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Denomina-se hemorragia digestiva baixa (HDB) aquele sangramento digestivo que ocorre ABAIXO do ângulo de Treitz. Perceba então que a HDB engloba sangramentos oriundos do jejuno, íleo, cólons e reto MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico é de exteriorização baixa, na forma de hematoquezia ou enterorragia, e repercussão hemorrágica clínica ou laboratorial. É importante lembrar: esses sintomas não são específicos do sangramento BAIXO e podem estar presentes numa Hemorragia Digestiva ALTA maciça, a qual pode se manifestar através de enterorragia quando há sangramento intenso. ABORDAGEM INICIAL Conduta prática num paciente que foi admitido com HDB • sala vermelha e monitorização • 02 suplementar até ter o caso estabilizado, "na mão": máscara não reinalante e com reservatório, 02 100% (12 L/min) • dois acessos venosos calibrosos (Jelco 14, fossas antecubitais) • 1 L de SF 0,9% aberto de cada lado • 80 mg de omeprazol, venoso • se houver estigma de hepatopatia: considerar terlipressina venosa + norfloxacino • preparar noradrenalina e deixar a postos • colher laboratório: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio iônico, coagulograma. Se disponível, rodar um Hb/Ht na sala vermelha para resultado expresso da hemoglobina • colher amostra de sangue para tipagem e contraprova: deixando pelo menos 2 concentrados disponíveis • pedir ao banco de sangue 2 bolsas não tipadas (O-) e também deixar "a postos" ' • lembrar de transfundir, além de reanimação volêmica, se, choque hemorrágico classe lll/IV (lembra- se do trauma? São aqueles com hipotensão já à apresentação inicial) • sondagem vesical de demora e monitorização do débito urinário • ligar para a endoscopia e deixá-los preparados: levar o paciente tão logo ele esteja estável • depois da endoscopia, preparar o cólon e realizar a colonoscopia As medidas iniciais são voltadas à estabilização clínica do paciente: acessos venosos calibrosos, reanimação volêmica, suplementação de 02, monitorização, medidas de suporte avançado de vida conforme necessidade (intubação e ventilação mecânica/acesso venoso central e droga vasoativa/ transfusão de hemocomponentes para corrigir anemia e coagulopatia) e, após estabilizado, preparação para uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA). EDA? Mas por quê? Veja só: se um paciente tiver uma Hemorragia Digestiva Alta maciça, ele não pode ter um quadro bastante semelhante? Pode. Pois então, que fique a primeira lição: diante de qualquer manifestação clínica de sangramento digestivo agudo, seja alto ou baixo, a primeira abordagem é a estabilização clínica do paciente, seguida de uma EDA para afastar uma HDA maciça como causa do quadro. Somente após esses eventos iniciais o paciente é submetido a uma investigação específica, por colonoscopia. COLONOSCOPIA Deve ser realizada nas primeiras 24h do sangramento, idealmente com preparo de cólon. O que ela vai detectar? Os sinais de que houve sangramento, com presença de coágulos nos colons, e as principais causas de HDB, que são colorretais: doença diverticular dos cólons, angiodisplasia do cólon e tumores colorretais. A colonoscopia pode não ser suficiente. Nesses casos, podemos lançar mão de outros métodos investigativos da origem do sangramento. MÉTODOS ADICIONAIS ANGIOTOMOGRAFIA É um método amplamente disponível e de sensibilidade razoável de sangramentos de até 0,3 a 0,5 mL/ min. É O primeiro método adicional a ser solicitado. Quando positivo, é capaz de precisar a localização do sangramento com acurácia interessante ao médico assistente. Entretanto, não possui capacidade terapêutica, além de ser um método de radiação ionizante. CINTILOGRAFIA COM HEMÁCIAS MARCADAS É o método mais sensível e detecta sangramentos de até 0,1-0,5 mL/min. Porém, o exame tem suas desvantagens: não exibe estratégia terapêutica, depende de um sangramento ativo no momento do exame e é capaz apenas de denotar a "área geral" de ocorrência do sangramento no abdome. Sua maior utilidade é sugerir o sangramento por divertículo de Meckel, ao brilhar a fossa ilíaca direita no exame, num paciente com idade compatível. É um exame que, via de regra, não dá diagnóstico etiológico -exceto pelo sangramento por divertículo de Meckel. ARTERIOGRAFIA MESENTÉRICA SELETIVA É um método de baixa disponibilidade e alta complexidade, envolvendo um procedimento endovascular radiointervencionista. Tem sensibilidade para sangramentos de 0,5 a 1,0 mL/min, com potencial diagnóstico localizatório. Esse método possui potencial terapêutico por embolização ou injeção de vasopressor, o que o torna atrativo; entretanto, é o "último" a ser realizado, pois ele vem com desvantagens: uso radiação ionizante, grande volume de contraste iodado (com o risco de nefropatia por contraste),risco de infarto intestinal, além dos riscos de sangramento e trombose do sítio de punção arterial do cateterismo. ENTEROSCOPIA Diz-se enteroscopia uma endoscopia especial, capaz de, de forma anterógrada ou retrógrada, percorrer o intestino delgado. É um método pouco disponível e complexo. Sua utilidade se dá nos sangramentos não topografados do intestino delgado. Tem potencial de localização e tratamento do sítio de sangramento. ETIOLOGIAS POSSÍVEIS A grande maioria dos sangramentos digestivos baixos é de origem colorretal, decorrente de: 1. Doença diverticular; 2. Angiodisplasia; e 3. Tumores colorretais. COMO MANEJAR O SANGRAMENTO DIGESTIVO BAIXO? PACIENTE PERSISTENTEMENTE INSTÁVEL O paciente que nunca atinja estabilidade clínica à abordagem inicial não será candidato a colonoscopia. Ele será submetido a um tratamento cirúrgico de urgência. Nessa cirurgia, considerando-se que as causas colorretais são as mais frequentes, o paciente será submetido a uma colectomia total. São ligados, para realizarmos uma colectomia total, os seguintes vasos: ileocólica, cólica direita, cólica média, cólica esquerda, sigmoideanas, retal superior De exceção, caso se encontre à cirurgia uma localização clara da origem de sangramento, pode-se ressecar apenas aquele território. Exemplo: um tumor colorretal ou uma doença diverticular exclusivos do cólon direito ETIOLOGIA IDENTIFICADA A COLONOSCOPIA DOENÇA DIVERTICULAR DOS CÓLONS É a causa mais frequente de HDB, e, caracteristicamente, os sangramentos ocorrem de divertículos localizados no cólon direito. Ao se observar a doença diverticular, com a presença de um divertículo com sangramento ativo, não há dúvidas diagnósticas. Contudo, não é necessário que se observe o sangramento ativo de um divertículo para que se associe à doença diverticular a fonte de HDB. Na presença de doença diverticular, presume-se ser ela a causa da HDB. A grande maioria das HDBs por doença diverticular tem curso autolimitado, e, à colonoscopia, já não há sangramento ativo. Esses pacientes são conduzidos de forma conservadora. Caso haja sangramento ativo à colonoscopia, pode-se tentar estratégias terapêuticas (como eletrocauterização, clipagem metálica ou injeção de adrenalina) para conter o sangramento. O tratamento cirúrgico está indicado nos pacientes que não chegam a atingir estabilidade clínica inicial ou naqueles que persistem com sangramento apesar das medidas clínicas e colonoscópicas executadas. A escolha do tratamento cirúrgico dependerá da localização da doença diverticular e envolverá a ressecção de um ou mais segmentos cólicos. Veja as possibilidades: • Se o paciente tiver doença diverticular localizada apenas no cólon direito (à colonoscopia ou exploração cirúrgica), a cirurgia é uma colectomia direita. • Se o paciente tiver doença diverticular difusa nos cólons e não for possível detectar qual segmento sangra (seja porque ele não atingiu estabilidade clínica ou porque a colonoscopia não conseguiu determinar a fonte de sangramento), a cirurgiaé uma colectomia subtotal. • Se o paciente tiver doença diverticular difusa dos cólons e for possível detectar um segmento específico sangrante, a cirurgia é a ressecção desse segmento (colectomia direita ou esquerda, por exemplo). ANGIODISPLASIA Ocorrem com bastante frequência nos colons, sobretudo à direita (ceco), e em pacientes idosos. E a segunda causa mais frequente de HDB Quando são incidentalmente encontradas, fora de um contexto de HDB, não devem ser tratadas. Entretanto, caso sejam visualizadas numa colonoscopia realizada por HDB, devem ser prontamente tratadas. A colonoscopia é o método terapêutico inicial. Na falha colonoscópica, lança-se mão do tratamento cirúrgico, com ressecção do segmento do cólon acometido. TUMORES COLORRETAIS Tumores colorretais são peculiares, por não haver estratégia colonoscópica clara para controle do seu sangramento. Dessa forma, contamos com a autorresolução, enquanto se fazem as medidas de suporte. Caso o paciente apresente resolução do sangramento espontaneamente nas primeiras 24h de abordagem inicial, ele é operado de forma eletiva na mesma internação. Caso não apresente resolução do sangramento, ele é operado na urgência. Perceba então que o tumor colorretal sangrante é primordialmente tratado por cirurgia, com ressecção do território acometido - ainda que haja metástases. DIVERTÍCULO DE MECKEL Suspeitamos de Meckel num paciente com idade compatível (pediátrico, adulto jovem), cuja colonoscopia vem negativa ou se observa sangue vindo do íleo. 0 exame de cintilografia, ao demonstrar sangramento na fossa ilíaca direita, reforça a possibilidade. 0 tratamento definitivo é feito por via cirúrgica, com ressecção do Meckel (diverticulectomia) ou da alça intestinal (enterectomia segmentar). ETIOLOGIA NÃO IDENTIFICADA NA COLONOSCOPIA Esse é o sangramento baixo de origem obscura ou indeterminada. Temos que pensar em duas possibilidades: sangramento colorretal que a colonoscopia não conseguiu identificar ou sangramento oriundo do intestino delgado. 0 primeiro passo é a busca da localização com uma angiotomografia, o método mais disponível, seguida de uma cintilografia com hemácias marcadas, o método mais sensível. Os métodos podem identificar uma topografia do cólon ou do intestino delgado como fonte do sangramento. Identificando-se uma lesão nos cólons, prossegue-se a um tratamento cirúrgico, ou, de maneira alternativa, a uma arteriografia com vasopressor/embolização. Não se identificando qualquer fonte de sangramento ou identificando-se um sangramento em topografia de intestino delgado, um procedimento em especial passa a ser útil: a enteroscopia. Combinando-se uma endoscopia dedicada do delgado, anterógrada e retrógrada, pode-se tentar localizar o sangramento. Identificando-se o foco do sangramento, a própria enteroscopia pode tratá-lo ou, caso intratável por enteroscopia, ela o marca para o cirurgião identificar numa abordagem cirúrgica. APRESENTAÇÃO CRÓNICA Vamos fugir do contexto de uma HDB aguda e pensar num paciente que, no consultório, chega com um quadro de sangramento digestivo baixo de apresentação crônica, arrastada. Esse paciente possui algumas peculiaridades no raciocínio clínico e manejo. Felizmente, esse paciente é passível de abordagem ambulatorial, pela menor gravidade hemorrágica. A HDB crônica mais tipicamente se manifesta por hematoquezia, ou ganha uma área de interseção com a HDA crônica, ao manifestar melena. O primeiro exame aqui é a colonoscopia, pois a utilidade da EDA é, nos casos agudos, buscar uma origem de sangramento maciço - o que não faz parte do nosso contexto clínico nessa situação. Na colonoscopia, o que podemos encontrar? Todas as causas podem se apresentar de forma crônica, mas duas merecem destaque: câncer colorretal e doença inflamatória intestinal. O paciente com câncer colorretal se apresenta com sangramento crônico, num paciente de idade avançada, associado a uma síndrome consumptiva no enunciado da questão: perda pontual, emagrecimento, astenia, anemia etc. Já o paciente com doença inflamatória intestinal trará associadamente uma história de diarreia crónica, com produtos patológicos, de comportamento surto vs. remissão, num paciente jovem A investigação por colonoscopia será capaz de sugerir esses dois principais diagnósticos, de acordo com achados macro e microscópicos. Mas e nos cenários em que a colonoscopia está normal? Com uma colonoscopia normal, solicitamos uma endoscopia digestiva alta, para afastar uma HDA como origem dos sintomas no diagnóstico diferencial. Caso essa também esteja normal, temos que investigar o intestino delgado, o que pode ser feito de duas formas: 1. Enteroscopia 2. Cápsula endoscópica DOENÇA ORIFICIAL VS. HDB Um dos dilemas da prova e da vida é: meu paciente tem um quadro de HDB e tem, ao exame proctológico inicial, uma doença orificial (fissura anal, doença hemorroidária). O que fazer? As doenças orificiais, sobretudo a fissura anal, são fontes frequentes de sangramento às fezes. Porém, os diagnósticos-base possíveis de uma HDB são de gravidade importante, de forma que não podem ser desconsiderados. Assim, nesses casos, presume-se que o sangramento é uma HDB. Atribuir o sangramento à doença orificial deve ser feito por exclusão. Portanto, será mandatória a realização de uma colonoscopia. ATENÇÃO! Para a confecção desse material foram usados livros, artigos científicos, conteúdos de aulas e palestras da faculdade UNIME de medicina. Além de conteúdos de aulas e material didático de outras plataformas de ensino. Foi utilizado também materiais confeccionados por outros colegas, portanto, não é um conteúdo autoral. Ou seja, o conteúdo contido no resumo não é de criação minha, eu apenas compilei o material da melhor forma para estudo.
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