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Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência ABDOME AGUDO A expressão abdome agudo refere-se a sinais e sintomas de dor e sensibilidade abdominal, uma manifesta- ção clínica que, em geral, requer terapia cirúrgica de emergência. A apendicite é mais comum em jovens, enquanto a doença biliar, a obstrução intestinal, a isquemia e o in- farto intestinal e a diverticulite são mais comuns em pacientes idosos. ETIOLOGIA Causas não cirurgicas: Endócrina e metabólica: uremia, crise diabética, crise addisoniana, porfiria aguda intermitente, febre hereditária do Mediterrâneo; Hematológica: crise falciforme, leucemia aguda e outras; Toxinas e drogas: envenenamento por chumbo, intoxicação por outros metais pesados, abstinência narcótica, envenenamento por viúva-negra. Causas cirurgicas: Hemorragias: trauma de órgão sólidos, vazamento ou ruptura de aneurisma arterial, gravidez ectópica rompida, divertículo gastrointestinal com sangramento, malformação arteriovenosa do TGI, ulceras in- testinais, pancreatite hemorrágica e outros; Infecção: apendicite, colecistite, abcesso hepático, abcesso diverticular e outros; Perfuração: divertículo perfurado, úlceras gastrointestinais perfurada e outros; Obstrução: volvo cecal, volvo do sigmoide, hérnia encarcerada, doneça inflamatória intestinal e outros; Isquêmia: trombose/embolia mesentérica, torção ovariana, colite isquêmica, hérnia estranguladas. ANATOMIA E FISIOLOGIA A dor abdominal é dividida em componentes viscerais e parietais. Ela tende a ser vaga e imprecisamente lo- calizada no epigástrio, região periumbilical ou hipogástrio, dependendo de sua origem do intestino embrio- nário anterior, médio e posteior. A dor na parede abdominal depende do comportamento das raízes dos nervos segmentar que inervam o peritônio e tendem a ser mais agudas e mais bem-localizadas. A dor referida é a dor percebida em um local distante da fonte do estímulo. Localizações - causas de dor referida Ombro direito: fígado, vesícula biliar, hemidiafragma direito; Ombro esquerdo: cardíaca, cauda do pâncreas, baço, hemidiafragma esquerdo; Escroto e testículo: ureter. Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência A penetração de bactérias ou irritantes químicos na cavidade peritoneal pode causar um extravasamento de líquido na cavidade peritoneal. O intestino desenvolve paralisia local ou generalizada. A superfície fibrinosa e uma redução do movi- mento intestinal provocam aderência entre o intestino e o omento ou a parede abdominal e ajudam a bloquear a inflamação. Peritonite: o peritônio responde à inflamação com maior fluxo sanguíneo, maior permeabilidade e for- mação de exsudato fibrinoso em sua superfície. A peritonite pode afetar toda a cavidade abdominal ou parte do peritônio visceral ou parietal. Em geral, é reconhecida no exame físico por sensibilidade inten- sa à palpação, com ou sem descompressão brusca positiva e retração abdominal à compressão. Peritonite primária: crianças e é mais frequentemente causada por Pneumococcus ou Streptococ- cus spp hemolítico. Adultos com cirrose e ascite podem desenvolver peritonite primária e, nesses casos, os organismos são geralmente Escherichia coli e Klebsiella spp. Peritonite secundária: mais comum, sendo secundária a uma agressão inflamatória, mais frequen- temente uma infecção Gramnegativa por um organismo entérico ou anaeróbio. Pode resultar de inflamação não infecciosa, sendo um exemplo comum a pancreatite. EXAME FÍSICO Um exame físico bem-conduzido é fundamental para o desenvolvimento de um diagnóstico diferencial acurado e do subsequente algoritmo de tratamento. Os estudos por imagem e laboratoriais podem então ser utilizados para a confirmação adicional das hipóteses suspeitas, reordenamento dos diagnósticos diferenciais propostos ou para sugerir possibilida- des incomuns ainda não consideradas. O exame físico deve sempre começar com a inspeção geral do paciente, seguida pela inspeção do próprio abdome. Inspeção geral: Pacientes com irritação peritoneal apresentam agravamento da dor com qualquer atividade que movimente ou distenda o peritônio, ficando imóveis no leito durante a avaliação e, em geral, mantêm os joelhos e os quadris flexionados para reduzir a tensão na parede anterior do abdome. Doenças que provocam a dor sem irritação peritoneal, como intestino isquêmico e cólica biliar e ureteral, fazem com que os pacientes mudem continuamente de posição no leito enquanto tentam achar uma posição que reduza seu desconforto (Fig. 47-7). Outros achados na inspeção geral: palidez, cianose e sudorese. Inspeção abdominal: Aspecto do abdome: distendido ou escafoide ou se um abaulamento localizado; Cicatrizes: correlacionar com a história cirurgica; Hérnia fascias: confirmadas pela palpação; Presença de eritema ou edema: sugestivo de celulite de parede abdominal; Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência Ausculta abdominal: Ruídos intestinais: avaliar a quantidade e qualidade, sendo que o silêncio sugere íleo, enquanto ruídos intestinais hiperativos podem ser encontrados nas enterites e na fase precoce da isquemia intestinal. A obstrução mecânica do intestino caracteriza-se por ruídos “metálicos” em tom alto, que ten- dem a ocorrer em salvas e estão associados a dor. Os sons intermitentes e tipo “eco” em geral estão presentes quando existe distensão luminar sig- nificativa. Os sopros captados no abdome refletem fluxo sanguíneo turbulento no sistema vascular. Percussão: Avalia distensão gasosa do intestino, ar livre intraabdominal, grau de ascite ou a presença de irrita- ção peritoneal. Timpanismo: é característico de alças do intestino subjacentes repletas de gás. No quadro da ob- strução intestinal ou íleo, esse timpanismo é ouvido em todos os quadrantes, exceto no superior direito, onde o fígado se localiza sob a parede abdominal. Macicez: em qualquer área que não o quadrante superior direito, considera-se que possa haver uma massa abdominal deslocando o intestino. Ascite: procurar sensação de flutuação na cavidade abdominal. Uma onda líquida ou ondulação pode ser gerada por uma compressão firme e rápida na porção lateral do abdome. A onda resul- tante deve, então, se deslocar através da cavidade abdominal. Peritonite: compressão profunda da parede abdominal seguida por descompressão abrupta. Essa prática é supliciante no quadro de irritação peritoneal e pode produzir desconforto significativo mesmo que não exista inflamação. A tapotagem firme da crista ilíaca, do flanco ou do calcanhar com uma per- na estendida mobilizará a víscera abdominal e produzirá dor característica quando existe peritoni- te. Palpação: Produz mais informação do que qualquer outro exame abdominal, revelando a gravidade e a locali- zação exata da dor abdominal, podendo confirmar sobre a presença de peritonite, bem como iden- tificar organomegalia ou qualquer massa intraabdominal anormal. Iniciar com manobras delicadas e distantes da área de dor relatada. O examinador faz pressão consistente na parede abdominal afastado do ponto de dor máxima, en- quanto pede ao paciente que inspire lenta e profundamente. No quadro de contração voluntária, os músculos abdominais se relaxarão durante a inspiração, en- quanto no involuntário os músculos permanecerão espásticos e tensos. Dor: quando focal, sugere processo de doença inicial ou bem-localizado, enquanto a dor difusa sob palpação sugere em inflamação generalizada ou de apresentação tardia. Se a dor for difusa, faz-se uma investigação cuidadosa para determinar onde a dor é mais intensa. Descompressão Brusca (DB): compressão profunda da parede abdominal seguida por descom- pressão abrupta. Essa prática é supliciante no quadro de irritação peritoneal e pode produzir des- conforto significativo mesmo que não exista inflamação. A tapotagem firme da crista ilíaca, do flan- co ou do calcanhar com uma perna estendida mobilizará a víscera abdominal e produzirá dor ca- racterística quando existe peritonite. Toque retal: precisa ser realizado em todos os pacientes com dor abdominal aguda, objetivandoidentificar a presença de massa, dor pélvica ou sangue intraluminal. Exame ginecológico: deve ser incluído em todas as mulheres, quando da avaliação da dor localiza- da abaixo do umbigo. Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência SINAIS DE EXAMES ABDOMINIAS EXAMES LABORATORIAS Hemograma completo - leucocitose em abdome agudo; Nível de hemoglobina Leucograma com diferencial Eletrólitos, ureia, níveis de creatinina - avaliação do vômito ou acúmulo de líquido no 3° espaço; Exame de urina - cistite bacteriana, pielonefrite, diabetes ou doenças parenquimatosa renal; além de ITU; Nível de gonadotrofina coriônica humana na urina - gravidez; Amilase, níveis de lipase - podem sugerir pancreatite como causa da dor abdominal, mas também po- dem se elevar em infarto do intestino gelgado ou perfuração de úlceras duodenais. Seus níveis normais não excluem pancreatite. Níveis de bilirrubina total e direta; Nível de fosfatase alcalina; Aminotransferase sérica; Níveis séricos de lactato - úteis no diagnóstico da isquemia ou infarto intestinal; Fezes para ovos e parasitas Cultura de C. difficile e ensaio de toxina - diarreias. EXAMES DE IMAGEM O aprimoramento das técnicas de imagem, em especial a TC com multidetectores, revolucionou o diag- nóstico do abdome agudo. As radiografias simples continuam desempenhando um importante papel na ob- tenção de imagem de pacientes com dor abdominal aguda. Radiografia: podem detectar pneumoperitônio, calcificações anormais (cálculos biliares, cálculos renais, Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência coprólitos apendiculares, calcificação pancreatica), obstrução gástricas distal, obstrução intestinal delga- da, obstrução ou distensão do cólon, volvo do ceco ou cólon sigmoide. Ultrassonofrafia abdominal: avalia a espessura da parede da vesícula biliar, presença de líquido em sua cercania, detecção de cálculos biliares, determina o calibre dos ductos biliares intra e extrahepáticos, detecção de anormalidades do ovários, anexos e útero ( junto com a transvaginal); Presença de quantidades anormais de gás intestinal na maioria dos pacientes com abdome agudo limita a capacidade da ultrassonografia de avaliar o pâncreas ou outros órgãos abdominais. Tomografia computadorizada: segunda modalidade de escolha para obtenção de imagem no paciente com abdome agudo, depois da radiografia simples do abdome Apendicite: as radiografias simples e mesmo os enemas baritados acrescentam pouco ao diagnóstico de apendicite; entretanto, uma TC bemexecutada usando contraste oral, retal e IV é bastante precisa para avaliação dessa doença. Lesões intestinais: a utilização de uma TC com contraste oral associada ao contraste IV está indicada. Laparoscopia Diagnóstica (LD):possui acurácia diagnóstica elevada, possuindo alta sensibilidade e a es- Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência pecificidade, capacidade de tratar laparoscopicamente várias condições que causam um abdome agu- do, e ter menor morbimortalidade, menor tempo de permanência hospitalar e menores custos hospita- lares. MONITORAÇÃO DA PRESSÃO INTRA-ABDOMINAL Uma pressão intra-abdominal elevada pode ser sintoma de um processo abdominal agudo e/ou pode ser a causa do processo. A pressão intra-abdominal anormalmente elevada reduz o fluxo sanguíneo para os órgãos abdominais e diminui o retorno venoso ao coração, aumentando a estase venosa. O aumento da pressão no abdome também pode elevar o diafragma, aumentando o pico da pressão inspiratória e dimi- nuindo a capacidade ventilatória. O risco de refluxo esofágico e consequente aspiração pulmonar também tem estado associado à hipertensão abdominal. É importante considerar a possibilidade de hipertensão abdominal em qualquer paciente que apresente rigidez e/ou significativa distensão abdominal. A pressão intra-abdominal normal está situada entre 5 a 7 mm Hg para um indivíduo, em estado de re- laxamento, que tenha um corpo mediano e esteja deitado na posição supina. Medição: através da bexiga por um transdutor de pressão conectado a um cateter de Foley. Pressões anormalmente elevadas são superiores a 11 mm Hg e são graduadas por gravidade de acor- do com a severidade de 1 a 4. Hipertensão abdominal grau 1 e 2: intervenções médicas focando manter a euvolemia, descompressão intestinal através da sonda nasogástrica e/ou laxantes e enemas, suspensão da alimentação enteral, as- piração por punção de líquido ascítico, relaxamento da parede abdominal e o uso criterioso de líquidos hipotônicos intravenosos. Hipertensão abdominal grau 3 e 4: necessitam de descompressão cirúrgica via laparotomia com curati- vo aberto do abdome, isso se a hipertensão grave e a disfunção orgânica não responderem prontamen- te ao tratamento médico agressivo. Exame Físico e Achados Laboratoriais Pressão compartimental abdominal >30 mmHg; Distensão piora após a descompressão gástrica; Guarda involuntária ou sensibilidade de rebote; Hemorragia gastrointestinal, exigindo >4 U de sangue sem estabilização; Sepse sistêmica inexplicada;Sinais de hipoperfusão (p. ex., acidose, dor desproporcional aos achados de exame, aumentando os resultados de testes de função hepática). Achados Radiográficos Dilatação maciça do intestino e dilatação progressiva da alça estacionária do intestino (alça senti- nela); Pneumoperitônio; Extravasamento de contraste do lúmen intestinal; Oclusão vascular na angiografia; Gordura encalhando, parede intestinal espessada com sepse sistêmica; Lavagem Peritoneal Diagnóstica (1.000 mL) >250 leucócitos/mL; >300.000 hemácias/mL; Nível de bilirrubina maior do que o nível plasmático (vazamento de bile); Material particulado (fezes); Nível de creatinina maior do que o nível plasmático (vazamento de urina). Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência PREPARO PARA CIRURGIA DE EMERGÊNCIA Independentemente da gravidade da doença, todos os pacientes necessitam de algum grau de preparo pré- operatório. Deve-se obter acesso IV para as eventuais correções das anormalidades eletrolíticas. Controle de bactéria: a maioria, senão a totalidade dos pacientes, terá necessidade de infusões de anti- bióticos, sendo as bactérias mais comuns os micro-organismos entéricos Gram-negativos e anaeróbios. A infusão de antibióticos deve ser iniciada, tão logo se tenha sido feito um diagnóstico presuntivo. Sonda nasogástrica: em pacientes com íleo paralítico generalizado, caracterizados por ruídos intestinais hipoativos ou ausentes, beneficiamse de uma sonda nasogástrica para reduzir a probabilidade de vômi- to e aspiração. Débito urinário: cateterização vesical com cateter de Foley para avaliação do débito urinário, uma medi- da de adequação da reposição volêmica, está indicada na maioria dos pacientes. O débito urinário pré- operatório de 0,5 mL/kg/h, juntamente com pressão arterial sistólica de pelo menos 100 mm Hg e uma frequência cardíaca de 100 batimentos/minuto ou menos, são indicativos de um volume intravas- cular adequado. Correção da hipocalemia: se for necessária uma reposição significativa de potássio, a colocação de um cateter venoso central também será necessária. A necessidade de se infundir potássio por um cateter venoso periférico é limitada pela possibilidade do desenvolvimento de flebite. Acidose pré-operatória: pode responder à reposição de líquido e à infusão IV de bicarbonato; Fazer tipágem sanguínea: é importante que se tenha sangue disponível a fim de evitar uma eventual demora da transfusão caso ocorram necessidades intra-operatórias. PACIENTES ATÍPICOS Gravidez: a laparoscopia tem tido um grande impacto no diagnóstico e no tratamento de gestantes com dor abdominal aguda, assim como o acompanhamento a curto prazo. Na maioria das vezes, os sintomas são atribuídos à gravidez subjacente, incluindo dores abdomi- nais, náuseas, vômito e anorexia. A gravidez também pode alterar as manifestações de algumas doenças e faz com que o exame físi- co seja mais difícil, devido a presença do útero aumentado na pelve. Uma cirurgia, especialmente na pelve, está associada a risco aumentadode abortos espontâneos no primeiro trimestre e risco progressivamente crescente de trabalho de parto pré-termo no se- gundos e terceiro trimestres. Apendicite: doença não obstétrica mais comum que requer cirurgia, ocorrendo em uma em cada 1.500 gestações. Seus sintomas tipicamente consistem em dor abdominal lateral direita, náuseas e anorexia. O ultrassom tem sido confiável como a primeira ferramenta de imagem em muitos cen- tros. Distúrbios do trato biliar e obstruções intestinais: segunda e a terceira doenças cirúrgicas mais co- Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência muns observadas na gravidez. A cirurgia para doença biliar ocorre entre uma a seis em 10.000 ges- tações. Sintomas de dor, náuseas e anorexia são os mesmos em pacientes não grávidas. Com pou- cas exceções, a avaliação e o tratamento durante a gravidez são semelhantes aos de todos os pa- cientes com doença biliar. O ultrassom é o exame diagnóstico preferencial. O nível de fosfatase al- calina está elevado secundariamente a um nível de estrógeno e os valores normais precisam ser corrigidos. A obtenção de imagem por captação nuclear do trato biliar impõe risco mínimo ao feto, mas, por segurança, um cateter de Foley é introduzido para que os isótopos depurados pelos rins não se coletem próximo do útero. A maioria dos cirurgiões tenta tratar a cólica biliar simples com conduta conservadora no primeiro e terceiro trimestres e planeja colecistectomia laparoscópica eletiva para o segundo trimestre e/ou o período pós-parto, para minimizar o risco fetal. Pacientes Criticamente Doentes: em geral estão instáveis para se valorizar os sintomas no mesmo nível que seus parceiros saudáveis, devido a comprometimento nutricional ou imunológico, a narcoanalgesia ou ao uso de antibiótico. Muitos desses pacientes têm sua consciência alterada ou estão entubados e não podem dar informação detalhada aos provedores da assistência. Os intensivistas precisam manter um alto grau de suspeição sobre o desenvolvimento de doença intra-abdominal e informar de imediato aos cirurgiões para maximizar o potencial de recuperação. Os cirurgiões devem então trabalhar para ex- cluir a possibilidade de doença abdominal usando todos os métodos, bem como o ultrassom à beira do leito, paracentese ou minilaparoscopia, de modo que a intervenção cirúrgica precoce possa ser apro- priadamente realizada. Pacientes Imunocomprometidos : a dor abdominal e os sinais e sintomas sistêmicos em geral relacio- nam-se com o desenvolvimento de inflamação. Esses pacientes podem não ser capazes de compor uma resposta inflamatória completa e, portanto, podem experimentar menos dor abdominal, atraso do de- senvolvimento de febre e leucocitose duvidosa ou vaga. Pacientes gravemente comprometidos normal- mente incluem transplantados que receberam terapia imunossupressora para evitar a rejeição nos últi- mos dois meses, pacientes com câncer em quimioterapia, especialmente aqueles com neutropenia, e pacientes com HIV com contagens CD4 inferiores a 200/mm3 . Esses pacientes cursam, em geral com pouca dor ou sem dor, sem febre e com sintomas constitucionais vagos, seguidos por um colapso sistê- mico incontrolável. As manifestações clínicas geralmente incluem diarreia, desidratação, dor abdominal, febre e leucocitose; entretanto, os pacientes imunocomprometidos podem não apresentar muitos des- ses achados por causa de sua incapacidade de gerar uma resposta inflamatória normal. Todos grave- mente imunocomprometidos necessitam de avaliação imediata e completa para queixas abdominais persistentes. Todos os pacientes que exigem hospitalização são submetidos a uma avaliação cirúrgica para o diagnóstico e tratamento oportuno. TC de alta resolução pode ser altamente benéfica nesses pa- cientes, mas deve ser mantido um espaço para a laparoscopia ou laparotomia para aqueles com resulta- dos de testes diagnósticos ambíguos e sintomas persistentes que continuam sem explicação. Pacientes Obesos Mórbidos: achados de peritonite patente frequentemente são tardios e nefastos, le- vando à sepse, falência de múltiplos órgãos e morte. O diagnóstico de sepse abdominal é mais refinado nessa população e só pode estar associada a sintomas como mal-estar, dor no ombro, soluços e falta de ar. Os achados dos exames complementares podem ser de difícil interpretação. Dor abdominal grave não é comum, e achados menos específicos, como taquicardia, taquipneia, derrame pleural, ou febre podem ser a primeira observação. A laparoscopia é uma ferramenta valiosa nesses pacientes. ALGORITIMOS DE ABDOME AGUDO A avaliação e o tratamento do paciente com dor abdominal aguda ainda são uma parte desafiadora da prá- tica cirúrgica. Embora avanços nas técnicas de obtenção de imagem, no uso de algoritmos e na assistência do computador tenham melhorado a precisão diagnóstica de condições que causam o abdome agudo, uma história e exame físico cuidadosos ainda são a parte mais importante da avaliação. Mesmo com essas ferra- mentas disponíveis, o cirurgião frequentemente deve tomar a decisão de realizar uma laparoscopia ou lapa- rotomia com uma boa dose de incerteza sobre os resultados esperados. Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência Beatriz Marinelli, 9° termo Urgência & Emergência BIBLIOGRAFIA Sabiston, Tratado de Cirurgia A Base Biológica da Prática Cirurgica Moderna, 19º ed.
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