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Autora: Profa. Leila Dutra Rodrigues Colaboradores: Prof. Vinícios Albuquerque Prof. Francisco Alves da Silva Prof. Gabriel Lohner Gróf República Velha Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Professora conteudista: Leila Dutra Rodrigues Mestre em Comunicação pela Universidade Paulista; especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade São Francisco e História, Sociedade e Cultura pela Pontifícia Universidade Católica; possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Mogi das Cruzes e licenciatura plena em História pela Universidade Bandeirante de São Paulo e, atualmente, cursa especialização em Direito Previdenciário. Atua como advogada nas áreas cível, família, previdenciária e trabalhista há mais de 20 anos. Na área acadêmica, ministra as disciplinas: Ética e Legislação Empresarial e Trabalhista; Saúde e Segurança no Trabalho e Benefícios Previdenciários; Sistema de Operação de RH; Desenvolvimento Sustentável; Planejamento Estratégico; Técnicas de Negociação e Economia e Mercado na Universidade Paulista, onde também atua como orientadora de Projeto Integrado Multidisciplinar – PIM nos cursos presenciais e a distância. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R696r Rodrigues, Leila Dutra. República velha. / Leila Dutra Rodrigues. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 112 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-157/15, ISSN 1517-9230 1. República. 2. História. 3. Política. I. Título. CDU 981 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Lucas Ricardi Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Sumário República Velha APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7 INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ORIGENS DA REPúBLICA NO BRASIL ...................................................................................................... 11 2 NASCE UM PAíS VOLTADO PARA O MUNDO EXTERNO ................................................................... 12 Unidade II 3 A INSERçãO DO BRASIL NOS QUADROS DO CAPITALISMO .......................................................... 24 4 A REPúBLICA DOS PRIMEIROS TEMPOS ................................................................................................ 35 Unidade III 5 DESENVOLVIMENTO ECONôMICO ............................................................................................................ 53 5.1 O café: processo e crise ...................................................................................................................... 53 5.2 Café com leite ........................................................................................................................................ 57 5.3 Voltando para o café ........................................................................................................................... 57 5.4 O ciclo da borracha .............................................................................................................................. 62 5.5 Cacau ......................................................................................................................................................... 64 6 O SETOR INDUSTRIAL..................................................................................................................................... 64 Unidade IV 7 O SISTEMA POLíTICO ...................................................................................................................................... 73 7.1 Movimentos sociais urbanos e rurais ........................................................................................... 73 7.2 Outros movimentos sociais .............................................................................................................. 89 7.3 Arte e sociedade: a Belle Époque ................................................................................................... 91 7.4 Arte e sociedade: a Semana de Arte Moderna de 22 ............................................................ 93 7.5 Os projetos sociais e artísticos para um Brasil Novo ............................................................. 94 8 REVOLUçãO DE 1930 .................................................................................................................................... 95 7 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 APResentAção Prezados alunos, O objetivo da disciplina é apresentar um dos momentos mais importantes da nossa história: o nascimento da República. Nesse período várias transformações ocorreram: o sistema político mudou, surgiram as indústrias e com elas uma nova classe social, bairros e vilas operárias. As cidades passaram a influenciar a economia. Busca-se expor uma visão social, a importância que os vários momentos sociais e operários tiveram na formação das estruturas da sociedade, em especial na formação das entidades de classe e das primeiras normas trabalhistas. Mais uma vez, o historiador terá que se apropriar de dois termos muito utilizados na área: contexto e anacronismo. Contexto é o conjunto de circunstâncias: lugar e tempo, cultura, valores, costumes, hábitos, pensamentos etc. Anacronismo significa pessoas, eventos, palavras, objetos, costumes, sentimentos, pensamentos ou outras coisas que pertencem a uma determinada época e que são erroneamente retratados em outra época, ou seja, ver o passado com os olhos do presente. Por mais que algumas situações possam parecer inconcebíveis e extremas, precisamos entender que a realidade era muito difícil para determinada parcela da sociedade, causando movimentos e mudanças importantes. Para isso vamos propor a análise de documentos históricos, em especial textos e imagens de jornais do período. A análise destes documentos é de suma importância e, em muitos momentos, pode auxiliá-lo no ensino da disciplina. Entender como as pessoas reconheciam a sua realidade e a grande diferença entre o estudo da história tradicional e a narração dos fatos pelos atores do contexto são muito importantes. Não podemos esquecer que a história é escrita pelosvencedores. Assim, ter contato com os documentos da época que nos apresentam uma outra realidade é muito rico e importante. Aproveitem a leitura e usem a curiosidade essencial dos historiadores para ampliar os conhecimentos e explorar os centros de pesquisas. IntRoDução A proposta desta disciplina é analisar as questões que motivaram o fim do Império e o nascimento da República no Brasil; observar até que ponto os interesses econômicos motivaram as transformações políticas; como o novo sistema político já nasceu comprometido com os inúmeros interesses econômicos que dominavam a administração do público; e quais fatores asseguraram a inserção do Brasil nos quadros do capitalismo. 8 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Reproduzindo as práticas antigas, implantadas desde o período da colônia, o Brasil permaneceu produzindo para atender aos interesses dos países estrangeiros. Assim, vamos verificar que a República dos primeiros tempos aumentou ainda mais o abismo entre as classes dominantes e as classes trabalhadoras menos favorecidas. Para isso, iremos analisar o desenvolvimento econômico e a importância do nosso maior artigo de produção: o café. O café, desde o início do crescimento do seu processo de produção até a crise, representou o produto de maior importância econômica. Veremos como ele interferiu no crescimento de outras atividades econômicas e nas decisões políticas que influenciaram a formação do Estado brasileiro até o nosso presente. O ciclo da borracha, apesar de não possuir uma influência econômica a ponto de competir com o café, também motivou o crescimento e a consolidação de uma nova elite regional, que fez surgir novas regiões ricas e prósperas no extremo do Brasil. Já o setor industrial nasceu como representação de todas essas transformações, pois as riquezas das produções agrícolas financiaram e motivaram o crescimento das indústrias e as inúmeras mudanças econômicas e sociais decorrentes. A República nasce para gerenciar os interesses das oligarquias e se solidifica como representante institucional da elite. Os movimentos sociais urbanos e rurais surgiram como contraposição aos interesses da elite, buscando garantir a mínima dignidade para as classes trabalhadoras, completamente excluídas dos processos de decisão e subordinadas aos interesses da elite. A formação do proletariado ocorreu pelo crescimento das indústrias, principalmente nas capitais, e com grande influência da 1ª Guerra Mundial. A imigração de trabalhadores para o Brasil, atraídos por falsas promessas, mas com grande influência das ideologias de esquerda, fez surgir os primeiros sindicatos e solidificar as primeiras legislações operárias em território brasileiro. No período, crescia a ideia do belo, da formação de uma elite retratada pela Belle Époque, na qual os rituais de práticas sociais, boas maneiras, moda, diferenciavam a elite dos demais atores da sociedade. A Semana de Arte Moderna de 1922 acontece como forma de contrapor os ideais estrangeiros e valorizar a arte e a cultura nacionais, como as mais diversas formas de expressões, teatro, música, literatura, dança, pintura, escultura, entre outros. Com o nascimento da República, surge a necessidade da implantação da identidade nacional e os projetos sociais e artísticos para um Brasil Novo, com um modelo moderno e dinâmico. Com a crise econômica mundial, acontece a crise da República Velha, representante fiel de um modelo econômico. 9 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Para analisarmos todos esses fatores, além de autores reconhecidos, iremos manusear documentos da época, em especial jornais operários, que traduzem a forma como os excluídos estavam vivenciando as transformações pelas quais o país passava. 11 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha Unidade I 1 oRIgens DA RePúbLIcA no bRAsIL A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889, e foi antecedida pelos seguintes regimes: • Pré‑colonial (1500‑1530); • Colônia (1530‑1822); • Primeiro Reinado (1822‑1831); • Regência (1931‑1840); • Segundo Reinado (1840‑1889). Durante a monarquia, a principal atividade econômica era a agricultura, tendo como base o trinômio latifúndio, monocultura e mão de obra escrava. A nossa produção visava atender o mercado externo, em especial, a crescente indústria na Europa. Temos que lembrar que, neste período, estava ocorrendo o desenvolvimento das indústrias na Europa e nos Estados Unidos. Em países como a Inglaterra e Alemanha, a burguesia comemorava crescimento da sua riqueza enquanto os trabalhadores viviam na miséria. Muitas mulheres e crianças realizavam trabalhos pesados, estavam sujeitos ao assédio moral muito grande por parte das chefias, recebiam salários miseráveis, ganhavam muito pouco, laboravam em jornadas diárias de trabalho que variavam de 14 a 16 horas diárias para as mulheres, e de 10 a 12 horas por dia para as crianças, muitas vezes sem intervalo para refeição e descanso. Os burgueses se reuniam em grandes festas para comemorar os lucros, enquanto os trabalhadores viviam em miséria, passando fome e vivendo em situação indigna. Moravam em cortiços, sem as mínimas condições de higiene e conforto. Recebiam como parte dos salários batatas e carvão. Eram subnutridos, fracos e, em decorrência, estavam permanentemente exaustos. Para garantir que os operários trabalhassem, as indústrias serviam café. O nosso café era o estimulante dos operários europeus. A produção brasileira, que neste período era majoritariamente agrícola, se desenvolvia para atender os interesses dos burgueses europeus. Desde o início, a nossa economia foi sedimentada visando à exportação de produtos agrícolas. Essa opção econômica fez toda a diferença na formação do Estado brasileiro e trouxe consequências até 12 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Unidade I hoje. Muitos dos nossos problemas sociais existem pela manutenção de latifúndios e pela produção agrícola que visa atender o mercado externo. As nossas carências sociais são herança dos primeiros períodos da história e, hoje, se refletem na aglomeração dos grandes centros, na escassez de recursos e no elevado preço de gêneros básicos, já que grande parte da terra continua se concentrando nas mãos de poucos proprietários; a produção agrícola não busca atender as necessidades internas e nunca houve uma preocupação com a preservação do meio ambiente, pois a prática exploratória do meio norteou a nossa produção por muitas décadas. 2 nAsce um PAís VoLtADo PARA o munDo exteRno Precisamos entender que o Brasil nasceu para atender as necessidades externas e permaneceu sendo gerido desta forma por muitos longos anos. Entretanto, a necessidade externa fez com que crescesse a agricultura. Grandes fazendas se desenvolveram, territórios novos passaram a ser explorados, surgindo novas vilas e cidades. Segundo Casalecchi (1982, p. 18): A cultura cafeeira gerou uma grande transformação na economia: 1. Para resolver os seus problemas de transportes, implanta e desenvolve o sistema ferroviário. 2. Para resolver os problemas do beneficiamento e ensacamento, dinamiza as atividades industriais de máquinas de beneficiar café e sacaria, ao mesmo tempo que incentiva a indústria têxtil para vestir os seus trabalhadores (escravos e depois os assalariados). 3. Para resolver os seus problemas de comercialização, financiamento e abastecimento, dinamiza as atividades do comércio de exportação e importação, o sistema bancário, o convívio urbano, além de propiciaro desenvolvimento dos portos, armazéns, transportes urbanos, numa palavra – auxilia o crescimento ou o aparecimento de cidades. 4. Para resolver os seus problemas de mão de obra utiliza-se dos escravos e depois, com a extinção do tráfico, em 1850, e com a crescente necessidade de braços para a lavoura com a expansão, introduz-se o trabalhador livre: o assalariado. Ocorreu um grande desenvolvimento. Cafeicultores tornaram-se muito ricos e poderosos. Foi a era dos barões do café. Fazendas imensas plantavam esse produto e utilizavam mão de obra escrava. Cidades cresceram em função da circulação de riquezas. 13 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha Para exportar o café, a rede de ferrovias teve que ser ampliada até os portos e várias cidades cresceram no entorno das estações de trem. Figura 1 Alguns cafeicultores possuíam uma visão mais ampla de mercado e, gradualmente, passaram a substituir o trabalho escravo pelo trabalho livre, o que trouxe mais mudanças. Segundo Casalecchi (1982, p. 22) “isto libera novos capitais, antes mobilizados na compra de escravos e incentiva ainda mais as atividades econômicas”. Ou seja, parte do capital que os fazendeiros gastavam com a aquisição e manutenção da mão de obra escrava passou a ser utilizada no desenvolvimento de outras atividades econômicas, dentre elas a indústria. É importante salientar que havia uma grande diferença de ideias entre os grandes fazendeiros do Vale do Paraíba e do Oeste de São Paulo. Os primeiros eram mais conservadores, apoiavam a Monarquia e defendiam a mão de obra escrava. Já os fazendeiros do Oeste de São Paulo, da região de Campinas por exemplo, eram mais urbanos, tinham mais proximidade com os ideais republicanos, dentre eles a abolição. Sendo assim, os fazendeiros mais urbanos utilizaram-se das riquezas oriundas do café para provocarem mudanças fundamentais e grande crescimento econômico. Para se ter uma ideia, “a província de São Paulo, que em 1832 tinha 45 vilas e 1 cidade, passa para 57 cidades e 69 vilas, em 1887” (CASALECCHI, 1982, p. 22). 14 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Unidade I Segundo Caio Prado Jr., citado por Casalecchi (1982, p. 20): a partir de 1850, fundam-se “62 empresas industriais, 14 bancos, 3 caixas econômicas, 20 companhias de navegação a vapor, 23 de seguros, 4 de colonização, 8 de mineração, 3 de transporte urbano, 2 de gás e 8 estradas de ferro”. Atrelado ao crescimento da indústria ocorreu a concentração nas cidades. Um grande número de operários, muitos estrangeiros, imigraram para as cidades. Alguns já haviam participado de movimentos sociais e sindicais em seus países e trouxeram para as terras brasileiras as suas experiências de organização e mobilização operária. O programa do Partido Liberal, antes mesmo de 1870, já pregava pela introdução do trabalho livre. Lembremos que, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico de escravos. A saída imediata foi o tráfico interno, o que não foi suficiente para atender as necessidades. Outro importante acontecimento foi a Guerra do Paraguai (1864-1870), pois vários negros lutaram com a promessa de liberdade e de condições de constituírem uma vida livre e digna e passaram a se mobilizar exigindo o atendimento das promessas. Além disso, a partir da década de 1880, o movimento abolicionista se fortaleceu. Surgiram associações, periódicos e uma massiva propaganda. O historiador Boris Fausto ensina que vários membros da sociedade participaram dos movimentos abolicionistas. Pessoas de condições sociais diversas participaram do movimento, dentre eles “destacou-se Joaquim Nabuco, importante parlamentar e escritor, oriundo de uma família de políticos e grandes proprietários rurais de Pernambuco” (FAUSTO, 2008, p. 218). O autor também cita a participação de pessoas negras ou mestiças, que tiveram uma atuação marcante no movimento abolicionista, e “os mais conhecidos são os de José do Patrocínio, André Rebouças e Luís Gama” (FAUSTO, 2008, p. 219). O Brasil sofria uma grande pressão externa para decretar a abolição, a Inglaterra e os Estados Unidos pressionavam o governo imperial. Em 13 de maio de 1888, não resistindo mais às inúmeras pressões, a princesa Isabel decreta a Lei Áurea. Os escravos finalmente foram libertados. 15 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha Primeira página: Figura 2 Correio Paulistano Editor gerente – Joaquim Roberto de Azevedo Marques S. Paulo – Terça-feira, 15 de Maio de 1888. PARTE OFFICIAL DECRETO N 3353 DE 13 DE MAIO DE 1888 Extingue a escravidão no Brazil A Princesa Imperial Regente, em nome do Imperador o Sr. D. Pedro II, ha por bem sancionar e mandar que se execute a seguinte Resolução da Assembléia Geral: 16 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Unidade I Art. 1º E’ declarada, da data da presente lei, extincta a escravidão no Brazil. Art. 2º Revogam-se as disposições em contrario. – Rodrigo Augusto da Silva, do conselho de Sua Magestade o Imperador, ministro e secretario de Estado dos negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas, assim o tenha entendido e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em treze de Maio de 1988 – Izabel, Princeza Imperial Rgente. – Rodrigo Augusto da Silva. [...] Consummatum est! Gloria ao partido conservador! Gloria á nação Brazileira Gloria à Sua Alteza a Princesa Imperial Regente! Está abolida a escravidão no Imperio. O dia 13 de Maio de 1888 é o complemento do dia 28 de Setembro de 1871. Quem o diria? A 28 de Setembro de 1885, os mais ousados davam dez annos de vida á negra instituição. E era pouco. Em Dezembro de 1887, os emancipadores pediam o prazo máximo de três annos. Em Maio de 1888 lavrou-se o decreto da abolição, imediata e incondicional! E há ainda quem negue a interferência da Providencia aos destinos humanos! Ha quem negue a acção do Providencialismo na Historia da Humanidade! Estes, com certeza, nunca leram Bossuet nem Laurent, e ficam surdos á voz do Passado. Para confrontar com a data de 7 de Setembro de 1822, francamente, só vemos a data de 13 de Maio de 1888. A emancipação social e econômica é a consequência da emancipação politicia [...] Fonte: Correio... (1888). 17 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha Notem que o jornal citado faz uma franca defesa do Império, considera o regime como benfeitor da sociedade e ainda ironiza a previsão dos movimentos abolicionistas que estimavam a abolição da escravatura para um momento futuro. Afirma que essa alteração no quadro político/social se deve à intervenção da “providência”, ou seja, a interferência divina dos desígnios da sociedade e da história da humanidade. O jornal retratou os últimos suspiros dos conservadores, já que o império começou a enfrentar outro problema, “especialmente no Vale do Paraíba, onde muitos proprietários arruinaram-se com a Abolição” (CASALECCHI, 1982, p. 57). Esses proprietários esperavam receber do Império uma indenização pela perda da propriedade dos escravos. saiba mais Grande parte dos jornais apresentados está digitalizada em: Centro de Documentação e Memória da Unesp – Cedem: <http://www.cedem.unesp.br/> Arquivo Edgard Leuenroth: <http://www.ael.ifch.unicamp.br/site_ael/> Fundação Maurício Grabois (PC do B): <http://www.fmauriciograbois.org.br/portal/> Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro – CPV: <http://www.cpvsp.org.br/> ArquivoPúblico do Estado de São Paulo: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/> Não receberam nenhuma quantia. A parcela da sociedade que até então exercia a defesa da Monarquia, se insurgiu contra ela e passou a defender a instauração da República. Cresce a oposição ao sistema político. É importante ressaltar o impasse pelo qual a Monarquia passou. Ao libertar os escravos chocou-se com os seus aliados, já que os monarquistas eram escravocratas. Ao libertarem os escravos fortaleceram os seus opositores, que defendiam os ideais republicanos. Assim, a Monarquia uniu duas forças opostas, gerando um bloco republicano único. 18 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Unidade I Além disso, a Monarquia enfrentou também problemas com a Igreja Católica e com os militares. Com a igreja, pela proximidade da Monarquia com a maçonaria; com os militares, porque estes perderam seus poderes e influência gradativamente e viram ingressar em suas forças civis que não possuíam “atributos seletivos exigidos pela aristocracia – ‘riqueza’, ‘bons padrinhos’, ‘dotes intelectuais’, o que reforça o seu desprestígio numa sociedade de ‘legistas’” (CASALECCHI, 1982, p. 67). Essas pessoas ingressavam na carreira militar visando à possibilidade de ascensão profissional e financeira. Em sua maioria, possuíam uma visão mais progressista, defendiam ideais republicanos, principalmente no exército. Assim, podemos entender que o exército era uma força mais democrática e representava as aspirações populares, principalmente da classe média. Podemos dizer que foi um conjunto de fatores que influenciou o fim da Monarquia. Em 11 de novembro, em uma reunião realizada na casa de Deodoro da Fonseca, na presença de Francisco Glicério, Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Benjamim Constant, Major Solon e Rui Barbosa, Deodoro assim teria se pronunciado: “Eu queria acompanhar o caixão do Imperador, que está velho e a quem respeito muito. Ele assim o quer, façamos a república. Benjamim e eu cuidaremos da ação militar; o Sr. Quintino e os seus amigos organizam o resto” (CASALECCHI, 1982, p. 88). O povo assistiu a tudo de camarote. No dizer de Aristides Lobo: “o povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava” (CASALECCHI, 1982, p. 94). Primeira página e editorial do jornal A Provincia de São de Paulo, edição 16 de novembro de 1889: Figura 3 19 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha A Provincia de São Paulo Sabbado 16 de Novembro de 1889 Viva a Republica A Provincia de São Paulo 15 de novembro de 1889 Glorioso Centenario da Grande Revolução Proclamação Replubica Brazileira [...] Viva a República, Cidadãos! Viva a Nação Brasileira! Viva a Republica! Viva o Exercito! Viva a Armada! Viva a Provincia de São Paulo! Fonte: A Provincia... (1889). Exemplo de Aplicação “O povo assistiu àquilo bestializado”, artigo de Aristides Lobo. Rio, 1889 (CASALECCHI, 1982, p. 94). Reflita sobre esta frase e tente entender qual foi a reação da população no momento da Proclamação da República. observação A República já nasceu comprometida com os interesses das oligarquias. 20 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Unidade I observação No final da Monarquia, a carreira militar era uma opção de profissão para jovens de origem menos favorecida. Lembrete A República nasceu como a solução de vários problemas, não há como dizer que um único fator interferiu no fim da Monarquia. O governo, em decorrência de vários fatores, perdeu o apoio das forças que lhe garantiam o poder, uniu e fortaleceu opositores. A Monarquia acabou pela sua incapacidade de sustentação. Lembrete Enquanto no Brasil a República estava sendo proclamada, na França, em 1889, estava sendo inaugurada a Torre Eiffel. A torre de 300 metros de altura projetada por Gustave Eiffel, inicialmente foi criada como uma obra para a Exposição Mundial de Paris. Ao longo dos anos se tornou um símbolo da Cidade Luz (Paris). saiba mais O filme recomendado pode propiciar uma inter-relação com os conteúdos deste capítulo, ele retrata a exploração e a miséria às quais os operários ingleses estavam expostos: DAENS – Um Grito de Justiça. Dir. Stijn Coninx. França: Dérive Productions, 1992. 138 min. Resumo Nesta unidade pudemos entender as ideias que fomentaram o surgimento da República. Na verdade, a República nasceu para atender aos interesses econômicos de parte da oligarquia cafeeira e de militares insatisfeitos com a falta de reconhecimento e valorização pela Monarquia. 21 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha Não houve uma comoção ou uma revolução! Houve uma troca de cadeiras. Casalecchi (1982, p. 94) cita o artigo de Aristides, que descreveu a reação popular como: “o povo assistiu àquilo bestializado”. A mudança de sistema político ocorreu para atender interesses econômicos de uma elite que buscava mais poder e influências nas decisões do Estado. A abolição da escravatura demonstrou que o governo monárquico havia priorizado as cobranças e interesses econômicos internacionais. Tornar os escravos livres não foi uma decisão humanitária, foi uma opção econômica. Mas, ao fazê-lo, deixou de atender aos anseios dos cafeicultores tradicionais, que almejavam por uma indenização, uma forma de ressarcimento pelo prejuízo sofrido ao perderem a propriedade da mão de obra. A Monarquia não indenizou ninguém e, assim, perdeu o apoio de parte da elite tradicional. Esses fazendeiros tornaram-se defensores e apoiadores do novo regime. Já a outra parcela de fazendeiros, que possuíam uma visão mais moderna e já contratavam mão de obra imigrante, viram na República a possibilidade de expandir seus negócios, investindo na modernização e industrialização. Era a possibilidade de crescimento e fortalecimento da elite burguesa. Como podemos notar, o povo, a grande massa, não fazia parte dessas disputas. Para eles, a realidade não mudou. Permaneceram trabalhando muito, recebendo baixos salários e vivendo em condições miseráveis. Por isso, mudar o regime, mudar o governo não representou grandes mudanças sociais. O povo assistiu à mudança no sistema como assistia aos desfiles militares. Na verdade, foi um grande cortejo militar que se encaminhou à sede do governo e tomou posse. A família imperial foi avisada antes e havia deixado o palácio na véspera da Proclamação da República! exercícios Questão 1. O final da Guerra do Paraguai teve consequências não apenas relativas à política externa como também reverberou internamente no Império, causando grandes transformações. Estas mudanças se devem, entre outros fatores: A) Ao crescimento da importância do Exército, até então preterido pela Guarda Nacional, e suas reivindicações para participar da vida política, o que era proibido pelas leis do Império. Daí resultou constantes conflitos entre o Império e os militares. 22 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 Unidade I B) À imediata proclamação da República, uma vez que a derrota na Guerra do Paraguai apenas demonstrou a debilidade do sistema de governo imperial. C) Ao reforço da ideologia escravista com a deserção em massa de escravos das fileiras do exército, que passaram a lutar pelo lado paraguaio. D) Ao fim do padroado – união entre Igreja e Estado – devido aos conflitos causados pela assinatura da bula Inter-coetera pelo papa da época, Gregório II, que cedia aosparaguaios a região do Prata, o Mato Grosso e o controle do porto de Macapá. Com o fim dessa união, o Império se enfraqueceu e a República laica foi proclamada. E) À morte de Dom Pedro II, que liderava as tropas pessoalmente na batalha de Lomas Valentinas e foi alvejado por um vaqueiro mercenário que lutava por Solano Lopez. Como não tinha herdeiros, a República foi proclamada para impedir que o Conde d’Eu, marido da princesa Isabel, assumisse o trono e incorporasse o Brasil à França. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: além da importância ganha com a vitória na Guerra do Paraguai, o exército brasileiro adotou concepções ideológicas de cunho positivista, sendo contra muitas das práticas políticas adotadas pelo Império. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a República foi adotada quase 25 anos depois do fim da guerra. C) Alternativa incorreta. Justificativa: ao contrário, houve o crescimento do sentimento abolicionista, em alguma medida pelo reconhecimento dos esforços dos escravos que, apesar da sua condição, foram leais ao exército e ao Império. D) Alternativa incorreta. Justificativa: não houve nenhuma bula papal que cedesse territórios ao Paraguai. E) Alternativa incorreta. Justificativa: Dom Pedro II não só não lutou pessoalmente na guerra como morreu apenas depois da proclamação da República, na Áustria. 23 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 23 /0 6/ 20 15 República Velha Questão 2. (Enade 2008) Figura 4 A imagem corresponde a uma representação recorrente de Tiradentes, cultuado oficialmente como herói republicano desde 1890. Ela resulta de uma construção historiográfica e política do personagem, que encontrou grande receptividade junto à população a partir do século XX. Uma das características dessa representação, que ajuda a explicar essa receptividade e a força de Tiradentes no imaginário brasileiro, é: A) A altivez de Tiradentes, que indica uma posição de repúdio às autoridades políticas e religiosas. B) A identificação de Tiradentes com as causas populares, representadas pela figura do carrasco negro. C) A resistência de Tiradentes à religião, indicando sua ligação com o Iluminismo. D) A abnegação cristã de Tiradentes, indicando a entrega de si ao sacrifício por um ideal. E) O estado físico de Tiradentes, indicando seu sofrimento pelas torturas na prisão. Resolução desta questão na plataforma.
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