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Jurisdição penal e inquérito policial - Tópico 1 EAD pdf

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Interpretação da Lei Processual Penal 
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1. DIREITO PROCESSUAL PENAL PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 
 
 
1.1 TEORIA GERAL DO PROCESSO 
 
 
 Lide: Conflito de interesses qualificado pela pretensão resistida. (aplicação do direito 
material ao caso concreto X status libertatis do réu) 
 Ação: É o direito do Estado-acusação ou da vítima, de ingressar em juízo pleiteando a 
aplicação do direito material ao caso concreto pelo Estado- juiz. Trata-se de uma relação 
estabelecida entre as partes contrapostas: acusação e réu / juiz. 
 Processo: é o instrumento de atuação da jurisdição/ aplicação do direito material ao caso 
concreto pelo Judiciário. 
 Procedimento: É a forma dada à sucessão dos atos que buscam a sentença. Pode ser: 
Comum e Especial. 
 
1.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
 
Ramo do Direito Público – viabiliza a persecução penal do Estado – dá efetividade 
à aplicação do direito material – traz solução às lides criminais – protege das 
arbitrariedades estatais. 
 
 
 
Conceito: “É o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação 
jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária 
e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares.” (Frederico 
Marques) 
Observação 1: 
 
 
Polícia Judiciária X Polícia Administrativa 
polícias militar e civil órgãos da administração 
atua e investiga infrações penais caráter fiscalizador 
atua sobre as pessoas atua sobre os bens e as atividades 
 
 
Infração penal ----------- Estado juiz --------------------- Ius puniendi 
(fixada por lei anterior) 
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Observação 2: banida a vingança privada (art. 345 CP exercício arbitrário das 
próprias razões). 
 
Finalidade: 
 
 
 Mediata – a pacificação social obtida com a solução do conflito; 
 Imediata – concretizar a aplicação do Direito Penal. 
 
Fontes jurídicas: (origem do próprio direito) 
 
 
 Fonte de produção ou material – é aquela relativa ao ente a que compete 
a elaboração da norma (ex: DPP compete à União – art. 22, I da CF); 
 Fonte formal ou de cognição - é aquela que revela a norma. Divide-se em: 
 imediata ou direta – leis e tratados; 
 mediata ou indireta – costumes e princípios gerais de direito. 
 
Características: 
 
 
 Autonomia – têm princípios e regras próprias e especializadas; 
 Instrumentalidade – é o caminho a ser seguido para a obtenção de um 
provimento jurisdicional válido; 
 Normatividade – é formado por normas, de caráter dogmático 
(estabelecidas pelos poderes Executivo e Legislativo) e com codificação 
própria. 
 
Sistemas processuais: 
 
 Inquisitivo – concentra os poderes na figura do juiz, que também atua 
como acusador (não existe a divisão entre acusação, defesa e juiz). É 
realizado na forma escrita, sem contraditório e sigiloso. Confissão é a 
rainha das provas. 
 Acusatório – separa as figuras da acusação, defesa e juiz/ Traz a liberdade 
de atuação para o MP ou a vítima/ Isonomia entre as partes no processo/ 
Liberdade 
 
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 de atuação para a defesa/ Publicidade dos atos do processo/ Existência de 
contraditório/ Sistema de produção de provas (livre convencimento 
motivado)/ Juiz imparcial/ Liberdade é a regra. 
 Misto – é o sistema adotado no Brasil. 
*Investigação preliminar – sistema inquisitivo; 
*Instrução processual – sistema acusatório. 
 
 
Discussão: 
Alguns juristas consideram que o sistema processual brasileiro como acusatório, 
levando em consideração apenas os princípios constitucionais. Entretanto, olvidam-se de 
que o processo penal foi criado sob uma ótica inquisitiva. Vejamos: 
O Código de Processo Penal brasileiro surgiu em 1941, instituído pelo Decreto- 
lei 3689/41. Foi inspirado na codificação processual penal italiana da década de 30, que 
estava sob o regime fascista (tudo para o Estado e tudo pelo Estado. Reduziam-se direitos 
individuais em prol do Estado). 
No Brasil, até a década de setenta adotava-se a presunção de culpabilidade no 
ordenamento jurídico nacional!!! 
Obs.: A analogia no Processo Penal é a forma de auto integração da lei ante a sua 
omissão involuntária. Na esfera processual penal, a analogia goza de ampla aplicação, 
podendo, inclusive, prejudicar o réu (ao contrário do que ocorre no Direito Penal, em 
que a analogia não pode ser utilizada em prejuízo do réu)! 
 
2 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL 
 
 
Esses princípios de DPP fornecem um padrão de interpretação, integração e 
aplicação do direito positivo. São pautados na Constituição Federal – rol exemplificativo. 
Podem estar explícitos no texto constitucional ou implícitos (decorrentes do sistema 
constitucional). Dividem-se em: 
 
*Princípios regentes; 
* Princípios constitucionais processuais explícitos; 
* Princípios constitucionais processuais implícitos; 
* Princípios constitucionais meramente processuais (explícitos ou implícitos). 
 
 
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2.1 PRINCÍPIOS REGENTES 
 
 
 Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III CF): 
 
 
a) aspecto objetivo – para que o indivíduo possa apresentar um 
comportamento condizente com o disposto na lei, devem ser dadas 
condições a ele. Deve ser garantido um mínimo existente ao indivíduo, 
atendendo às suas necessidades básicas, como: saúde, educação, 
alimentação, moradia, etc. 
b) aspecto subjetivo – É o sentimento de respeitabilidade e auto estima 
inerentes ao indivíduo, aos quais não cabe renúncia ou desistência (Ex.: 
Programa No Limite – afrontava a dignidade da pessoa humana). 
 
 Devido processo legal (art. 5º, LIV CF): 
 
 
Garante que o indivíduo só seja processado e punido se houver lei penal anterior 
tipificando a conduta e dispondo uma pena. Representa a união de todos os princípios 
penais e processuais penais necessários para a regularidade do processo penal. 
 
2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS DO PROCESSO PENAL 
 
 
a) Em relação aos indivíduos: 
 
Presunção de inocência ou da não culpabilidade (art. 5º, LVII da 
CF) 
 
 
Baseado na Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 8º, 1ª parte): “Toda 
pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se 
comprove legalmente sua culpa.” 
Inserido pela CF de 1988 (antes era implícito) – de forma mais abrangente – limite 
da presunção de não culpabilidade até o trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória. 
Ônus da prova cabe à acusação – Estado acusação (MP) apresenta provas ao 
Estado juiz sobre a infração penal praticada pelo indivíduo, para a análise do ius puniendi. 
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Liberdade (regra) X Prisão (exceção) 
 
No processo penal brasileiro prevalece o interesse do réu, disso surgem princípios 
consequenciais à prevalência do interesse do réu: In dubio pro reo ou favor rei – existindo 
dúvida razoável sobre a culpabilidade do acusado, o juiz deve decidir em seu favor. (Ex.: 
absolvição por não existir prova suficiente da imputação formulada – art. 386, VII CPP). 
 
A alteração do status libertatis do indivíduo dependerá de prova idônea, 
produzida pelo órgão estatal acusatório, através do devido processo legal. 
 
 
 Imunidade à auto acusação – ninguém está obrigado a produzir prova 
contra si mesmo, podendo o réu manter-se calado (art. 5º, LXIII CF). O 
indivíduo será considerado inocente até que seja provada sua culpa (art. 
5º, § 3º CF). 
 
 Ampla Defesa (art. 5º, LV da CF) 
 
 
O acusado pode utilizar de amplos métodos para se defender da imputação feita 
pela acusação (o acusado é parte hipossuficiente se comparado ao Estado, que possui 
ampla aparelhagem e pleno acesso a informações). 
 
 Auto Defesa + Defesa Técnica = Procedimento Comum 
 
O acusado não pode inovar na tese de defesa em sede de alegações finais. 
Gera inúmeros direitos exclusivos ao réu: revisão criminal (quenão pode ser pro 
societatis. Ex.: sentença fraudada); possibilidade de o juiz desconstituir o advogado 
nomeado pelo acusado, pela falta de capacidade técnica, obrigando o réu a escolher outro 
ou sendo nomeado um defensor dativo. 
 
 Plenitude da defesa (art. 5º, XXXVIII, “a”, da CF) 
 
 
O juiz concede à defesa técnica ampla oportunidade de defender sua tese, mesmo 
que em detrimento da acusação. Realizada no Tribunal do Júri, perante juízes leigos (Ex.: 
possibilidade de inovar a tese de defesa em sede de tréplica). 
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Discussão: aceitação de psicografia como prova. 
 
 
b) Em relação ao processo: 
 
 
 Contraditório (art. 5º, LV da CF) 
 
 
É o direito da acusação e da defesa de terem ciência dos fatos alegados pela parte 
contrária no processo, podendo apresentar sua versão e produzir provas de seu interesse. 
Obs3: Como sempre alguém vai ser o último a falar em um processo, em 
homenagem à ampla defesa, cabendo à defesa a derradeira palavra antes do julgamento. 
 
Equilíbrio entre a pretensão punitiva do Estado / direito à liberdade / 
presunção de inocência 
 
c) Em relação à atuação do Estado: 
 
 
 Juiz natural e imparcial (art. 5º, LIII e XXXVII da CF) 
 
 
O juiz é previamente estipulado por lei (não existe escolha). 
Imparcial – honesto e sem interesses no processo. Se não o for, serão aplicadas 
as exceções de impedimento (vínculo objetivo do juiz com o processo) e suspeição (ânimo 
subjetivo do juiz em relação às partes). 
Proíbe a existência de Tribunal de Exceção (Ex.: Julgamento de Saddam Hussein). 
 
 
Pergunta 1: O juiz pode iniciar a ação penal de ofício? 
 
Pergunta 2: O juiz pode julgar além do que constar na denúncia ou na queixa oferecida contra 
o réu? 
 
3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS DO PROCESSO PENAL 
 
 
a) Concernente à relação processual: 
 
 
 Princípio do duplo grau de jurisdição 
 
 
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A parte pode buscar o reexame da causa por órgão jurisdicional superior, 
conforme prevê a Constituição Federal, que estrutura o Poder Judiciário em instâncias. 
 
b) Concernente à atuação do Estado: 
 
 
 Princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e do princípio 
consequencial da indisponibilidade da ação penal 
 
O Ministério Público é o titular da ação penal, sendo repassada essa titularidade 
excepcionalmente à vítima. 
 
 
O princípio da obrigatoriedade determina que nem o órgão acusatório (MP) e nem 
o investigativo (Polícia Judiciária) tem a faculdade de investigar e processar 
(respectivamente) o autor da infração penal, mas sim o dever de fazê-lo. 
 
O princípio da indisponibilidade da ação penal significa que uma vez ajuizada 
a ação penal, o promotor não pode dela desistir (art. 42 CPP). 
 
Exceções: Transação penal (infrações de menor potencial ofensivo – pena 
máxima não superior a 2 anos); Suspensão condicional do processo (infrações penais 
de pena mínima inferior a 1 ano – suspensão por 2 a 4 anos, desde que não tenha sido processado 
ou condenado por outro crime, conforme requisitos). 
 
 Princípio da oficialidade 
 
 
As tarefas de investigar, processar e punir os autores das infrações penais cabem 
ao Estado. 
 
Polícia Judiciária MP Judiciário 
investiga ingressa com a ação direito ao caso concreto 
 
 Princípio da intranscendência 
 
 
A ação penal não deve transcender a pessoa de quem foi imputado o fato 
criminoso (Decorre do princípio penal da responsabilização pessoal e individualizada). 
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 Princípio da vedação do duplo processo pelo mesmo fato 
 
 
A aplicação de uma sanção penal ou da absolvição diante de uma infração penal, 
exclui a possibilidade do agente ser novamente processado, independentemente do 
resultado (Caso contrário estar-se-ia ofendendo a dignidade da pessoa humana). 
Obs4: Ne bis in idem: não se pode apenar o indivíduo pelo mesmo fato mais de 
uma vez (Ex.: estupro e ameaça). 
 
4. PRINCÍPIOS MERAMENTE PROCESSUAIS 
 
 
*Concernente à relação processual: 
 
 
 Princípio da busca da verdade real 
 
No processo penal deve-se buscar a realidade dos fatos mais próxima do ocorrido. 
A busca da verdade real não quer dizer a possibilidade ilimitada de provas, pois a 
vedação deve ser respeitada (ex: interceptação telefônica sem autorização). 
 O juiz deve buscar provas, tanto quanto as partes, não se contentando ao que foi apresentado 
apenas. Ex: Art. 209 CPP – testemunhas indicadas. 
Esse princípio possibilita que o juiz defira à parte ouvir mais testemunhas do que 
a lei permite (com base na busca da verdade real). 
Obs6: Ainda que o réu admita a acusação que lhe está sendo imputada, o juiz 
determinará a produção de provas, para não levar um inocente ao cárcere. 
 
 Princípio da oralidade 
A oralidade no processo consiste na prevalência da palavra sobre a escrita em 
algumas fases do processo (ex: alegações finais). 
Obs: Princípios consequenciais do princípio da oralidade: 
 
 Concentração – toda a coleta de provas e o julgamento deve ocorrer em 
uma audiência ou no menor número delas; 
 Imediatidade – o juiz deve ter contato com a prova produzida, formando 
mais facilmente sua convicção; 
 Identidade física do juiz – juiz que presidiu a instrução e que coletou 
provas deve julgar o feito, vinculando-se à causa. 
 
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 Princípio da indivisibilidade da ação penal privada 
 
 
O ofendido, ao oferecer a queixa, não poderá escolher os agressores contra quem 
ingressará com a ação penal, pois ela é indivisível. 
 
 Princípio da comunhão da prova 
 
 
Ainda que produzida por uma das partes, a prova pertence ao processo, podendo 
ser utilizada por todos os integrantes da ação penal, para apurar a verdade real dos fatos 
e dar o devido deslinde à causa. 
 
*Concernente à atuação do Estado: 
 
 
 Princípio do impulso oficial 
 
 
Iniciada a ação penal, pelo Ministério Público ou pelo ofendido, o juiz deve 
movimentá-la até o final, conforme o procedimento, proferindo a decisão. 
No caso da ação penal privada, regida pelo princípio da oportunidade, prevalece 
o impulso oficial, não se admitindo a paralisação do feito, sob pena de perempção 
(abandono da causa), extinguindo a punibilidade do acusado (art. 60 CPP). 
A justificativa para tal ato é que embora a ação penal seja privada e de livre 
propositura pelo ofendido, ao ser ajuizada, não pode se perpetuar, sob pena de causar 
constrangimento indefinido ao querelado. 
 
 Princípio da persuasão racional 
 
 
O juiz forma seu convencimento de forma livre, mas deve apresentá-lo de forma 
fundamentada nas decisões do processo. 
Exceção ao princípio da persuasão racional: Tribunal do Júri (jurados decidem 
sem apresentar suas razões). 
 
 Princípio da colegialidade 
Decorre do princípio do duplo grau de jurisdição, em que a parte tem direito de 
recorrer e obter a decisão de um órgão colegiado (reavaliada por um grupo de 
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magistrados). 
 
5. COMPARAÇÃO ENTRE A JUSTIÇA RETRIBUTIVA E A RESTAURATIVA 
 
 
 
6. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL 
 
*Literal – utiliza o exato significado das palavras contidas no texto legal (Ex: Art. 
4º CPP – Polícia Judiciária); 
*Restritiva – restringe o alcance da lei (Ex: Art. 271 CPP – assistente de 
acusação); 
*Extensiva – amplia o alcance da lei (EX: Art. 34 CPP – Direito de queixa nas 
Ações Penais Privadas/ vítima entre 18 e 21 anos) Representação (se pode o mais, 
pode o menos); 
*Teleológica-Sistemática – busca a finalidade da norma em comparação com as 
demais dentro do sistema em que está inserida (Ex: Art. 28 CPP – pedido do 
arquivamento do MP/não demonstra a obrigatoriedade da Ação Penal. Mas se for 
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analisada junto com o Art. 24 CPP – AP Pública será promovidapelo 
MP/obrigatoriedade da AP); 
*Analógica – integração da norma para suprir lacunas (Ex: Art. 3º CPP). 
 
 
 
 
7. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO 
 
Existem três sistemas sobre a nova lei processual penal no tempo: 
 
• Sistema da unidade processual – a lei que começar a ser aplicada no processo 
será aplicada até o seu final; 
 
• Sistema de fases processuais – a lei acompanha o processo até o final de sua fase 
(postulatória, instrutória e decisória); 
 
• Teoria do isolamento dos atos processuais, Teoria da Aplicação Imediata ou 
Teoria do Tempus Regit Actum – ADOTADA NO BRASIL 
 
ART. 2º CPP – A LEI PROCESSUAL PENAL APLICAR-SE-Á DESDE LOGO, 
SEM PREJUÍZO DA VALIDADE DOS ATOS REALIZADOS SOB A 
VIGÊNCIA DA LEI ANTERIOR. 
O dispositivo demonstra a adoção do Princípio do Tempus Regit Actum ou da 
Aplicação Imediata – o ato processual será regulado pela lei vigente na data em que ele 
for praticado. 
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Desta forma, pode-se concluir que para a aplicação da Lei Processual Penal não 
importa: 
 
Quando o processo se iniciou; 
OU 
quando o fato típico foi praticado. 
 
 
Da aplicação do princípio do Tempus Regit Actum derivam duas consequências: 
 
I) A lei processual aplica-se de forma imediata, mesmo aos processos já em 
andamento, iniciados sob a égide da lei anterior; 
II) Os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior são válidos e não 
são atingidos pela nova lei processual, ainda que seja mais benéfica ao réu (não há 
retroatividade na lei processual penal). 
 
Exceções ao princípio da aplicação imediata da Lei Processual Penal: 
 
 
1) Exceção legal: 
 
Art. 3º, LICPP “O prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para a interposição de 
recurso, será regulado pela lei anterior, se esta não prescrever prazo menor do que o fixado 
no Código de Processo Penal.” 
 
2) Exceção doutrinária e jurisprudencial: 
 
• Norma mista ou híbrida (posição majoritária): EXCEPCIONALMENTE 
RETROAGE P/ BENEFICIAR O RÉU 
 
 
 
 
 
 
 
 
RETROAGE NÃO RETROAGE 
 
Obs: Normas de garantia (posição minoritária) – aceitam que haja a retroatividade da lei 
processual penal se existir a diminuição de garantias processuais ao réu. (ESSA TEORIA 
NÃO É ADOTADA NO BRASIL) 
Lei Penal Material + 
ligada ao direito de punir do Estado 
(crime e punibilidade) 
Lei Processual Penal 
rel. jurídica entre as partes no processo 
(prisão, citação, provas, procedimentos) 
Interpretação da Lei Processual Penal 
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8. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO 
 
 
Princípio da absoluta territorialidade (locus regit actum): 
 
Aos atos processuais praticados em território brasileiro, aplicar-se-á a lei brasileira. 
(soberania nacional) 
Em relação à lei processual penal no espaço, diz-se que foi adotado o princípio da 
absoluta territorialidade, pois não se admitem as hipóteses de: 
*extraterritorialidade – aplicação da lei processual penal brasileira a ato processual 
praticado fora do território nacional; 
 *intraterritorialidade – aplicação da lei processual penal estrangeira a ato processual 
praticado no território nacional. 
 
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este 
Código, ressalvados: 
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; 
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de 
Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do 
Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; 
III - os processos da competência da Justiça Militar; IV 
- os processos da competência do tribunal especial; V - 
os processos por crimes de imprensa. 
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos 
IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. 
 
Pergunta: A todo crime praticado no Brasil será aplicada a Lei Processual Penal 
Brasileira? 
Possibilidade de que não seja aplicada a lei processual penal brasileira a um crime 
ocorrido no território brasileiro: 
Art. 1º, inciso I Tratado 
Convenção 
ou regras de Direito Internacional 
ratificados pelo Brasil. 
 
É o que ocorre, por exemplo, nos crimes praticados por agentes detentores de 
Interpretação da Lei Processual Penal 
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imunidade diplomática, praticados em território brasileiro, que não serão processados de 
acordo com a lei processual penal brasileira. 
Obs1: O Diplomata possui imunidade em território nacional para a apuração de 
infração penal quando estiver a serviço de seu país de origem, conforme a Convenção de 
Viena. 
 Obs2: O Cônsul possui imunidade em território nacional, desde que cometa infração 
penal pertinente às suas funções e no território do seu consulado, conforme previsto na 
Convenção de Viena. 
 
Excepcional afastamento da jurisdição brasileira 
 
 
Tratado é a formalização de um acordo solene. (Ex: Tratado de paz entre dois países) 
 
Convenção é o tratado que cria normas gerais. (Ex: Convenção sobre o mar 
territorial). 
 
As demais regras de Direito Internacional não abrangidas pelos Tratados e 
Convenções, podem ser aplicadas excepcionalmente em território brasileiro, como por 
exemplo, as decisões tomadas pelas organizações internacionais. 
 
Outra possibilidade de que não seja aplicada a lei processual penal brasileira a um 
crime ocorrido no território brasileiro: 
Art. 5º, §4º CF – “O Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal internacional 
cuja criação tenha manifestado adesão.” 
 
Apesar da infração penal ter sido cometida no território nacional, pode o acusado 
ser entregue à jurisdição estrangeira, desde que não se trate de brasileiro (Art. 5º , LI da 
CF). 
Art. 5º, LI da CF – não será extraditado o brasileiro nato; (poderá ser extraditado, o 
brasileiro naturalizado, por crime comum praticado antes da naturalização; ou após sua 
naturalização, pelo envolvimento no tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins). 
 
 
 
 
Existência de Conflito entre um Tratado e o Direito Interno 
 
Interpretação da Lei Processual Penal 
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• Teoria dualista: há duas ordens jurídicas diversas, a internacional e a interna. Para 
que um tratado possa ser admitido como lei interna, deve ser “transformado” em 
direito interno; 
 
• Teoria monista: adotada no Brasil. Para ela há apenas uma ordem jurídica. Nela 
prevalece o direito interno sob o internacional. O Tratado só pode ser aplicado com 
primazia à lei federal se for mais recente e jamais pode entrar em conflito com a 
Constituição Federal. 
 
Normas internacionais relativas aos direitos humanos fundamentais 
Ingressam no Direito Interno com status de Emenda Constitucional. 
Art. 5º, § 2º CF – Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Contudo, o art. 5º, §3º da CF dispõe que para os tratados e convenções 
internacionais sobre direitos humanos sejam recebidos no ordenamento jurídico com o 
status de Emenda Constitucional devem: 
ser aprovados em cada Casa do Congresso Nacional; 
em dois turnos; 
por 3/5 dos votos dos respectivos membros. 
 
 
Exceções à territorialidade do CPP 
 
 
Art. 1º, inciso III 
Processos de Competência da Justiça Militar; 
 
Art. 1º, inciso IV 
Processos de Competência do Tribunal Especial (trata-se do Tribunal de Segurança 
Nacional previsto na CF de 1937, extinto pela CF de 1946); 
Art. 1º, inciso V 
Processos por Crime de Imprensa (a Lei de Imprensa nº 5.250/67 não foi recepcionada pela 
atual CF/ ADPF nº 130). 
 
 
 
 
Interpretação da Lei Processual Penal 
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Exceções à territorialidade do CPP 
 
Art. 1º, inciso II 
Processos de julgamento dos crimes de responsabilidade: 
 
• do Presidente da República; 
• dos Ministros de Estado (nos crimesconexos com os do Presidente da República); 
• dos Ministros do STF. 
 
Interpretação da Lei Processual Penal 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
Brasil. Código de Processo Penal. Organizaçã Ricardo Vergueiro Figueiredo - 26ª 
Ed. São Paul: Rideel, 2020. 
 
GRECO FILHO, Vicente. Manual do Processo Penal - 10ª Ed. São Paul: Saraiva, 
2013. 
 
 
MARQUES, Frederico. Elementos de Direito Processual Penal – 3ª ed. Campinas: 
Editora Millennium, 2009. 
 
 
NUCCI, Luiz Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal - 
12ª Ed. São Paulo: Forense, 2015. 
 
 
NUCCI, Luiz Guilherme de Souza. Prática forense penal – 15ª Ed. São Paulo: 
Forense, 2018. 
 
 
RAMIDOFF, Mario Luiz. Elementos do Processo Penal – 2ª Ed.Curitiba: 
Intersaberes, 2021. 
 
 
SILVA, Edilson Freire da. Prática Penal – 8ª ed. São Paulo: Editora Rideel, 2020. 
 
 
TÁVORA, Nestor. Curso de direito processual penal – 12ª ed. Salvador: Editora Jus 
Podium, 2017.

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