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Geriatria Thomás R. Campos | Medicina – UFOB DEPRESSÃO EM IDOSOS Muitas vezes o transtorno depressivo no idoso é negligenciado, principalmente porque os sintomas são atípicos. Prevalência de transtorno depressivo em idosos: ▪ Na comunidade, de 4.8-14.6% → mas a maioria dos idosos não preenche todos os critérios do DSM-5, pois o documento foi realizado considerando pessoas mais jovens; ▪ A prevalência de sintomas depressivos em idosos chega a 59.3%; ▪ A prevalência de idosos hospitalizados por conta de depressão é de 22%; ▪ O transtorno depressivo maior é mais prevalente entre os mais jovens, mas os sintomas depressivos são mais prevalentes em idosos; ▪ Mulheres apresentam mais sintomas, com maior probabilidade de se tornarem incapacitadas em comparação aos homens; ▪ Homem tem maior probabilidade de suicídio (o jovem tenta mais que o idoso, mas quando o idoso tenta ele é mais bem-sucedido); ▪ Maior escolaridade e convivência com um parceiro são fatores protetores. Fisiopatologia: A depressão tem etiologia multifatorial: fatores genéticos, biológicos, epigenéticos e ambientais em proporções variáveis. A depressão de início tardio (após os 60 a 65 anos) se relaciona a: – Fatores estressores que podem desencadear e/ou manter o quadro depressivo; – Lesões vasculares cerebrais (que são fatores de risco e pior prognóstico); – Têm menor correlação familiar, maior prevalência de demência, piora no desempenho dos testes neuropsicológicos e dano auditivo neurossensorial; Acredita-se que é uma desregulação de neurotransmissores (serotonina, dopamina e noradrenalina). Essas alterações do sistema de neurotransmissores podem ocorrer como consequência de mudanças no número, assim como na sensibilidade dos neurorreceptores pré e pós-sinápticos no sistema nervoso central, sem que haja, obrigatoriamente, uma alteração na quantidade do próprio neurotransmissor. O importante é destacar que a depressão é uma disfunção orgânica! Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Pelo menos 05 sintomas, presentes durante o período de 02 semanas sendo que um deve ser, obrigatoriamente, humor deprimido (1) ou anedonia (2); 1. Humor deprimido; 2. Anedonia; 3. Perda ou ganho significativo de peso, sem estar fazendo dieta; 4. Insônia ou hipersonia; 5. Agitação ou retardo psicomotor; 6. Fadiga/perda de energia; 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva; 8. Diminuição da capacidade de pensar e se concentrar; 9. Pensamentos recorrentes de morte (ideação suicida, tentativa de suicídio, plano específico...) B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo e prejuízo funcional; C. O episódio não é atribuível a efeitos de uma substância ou outra condição médica; D. O episódio não é mais bem explicado por transtornos psiquiátricos (ex.: esquizofrenia); E. Nunca houve um episódio maníaco ou hipomaníaco (não se aplica se os episódios foram induzidos por substância ou atribuíveis aos efeitos fisiológicos de outra condição médica); Geriatria Thomás R. Campos | Medicina – UFOB Instrumentos de avaliação → não é para diagnóstico, mas para rastreio! ▪ GDS-15 (escala de depressão geriátrica), sugere depressão a partir de 05 pontos: ▪ Escala de Cornell, é indicada no paciente com demência: Geriatria Thomás R. Campos | Medicina – UFOB Fatores de risco para depressão em idosos: ▪ Leucoencefalopatia na região pré-frontal medial orbital e na cápsula interna esquerda desenvolvem depressão com mais frequência; ▪ Episódio depressivo prévio e dano cognitivo; ▪ Incapacidade; ▪ Uso de medicamentos; ▪ Luto; ▪ Suporte social enfraquecido; ▪ Eventos de saúde; Clínica: ▪ São frequentes queixas subjetivas de perda de memória ou dano cognitivo; ▪ Idosos tendem a se queixar mais de sintomas somáticos do que do humor deprimido (é muito difícil o idoso chegar dizendo que está triste); ▪ Menor história familiar, maior prevalência de demência e menor pontuação nos testes neuropsicológicos; ▪ No idoso é mais comum a depressão subsindrômica: o paciente não fecha todos os critérios para TDM, mas tem sintomas depressivos e isso está prejudicando a qualidade de vida; – ≥2 sintomas, por mais de 02 semanas, mesmo não preenchendo todos os critérios de TDM; De modo geral, a depressão de início tardio apresenta menos disforia, sensação de inutilidade ou culpa, apresentando mais transtornos do sono, fadiga, retardo psicomotor, redução do interesse pela vida, desesperança, alteração de memória e redução na concentração. Existem alguns subtipos de depressão frequentes em idosos: Depressão vascular – Redução do interesse; – Retardo psicomotor; – Prejuízo na percepção e pouca agitação ou sentimento de culpa; – Possível piora da incapacidade; – Sintomas cognitivos mais presentes são déficit de fluência verbal e anomia (impossibilidade de nomear ou recordar os nomes dos objetos); – Deve ser suspeitada quando o primeiro episódio ocorre em idade mais avançada (mais de 85 anos) e não tem relação com história de depressão na família; Síndrome depressão – disfunção executiva – Causada por uma proeminente disfunção frontoestriatal; – Importante retardo psicomotor; – Redução do interesse; – Dano nas AIVDs; – Insight limitado; – Sinais vegetativos; – Resposta pobre, lenta, e instável aos antidepressivos; – Necessita de acompanhamento cuidadoso; Depressão psicótica – Mais frequente em idosos que jovens; – Associada a alucinações ou delírios (culpa, hipocondria, persecutórios, ciúmes); – Maior risco de comportamento auto lesivo; – Alucinações auditivas e visuais podem estar presentes; Depressão melancólica – Incapacidade de reagir a estímulos positivos; – Piora do humor pela manhã; – Sentimento de culpa excessivo; – Despertar precoce; – Marcante retardo ou agitação psicomotora; – Perda de apetite ou peso; Geriatria Thomás R. Campos | Medicina – UFOB Dor crônica: ▪ A maioria absoluta dos pacientes idosos tem dor crônica, e cerca de metade dos pacientes depressivos tem dor crônica; ▪ A dor causa depressão ou a depressão causa a dor? As duas são verdadeiras; ▪ Há um menor limiar de dor nos pacientes deprimidos; Depressão também se relaciona com doenças físicas! ▪ A prevalência da depressão aumenta em doenças físicas e o diagnóstico fica mais difícil quando existe essa associação; ▪ Sintomas de uma doença clínica, como anemia, uremia, neoplasia, hipotireoidismo, entre outras, assim como o uso de alguns medicamentos podem mimetizar ou mascarar uma depressão; ▪ Existe relação com dor crônica; As principais doenças que podem se associar com depressão são: DM, Alzheimer, Parkinson, DAC, CA (gástrico, mama, linfoma, orofaringe, ginecológico, cólon, pâncreas), AVE, Esclerose Múltipla, Degeneração macular, infarto agudo do miocárdio, hipotireoidismo; ▪ Sintomas comuns: dores pelo corpo, perda de peso, perda de energia, anorexia, diminuição da libido, obstipação, cansaço... ▪ Depressão pode ser sintoma inicial de uma doença física (ex.: demências, CA de pâncreas); ▪ Sintomas somáticos da depressão podem mascarar o humor deprimido; Depressão orgânica pode ocorrer por: ▪ Drogas: Corticoide, contraceptivos orais, reserpina, metildopa, clonidina, Beta-bloqueadores, anfetamina, cocaína, álcool, sedativos, hipnóticos, cimetidina, ranitidina, indometacina, antipsicóticos, benzodiazepínicos, vincristina, vimblastina; ▪ Doenças: – Endócrinas: hipotireoidismo, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo, hipopituitarismo, doença de Addison, doença de Cushing, Diabetes mellitus; –Infecciosas: sífilis terciária, toxoplasmose, influenza, hepatite viral, mononucleose, AIDS; – Reumatológicas: artrite reumatoide, LES; – Metabólicas e nutricionais: insuficiência hepática, deficiências (folato, vitamina B12, tiamina), doença de Wilson, hipocalcemia ou hipercalcemia; – Neurológicas: esclerose múltipla, Parkinson, Huntington, TCE, tumores, doença cerebrovascular, hidrocefalia, hematoma subdural, epilepsia, demências; – Neoplasias: CA de pâncreas, CA de pulmão; Tratamento Resposta: quando há uma melhora de pelo menos 50% dos sintomas; Remissão: desaparecimento dos sintomas; Recuperação: manutenção da remissão por 06-12 meses → no idoso você não trata menos que 12 meses, é diferente no adulto que você pode tratar 06 meses; Recaída: piora dos sintomas quando houve remissão, mas sem recuperação; Recorrência: novo episódio de depressão, quando já houve recuperação; A droga de escolha deve estar baseada nos efeitos colaterais e na interação com outras substancias. Deve-se iniciar em doses baixas e aumentar aos poucos. Geriatria Thomás R. Campos | Medicina – UFOB A escolha do antidepressivos adequado envolve 03 fatores: 1. Sintomas clínicos associados à redução de cada neurotransmissor; Deficiência de cada um causa: – Serotonina: ansiedade, pânico, fobia, obsessões, bulimia; – Noradrenalina: ansiedade, fadiga, apatia, retardo psicomotor, déficit de atenção, lentidão cognitiva; – Dopamina: atenção, motivação, prazer, recompensa, sexualidade; 2. Perfil da inibição dos neurotransmissores do antidepressivo; 3. Efeitos colaterais; ANTIDEPRESSIVOS Qualquer um deles, o efeito antidepressivo inicia somente com cerca de 03 semanas de uso. ADT Age em todos os 3 neurotransmissores; Mas tem muitos efeitos colaterais, pois agem em outros receptores colinérgicos/muscarínicos também (memória, turvação visual, boca seca, obstipação, retenção urinária) e histamínicos (sonolência e ganho ponderal), além de bloqueio de canais de Na+ no coração e cérebro (arritmias, parada cardíaca, convulsões em casos de superdosagem); Os efeitos colaterais aparecem primeiro, e o efeito terapêutico só aparece depois de 03-12 semanas; O grande problema para o idoso é que para você ter um efeito antidepressivo legal, precisa de doses maiores, e o idoso não tolera isso; Indicação: idoso mais hígido, que tem migranea, enxaqueca, fibromialgia... e aí você quer um efeito neuromodulador, etc, mas ainda assim existem opções mais seguras; Se for usar, use a nortriptilina, pois tem menos efeitos colaterais em relação aos outros; ISRS São droga de escolha no idoso, principalmente a sertralina; Têm pouca ação sobre outros receptores de neutrotransmissores; e os efeitos colaterais dependem da ação sobre receptores da família 5HT (5HT1A, 5HT2A, 5HT2C, 5HT3, 5HT4); Fluoxetina → não é tão legal para idoso, pois há tendência de perder a resposta com o tempo e diminuir o apetite; Paroxetina → é o que ISRS que mais tem efeito anticolinérgico, não tanto quando o ADT, mas tem. Aumenta o apetite. É um excelente ansiolítico também; Sertralina → tem excelente ação ansiolítica e antidepressiva, e normalmente é bem tolerado. Fluoxetina, fluvoxamina e paroxetina tem mais interações medicamentosas, pois possuem via metabólica o citocromo P450; Fluoxetina, paroxetina e sertralina, cronicamente podem causar hiponatremia (SIAD); Podem apresentar resposta apática → melhora o humor, mas pode manter a lentificação cognitiva (esses sintomas são relacionados à noradrenalina, aí ou você associa com um ISRN ou troca por um dual); ISRN Além de melhorarem o humor, melhoram o funcionamento social (apatia, fadiga, lentificação); Reboxetina; Pouco usado para idoso, normalmente se usam os duais ao invés de usar só o ISRN isolado; ISRSN Duloxetina, Desvenlafaxina, venlafaxina (venla tem mais efeito antidepressivo e ansiolítco, mas é a que mais tem efeito colateral); Uma desvantagem é que precisa ficar aumentando a dose, aumentam a PA, aumentam sudorese; É indicado em pacientes com dor crônica, pois eles se beneficiam demais com esses AD duais; Geriatria Thomás R. Campos | Medicina – UFOB ISRND Bupropiona. Vantagem de não interferir no desemprenho sexual como os ISRS; Bem indicado no Parkinson, por não piorar sintomas motores. Usada também em tabagismo; Diminui o apetite, por isso não é indicada em paciente desnutrido; Não age tão bem sobre a ansiedade, por isso não tem tanto benefício no paciente depressivo que é muito ansioso; IMAO Não se usa em idosos, principalmente devido às várias interações; OUTROS ▪ Mirtazapina → muito usado no idoso; vantagem de agir em dor crônica, aumenta o apetite, dá sono; boa para fazer sinergismo com outros AD que o paciente já está usando; ▪ Trazodona → muito usada para transtorno do sono (principalmente quando o paciente tem sono fragmentado), mais que para transtorno depressivo em si; A dose antidepressiva é de 150mg, isso o idoso muitas vezes não tolera, pode fazer hipotensão ortostática, ficar muito sonolento; ▪ Agomelatina → apesar de ser um AD promissor, não tem tantos estudos em idosos; ▪ Vortioxetina → é modulador serotoninérgico, mas agem em vários outros neurotransmissores, portanto é considerado multimodal. É um excelente AD, o problema é o preço elevado. É bem tolerado em relação aos efeitos colaterais. Tem o grande diferencial de reduzir os sintomas cognitivos causados pela depressão, independente do controle da depressão; OUTROS TRATAMENTOS ▪ Eletroconvulsoterapia; ▪ Estimulação magnética transcraniana; ▪ Fototerapia; ▪ Excitação elétrica cerebral profunda; ▪ Psicoterapia;