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FIOS, NÓS CIRÚRGICOS e SUTURAS INTRODUÇÃO - Fios de sutura cirúrgica são materiais utilizados tanto durante um ato cirúrgico para a hemostasia definitiva quanto na sutura em diversos órgãos e planos anatômicos do corpo - Sempre que você tem uma afastamento do plano mais superficial (epiderme), afastamento da derme e atingindo os planos mais profundos você irá desencadear um fechamento por 2ª intenção: • Produção de tecidos de granulação • A síntese cirúrgica adequada faz com que esse processo seja minimizado e facilitado, transformando um fechamento por 2ª intenção em um fechamento por 1ª intenção - Denomina-se sutura a união das bordas de uma ferida com fios específicos, de modo a promover melhor e mais rápida cicatrização - Esses fios são utilizados para manter os tecidos unidos até se consumar o processo natural da cicatrização - Muitas vezes, na prática diária, refere-se ao tempo “sutura” como sinonímia para fio cirúrgico - Os fios utilizados para sutura e ligadura cirúrgica estão divididos em 2 grandes grupos: • Absorvíveis • Inabsorvíveis AS CARACTERÍSTICAS DE UM BOM FIO - Alta resistência à ruptura, permitindo o uso de fios de calibre menores - Pouco reativo - Facilidade de manuseio - Boa segurança do nó - Adequada resistência tênsil - Boa visualização mesmo quando molhados de sangue - Baixa reação tecidual - Não ser carcinogênico - Não favorecer início ou manutenção de infecção (ex: um fio multifilamentar favorece mais a instalação de infecções do que um fio monofilamentar) - Manutenção da integridade da sutura até a fase proliferativa da cicatrização - Baixo custo - Alta pliabilidade (dificuldade de dar nós) poderão impor dificuldade em suturas delicadas OBS: não confundir o tempo de força tênsil com o tempo de absorção. Em geral, um fio perde muito antes sua força tênsil do que é absorvido. CLASSIFICAÇÕES DOS FIOS CIRÚRGICOS _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM - Biológicos/Naturais • Oriundos de vegetais: • Algodão e linho • Oriundos de animais: • Categute (intestino de ovinos e bovinos), colágeno e seda - Sintéticos • Náilon (oriundo da poliamida) • Dacron (poliéster) • Polipropileno/Prolene (poliolefina) • Ácido poliglicólico/Dexon (polímero do ácido glicólico) • Poliglactina/Vicryl (polímeros dos ácidos glicólico e lático) • Polidioxanona/PDS (polímero da paradioxanona) - Metálicos • Aço inoxidável * Desde a Idade Antiga, os fios naturais são os mais tradicionalmente utilizados; haja vista a sua adaptação à maioria das necessidades operatórias * No entanto, o grande desenvolvimento alcançado pelos fios sintéticos, gerando reatividade tecidual substancialmente menor, tem favorecido sua maior utilização na atualidade _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ABSORÇÃO (ASSIMILAÇÃO PELO ORGANISMO): - Absorvíveis: • Com o passar do tempo, o fio é reabsorvido por fagocitose ou hidrólise (a grande maioria dos fios sintéticos são absorvidos por hidrólise; por outro lado, a grande maioria dos fios de origem animal e vegetal são absorvidos por fagocitose) • Dentre os absorvíveis, temos aqueles que são absorvidos em: • Curtíssimo espaço de tempo (7 - 10 dias): categute simples • Curto espaço de tempo (15 - 20 dias): categute cromado • Médio espaço de tempo (50 - 70 dias): dexon e vicryl • Moderado espaço de tempo (90 - 120 dias): poliglecaprona • Longo espaço de tempo (90 - 180 dias): PDS e poligliconato - Não-Absorvíveis: • Por definição, permanecem indefinidamente nos tecidos, sendo encapsulados (formação de tecido fibroso em sua volta), mas não digeridos; embora possam sofrer alterações em sua estrutura • Dentre eles, temos: • Algodão, linho, náilon, polipropileno, seda, poliéster, aço inoxidável, prata, cobre, aço, clips de Michel • Apenas de classificados como não-absorvíveis, alguns são biodegradáveis após longo período: • Náilon — sofre cerca de 20% de degradação enzimática ao ano • Seda — absorvida por fagocitose em aproximadamente 2 anos _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESTRUTURA FÍSICA: - Quando à sua estrutura ou configuração física, os fios de sutura podem ser monofilamentares ou multifilamentares - No entanto, existem alguns deles que se encontram disponíveis nas duas apresentações - Monofilamentar: • Produzidos com um único filamento, sendo, em geral, menos maleáveis do que os multifilamentares • Dentre eles, temos: • Náilon (mononáilon) • Polipropileno (prolene) • Muito utilizado na cirurgia vascular e transplantes • Muito similar ao náilon mas possui uma força tênsil e resistência maior • Muito mais caro que o náilon • Polidioxanone (PDS®) • É o fio mais novo • Possui absorção mais lenta (90 - 120 dias) • Mantém sua força tênsil por cerca de 60 dias • É o fio mais caro que se tem (~ 60/70 reais) • Muito utilizado em cirurgias abdominais (ex: laparoscopia, bariátricas) • Seda • Categute simples e cromado • Fio muito barato • Colágeno • Aço inoxidável - Multifilamentar: • Vários filamentos torcidos ou trançados entre si, levando a uma maior flexibilidade e mais fácil manuseio • Em sua fabricação, essas várias fibras podem se encontrar simplesmente trançadas e torcidas, ou podem ser recobertas por um fio único, com o objetivo de diminuir a reação tecidual • São mais traumatizantes e ásperos ao passarem através dos tecidos, levando a maior arrasto tecidual • Apresentam maior potencial para desenvolvimento de infecções • Os multifilamentares tendem a ser mais vulneráveis à força de cisalhamento e, desse modo, mais suscetíveis à ruptura (entretanto, os monofilamentares podem ser enfraquecidos pela pinça cirúrgica ou outro instrumento, exigindo manipulação mais cuidadosa) • Dentre eles, temos: • Algodão • Fio mais barato que tem • O algodão, por ser material vegetal, é extremamente reativo • Náilon (Obs = mas lembrar que o principal náilon é o monofilamentar) • Ácido poliglicólico (Dexon®) • Poliglactin revestido / Poliglactina (Vicryl®) • Aço inoxidável • Dácron • Seda _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CALIBRE (DIÂMETRO): - O diâmetro de um fio de sutura varia entre padrões predeterminados e seguidos pela indústria - Assim, partindo-se de um padrão denominado “0” (0,40mm), temos fios de maior e menor diâmetro: • Maior diâmetro = 1, 2, 3, 4, 5 e 6 (sendo o 6 o fio de maior diâmetro disponível) • Menor diâmetro = 2.0, 3.0, 4.0, e assim por diante até 12.0, que é o fio de menor diâmetro disponível) • Os fios mais utilizado vão do 2 ao 6.0 - Esses fios de menor diâmetro são utilizados em microcirurgia, em diversas especialidades; aqueles de maior diâmetro são utilizados para a síntese de tecido ósseo - O aumento do diâmetro do fio confere maior resistência e força tênsil. Não há, contudo, qualquer ganho em se utilizar um fio com força tênsil maior do que a necessária para a sutura do tecido em que esteja sendo empregado - A escolha do cirurgião deve ser pelo fio de sutura mais fino possível, sem prejuízo do resultado, de forma a utilizar a menor quantidade de corpo estranho ao organismo _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO BASEADA NA ABSORÇÃO DE FLUÍDOS E CAPILARIDADE: - Ambas as características podem influir no surgimento de complicações infecciosas - A absorção de líquido é a capacidade que um determinado fio apresenta de reter líquidos - Capilaridade constitui a forma pela qual o líquido absorvida se propaga pela extensão do fio, eventualmente propiciando o carreamento de microorganismos - Os fios multifilamentares apresentam maior efeito de capilaridade, logo,possuem maior risco de perpetuar uma infecção, como já comentado - O categute é o fio que mais capilaridade proporciona, ao passo que o poliéster, revestido por teflon ou silicone, praticamente não exibe esse efeito _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO À RESISTÊNCIA (FORÇA TÊNSIL): - Para que uma estrutura anatômica suturada possa resistir aos estímulos mecânicos habituais, a força tênsil de um fio tem que ser mantida a t é s e c o m p l e t a r o p ro c e s s o d e cicatrização - Resistência é a força gerada pelos tecidos à sua junção, ao passo que força tênsil é a força que “vence” essa resistência - Quanto maior a força tênsil de um fio, menor o diâmetro que necessita ser utilizado, resultando em menor quantidade de corpo estranho nas feridas cirúrgicas _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO A PRESENÇA DE AGULHAS: - Agulhados:grande maioria dos fios (fios sertix) - Não agulhados: são pouco utilizados; seu maior representante é o fio de algodão • Dispostos ao redor de um tubo plástico com diversos fios pré-cortados (sutupack) _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO A FORÇA E SEGURANÇA DOS NÓS: - É a força necessária para fazer com que um nó não sofra, parcial ou completamente, processo de deslizamento ou de ruptura - Também é conhecida como resistência tênsil efetiva - Quanto menor o coeficiente de fricção de um fio, maior sua possibilidade de desfazer um nó - A parte mais fraca de fio sempre é representada pelo nó, e não as extremidades que são tracionadas para executar a sutura - Os fios não-absorvíveis monofilamentares são aqueles que apresentam o menor coeficiente, exigindo-se a realização de muitos semi-nós, ocasionando maior implante de corpo estranho no organismo - O deslizamento do nó ocorre, em certo grau, em todos os nós _______________________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO QUANTO A MEMÓRIA: - É definida como a capacidade inerente de um fio para retornar à sua forma original depois de manuseado e deformado - Relaciona-se com duas outras características: • Plasticidade: • Diz respeito à sua possibilidade de expansão quando submetido à tração por estiramento • É a capacidade de manter-se sob a nova forma após tracionado • Quanto mais estirado, menor a tendência ao retorno à forma original • Elasticidade: • Capacidade de retornar à forma e comprimento originais, quando estirado • Conceito oposto à plasticidade - Assim, quanto maior a memória de um fio, maior a rigidez, mais difícil o manuseio e menor a segurança do nó (mais suscetível ao deslizamento) - O prolene e o mononáilon são os que exibem mais acentuadamente esse fenômeno. Nesses casos, devemos adicionar semi-nós até se conseguir uma segurança contra o deslizamento (ao menor 5 - 7 semi-nós) - A memória dos fios pode ser subclassificada em: • Desprezível • Baixa • Moderada • Alta • Bastante alta _______________________________________________________________________________________ MANUSEIO: - No tocante às características de manuseio, constituem fatores importantes: • Flexibilidade • Coeficiente de fricção • Arrasto tecidual • Visualização do fio no campo operatório - Flexibilidade e facilidade de manuseio: • Quanto mais flexível um fio, mais fácil o seu manuseio • A flexibilidade e facilidade de manuseio se relacionam diretamente à plasticidade, elasticidade e memória de um fio, como visto anteriormente • O manuseio mais difícil é com o aço inoxidável, que frequentemente proporciona ferimento na equipe cirúrgica e no paciente; o mais fácil é com a seda - Coeficiente de fricção: • Pertinente à facilidade com que a sutura desliza através do tecido e dos nós • Quanto maior o coeficiente de fricção de um fio, maior sua dificuldade em deslizar pelos tecidos, ocasionando maior arrasto tecidual • Por outro lado, como visto, quanto menor o coeficiente de fricção, maior o fio sofre deslizamento e maior a instabilidade dos nós • Alguns fios são revestidos por uma capa protetora com o intuito de redução do coeficiente de fricção (ex: perlon e poliéster) • Quanto maior o coeficiente de atrito mais difícil de desatar o nó cirúrgico espontaneamente mas também mais difícil é de deslizar esse fio nos tecidos • Quanto mais multifilamentar é o fio, maior o coeficiente de atrito - Arrasto tecidual: • Quanto mais rígido um fio ou quanto maior o seu coeficiente de fricção, maior o arroto tecidual que irá proporcionar, interferindo diretamente com sua capacidade para deslizamento • Consequentemente, um fio que proporciona maior arrasto tecidual poderá acarretar maior dano a esse tecido - Visualização do fio no campo operatório: • Muitas vezes os fios orientam o cirurgião • Dessa forma, fios nas cores verde, lilás, azul e preta podem ser mais facilmente visualizados do que os incolores _______________________________________________________________________________________ REAÇÃO TISSULAR: - A capacidade de gerar reação tecidual é classificada em: • Desprezível • Mínima • Muito baixa • Moderada - Atualmente essa classificação é pouco utilizada, mas é importante saber quais fios geram mais reação tissular que outros _______________________________________________________________________________________ CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DE CADA FIO CATEGUTE: - Fio biológico absorvível monofilamentar torcido - A palavra categute possivelmente provém de kitgut, um delicado instrumento musical árabe, semelhante a um pequeno violino, cujas cordas provinham de fios intestinais de animais. Posteriormente essa palavra foi alterada para forma inglesa catgut - Utilizado em rins, bexiga, vesícula - Absorvido por fagocitose - Vantagens: • Fácil manuseio • Elástico • Muito versátil • Barato - Desvantagens: • Força tênsil muito pequena • Extremamente reativo • Permeável • Faz bastante reação tecidual • Possui alta capilaridade • Predispõe infecções - Subclassificado em: • Categute simples • Força tênsil muito baixa (dura 5 - 7 dias) • Fio proteico feito de puro colágeno • Utilização: subcutâneo e ligadura de vasos • Benefícios: rápida absorção, evitando a permanência de corpos estranhos na intimidade tecidual, baixo preço e pode ser usado na maioria dos tecidos • Desvantagens: maior reação inflamatória, não deve ser usado em suturas sob tensão e tecidos que demorem para cicatrizar, muita memória, fica quebradiço se ressecado • Categute cromado • É fio categute simples só que submetido a tratamento com sal de ácido crômico • Esse banho de cromo aumenta a força tênsil do fio, no entanto, aumenta também a reação inflamatória • Força tênsil um pouco maior (dura 14 - 21 dias) • Menor velocidade de absorção • Utilização: intestino, bexiga, peritônio, ligadura de vasos maiores e profundos, suturas de tecido adiposo, sutura de mucosas, sutura de pele da região genital • Benefícios: os mesmos do categute simples • Desvantagens: as mesmas do categute simples ÁCIDO POLIGLICÓLICO (DEXON) - Fio sintético absorvível multifilamentar - Foi o primeiro fio absorvível sintético a ser lançado, em 1970, com inúmeras vantagens sobre o categute, até então o único material absorvível disponível - Absorvido por hidrólise entre 50 - 70 dias - É o fio mais utilizado para sutura de músculos, aponeuroses (justamente por possuir uma boa força tênsil) - É um dos fios mais utilizados de forma geral - Vantagens: • Força tênsil praticamente inalterada por 15 - 21 dias • Pequena capilaridade, baixa memória e segurança de nós regular • Causa menos reação tecidual que o categute (por isso é o fio de escolha em feridas infectadas) - Desvantagens: • Flexibilidade é apenas regular• Custo elevado POLIGLACTINA 910 (VICRYL) - Fio sintético absorvível multifilamentar - Composição = glicolida (90%) + lactida (10%) - Apresenta características, aplicabilidades, vantagens e desvantagens similares às do dexon - No entanto, o vicryl é mais flexível e maleável do que o dexon (por apresentar revestimento lubrificado) - A associação do ácido lático em sua composição dificulta a penetração de fluídos entre seus filamentos e possivelmente propicia a ocorrência de resistência tênsil aumentada em relação ao fio de ácido poliglicólico SEDA - Fio biológico multifilamentar trançado não absorvível - Era muito utilizada antigamente mas, com a introdução de vicryl e algodão está ficando em desuso - Utilizada em fechamento de parede, cx gastrointestinais, cx oftálmicas, cx torácicas e cx ortopédicas - Vantagens: • Boa força tênsil • Não irritante • Relativamente barato • Mantém o nó firme - Desvantagens: • Reação de corpo estranho • Infecções ALGODÃO - Fio biológico multifilamentar torcido não absorvível - Muito utilizado (principalmente em homeostasia) - Não deve ser usado na pele! - Vantagens • Macio • Fácil manipulação • Baixo custo • Forte - Desvantagens • Por ser multifilamentar, pode transpor germes por capilaridade quando em tecidos úmido NÁILON - É um fio sintético que pode ser mono ou multifilamentar (muito mais comum o mononáilon) não absorvível - É um dos fios mais utilizados - Composição: obtido a partir de diferentes monômios de poliamida - Caracteriza-se pela elasticidade e resistência à água - É biologicamente inerte - - Vantagens • Ótima tolerância tissular e resistência tênsil • Pode ser usado em basicamente todos os tipos de sutura • Possui superfície lisa, que causa pouco atrito e facilita a retirada dos pontos • Não é capilar (diminui os índices de infecção) • Não é irritante • Flexível • Forte - Desvantagens • Baixo coeficiente de fricção —> necessita de vários nós para oferecer segurança nos pontos • Pouco maleável (dificulta as manobras de sutura) • Pouca memória • Perde a resistência • Possui muita elasticidade (alta pliabilidade) —> maior chance de desfazer o nó - Utilização • Ideal para o fechamento de pele AÇO INOXIDÁVEL - Fio mono ou multifilamentar - Utilizados em cx torácias, cardíacas, ortopédicas e bucomaxilofacial - Inabsorvível - Vantagens: • Resistência • Inerte aos tecidos • Maleável • Grande força tênsil • Fácil esterilização - Desvantagens: • Manuseio muito difícil • Pouca elasticidade • Uso restrito • Nós volumosos • Opaco ao Rx ALGUNS FIOS DE ORIGEM METÁLICA - Prata = clips de neurocirurgias e cirurgias vasculares - Cobre = cirurgias bucomaxilofaciais - Aço vitálico = osteossínteses - Agrafes ou clips de Michel = aproximação de bordas de pele PADRONIZAÇÃO DAS CORES DE FIOS CIRÚRGICOS FENÔMENOS TARDIOS - Fios muito reativos predispõe a abcessos tardios (ex: fios de algodão podem fazer abcessos no paciente mesmo após 10 anos) - Principais fenômenos tardios: • Abcessos locais • Formação de cavidades (sinus): fios muito reativos quando utilizados para suturar subcutâneo apertam o tecido adiposo e fazem necrose gordurosa, essa necrose se liquefaz e no espaço que estava a necrose forma uma cavidade (só é corrigida cirurgicamente) • Eliminação espontânea de fios • Formação de granuloma de corpo estranho _______________________________________________________________________________________ AGULHAS CIRÚRGICAS - Conteúdo extra (não passado pelo professor) - As agulhas mais resistentes são fabricadas com puro aço inoxidável de alta qualidade, afiadas o bastante para penetrarem no tecido com trauma mínimo, e rígidas o suficiente para resistirem à curvatura - Contudo, também devem apresentar maleabilidade que permita o seu arqueamento antes de quebrarem - Seu diâmetro apresenta grande variação: desde 30µ (0,001 polegada) para uso em microcirurgia, a 50.000µ (0,45 polegada) para uso em sutura óssea - Suas variações incluem: • A terminação • O corpo • A ponta - Atualmente, as agulhas utilizadas nos grandes serviços cirúrgicos são de uso único, vindas de fábrica já com os fios forjados em sua terminação — sertix - Entretanto, as agulhas “nuas” — traumáticas, em que se montam os fios cirúrgicos, ainda são utilizadas em partes do nosso país, por razões de ordem econômica - As agulhas podem apresentar: • Braço único (uma única agulha no fio) • Braço duplo (duas agulhas no fio, uma em cada extremidade) — utilizadas principalmente para anastomoses vasculares Hastes ou Corpos das Agulhas - As agulhas podem ser retas ou curvas - Seu corpo (eixo) pode ser arredondado, triangular ou achatado - Dentre as curvas, existem uma grande variedade de formatos e tamanhos, mas, como regra geral, elas seguem a circunferência de um círculo e podem se constituir em: • 1/4 círculo (90º) • 3/8 círculo (135º) • 1/2 círculo (180º) • 5/8 de círculo (225º) - O corpo da agulha deve apresentar o diâmetro mais aproximada possível do fio que carreia, para não determinar dano tecidual desnecessário Pontas das Agulhas - Existe uma grande variedade de tipos de ponta para o uso nos mais diferentes tipos de tecido - Os tipos mais frequentes utilizados são: • Cilíndricas ou redondas (atraumáticas) - tubo digestório e vasos sanguíneos • Corpo cilíndrico e ponta romba - tecidos pouco resistentes, como fígado e baço • Triangulares (traumáticas) - aponeuroses e pele • Mistas (corpo cilíndrico e ponta triangular) _______________________________________________________________________________________ NÓS CIRÚRGICOS Partes dos Nós - São geralmente compostos de 3 semi-nós: • 1º: semi-nó de contenção (que aproxima e aperta) • 2º: semi-nó de fixação (que fixa o entrelaçamento do fio e impede o afrouxamento do primeiro; geralmente é invertido) • 3º: semi-nó de segurança Princípios Gerais para a Confecção do Nó Cirúrgico 1. Ao se completar, deve ser firme, minimizando a possibilidade de deslizamento 2. Deve apresentar o menor volume possível (previnir excessiva reação tecidual) 3. As extremidades dos fios devem ser cortados tão curtas quanto possível (levando-se em consideração que os fios que apresentam maior memória e deslizamento não devem ser cortados rentes aos nós, pois a extensão do deslizamento pode superar o comprimento das extremidades livres do fio, ocorrendo o desatamento do nó 4. Evitar a fricção entre as extremidades dos fios 5. Evitar a preensão de nós com instrumentos cirúrgicos (pinças e porta-agulhas) 6. Evitar tensão excessiva (a suturas visam a simples aproximação de bordas) 7. Seminós extras (mais do que necessário) somente adicionam volume ao nó, não aumentando a resistência de um nó cirúrgico Tipos de Nós - O nó cirúrgico se fundamenta na sucessão de seminós simples (meia-volta) - O seminó simples (também chamada de nó simples ou nó incompleto) constitui o primeiro tempo de um nó e é alcançado pela laçada, com o fio, de forma que uma extremidade é totalmente rodada em torna da outra, criando uma meia-volta - A partir do seminó simples, 5 tipos de nó cirúrgicos são descritos: 1. Nó Antideslizante ou “Nó Quadrado” (nó de ancorar ou nó achatado, com seminós assimétricos) • Tipo básico de nó mais utilizado nas operações • São realizados 2 seminós simples, em que as duas meias-voltas são posicionadas em direções opostas, uma sendo imagem exata (em espelho) da outra • Uma vez amarrados os fios, o nó não pode mais ser afrouxado, consistindo em um nó seguro e de maior resistência ao fenômeno de deslizamento 2. Nó Deslizante, Nó Comum ou Nó Torno (seminós simétricos) • Um seminó simples é sobreposto a outro, sem inversão da meia-volta em relação ao anterior (ambas as laçadas são realizadas na mesma direção) • Realizado com a tração de um extremidade do fio durante todo o tempo em queo nó está sendo realizado, não cruzando as extremidades dos fios ou as mãos durante as laçadas subsequentes • Fundamentalmente, o primeiro seminó é igual ao do nó quadrado, e o segundo seminó é elaborado no mesmo sentido que o primeiro • Após cada laçada, cada meia-volta é levada para baixo, no segmento tracionado, até que o nó fique apertado • Não se constitui em um nó seguro, haja vista que as duas pontas ficam em posição perpendicular às partes do fio que entram no nó • Como segurança, esse nó exige, obrigatoriamente, ao menos um 3º seminó 3. Nó Duplo ou “Nó de Cirurgião” • Consiste na realização de duas voltas primárias na primeira meia-volta (dois entrecruzamentos na formação do primeiro seminó) • Seguida por posicionamento da segunda meia-volta na direção oposta, similarmente a um nó quadrado • A volta dupla no primeiro seminó evita que o nó corra ou deslize, sendo de grande importância em casos em que há aumento de tensão na estrutura que se está ligando, permitindo que a segunda meia-volta possa ser realizada sem ter que manter o fio tracionado • Por se tratar de um nó com grande segurança é utilizado para ligadura de estruturas importantes, como grandes vasos, em que não se permite qualquer mínimo afrouxamento • Entre as desvantagens deste tipo de nó, estão o seu maior volume e a dificuldade para apertá-lo, possibilitando índice maior de quebra do fio • O uso de 2 seminós de cirurgião, visando se obter maior segurança, resulta em um grande volume de fio, sem maior vantagens, e raramente encontra indicação 4. Nó em Roseta • Especialmente utilizado para ancorar as extremidades de fios em suturas intradérmicas, servindo como apoio à linha de sutura • É frequentemente realizado com o auxilio da extremidade de uns instrumento cirúrgico (técnica mista): 1. No início da linha de sutura intradérmica; observar o nó em roseta já confeccionado em uma extremidade. Na outra extremidade, o fio é seguro pela mão esquerda do cirurgião e, como a mão dirieta, se posiciona um instrumento (porta-agulhas) sobre ele, como preparação para o início do nó 2. Realiza-se uma alça de fio com o instrumento 3. A parte fixa do fio é tracionada para dentro da alça anteriormente formada 4. Forma-se um seminó de contenção em alça; por rotações sucessivas e similares do fio, realizam-se outros seminós fixadores 5. Nó por Torção • Utilizado com fios metálicos, pela torção helicoidal de suas extremidades sob permanente tração bilateral • Os fios são torcidos cerca de 5 ou 6 vezes e, ao término, as suas extremidades são encurvadas e posicionadas na linha de torção dos seminós, minimizando a ocorrência de efeitos indesejados _______________________________________________________________________________________ TÉCNICA PARA EXECUÇÃO DOS NÓS CIRÚRGICOS - As técnicas para execução dos nós cirúrgicos podem ser dividas em: • Manuais — quando realizadas somente com a participação das mãos • Instrumentais — realizados com o auxílio de pinças ou porta-agulhas em ambas as extremidades do fio • Mistas — realizados com instrumentos e com as mãos, concomitantemente - Todos os tipos de nós cirúrgicos podem ser realizados com as 3 técnicas - Classicamente, são descritas duas “leis dos nós” (de Livingston): 1. Movimentos iguais de mãos opostas executam um nó perfeito 2. A ponta do fio que muda de lado após a execução do primeiro seminó deve voltar ao lado inicial para realizar outro seminó Técnicas Manuais - Técnica de Pauchet com o 1º, 2º e 3º quirodáctilo: • Enquanto o primeiro seminó é realizado com a mão direita, no segundo seminó se utiliza a mão esquerda (ou vice-versa) • Importante, sempre, é a observância de que o fio da mão ativa deve estar posicionado por baixo do fio que é seguro pela mão não ativa - Técnica de Pauchet com o dedo indicador: • Muito útil para a confecção do segundo seminó • O primeiro seminó é realizado com a mão direita, utilizando principalmente o dedo médio, e, depois de terminado, cruza-se o fio e executa-se o segundo seminó, com o dedo indicador da mão esquerda - Técnica de Pauchet bimanual (para dar “nó de cirurgião”) • O fio é cruzado, como no nó simples, somente diferente pelo fato de que a extremidade presa à mão direita utiliza os primeiro e segundo quirodáctilos, ao passo que a extremidade presa à mão esquerda utiliza os primeiro e terceiro quirodáctilos, deixando o indicador livre • Os movimentos da mão direita são os mesmo já demonstrados para a confecção de um seminó simples • Antes de se completar o seminu simples com a mão direita, o dedo indicador livre da mão esquerda enlaça o fio da mão direita - Técnica do Sapateiro • A técnica de Pauchet, nas suas variações, é a mais utilizada universalmente • Contudo, existe também a técnica do sapateiro, de lenta elaboração, mas com a grande vantagem de permitir a realização de seminós sem diminuição da tensão do nó, mantendo- se sempre os fios esticados em todas as fases da sua elaboração Técnicas Mistas - O nó antideslizante pela técnica mista é relativamente rápido para ser confeccionado e comumente propicia economia no uso dos fios - Neste caso, o fio que se vai utilizar para realizar a alça do primeiro seminu com o instrumento cirúrgico não necessita (e nem pode) ser cruzado - Para a confecção do segundo seminó, duas são as possibilidades: • Se a outra extremidade do fio for suficientemente longa, pode-se utilizá-la para a confecção da alça do segundo seminó • Se não for suficientemente longa, como costuma ocorrer, podemos confeccioná-lo com a mesma extremidade do fio que se realizou o primeiro seminó, tomando-se o cuidado adicional de cruzar a mão sobre o instrumento, no momento de fixá-lo - Quando passamos o instrumento duas vezes sobre o eixo do fio, realizando-se uma alça dupla, o resultado final do primeiro seminó será o obtenção de um nó de cirurgião inverso, sem cruzamento do fio - Nesse caso, a confecção do segundo nó pode seguir a mesma orientação dada para o uso da alça única _______________________________________________________________________________________ SUTURA - Sutura é a união ou aproximação de estruturas teciduais pela aposição ordenada de inúmeros nós cirúrgicos - Pode ser: • Contínua (chuleio): existe continuidade do fio entre suas alças. Nesse caos, temos somente um nó inicial e um nó final • Descontínua (simples): na sutura com pontos separados para cada alça de fio corresponde um nó, não havendo continuidade dos fios entre suas alças - Condições para uma boa sutura (Princípios de Halsted): • Assepsia e anti-sepsia • Bordos afrontados • Não existir espaço morto • Hemostasia perfeita • Material de sussurra delicado • Fios com mínima reação tecidual • Tensão de sutura adequada • Obedecer as linhas de Langer e Kraissl SUTURAS SIMPLES: - Ponto simples • Pode ser ponto simples comum ou invertido (Ponto de Halsted), quando o nó fica no interior do tecido • É o mais habitualmente empregado • Duas variantes dos pontos simples podem ser utilizadas: • Ponto simples epidérmico (abrange a epiderme e uma pequena quantidade da derme) • Ponto simples dérmico (abrange a derme e a camada superficial subcutânea) - Ponto em “U” vertical (Ponto de Donnatti) • Usado na pele • Consiste em duas transfixações: Uma perfurante, incluindo a pele e a camada superior do tecido subcutâneo, entre 7 e 10 mm da borda, e outra transepidérmica, a cerca de 2 mm da borda • Comumente, designado como ponto longe-longe, perto-perto • A passada mais profunda (longe-longe) pode ser realizada primeiramente, ou vice-versa • Muito utilizado quando os lábios da ferida tendem a se invaginar • Também promove boa hemostasia, sendo de particular interesse quando existe sangrento difuso subdérmico e dérmico - Ponto em “U” horizontal (Ponto de colchoeiro) • Semelhante ao anterior, diferindo apenas na posição horizontalda alça • Utilizado na pele, quando existe alguma tensão que impeça a perfeita coaptação das bordas • Em geral, não propicia bom resultado estético • Também pode ser utilizado em estruturas mais frágeis, como tecido muscular, apenas para aproximação tecidual, sem qualquer tensão - Ponto em “X” (Ponto em “Z” ou “8 horizontal”) • Também podem ser executados com os nós para dentro ou para fora, ficando sempre, porém, duas alças cruzadas, no interior ou fora do tecido • Em algumas situações, utilizados como pontos de transfixação para hemostasia, com ligadura em massa - Ponto helicoidal duplo • Consiste em 2 pontos simples em sequência, apoiando-se o fio em dois locais, na mesma borda, formando o desenho de uma hélice • Como se realiza dupla passada em ambas as bordas, é chamado de helicoidal duplo • Comumente empregado em tecido friáveiis, com tendência a esgarçamento ou fragmentação - Pontos recorrentes ou em polia • Existe um grande variedade desses tipos de ponto, todos epônimos em referência a quem os descreveu: Smead-Jones, Delrio, Wiley, Hans e Whipple • Consistem em pontos em massa, com formação de duas ou mais alças de fio • Geralmente, são empregados nos fechamentos mais complicados da parede abdominal - Ponto transfixante de estrutura tecidual • Trata-se de um ponto circular, ao redor de alguma estrutura, em geral vaso sangrante, com transfixação de sua parte central • Usado para hemostasia com ligadura em massa (quando não se identifica especificamente o ponto de sangramento) - Ponto de contenção ou retenção (Capitonagem) • Frequentemente utilizado na ressumara da parede abdominal (em situação de evisceração), fechamento da parede com grande distensão das alças intestinais, pacientes imunossuprimidos ou após múltiplas reoperações • Em geral, é uma sutura complementar ao fechamento tradicional, com o intuito de se evitar que ela rompa • Pode ser confeccionado como um grande ponto simples ou como se fora um grande ponto em U horizontal, aplicado verticalmente em toda a profundidade da parede • Para minimizar a forte impressão deixada que comumente deixa na pele, é frequente que seja colocado no interior de tubos plásticos, somo segmentos de equipo de soro • Acarreta mau resultado estético, mas razoável resultado funcional SUTURAS CONTÍNUAS: - São mais rápidas e hemostáticas, mas apresentam alguns inconvenientes: • Utilizam quantidade maior de fio, o que favorece reação tecidual • Se um única laçada se solta pode ocorrer a deiscência total da ferida - Chuleio simples (sutura de peleteiro) • Consiste no tipo de sutura de mais fácil e rápida execução, sendo aplicada em qualquer tecido com bordas não muito espessas e pouco separadas • Realizada pela aposição de uma sequência de pontos simples com direção oblíqua de alça interna em relação à ferida • À medida que vai se aplicando a sutura em uma ferida, deve-se ter cuidado adicional no que se refere à correta aposição do fio cirúrgico sobre o tecido • Esse fio deve ser guiado, segurando-se cuidadosamente a sua alça com os dedos um uma pinça fechada (essa pode ser a função do primeiro auxiliar), enquanto a agulha vai sendo puxada para fora e sendo preparada para nova passada - Chuleio ancorado (ou festonado) • Consiste na realização de um chuleio simples, em que o fio, depois de passado, é ancorado, sucessivamente, na alça anterior ou a cada 4 ou 5 pontos • Raramente empregado na atualidade - Em barra grega (sutura de colchoeiro ou em U horizontal) • Formada por uma série de pontos em U horizontais • Em face da potencial dificuldade em sua retirada, pelo possível aprofundamento dos dias na pele, podem ser deixadas algumas alças para extração, minimizando esse problema • Quando não se consegue perfeito confrontamento das bordas, podem ser utilizados pontos simples adicionais, entre as barras gregas - Em bolsa de tabaco • Sutura circular invaginante • Múltiplas indicações, como, por ex, sepultamento de coto apendicular e de saco herniário inguinal direto • Os pontos são passados ao redor da estrutura que se deseja invaginar e, ao se apertar o nó, auxiliar a introduz para baixo da linha de sutura, completando-se então o nó, concomitantemente à retirada da pinça - Perfurante total invaginante (sutura de Connel-Mayo) • Usado em cirurgias gastrointestinais, permitindo coaptação serosserosa • A agulha entra na serosa, vaia até a mucosa e volta à serosa, no mesmo lado • Quando a agulha não ultrapassa toda a espessura da parede do órgão, indo somente até a camada muscular da mucosa e retornando, recebe a denominação de perfurante parcial invaginante (sutura de Cushing) - Total não-invaginante (sutura de Schmieden) • Também utilizada em sutura gastrointestinal com a finalidade de se evitar a inversão da mucosa • A agulha é passada sucessivamente, da muscular até a serosa, em uma borda, e, a seguir, na borda oposta • O mesmo procedimento, só que com a ancoragem de cada ponto na alça do ponto anterior, recebe a denominação de sutura total não-invaginante ancorada (sutura de Cúneo) - Recorrente (sutura de Smead-Jones) • Consiste em uma sutura contínua em massa, com envolvimento de dois planos teciduais • Sua grande utilização se dá na síntese conjunta do plano muscular junto com a aponeurose - Intradérmica longitudinal (sutura de Chassaingnac) • Consiste numa sequencia de pontos simples longitudinais alternados, por dentro das bordas da pele, resultando em excelente coaptação das bordas, o que lhe confere excelente resultado estético
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