entre ossos e meninges à microrganismos podem se implantar diretamente no encéfalo ou medula espinhal. 3- Extensão local: ex: infecção dentária e sinusite à como é muito próximo, a infecção pode estender para o SNC. 4- Sistema nervoso periférico: ex: vírus da raiva e hérpes-vírus à vírus pode se disseminar ao longo do trajeto do nervo, até chegar no SNC. Dependem de: 1- Local da infecção: dura-máter, leptomeninges, encéfalo, medula... 2- Tipo de agente agressor: bactérias, vírus, fungos, protozoários, helmintos. (esquistossomose, cisticercose).. 3- Patogenicidade (virulência): capacidade do agente agressor de produzir lesão. 4- Resposta imunitária do hospedeiro: celular e humoral. Formas de acometimento: Obs: outra combinação possível é meningite + encefalite + mielite. É um processo inflamatório das leptomeninges (pia-mater e aracnoide) e do LCR no interior do espaço subaracnóideo. A paquimeningite (apenas dura máter inflamada) é pouco frequente; a meningoencefalite corresponde ao comprometimento também do parênquima encefálico. Classificação: ● Piogênica / Purulenta > Aguda ● “Asséptica” (viral) > Aguda ● Granulomatosa > Crônica As virais são mais comuns, mas bacterianas são mais importantes do ponto de vista clínico. Epidemiologia e etiologia: Dados do Ministério da Saúde: ● Meningite viral: maior número de casos ● Meningite bacteriana: neisseria meningitidis (= meningococo, principal agente específico), seguido pelo S. pneumoniae: agente mais letal Meningites MENINGITES AGUDAS – BACTERIANAS E VIRAIS ● Ocorre mais no inverno à por causa da aglomeração (predispõe ao contágio): 90% ocorrem em crianças de até 5 anos de idade e 10% ocorrem preferencialmente em grupos de risco: Idosos, gestantes, imunossuprimidos, etilistas crônicos, TCE, neurocirurgia... Principais agentes bacterianos: ● Brasil à 1º lugar: Meningogoco (neisseria meningitidis). 2º lugar: Pneumococo (streptococcus pneumoniae) ● RN à Streptococcus agalactiae e escherichia coli ● Obs: Haemophilus influenzae: ainda é causa importante de meningite no Brasil, mas está diminuindo devido à vacinação ● Outros: S. aureus, S. epidermidis: estão relacionados a trauma e derivação ventrículo-peritoneal à passagem entre ventrículo e cavidade peritoneal para drenar liquor de paciente com hidrocefalia). Listeria monocytogenes Propedêutica: Meningite aguda → emergência médica! ● Anamnese ● Exame físico (neurológico → sinais de irritação meníngea, fundo de olho → HIC com papiledema) ● Hemograma(leucograma), PCR (marcador de inflamação) e hemocultura (confirmar a infecção e ajudar a identificar o agente) ● Punção lombar: líquor → celularidade, bioquímica, exame direita (gram) e cultura ● TC cerebral: ver se tem comprometimento encefálico Obs. TC deve preceder PL → risco de hérnias em caso de HIC. Pacientes com meningite podem ter HIC, então se fizer punção lombar pode ocorrer herniação das tonsilas cerebelares → comprimir o tronco encefálico. Clínica e exame físico Clássico: ● FEBRE + CEFALEIA + RIGIDEZ DE NUCA (tríade clássica) ● Crianças < 2 anos (lactentes): ○ Rigidez de nunca é incomum ○ Sinais inespecíficos → febre e irritabilidade acentuada Outros: ● Rebaixamento do nível de consciência → 75% ● Vômito (precedido ou não de náuseas) e fotofobia ● Convulsões: são tardias (>48h) e representam pior prognóstico Sinais de irritação meníngea: Diagnóstico pelo LCR (punção lombar entre a quarta e quinta VL): Sistema liquórico: • Base para disseminação do patógeno/ base para diagnóstico / monitoração terapêutica Coloração • Normal > Límpido e incolor (“água de rocha”) • Alterado > turvo ou purulento Contagem de células (leucócitos) • Normal → até 4 células/mm3 • Meningite bacteriana → > 100 células/mm3 ○ 90% dos casos de meningite bacteriana > predomínio de polimorfonucleares (= neutrófilos) ○ Tuberculose (meningite bacteriana crônica) > predomínio de linfócitos Meningite bacteriana aguda: ● Glicose: ○ Normal → 2/3 da glicemia sérica ○ Meningite bacteriana → hipoglicorraquia (< 40mg/dl) > consumo da glicose pelas bactérias ● Proteínas: ○ Normal → até 30 mg/dl ○ Meningite bacteriana → hiperproteinorraquia (> 45 mg/dl) > bactérias lesam a barreira hematoencefálica, permitindo a passagem de proteínas para o líquor Meningite viral: ● Líquor claro; ● Aumento da celularidade, mas inferior a 500 células/mm3; ● Predomínio de mononucleares (princ. linfócitos); ● Glicose geralmente normal; ● Proteína pouco aumentada. Patogênese: • Colonização de mucosas (outra região, ex. TGI…): lembrar que a meningite geralmente é uma infecção secundária. • As bactérias podem lesar a BHE e adentrar. Meningites Aguda - Diagnóstico pelo LCR MENINGITES AGUDAS BACTERIANAS Meningite Bacteriana Aguda - Patogênese Colonização de mucosas (células epiteliais) pelas bactérias Espaço intravascular (capacidade de evitar a fagocitose devido a presença de cápsula polissacarídica) Células epiteliais do plexo coroide intraventricular ou células endoteliais dos capilares cerebrais (lesão de BHE) LCR: multiplicação rápida das bactérias (defesa ineficaz) Reação inflamatória (quimiocinas: migração dos leucócitos; citocinas: FNT, IL-1; radicais livres) Manifestações neurológicas e complicações da meningite bacteriana Meningite aguda (purulenta) - morfologia: Macroscopia: exsudato branco-amarelado evidente nas leptomeninges: em trajetos vasculares ou difuso; vasos meníngeos ingurgitados; ventriculite (casos mais graves, às vezes fulminantes). O exsudato das leptomeninges pode adentrar o espaço ventricular. Giros ficam menos nítidos devido à opacidade causada pelo exsudato branco-amarelado. Imagem A: exsudato inflamatório difuso. Imagem B: caso ainda mais avançado, opacificando toda a leptomeninge, nem vemos mais os giros. Microscopia: vasos meníngeos repletos de neutrófilos; neutrófilos em torno de vasos meníngeos (perivasculares) à flebite (inflamação da parede dos vasos), podendo causar tromboflebite; neutrófilos e fibrina preenchem o espaço subaracnoide.. Exsudato inflamatório importante com veias dilatadas. O exsudato já está estendendo um pouco para o encéfalo. Imagem B: neutrófilos ao redor de um vaso e espalhados ao longo das leptomeninges e espaço subaracnóide. Exsudato fibrino purulento nas leptomeninges. Imagem A: exsudato no espaço subaracnoide, com muitos neutrófilos corados pela hematoxilina. Trama de fibrina embaixo do exsudato. Veia inflamada e com trombo (tromboflebite) → pode causar isquemia e infarto. Imagem B: exsudato neutrofílico Meningite Aguda (Purulenta)- Morfologia ¾ Macroscopia: Meningite Aguda (Purulenta)- Morfologia ¾ Macroscopia: Meningite Aguda (Purulenta)- Morfologia ¾ Microscopia: Meningite Aguda (Purulenta)- Morfologia ¾ Microscopia: Clínica da meningite aguda purulenta: ● Sinais sistêmicos de infecção aguda: febre, prostração, adinamia... ● Sinais de comprometimento neurológico: cefaleia, fotofobia, irritabilidade... ● Sinais de irritação meníngea (meningismo): rigidez de nuca, Kernig, Brudzinski e Lasègue; ● LCR: ○ Líquor turvo ○ Pleocitose acentuada (até 90.000 neutrófilos/mm³) → aumento da celularidade do líquor ○ Hiperproteinorraquia ○ Hipoglicorraquia (consumo da glicose pelas bactérias) ○ Identificação da bactéria (Gram) ou crescimento em cultura Quadros graves (forma septicêmica fulminante) → Síndrome de Waterhouse-Friderichsen (Adrenalite Hemorrágica) → septicemia → hemocultura positiva (bactérias no sangue); infarto hemorrágico das glândulas adrenais e petéquias cutâneas; CIVD e colapso circulatório (choque séptico) Evolução: Tratamento precoce: cura sem sequelas Demora no tratamento: complicações graves (podem ser fatais) Complicações: • Meningoencefalite purulenta: infiltrado se estende ao parênquima cerebral. • Vasculites (infecção se propaga para a parede arterial ou venosa) > trombos e infartos cerebrais • Ventriculite purulenta (exsudato se estende para o interior dos ventrículos) > hidropiocefalia (hidrocefalia por acúmulo de pus) • Fibrose de leptomeninges (crônica) > hidrocefalia obstrutiva (dificulta a drenagem do líquor nas granulações aracnóideas) • Efusão subdural > por ruptura de aracnoide Sequelas: • Surdez, paralisia facial, diplopia e estrabismo: por comprometimento de nervos cranianos. • Ataxia (espasticidade) e paresia: por estímulos anômalos / dificuldade de condução do estímulo. • Distúrbios cognitivos: por atrofia de substância cinzenta. • Crises convulsivas recorrentes: por inflamação cortical e isquemia. • Hipertensão intracraniana: pela hidrocefalia (pode complicar com herniação cerebral) “Meningite asséptica”: é uma entidade, em que não há detecção de agentes infecciosos nos exames habituais de rotina; erroneamente denominada de asséptica (testes moleculares). É principalmente causada por vírus → 80% é causada por enterovírus Morfologia: semelhante à bacteriana, mas o processo inflamatório é mais leve e não purulento (não tem neutrófilos). LCR: ● Líquor claro; ● Pleocitose discreta (< 500 células/mm³) com predomínio de linfócitos; ● Hiperproteinorraquia discreta; ● Glicorraquia normal, pois o vírus é um parasita intracelular. Clínica: Irritação meníngea, febre e alterações de consciência de início agudo; evolução menos fulminante que a meningite purulenta (bacteriana). Geralmente autolimitada (benigna) e tratamento apenas sintomático. MENINGITES AGUDAS VIRAIS É um foco localizado de necrose do parênquima cerebral associado à inflamação purulenta, geralmente causado por bactérias; 2ª infecção purulenta mais frequente do SNC (perde para meningites bacterianas agudas purulentas). É a maior causa infecciosa de lesão expansiva em pacientes imunocompetentes à pode provocar HIC. Bactérias mais envolvidas: Streptococcus sp., Staphylococcus aureus, Bacilos Gram-negativos, anaeróbios… Vias de entrada no SNC: 1- Hematogênica: Endocardite infecciosa, bronquiectasias, abscessos pulmonares, 2- Extensão local: Sinusite, otite, mastoidite, petrosite, abscessos dentários, leptomeningite 3- Inoculação direta: TCE abertos ou neurocirurgia OBS: Abscessos cerebrais criptogênicos: sítios “ocultos” de infecção (não identificados) → 20 a 30% dos casos não se sabe a causaMorfologia: Origem hematogênica: geralmente múltiplos, no território de irrigação da A. cerebral média à mais comum, imagem ao lado à Origem por extensão direta: relação com o foco de origem Ex: - Otites e mastoidites à lobo temporal. Sinusites à lobo frontal. Fases evolutivas (macroscopia): 1- Inicial: Cerebrite (poucos dias): mal delimitado, necrose e edema 2- Abscesso recente (1 a 2 semanas): necrose liquefativa, purulenta e reparação periférica 3-Abscesso crônico ou antigo (> 2 semanas): coleção purulenta encapsulada Imagem A: área de necrose, purulenta. Imagem B: abscessos múltiplos. Coleção purulenta, mas circundada por cápsula. Clínica: febre (menos de 50% dos casos) síndrome de HIC (abscesso pode comprimir e empurrar estruturas cerebrais à desvio da linha média), convulsões, sinais neurológicos focais (ex. hemiparesia, redução da sensibilidade nos membros. Causados pelo efeito de massa e pela destruição do parênquima cerebral). ● TC e RNM precoces: Tratamento também precoce → redução da mortalidade a menos de 10%; Morbimortalidade muito alta, se não houver tratamento: ● Sepse ● Trombose de seios venosos (cursando com infarto) ● Ruptura do abscesso com ventriculite ou meningite purulentas ● Obs. HIC, hérnia cerebral ABSCESSO CEREBRAL Infecções supurativas focais agudas É uma coleção purulenta no espaço subdural, que é um espaço virtual (por isso é chamado de empiema e não abscesso). Geralmente são secundárias às sinusites, otites médias ou osteomielites por extensão direta ou por via venosa. Algumas vezes está associado a abscesso epidural: neurocirugia, fraturas cranianas... Complicação de leptomeningite purulenta: acomete crianças (abaixo de 5 anos). Clínica: ● Síndrome. de HIC à empiemas volumosos (efeito de massa) ● Febre, cefaleia, vômitos, confusão mental, convulsões, hemiparesia/hemiplegia, disfasia (descoordenação da fala à lesão cortical) ● Associados a história de infecção (sinusite, otite), neurocirurgia ou TCE. Diagnóstico precoce com drenagem cirúrgica → cura Complicações: ● Tromboflebite séptica de veias-ponte (vv. cerebrais superiores) no espaço subdural à infarto cerebral ● Aderências por fibrose entre as meninges (evolução crônica) > hidrocefalia Coleção purulenta no espaço epidural, chamado de abscesso porque este espaço é inexistente, a dura máter fica bem aderida à calota craniana. É raro no crânio à secundário a otite média, sinusite frontal, mastoidite, osteomielite ou ainda como complicação de TCE ou neurocirurgia Morfologia: pequeno volume e formato achatado (por conta da inexistência de espaço livre, é difícil crescer) Clínica: febre, cefaleia, vômitos, confusão mental, convulsões, hemiparesia Mais frequente na medula à secundário a osteomielite vertebral, empiema pleural, abscessos subfrênico e perirrenal, anestesia epidural.. Compressão medular: • Dor radicular, fraqueza muscular, hipoestesia (perda de sensibilidade nos MMII), disfunção esfincteriana (perda do controle autonômico), paralisia. • Evolução lenta ou aguda à emergência neurocirúrgica Infecção crônicas das meninges e do encéfalo de etiologia bacteriana: ● Mycobacterium tuberculosis à pode gerar neurotuberculose ● Treponema pallidum à neurossífilis ● Espécies de Borrelia à neuroborreliose (Doença de Lyme) EMPIEMA SUBDURAL ABCESSOS EPIDEURAL OU EXTRADURAL Meningoencefalite bacteriana crônica Três formas de apresentação: 1- Meningoencefalite tuberculosa (mais comum) 2- Tuberculoma 3- Comprometimento medular secundário à mal de Pott à mielite tuberculosa Meningoencefalite Tuberculosa: É a forma mais comum de neurotuberculose, sendo uma grave complicação da TBC primária. A vacina BCG pode preveni-la. Antigamente era uma doença fatal, mas hoje é controlável se tratada precocemente, mas sequelas neurológicas graves são frequentes Acomete preferencialmente crianças: ● TBC progressiva da infância; ● Disseminação via hematogênica; ● Pode coexistir disseminação miliar em outros órgãos. Macroscopia: ● Exsudato fibrinoso, consistente e elástico, de coloração branco-acinzentada, envolvendo caracteristicamente a base do encéfalo: polígono de Willis, raízes de nervos cranianos e cisternas basais; oblitera aberturas do IV ventrículo à hidrocefalia ● Granulações brancacentas na convexidade cerebral (granulomas com necrose caseosa) Microscopia: endarterite obliterante: fibrose e espessamento da camada íntima, reduzindo o lúmen. Esquerda inferior: infiltrado inflamatório em torno do vaso. Direta superior: granuloma, células gigantes, necrose caseosa central. Direita inferior: vaso com parede necrótica e trombose oclusiva. Clínica: Febre, cefaleia, irritabilidade, confusão mental, prostração, vômitos, meningismo (sinais de irritação meníngea). É possível ocorrer hidrocefalia à HIC, paralisia de pares NEUROTUBERCULOSE Meningoencefalite Tuberculosa - Morfologia Meningoencefalite Tuberculosa - Morfologia ¾Microscopia: • Focos de meningoencefalite: � Inflamação granulomatosa: células gigantes multinucleadas, células epitelioides, linfócitos e plasmócitos; � Necrose caseosa central • Endarterite obliterante Æ por espessamento / fibrose intimal • Necrose de parede vascular com trombose oclusiva Redução da luz vascular infartos cerebrais cranianos e Infarto cerebral e encefalite à paresias e convulsões... torpor e coma. Quadro subagudo a crônico (insidioso); não pode ser agudo. LCR: ● Pleocitose discreta (100 a 500 células/mm³) > geralmente linfócitos; ● Hiperproteinorraquia acentuada (100 a 500 mg/dL) ● Glicorraquia geralmente reduzida (< 40 mg/dL), mas pode estar normal Tuberculoma: múltiplos focos de inflamação granulomatosa (tuberculose) que confluem. Ocorre união de pequenos tubérculos intraparenquimatosos: nódulo maior (tuberculoma) Pode atingir 4,0 cm de diâmetro, causando efeito de massa: pode curar com HIC. Lembrar do diagnóstico diferencial com neoplasias Muitas vezes relacionadas a indivíduos imunossuprimidos. Incidência anula: 10 a 17 casos/100.000 pessoas (mundo) à 2% de todas as neoplasias malignas do organismo. Tumores primários: 78 a 86% do total, tumores metastáticos: 14 a 22%. Ocorrem em qualquer faixa etária à de crianças a idosos. • Criancas à correspondem a 20% de todos os cânceres pediátricos, 70% ocorre abaixo da tenda do cerebelo (infratentorais) • A maioria acomete adultos: a partir de 45/50 anos, homens > mulheres (exceto: meningioma). Em adultos: 70% ocorrem acima da tenda do cerebelo (supratentoriais); A maioria ocorre esporadicamente, sem causa conhecida, porem existem alguns fatores de risco: radiação ionizante, deficiências imunitárias e síndromes genéticas. As neoplasias do SNC possuem alta morbimortalidade e ampla variedade de aspectos histológicos e moleculares. “Benigno” x Maligno (baixo ou alto grau de malignidade). Além disso, tumores de baixo grau podem progredir para alto grau. A ressecção cirúrgica é um complicador, pois parte do tecido nervoso pode ser ressecado. A localização anatômica é importante, pois pode determinar a clínica, sintomatologia. OUTRAS MENINGOENCEFALITES Neoplasias do SNC Diagnóstico: correlacionar clínica com achados de TC/RNM e exame anatomopatológico Avaliação inicial: Sinais e sintomas: • Localização, tamanho, velocidade e tipo de crescimento (infiltrativo x expansivo) • Aumento da pressão intracraniana; Disfunção cerebral focal... Exames complementares: radiologia à TC e RNM, biópsia Diagnósticos diferenciais: hematomas; abscessos; tuberculomas; infecções parasitárias (ex: neurocisticercose); MAV, Infartos... Prognóstico: Relacionado a diversos fatores: idade do paciente (melhor prognostico em idosos que crianças), localização do tumor; histologia (tipo de tumor – classificação). • Em adultos:± 50% dos tumores do SNC são malignos; • Em crianças: > 75% dos tumores doo SNC são malignos. Localização e origem: Graduação feitas pela WHO/OMS, atualizado em 2016: Características citológicas e arquiteturais: densidade celular; atipia celular (anaplasia); índice mitótico (índice de proliferação celular pelo Ki-67); proliferação microvascular e necrose. Grau I à baixo potencial proliferativo (“benigno”): circunscritos (mais fácil de realizar ressecção) Grau II à baixo grau de malignidade à Difusos / infiltrativos Grau III à grau intermediário de malignidade à Difusos / infiltrativos Grau IV à alto grau de malignidade à Difusos / infiltrativos Atualização da Classificação de 2007: integrou alterações moleculares que predizem comportamento do tumor (prognóstico) e levam a tratamento mais direcionado. Acrescentou alterações genéticas (genótipo) à classificação histológica (fenótipo). Laudo: tipo histológico, alteração genética, grau (I, II, III ou IV) Alterações genéticas pesquisadas (IHQ e FISH): astrocitomas: mutações da IDH, pT53 e ATRX; 1p/19q intacto e oligodendrogliomas: mutação da IDH, codeleção de 1p/19q; ATRX wildtype. OBS: • Wildtype = ausência da alteração genética pesquisada (uso restrito) • NOS ou SOE = não foi realizado teste genético no tumor ou ausência de alterações genéticas 40% das neoplasias primárias: 90% dos tumores neuroepiteliais são originados das células da glia Histologia do cérebro normal: Substância cinzenta: constitui o córtex cerebral, região mais externa. Composta pelos corpos neuronais e células da glia Substância branca: maior concentração de células da glia, sem corpos neuronais, apenas seus axônios. Além disso tem vasos sanguíneos de paredes finas. Astrocitomas: Mais frequentes tumores neuroepiteliais e gliomas (± 80%). São circunscritos / localizados: Grau I à baixo potencial proliferativo (“benignos”) à crescimento difuso / infiltrativo: Graus II, III e IV à graus variados de malignidade Clínica: depende do tamanho e local. Sintomas: cefaleia, convulsões, déficits neurológicos focais, Sd. de HIC. Tumores neuroepiteliais Neoplasia de baixo potencial proliferativo (“benigno”); crescimento lento e expansivo (“circunscrito”). Acomete principalmente crianças e adolescentes; Localizações: mais comuns à N. óptico, quiasma óptico, hipotálamo, talamo e cerebelo. Menos comuns à lobo temporal, tronco encefálico e medula espinhal. Sobrevida de 90% em 5 anos após o diagnóstico; Tratamento: ressecção cirúrgica. Mutações no proto-oncogene BRAF à tratamento (QT) direcionado (ainda não ocorre esse tratamento, mas é provável no futuro). Morfologia Macroscopia: tumor tende a ser bem delimitado; sólido-cístico: • solido = áreas ora firmes, ora frouxas, branco-acinzentadas, • cística = cisto contendo líquido seroso ou material gelatinoso. Imagem A: tumor na região hipotalâmica, característica solido-cística. Pequena área de hemorragia (secundária a biopsia). Além disso, comprime o terceiro ventrículo cursando com hidrocefalia. Imagem B: tumor predominantemente cístico, com material gelatinoso. Microscopia: Tumor “bifásico” • Áreas compactas à sólidas, com células fusiformes e prolongamentos longos, ricos em fibras gliais; • Áreas frouxas. à astrócitos estrelados, desprovidos de fibras gliais, ao redor de microcistos; OBS: Fibras de Rosenthal e corpos granulares eosinofílicos Imagem A: tumor bifásico – áreas densas (escuras) e áreas frouxas (claras). Observa-se áreas de microcistos que podem se fundir Imagem B: as estruturas alongadas e eosinofilicas são as fibras de Rosenthal à fibras espessas por deposição de matriz glial mais condensada. Imagem C: corpos glanulares eosinofilicos à são fibras de Rosenthal cortadas na transversal. Além disso, observa-se proliferação vascular que, nesse caso, é exceção pois é grau 1. Clínica: Relaciona-se com o local do tumor (exemplos): • Nervo e quiasma óptico: perda de acuidade visual, exoftalmia, papiledema... (unilaterais) • Hipotálamo: diabetes insípidus; puberdade precoce; obesidade; hipogonadismo; perda de massa muscular. Hidrocefalia (compressão do III ventrículo). HIC • Cerebelo: alterações da marcha (ataxia), nistagmo. Hidrocefalia (compressão do IV ventrículo) àHIC. Compressão de tronco encefálico à coma/óbito ASTROCITOMAS PILOCÍSTICO GRAU I Neoplasia de baixo grau de malignidade, seu crescimento é infiltrativo/difuso. Acomente adultos: 25 a 45 anos. Localizações:Lobos frontais e temporais nos hemisférios cerebrais. É composta por astrócitos fibrilares, gemistocíticos e protoplasmáticos Morfologia: Macroscopia: Limites imprecisos e crescimento infiltrativo; homogêneo, branco-acinzentado e consistente/compacto; pode apresentar cistos com material seroso ou gelatinoso. Imagem A: massa no lobo frontal, hipodensa e homogênea Imagem B: neoplasia na região branco- azicentada, limite pouco preciso e é compacta (pelas fibras gliais) Imagem C: tumor com limites pouco preciso, com presença de cistos. Microscopia: proliferação de astrócitos fibrilares à estrelados/triangulares, bem diferenciados; núcleos redondos/ovoides com atipias discretas; densidade celular baixa a moderada; há abundante matriz fibrilar (fibras gliais astrocitárias) àIHQ: GFAP + Outros: Microcistos; Mitoses raras ou inexistentes; Capilares de paredes finas; Sem necrose Imagem A: tumor com baixa a média celularidade, com proliferação de astrócitos fibrilares, com núcleos ovoides e pouco atípicos. Além disso, observa-se microcistos Imagem B: alongamentos fibrilares corados em marrom Imagem C: astrocitoma difuso cm celularidade moderada, astrócitos com pouca atipia, capilares de parede fina Imagem D: observa-se astrócitos gemistociticos, grandes e com citoplasma amplo (e eosinofilico), núcleos volumosos, hipercromaticos e excêntricos Clínica: relaciona-se com o local e velocidade de crescimento do tumor: • Hemisférios cerebrais: Crises convulsivas; Déficits motores ou sensitivos; Transtornos psiquiátricos; Sd. de HIC • Tronco encefálico: manifestações variadas (envolvimento de vias sensitivas, piramidais, cerebelares, nervos cranianos); à maior risco de óbito. Prognóstico: sobrevida de 50% em 5 anos após o diagnóstico. Com o passar do tempo à Astrocitoma anaplásico / Glioblastoma ASTROCITOMAS DIFUSO GRAU II Neoplasia de grau intermediário de malignidade; crescimento infiltrativo/difuso. Apresenta áreas focais ou extensas de anaplasia; Origina-se de: astrocitoma difuso (grau II) ou “de novo” (expressão para uma neoplasia que se origina do zero, sem progressão de neoplasia de menor grau). Acomete principalmente adultos: 30 a 50 anos Localizações e clínica: semelhante ao astrocitoma difuso (grau II) Prognóstico: sobrevida de 33% em 5 anos após o diagnóstico Morfologia: Macroscopia: semelhante ao astrocitoma difuso (grau II) à acentuado edema perilesional, efeito de massa mais intenso Microscopia: densidade celular moderada a elevada; atipias nucleares mais marcantes (pleomorfismo/anaplasia); figuras de mitose frequentes; matriz fibrilar menos abundante àIHQ: GFAP variável Outros: Capilares de paredes finas à sem necrose Imagem A: celularidade aumentada, atipia do núcleo, variação de morfologia entre os núcleos. Imagem B: figuras de mitose, com cromatina concentrada no meio do núcleo Neoplasia de alto grau de malignidade, possui crescimento infiltrativo/difuso. É o tumor maligno primário mais frequente do SNC à 55% de todos os gliomas intracranianos. Origina-se de: astrocitoma difuso e anaplásico (grau II e III) ou “de novo”. Acomete principalmente adultos: Homens (3:2), de 45 a 70 anos; Localização preferencial: hemisférios cerebrais (lobos frontais, temporais e parietais) e crianças àtálamo e troncoencefálico Glioblastoma primário ou “de novo” (IDH wildtype): • Mais frequente (90%); • Idade mais avançada; • Evolução clínica rápida (< 6 meses); • Sem evidências clínicas de lesão precursora; • Prognóstico pior. Glioblastoma secundário (IDH mutante) • Pacientes mais jovens; • Evolução clínica mais prolongada (4 a 5 anos); • Originam-se de lesões precursoras “menos” malignas (grau II ou III); • Prognóstico “menos pior”. Exame de imagem: RM com contraste à massa de contorno irregular; possível obersavar “anel de contraste” periférico, hiperdenso. As áreas centrais são hipodensas (enegrecidas, não captam constraste) à necrose) ASTROCITOMAS ANAPLÁSICO GRAU III GLIOBLASTOMA GRAU IV Morfologia Macroscopia: massa tumoral firme ou friável, sem brilho, granulosa, branco-acinzentada, com extensas áreas amareladas de necrose e focos de hemorragia. Pode haver cistos com material seroso, hemorrágico ou necrótico. Aspecto em “asa de borboleta”: Imagem A: lesão visível, mal delimitada, friável, com necrose Imagem B: tumor em um lobo à infiltra o corpo caloso à infiltra o hemisfério cerebral oposto Microscopia: • Hipercelularidade e grande variabilidade celular à pleomorfismo/anaplasia. (imagem A) • Células pequenas, grandes, fusiformes, multinucleadas. (Imagem A) • Mitoses típicas e atípicas são muito frequentes • Necrose em faixa, com aspecto em “pseudopaliçada”; (imagem C) • Proliferação microvascular com hiperplasia endotelial à aspecto glomeruloide (imagem B) • Pouca matriz fibrilar àGFAP muito variável Clínica: Sinais e sintomas focais a depender da localização. A síndrome de HIC frequente (pois o tumor cresce rapidamente, provocando efeito de massa) É umas das neoplasias humanas mais letais; Tratamento: cirurgia + RXT/QT. à alta taxa recidiva Prognóstico: alta recidiva àlocal ou metástases. Sombrio àsobrevida média de 1 ano e 3 meses; apenas 25% dos pacientes estão vivos após 2 anos; Neoplasia de baixo grau de malignidade; crescimento lento e longa evolução; corresponde de 5 a 15% dos gliomas, formado por células semelhantes à oligodendrócitos; acomete principalmente adultos, H = M, 30 a 60 anos; Local mais comum: hemisférios cerebrais (frontal, temporal e parietal) Clínica: manifestações neurológicas focais (mais comum = convulsões), pode haver sangramento e óbito. Prognóstico: sobrevida de 66% em 5 anos após o diagnóstico Morfologia: Macroscopia: massa branco- azicentada, de limites mal definido, em lobo temporal à semelhante ao astrocitoma difuso grau 2. TC: massa irregular e hipodensa, com pontos hiperdensos, que são calcificações Microscopia: Células arredondadas, de cromatina uniforme com pequeno nucléolo e halo claro perinuclear: célula em “ovo frito” Capilares delicados em “tela de galinheiro” Calcificações, mitoses raras/ausentes, sem necrose Neoplasia de baixo grau de malignidade; tumor ependimário mais comum. Acomete principalmente crianças < 10 anos. Local mais comum: IV ventrículo. Em adultos à medula espinhal Clínica: Hidrocefalia à Sd. de HIC, além de disseminação liquórica Prognóstico: Sobrevida de 50 a 66% em 5 anos após o diagnóstico Morfologia: Macroscopia: massa tumoral solida, firme, acizentada, se estende a partir do assoalho do IV ventrículo para o interior do ventrículo. RM à tumor hiperdenso e hipercaptante, ocupando toda a cavidade do IV ventrículo, comprimindo o tronco encefálico Microscopia: OLIGODENDROGLIOMA GRAU II EDENDIMOMA GRAU II • Células com núcleos uniformes, ovais e de cromatina granular; • Pseudorosetas perivasculares: pseudo pois se forma apenas ao redor de vasos sanguíneos. As rosetas verdadeiras não precisam de vaso Neoplasia de alto grau de malignidade; origina-se no cerebelo e rapidamente infiltra estruturas vizinhas. Tumor maligno do SNC mais frequente na infância. Acomete crianças, preferencialmente meninos, de 5 a 8 anos; Clínica • Hidrocefalia (por bloqueio da circulação liquorica) à Sd. de HIC; • Ataxia (incordenacao motora e de equilíbrio, pela destruição de tecido cerebelar); • Disseminação liquórica no SNC e vascular (pois atinge o IV ventrículo) àossos, fígado e pulmões Prognóstico: sobrevida de 75 a 80% em 5 anos após o diagnóstico; cirurgia, radio e quimioterapias. Pior prognóstico: crianças novas, ressecção incompleta, alguns subtipos e metástases. Morfologia Macroscopia: Bem delimitado, amolecido e friável, granular e róseo-acinzentado. TC: massa solida, captante de contraste na região cerebelar Microscopia: • Hipercelularidade; • Células pequenas, com citoplasma escasso e núcleos arredondados/ovoides hipercromáticos (imagem A) • “Tumor de células redondas, pequenas e azuis” à embrionário • Arranjo sólido (imagem A) • Rosetas neuroblásticas de Homer Wright (verdadeiras) (imagem B) • Figuras de mitose frequentes (imagem A) • Capilares de pequeno calibre e delicados • Necrose incomum, mas pode haver. Tumores embrionários MEDULOBLASTOMA GRAU IV Tumor primário mais frequente do SNC, originam-se das células meningoteliais que revestem a aracnoide. Acomete principalmente adultos M > H (2 a 4 : 1). Em sua maioria tem comportamento benigno (Grau I). Critérios de malignidade: infiltração do SNC, mitoses e necrose (graus II e III). Local mais comum: aderidos à dura-máter em qualquer ponto da superfície externa do encéfalo; Clínica: crescimento lento à sinais/sintomas dependem do local; HIC tardia. Pode crescer mais rapidamente na gravidez à receptores de progesterona. Prognóstico, em geral, excelente. Morfologia: Macroscopia: massa nodular, bem delimitada, firme, solida, pardo-acizentado, aderida a dura- máter. TC à imagem nodular, na região de lobo frontal/temporal, empurrando o parênquima encefálico, desviando a linha média à HIC Microscopia: ß Meningotelial (sincicial): • Aglomerados espiralados de células volumosas, com limites imprecisos (aspecto sincicial); • Massas de células, em agrupamentos compactos. Fibroso (fibroblástico): à • Células alongadas (fusiformes), dispostas em feixes paralelos ou que se entrelaçam; • Abundante deposição de colágeno entre as células. ß Transicional e Psamomatoso: • Arranjos vorticilares • Calcificações psamomatosas. à quando tem várias calcificações, pode ser chamado de meningioma psamomatoso. Se da quando o cálcio se deposita como “casca de cebola”, em rodelas. O SNC é sede frequente de metástases por via sanguínea, sendo mais requente: câncer de pulmão, mama, melanoma, renal e colônico. São nódulos múltiplos, bem delimitados, geralmente nos hemisférios cerebrais, na junção entre córtex e substância branca Sobrevida: apenas 3 a 6 meses Meningiomas Metástases cerebrais
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