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Objetivo 01: Morfofisiologia do SNC 1. Anatomia da medula espinal A medula espinal é o componente “distal” do sistema nervoso, consistindo em um órgão segmentar, de onde saem e chegam raízes nervosas, as quais dão origem ao sistema nervoso periférico através dos plexos nervosos. A medula é uma massa cilindroide de tecido nervoso, situada no canal vertebral, mas não o ocupa completamente. Em mulheres, este órgão mede aproximadamente 42 cm, e em homens 45 cm. Na porção caudal, a medula se afila formando o cone medular, do qual sai o filamento terminal, que conecta a medula à parte óssea, possibilitando sua fixação. Na porção cervical, a medula apresenta uma dilatação, de onde se originam o plexo braquial e inerva os membros superiores, e há outra dilatação na região lombossacral, de onde saem as fibras que formam o plexo lombossacral, que inerva os membros inferiores. Assim, em um corte torácico da medula, é observada a menor presença de corpos neuronais, a substância cinzenta fica menor, e isso ocorre porque as regiões cervical e lombossacral precisam de mais corpo neuronal para formar os plexos cervical e lombossacral. Histologicamente, a medula se organiza em um formato de H interno, formado por substância cinzenta, que possui um canal central e 3 colunas de cada lado, anterior, posterior e lateral (apenas na coluna torácica). Cada região da medula é segmentada, sendo as raízes anteriores aferentes e as raízes anteriores eferentes. A organização em lâminas também pode ser entendida como organização em núcleos. Os núcleos do corno anterior, a parte mais medial, percorre toda a medula e inervam a musculatura axial (tronco). Os núcleos laterais inervam a musculatura apendicular, e estão presentes apenas nas regiões da intumescência cervical e lombar, que são os locais de onde se formam os plexos cervical e lombossacral. Já os núcleos do corpo posterior são a substância gelatinosa, e possuem organização bastante complexa, recebendo fibras sensitivas pela raiz dorsal. Estes núcleos estão envolvidos com a regulação da entrada de impulsos dolorosos (portão da dor). Há ainda o núcleo dorsal de Clarke, relacionado com a propriocepção inconsciente dos membros inferiores (aferentes cerebelares). A parte externa da medula é constituída por substância branca, a qual é dividida em três funículos (ou cordões): anterior, lateral e posterior, que ficam entre as colunas ventral e lateral. Na medula lombossacral e torácica há apenas um fascículo que passa pelo funículo posterior, que é o fascículo grácil. Na medula cervical, há o fascículo grácil cuneiforme, um em cada lado na região posterior. A maioria das fibras das vias descendentes se originam no córtex cerebral e outras têm origem no tronco encefálico, fazem sinapse com neurônios medulares. Algumas dessas fibras terminam nos neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo, como as vias descendentes viscerais, e outras fazem sinapse com neurônios da coluna posterior, participando de mecanismo regulatórios da própria medula, como o controle de reflexos, que ficam exagerados quando essas vias são lesionadas. Além disso, há vias descendentes que formam a conexão com os neurônios motores somáticos, permitindo a interação com o meio externo, e essas vias são divididas em dois grupos: neurônio piramidais e extrapiramidais. As vias ascendentes se relacionam direta ou indiretamente com fibras que penetram pela raiz dorsal, transmitindo impulsos aferentes de várias partes do corpo. Cada filamento radicular da raiz dorsal, ao chegar ao sulco lateral posterior, divide-se em uma parte medial e outra lateral. Os filamentos laterais são mais finos e se dirigem ao ápice da coluna posterior do H interno. Daí, elas se direcionam para o funículo lateral, levando informações de dor e temperatura. Os filamentos mediais se dirigem à face medial da coluna posterior, e muitas dessas fibras seguem para o bulbo e formam os fascículos grácil e cuneiforme. Essas fibras levam informações de propriocepção consciente e tato fino. Antes de penetrar a coluna posterior, cada uma dessas fibras se bifurcam em ramo ascendente, ramo descendente e colaterais finos, sendo que todos esses ramos terminam na coluna posterior, exceto os que seguem para os fascículos grácil e cuneiforme, pois isso permite uma regulação maior das funções da medula espinhal. Assim, a medula é responsável pelos reflexos do tronco e membros, que são respostas a estímulos mediados a nível medular porque precisam ser uma resposta bastante rápidas, para a proteção do organismo. Esses reflexos podem ser monossinápticos ou polissinápticos, segmentares ou intersegmentares, ou podem ser reflexos de alça longa, que manda informações até próximo ao tronco encefálico. Além disso, esses reflexos também envolvem circuitos que podem chegar até o córtex cerebral, mas que permitem a modulação dos reflexos espinais por mecanismos suprasegmentares. Basicamente, os reflexos são respostas motoras a estímulos sensoriais. Além disso, a medula também é responsável pelo controle autonômico, ou seja, controle do peristaltismo, respiração, controle cardiovascular, entre outras funções fisiológicas. Assim, lesões a nível de C3 a C5 podem envolver o núcleo frênico, envolvido com a regulação do diafragma, causando assim transtornos respiratórios por paralisia diafragmática, que gera limitação da expansão da caixa torácica. Lesões na medula cervical superior podem estar envolvidas com a bradicardia, hipotensão (interrupção das fibras simpáticas descendentes). A medula apresenta ainda importante função no controle das pálpebras, pupilas, glândulas sudoríparas, função vesical, função retal e função sexual (ereção e ejaculação). Resumindo, a medula é um órgão do SNC central envolvida com a motricidade, sensibilidade e funções autônomas, que envolvem os reflexos. 2. Cérebro O cérebro se divide em dois componentes principais: diencéfalo e telencéfalo. O diencéfalo é a porção evolutivamente mais rudimentar do cérebro, sendo composto por núcleos de substância cinzenta, que são o tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O telencéfalo, por sua vez, é a porção predominante do cérebro, a qual evolutivamente diferencia o ser humano de outros animais. O telencéfalo é dividido em núcleos da base, córtex cerebral e substância branca. Diencéfalo Como já mencionado, o diencéfalo é composto pelo tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo, e todas essas partes têm relação com o III ventrículo. O III ventrículo se comunica com o IV ventrículo pelo aqueduto cerebral, e com os ventrículos laterais pelos forames interventriculares correspondentes. Em uma visão do plano sagital mediano é possível observar o sulco hipotalâmico, uma depressão que se estende do aqueduto cerebral até o forame interventricular. As paredes superiores a essa depressão pertencem ao tálamo, enquanto as inferiores pertencem ao hipotálamo. A cavidade ventricular é atravessada pela aderência intertalâmica que une os dois tálamos. No assoalho do terceiro ventrículo dispõem-se de frente para trás, o quiasma óptico, o infundíbulo, o túber cinéreo e os corpos mamilares pertencentes ao hipotálamo. A parede superior desta cavidade é formada pelo epitálamo, de onde saem as estrias medulares do tálamo, nas quais se insere a tela coroide que forma o teto do III ventrículo. A parede anterior do III ventrículo é formada pela lâmina terminal, que une os dois hemisférios cerebrais. Tálamo O tálamo são duas massas volumosas de substância cinzenta, dispostas uma de cada lado na porção laterodorsal do diencéfalo. A extremidade anterior de cada um deles apresenta o tubérculo anterior do tálamo, que participa da delimitação do forame interventricular. A extremidade posterior apresenta o pulvinar do tálamo, que se projeta sobre os corpos geniculados lateral e medial. O corpo geniculadomedial faz parte da via auditiva e o lateral da via óptica. A porção lateral da face superior do tálamo faz parte do assoalho do ventrículo lateral, sendo revestido por epitélio ependimário, e a face medial do tálamo forma a maior parte das paredes laterais do III ventrículo. A face lateral do tálamo é separada do telencéfalo pela cápsula interna, que liga o córtex cerebral a centros nervosos subcorticiais. A face inferior é contínua com o hipotálamo e subtálamo. O tálamo é responsável pela coordenação das informações do corpo, por onde passam diversas vias como as vias sensoriais, cerebelares, vias associadas aos núcleos da base e vias relacionadas ao comportamento. Com isso, o tálamo possui muitas alças de comunicação com o córtex cerebral, para onde manda essas informações e também de onde recebe informações. Hipotálamo O hipotálamo fica ao redor do terceiro ventrículo, também organizado em núcleos. Essa porção cerebral é responsável principalmente pelas funções autonômicas e pela regulação da homeostase do organismo. Esta parte do diencéfalo compreende os corpos mamilares, quiasma óptico, túber cinéreo e infundíbulo. O quiasma óptico recebe fibras dos nervos ópticos e então cruzam em parte e continuam nos tratos ópticos, que vão para os corpos geniculados laterais. No túber cinéreo prende-se a hipófise, por meio do infundíbulo. Epitálamo O epitálamo fica numa região mais posterior do diencéfalo, abaixo do corpo caloso, já na transição para o mesencéfalo. Sua estrutura mais importante é a glândula pineal, também chamada de epífise, que é uma glândula endócrina que produz melatonina, e por isso as principais funções do epitálamo são controle do ciclo sono-vigília, pois a melatonina é um hormônio importante na modulação do sono nos ciclos circadianos e sazonais. Subtálamo O subtálamo consiste na zona de transição entre o diencéfalo e o tegmento do mesencéfalo, localizado abaixo do tálamo. A função desta porção é a mediação do movimento, fazendo parte dos circuitos dos núcleos da base, facilitando ou inibindo os movimentos. Com isso, lesões nessa região geram movimentos involuntários. Telencéfalo O telencéfalo compreende os dois hemisférios cerebrais, ou seja, compõe os lobos cerebrais, e a lâmina terminal. Esses dois hemisférios são unidos pelo corpo caloso, e possui os ventrículos cerebrais. Como já mencionado, o cérebro é formado por sulcos, que são depressões que delimitam os giros. Alguns desses sulcos são inconstantes e não recebem nomenclatura, enquanto outros são constantes, como aqueles que dividem os lobos, já mencionados acima. Em cada hemisfério cerebral, os dois sulcos mais importantes são o sulco lateral e o sulco central. O sulco lateral separa o lobo frontal do temporal e se divide em três ramos: ascendente, anterior e posterior. Os ramos ascendente e anterior são curtos e penetram no lobo frontal, enquanto o ramo posterior se dirige para o lobo parietal, separando o lobo temporal dos lobos frontal e parietal. O sulco central, que separa os lobos frontal e parietal, é ladeado por dois giros paralelos que são o giro pré-central e o giro pós-central. O giro pré-central está associado à motricidade, enquanto o giro pós-central está associado com a sensibilidade. Cada lobo possui sulco e giros mais importantes. O lobo frontal possui três sulcos principais, que são os sulcos pré-central, frontal superior e frontal inferior. Entre os sulcos central e pré-central está o giro pré-central, onde fica a área motora mais importante do cérebro. Acima do sulco frontal superior fica o giro frontal superior, área relacionada com a atenção e comportamento social, por exemplo. Entre os sulcos frontal superior e frontal inferior está o giro frontal médio, e logo abaixo do sulco frontal inferior está o giro frontal inferior, chamado de área de Broca, que consiste em uma das áreas de linguagem cerebral. O lobo temporal apresenta os sulcos temporal superior e temporal inferior. Entre os sulcos lateral e temporal superior está o giro temporal superior, relacionado com a audição primária. Entre os sulcos temporal superior e temporal inferior está o giro temporal médio, associado às funções visuais secundárias (reconhecimento facial). Abaixo do sulco temporal inferior fica o giro temporal inferior, que se limita com o sulco occipito-temporal e também está relacionado com funções visuais secundárias, como identificação de objetos e formas. O lobo temporal também apresenta os giros temporais transversos, sendo o giro temporal transverso anterior o mais importante, onde se localiza a área da audição. O lobo parietal apresenta os sulcos pós-central e intraparietal. Entre os sulcos central e pós-central fica o giro pós-central, onde se localiza a área somestésica, uma das áreas sensitivas mais importantes do córtex. O sulco intraparietal separa os lóbulos parietais superior e inferior, sendo que neste último estão os giros supramarginal, associado a propriocepção, sensibilidades auditiva, visual e somatosensoral e o angular, relacionados com linguagem, processamento de números, cognição espacial, resgate de memórias, atenção. Na face medial do cérebro, os lobos frontal e parietal apresentam os sulcos do corpo caloso e do cíngulo, sendo que este último separa o corpo caloso do giro do cíngulo, relacionado com evocação de memória e aprendizagem. O lobo occipital apresenta os sulcos calcarino e parietoccipital, entre os quais se situa o cúneus, que consistem em uma representação cortical das emoções. Abaixo do giro occipito-temporal medial, está o giro para- -hipocampal, já no lobo temporal, e este giro está associado às funções de memória. Por fim, a ínsula apresenta os sulcos circular e central da ínsula, e os giros curtos e giro longo da ínsula, que participam principalmente do sistema límbico, envolvido com as emoções, além do paladar. O córtex cerebral apresenta ainda os núcleos da base, também chamados de núcleos de Giornando ou gânglios da base, são um conjunto de corpos de neurônios situados em áreas subcorticais, que participam do planejamento do movimento, além de outros comportamentos motores e cognitivos. Eles são formados por núcleos com diferentes estruturas e atividades, que atuam como uma unidade funcional. Desse grupo fazem parte o corpo estriado, formado pelo núcleo caudado e putâmen, globo pálido, núcleo subtâmico e substância negra. Dessa forma, o córtex cerebral é responsável pelas funções superiores, ou seja, pelas funções cognitivas, que medeiam as interações entre o indivíduo com o meio no qual está inserido. Como vimos, a divisão dos hemisférios infere nas diferenças de funções armazenadas em cada um. O lobo parietal esquerdo está associado, por exemplo, ao planejamento de algumas funções motoras (praxia), como saber andar de bicicleta ou andar. A região perisilviana esquerda, especialmente a porção mais próxima ao lobo temporal, é envolvida com a linguagem. O sistema límbico esquerdo é mais associado à memória verbal. Já o lobo parietal no hemisfério direito está mais relacionado com a atenção espacial, o lobo temporal direito está associado ao reconhecimento de faces, a região perisilviana direita está relacionada à prosódia (entonação da voz) e por isso sua associação com a musicalidade também e o sistema límbico direito está envolvido com a memória visual, emoção, afeto e empatia. 3. Cerebelo A anatomia do cerebelo se dá em foliação e em lâminas, semelhante a um tronco de árvore com ramificações, cujas saídas, folhas cerebelares, constituem o córtex cerebelar. Ele possui conexão com o quarto ventrículo na parte anterior/inferior, com o a cisterna magna na parte inferior, com o crânio (osso occipital) na parte posterior e com a tenda do cerebelo com a parte superior. Além disso, o cerebelo é dividido em três grandes lóbulos: posterior, anterior e flóculonodular,sendo que este último só pode ser visualizado na visão anterior. Os lobos anterior e posterior são divididos por uma fissura primária, e o lobo posterior é dividido do flóculonodular por outra fissura. Cada hemisfério cerebelar é dividido por uma porção da dura-máter. A região do vermis cerebelar, que fica entre os dois hemisférios, recebe principalmente aferentes espinocerebelares, ou seja, seja, aferências da medula. Já os hemisférios possuem conexões com fibras mais complexas. A organização histológica do cerebelo é constituída pelo córtex, que é mais superficial, composto por folia, e este córtex fica em torno da substância branca profunda, além de três pares de núcleos profundos, em cada hemisfério. O córtex cerebelar é composto por três camadas: camada molecular externa, camada média das células de Purkinje e camada mais interna de células granulares. A substância branca cerebelar é formada por dois neurônios diferentes: fibras trepadeiras e fibras musgosas. As fibras trepadeiras são fibras terminais provenientes dos tratos olivocerebelares (complexo olivar bulbar), as quais fazem inúmeras sinapses com célula de Purkinje. As fibras musgosas compreendem todos os outros tratos aferentes cerebelares, sendo bem difusas e com muitos ramos, e cada uma delas pode estimular milhares de células de Purkinje (ou seja, é tecnicamente o contrário das fibras trepadeiras). Há ainda fibras em multicamadas, que incluem aferências do hipotálamo, núcleos da rafe e locus coeruleus, e essas fibras também se projetam para o córtex e para os núcleos profundos do cerebelo, apresentando algumas funções associadas ao componente cognitivo não associada com o controle motor. O cerebelo é o grande modulador da motricidade, a qual é “originada” em outros centros cerebrais (córtex motor). Vale ressaltar, no entanto, que além o cerebelo, outras regiões cerebrais também modulam a motricidade, como as áreas envolvidas com a visão. O cerebelo regula a motricidade através da regulação do tônus muscular, da postura e do equilíbrio, sendo uma de suas principais funções a excitação automática dos músculos antagonistas no final de um movimento e a inibição simultânea dos músculos agonistas que iniciaram o movimento, tornando o movimento mais refinado. Todas as informações recebidas pelo cerebelo vão diretamente para os três pares de núcleos profundos, que recebem a informação do córtex cerebelar, e com isso esses núcleos são a principal fonte de eferentes cerebelares. Todas as projeções eferentes são excitatórias, exceto projeções para a oliva inferior (bulbo), que são inibitórias. De medial para lateral, os núcleos são: núcleo fastigial, núcleo interpósito, formado por parte emboliforme (externa) e globosa (interna) e núcleo denteado. Assim, o núcleo fastigial auxilia a postura e a marcha, controla só músculos apenas nos modos de sentar, ficar de pé e andar, e lesões nesse núcleo pode causar abasia, que são distúrbios da marcha e do controle da postura. O núcleo interpósito auxilia os reflexos segmentares, promovendo estabilidade e com isso também participam do equilíbrio. Além disso, este núcleo acelera o início de movimentos desencadeados por estímulos somatossensoriais, que guiam a resposta, interrompem movimentos indesejáveis e promovem oscilações desejadas e maior controle posterior. Lesões no núcleo interpósito causam rebote, que é um descontrole na sinergia entre os músculos agonistas e antagonistas, titubeação troncular, movimentos alternados rápidos anormais, tremor de ação, oscilação das extremidades estendidas e ataxia nas manobras. Por fim, o núcleo denteado está envolvido com atividades que requerem maior destreza e planejamento motor, ou seja, atua na porção mais refinada no controle da musculatura apendicular (mãos e pés). Lesões no núcleo denteado estão associadas a atrasos no início e término dos movimentos, tremor terminal e de intenção, incoordenação temporal em movimentos que exigem múltiplas articulações e anormalidades na coordenação espacial dos movimentos da mão e dos dedos. O cerebelo se conecta ao tronco cerebral através de três pedúnculos cerebelares: pedúnculo cerebelar inferior, que o conecta ao bulbo, pedúnculo cerebelar médio, que o conecta à ponte e pedúnculo cerebelar superior, que o conecta ao mesencéfalo. O equilíbrio O controle do equilíbrio é resultado da interação de vários sistemas do organismo, sendo o cerebelo uma delas, porém o sistema vestibular e visual também estão envolvidos, além de outros componentes. Para entender o equilíbrio é importante entender a definição de controle postural, que não é um sistema ou conjunto de reflexos de equilíbrio, e sim uma habilidade motora complexa derivada de múltiplos processos sensório-motores, apresentando dois objetivos funcionais principais, que é a orientação postural e o equilíbrio. A orientação postural é um alinhamento ativo do equilíbrio do corpo e do tônus relacionado com a gravidade, superfície de apoio, ambiente visual e referências internas. Esse processo se baseia nas informações provenientes de várias fontes sensoriais convergentes de sistemas somatossensoriais (posição dos membros e tronco), vestibulares (posição da cabeça) e visuais. Já o equilíbrio é a coordenação de algumas estratégias sensório-motoras, que tem o objetivo de estabilizar o centro de massa corporal durante qualquer perturbação na estabilidade postural. Essas estratégias incluem restrições biomecânicas, processamento cognitivo, relacionado à atenção e ao aprendizado motor, controle de dinâmica, orientação no espaço, além de estratégias sensoriais e estratégias de movimento. A orientação espacial, que se refere à capacidade de orientar as partes do corpo, depende da gravidade, da superfície de suporte, da ambientação visual e de referências internas. Dessa forma, a orientação espacial é um componente crítico no controle postural. O controle dinâmico se refere ao controle durante a marcha e mudança de posição, e com isso o complexo do movimento do centro de massa corporal vai mudando, necessitando de uma estabilidade postural para frente durante a marcha. Esse controle depende do membro em balanço para compensar o deslocamento do centro de massa. A estabilidade lateral durante a marcha depende da combinação de controle de tronco lateral e posição lateral dos pés. O controle postural também depende de recursos cognitivos. Quanto mais complexa a tarefa, mais processamento cognitivo é necessário, sendo que o tempo de reação e performance caem quando a dificuldade da tarefa aumenta. Quando se está realizando múltiplas tarefas, por exemplo, o equilíbrio é diminuído. 4. Tronco Encefálico O tronco encefálico constitui a conexão do encéfalo com a face e parte do pescoço. O tronco encefálico, formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo, faz parte do sistema nervoso segmentar do SNC, assim como a medula, porém essas estruturas possuem diferenças. Uma delas é a fragmentação longitudinal e transversal da substância cinzenta no tronco encefálico, formando os núcleos dos nervos craniano, os quais correspondem a áreas de substâncias cinzenta homóloga à da medula, porém outros núcleos do tronco encefálico não têm relação com a substância cinzenta da medula, constituindo a substância cinzenta própria do tronco encefálico. Outra diferença entre a medula e o tronco encefálico é a presença de fibras e corpos de neurônios no tronco encefálico, que é a formação reticular, que preenche o espaço situado entre os núcleos e tratos mais compactos. Muitos dos comportamentos humanos complexos são respostas motoras estereotipadas programadas no tronco encefálico e não do prosencéfalo. Essas respostas são comportamentos fixos, invariantes, como reflexos, processo que ocorre, por exemplo, na alimentação em um recém-nascido. Bulbo O bulbo é a porção mais caudal do tronco encefálico. Suaorganização interna nas porções caudais, ou seja, mais próximas à medula, é muito semelhante à da medula, porém, nas secções mais altas do bulbo, aparecem as diferenças entre essas estruturas, sendo que até o nível da oliva não mais semelhanças entre esses dois órgãos do SNC. O bulbo se difere da medula devido a diversos fatores, como o aparecimento de novos núcleos próprios do bulbo, decussação das pirâmides, decussação dos lemniscos e abertura do IV ventrículo. Os núcleos bulbares não são correspondentes na medula, sendo eles os núcleos grácil, cuneiforme e núcleo olivar inferior. A decussação das pirâmides ou decussação motora, é formada por fibras do trato corticoespinhal que percorrem as pirâmides bulbares, que mudam de direção, cruzando o plano mediano para continuar como trato corticoespinhal lateral, e nesse trajeto, as fibras atravessam a substância cinzenta, separando a cabeça da base da coluna anterior. A decussação dos lemniscos ou decussação sensitiva é formada pelas fibras dos fascículos grácil e cuneiforme da medula que terminam fazendo sinapse em neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme, que aparecem no funículo posterior. Nos níveis mais baixos do bulbo, as fibras desses núcleos são chamadas de fibras arqueadas internas, que mergulham ventralmente, passando através da coluna posterior, o que contribui para fragmentá-la, e cruzando o plano mediano (decussação sensitiva), de onde infletem cranialmente para formar, de cada lado, o lemnisco medial. O lemnisco medial conduz ao tálamo os impulsos advindos dos fascículos grácil e cuneiforme da medula do lado oposto, relacionados com a propriocepção consciente, tato epicrítico e sensibilidade vibratória. Em níveis mais altos do bulbo, o número de fibras dos fascículos grácil e cuneiforme vai diminuindo, à medida que vão terminando em seus núcleos. Com isso, esses fascículos desaparecem, bem como seus núcleos, e com isso abre-se o canal central que forma o IV ventrículo, cujo assoalho é formado principalmente de substância cinzenta homóloga à medula, que são os núcleos dos nervos cranianos. A substância cinzenta do bulbo se divide em substância cinzenta homóloga à medula e substância cinzenta própria do bulbo. Na substância cinzenta homóloga à medula, estão presentes os núcleos ambíguo, hipoglosso, núcleo dorsal vago, núcleos vestibulares, núcleo do trato solitário, núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo e núcleo salivatório inferior. O núcleo ambíguo é um núcleo motor para a musculatura estriada, de onde saem as fibras aferentes viscerais especiais dos nervos IX, X e XI pares cranianos, que inervam a laringe e faringe. Este núcleo fica profundo na parte interior do bulbo. O núcleo do hipoglosso também é motor, onde se originam as fibras eferentes somáticas para a musculatura da língua. Situa-se no trígono do hipoglosso, no assoalho do IV ventrículo, e suas fibras se dirigem ventralmente, emergindo no sulco lateral anterior do bulbo, entre as pirâmides e a oliva. O núcleo dorsal do vago pertence ao parassimpático, e nele estão situados os neurônios pré-ganglionares, cujos axônios saem pelo nervo vago. Este núcleo é correspondente à coluna lateral da medula, e situa-se no trígono do vago, no assoalho do IV ventrículo. Os núcleos vestibulares são núcleos sensitivos que recebem as fibras que penetram pela porção vestibular do VIII par craniano. Eles ficam na área vestibular do assoalho do IV ventrículo, alcançando o bulbo apena os núcleos vestibulares inferior e medial. O núcleo do trato solitário também é sensitivo, recebendo fibras aferentes viscerais gerais e especiais, que entram pelo VII, IX e X pares cranianos. Antes de penetraram no núcleo, as fibras têm trajeto descendente no trato solitário. As fibras aferentes viscerais especiais deste núcleo estão associadas com a gustação. O núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo recebe fibras aferentes somáticas gerais, trazendo a sensibilidade de quase toda a cabeça pelos pares dos nervos V, VII, IX e X. porém, as fibras dos nervos VII, IX e X trazem apenas a sensibilidade geral do pavilhão e conduto auditivo externo. Este núcleo corresponde à substância gelatinosa da medula, com a qual é contínua. Por fim, o núcleo salivatório inferior origina fibras pré-ganglionares que emergem pelo nervo glossofaríngeo para inervação da glândula parótida (glândula salivar). A substância cinzenta própria do bulbo possui os núcleos grácil, cuneiforme, e núcleos olivares inferior e acessórios medial e dorsal. Os núcleos grácil e cuneiforme originam as fibras arqueadas internas, que cruzam o plano mediano para formar o lemnisco medial. O fascículo cuneiforme conduz impulsos nervosos provenientes dos membros superiores e da metade superior do tronco, relacionados a propriocepção consciente, tato epicrítico, sensibilidade vibratória e estereognosia. Já o fascículo grácil conduz impulsos nervosos provenientes dos membros inferiores e da metade inferior do tronco, relacionados a propriocepção consciente, tato epicrítico, sensibilidade vibratória e estereognosia. O núcleo olivar inferior é uma grande massa de substância cinzenta que corresponde à oliva. As conexões olivocerebelares estão envolvidas na aprendizagem motora, que permite realizar tarefas com maior velocidade e eficiência à medida que são repetidas várias vezes. Os núcleos olivares acessórios medial e dorsal têm praticamente a mesma estrutura, conexão e função do núcleo olivar inferior, formando, junto com o olivar inferior, o complexo olivar inferior. A substância branca do bulbo possui fibras transversais e longitudinais. As fibras transversais, também chamadas de arqueadas, podem ser divididas em internas e externas. As fibras arqueadas internas formam dois grupos principais diferentes, sendo algumas constituídas pelos axônios dos neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme no trajeto entre esses núcleos e o lemnisco medial, e outras constituídas pelas fibras olivocerebelares, que no complexo olivar inferior, cruzam o plano mediano, penetrando no cerebelo do lado oposto, pelo pedúnculo cerebelar inferior. As fibras arqueadas externas se originam no núcleo cuneiforme acessório, e têm trajeto próximo à superfície do bulbo, penetrando no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior. As fibras longitudinais formam as vias ascendentes, descendentes e de associação do bulbo. As vias ascendentes são constituídas pelo lemnisco medial, originado no próprio bulbo, e pelos tratos e fascículos ascendentes da medula, que terminam no bulbo ou passam por ele em direção ao tálamo o cerebelo. Essas vias são os fascículos grácil e cuneiforme, o lemnisco medial, os tratos espinotalâmicos lateral e anterior, tratos espinocerebelares anterior e posterior e pedúnculo cerebelar inferior. As principais vias descendentes são os tratos do sistema lateral da medula, tratos do sistema medial da medula, trato corticonuclear, trato espinhal do nervo trigêmeo e trato solitário. Sendo assim, os tratos do sistema lateral da medula são o corticoespinhal e o trato rubroespinhal. Trato corticoespinhal é motor voluntário, formado por fibras advindas do córtex cerebral, que passam no bulbo para chegar à medula, ocupando as pirâmides bulbares, e por isso também é chamado de trato piramidal. O trato rubroespinhal também é motor voluntário e se origina nos neurônios do núcleo rubro do mesencéfalo e chega à medula sem passar pelas pirâmides bulbares. Os tratos do sistema medial da medula são formados por fibras de várias áreas do tronco encefálico, que se dirigem para a medula. Deste grupo fazem parte os tratos corticoespinhal anterior, tetoespinhal, vestibuloespinhais e reticuloespinhais. O trato corticonuclear é composto por fibras que vêm do córtex e terminam em núcleos motores do tronco encefálico, sendo que no bulbo, essas fibras terminam nos núcleos ambíguo e dohipoglosso, participando assim, do controle voluntário dos músculos da faringe, laringe e língua. O trato espinhal do nervo trigêmeo é composto por fibras sensitivas que penetram no tronco encefálico pela ponte através do nervo trigêmeo, direcionando-se pelo trajeto descendente ao longo do núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo. Situa-se lateralmente a este núcleo e o número de suas fibras diminui à medida que chegam ao núcleo do trato espinhal, nas regiões mais caudais, onde terminam. Por fim, o trato solitário é constituído por fibras aferentes viscerais, que penetram no tronco encefálico pelos nervos VII, IX e X, tomando trajeto descendente ao longo do núcleo do trato solitário, onde terminam nas áreas mais caudais. A formação reticular do bulbo preenche todo o espaço não ocupado pelos núcleos dos tratos mais compactos. Nessa região, localiza-se o centro respiratório, que regula o ritmo respiratório, além do centro vasomotor e centro do vômito. Ponte A ponte é formada por uma parte ventral (base da ponte) e uma parte dorsal (tegmento da ponte). O tegmento da ponte possui estrutura semelhante ao bulbo e ao tegmento do mesencéfalo base possui, enquanto a base apresenta estrutura muito diferente das outras áreas do tronco encefálico. Entre essas duas partes da ponte há um conjunto de fibras mielínicas de direção transversal, chamado de corpo trapezoide. A base da ponte é uma área própria da ponte, não possuindo correspondente em outros níveis do tronco encefálico, e apresenta conexões com o neocerebelo e neocórtex. Essa porção da ponte possui fibras longitudinais, fibras transversais e núcleos pontinos. As fibras longitudinais que passam pela ponte são os tratos corticoespinhal, corticonuclear e corticopontino. O trato corticoespinhal é formado por fibras que saem das áreas motoras do córtex cerebral e se dirigem aos neurônios motores da medula. Na base da ponte, esse trato forma vários feixes dissociados. O trato corticonuclear é formado por fibras que também saem das áreas motoras do córtex e vão para os neurônios motores que ficam acima dos núcleos motores de nervos cranianos (núcleos do facial, trigêmeo e abducente). Por fim, o trato corticopontino é formado por fibras que saem de várias áreas do córtex cerebral e terminam fazendo sinapses com os neurônios dos núcleos pontinhos. Os núcleos pontinhos estão dispersos em toda a base da ponte. Os axônios dos neurônios desses núcleos constituem as fibras transversais da ponte, também chamadas de fibras pontinhas ou pontocerebelares, pois essas fibras cruzam o plano mediano e penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar médio. A parte dorsal ou tegmento da ponte, como já mencionado, tem estrutura semelhante ao tegmento do mesencéfalo, com o qual é contínuo. Essa parte da ponte possui fibras ascendentes, descendentes e transversais, substância cinzenta homóloga à medula, que são os núcleos dos pares cranianos III, V, VI, VII e VIII, além da substância cinzenta própria da ponte e formação reticular. As fibras sensitivas das partes coclear e vestibular do nervo vestibulococlear terminam, respectivamente, nos núcleos cocleares e vestibulares da ponte. Os núcleos cocleares são dois, o dorsal e o ventral, nos quais terminam as fibras que formam a parte coclear do nervo vestibulococlear e são os prolongamentos centrais dos neurônios sensitivos do gânglio espiral situado na cóclea. A maioria das fibras dos núcleos cocleares cruza para o lado oposto, formando o corpo trapezoide, e então essas fibras contornam o núcleo olivar superior e infletem-se cranialmente compondo o lemnisco medial, terminando no colículo inferior, de onde os impulsos seguem para o corpo geniculado medial. Na formação reticular da ponte fica o locus coeruleus, que possui neurônios ricos em noradrenalina, e os núcleos da rafe, que possuem neurônios ricos em serotonina. Esses núcleos estão envolvidos com a modulação da atividade do córtex cerebral. Mesencéfalo O mesencéfalo é composto por uma parte dorsal, que é o teto do mesencéfalo, e outra ventral, que são os pedúnculos cerebrais, os quais são separados pelo aqueduto cerebral. Este aqueduto é circundado pela substância cinzenta central, também chamada de periaquedutal, importante na regulação da dor. Cada pedúnculo é dividido por uma parte ventral, que é a base do pedúnculo, formada por fibras longitudinais, e uma parte dorsal, que o tegmento do mesencéfalo, que tem estrutura similar ao tegmento da ponte. Entre o tegmento e a base do mesencéfalo há a substância negra, que é uma lâmina de substância cinzenta pigmentada. O teto do mesencéfalo é muito importante por ser relacionado com a integração de várias funções sensoriais e motoras. Ele é formado por quatro eminências: os colículos superiores, relacionados com a via visual, os colículos inferiores, relacionados com a via auditiva, e a área pré-tetal, também chamada de núcleo pré-tetal, relacionada com o controle dos reflexos das pupilas. A base do pedúnculo cerebral é formada por fibras descendentes dos tratos corticoespinhal, corticonuclear e corticopontino. Lesões nesse compacto causam paralisias que se manifestam do lado oposto da lesão. O tegmento do mesencéfalo é uma continuação do tegmento da ponte, assim, ele apresenta a formação reticular e as substâncias cinzenta homóloga à da medula e própria do mesencéfalo e substância branca. A substância cinzenta homóloga à da medula é formada pelos núcleos dos pares cranianos III, IV e V, sendo que deste último há apenas o núcleo do trato mesencefálico, que continua da ponte e recebe as informações proprioceptivas que entram pelo nervo trigêmeo. O núcleo do nervo troclear possui fibras que contornam a substância cinzenta central, cruzam para o lado oposto e emergem do véu medular superior. Este nervo apresenta duas peculiaridades: suas fibras são as únicas que saem da face dorsal do encéfalo e é o único cujas fibras decussam antes de emergir do SNC. Lembrando que o nervo troclear inerva o músculo oblíquo superior. O núcleo do nervo oculomotor está intimamente relacionado com o fascículo longitudinal medial, sendo formado por várias partes, e por isso é chamado de complexo oculomotor. O complexo oculomotor pode ser funcionalmente dividido em uma parte somática e outra visceral. A parte somática possui os neurônios motores responsáveis pela inervação dos músculos reto superior, reto inferior, reto medial e levantador da pálpebra. As fibras que compõe esta parte formam o nervo oculomotor. A parte visceral é o núcleo de Edinger- -Westphal, que contém os neurônios pré- ganglionares, cujas fibras fazem conexão com no gânglio ciliar e estão relacionadas com a inervação dos músculos ciliar e esfíncter da pupila. Essas fibras fazem parte do sistema parassimpático e são importantes para o controle reflexo do diâmetro da pupila em resposta a diferentes intensidades de luz. A substância cinzenta própria do mesencéfalo possui dois principais núcleos, que são o núcleo rubro e a substância negra, ambos relacionados com a atividade motora somática. O núcleo rubro, ou núcleo vermelho, recebe em suas extremidades caudais fibras do pedúnculo cerebelar superior que o envolve, e a maioria delas termina no tálamo. Este núcleo participa do controle da motricidade somática, recebendo fibras do cerebelo e das áreas motoras do córtex cerebral, e dá origem ao trato rubroespinhal, que termina nos neurônios motores da medula e são responsáveis pela motricidade voluntária da musculatura distal dos membros. O núcleo rubro se liga ao complexo olivar inferior pelas fibras rubro-olivares, que integram o circuito rubro-olivo-cerebelar, importante na aprendizagem motora. A substância negra é um núcleo compacto formado por neurônios que apresentam a peculiaridade de conter inclusões de melanina (o que lhe confere coloração escura nas preparações histológicase por isso essa nomenclatura). A maioria dos neurônios da substância negra utilizam a dopamina como neurotransmissor, ou seja, são neurônios dopaminérgicos. As conexões mais importantes deste núcleo são com o corpo estriado, e elas ocorrem por dois sentidos, através das fibras nigro-estriatais (dopaminérgicas) e estriato-nigrais. Diminuições dos neurônios dopaminérgicos da substância negra causam diminuição de dopamina no corpo estriado, provocando as alterações motoras características da doença de Parkinson. A substância branca do mesencéfalo, assim como na ponte, possui uma maioria de feixes que não passam pelo tegmento, mas pela base do pedúnculo cerebral. Já as fibras ascendentes percorrem o tegmento e representam a continuação dos segmentos que sobem a ponte: os quatro lemniscos e o pedúnculo cerebelar superior, que ao nível do colículo inferior, cruza para o lado oposto na decussação do pedúnculo cerebelar superior e sobe envolvendo o núcleo rubro. Em resumo, atravessam o mesencéfalo todas as vias ascendentes que vão ao diencéfalo e cinco tratos descendentes relacionados com a motricidade. As lesões dessas vias geram perda de sensibilidade ou paralisias associadas a lesões do nervo oculomotor. Além disso, processos patológicos que comprimem o mesencéfalo, como tumores nessa região, lesam a formação reticular e podem levar ao coma (perda da consciência). 5. Vascularização do encéfalo O sistema nervoso é formado de estruturas nobres e altamente especializadas, que exigem para o seu metabolismo um suprimento permanente e elevado de glicose e oxigênio. O consumo de oxigênio e glicose pelo encéfalo é muito elevado, o que requer um fluxo sanguíneo muito intenso. Quedas na concentração de glicose e oxigênio no sangue circulante ou, por outro lado, a suspensão do fluxo sanguíneo ao encéfalo não são toleradas por um período muito curto. A parada da circulação cerebral por mais de sete segundos leva o indivíduo a perda da consciência. Após cerca de cinco minutos começam aparecer lesões que são irreversíveis, pois, como se sabe, as células nervosas não se regeneram. O fluxo sanguíneo cerebral é muito elevado, sendo superado apenas pelo do rim e do coração. Calcula-se que em um minuto circula pelo encéfalo uma quantidade de sangue aproximadamente igual ao seu próprio peso. Vascularização Arterial do Encéfalo Polígono de Willis: O encéfalo é vascularizado através de dois sistemas: Vértebro-basilar (artérias vertebrais) e Carotídeo (artérias carótidas internas). Estas são artérias especializadas pela irrigação do encéfalo. Na base do crânio estas artérias formam um polígono anastomótico, o Polígono de Willis, de onde saem as principais artérias para vascularização cerebral. As artérias vertebrais se anastomosam originado a artéria basilar, alojada na goteira basilar. Ela se divide em duas artérias cerebrais posteriores que irrigam a parte posterior da face inferior de cada um dos hemisférios cerebrais. As artérias carótidas internas originam, em cada lado, uma artéria cerebral média e uma artéria cerebral anterior. As artérias cerebrais anteriores se comunicam através de um ramo entre elas que é a artéria comunicante anterior. As artérias cerebrais posteriores se comunicam com as arteriais carótidas internas através das artérias comunicantes posteriores. Artéria Carótida Interna (Sistema Carotídeo) Ramo de bifurcação da carótida comum, a carótida interna, após um trajeto mais ou menos longo pelo pescoço, penetra na cavidade craniana pelo canal carotídeo do osso temporal. A seguir, perfura a dura-máter e a aracnóide e, no início do sulco lateral, dividi-se em dois ramos terminais: as artérias cerebrais média e anterior. A artéria carótida interna, quando bloqueada pode levar a morte cerebral irreversível. Um entupimento da artéria carótida é uma ocorrência séria, e, infelizmente, comum. Clinicamente, as artérias carótidas internas e seus ramos são freqüentemente referidos como a circulação anterior do encéfalo. Artéria Vertebral e Basilar (Sistema Vértebro-basilar) As artérias vertebrais seguem em sentido superior, em direção ao encéfalo, a partir das artérias subclávias próximas à parte posterior do pescoço. Passam através dos forames transversos das primeiras seis vértebras cervicais, perfuram a membrana atlanto-occipital, a dura-máter e a aracnoide, penetrando no crânio pelo forame magno. Percorrem a seguir a face ventral do bulbo e, aproximadamente ao nível do sulco bulbo-pontino, fundem-se para constituir um tronco único, a artéria basilar. As artérias vertebrais originam ainda as artérias espinhais e cerebelares inferiores posteriores. A artéria basilar percorre o sulco basilar da ponte e termina anteriormente, bifurcando-se para formar as artérias cerebrais posteriores direita e esquerda. A artéria basilar dá origem, além das cerebrais posteriores, às seguintes artérias: cerebelar superior, cerebelar inferior anterior e artéria do labirinto, suprindo assim áreas do encéfalo ao redor do tronco encefálico e cerebelo. O sistema vértebro-basilar e seus ramos são freqüentemente referidos clinicamente como a circulação posterior do encéfalo. Vascularização Venosa do Encéfalo As veias do encéfalo, de um modo geral, não acompanham as artérias, sendo maiores e mais calibrosas do que elas. Drenam para os seios da dura-máter, de onde o sangue converge para as veias jugulares internas, que recebem praticamente todo o sangue venoso encefálico. As veias jugulares externa e interna são as duas principais veias que drenam o sangue da cabeça e do pescoço. As veias jugulares externas são mais superficiais e drenam, para as veias subclávias, o sangue da região posterior do pescoço e da cabeça. As veias jugulares internas profundas drenam a porção anterior da cabeça, face e pescoço. Elas são responsáveis pela drenagem de maior parte do sangue dos vários seios venosos do crânio. As veias jugulares internas de cada lado do pescoço juntam-se com as veias subclávias para formar as veias braquiocefálicas, que transportam o sangue para a veia cava superior. As veias do cérebro dispõem-se em dois sistemas: sistema venoso superficial e sistema venoso profundo. Embora anatomicamente distintos, os dois sistemas são unidos por numerosas anastomoses. Sistema Venoso Superficial – Drenam o córtex e a substância branca subjacente. Formado por veias cerebrais superficiais (superiores e inferiores) que desembocam nos seios da dura-máter. Sistema Venoso Profundo – Drenam o sangue de regiões situadas mais profundamente no cérebro, tais como: corpo estriado, cápsula interna, diencéfalo e grande parte do centro branco medular do cérebro. A veia mais importante deste sistema é a veia cerebral magna ou veia de Galeno, para a qual converge todo o sangue do sistema venoso profundo do cérebro. Objetivo 02: Fatores de risco e fisiopatologia do AVE 1. Definição Acidente vascular encefálico é definido por uma lesão encefálica secundária a um mecanismo vascular e não traumático, caracterizado pela instalação súbita de um déficit neurológico, geralmente focal, de rápida evolução, com duração maior que 24 horas (ou menor, quando leva o paciente à morte). 2. Fatores de risco A detecção e a correção dos fatores de risco para o AVC é um item de extrema importância no manejo dessa doença. O AVC é normalmente previsível e passível de prevenção. O controle dos fatores de risco reduz significativamente a incidência dessa doença, sendo, assim, de conhecimento e pesquisa obrigatórios. Publicações recentes, como o guia da AHA/ASA (American Heart Association/American Stroke Association), têm endereçado a prevenção do AVC a mulheres, nas quais os fatores de risco são distintos, sendo alguns deles específicos para esse sexo. Como um dos resultados desse guia, as sociedades orientam a necessidade de se ter um escore de risco de AVC específicopara mulheres. Os principais fatores de risco são os ligados a aterotrombose, fontes embolígenas, inflamações arteriais e hemorragias. Podemos listar como: • Hipertensão arterial (HA): sem dúvida, o principal fator de risco. Aproximadamente 70% dos AVCs estão relacionados com a hipertensão arterial. O seu controle rigoroso reduz sensivelmente as taxas de AVC • Cardiopatias, principalmente a fibrilação atrial, importante fonte embolígena, e as válvulas substituídas. A fibrilação atrial paroxística está fortemente envolvida com o AVC criptogênico e com o ataque isquêmico transitório. Outras cardiopatias, tanto pelo potencial de embolização como por provocarem hipofluxo, também podem ser causa de AVC • Diabetes, sendo mais importante em mulheres • Tabagismo • Dislipidemias, tanto as relacionadas com o excesso de colesterol e/ou frações quanto as por excesso de ácidos graxos livres • Discrasias sanguíneas, anemia falciforme • Alcoolismo excessivo • Hiperhomocisteinemia • Alteração de proteínas C, S e aPC, resistência e síndrome do anticorpo antifosfolipídico • Hipovitaminose D e, mais especificamente, diminuição do hormônio paratireoidiano, parecem ser fatores de risco para AVC, embora seja algo ainda em avaliação • Obesidade • Síndrome metabólica • Tireoidite autoimune/hipotireoidismo • Uso de drogas ilícitas • Sedentarismo • Gravidez (incluindo préeclâmpsia) e puerpério • Migrânea com aura • Demências e outras causas de alterações cognitivas • Insônia e outros distúrbios do sono •Iatrogenias medicamentosas (p. ex., uso incorreto de anticoagulantes, contraceptivos hormonais, terapia de reposição hormonal, anorexígenos) ou procedimentos e intervenções nas artérias. 3. Fisiopatologia 3.1. Isquemia cerebral O fluxo sanguíneo cerebral (FSC) normal, para a adequada função tecidual, é em torno de 50 a 100 mℓ/min/100 g de cérebro. Taxas de 22 a 50 mℓ/100 g/min provocam oliguemia. Índices de10 a 22 mℓ/100 g/min caracterizam uma área de penumbra e níveis inferiores a 10 mℓ/100 g/min levam a infarto e morte celular. A área de penumbra é uma região de particular interesse no campo dos AVC, pois é uma região com hipofluxo, em que as funções cerebrais estão deficitárias, há o correspondente aparecimento de sintomas clínicos, porém o pequeno fluxo ainda é suficiente para manter as células vivas e passíveis de recuperação. O grande desafio no tratamento desses doentes é reverter essa zona de penumbra, pois assim seria possível a recuperação dos neurônios e haveria, consequentemente, menos sequelas. O quadro todo é progressivo, com tendência de evolução para infarto em poucas horas depois do seu início. Na instalação da isquemia cerebral, vários fatores interagem contiguamente, de modo distinto, em tempos diferentes, porém interrelacionados. Os principais fatores são excitotoxicidade, processos inflamatórios, processos imunológicos e apoptose. As manifestações da isquemia se fazem por sequências bioquímicas que conduzem à destruição do parênquima cerebral. Nos neurônios, o quadro se inicia devido a falha nas bombas de sódio e potássio, por comprometimento do metabolismo energético consequente à queda do trifosfato de adenosina (ATP) na isquemia, o que induz a despolarização das membranas. Nessa situação, há liberação de aminoácidos excitatórios, principalmente o glutamato e o aspartato, que agirão em receptores específicos, como o NMDA (NmetilDaspartato), abrindo portões de cálcio na parede celular. Haverá um aumento intracelular de cálcio iônico, aproximadamente o dobro do seu valor inicial, concentração que é capaz de iniciar uma série de reações em cadeia que podem levar à morte dos neurônios. O cálcio em excesso no espaço intracelular ativa uma série de enzimas, como sintase do óxido nítrico, lipases, proteases, endonucleases, proteinoquinase C, proteinofosfatases, e condiciona a expressão de vários genes de ação imediata. Essas enzimas são responsáveis por uma série de reações, chamadas de “cascata isquêmica”, que têm como denominador final comum a fosfolipase das membranas neuronais, com consequente quebra da sua estrutura fosfolipídica, sua destruição, exposição das organelas e morte celular. A morte neuronal na zona de penumbra isquêmica também é, em parte, consequência do processo apoptótico. Essa sequência, apresentada de modo bastante simplificado e resumido, é classicamente chamada de excitotoxicidade, pois tem a função inicial e fisiológica de estimular a célula em sofrimento, mas, como ocorre de modo intenso, desordenado e progressivo, leva à toxicidade e à morte da célula. Estudos demonstram que não ocorre neurogênese nem rearranjos do DNA neuronal e, portanto, a integridade do DNA é essencial para a sobrevida celular. A inflamação é um importante componente da fisiopatologia do AVC, especialmente no contexto da reperfusão. Obviamente, a restauração do fluxo sanguíneo cerebral é o alvo principal quando se inicia o tratamento da fase aguda do AVC, mas a reperfusão pode desencadear uma sequência de lesões secundárias. Radicais livres podem ser gerados e o novo fluxo pode atuar sobre vasos com a barreira hematencefálica comprometida, facilitando danos secundários. A isquemia e a reperfusão induzem uma resposta inflamatória que se inicia na microcirculação e contribuirá para a destruição tecidual. A resposta inflamatória é usual, frente ao insulto isquêmico. Ocorre liberação de citocinas inflamatórias por diferentes células, como endotélio, monócitos, leucócitos, glias e outras. As primeiras citocinas liberadas são a interleucina 1β e o fator de necrose tumoral (FNT), que atuam nas primeiras fases do processo. Em sequência, interagem outras interleucinas (IL), como a IL6 e a IL8. As principais ações das IL são: atrair leucócitos, estimular a síntese de moléculas de adesão e facilitar a trombogênese por aumentarem os níveis do inibidor de ativador do plasminogênio, do fator tissular e do fator ativador das plaquetas e por inibirem o ativador tecidual do plasminogênio. As citocinas provocam a infiltração de leucócitos, monócitos e macrófagos, que, em sequência, se distribuem ao redor das vênulas, aderem às células endoteliais e migram para o parênquima, tendo, consequentemente, um papel de aumentar o estado trombótico e o infarto. As principais moléculas de adesão que são estimuladas pelas citocinas são: molécula de adesão intercelular 1 (ICAM1), Eselectina, Pselectina. Em condições normais, são praticamente inexistentes. Recentemente, tem-se demonstrado a participação das enzimas matrizmetaloproteases (MMP) na lesão tissular. A ação dessas enzimas pode degradar a constituição da matriz que envolve as placas ateroscleróticas e o tecido endotelial. Sabe-se que as IL6 e o FNTα estimulam a expressão da MMP (principalmente a MMP9) e, assim, estas são mais um fator de agressão e agravamento do quadro. Na isquemia, podem também ser liberadas moléculas como a endotelina, que tem ação vasoconstritora, dificultando a passagem do sangue e comprometendo a irrigação tecidual. A micróglia tem destacado papel nesta sequência fisiopatológica e imunológica da inflamação, atuando como sensora e efetora no cérebro normal e no patológico. No cérebro adulto, contribuem para a remodelação sináptica e neurogênese; podem também interagir com axônios e estar envolvidas na formação de novos vasos e atuar na fagocitose de células mortas durante o processo de morte celular programada. Os astrócitos também têm papel importante na definição da lesão definitiva e na reparação tissular. Os astrócitos têm função no controle de neurotransmissores, principalmente do glutamato, atuando na liberação e na sua recaptação. No interior dos astrócitos, o glutamato é transformado em glutamina, que, por sua vez, poderá ser transformada novamente em glutamato ou GABA, dependendo das necessidades ou estímulos. Os astrócitossão as principais fontes de fatores do crescimento que comprometem a tolerância isquêmica. Durante a isquemia cerebral, o edema dos astrócitos é a primeira alteração morfológica observada. A micróglia, juntamente com os astrócitos, também contribui para a isquemia, com a produção de citocinas e de radicais livres. Os oligodendrócitos são pouco sensíveis aos mecanismos da excitotoxicidade. 3.2. Hemorragia cerebral O AVCH é causado pela ruptura espontânea (não traumática) de um vaso intracerebral, com extravasamento de sangue para o interior do cérebro (hemorragia intraparenquimatosa), para o sistema ventricular (hemorragia intraventricular) e/ou espaço subaracnóideo (hemorragia subaracnoide). A hemorragia subaracnoide por aneurisma é mais comum em mulheres. Sabe-se que o hematoma que se forma no AVCH não é estável e tende a crescer após o início do icto. A expansão do hematoma é um achado corrente, sendo salientado que quase todos os hematomas tendem a se expandir nas primeiras horas. HA e hiperglicemia são fatores que facilitam esse processo. Os pacientes que apresentam expansão do volume do hematoma têm pior prognóstico. O mecanismo de como o hematoma cerebral se expande não é totalmente conhecido. Há especulações de que a expansão do hematoma comprime muitos pequenos vasos,cinduzindo isquemia local. Estudos com PET scan têm demonstrado áreas de isquemia circundando o hematoma. Ao mesmo tempo e agravando o quadro, o crescimento progressivo do hematoma pode romper outros vasos, ampliando ainda mais a hemorragia. Outro fator de piora do quadro é o edema cerebral que se forma ao lado do hematoma, aumentando a pressão intracraniana e comprometendo tecidos, levando a disfunções neurológicas relacionadas com as áreas cerebrais envolvidas. O mecanismo exato da hemorragia tem sido difícil de se comprovar. Muitos autores citam a formação, como consequência da HA crônica, de microaneurismas de Charcot & Bouchard, sendo estes os responsáveis por desencadearem o sangramento. Por outro lado, Fisher constatou a ocorrência desses microaneurismas em apenas 10% dos casos de AVCH. A hemorragia cerebral hipertensiva ocorre devido a alterações nas artérias perfurantes que emergem em ângulo quase reto de artérias cerebrais de maior calibre. Esses vasos se submetem a efeitos prolongados da pressão arterial. A HA crônica induz importantes complicações nas artérias, em todas as suas camadas, como a lipohialinose. Esta favorece o desenvolvimento de aterosclerose de vasos perfurantes maiores e arterioloesclerose nos pequenos vasos (arteríolas). A aterosclerose provoca redução do calibre dos vasos com tendência a causar infartos lacunares. Os vasos ateroscleróticos têm tendência a se tornarem hialinizados e são mais sensíveis a ruptura com consequente hemorragia. Angiopatia amiloide é a segunda principal causa de AVCH, sendo responsável por mais de 20% dos casos; predomina em pacientes acima de 70 anos, normotensos. Acredita-se que a sua incidência esteja aumentando, associada ao envelhecimento da população. A angiopatia amiloide que ocorre no cérebro é distinta da que ocorre sistemicamente. Nela, há uma infiltração de proteína amiloide nas camadas média e adventícia de artérias corticais do cérebro. Aproximadamente 5% dos AVCH são causados por aneurismas e angiomas, que, ao se romperem, causam a hemorragia. Os AVCH predominam em jovens e adultos jovens. Tem sido especulado que, durante os períodos de expansão do hematoma, mediadores químicos são liberados e agravariam o processo. Entre estes, é citado o ferro como um dos elementos que facilitariam a ação de radicais livres, a peroxidação lipídica e o dano celular. Outros elementos que podem ser liberados são leucotrienos e eicosanoides, que exacerbam a “cascata isquêmica”. Edema cerebral isquêmico O edema cerebral é o principal fator de piora e de morte dos doentes após sofrerem um AVC, sendo então de conhecimento e abordagem obrigatória na investigação e condução desses casos. Ao se instalar o processo isquêmico, imediatamente se inicia a formação de edema cerebral. O edema que ocorre no AVC tem características fisiopatológicas próprias e deve, obrigatoriamente, ser individualizado do edema cerebral que se apresenta em outras situações, como em tumores, traumas, infecções, convulsões etc. Sua manifestação, diferentemente da dos outros tipos de edema cerebral, é bifásica, com uma primeira etapa intracelular (devido, fundamentalmente, a distúrbios eletrolíticos) e uma segunda fase intersticial (por causa, principalmente, de alterações nas macromoléculas). A principal alteração na primeira fase é a falha na bomba de sódio das membranas celulares, causada por prejuízo na produção de energia. Essa falha acarreta grande entrada de sódio para o interior das células, elevando a osmolaridade e, consequentemente, induzindo a entrada de água e provocando o edema. A segunda fase se instala devido à passagem de macromoléculas, como proteínas, do espaço intravascular para o intersticial, elevando a osmolaridade nesse espaço e assim acumulando água. Essa sequência é progressiva, tendo um pico do 3o ao 5o dia após o icto, sendo significativa até aproximadamente o 10o dia e durando, em média, 30 dias. O edema cerebral pode ser agravado por febre, hipertensão arterial e hiperglicemia. Objetivo 03: Consequências do AVE na vida do paciente Após um AVE, o resultado do quadro é influenciado por vários fatores, mas dentre eles existem dois principais: a natureza e a gravidade do déficit neurológico resultante. Idade do paciente, etiologia do AVE e comorbidades também são fatores importantes. O prognóstico de AVEs hemorrágicos é pior do que AVEs isquêmicos, e depende de alguns fatores principais, dentre eles: tamanho do hematoma intraparenquimatoso (> 30cm3), presença de hemoventrículo, nível de consciência (glasgow < 8), idade (>80 anos), localização (infratentorial tem pior prognóstico) e uso prévio de anti-coagulantes. Pacientes com sinais de herniação trasntentorial dificilmente sobrevivem. De forma geral, 80% desses pacientes sobrevivem pelo menos um mês após o episódio, mas apenas 35% têm um prognóstico superior a 10 anos. Grande fator de piora é a recidiva do AVE, que acontece em 25% desses pacientes nos 5 anos subsequentes, e costuma deixar sequelas mais debilitantes que o primeiro episódio. As lesões no córtex cerebral ou no feixe córtico-espinhal, decorrentes do AVE, ocasionam um comprometimento das conexões corticais com a medula espinhal, tronco encefálico e cerebelo, enquanto as demais áreas supra-medulares continuam a exercer um controle sobre a atividade dos motoneurônios inferiores. Como resultado, há uma ativação muscular anormal que produz um sério comprometimento motor nestes indivíduos. O déficit neurológico decorrente do AVE caracteriza-se por manifestações clínicas, que evidenciam o comprometimento dos diversos sistemas corporais. Estas manifestações clínicas envolvem comumente alterações motoras e sensitivas, que afetam a função física. Além disso, déficits na função cognitiva, perceptiva, emocional podem estar presentes após o AVE. Como consequências funcionais, os déficits primários neurológicos geralmente predispõem os sobreviventes de AVE a um padrão de vida sedentário e com limitações individuais para as atividades de vida diária, contribuindo para uma pobre auto-estima, depressão, isolamento social e deterioração física. A hemiparesia apresentada por estes indivíduos caracteriza-se perda parcial de força no hemicorpo contralateral ao da lesão cerebral. A fraqueza muscular é a inabilidade de gerar níveis normais de força e pode acontecer em função da perda ou diminuição do recrutamento de unidades motoras ou das modificações fisiológicas do músculo parético, seja pela denervação, pela redução da atividade física ou pelo desuso, resultando em atrofiamuscular. As características da força muscular que seguem um AVE incluem uma redução na geração de torque isométrico e isocinético, além de lentidão para gerar o torque. Tal inabilidade para gerar torque demonstrou estar relacionada com o desempenho em diversas tarefas funcionais, tais como transferências, levantar a partir de sentado, velocidade de marcha e desempenho ao subir escadas, sugerindo que o treinamento de força poderia levar a uma melhora no desempenho funcional. A variabilidade na velocidade de marcha e desempenho ao subir degraus pode ser atribuída de 66% a 72% à força muscular dos membros inferiores, e os autores sugerem que medidas de força muscular assim como sejam incorporadas na avaliação da locomoção de indivíduos após um AVE, uma vez que déficits de força implicam em diminuição da velocidade da mesma. A flacidez inicial sem movimentos voluntários é substituída pelo desenvolvimento de espasticidade e padrões de movimentos em massa, conhecidos como sinergismos. Com freqüência, os músculos envolvidos nos padrões de sinergismos estão de tal maneira vinculados um ao outro que os movimentos isolados, fora dos padrões sinérgicos de massa, não são possíveis. Esses padrões sinérgicos anormais costumam estar presentes, caracterizando-se como altamente estereotipados e obrigatórios onde o paciente não é capaz de movimentar um segmento isolado sem produzir movimentos no restante do membro. De acordo com Perry (1995), o sinergismo anormal de flexão e extensão do membro inferior é uma das características do andar encontrado nos pacientes com hemiparesia. O descondicionamento físico pode ser considerado uma complicação secundária do AVE, e de acordo com Stein (1999), ele está relacionado aos comprometimentos neurológicos que interferem com a capacidade de participar de exercícios de condicionamento. Pacientes no período pós AVE crônico (seis meses) apresentam capacidade física de 55% a 75% do valor esperado para pessoas saudáveis da mesma idade, sexo e nível de aptidão física. Em função das limitações motoras comuns nesta população que dificultam a realização de exercícios aeróbicos, cria-se um círculo vicioso entre descondicionamento e inatividade. O comprometimento na habilidade para responder às demandas físicas da vida diária tem efeitos prejudiciais na mobilidade e resistência a fadiga, repercutindo em limitações funcionais impostas por déficits neuromusculares decorrentes do AVE. Este decréscimo da aptidão física está relacionado a diversos fatores, tais como comorbidades vasculares associados ao AVE, imobilidade, diminuição da capacidade de locomoção e déficits motores. A imobilidade, em todos os casos, traz danos graves à capacidade funcional, tornando cada vez mais difícil o retorno à realização de atividades diárias. A diminuição na aptidão física resulta em uma limitação na capacidade de manter a velocidade da marcha de maneira eficaz e confortável, levando um aumento no gasto energético da marcha e a pobre resistência aeróbica nos pacientes com AVE. Desta forma, o gasto energético necessário para realizar a deambulação de rotina é elevado em aproximadamente 1,5 a 2 vezes nos indivíduos hemiplégicos comparados com indivíduos- controle saudáveis. Portanto, todos os comprometimentos e conseqüências do AVE em conjunto, limitam a funcionalidade no andar do hemiplégico durante os diferentes estágios da recuperação neurológica e funcional. Objetivo 04: Principais patologias ocasionadas pelo tabagismo O tabagismo é uma doença (dependência de nicotina) que tem relação com aproximadamente 50 enfermidades, dentre elas vários tipos de câncer (pulmão, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero, leucemia), doenças do aparelho respiratório (enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, infecções respiratórias) e doenças cardiovasculares (angina, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial, aneurismas, acidente vascular cerebral, tromboses). Há ainda outras doenças relacionadas ao tabagismo: úlcera do aparelho digestivo; osteoporose; catarata; impotência sexual no homem; infertilidade na mulher; menopausa precoce e complicações na gravidez. Estima-se que, no Brasil, a cada ano, cerca de 157 mil pessoas morram precocemente devido às doenças causadas pelo tabagismo. Os fumantes adoecem com uma frequência duas vezes maior que os não fumantes. Têm menor resistência física, menos fôlego e pior desempenho nos esportes e na vida sexual do que os não fumantes. Além disso, envelhecem mais rapidamente e ficam com os dentes amarelados, cabelos opacos, pele enrugada e impregnada pelo odor do fumo.