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1 Paula Leite – 4º MED FARMACOLOGIA - ANTI-ANÊMICOS – AULA 25/11/2020 ▪ O que é anemia? • É um quadro que tem inúmeras causas, algumas hereditárias e outras adquiridas, representado pela baixa de hemoglobina ou da porcentagem de glóbulos vermelhos no volume total de sangue (hematócrito) registrada no hemograma. • É fundamental buscar a causa da anemia, o tratamento depende disso. • Muito frequente e importante na prática. ▪ Causas de anemia • Diminuição da produção de hemácias: Deficiência de ferro, deficiência de vitamina B12, talassemia, doenças crônicas (IRC), neoplasia da medula espinhal. • Aumento da destruição de hemácias: Anemia falciforme, malária, doenças autoimunes. • Perda sanguínea: Trauma físico, hemorragias. A hemoglobina é formada por 2 cadeias alfas, 2 cadeias betas e pelo grupo heme. ANEMIAS CARANCIAIS ANEMIA FERROPRIVA • Incidência: 40% das crianças na região Sul. E 60% das crianças na região nordeste. • Metabolismo do ferro: Pode ter problema na absorção do ferro → No duodeno e região proximal do jejuno, é absorvido sob a forma ferrosa (ferriredutase vai converter o Fe+3 em Fe+2) ou heme. • Ferro heme: Facilmente absorvido → Carne vermelha, fígado dos animais, peixes, ovos e carnes de aves. • Ferro não heme: Menor absorção. A absorção melhora com vitaminas (C e A) → Verduras de folhas escuras: espinafre, couve. Precisa ser reduzido em ferro ferroso (Fe2+) pela ferriredutase para ser absorvido. • Etiologia da deficiência do ferro 1. Aumento da demanda: Primeiro ano de vida, adolescentes, sangramento menstrual, gravidez. 2. Fatores nutricionais: Leite materno 50% Fe absorvido e leite de vaca 10% Fe absorvido. Ferro de origem animal: 10 a 30% Ferro de origem vegetal: 1 a 7% Inibem a absorção do ferro: trigo, fibras, cálcio e taninos (encontrados em chás, cafés e vinhos) 3. Doenças intestinais: Diarreias graves, doença de Crohn, doença celíaca não tratada, ressecção intestinal. 4. Perdas sanguíneas: Perda no período pré-natal Enteropatia exsudativa: hipersensibilidade ao leite de vaca Lesões anatômicas intestinais: pólipos, divertículos de Meckel, duplicação intestinal, hemangiomas Verminoses: Necator americanus e Ancylostoma duodenalis. Menstruação e gravidez. Úlcera péptica Epistaxe → Sangramento Nasal 2 Paula Leite – 4º MED Hematúria → Sangue na urina • Quadro clínico Palidez, astenia, irritabilidade, dificuldade de concentração, distúrbios na atenção e percepção, atraso no desenvolvimento intelectual, alteração na função cognitiva Anorexia, geofagia, disfagia, perversão alimentar Infecções recorrentes, principalmente em vias aéreas: Diminuição dos linfócitos T; Inibição da atividade bactericida dos neutrófilos nos desnutridos. • Exame físico Palidez na pele e mucosas, atrofia de papilas linguais, glossite, queilite, coiloníquia (unhas concavas), taquicardia, sopro funcional no foco mitral, insuficiência cardíaca. • Alterações no esfregaço sanguíneo: Microcitose (↓VCM) e hipocromia. Normal Anemia ferropriva • Tratamento 1 – Orientação alimentar: Leite materno exclusivo nos primeiros 6 meses. Carnes, vísceras, peixes, feijão, frutas cítricas. 2 – Terapia medicamentosa: Oral → Comprimidos, flaconetes, gotas, solução e comprimidos mastigáveis. Sulfato ferroso: 5mg/kg/dia Fe elementar. Dividido 3 doses, 30 min antes das refeições: 4 a 6 meses Efeitos colaterais: náuseas, desconforto epigástrico, cólicas, constipação e diarreia Parenteral→ Íon férrico inorgânico livre produz toxicidade grave dependente da dose, limitando a mesma. Formulação como coloide, hidróxido férrico circundado por carboidrato (ferro bioativo) → Sacarato de hidróxido férrico 100mg/5ml Toxicidade clínica - Aguda: Se uma criança ingerir por acidente 10 comprimidos pode ser letais (gastroenterites necrosantes, vômitos, dores abdominais, diarreia sanguinolenta, choque, letargia, dispneia, acidose metabólica grave, coma e morte) Para reverter o caso: Comprimidos não absorvidos: existe a possibilidade de fazer uma irrigação intestinal Comprimidos absorvidos: Desferroxamina (quelante do ferro, via intravenosa, liga-se ao ferro absorvido e promove excreção na urina e fezes) Deferiprona e deferasirox (quelantes do ferro, via oral) - Crônica: Hemocromatose: deposito excessivo de ferro no coração, fígado, pâncreas e em outros órgãos. (Falência orgânica e morte) Hemocromatose hereditária: Absorção excessiva de ferro Pacientes muito transfundidos por um longo período. - Sobrecarga crônica: Pacientes com causa hereditária e adquirida de anemia refratária (talassemia maior, anemia falciforme e aplástica) 3 Paula Leite – 4º MED Flebotomia intermitente: remove 1 unidade de sangue a cada semana. 3 – Evitar transfusões sanguíneas Não recomendada suplementação em pessoas sem sintomas, a não ser que o nível de hemoglobina seja inferior a 6g/dL. Estas recomendações aplicam-se também a algumas pessoas com hemorragias agudas. ANEMIA MEGALOBLÁSTICA • Doenças sanguíneas caracterizada por hemácias grandes, imaturas e disfuncionais (megaloblastos) • É uma anemia macrocítica (VCM>100) (VR: 80 a 100fL) • Causadas por inibição na síntese do DNA na produção de hemácias, ocasionada por deficiência de ácido fólico ou vitamina B12. DEFICIÊNCIA DE ÁCIDO FÓLICO - Causas mais comuns: Prematuridade, anemias hemolíticas, diarreia crônica grave. - Dieta pobre ou insuficiente (cereais, frutas, vegetais, carne); leite de cabra - Linfomas, leucemias, mielodisplasias - Drogas: Metotrexato, anticonvulsivantes, trimetoprima, pirimetamina, sulfonas. • Quadro clínico Pele pálida, fraqueza, cansaço, aftas, inchaço na língua, retardo do crescimento. Em fetos ocorre a má formação do tubo neural e transtornos do espectro autista • Esfregaço sanguíneo: Neutrófilos hipersegmentados, anemia macrocítica, leucopenia, plaquetopenia. - Reticulócitos: normais - Medula óssea: hipercelular, hiperplasia eritróide, megaloblastos. - Dosagem: Ácido fólico < 3ng/ml • Tratamento 4 Paula Leite – 4º MED Orientação alimentar: carne, peixe, vegetais, frutas, cereais. Ácido fólico: 2 a 5 mg/dia VO Via parenteral raramente necessária, VO bem absorvido. Pacientes em alto risco: grávidas, dependentes de álcool, anemia hemolítica, doença hepática, diálise renal. ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE B12 • Etiologia: - Nutrição inadequada: vegetarianos - Deficiência materna afetando feto e lactente - Deficiência do fatos intrínseco por mecanismo autoimune (Anemia perniciosa), gastrite, gastrectomisados, uso de antiácidos. Doença de D. Crohn, linfomas. • Quadro clínico Fraqueza e cansaço fácil. Perda do apetite, náuseas, perda de peso, diarreia ou constipação, glossite ou úlceras na língua, palidez de pele e mucosas Síndrome neurológica: fraqueza muscular, parestesias, ataxia, demência, depressão, atrofia do nervo óptico. • Tratamento Orientação alimentar (carne, fígado, ovos e derivados do leite) Cianocobalamina e hidroxicobalamina (convertidas em desoxiadenosilcobalamina e metil cobalamina – formas ativas) Cianocibalamina: 15 a 150mcg VO ou IM semanal 4x a 6 semanas e após mensalmente. Eritropoetina -Fator de crescimento hematopoiético - “Doping sanguíneo” -Indicação: Pacientes com doença renal, anemia em prematuros, anemia em pacientes infectados por HIV, distúrbios primários da MO (anemia aplásica, leucemias, distúrbios mieloproliferativos, mielodisplásicos) - Posologia Pacientes com IRC: 50UI/Kg/dose via SC, 3x por semana + sulfato ferroso 40mg VO 3x ao dia nos intervalos das refeições ou sacarato de hidróxido férrico Sacarato de hidróxido férrico: Dose teste: 25mg em 100mL de salina e administrar IV no mínimo Dose de ataque: nível de ferritina <200ng/mL ou saturação de transferrina <20%. 1000mg de ferro (em 10 sessões de diálise ou 2 ou 3x por semana) Dose de manutenção: nível de ferritina superior a 200ng/mLe saturação de Transferrina superior a 20%. 100mg IV dose única a cada 15 dias. Objetivos do tratamento: - Manter níveis de hemoglobina entre 10 1 12g/dL; - Manter o nível sérico de ferritina entre 200 a 500 ng/ml; - Manter a saturação da Transferrina entre 20% e 30%. Pacientes com câncer: 150UI/kg/dose, 3x por semana por via SC. Pacientes com HIV: 150UI/kg/dose (50 a 400UI/kg) SC, durante 8 semanas. Prematuros: 250 UI/Kg, 3 a 5x por semana, por via IV ou SC, a partir da segunda semana de vida e durante 8 semanas. Efeitos colaterais: Hipertensão, complicações trombóticas, aumentam o risco de eventos cardiovasculares graves, acidente vascular encefálico e morte. DOENÇA FALCIFORME • Epidemiologia: - Doença hereditária mais frequente no Brasil (3500 casos novos/ano) - Ministério da saúde: 4% da população tem o traço falciforme. - Doença monogênica mais frequente no mundo caracterizada pela ocorrência de hemácias falcizadas devido à presença da hemoglobina S(HbS), que decorre da mutação pontual, uma substituição A-T (GAG-GTG) no primeiro éxon do gene betaglobina 5 Paula Leite – 4º MED - A cadeia betaS globina, forma um tetrâmero assimétrico que se polimeriza em baixa pressão parcial de O2, formando longas fibrilas, as quais tornam as hemácias rígidas e modificam sua forma, tornando-as falciformes. • Tratamento: - As crises dolorosas são tratadas por hidratação, aquecimento e analgésicos, desde anti-inflamatórios não esteroidais até opioides. - A crise torácica aguda e seus sintomas são tratados com inalação de O2, espirometria incentivada e transfusão sanguínea. - No sequestro esplênico, a anemia grave ameaça a vida, assim, é necessária a transfusão sanguínea. - Dor frequente decorre do dano tissular isquêmico secundário à obstrução do fluxo sanguíneo pelas hemácias falcizadas - Essas crises de dor em geral duram de 4 a 6 dias, e podem persistir por semanas. Hipóxia, infecção, febre, acidose, desidratação e exposição ao frio extremo precipitam as crises álgicas. - Dor graduada de 1 a 3: Iniciar dipirona de 4/4h; e Suspender após 24h sem dor. - Dor graduada de 3 a 6: Iniciar dipirona de 4/4h + diclofenaco VO de 8/8h; Após 24h sem dor, retirar o diclofenaco, e manter a dipirona de 4/4h; e Em caso de retorno a dor, retomar ao diclofenaco, e buscar a emergência de referência. - Dor graduada de 6 a 10: Iniciar a dipirona de 4/4h + codeína de 4/4h (intercalados) + diclofenaco VO, de 8/8h; Após 24h, sem dor, retirar a dipirona; e manter a codeína; de 4/4h com diclofenaco Após mais de 24h sem dor, retirar completamente a codeína, mantando o diclofenaco por mais 24h; e Em caso de retorno da dor, retomar ao diclofenaco, e buscar a emergência de referência. - Hidroxiureia (HU; hidroxicarbamida ou Hydrea) Altera a enzima ribonucleotídeo redutase, resultando no atraso da fase S do ciclo celular e por mecanismo ainda não esclarecido aumenta a produção de HbF, mas, a resposta individual a HU é muito variável. - Niprisan e Ciklavit. - A punica opção curativa para a anemia falciforme é o transplante de células tronco hematopoiéticas. Contudo, apenas 25% dos casos apresentam doadores compatíveis. - Estratégia moleculares: edição gênica, indução da síntese de hemoglobina fetal por silenciamento gênico (RNA de interferência e disrupção) e dobramento da cromatina. TALASSEMIA • Doença hereditária – mal formação da hemoglobina • Mutação em 1 dos 2 cromossomos 16 – cadeia alfa • Mutação 1 dos 2 cromossomos 11 – cadeia beta • Desproporcionalidade entre o número de cadeias alfa e beta produzidas, e cada hemácia terá menos moléculas de hemoglobina em seu interior. • Se 1 gene danificado: Suas células vermelhas do sangue podem ser menores do que o normal. Você não terá nenhum sintoma e você não vai precisar de tratamento. Mas você é um portador silencioso. Isto significa que você não tem a doença, mas pode passar o gene defeituoso para o seu filho. • Se 2 genes danificados: anemia muito suave, que normalmente não precisa de tratamento. Isso é chamado de alfa talassemia maior. 6 Paula Leite – 4º MED • Se 3 genes danificados: Anemia ligeira a moderadamente grave. Isso às vezes é chamado de doença da hemoglobina H. As cadeias beta continuam s ser produzidas de maneira normal, e as moléculas excedentes começam a se combinar entre si, originando um novo tipo de hemoglobina. • Tratamento - Depende da gravidade Talassemia menos → Não necessita Talassemia intermediaria e grave → Transfusão sanguínea e ácido fólico - Transplante de células-tronco - Remoção do baço
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