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Natália Furlaneto DEFINIÇÃO Adolescência: OMS: 10-19 anos (considerada mais adequada para a área da saúde). ECA: 12-18 anos. ASPECTOS ÉTICOS CONSULTA A consulta deve ocorrer em clima de confiança, respeito, sigilo (existe desde Hipócrates) e autonomia. Médico: pediatra ou hebiatra (Hebe= deusa grega da juventude). Possibilidade de ser dividida em 3 momentos (pais + adolescente, sozinho, somente com os pais). Direito de ser atendido sozinho quando procura médico, desde que capacitados de compreender seus problemas e de resolvê- los. No exame físico: ter um profissional de enfermagem na sala de exame, preservando o médico de eventuais acusações de abuso. AUTONOMIA Evolução dos tempos e nova ética: indivíduo autônomo responsável e capaz de avaliar seus problemas e optar sobre procedimentos médicos (diagnósticos terapêuticos e profiláticos), assumindo sua responsabilidade sobre o tratamento proposto. Princípio da autonomia: sugere que, em determinadas circunstâncias, a única pessoa que tem direito de escolher o que for mais conveniente para si mesma é o próprio adolescente. MENOR MADURO: conceito surgiu nos EUA e aderido pelo BR em 2000. Ainda não está na legislação. O médico deve, portanto, decidir se seu paciente é ou não menor maduro; se ele for julgado como tal, o adolescente terá autonomia para dar seu assentimento à assistência ou recusá-la, mesmo à revelia dos pais, devendo constar no prontuário. A decisão do médico sempre prevalecerá; assim, sua preocupação será maior ainda maior. Termo de assentimento é dado por adolescentes ainda não totalmente capazes para tomar decisões sobre sua vida futura. Termo de consentimento é fornecido por pessoas adultas já totalmente capazes para tomar decisões. A participação da família no processo de atendimento do adolescente é desejável, mas os limites desse envolvimento precisam ficar claros para a família e para o jovem. O adolescente deve ser incentivado a envolver sua família na solução de seus problemas, entretanto, a ausência dos pais ou responsáveis não deve impedir seu atendimento médico em consulta inicial ou nos retornos. O adolescente mais jovem, de 10 a 14 anos, frequentemente ainda não tem capacidade de assumir todas as responsabilidades, de modo que não poderá ser visto sozinho durante toda a consulta. Deve-se perguntar-lhe se a mãe ou outro responsável poderia entrar, e geralmente a resposta é positiva. Ele pode, se desejar, entrar no início da consulta com o responsável e, depois, ficar sozinho. Em situações consideradas de risco, como gravidez, abuso de drogas, não adesão a tratamentos recomendados, doenças graves, risco à vida ou à saúde de terceiros, e na realização de procedimentos de alguma complexidade ou risco, como intervenções cirúrgicas e uso de anestésicos, tornam-se necessários a participação e o consentimento dos pais ou responsáveis. Em todos esses casos que caracterizam a necessidade de quebra de sigilo médico, o adolescente deve ser informado anteriormente, justificando-se os motivos para essa atitude. O médico que atende, acolhe e tem empatia pelo adolescente é um indivíduo privilegiado, porque poderá, frequentemente, mudar o futuro desses jovens e prevenir os malefícios. Afinal, os adolescentes de hoje serão os adultos de amanhã. QUEBRA DE SIGILO Em qualquer faixa etária, há 3 condições que justificam a quebra do sigilo: 1- Dever legal: por determinação legal. Ex: preenchimento de atestado de óbito; formulário de notificação compulsória. 2- Justa causa: situação excepcional, apoiada em razões legítimas e de interesse/procedência coletiva. Em pediatria, há algumas situações que, claramente, são de justa causa para a quebra do sigilo médico: Gravidez; Abuso de álcool ou drogas; Qualquer forma de abuso ou violência; Existência de doença grave; Recusa de tratamento; Tratamento de alta complexidade; Risco para menor ou para terceiros. 3- Autorização do paciente: como detentor do direito ao sigilo, pode dispô-lo da maneira que melhor lhe aprouver. SEMPRE antes deve-se informar ao paciente que o segredo será quebrado e o motivo. EXCETO nos casos em que a informação possa trazer risco para o paciente ou para terceiros. É PRECISO oferecer a oportunidade dele mesmo contar. Por que quebrar o sigilo Proteção do próprio paciente, de terceiros ou da coletividade. MATURAÇÃO ESQUELÉTICA As meninas iniciam a puberdade mais cedo (pode haver tardias) 3 tipos de maturação (de acordo com o ritmo de crescimento): Maturadores rápidos; Maturadores médios; Maturadores lentos: estirão puberal mais tardio e crescem menos (velocidade < 5cm/ano, que é a de alerta a partir dos 3,5 anos para suspeita de doença endócrina deficiência de GH ou hipotireoidismo). Esses tipos refletem-se nos estirões puberais rápidos e médios têm picos de crescimento mais ↑. COMO AVALIAR A MATURAÇÃO Radiografia de mão e punho esquerdos (NÃO radiografar as duas mãos pode alterar a imagem e distorcer a avaliação). Natália Furlaneto Por que esquerda Métodos de avaliação foram baseados desse lado (ex: Tanner [para raio x] e Greulich-Pyle [mais usado; comparar a radiografia com as imagens de um atlas]). FATORES QUE AUMENTAM A IDADE ÓSSEA Hipertireoidismo; Obesidade; Hormônios sexuais. OBS: maioria das doenças atrasa a idade óssea. QUANDO O CRESCIMENTO PARA Fechamento completo das epífises indica que a pessoa parou de crescer. O raio x indica quanto ainda o paciente pode crescer. Ex: 2 meninos de mesma idade e mesma altura, mas um com idade atrasada e outro com idade adiantada o menino com idade atrasada tem maior probabilidade de atingir a idade adulta com maior altura. BAIXA ESTATURA 2 problemas envolvendo baixa estatura, sem ser por doença: 1. Baixa estatura familiar (ou seja, filho de pais baixos). 2. Maturadores lentos (alguns chamam de constitucional, o que parece equivocado, pois o baixo familiar também é constitucional). CRESCIMENTO ESQUELÉTICO OU ESTIRAO PUBERAL O crescimento esquelético também conhecido como estirão puberal, o adolescente, nessa fase, apresenta grande aquisição pôndero-estatural, chegando a ganhar 20% de sua estatura final em um período de 24 a 36 meses e cerca de 50% do seu peso adulto. O crescimento dos membros inferiores tende a ocorrer primeiro, seguindo uma direção distal-proximal (ou seja, primeiro pés e mãos, seguido de pernas e membros superiores), o que confere um aspecto desproporcional ao corpo do adolescente, que volta a se mostrar proporcional com o crescimento do tronco, que é a região que mais cresce nessa fase. Há uma alteração na fase de ocorrência desse estirão quando se trata do gênero, visto que, nos meninos, esse incremento estatural ocorre entre os 10 e 16 anos, com a velocidade máxima de crescimento acontecendo entre os 13 e 14 anos, podendo alcançar cerca de 10 cm por ano. Já nas meninas, o estirão tem início entre os 9 e 14 anos, com a velocidade máxima ocorrendo entre os 11 e 12 anos, podendo atingir cerca de 8 a 9 cm por ano. Após isso, há uma desaceleração do ganho estatural e a parada do crescimento, para os meninos ocorrendo entre os 17 e 18 anos, e, para as meninas, entre os 15 e 16 anos. É importante pontuar que, pelo fato da estatura ser influenciada por fatores genéticos, há um cálculo para se avaliar a faixa de estatura final do adolescente, com base na herança genética dos pais. Assim, calcula-se o alvo genético com a seguinte fórmula: AVALIAÇÃO NA PUBERDADE Costuma-se utilizar a avaliação das características das mamas e dos pelos púbicos nas meninas e das características dos genitais e dos pelos púbicos nos meninos. MAMAS (MENINAS) Estágio 1: pré-adolescente, apenas elevação do mamilo. Estágio 2: estágio do botão mamário, elevação da mama e do mamilo, como um pequeno monte. O diâmetro da aréolaapresenta-se um pouco maior que no estágio 1. Estágio 3: tanto a mama quanto a aréola estão maiores e mais elevadas que no estágio 2, mas sem distinção. Estágio 4: a aréola e a papila formam um contorno secundário, destacando-se do resto da mama. Estágio 5: estágio maduro, apenas o mamilo se projetando, com a aréola seguindo o contorno da mama. GENITAIS (MENINOS) Estágio 1: pré-adolescente, testículos, escroto e pênis de tamanho e forma infantis. Estágio 2: escroto apresenta-se levemente aumentado, com pele mais escura e mudança de textura. Pênis sem aumento ou pouco aumentado. Estágio 3: pênis apresenta aumento, principalmente em comprimento. Escroto maior que no estágio anterior. Estágio 4: pênis aumentado em comprimento e largura, e desenvolvimento da glande. Escroto maior que no estágio 3; pele do escroto mais escura e enrugada que nos estágios anteriores. Estágio 5: genitália adulta em tamanho e forma. PELOS PÚBICOS (MENINAS E MENINOS) Estágio 1: pré-adolescente, sem pelos púbicos. Estágio 2: pelos finos, longos, lisos ou curvos, esparsos, mas com maior concentração próximo à base do pênis ou ao longo dos lábios. Estágio 3: mais escuros, espessos e curvos, os pelos espalham- se pelo púbis. Estágio 4: pelos do tipo adulto, mas em menor quantidade. Não atingem as coxas. Estágio 5: pelos do tipo adulto em quantidade e tipo. Natália Furlaneto CORRELAÇÕES Meninas: M2: telarca entra na puberdade. M2 e M3 estirão do crescimento (9-14 anos, com pico em 11-12 anos). Crescem 8 cm/ano. M4 menarca. Meninos: G2: volume testicular atinge 4ml entra na puberdade. G3 e G4 estirão do crescimento (10-16 anos, com pico em 13-14 anos). Crescem 10 cm/ano. MARCOS DA PUBERDADE MENINAS 1º evento: telarca. Crescimento: puberdade começa com o aumento da velocidade de crescimento, e a menarca normalmente ocorre quando a velocidade já ultrapassou o pico. MENINOS 1º evento: aumento testicular (testículo com 4cm3). Tamanho avaliado pelo orquidômetro de Prader, um conjunto de bolas de forma elíptica, que vão de 1-25 cm3. Até 3 cm3: o menino ainda tem características infantis. Crescimento: o estirão puberal tem início quando o volume testicular atinge 8 cm3. FATORES QUE INFLUENC IAM E CONTROLAM O CRESCIMENTO O primeiro fator que se deve considerar na avaliação do crescimento é a influência genética. Se não houver alguma condição de saúde que interfira no crescimento, crianças filhas de pais altos serão altos, e filhos de pais baixos serão baixos. No entanto, essa herança não é simples e considera-se que seja uma herança poligênica. Dessa forma, filhos de pais de alturas médias, mas que sejam filhos de pais de alturas díspares (um alto, outro baixo), dependendo da distribuição dos genes, poderão ter filhos baixos e altos. Uma forma de se avaliar a variabilidade da altura dos filhos em relação à altura dos pais é determinar o alvo parental. Esse alvo é estabelecido calculando-se a média da altura corrigida dos pais. Essa altura é calculada utilizando-se os 13 cm citados anteriormente. Ao avaliar um menino, deve-se masculinizar a altura da mãe, ou seja, acrescentar 13 cm à altura dela; se for menina, deve- se feminilizar a altura do pai, diminuindo 13 cm. Após a soma das duas alturas resultantes, calcula-se a média. Para determinar a variabilidade da altura dos filhos, existem diferentes recomendações, mas a preferência é pelas de Tanner, que as propôs inicialmente. No menino, somam-se e subtraem-se 10 cm, e nas meninas, somam-se e subtraem-se 9 cm. Noventa e cinco por cento dos filhos estarão dentro dessa variação. Ao se analisar a altura da criança em relação ao alvo, deve-se adotar a idade óssea em vez da cronológica. Nutrição, doenças e condições sociais influenciam o crescimento, e o papel do pediatra é tentar identificá-los para que não o prejudiquem. O crescimento é controlado por uma série de hormônios que atuam em etapas específicas, e essa atuação é geneticamente controlada. Os principais hormônios são o GH, insulin like growth factor I (IGFI), hormônio tireoidiano e os hormônios sexuais, estes inclusive responsáveis pelo estirão puberal. Qualquer alteração no crescimento que não seja clinicamente identificável é indicação para referir-se a criança para um especialista. A maturação também é geneticamente controlada. Assim, na anamnese, o pediatra deve procurar identificar se os pais ou um deles foi maturador lento ou avançado. De modo geral, é mais difícil em relação ao pai do que à mãe, pois esta com frequência informa a idade da menarca; já para o pai, não existe um evento puberal tão marcante. Principais doenças que afetam o crescimento Smith apresenta uma classificação didática sobre as deficiências de crescimento: 1. Variações da normalidade: baixa estatura familiar e maturador lento, também familiar. 2. Deficiência de crescimento por alterações esqueléticas: anomalias cromossômicas (Turner, Down), mutações genéticas, como displasias ósseas (p.ex., acondroplasia e hipocondroplasia), e síndromes de etiologia desconhecida. 3. Deficiências secundárias, de início pré-natal ou pós-natal. As de origem pré-natal podem ser consequentes ao tamanho da mãe, nível socioeconômico baixo, má nutrição, hipertensão, drogadição, consumo de álcool, hábito de fumar e infecções como sífilis, toxoplasmose, etc. As de origem pós-natal são alterações metabólicas, hipotireoidismo, deficiência do hormônio de crescimento, uso prolongado de corticosteroides, desnutrição e outras. REGULAÇÃO ENDÓCRINA DO CRESCIMENTO Na fase inicial da puberdade há elevação dos níveis séricos dos esteroides sexuais e aumento na frequência e na amplitude dos pulsos de GH, com aumento de duas a até dez vezes a quantidade de GH secretada a cada pulso, o que aumenta a produção de IGF-1 pelo fígado. Age, também, em outros órgãos, como musculatura cardíaca, diafragma, adipócitos e sistema hematopoiético, o que é essencial para adequar esses órgãos às novas necessidades impostas pelo crescimento. Durante a puberdade os esteroides sexuais, principalmente os estrógenos, são essenciais para acelerar o crescimento por meio da ação em receptores específicos da placa epifisária, promovendo crescimento, mas também decretando o fechamento das epífises. Natália Furlaneto O crescimento na adolescência é desproporcional, iniciando-se, primeiramente, pelas extremidades distais, o que dá ao adolescente um aspecto peculiar nessa fase. Após o crescimento dos pés e mãos, ocorre o crescimento das extremidades proximais e, por último, o do tronco, retomando, então, a harmonia e a proporcionalidade. As meninas, além de iniciarem a puberdade mais cedo, apresentam um pico de velocidade de crescimento (PVC) mais precocemente que os meninos, entre os estádios 2 e 3 de Tanner. No entanto, desaceleram mais cedo e, após a menarca, o restante do crescimento esperado é entre 5 e 6 cm. Os meninos apresentam um PVC entre os estádios 3 e 4 de Tanner e acabam desacelerando mais tarde. Existe uma estreita relação da altura da criança, no início da puberdade, com a sua altura final. Em geral, os adolescentes apresentam um ganho de altura, durante os anos puberais, que varia de 20 a 25 cm nas meninas e 25 a 30 cm nos meninos. PUBERDADE NORMAL O desenvolvimento e a maturação sexual podem ser acompanhados utilizando-se os critérios de Marshall e Tanner. PUBERDADE FEMININA: inicia-se em média aos 9,7 anos. A primeira manifestação clínica na menina é o aparecimento do broto mamário (telarca) em resposta ao início da produção estrogênica pelos ovários. Começam a apresentar mudanças na forma corporal com aumento dos depósitos de gordura na região dos quadris e das mamas. A menarca ocorre cerca de 2 anos após o início da puberdade (M2), geralmente no estágio M4 deTanner. O crescimento é limitado a, em média, 4 a 6 cm nos anos subsequentes. Os ciclos iniciais da adolescente podem apresentar certa irregularidade nos primeiros 2 a 4 anos (ciclos anovulatórios). PUBERDADE MASCULINA: inicia-se em média aos 10,9 anos. No menino, observa-se como primeira manifestação o aumento de volume testicular atingindo 4 mL ou cm. Ocorre acentuação do crescimento biacromial, aumento da massa muscular, da força e da resistência física. A primeira ejaculação (semenarca) ocorre mais tardiamente, quando os testículos atingem 10 a 12 mL de volume, algumas vezes durante o sono (polução noturna). Mais da metade dos meninos tem ginecomastia puberal transitória, tendendo a desaparecer entre 1 e 2 anos. No final da puberdade ocorre alteração no timbre da voz pela ação hormonal na laringe. PUBERDADE PRECOCE Por definição clássica, puberdade precoce ocorre quando o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários acontece antes dos 8 anos em meninas e antes dos 9 anos em meninos. O estabelecimento dessas idades de corte para o início da puberdade decorre do aumento do risco para causas orgânicas, quando a puberdade é desencadeada abaixo dessas faixas. No sexo feminino a puberdade precoce central (PPC) tem origem idiopática em 90% dos casos, por ativação precoce do eixo HHO, manifestando-se inicialmente pelo desenvolvimento das mamas. No sexo masculino, 70% são de causa orgânica. O desencadeamento da PPC tem origem genética fundamentada, pois em estudos familiares foi evidenciado que em 1/4 dos casos havia, pelo menos, mais um familiar acometido. Os estudos genéticos identificaram, em alguns casos, supressão ou ativação de peptídeos, que seriam responsáveis pela ativação precoce do eixo HHO. As causas secundárias de PPC incluem exposição crônica a esteroides sexuais usados para tratamento de outras doenças e a síndrome de Mune-Albright (classicamente definida pela tríade clínica de displasia fibrosa óssea (FD), manchas café-com-leite na pele e puberdade precoce (PP)). Mais recentemente, tem sido estudado o papel dos chamados disruptores endócrinos, substâncias presentes em plásticos, solventes, pesticidas, cosméticos e poluentes industriais que, por sua ação estrogênica ou antiandrogênica, podem causar diversos efeitos na fisiologia neuroendócrina. A puberdade precoce pode ser de origem central, dependente de gonadotrofinas, ou periférica, independente das gonadotrofinas. Outra classificação importante diz respeito à concordância dos caracteres sexuais com o sexo do indivíduo. Então, pode ser de padrão isossexual, normalmente central ou heterossexual, de causa periférica (virilização ou feminização). A base do tratamento da PPC é o bloqueio da produção de gonadotrofinas com objetivo de estabilizar ou fazer regredirem os caracteres sexuais secundários e desacelerar a maturação esquelética para preservar a estatura dentro do alvo familiar. PUBERDADE TARDIA OU ATRASO PUBERAL Considera-se como atraso puberal a falta de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários aos 13 anos de idade nas meninas e 14 anos nos meninos, ou seja, ausência de broto mamário e testículo menor que 4 mL, respectivamente. Tem como causa mais comum o atraso constitucional do crescimento e da puberdade (ACCP), condição duas vezes mais frequente nos meninos do que nas meninas, com herança genética consistente com padrão autossômico dominante. Tanto a puberdade quanto a maturação óssea e o crescimento estão atrasados por falta de ativação do eixo HHO. O exame clínico deve ser normal para a idade óssea e sem alterações olfativas. O diagnóstico será confirmado definitivamente quando ocorrer o desenvolvimento puberal, pois quando não ocorre espontaneamente, pode se tratar de hipogonadismo. Os exames laboratoriais disponíveis atualmente podem não fazer a distinção entre as duas situações. A dosagem de inibina B basal pode se tornar uma alternativa, mas são necessários maiores estudos para que possa vir a fazer parte das rotinas clínicas. As causas patológicas de atraso puberal podem ser classificadas, do ponto de vista bioquímico, em hipogonadotrófica ou hipergonadotrófica. Nos meninos, o hipogonadismo hipogonadotrófico, além da ausência de caracteres sexuais e de desenvolvimento testicular, apresenta baixos níveis séricos de testosterona e concentrações normais ou baixas dos hormônios FSH e LH, sejam basais ou após estímulo com GnRH injetável. Nas meninas, ocorre ausência de desenvolvimento puberal aos 13 anos de idade e baixos níveis de FSH e LH. Lesões infiltrativas, infecciosas e traumas são causas de pan- hipopituitarismo. O uso de análogos do GnRH também induz atraso puberal. A anorexia nervosa é a principal causa em meninas. Algumas doenças sistêmicas que cursam com balanço energético negativo também podem causar atraso puberal de origem central. O papel das influências ambientais tem que ser considerado quando do diagnóstico de atraso puberal. A prática de exercícios intensos está claramente implicada em atraso puberal. A relação entre os chamados disruptores endócrinos, principalmente os ftalatos, e o atraso puberal tem sido objeto de vários estudos, porém, ainda sem conclusões definitivas até agora. CONSULTA MÉDICA PRINCIPAIS MOTIVOS DE CONSULTA: queixas físicas (dores musculares, cefaleia, tontura, cansaço, distúrbios digestivos e problemas respiratórios), dificuldades de ajustamento social na escola, no trabalho ou com os companheiros, transtornos da conduta ou mau rendimento escolar e dificuldades na área da sexualidade ou por queixas psicológicas, tais como preocupações, tensão e nervosismo, distúrbios do sono e da alimentação. PACIENTE ACOMPANHADO DOS PAIS/FAMILIARES Devem-se observar aspectos do funcionamento do grupo familiar e de seu relacionamento. É essencial que o adolescente perceba que ele é o centro da consulta, que a família está ali para complementar. Os pais costumam prestar informações mais claras sobre a vida pregressa do jovem, inclusive sobre o motivo da consulta. Dessa forma, na presença dos pais investiga-se antecedentes familiares e individuais, hábitos de vida, educação, trabalho e início do surgimento dos sinais de maturação sexual. PACIENTE SOZINHO Natália Furlaneto É importante informar ao jovem que em algum momento pode ser necessária à presença dos pais, para informações sobre algo que ele desconheça. Além disso, também deve ficar claro que o sigilo será quebrado em situações graves. Por outro lado, o jovem deve sempre ser encorajado a discutir seus problemas com seus familiares ou responsáveis, com ou sem a presença do profissional de saúde. Dessa forma, na ausência dos pais/familiares investiga-se sexualidade e hábitos sexuais, uso e abuso de drogas, condutas agressivas e expectativas com o futuro. De 10 a 14 anos: início da puberdade; em geral surgem dúvidas referentes ao crescimento e desenvolvimento, as transformações corporais, aos desafios em lidar com um corpo sexuado, que perde suas características infantis, além de questões psicológicas e sociais que os atormentam. Nesse grupo, as mortes violentas representam mais de 30% do total de óbitos em adolescentes brasileiros, sendo os acidentes de transporte os mais prevalentes, seguidos de afogamentos e homicídios. De 15 a 20 anos: aqueles que já enfrentaram o início da adolescência preocupam-se principalmente com as dificuldades impostas pela escolarização, o projeto vocacional e as relações sociais com os companheiros do mesmo sexo e do sexo oposto. A autoimagem pode sofrer transtornos por problemas orgânicos. Problemas relativos ao exercício da sexualidade são frequentes e necessitam ser conduzidos com perícia para prevenção de danos orgânicos e psicológicos. Os comportamentos de risco e o uso de drogas lícitas e ilícitas desestabilizam as relações sociais e familiares e o êxito escolar, podendo levar ao aumento da morbidade e da mortalidade. Nesse grupo, os eventosviolentos são responsáveis por mais de 70% dos óbitos, com prevalência dos homicídios, seguidos de acidentes de transporte. Entre as mulheres, as mortes decorrentes de complicações de parto e puerperais ocupam o terceiro lugar. De 20 a 24 anos: alguns são considerados “jovens com adolescência prolongada”, ainda sofrendo as mesmas angústias, que os adolescentes de 15 a 19 anos. Os transtornos psicológicos ganham extensão notável na consulta e constituem a primeira queixa para todos os sujeitos. A AIDS aparece nas estatísticas de óbito, como a quinta causa de mortalidade nesta fase em ambos os sexos. O quadro de violência é qualitativamente semelhante ao da faixa etária de 15 a 19 anos, mas quantitativamente tem maior gravidade, destacando-se os homicídios, seguidos dos acidentes de transporte e dos suicídios. ANAMNESE Acrônimo AADDOLESSE: cada profissional deve ter sensibilidade para utilizar as perguntas mais cabíveis em um momento e deixar outros assuntos para consultas posteriores. Seja qual for a ordem escolhida, é recomendável começar com uma conversa menos invasiva, com o intuito de aliviar a tensão e granjear confiança, para em seguida afirmar algo como “Muito bem, agora eu gostaria de ver como você tem lidado com situações de estresse, se seus comportamentos são seguros e se há qualquer coisa que possa estar colocando sua saúde em risco, ok?”. USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS: em vista da importância da exposição do adolescente ao álcool e outras drogas, sempre que possível deve ser administrado o questionário CRAFFT (Car, Relax, Alone, Forget, Friends, Trouble), um teste de triagem breve. Obs: nos dias de hoje, a anamnese não pode deixar de incluir o uso e abuso de meios eletrônicos e internet. TRIAGEM DA DEPRESSÃO: há evidências para recomendar a triagem de adolescentes para depressão maior a partir dos 12 anos, desde que tenham acesso a diagnóstico, tratamento e acompanhamento adequados. Os testes de triagem considerados mais sensíveis e específicos são o Patient Health Questionnaire for Adolescents (PHQ-A) e o Beck Depression Inventory-Primary Care Version (BDI-PC). ANAMNESE NUTRICIONAL: deve ser completa, incluindo informações sobre os horários em que o paciente costuma fazer suas refeições, tipos de alimento preferidos e efetivamente consumidos. IMUNIZAÇÃO CONTRA DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: faz parte da anamnese a verificação do registro das vacinas na Caderneta de Saúde do Adolescente, cuja apresentação deve ser cobrada em toda consulta. É importante verificar a orientação atualizada da SBP quanto à vacinação do adolescente e, nos casos em que o calendário oficial de vacinas do PNI/Ministério da Saúde não inclui rotineiramente vacinas de eficácia já comprovada em outros países, como a vacina quadrivalente contra o meningococo ou a vacina contra o papilomavírus humano para meninos, sua aplicação deve ser recomendada. EXAME FÍSICO Cada procedimento do exame deve ser explicado e discutido. Além disso, é importante perguntar por qualquer desconforto. A lavagem das mãos deve ser feita na frente do paciente. Inspeção de todos os aparelhos: recomenda-se a utilização mais efetiva do tempo, enfocando certos aspectos específicos do exame físico, de acordo com a idade. Medidas do crescimento e desenvolvimento e avaliação do estado nutricional: aferição do peso e da estatura e o cálculo do IMC e devida plotagem nas curvas da OMS, disponíveis na Caderneta de Saúde do Adolescente do Ministério da Saúde. Avaliação da maturação sexual de Tanner: alternativamente ao exame direto dos genitais e mamas, as figuras com os estágios de maturação sexual podem ser mostradas ao adolescente, que informa em qual dos estágios ele acha que se encontra. O exame ginecológico completo raramente está indicado em meninas com menos de 21 anos, exceto em caso de queixas específicas. Não há evidências que apoiem o exame clínico dos testículos, para a detecção precoce de tumores, assim como há evidências suficientes para contraindicar o exame físico das mamas como teste de triagem para o câncer de mama em adolescentes. Aferição da pressão arterial: as evidências são moderadas para a recomendação de que a pressão arterial seja aferida em todas as consultas antes dos 18 anos. Quando for aferida, é essencial prestar atenção ao equipamento, à técnica, ao ambiente e à verificação das medidas nas tabelas de referência. Triagem rotineira para escoliose: costuma ter um número excessivo de falso-positivos e encaminhamentos desnecessários; porém, em vista da facilidade de execução, vários protocolos recomendam incluí-la nas consultas anuais entre 11 e 16 anos. Obs: se necessário, exame psiquiátrico e acompanhamento psicológico. DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NA ADOLESCÊ NCIA Mesmo reconhecendo que na adolescência o critério cronológico perde importância, para que se possa compreender a evolução do processo, é interessante analisar o desenvolvimento dividido por idade: Adolescência inicial (dos 10 aos 13 anos): rápido crescimento e entrada na puberdade; Adolescência média (dos 14 aos 16 anos): desenvolvimento intelectual e maior valorização do grupo; Adolescência final (dos 17 aos 20 anos): consolidam-se as etapas anteriores e o adolescente se prepara para assumir o mundo adulto. Do ponto de vista cognitivo, é na adolescência que as necessidades intelectuais e a capacidade para utilizar o conhecimento atingem seu pico máximo. Do ponto de vista psicanalítico, ele pode ser tanto agitado quanto indolente, eufórico e taciturno, revoltado e Natália Furlaneto conformista, intransigente e esclarecido; em um certo momento, entusiasta e, bruscamente, apático e deprimido. OS 3 GRANDES LUTOS D A ADOLESCÊNCIA Para vivenciar todas essas mudanças, o adolescente passa por momentos de experimentações e perdas, de modo a reformular os conceitos que tem a respeito de si mesmo e do mundo. Segundo Erikson, a busca da identidade adulta é a principal tarefa da adolescência e, para que isto aconteça, é necessário que o jovem vivencie três grandes perdas: Luto pela perda do corpo infantil: o corpo se modifica, independentemente de sua vontade, o que causa grande desconforto, mais facilmente percebido nas fases iniciais da adolescência. Luto pela perda da identidade infantil: a sociedade e o próprio indivíduo passam a exigir um comportamento diferente daquele mostrado até o momento, com responsabilidades e deveres. Luto pela perda dos pais da infância: os pais deixam de ser vistos como ídolos infalíveis e passam a ser vistos como humanos, tão frágeis e capazes de errar como qualquer outro. S ÍNDROME DA ADOLESCÊNCIA NORMAL O jovem apresenta uma série de manifestações emocionais e alterações comportamentais que, se encontradas nesta fase da vida, podem ser consideradas normais, fazendo parte do processo de crescimento físico e psíquico. Aberastury e Knobel (1981) aglomeraram estas características na chamada Síndrome da Adolescência Normal, podendo cada uma delas estar ou não presente em cada adolescente, com maior ou menor intensidade e aspectos individuais, de acordo com o contexto sociocultural de cada um. Busca de si mesmo e da identidade: para descobrir quem é e do que gosta, o indivíduo passa por uma reformulação da autoimagem, apresentando padrões transitórios de comportamento, encontros fortuitos e paixões repentinas. É uma fase de experimentação. Costuma nesta fase ser erroneamente acusado de vulnerável ou até mesmo promíscuo pelos adultos. Separação progressiva dos pais: as relações interfamiliares se modificam, surgindo uma ambiguidade de sentimentos tanto nos jovens como em seus pais, que desejam o seu crescimento e maturidade, porém temem os riscos aos quais seus filhos estão expostos. Iniciam-se então as divergências e discussões. Tendência grupal: enquanto afasta-se ideologicamente dos pais, o adolescente procura um grupo com o qual seidentificar. É mais um passo a caminho da independência. É devido a essa característica que se observam as “tribos”, onde todos usam um mesmo linguajar e vestem-se do mesmo modo. Não é uma decisão estática, pois o grupo de identificação pode mudar várias vezes. Necessidade de intelectualizar e fantasiar: o pensamento concreto da infância torna-se abstrato, podendo o jovem formular hipóteses a partir de suas vivências. É ao mesmo tempo uma fuga para o seu interior, diante das mudanças que estão acontecendo em seu corpo, as quais assiste passivamente sem poder modificar. Mais uma vez os desentendidos tendem a criticar estes jovens, taxando-os de desatentos ou preguiçosos, quando estão, na realidade, exercitando suas capacidades mentais. Crises religiosas: a experimentação da identidade é acompanhada pela busca de uma dimensão religiosa. Pode variar do ateísmo a crenças ortodoxas, independente do credo de suas famílias. Essa identificação não é estática, podendo ser modificada no decorrer dos anos e tendendo, muitas vezes, a se definir no início da vida adulta, com os padrões de seus pais. Distorção temporal: existe uma distorção do tempo, considerando urgentes situações não tão urgentes assim, e protelando atitudes que aos adultos parecem urgentes. Há uma dilatação da dimensão do presente e um afastamento da dimensão do passado e futuro. O adolescente é imediatista, vivendo para o aqui e o agora. Esperar atitudes preventivas espontâneas nesta fase da vida é um engano, pois para eles o futuro é muito distante. Contradições sucessivas na manifestação de conduta: o adolescente está à procura de seu papel na sociedade e é através da experimentação que deverá encontrá-lo. Não é esperado que apresente uma linha de conduta rígida, pois sua personalidade ainda é maleável, sendo moldada através das vivências de cada um. Atitude social reivindicatória: o processo do amadurecimento envolve uma necessidade de autoafirmação, com a contestação dos padrões vigentes. Associada à capacidade de fantasiar um mundo ideal, o jovem vai à luta, procurando um universo melhor e, quando não encontra espaço para sua busca, pode agir com agressividade. Diferente dos adultos, o adolescente ainda não se decepcionou muitas vezes e, portanto, acredita poder transformar a humanidade. Constantes flutuações de humor: diante de tantas modificações, conquistas e impedimentos, percebem-se sentimentos de exaltação e euforia intercalados com depressão e solidão. São muitas as experiências vividas a cada dia e a reação a cada uma delas é muito variada. É assim que o jovem vai aprendendo a ter sentimentos próprios e a elaborar as suas dificuldades. Evolução sexual: a sexualidade evolui do autoerotismo de caráter exploratório da fase inicial da adolescência, passando pela relação genital descompromissada, até chegar ao relacionamento onde predomina a preocupação com o parceiro e a estabilidade emocional. É comum ocorrerem nesta fase experiências homossexuais como parte do aprendizado, sem que signifiquem uma opção sexual já definida. ABUSO DE SUBSTÂNCIAS Da antiguidade clássica até a primeira metade do século XX, o uso de substâncias lícitas (como álcool e tabaco) ou ilícitas (como heroína, cocaína e LSD) era predominante entre indivíduos adultos. No entanto, a partir da década de 1960, observou-se aumento crescente do uso e abuso de substâncias entre adolescentes e, mais recentemente, entre pré-adolescentes. Os adolescentes sofrem influências relacionadas à interação de fatores do desenvolvimento biológico e psicossocial, mensagens vindas do ambiente e das atitudes da sociedade com a qual convivem diante do consumo de substâncias como álcool, tabaco e cannabis (maconha). O uso eventual de bebidas alcoólicas, por exemplo, pode ser visto como “normal” ou como um “rito de passagem”, tendo em vista o grande número de jovens que relatam já terem consumido álcool alguma vez. Contudo, tendo em vista os riscos adicionais relacionados ao consumo de álcool e outras substâncias psicoativas (como trauma relacionado a acidentes de trânsito e violência), mesmo o uso eventual deve ser motivo de preocupação. Tendo em vista o estágio de desenvolvimento em que os adolescentes se encontram, é fundamental que o pediatra e demais profissionais envolvidos em seu atendimento levem em consideração as condicionantes biológicas, psicológicas e sociais Natália Furlaneto que os tornam mais vulneráveis aos efeitos das substâncias psicoativas se comparados aos adultos. O aspecto biológico fundamental é que o cérebro do adolescente ainda está em processo de crescimento e desenvolvimento. Esse processo pode ser prejudicado pela exposição a agentes químicos externos e, assim, o desenvolvimento cognitivo e das funções executivas do cérebro pode sofrer falhas no adolescente que frequentemente usa ou abusa de substâncias psicoativas. As vulnerabilidades psicológicas do adolescente, intimamente relacionadas com a vulnerabilidade biológica, estão ligadas ao fato de que habilidades como capacidade de controlar impulsos, adotar um processo racional de tomada de decisões, exercitar julgamentos com sabedoria e detectar as implicações de fatos/ocorrências de sua vida ainda não estão totalmente deenvolvidas. Quanto ao aspecto social, quando grande parte da energia do adolescente está voltada aos processos de obtenção da substância psicoativa, é bem possível que haja comprometimento de suas relações interpessoais, no estabelecimento de grupo social estável que lhe dê suporte e na aquisição de conhecimentos e habilidades avaliadas como positivas. Por fim, duas circunstâncias que estão frequentemente presentes nos adolescentes que abusam de substâncias psicoativas são outros comportamentos de risco e comorbidades psiquiátricas. O pediatra e outros profissionais envolvidos no atendimento de adolescentes devem estar alertas para o fato de que atitudes como iniciação sexual precoce, uso de armas, participação em “gangues” ou grupos criminosos e direção de veículos sob ação de álcool ou outras drogas podem estar associadas ao abuso de substâncias. Distúrbios de conduta, personalidade antissocial, principalmente no sexo masculino, depressão, déficit de atenção e hiperatividade e distúrbios alimentares são diagnósticos psiquiátricos relacionados com altas taxas de uso de substâncias.
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