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SÍNDROME DE CUSHING EPIDEMIOLOGIA Os quadros determinados por doença são raros e às vezes de difícil diagnóstico; são casos crônicos, geralmente de evolução lenta e progressiva, com mortalidade superior a 50% em cinco anos, se não forem tratados em tempo hábil. Acometem cerca de 1 a 3/100.000 indivíduos, com incidência estimada em 30 novos casos ao ano no país.¹ CONCEITO A síndrome de Cushing (SC) ou hipercortisolismo é um conjunto de sinais e sintomas resultantes de uma doença neuroendocrinológica causada pela interrupção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, levando a uma exposição crônica a quantidades excessivas de glicocorticoides livres circulantes, cuja fonte tanto pode ser endógena quanto exógena. ETIOLOGIA Pode ser fruto da administração terapêutica prolongada de glicocorticoides (se exógena) ou, bem menos frequentemente, da hiperprodução crônica de cortisol (SC endógena). As formas ACTH-dependentes se relacionam a doenças do eixo hipotálamo-hipofisário, ou tumores diversos secretores de ACTH/CRH. Já as formas ACTH-independentes ocorrem em consequência a doenças primárias da suprarrenal. A se pode ocorrer em qualquer idade, contudo as etiologias diferem entre os grupos etários. Em algumas séries, patologias adrenais (incluindo 2 adenomas e carcinomas, PPNAD e MAS) respondem por 65% dos casos em crianças.27 ·34·61 Em outras, a doença de eushing aparece como a etiologia mais prevalente no grupo etário acima de 5 anos.42 Em contraste, a secreção ectópica de AeTH é extremamente rara na infância. A se exógena ou iatrogênica é comum em crianças e, na maioria das vezes, resulta da administração indevida de glicocorticoides pelos pais ou cuidadores. FISIOPATOLOGIA ACTH DEPENDENTE A síndrome de Cushing ACTH-dependente ocorre quando o hipercortisolismo se origina da secreção excessiva de ACTH, hipofisária ou ectópica. Em cerca de 80 a 90% das vezes, há como fator etiológico um adenoma de hipófise (doença de Cushing), sendo o restante devido à secreção ectópica de ACTH ou, bem mais raramente, do hormônio liberador da corticotrofina (CRH). Ter em mente a fisiopatologia!!! DOENÇA DE CUSHING A doença de Cushing (DC) é a etiologia mais comum da síndrome de Cushing endógena, seguida pelas patologias adrenais e pela síndrome do ACTH ectópico (SAE). Entre 74 pacientes, constatamos que DC, 3 tumores adrenais e SAE responderam, respectivamente, por 62,2%, 28,3% e 9,5% dos casos. (tabela acima) Doença de Cushing (DC) refere-se ao hipercortisolismo causado pela secreção excessiva de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) por lesão hipofisária, com incidência entre 2-3/milhão . Na maioria dos casos (90%), a DC resulta de um microadenoma hipofisário secretor de ACTH (diâmetro < 10 mm). Apenas 10 a 20% dos casos são associados a um macro adenoma, enquanto os carcinomas são extremamente raros. Em indivíduos saudáveis, a homeostase fisiológica dos corticotróficos é ajustada por fatores hipotalâmicos estimulatórios e inibitórios e pelo ciclo de feedback negativo dos glicocorticoides das glândulas suprarrenais. No entanto, o tumor produtor de ACTH presente na DC é insensível às inibições que ocorreriam normalmente, resultando, assim, em um sistema incapaz de se autorregular e, consequentemente, em níveis aumentados de glicocorticoides causando o hipercortisolismo. Geralmente, a DC resulta em hiperplasia adrenal bilateral, mas também causa hiperplasia macronodular, que, por sua vez, pode ser uni ou bilateral, e assim ser confundida com tumores adrenais. A DC tem predomínio no sexo feminino (M:H = 8:1), início, em geral, entre 20 e 40 anos (relatos entre 6-77 anos) e uma progressão lenta (vários anos de sintomas). Nos casos pré-puberais, há, contudo, maior ocorrência no sexo masculino. Recentemente, foi descrito o caso de DC em uma criança de 11 meses com um macroadenoma secretor de ACTH. Mais raramente, a DC surge como parte da neoplasia endócrina múltipla tipo 1 (MEN-1 ), sendo a manifestação inicial. No caso de pseudocushing, definida pela condição na qual os pacientes apresentam o quadro clínico e níveis de cortisol anormais, porém não é causado por disfunções eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, a manifestação se dá de maneira parcial apresentando obesidade, estresse, diabetes mellitus descontrolado e síndrome do ovário policístico (SOP). Dessa forma, diferenciação do que é DC e pseudocushing nem sempre é muito precisa SÍNDROME DO ACTH ECTÓPICO A síndrome do ACTH ectópico (SAE) responde por 10 a 15% dos casos de síndrome de Cushing. Ela é mais comum em homens e, geralmente, se apresenta após os 40 anos. A produção ectópica de ACTH pode se originar de diversos tumores porém, provavelmente, a causa mais comum é o carcinoma pulmonar de 4 células pequenas. Estima-se que até 12% dos casos se acompanharão de SAE. Outras causas bem documentadas são os carcinoides tímicos e, menos comumente, carcinoides de outros órgãos (vesícula, fígado, intestino delgado, cólon etc.), feocromocitomas e carcinoma medular da tireoide. Causas adicionais, bem mais raras, incluem alguns tipos de carcinomas: ilhotas pancreáticas, ovário, próstata, vesícula biliar, células pequenas da vagina etc. Por fim, tumores ovarianos (p. ex., androblastoma, carcinoma de células de Sertoli, tumor carcinoide, tera toma e tumor de células esteroides) também já foram associados à SAE. Recentemente, foi relatado o primeiro caso de SAE relacionado com uma patologia tireoidiana benigna (adenoma oncocítico). A SAE causada por carcinoma pulmonar ocorre predominantemente em homens, com maior incidência entre 40 e 60 anos. Pelo carcinoma, é importante salientar que o paciente terá um estímulo muito grande para a perda ponderal, o hipercotisolismo é mais agressivo e abrupto (meses ou semanas), valores maiores de cortisol e de ACTH e podem cursar com hipocalemia (efeito mineralocortical pelo excesso de cortisol). Em mulheres com SC ACTH-dependente, a doença de Cushing é cerca de nove vezes mais comum do que a SAE. É muito rara a ocorrência de SAE em crianças e adolescentes. SÍNDROME CRH ECTÓPICO É bastante rara (cerca de 20 casos descritos na literatura) e difícil de ser diagnosticada. A maioria dos casos é secundária a carcinoides brônquicos, carcinoma medular de tireoide ( CMT) e carcinoma prostático. A secreção combinada pelo tumor de ACTH e CRH é muito mais comum do que a secreção isolada de CRH. Recentemente, foram relatados casos de SC resultante da produção de CRH por hamartoma hipotalâmico, feocromocitoma e metástases hepáticas de CMT. 5 ACTH INDEPENDENTE DISTÚRBIOS ADRENAIS Os distúrbios adrenais primários representam 20 a 30% dos casos da síndrome de Cushing (SC).8 Em geral, são causados por um adenoma ou carcinoma produtor de cortisol. Essas lesões costumam ser unilaterais e facilmente visualizadas por meio da tomografia computadorizada (TC). A ressonância magnética (RM), nesses casos, não oferece nenhuma vantagem adicional. Causas muito raras de SC de origem adrenal são a hiperplasia nodular pigmentada primária bilateral, a hiperplasia adrenal macronodular, a síndrome de McCune-Albright (SMA) e o complexo de Carney. Em crianças, as causas primárias ocorrem em 65% dos pacientes com síndrome de Cushing, sendo a frequência de carcinoma 3 a 4 vezes maior do que a de adenomas. ➔ Carcinomas Os carcinomas representam 40% do total de casos ACTHindependentes. Geralmente, são grandes (> 6 cm) quando diagnosticados e até 10% são bilaterais. Sua distinção histológica com o adenoma pode ser difícil. Devem ser sempre suspeitados quando o tumor adrenal for > 6 cm e/ ou cursar com hipercortisolismo associado a marcante elevação de andrógenos. É 1 ,5 vez mais comum em mulheres e tem uma distribuição etária bimodal, com picos na infância e na adolescência, bem como ao final da vida.➔ Adenomas Em geral, são lesões pequenas (a maioria é< 3 cm) e constituem cerca de 60% dos tumores adrenais secretores de cortisol. Diferentemente dos carcinomas, tendem a cursar com hipercortisolismo de início mais gradual e menor intensidade, e a produzir apenas uma classe de esteroides. Ocorrem com mais frequência em torno de 35 anos de idade, são significativamente mais comuns em mulheres e têm incidência de, aproximadamente, 0,6 por 1 milhão por ano. ➔ Doença adrenal nodular pigmentada primária e complexo de Carney Trata-se de uma forma muito rara de SC, com um pouco mais de 100 casos descritos na literatura. Tem herança autossômica dominante e caracteriza-se por pequenas glândulas adrenais com múltiplos e pequenos ( < 6 mm) nódulos pigmentados, bilaterais, que, contudo, alcançam 1 a 2 cm nos pacientes mais velhos. Tipicamente, o hipercortisolismo da doença adrenal nodular pigmentada primária (PPNAD) manifesta-se em indivíduos com menos de 30 anos (em 50% dos casos, a idade é< 15 anos). O tratamento de escolha é a adrenalectomia bilateral. Uma variante autossômica dominante familiar, chamada complexo de Carney, abrange mixomas cardíacos (72%), mixomas cutâneos (45%), mixomas mamários (42%), tumores testiculares (56%), schwannomas (5%), tumores hipofisários secretores de GH (10%), lesões cutâneas pigmentadas tipo sardas (65%) e PPNAD (45%). 6 ➔ Hiperplasia adrenal macronodular ACTH-independente Os nódulos não são pigmentados e tendem a ultrapassar os 5 cm; às vezes, as adrenais são maciçamente aumentadas. A maioria dos casos de hiperplasia adrenal macronular ACTH- independente (AIMAH) é explicada com base na expressão anormal de receptores hormonais dentro do córtex adrenal. A maioria dos casos de AIMAH torna-se clinicamente manifesta entre os 50 e 60 anos, uma idade de início mais tardia em comparação com outras causas de síndrome de Cushing. A igualdade de gênero também contrasta com a predominância do sexo feminino na maior parte das causas endógenas de SC. A AIMAH é relatada com mais frequência como caso esporádico, porém, ultimamente, tem havido relatos de formas familiares com aparente modo de transmissão autossômica dominante. ➔ Síndrome de McCune-Albright Na síndrome de McCune-Albright (MAS), displasia fibrosa poliostótica e manchas café com leite podem estar associadas à hiperfunção de hipófise, tireoide, adrenais e gônadas. A apresentação mais comum é precocidade sexual e excesso de GH, mas também pode ocorrer síndrome de Cushing por hiperplasia adrenal nodular, inclusive como manifestação isolada. As anormalidades subjacentes são as mutações ativadoras do gene GNAS 1 que codifica a subunidade a da proteína G estimuladora ( Gs). A mutação resulta na ativação constitutiva da proteína Gs, simulando um estímulo constante do ACTH sobre a adrenal. Os níveis de ACTH estão suprimidos e podem surgir adenomas adrenais. A MAS costuma se manifestar antes dos 5 anos, com pico de incidência de 1,2 ano. Ela é a etiologia mais frequente de se no período neonatal e na infância precoce. O tratamento de escolha para o hipercortisolismo na MAS é a adrenalectomia bilateral, mas já se relatou a resolução espontânea do quadro. DISTÚRBIOS EXTRA ADRENAIS Muito excepcionalmente, a etiologia da SC ACTHindependente é a transformação adenomatosa de restos de células adrenais localizados no leito adrenal, gônadas ou fígado. Em um caso notável, a lesão se apresentava como um nódulo pararrenal esquerdo. Outras vezes, ela pode simular um tumor primário dos órgãos nos quais estão os restos adrenais. Também muito raramente, tumores ovarianos secretores de cortisol (tumor de células esteroides e carcinoma) podem ser a causa de SC ACTH-independente. 7 SÍNDROME DE CUSHING IATROGÊNICA O uso crônico de glicocorticoides representa a causa mais comum de síndrome de Cushing, devendo ser descartado em qualquer paciente com manifestações cushingoides. Estas últimas costumam surgir com doses diárias excedendo 7 ,5 mg de prednisona, 0,75 mg de dexametasona ou 30 mg de hidrocortisona. Ocasionalmente, o quadro pode surgir devido ao uso prolongado de preparações nasais de glicocorticoides (para o tratamento de rinite alérgica), o que, muitas vezes, não é informado pelo paciente, por julgar que não se trata de "remédios".8 A utilização prolongada de cremes e colírios contendo glicocorticoides pode também resultar em síndrome de Cushing exógena (SCE). O emprego concomitante de substâncias que inibam o citocromo P450 (p. ex., itraconazol) aumenta o risco de SCE durante o uso de glicocorticoides por via oral ou inalatória.5L A SCE foi também descrita em pacientes medicados com acetato de megestrol. SÍNDROME DE CUSHING SUBCLÍNICA Também chamada de hipercortisolismo subclínico, a síndrome de eushing subclínica (SeS) é uma condição de excesso de cortisol bioquímico, sem sinais ou sintomas clássicos de hipercortisolismo manifesto. Acredita-se que esteja presente em 5 a 30% dos pacientes com massas adrenais incidentalmente descobertas ( incidentalomas adrenais ), por sua vez, encontradas em 4 a 6% da população adulta. Apesar de os pacientes com a ses não apresentarem os estigmas clássicos do hipercortisolismo, eles têm alta prevalência de obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2. Também são comuns aumento do turnover ósseo e redução da densidade mineral óssea. Essas alterações frequentemente melhoram ou revertem após a adrenalectomia. O percentual de pacientes que evoluem para a síndrome de eushing clássica é incerto, mas, muito provavelmente, não ocorre na maioria deles. 8 QUADRO CLÍNICO Os sintomas associados à hipercortisolemia são ganho de peso, letargia, fraqueza, irregularidades menstruais, perda da libido, hirsutismo, acne, estrias cutâneas purpúricas, hiperpigmentação, depressão e psicose. Problemas associados, como hipertensão e diabetes mellitus, são comuns e podem ser o motivo que leva os pacientes a procurarem assistência médica. Raramente, observa-se necrose asséptica da cabeça do fêmur, mas ela já foi relatada como manifestação inicial da síndrome. Os sinais associados à síndrome de Cushing (SC) são extremamente variados e diferem em sua gravidade, porém, muitas vezes, são inespecíficos. Sinais como "giba de búfalo': obesidade e hirsutismo são pouco úteis na distinção entre a SC e os estados de pseudo-eushing. Entretanto, equimoses surgidas espontaneamente ou aos mínimos traumatismos (consequentes ao adelgaçamento da pele e ao aumento da fragilidade capilar), miopatia proximal (afetando, sobretudo, os membros inferiores) ou estrias violáceas ou purpúricas mais largas do que 1 cm tornam a possibilidade diagnóstica de se bastante provável em um paciente com obesidade central (Figuras 37.6 e 37.7).3•8·9 Osteopenia e osteoporose, especialmente na ausência de outra causa predisponente, podem fornecer uma evidência corrobo rativa útil do excesso de glicocorticoide (Figura 37.8).1•8•9 Mais de 70% dos pacientes com se manifestam sintomas psiquiátricos, que variam de ansiedade ou instabilidade emocional à depressão ou franca psicose. Tais manifestações psiquiátricas podem, ocasionalmente, ser a manifestação inicial da síndrome, a exemplo da hiperglicemia, da hipertensão, das fraturas osteoporóticas ou dos distúrbios menstruais. Alguns graus de depressão costumam persistir após a cura do hipercortisolismo. A miopatia proximal, mais bem demonstrada pedindo-se ao paciente que se levante com os braços estando agachado, pode ser, às vezes, a queixa dominante na doença de Cushing, na ausência de suas alterações fenotípicas clássicas (Figura 37.9A). Em crianças, as manifestações são, em geral, similares às dos adultos, mas a obesidade tende a ser generalizada. Além disso, uma característica marcante nesse grupo etário é a grande diminuição da velocidade do crescimento (Quadro 37.5).42•61 O hipercortisolismo antagonizaa ação do IGF-1 na placa de crescimento e, assim, a síndrome de Cushing deve ser suspeitada em toda criança com história de ganho de peso e retardo do crescimento (Figura 37.10). Em cerca de 40% dos casos, observa-se um quadro de virilização ( clitoromegalia, aumento peniano e incremento da pilificação corporal) - resultante da produção excessiva de andrógenos adrenais -, que pode ser a manifestação dominante. 9 Clinicamente, é impossível distinguir a SC decorrente de um tumor adrenal daquela secundária à doença de Cushing. Contudo, ocasionalmente, a doença de Cushing manifesta-se com perda de peso, hiperglicemia, miopatia e hipertensão, simulando a SAE (Figura 37.9A). Observa-se também predominância de manifestações de malignidade em pacientes com carcinomas adrenais. Algumas características, tais como aumento na pressão intraocular, catarata, hipertensão intracraniana benigna, necrose asséptica da cabeça do fêmur, osteoporose e pancreatite, são mais comuns na se iatrogênica do que na se endógena, enquanto outras características, notadamente hipertensão (HA), hirsutismo e oligomenorreia/amenorreia, são menos prevalentes na se iatrogênica. Os pacientes com SC costumam apresentar hipercoagulabilidade e risco aumentado de complicações tromboembólicas. Isso se deve, sobretudo, a aumento nos níveis séricos do fator de von Willebrand e no fator VIII induzido pelo cortisol. DIAGNÓSTICO Diante da suspeita clínica de SC, deve-se, de início, descartar o uso de glicocorticoides (por qualquer via de administração), frequentemente omitido pelos pacientes. A investigação da se endógena inclui duas etapas: confirmação do hipercortisolismo e definição de sua etiologia. Convém salientar que não existe consenso sobre a melhor forma de se conseguir tais objetivos. No entanto, a maioria dos protocolos de investigação utiliza, no mínimo, dois testes funcionais que enfocam diferentes aspectos da fisiopatologia do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). A confirmação do estado de hipercortisolismo precisa ser estabelecida antes de qualquer tentativa para o diagnóstico diferencial. CONFIRMAÇÃO DO HIPERCOTISOLISMO Os três principais instrumentos diagnósticos atualmente empregados para estabelecer o diagnóstico de se são os testes de supressão com doses baixas de dexametasona (LDDST), a dosagem do cortisol salivar ao final da noite e a medida do cortisol livre urinário (em amostra de 24 h). Como testes de segunda linha, dispõe-se da dosagem do cortisol sérico à meianoite e do teste da dexametasona-CRH. ➔ Testes de supressão com doses baixas de dexametasona Os testes com dexametasona (DMS) são concebidos para demonstrá-lo e, nos indivíduos normais, a DMS, que não é detectada nos ensaios para o cortisol, causa supressão do ACTH e, portanto, do 10 cortisol (para valores< 5 µg/dL).71 Dois tipos de LDDST são mais empregados: 1 mg overnight e 2 mg (0,5 mg a cada seis horas) durante 48 h (2 mg-LDDST). O teste de 1 mg overnight é frequentemente usado como rastreamento, devido à sua maior simplicidade e por ser facilmente realizado ambulatorialmente. O 2 mg-LDDST é em geral reservado para situações em que os outros testes de rastreamento de primeira linha não tornem possível uma definição diagnóstica. LDDST 1 mg overnight - Administra-se 1 mg de DMS às 23 h por via oral (VO), com dosagem do cortisol sérico (CS) na manhã seguinte às 8 h; Um CS < 1,8 µg/dL (50 nmol/L) praticamente descarta a síndrome de Cushing ativa,8 mas pode ser visto nos pacientes com hipercortisolismo cíclico ou intermitente; Resultados falso-positivos podem ser observados em condições associadas a hipercortisolemia não resultante da síndrome de Cushing. LDDST 2 mg - Administra-se 0,5 mg de DMS a cada 6 h (às 9 h, 15 h, 21 h e 3 h) durante 48 h. O sangue é coletado para dosagem do CS sérico antes e após 24 h e 48 h (6 h após a última tomada de DMS); Em indivíduos normais, o valor do cortisol sérico deve cair para menos de 1,8 µg/dL (50 nmol/L) após 24 e/ou 48 h; O 2 mg-LDDST é frequentemente relegado a um segundo plano como teste de rastreamento, por ser considerado demorado (48 h) e pouco acurado. ➔ Dosagem do cortisol livre urinário Obtém-se a dosagem do cortisol livre urinário (UFC) analisando-se uma amostra urinária de 24 h, em que é incluída a segunda micção do dia em que a coleta é iniciada até a primeira do dia seguinte . O UFC de 24 h fornece um índice integrado do cortisol livre (não ligado) que circulou no sangue durante esse período. Diferentemente dos níveis do cortisol sérico, que refletem o cortisol total, ligado e não ligado à CBG, o UFC não é afetado por fatores que influenciam a concentração dessa proteína. O UFC encontra-se elevado em 89 a 100% dos casos de síndrome de Cushing (SC), de acordo com vários estudos. No entanto, pelo menos 10 a 15% dos pacientes com SC têm uma de quatro determinações do UFC dentro da variação normal. Por isso, se o primeiro exame for normal, diante de um grau de suspeita clínica alto, deve-se realizar a análise de até duas amostras urinárias adicionais para se evitarem resultados falso-negativos, resultantes de uma doença branda, hipercortisolismo intermitente ou eventuais erros de coleta. Por outro lado, se três coletas do UFC de 24 h forem normais, o diagnóstico de se torna-se altamente improvável, na ausência de insuficiência renal. 11 ➔ Dosagem do cortisol salivar no final da noite A secreção do cortisol é caracterizada por uma ritmicidade circadiana. Em indivíduos saudáveis com estáveis ciclos sono-vigília convencionais, os níveis plasmáticos de AeTH começam a subir entre 3 e 4 h da manhã, alcançando pico entre 7 e 9 h, quando, a partir daí, caem ao longo do resto do dia. Os valores do cortisol sérico e salivar espelham tal fato, sendo os níveis mais altos de 8 às 9 h da manhã, e seu nadir em torno da meia-noite, na ausência de estresse. Existem várias maneiras de se coletar o cortisol salivar. Uma das mais acessíveis é a utilização de tubos plásticos com algodão específicos para a coleta de saliva (Salivette®), os quais possibilitam uma coleta fácil e limpa. O paciente é orientado a colocar o algodão sob a língua e aguardar 2 a 3 min. Uma análise crítica de vários estudos, em que o cortisol salivar foi dosado por RIA entre 23 h e meianoite, indica que níveis confiáveis para segregar estados de pseudo-eushing da se variaram de 130 a 415 ng/dL (média de 250 ± 104).68 Portanto, na presença de níveis de cortisol salivar ao final da noite (eSaFN > 350 ng/dL (> 9,8 nmol/L), o diagnóstico de se parece ser bastante provável. 68 Por outro lado, valores< 150 ng/dL ( < 4,2 nmol/L), tornariam improvável esse diagnóstico. Entretanto, diante de valores na chamada zona cinzenta(> 150 e< 350 ng/dL), deve-se repetir a dosagem do eSaFN e outros testes de rastreamento. DEFINIÇÃO DA ETIOLOGIA DO HIPERCORTISOLISMO Para isso, dispõem-se de testes basais e testes dinâmicos, além dos exames de imagem. TESTES BASAIS ➔ ACTH plasmático O valor normal do ACTH plasmático é de até 46 pg/rnL, com o ensaio imunométrico quimioluminescente. Tipicamente, às 8 a 9 h da manhã, o ACTH se encontra suprimido ( < 10 pg/mL) nos tumores adrenais, elevado na SAE e normal (em, aproximadamente, 50% dos casos) ou modestamente elevado na doença de Cushing. Níveis de ACTH > 20 pg/mL (4 pmol/L) indicam, confiavelmente, uma causa ACTH-dependente. Em geral, valores entre 10 e 20 pg/mL resultam também de uma causa ACTH-dependente, mas, às vezes, podem ser vistos em pacientes com tumores adrenais.65 Nessa situação, costuma-se recomendar uma nova dosagem do ACTH após estímulo com CRH ou desmopressina. 12 Na nossa casuística, os valores encontrados para o ACTH foram os seguintes: 1,5 a 15 pg/mL (média, 7,4), nos tumores adrenais; 18 a 260 pg/mL (média, 61,2), na doença de Cushing; e 70 a 1.820 pg/mL (média, 416,5) na SAE. Diante da detecçãode um ACTH < 10 pg/mL (em, pelo menos, duas ocasiões), indicativo de hipercortisolismo de origem adrenal, deve-se fazer avaliação por imagem das adrenais, por meio de tomografia computadorizada (TC). ➔ Potássio plasmático A hipocalemia é bem mais frequente na SAE (presente em, pelo menos, 70% dos casos) do que na doença de Cushing (encontrada em cerca de 10%) ➔ Dosagem de outros peptídios Em até 70% dos casos, tumores ectópicos ocultos podem expressar e cossecretar um ou mais peptídios adicionais, como calcitonina, somatostatina, gastrina, peptídio intestinal vasoativo, polipeptídio pancreático, glucagon, í3-hCG, a-fetoproteína, subunidade-a, enolase neurônio- específica, GHRH, CRH e antígeno carcinoembriogênico ( CEA). TESTES DINÂMICOS NÃO INVASIVOS ➔ Teste de supressão com dose alta de dexametasona Os adenomas corticotróficos retêm tipicamente alguma resposta aos efeitos supressivos dos glicocorticoides, enquanto os tumores que causam a síndrome do ACTH ectópico e os tumores adrenais não costumam fazer isso. Supressão do CS > 50% com relação ao valor basal indica doença de Cushing, enquanto supressão < 50% sugere SAE ou tumor adrenal. ➔ Teste do CRH Este teste baseia-se no fato de que a maioria dos corticotropinomas responde à administração do CRH com uma elevação significativa do ACTH e do cortisol plasmático.65,93 ,1º4 Tal resposta é rara com os tumores ectópicos produtores de ACTH. O teste não possibilita, contudo, distinguir a doença de Cushing dos indivíduos normais. Diferentemente da SAE, na doença de Cushing tipicamente observa-se uma excessiva elevação do CS e ACTH após o CRH. ➔ Teste da desmopressina A desmopressina é um análogo sintético da vasopressina (um outro importante regulador da secreção do ACTH) que atua especificamente nos receptores V2 renais e nos receptores V3 que estão up-regulated nos adenomas corticotróficos.108 Desse modo, a desmopressina induz uma significativa elevação do cortisol e do ACTH na maioria dos pacientes com DC. Após a administração da desmopressina, a elevação de 20% ou mais no CS (sensibilidade de 79 a 91 %) e de 35% ou mais no ACTH (presente em 85% a 93% dos casos) indica doença de Cushing 13 (DC).8 ·9 ·96 Respostas menores são indicativas de SAE. Um incremento do ACTH > 50% raramente é visto em casos de SAE. TESTES DINÂMICOS INVASIVOS ➔ Cateterismo bilateral dos seios petrosos inferiores O cateterismo bilateral dos seios petrosos inferiores (BIPSS) é o teste mais confiável na diferenciação entre fontes hipofisárias e não hipofisárias de ACTH. . O efluente hipofisário drena para o interior dos seios petrosos via seios cavernosos e, portanto, um gradiente entre o valor do ACTH plasmático obtido nesse local e o de uma amostra plasmática periférica simultânea indica uma fonte central de ACTH. Um gradiente entre o ACTH basal central e o ACTH basal periférico > 2:1 ou um gradiente estimulado > 3:1 é indicativo de doença de Cushing (DC). Gradientes menores indicam SAE e raramente são vistos na DC. Como o BIPSS não diferencia, de modo confiável, indivíduos normais ou aqueles com estados pseudocushingoides de pacientes com doença de Cushing, é imprescindível confirmar a existência de hipercortisolismo antes da realização do exame. EXAME DE IMAGEM ➔ Hipófise A RM é superior à tomografia computadorizada (TC) para imagens da hipófise. Ela deve ser realizada em todo paciente com SC ACTH-dependente. No entanto, sua sensibilidade na identificação de microadenomas é de apenas 50 a 70% (Figura 37.20) e a da TC é ainda menor (40 a 50%). Isso se deve ao fato de que aproximadamente 50% dos adenomas secretores de ACTH têm diâmetro médio de 5,6 mm; alguns são muito pequenos e ficam entre 1 a 2 mm. Em um paciente com a apresentação clínica clássica e estudos dinâmicos não invasivos compatíveis com a doença de Cushing, uma lesão hipofisária focal(> 6 mm) à RM pode indicar um diagnóstico definitivo, tornando desnecessários exames adicionais.77 Entretanto, é muito importante atentar ao fato de que, em 10% da população adulta submetida à RM de crânio, observa-se um microadenoma (incidentaloma hipofisário), 129 embora a maioria dessas lesões seja < 5 mm. Por outro lado, o achado de um macroadenoma hipofisário (diâmetro> 10 mm) praticamente confirma o diagnóstico de doença de Cushing em um paciente com SC ACTH- dependente, já que, nessa situação, macroincidentalomas são excepcionais. ➔ Adrenal 14 A TC permanece como a modalidade de imagem que dá maior resolução espacial para a anatomia adrenal, possibilitando a visualização de quase 100% dos tumores produtores de cortisol. Em geral, os adenomas medem < 3 cm, enquanto a maioria dos carcinomas mede mais de 6 cm à ocasião do diagnóstico. Nem a TC nem a RM possibilitam com 100% de certeza a distinção entre adenomas e carcinomas. No entanto, lesões> 6 cm têm elevada probabilidade de ser malignas. Um tumor funcionante secretor de cortisol causará supressão do ACTH plasmático, o que resultará em atrofia tanto do restante da glândula ipsilateral quanto da adrenal contralateral. Na síndrome de Cushing dependente de ACTH, as glândulas adrenais sofrerão hiperplasia bilateral, com o tamanho refletindo o nível vigente da cortisolemia estimulada pelo ACTH. Contudo, pode haver algum grau de nodularidade, ocasionando, às vezes, uma certa dificuldade na interpretação do exame de imagem. A diferenciação entre hiperplasia macronodular ACTH-dependente e tumores adrenais é facilitada pelo achado, na primeira condição, de qualquer grau de hipertrofia, e não de atrofia, da glândula adrenal contralateral (Figura 37.23). ➔ Imagem na secreção ectópica de ACTH Diante da suspeita da SAE, devem ser realizadas uma TC e/ ou uma RM de pescoço, tórax e abdome. O câncer de pulmão de células pequenas ou alveolares e os tumores carcinoides brônquicos são as fontes mais comuns de secreção ectópica de ACTH. Embora o primeiro seja, em geral, evidente (visível em cerca de 80% dos casos à radiografia do tórax), os últimos podem mostrar-se extremamente difíceis de serem localizados. Os tumores carcinoides brônquicos costumam ser muito pequenos na sua origem ( < 1 cm) e até 80% deles podem não ser visualizados na radiografia do tórax. São mais bem detectados por meio de uma TC helicoidal de alta definição (cuja sensibilidade é de 81 a 89%, nesses casos) e tipicamente se intensificam após a injeção intravenosa de meio de contraste radiográfico. A tomografia por emissão de pósitrons com 18-fluorodeoxiglicose (18FDG-PET) e a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) podem ser úteis na visualização de tumores neuroendócrinos não detectados ou mal caracterizados pela RM ou pela TC.131- 133 18FDG-PET e SPECT podem ser úteis também na visualização de eventuais metástases. 15 DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE CUSHING SUBCLÍNICA Muitas vezes, a quantidade produzida de cortisol na síndrome de Cushing subclínica (SCS) não é suficiente para elevar a excreção do cortisol urinário, mas é capaz de causar alguma supressão do eixo HHA. O teste de rastreamento mais utilizado é a dosagem do cortiso sérico (CS) após supressão noturna com 1 mg de dexametasona (DMS). Se o valor do cortisol plasmático exceder 1,8 µg/dL, deve-se prosseguir a investigação com outros exames, como o teste de supressão com 2 mg de DMS/48 h e a dosagem do ACTH plasmático. A maioria dos autores utiliza como critério diagnóstico para a ses a existência de, pelo menos, duas anormalidades do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. TRATAMENTO DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 1.Maia FFR, Rosário PWS, Castro RF, et al. Síndrome de Cushing causada por hiperplasia adrenal nodular pigmentada primária: relato de caso. 2002;24:137-142. [citado 2006 dez 10]. Disponível em: http://www.pediatriasaopaulo.usp. br/ upload/pdf/ 566.pdf.
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