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1 O diabetes do tipo 2 é um distúrbio heterogêneo e provavelmente representa um grande número de diferentes distúrbios ambientais e genético primários, causando uma deficiência relativa de insulina – uma incompatibilidade entre produção e a necessidade de insulina. O DM2 é uma doença multifatorial relacionada com fatores ambientais (estilo de vida sedentário e hábitos alimentares) e fatores genéticos. Evidências mostram uma base genética que identificaram mais de uma dúzia de loci de suscetibilidade denominados genes “diabetogênicos”. Obesidade: sobretudo aquela com distribuição abdominal predominante. Histórico familiar de diabetes Raça e etnia (negros, hispânicos, índios, etc.) Idade: maior do que 45 anos Diagnóstico prévio de intolerância à glicose Hipertensão Arterial e Síndrome Metabólica Dislipidemia (HDL-colesterol <35mg/dl e/ou triglicerídeos >250mg/dl. Histórico de diabetes melito gestacional ou macrossomia fetal Tabagismo e hábitos de vida, como sedentarismo Síndrome do Ovário Policístico O DM2 representa 90 a 95% de todos os casos de diabetes e tem se destacado como uma das doenças crônicas não transmissíveis mais relevantes na atualidade e sua prevalência vêm crescendo muito ao longo das últimas décadas em função de vários fatores como: obesidade, sedentarismo, maior taca de urbanismo, alimentação inadequada, entre outros. Em função de sua incidência e prevalência, o DM tem gerado um grande custo ao paciente e ao sistema de saúde: cerca de 12% dos gastos globais em saúde são ligados ao DM. 2 A resistência à insulina nos músculos e no fígado, associada à disfunção de células beta, forma a base da complexa e heterogênea fisiopatologia do DM2. Além disso, são descritos outros mecanismos adicionais, como as disfunções de Incretinas e a reabsorção aumentada de glicose pelos túbulos renais proximais. Papel da deficiência das células beta e da resistência à insulina O DM2 é caracterizado por secreção diminuída de insulina e resistência aumentada à insulina, especialmente nos músculos e no fígado. Para tal depende de fatores genéticos e ambientais, como sedentarismo e dieta rica em gorduras. Como consequência, ocorre aumento da liberação de glicose pelo fígado, aumento da glicose sanguínea circulante e glicotoxicidade. # Resistência à insulina: A resistência à ação da insulina se manifesta pela redução de transporte e metabolismo da glicose nos músculos esqueléticos, nos cardiomiócitos, nos adipócitos e por aumento da produção hepática de glicose. Fisiologicamente, a insulina liga-se aos seus receptores tirosinoquinase com 2 subunidades alfa e 2 beta. A subunidade beta desencadeia a fosforilação em tirosina dos IRS, e por meio de outros mensageiros, promove a translocação para membrana celular do transportador de glicose GLUT 4, principalmente nas células do músculo esquelético, cardiomiócitos e adipócitos, permitindo assim a captação e metabolismo da glicose. Assim, na resistência à insulina, não ocorre a fosforilação em tirosina, mas em serina, desencadeando diminuição de sinalização e, finalmente, redução da captação de glicose. Nos adipócitos, a resistência à ação da insulina se caracteriza por aumento da lipólise e, consequentemente, níveis elevados de ácidos graxos livres circulantes, isso vai acarretar aumento de fluxo de ácidos graxos pro músculo esquelético. Essa sobrecarga intramuscular de ácidos graxos, associada à menor densidade de receptores GLUT4, promove menor captação de glicose e menor síntese de glicogênio pelo tecido muscular esquelético. 3 Por fim, no fígado, a insulina fisiologicamente exerce a função de diminuir a gliconeogênese. Portanto, o aumento de fluxo de ácidos graxos oriundos da lipólise exagerada nos adipócitos devido à resistência insulínica estimula a síntese de glicose pelo fígado, contribuindo para a hiperglicemia plasmática. - Secreção alterada de insulina Alostase glicêmica: representação do ano que o aumento progressivo da glicemia leva às células beta e outros órgãos pelo estimulo permanente de secreção aumentada de insulina. As células β das ilhotas pancreáticas têm função de síntese e secreção de insulina. Essa função ocorre por uma alça e retroalimentação pela qual a glicemia plasmática regula a secreção de insulina por essas células, e a insulina secretada controla a glicemia plasmática, inibindo a produção hepática e renal de glicose, e, consequentemente, o estímulo à absorção de glicose nos órgãos alvos, principalmente músculo esquelético. A quantidade de insulina circulante geralmente é determinada pela sensibilidade do tecido periférico à insulina. Nos casos de resistência à insulina de forma fisiológica ou não, há necessidade de maior secreção de insulina pelas células beta para superar essa barreira imposta pela resistência. A secreção norma de insulina é pulsátil com periodicidade de 5 a 10min. A deficiência de secreção de insulina engloba a deficiência de insulina relativa, que varia com a glicemia vigente e o defeito na secreção de insulina. No paciente com DM2, a disfunção das células β inicialmente se manifesta pela perda de resposta da primeira fase de secreção de insulina, isso se mantém, parcialmente, mesmo com a melhora de glicemia plasmática, sugerindo que esses pacientes possuam um defeito intrínseco nas células β. Fatores que contribuem para perda progressiva da função das células β. Dentre os fatores envolvidos no declínio da função β temos: Glicotoxicidade (pela hiperglicemia crônica e estresse oxidativo) Lipotoxicidade (pelo aumento da circulação de ácidos graxos livres e alteração do perfil lipoproteico com aumento de colesterol ligado a LDL e redução de colesterol ligado a HDL. 4 Glicolipotoxicidade Apoptose induzida por determinados agentes terapêuticos (sulfonilureias e glicocorticoides) Apoptose induzida por leptina, citocinas inflamatórias, respostas autoimunes e depósitos amiloides nas ilhotas pancreáticas. A falência das células β é um processo progressivo que ocorre em indivíduos suscetíveis. O aumento da demanda das células beta residuais por si leva a mudanças na sua função pelo estresse oxidativo e outros mecanismos, como a consequente hiperglicemia que reduz mais a massa de célula β. A glicotoxicidade e a Lipotoxicidade são os principais mecanismos que levam a disfunção de célula β. A Lipotoxicidade é justamente devido ao fato de pacientes com DM2 possuírem níveis altos de triglicerídeos e ácidos graxos, logo esse aumento suprime a secreção de insulina pelas células β. Glicotoxicidade: Pode ser definida como danos não fisiológicos e quase sempre irreversíveis de células β causados pela exposição crônica à hiperglicemia, juntamente com redução da síntese e secreção de insulina. Hiperglicemia a longo prazo também induz a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), levando ao estresse oxidativo crônico. Esses ROS interferem na expressão do gene da insulina e na secreção desse hormônio induzido pela glicose, além de ativar vias induzidas pelo estresse. Lipotoxicidade: O diabetes está associado à dislipidemia caracterizada por aumento na circulação de ácidos graxos livres (AGL) e alterações no perfil de lipoproteínas. A glicotoxicidade e a Lipotoxicidade estão intimamente relacionadas no sentido de que a Lipotoxicidade não existe sem hiperglicemia crônica. Citocinas pró-inflamatórias e leptina: A leptina, o TNF-α, a IL-6, e um antagonista do receptor da IL-1 são uma ligação entre obesidade e DM2. A leptina nas ilhotas leva à apoptose de células β, enquanto o TNF-α e a IL-6 modulam a sobrevida das células β. Células em apoptose podem provocar a 5 mobilização de linfócitos T reativos a antígenos β celulares, culminando na destruição autoimune das células β. Papel da deficiência da função da célula alfa. A homeostase glicêmicadepende da adequada produção de insulina pelas células beta e glucagon pelas células alfa. No diabético, além do comprometimento das células β também ocorre o comprometimento das células alfa. Assim, a liberação inadequada de insulina ao estímulo glicêmico, associada à ausência de resposta de supressão fisiológica do glucagon, leva ao descontrole glicêmico. O estado de hiperglucagonemia observado nesses pacientes provavelmente é devido à falta de inibição parácrina pela insulina, embora tenha sido também postulado o aumento de massa e hiperfunção de células alfa. Assim, portadores de diabetes tendem a manter níveis elevados de glucagon em jejum e aumento paradoxal ou não supressão em reposta a ingestão de carboidratos nas refeições. Papel das Incretinas na fisiopatologia do DM2 As incretinas são o GIP e o GLP1 (peptídeo semelhante ao glucagon). O GIP é secretado pelas células K, que estão no duodeno e jejuno; o GLP1 é secretado pelas células L, que estão no íleo terminal e no cólon proximal. Em indivíduos saudáveis, ambos estimulam a secreção de insulina. O GLP1 é secretado após a ingestão de alimentos e atua no SNC, estimulando a saciedade e reduzindo o consumo de alimentos; no pâncreas, estimulando a secreção de insulina pelas células beta e reduzindo a secreção de glucagon. Em pacientes com DM2 a secreção de GLP1 é reduzida. Papel da reabsorção de glicose renal na fisiopatologia do DM2 Os rins filtram aproximadamente 162g de glicose diariamente, e essa glicose é reabsorvida através dos transportadores SGLT1 e o SGLT2, ambos no túbulo proximal renal. O SGLT2 é um transportador de alta capacidade e é responsável por 90% da reabsorção tubular de glicose. 6 A glicosúria ocorre quando esses cotransportadores ficam saturados, geralmente com glicemia plasmática acima de 180mg /dl. No DM2, o aumento da expressão de SGLT2 e, portanto, aumento da reabsorção de glicose, leva a hiperglicemia. Papel da obesidade na fisiopatologia do DM2 Na obesidade a secreção de insulina está aumentada, enquanto que a captação hepática e a eficácia periférica da insulina diminuem. A elevada secreção de insulina está relacionada ao grau de obesidade, já a redução na depuração hepática e a resistência periférica ao hormônio estão relacionadas ao tipo de obesidade (obesidade visceral). Os ácidos graxos livres aumentados na circulação, pela elevada sensibilidade lipolítica da gordura abdominal e pelo menor efeito anti-lipolítico da insulina nesse tecido, inibem a depuração hepática de insulina, levando à hiperinsulinemia e à resistência periférica, além do direcionamento desses ácidos graxos para a síntese de triglicérides pelo fígado. Pacientes com obesidade visceral e resistência à insulina com frequência apresentam um conjunto de anormalidades chamado de síndrome metabólica. A hiperglicemia nesses pacientes frequentemente é associada com hiperinsulinemia, dislipidemia e hipertensão, que juntas levam à DAC e ao AVE. O comprometimento da ação da insulina predispões a hiperglicemia, que por sua vez induz a hiperinsulinemia, se esse aumento de insulina não corrige a hiperglicemia, desenvolve-se a DM2. O nível alto de insulina também pode aumentar a retenção de sódio pelos túbulos renais, assim contribuindo para o desenvolvimento da hipertensão. A produção aumentada de VLDL no fígado causando alta de triglicerídeos também é consequência de hiperinsulinemia. Além disso, essa alta ainda pode estar relacionada com a proliferação endotelial promovendo aterosclerose. O principal valor de agrupar esses distúrbios é lembrar aos médicos que as metas terapêuticas nos pacientes não devem ser apenas corrigir a hiperglicemia, mas também a PA alta e a hiperlipidemia que resultam em maiores chances de desenvolvimento de doenças cardíacas. 7 O DM2 também se manifesta com polidipsia e poliúria, mas ao contrário do DM1, os pacientes geralmente têm mais de 40 anos e são obesos. Na maioria das vezes é assintomático ou oligossintomático, sendo diagnosticado em exames de rotina. No estado de descompensação, os pacientes com diabetes do tipo2 pode desenvolver coma hiperosmolar não cetótico. Essa síndrome é causada pela desidratação severa resultante da diurese osmótica sustentada e da perda líquida urinária devida à hiperglicemia crônica. As complicações a longo prazo do diabetes podem ser: Eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio, aterosclerose, insuficiência vascular renal e AVE, constituem os fatores mais predisponentes de mortalidade. A nefropatia diabética se manifesta, primeiramente, por surgimento de pequenas quantidades de albumina na urina podendo evoluir para HAS. O comprometimento visual se manifesta em alguns casos com cegueira total. Além disso, alguns diabéticos apresentam maior propensão para glaucoma e formação de catarata. A neuropatia diabética pode estar relacionada a uma variedade de síndromes clínicas, afetando o SNC, os nervos sensoriomotores periféricos e o sistema nervoso autônomo. Maior suscetibilidade às infecções cutâneas, assim como pela tuberculose, pneumonia e pielonefrite. Reconhecer a pré-diabetes: condição na qual os valores glicêmicos estão acima dos valores de referência, mas ainda abaixo dos valores diagnósticos de DM. Envolve uma análise clínica e laboratorial. Exames Laboratoriais 1. Glicemia: A glicemia de jejum (GJ) representa o meio mais prático de avaliar o status glicêmico. 8 Dois valores superiores ou iguais a 126mg/dl, obtidos em dias diferentes, são suficientes para estabelecer o diagnóstico de diabetes melito. Níveis entre 100 e 125 mg/dl caracterizam glicemia de jejum alterada (IFG). Nesse caso, o paciente deve ser submetido a um teste oral de tolerância a glicose. 2. Teste oral de tolerância à glicose: (TOTG) Coleta-se a amostra da glicemia de jejum, administra-se 75g de glicose anidra dissolvidos em 250 a 300ml de água. Após duas horas, obtém-se uma nova amostra para medir a glicemia. Níveis de glicemia de 2 h < 140 mg/d indicam tolerância normal à glicose, entre 140 e 199 mg/dl indicam tolerância diminuída a glicose (IGT) e ≥ 200 mg/dl indica diabetes. Importante reforçar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. Permite a avaliação da glicemia após a sobrecarga, que pode ser a única alteração detectável no início do DM, devido a perda de primeira fase da secreção de insulina. 3. Hemoglobina Glicada (HbA1c): Representa vantagem diagnóstica pois demostra os níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses, bem como sofre menor variabilidade dia a dia e independe do estado de jejum para sua determinação. Os valores normais para esse dado sugerem <5,7%. Essa hemoglobina glicada é um produto de reação não enzimática entre glicose sanguínea e o grupo aminoterminal de um resíduo de valina na cadeia β da Hb a partir de uma reação não enzimática, irreversível e de intensidade diretamente proporcional à glicemia. Assim, os valores de HbA1c refletem a média das glicemias durante os últimos 2 a 4 meses, que é o tempo de sobrevida das hemácias. Se trata de uma medida indireta da glicemia, que sofre interferência de algumas situações, como anemias, hemoglobinopatias e uremia. 4. Glicosúria: 9 Tem baixa acurácia, uma vez que só vai surgir quando a glicemia tiver >180mg/dl. 5. Pesquisa de Corpos cetônicos: A cetonúria, verificada por meio de fitas reagentes, associadas à hiperglicemia, é característica da cetoacidose diabética, uma situação potencialmente grave que requer intervenção imediata. 6. Dosagem do peptídeo C: A capacidade secretória do pâncreas pode ser analisada por meio da dosagem no plasma do peptídeo C, que é secretado na circulação porta em concentrações equimolares com a insulina, sendo ambos originados da clivagem da pró-insulina.Os pacientes com DM1 têm valores médios de PC de 0,35 ng/ml no basal e de 0,5 ng/ml após estímulo. No DM2, esses valores são de 2,1 e de 3,3 ng/ml, respectivamente. 7. Dosagem dos autoanticorpos contra a célula beta. O autoanticorpo de maior utilidade é o anti-GAD. Ele está presente em cerca de 80% dos casos de DM1 de instalação recente e ainda é detectado em fase tardia. Os outros anticorpos (ICA, IAA, IA-2 e anti-Znt8A) são encontrados em cerca de 70 a 80% dos casos, mas desaparecem depois de 2 a 3 anos de duração da doença. Envolve mudanças de estilo de vida e agente hipoglicemiantes.
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