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Luíza Barreto – Medicina 2021.1 SEPSE • Disfunção orgânica, ameaçadora a vida, acusada por uma resposta desregulada do organismo à infecção. Obs: A diferença entre sepse e infecção é a resposta desregulada e aberrante do hospedeiro ao processo infeccioso e a presença da disfunção orgânica, mas essa disfunção orgânica pode estar oculta, de modo que sua presença deve ser investigada em qualquer paciente com quadro de infecção. Obs: Os processos infecciosos podem resultar em disfunções locais sem gerar uma resposta sistêmica desregulada. • Elevada incidência no mundo, com taxa de mortalidade de 29% • Tem tido um aumento na incidência por conta do envelhecimento da população e disseminação de procedimentos invasivos (maior sobrevida de doenças debilitantes, maior uso de imunossupressores, etc), mas também teve uma redução da mortalidade por conta da identificação e tratamento precoces. • Estudos mostram que na UTI, a sepse de origem pulmonar foi a mais frequente, 69% dos focos da sepse estavam no pulmão, seguido dos focos abdominais → mas o foco pode mudar dependendo da instituição. • Atualmente, a sepse é a principal causa de morte nas UTIs e uma das principais causas da mortalidade hospitalar, superando o IAM, AVC e as neoplasias combinadamente. Mas ainda é extremamente subdiagnosticada, subnotificada e frequentemente não tratada até estágios avançados de disfunções orgânicas, com consequente diminuição das chances de sobrevida para um número significativo de pacientes, notadamente aqueles atendidos em PA. • Choque séptico é uma hipotensão importante com necessidade de vasopressor para manter a PAM > 65mmHg + lactato > 2mmol/L (18mg/dL) → Subgrupo de pacientes cuja anormalidade circulatória e celular/metabólica são graves o suficiente para levar a um aumento importante da mortalidade. Fatores de risco: Os principais fatores de risco para sepse são: (1) internação em CTI; (2) infecção nosocomial; (3) bacteremia; (4) idade avançada; (5) imunodepressão; (6) história de hospitalização prévia, principalmente se a causa da internação foi uma infecção; (7) pneumonia. SOFA: Utiliza os parâmetros respiratório, de coagulação, hepático, cardiovascular, neurológico (ECG) e renal, e cada um desses vai de 0 a 4. Um score maior ou igual a 2 aponta para o diagnóstico de sepse em pacientes com quadro de infecção. Obs: É importante quantificar o SOFA porque se o paciente tiver 2 pontos nesse escore e ele tem um quadro de infecção a gente o considera em sepse. “Mas como quantificar o SOFA em 1h se ele me exige uma série de fatores e de dados, sendo alguns laboratoriais?” A gente utiliza qSOFA ou pulamos para outros escore que pontuamos rapidamente, que são os escores que utilizamos para rapidamente colocar um antibiótico na veia do paciente ou se você suspeita que o paciente está apresentando uma disfunção orgânica que ela vai caminhar para no mínimo 2 pontos no SOFA você pode considerar que esse paciente empiricamente tem sepse, colhe a cultura, segue o protocolo de sepse e coloca antibiótico na veia e solicita todos os exames e, posteriormente, você classifica esse paciente com o SOFA. - Os 2 pontos podem ser conseguidos apenas usando uma variável ou a soma de algumas. Se o paciente já tem uma disfunção prévia conhecida, por exemplo, um paciente com uma doença renal crônica que tinha a creatinina em 2, você vai considerar o 2 agora como o 0. Você vai partir dali, ele não vai ganhar 2 pontos. - Um escore SOFA maior ou igual a 2 em pacientes sem disfunções conhecidas ou o incremento de 2 pontos no SOFA em pacientes com disfunções prévias aponta para um risco de mortalidade de 10% para uma população geral com quadros suspeitos de infecção. DISFUNÇÕES ORGÂNICAS: • Confusão mental ou depressão neuro-sensorial agudas • Hipotensão arterial (PAS < 90mmHg ou PAM < 65mmHg) • Hipoxemia (SpO2 < 90% com ou sem uso de oxigênio) • Oligúria ou creatinina > 2 ou 1,5 x valor basal, agudamente • Plaquetopenia (< 100.000) • Hiperbilirrubinemia (BT > 4 mg/dL) qSOFA: PAS < 100mmHg, alteração do estado mental (ECG < 15) e taquipneia > 22 ipm. Maior ou igual a 2 pontos, define o paciente como alto risco para sepse (o qSOFA não faz diagnóstico de sepse, mas estabelece a suspeita para auxiliar na conduta). Porém, se esse paciente tem apenas uma disfunção, como alteração na escala de Glasgow, que o paciente chega desorientado, ganhando 1 ponto, não está hipotenso, mas está febril, preciso investigar se tem outras disfunções. Então o QSOFA serve quando você tem os 2 pontos, mas quando não tem, você pode, excepcionalmente, nessas situações jogar com os critérios do SIRS (ele está febril? Está taquicárdico?). Obs: Critérios da SIRS → Dois ou mais dos seguintes critérios: Luíza Barreto – Medicina 2021.1 → A SIRS não é mais necessária para a definição, mas continua sendo importante como screening para pacientes com possível sepse. Obs: A grande crítica que sempre foi feita aos critérios antigos é que nem toda SIRS se acompanha de sepse, pois existem outras causas de SIRS que podem cursar sem infecção (p. ex.: pancreatite aguda, grande queimado, politrauma, pós operatório de grandes cirurgias), assim como nem sempre pacientes sépticos se apresentam inicialmente com SIRS Obs: Não se usa mais a expressão “sepse grave”, pois toda sepse é grave. Obs: Choque séptico tem que ter o lactato medido. Obs: Nenhum órgão está protegido dos efeitos da sepse. Na medida em que o processo evolui, o paciente pode atingir o estágio de “disfunção orgânica múltipla”, isto é, disfunção multiorgânica progressiva e cumulativa, cuja letalidade é de virtualmente 100% quando 3 ou mais órgãos apresentam critérios de disfunção aguda. Os órgãos e sistemas mais afetados na sepse são: (1) circulação; (2) pulmões; (3) tubo digestivo; (4) rins; e (5) SNC. CONDUTA: Na primeira hora do paciente, deve medir o lactato, colher culturas, iniciar antibioticoterapia, administrar cristaloides 30ml/kg e vasopressores para manter a PAM > 65mmHg LACTATO: É um marcador de hipoperfusão tecidual, podendo ser usado como marcador prognóstico na sepse, e pode ser um alvo terapêutico (o objetivo vai ser deixar o lactato < 2mmol/L ou gerar uma queda de pelo menos 20% em 2-6h) CULTURAS: Devem ser colhidas o mais rápido possível para não atrasar o início da antibioticoterapia. Deve ser feito cultura do foco suspeito + hemocultura. Fazer exames complementares para auxiliar na identificação do foco suspeito. Obs: Após conhecimento do resultado das culturas e antibiograma, o tratamento antimicrobiano deve ser reajustado. Neste momento, ele pode ser mantido, ampliado ou descalonado. O ideal é que se escolha a droga com menor espectro de ação possível, que de preferência tenha pouca toxicidade e baixo custo. ANTIBIOTICOTERAPIA: Deve ser feita de amplo espectro, rapidamente (1h), cobrindo os patógenos mais prováveis. Deve retirar o foco infeccioso e descalonar antibioticoterapia dependendo do resultado das culturas. → Geralmente a droga mais usada é a ceftriaxona (cefalosporina de 3ª geração). Obs: A decisão acerca de que drogas prescrever depende da análise de vários fatores, como por exemplo: (1) sítio infeccioso suspeito; (2) idade do paciente; (3) presença de comorbidades/imunodepressão; (4) fatores de risco para germes MDR; (5) história de uso recente de ATB; (6) gravidade clínica; (7) presença de dispositivos invasivos; (8) resultado do Gram; (9) dados locais sobre a prevalência de patógenos e perfil de resistência aos antimicrobianos. De um modo geral, recomenda-se que na maioria das situações o esquema forneça cobertura contra bactérias Gram-positivas e Gram- negativas. Cobertura antifúngica empírica não é oferecida de rotina para pacientes não neutropênicos. VOLUME: Deve administrar 30ml/kgde cristaloides balanceados (Ringer lactato) na primeira hora (não precisa fazer tudo na primeira hora, mas tem que iniciar e avaliar) → Já avalia também a necessidade de passar um cateter venoso central, pode ser que seja necessário somente o jelco grande, se vocês colocarem o jelco, o ideal é que passem por 2 acesso periféricos, sendo um de maior calibre, de maior vasão, jelco 16. Pega 2 acessos venosos e coloca a expansão volêmica com o ringer lactato ou soro fisiológico. E administra, assim que o laboratório colher as culturas, o esquema de antibiótico. VASOPRESSORES: Não precisa esperar toda a expansão volêmica para iniciar os vasopressores. Pode iniciar também na primeira hora, caso o paciente não responda à expansão volêmica inicial (fez 500 ml e avaliou, se continua hipotenso, pede o vasopressor) para manter a PAM > 65mmHg, e a droga de escolha é a noradrenalina. - Pacientes que não respondem à ressuscitação volêmica inicial devem receber vasopressores. A droga de escolha é a noradrenalina, podendo-se associar vasopressina nos casos refratários. Se não houver resposta à combinação de ressuscitação volêmica + vasopressores, deve-se ministrar – de forma individualizada – glicocorticoides (hidrocortisona), inotrópicos (dobutamina – p. ex.: se o ecocardiograma à beira do leito mostrar disfunção sistólica do VE) e/ou transfusões de sangue. De um modo geral, transfunde-se o paciente séptico somente quando Hb < 7 g/dl (< 10 g/dl nos cardio/pneumo/cerebropatas prévios). O objetivo é manter a Hb > 7 g/dl (~ 10 g/dl nos cardio/pneumo/ cerebropatas prévios). OBS: Fazer monitorização dos sinais vitais (SatO2 contínua e PANI 30/30 min); do nível de consciência; da diurese (instalar sonda vesical) e do lactato (além do inicial, repetir de 6/6h). → É fundamental você monitorar os sinais vitais, o nível de consciência, diurese e o lactato, é muito importante você fazer o lactato no momento 0, na chegada, e após 6 horas, porque o lactato que é lavado em 6h, ou seja, que você consegue dar uma expansão volêmica boa, colocou antibiótico, O2 para aqueles pacientes que não estão com a saturação de 95% em diante, geralmente, ele cai, sendo um preditor de sobrevivência. Se ele não cai após 6 horas já feito tudo isso, demonstra que alguma coisa está errada, você precisa infundir mais líquido, aumentar o espectro do antibiótico e ficar ligado se o paciente está fazendo choque séptico mesmo estando na UTI. - O ideal da diurese é que se tenha 1 ml/kg/h, é o mínimo que se quer chegar. QUANDO INICIAR INOTRÓPICOS NO PACIENTE COM SEPSE OU CHOQUE SÉPTICO: Quando tiver sinais de hipoperfusão, apesar de volemia e PAM adequados ou em caso de disfunção miocárdica. QUANDO FAZER CORTICOIDE: Quando o paciente persiste com choque refratário, mesmo fazendo expansão de volume e vasopressor. A indicação é hidrocortisona, 50mg de 6/6h, totalizando 200mg/dia. QUANDO FAZER TRANSFUSÃO: Quando tiver hemoglobina abaixo de 7g/L. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Obs: As hemoculturas são feitas em sítios diferentes! Hoje, o mínimo que se exige são 2 hemoculturas, faz 3 se tiver condição. FATORES DE RISCO PARA ÓBITO EM SEPSE: • De forma geral a terapia antibiótica empírica inapropriada aumenta o risco de todas as causas de mortalidade de um paciente com sepse em duas vezes, podendo chegar até 5 vezes. • Pacientes com choques sépticos são provavelmente aqueles com maior risco de mortalidade, se você entra com uma terapia inapropriada, que pode ser tanto um antibiótico errado quanto a demora de dar o antibiótico. • GRÁFICO DE MORTALIDADE: O gráfico mostra as horas para iniciar o tratamento: se você administrar o antibiótico entre 0 – 30 min você tem uma mortalidade menor que 10%, uns 7%, sobrevivendo 93% dos pacientes, mostrado pela linha em vermelho lá em cima. Se você aplica entre 30 min e menos de 1 h você já sobe a mortalidade, chegando a próximo de 20%, sobrevivendo próximo a 80%. Quanto mais demora, mais a curva de sobrevivência cai. Obs: É importante saber que não vamos ter apoio dos marcadores da sepse em 1 hora para administração do antibiótico. Dos marcadores, o que é mais precoce é a interleucina 6. Na sepse em 1 h ela já aumenta, mas em geral não fica tão disponível na emergência, e ela só atinge seu pico em 2h. Quando olha a procalcitonina (PCT), que é ótima, mas muitos convênios não pagam, só vai ter um aumento após 12 horas de sepse e pior ainda é a proteína C reativa (CRP), que é a mais comum de usar, e que só vai ficar alta após 24 h de sepse. Obs: Em muitos casos é necessário também obter o “controle” do foco infeccioso, em associação à antibioticoterapia sistêmica. Na prática, este termo significa “drenagem de pus” e/ou “retirada de material exógeno infectado”. São exemplos frequentes: drenagem de abscessos, lavagem da cavidade articular, desobstrução urinária/biliar, retirada de cateter venoso profundo infectado... Recomenda-se que as medidas para controle do foco infeccioso sejam tomadas nas primeiras 6-12h do atendimento.
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