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Catabolismo oxidativo dos Ácidos Graxos ➢ lipídios armazenados nos adipócitos compõem a mais abundante fonte energética do organismo humano ➢ Essa grande reserva de energia estocada na forma de lipídios ocupa um volume pequeno quando comparado aos estoques de glicogênio muscular, e isso é possível porque os lipídios são armazenados na forma anidra.Já o glicogênio é armazenado na forma hidratada, e, para cada grama de glicogênio, são utilizados 3 mℓ de água para compor sua camada de solvatação ➢ Outra vantagem de concentrar energia na forma de lipídeos é a eficiência, já que os ácidos graxos fornecem 9 kcal.g–1, enquanto os carboidratos 4 kcal.g–1 ➢ A oxidação de ácidos graxos ocorre principalmente na matriz mitocondrial e tem como propósito obter uma importante molécula do metabolismo energético, o acetil-CoA. ➢ A utilização de ácidos graxos como fonte energética varia entre os tecidos e também em razão do estado metabólico do organismo.Por exemplo, no coração e no fígado a oxidação de ácidos graxos é capaz de fornecer cerca de 80% das necessidades energéticas em qualquer estado metabólico. ➢ Na matriz mitocondrial, os ácidos graxos sofrem oxidações sucessivas a partir do carbono beta, daí essa operação ser comumente conhecida como betaoxidação, que compreende um ciclo de quatro passos bioquímicos para obter a molécula de acetil-CoA. ➢ O acetil-CoA originado durante o ciclo da betaoxidação pode ter vários destinos, sendo um deles o ciclo do ácido cítrico, cujo propósito principal é a conservação da energia na forma de moléculas de ATP. Já no fígado, a molécula de acetil-CoA pode ser convertida em corpos cetônicos, uma alternativa energética importante, sobretudo para tecidos nobres, como o cérebro, em circunstâncias em que a glicose não está disponível. Mobilização dos lipídios ➢ Os hormônios são os mais relevantes sinalizadores da mobilização lipídica do tecido adiposo. De fato, sob a influência do glucagon e de catecolaminas (noradrenalina e adrenalina), verifica-se hidrólise dos triacilgliceróis no tecido adiposo, liberando ácidos graxos e glicerol na corrente sanguínea. DESTINO DO GLICEROL ➢ A molécula de glicerol oriunda da hidrólise dos triacilgliceróis não sofre metabolização no interior dos adipócitos, pois estes não dispõem da enzima glicerol cinase. O glicerol, por seu caráter polar, é transportado pela corrente sanguínea até o fígado, onde pode sofrer fosforilação, dando origem ao glicerol-fosfato. O glicerol-fosfato no fígado pode seguir dois caminhos metabólicos diferentes: ser convertido em di-hidroxiacetona fosfato por meio da ação da enzima glicerol-fosfato desidrogenase, tornando possível sua utilização na glicólise ou na gliconeogênese; ou ser convertido em triacilgliceróis. ATIVAÇÃO DOS ÁCIDOS GRAXOS E SEU TRANSPORTE PARA MATRIZ MITOCONDRIAL ➢ Ao chegarem às células, os ácidos graxos devem ser conduzidos à matriz mitocondrial, onde estão presentes as enzimas responsáveis pela oxidação desses ácidos. Ácidos graxos com até 12 carbonos na cadeia têm capacidade de penetrar na mitocôndria sem o auxílio de transportadores. Contudo, a maioria dos ácidos graxos presentes no organismo humano apresenta 14 ou mais carbonos na cadeia e não é capaz de atravessar as membranas mitocondriais. Nesse caso, é necessário acoplarem-se a um transportador, a carnitina. Os ácidos graxos sofrem uma sequência de três reações enzimáticas, cujo propósito é torná-los aptos para internalizarem a matriz mitocondrial. Primeira reação - Ativação dos ácidos graxos ➔ Para que ocorra a formação de um acil-CoA graxo, é necessária a clivagem de duas ligações de alta energia do ATP, originando AMP + 2 Pi. Segunda reação - Ligação dos ácidos graxos à carnitina ➔ A ligação do ácido graxo à carnitina aciltransferase I dá origem a um composto denominado acilcarnitina graxo, que atravessa a membrana mitocondrial interna por meio de um transportador acilcarnitina Terceira reação - Transferência do acil graxo para acetil-coA ➔ Na terceira e última etapa que compreende o processo de internalização do ácido graxo na matriz mitocondrial, o grupo acil graxo é transferido para uma molécula de acetil-CoA presente na matriz mitocondrial, liberando a molécula de carnitina, que retorna ao ambiente da membrana mitocondrial externa do transportador presente na membrana mitocondrial interna. Assim, a carnitina é regenerada para uma nova operação de ativação e transporte de ácidos graxos para a matriz mitocondrial. ➔ É importante destacar que as moléculas de acil-CoA graxo presentes no citosol podem ser utilizadas para duas finalidades: síntese de lipídios de membrana ou como parte do processo de oxidação dos ácidos graxos na matriz mitocondrial, cujo propósito é a produção de ATP. A ligação dos acil-CoA graxos com a molécula de carnitina originando ésteres de carnitina é o evento marcante que sela o destino dos acil-CoA graxos para serem oxidados, e não utilizados na síntese de lipídios membranares. Ciclo da Betaoxidação ➢ Após o ácido graxo internalizar a matriz mitocondrial, ele participará em um ciclo de reação que compreende quatro passos, cujo principal propósito é convertê-lo totalmente em acetil-CoA. Essa cadeia de reações chama-se betaoxidação, já que a cisão da molécula de ácido graxo ocorre na posição beta do grupo acila esterificado a-CoA. Dessa maneira, o carbono β do ácido graxo transforma-se no carbono carboxílico na próxima volta no ciclo de reações, e assim sucessivamente até que seja plenamente convertido em moléculas de acetil-CoA. Primeiro passo ➔ Oxidação do acil-coA, originando uma insaturação. Essa reação é catalisada pelo acil-CoA desidrogenase dependente de FAD. A função do FAD é aceitar os elétrons que sofrem remoção do grupo acila, que posteriormente são transferidos para a ubiquinona (proteína da fosforilação oxidativa). Segundo passo ➔ Hidratação da dupla ligação inserida na cadeia no passo anterior. Terceiro passo ➔ Ocorre uma segunda reação de oxidação e catalisado por uma enzima que tem NADH como cofator Quarto passo ➔ O último passo do ciclo envolve a produção de acetil-CoA da clivagem do β-cetoacil-CoA pela enzima tiolase ou acil-CoA acetiltransferase, sendo necessária uma molécula de acil-CoA para que essa reação se processe. O acil-CoA resultante apresenta agora dois carbonos a menos do que quando iniciou o ciclo. Essa molécula reiniciará o ciclo até ser completamente oxidada em moléculas de acetil-CoA. ➔ A cada volta no ciclo, o acil-CoA perde dois carbonos na forma de acetil-CoA. O acetil-CoA é a molécula mais comumente formada no ciclo da betaoxidação, uma vez que os ácidos graxos de número par de carbonos são mais comuns no organismo humano. As moléculas de acetil-CoA, decorrentes da betaoxidação, podem ser completamente oxidadas no ciclo do ácido cítrico, o ciclo de Krebs. ➔ Se o ácido graxo a ser oxidado for insaturado, o processo tem dois passos enzimáticos adicionais: a conversão do isômero cis em trans e a saturação da dupla ligação pela adição de água; uma vez que o ácido graxo foi convertido em sua forma saturada, ele pode seguir com o processo normal de oxidação. Na figura, Destino dos grupos acetil (em azul) oriundos do ciclo da beta oxidação. No primeiro plano, a oxidação completa de um ácido graxo de 14 carbonos (ácido mirístico, ácido tetradecanoico, 14:0). Nota-se que são necessários sete ciclos de beta oxidação para o ácido mirístico sofrer completa oxidação em acetil-CoA. O destino dos grupos acetil, na forma de acetil-CoA, é entrar no ciclo de Krebs para sofrer metabolização. Os elétrons decorrentes dessa oxidação no ciclo Krebs são destinados à cadeia transportadora de elétrons para posterior síntese de ATP. ★ Caso de oxidação de um ácido graxo ímpar: Corpos Cetônicos ➢ Em condições em que a oxidação dos ácidos graxos predomina como via de obtenção de energia, como no caso do diabetes melito, o fígado produz grandes quantidades de acetoacetato, beta-hidroxibutirato e acetona. ➢ A grande fonte de corpos cetônicos no organismo humanoé o fígado, no qual são produzidos a partir do acetil-CoA, principalmente na matriz mitocondrial dos hepatócitos em circunstâncias em que os carboidratos não estão tão escassos e a energia deve ser obtida da quebra dos ácidos graxos. ➢ Ao contrário destes dois últimos, a acetona não pode ser convertida de volta a acetil-CoA, por isso é excretada na urina, exalada e, por sua natureza volátil, liberada pelo suor, pelo hálito e também pela urina, sendo esta última via de excreção utilizada no teste de detecção de corpos cetônicos urinários (cetonúria) por meio de fitas reagentes. O teste de cetonas urinárias fornece dados para o diagnóstico precoce da cetoacidose e, consequentemente, o coma diabético. Outra condição em que os corpos cetônicos podem aparecer na urina em grande quantidade é no jejum prolongado. Síntese de corpos cetônicos ➔ Os corpos cetônicos são sintetizados, sobretudo na matriz mitocondrial das células do fígado, a partir da reação da tiolase, que une duas moléculas de acetil-CoA para dar origem a um composto denominado acetoacetil-CoA. ➔ Ocorre somente em circunstâncias em que os níveis de acetil-CoA estão elevados. ➔ Após a formação do acetoacetil-CoA; ele reagirá com acetil-CoA para dar origem ao 3-OH-metiglutaril-CoA (HMG-CoA); a enzima que catalisa essa reação é a HMG-CoA sintase. A reação subsequente compreende a cisão do HMG-CoA pela enzima HMG-CoA liase, dando origem a acetil-CoA e acetoacetato, o primeiro dos corpos cetônicos. ➔ O acetoacetato pode prontamente seguir para o plasma ou, ainda, sofrer a ação da enzima beta-hidroxibutirato desidrogenase, que promove sua descarboxilação convertendo-o em beta-hidroxibutirato ➔ O acetoacetato pode seguir ainda uma via alternativa, na qual é convertido em acetona por descarboxilação. Estudo dirigido 1. Um indivíduo diabético fez exames para diagnóstico do diabetes melito e um desses exames foi a determinação de corpos cetônicos na urina. Explique em que condições aparecem os corpos cetônicos no plasma e quais suas consequências bioquímicas. 2. Um indivíduo diabético fez exames para diagnóstico do diabetes melito e um desses exames foi a determinação de corpos cetônicos na urina. Explique em que condições aparecem os corpos cetônicos no plasma e quais suas consequências bioquímicas. 3. Mulher, 36 anos, está em uma academia de ginástica exercitando-se na bicicleta ergométrica. Ela questiona seu preparador físico sobre os mecanismos bioquímicos que levam à quebra de lipídios do tecido adiposo. Escreva a resposta correta que deveria ser dada pelo preparador físico. 4. Explique qual a função da carnitina. 5. Explique como ocorreria a oxidação de um ácido graxo de número de carbono ímpar em sua cadeia. Respostas 1. Em condições de diabetes melito não tratado, dietas ausentes de carboidratos e jejum prolongado, ocorre produção de corpos cetônicos em excesso, que se acumulam no plasma, instalando-se, assim, uma condição denominada cetose, que se trata de um estado anormal, mas não necessariamente perigoso. Contudo, se os corpos cetônicos continuam a ser produzidos, chega-se a uma condição chamada cetoacidose, que reduz o pH do plasma a níveis que podem conduzir ao coma (coma cetótico). Depois de uma dieta de baixo nível glicêmico durante 3 dias, o cérebro recebe 30% de sua energia dos corpos cetônicos. Após 4 dias, esse nível sobe para 70% (durante os estágios iniciais, o cérebro não oxida as cetonas, já que elas são um importante substrato para a síntese de lipídios). Nesse estágio, o cérebro torna-se mais permeável aos lipídios e corpos cetônicos e passa a consumir esses substratos energéticos. Mesmo com essa capacidade de utilizar corpos cetônicos como fonte de energia, o cérebro ainda mantém sua necessidade por glicose. 2. A molécula de acil-CoA graxo liga-se à carnitina aciltransferase I, situada na membrana mitocondrial externa. Subsequentemente, a acilcarnitina atravessa a membrana mitocondrial, interna por meio de um transportador ancorado na membrana mitocondrial interna (SLC25A20-translocase de carnitina/acilcarnitina). Já no ambiente da matriz mitocondrial, o grupo acila da molécula de acilcarnitina é transferido para a molécula de acetil-CoA intramitocondrial, por meio da carnitina aciltransferase II, liberando a carnitina. A carnitina retorna ao espaço intermembranar pela mesma translocase de carnitina/acilcarnitina. 3. Os hormônios catabólicos são capazes de remover a reserva energética presente nos adipócitos na forma de triacilgliceróis. Esses hormônios são capazes de produzir altos níveis de AMPc no interior do adipócito, ativando uma enzima intracelular chamada cinase A que, por sua vez, ativa a perilipina A por meio de fosforilação. A perilipina fosforilada induz o deslocamento da lipase hormônio-sensível até a inclusão lipídica, onde inicia a clivagem (hidrólise) dos triacilgliceróis liberando ácidos graxos e glicerol na corrente sanguínea. O glicerol é solúvel na corrente sanguínea; já os ácidos graxos, por seu caráter apolar, ligam-se às porções hidrofóbicas da albumina plasmática e são transportados no plasma para as células. A oxidação dos ácidos graxos libera aproximadamente 95% da energia biologicamente disponível nos triacilgliceróis, enquanto a molécula do glicerol responde por somente cerca de 5% dessa energia e seu destino é sofrer fosforilação pela enzima glicerol cinase, sendo, portanto, convertida em glicerol-3-fosfato, que sofre oxidação dando origem à di-hidroxiacetona fosfato. Subsequentemente, a enzima glicolítica triose fosfato isomerase transforma esse composto em gliceraldeído-3-fosfato, que segue pela via glicolítica. 4. A carnitina é sintetizada tendo como precursor a lisina, um aminoácido essencial. A carnitina aciltransferase I situa-se na membrana mitocondrial externa, enquanto a carnitina aciltransferase I encontra-se na membrana mitocondrial interna. Ambas têm a função de transportar os ésteres de acil-CoA graxo para serem oxidados na matriz mitocondrial. 5. A betaoxidação de um ácido graxo saturado com número ímpar de átomos de carbonos segue os mesmos passos metabólicos descritos para os ácidos graxos de número par de carbonos. Contudo, ao final da sequência de reações, tem-se a formação de propionil-CoA, e não de acetil-CoA, como no caso da oxidação de um ácido graxo de número par de carbonos. O propionil-CoA é convertido em succinil-CoA, que entra no ciclo de Krebs em um intervalo diferente daquele do acetil-CoA. Essa operação requer duas etapas: inicialmente o propionil-CoA sofre carboxilação por meio da enzima propionil-CoA-carboxilase, transformando-se em metilmalonil-CoA. O passo seguinte envolve a ação da enzima metilmalonil-CoA mutase, enzima dependente de vitamina B12, cuja função é promover alterações na disposição dos átomos de carbono da molécula de metilmalonil-CoA, dando origem ao succinil-CoA, um dos intermediários do ciclo de Krebs.
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