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MET. PRAT. DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
(CEL0547/5674787) 9001 
Professor: 
 
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METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
A FORMAÇÃO DOS LEITORES E ESCRITORES NO 
BRASIL 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
• compreender os fatores intervenientes da formação de leitores e escritores nos espaços escolares e 
não escolares; 
• analisar o fenômeno sociocultural do analfabetismo funcional; 
• analisar nos dados biográficos os mediadores importantes no processo de formação como leitor e 
escritor de cada aluno de pedagogia. 
Conhecer a BNCC e o processo de letramento 
Para início de conversa, pense no seu processo de formação como leitor e escritor e reflita sobre as 
questões a seguir. 
Qual é a função social da leitura e da escrita? 
Quais pessoas foram fundamentais no seu processo de formação como leitor e escritor? 
Por que existem tantos analfabetos funcionais? 
Essas são algumas das questões que discutiremos nesta aula. 
Ao pesquisarmos a iconografia brasileira, concluímos que a representação de leitores e escritores passa 
a ser apresentada somente no período republicano. Fato que nos remete a uma elitização desses 
processos, pois as grandes camadas da população não tinham acesso à escolaridade. 
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Assista https://www.youtube.com/watch?v=hizVJKJjkN0 para entender como a Base Nacional Comum 
Curricular entende o letramento e a alfabetização. 
Conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes curriculares 
das 
Linguagens http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 
• Educação na Colônia 
A educação era representada pela ação dos jesuítas da Companhia de Jesus, liderada pelo Padre 
Manuel da Nóbrega. Não havia qualquer ação educativa sistemática para os negros que 
trabalhavam nas 
lavouras. 
• Educação no Império 
Em 1824, é outorgada a primeira Constituição brasileira que preconizava a "instrução 
primária e gratuita para todos os cidadãos”. Mas na prática, ainda não havia uma organização 
educativa por parte do Estado. 
• Educação na República 
José Ferraz de Almeida Jr (Brasil,1850-1899) Moça com livro, 1879, MASP. 
O percentual de analfabetos no ano de 1900, segundo o Anuário Estatístico do Brasil, do 
Instituto Nacional de Estatística, era de 75%. 
• Brasil Atual 
Atualmente, temos vários programas de incentivo à leitura. Dentre eles, o PROLER que foi 
instituído em 13 de maio de 1992 pelo Decreto nº. 519, e está vinculado à Fundação Biblioteca 
Nacional (FBN). 
1 E por falar em formação de leitores... 
Vamos dialogar com Marlene Carvalho (2001). 
Saiba mais 
 
Marlene Alves de Oliveira Carvalho lecionou durante mais de dez anos em escolas municipais. 
Formou-se em pedagogia pela UFRJ, onde também fez mestrado em Educação. Na Bélgica, 
concluiu o Doutorado, com uma tese sobre classes de alfabetização. Criou o Curso de Extensão 
em Alfabetização para Professores do Município do Rio de Janeiro. Atualmente, é professora do 
Mestrado da UCP e assessora pedagógica do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos 
organizado pela UFRJ. 
CARVALHO, M. Guia Prático do Alfabetizador. Rio de Janeiro, Ática: 2001. 
https://www.youtube.com/watch?v=hizVJKJjkN0
https://www.youtube.com/watch?v=hizVJKJjkN0
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Diante de sua vasta experiência na formação de professoras alfabetizadoras, Marlene afirma que: 
“Produzir bons leitores é um desafio para a escola em todas as partes do mundo. Da escola primária à 
universidade, professores se queixam de que a maioria dos alunos lê mal e não sabe usar os livros para 
estudar”. (pág. 09). 
Essa afirmação da pesquisadora nos ajuda a refletir sobre os critérios de qualidade e eficiência nos 
métodos de alfabetização que são utilizados na educação básica. 
Ler é uma atividade bastante complexa que vai exigir o trabalho de vários processos psicológicos 
(concentração, percepção, análise, síntese e interpretação) e mecanismos cerebrais. 
Saiba mais 
 
Leitores eficientes reconhecem a palavra de forma rápida e automática, focalizam sua atenção 
no significado e apresentam uma boa memória. Por outro lado, pessoas sem proficiência na 
leitura apresentam dificuldades nos processadores visuais e/ou auditivos. Sendo assim, será 
muito comum cometerem distorções, inversões, trocas e omissões de letras que comprometerão 
a compreensão do texto lido. 
De acordo com ARAÚJO (s/d), há vários mecanismos cerebrais envolvidos na atividade da 
leitura. A palavra escrita é registrada na forma visual, no lobo occipital, depois é ligada à forma 
auditiva, situada no gyro angular, área temporal, especificamente área de Wernick. A atividade 
passa para a área de Broca, pelas fibras de fascículo (arcuate fasciculus). 
 
Saiba mais 
 
“Neste processo, o leitor constrói os significados do texto e os compreende. Reparem que se disse 
construir e não captar os significados. O leitor tem papel ativo, não é apenas receptor” (pág. 10). 
É um modelo dialógico de leitura e interpretação em que o leitor é um co-criador do texto lido e 
precisa experienciar essa atividade desde a primeira infância quando começa a interpretar os 
contos de fadas e as primeiras reportagens de jornal. 
CARVALHO, M. Guia Prático do Alfabetizador. Rio de Janeiro, Ática: 2001. 
As novas técnicas de neuro imagem são capazes de fornecer dados neurofisiológicos para a neurociência que 
auxiliam a compreensão do processo de leitura, na medida em que identificam as estruturas cerebrais 
envolvidas e, sobretudo, descrevem o funcionamento da leitura. 
Muitas áreas do cérebro estão envolvidas durante o processo de leitura. As regiões parietais inferiores 
esquerdas, incluindo os giros supramarginal e angular, estão implicados no processamento fonológico normal, 
na recuperação da palavra, na visualização das palavras e na leitura oral. 
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“Os processamentos de leitura visual, linguístico e ortográfico, se concentram principalmente na 
região extra-estriada do lobo occipital. O processamento fonológico ativa tanto o giro frontal inferior 
quanto o lobo temporal, envolve mais o giro temporal superior do que faz o processamento 
fonológico ou o ortográfico” (Rotta, 2006, p. 156). 
ROTTA, N. T. (et al) (orgs.) Transtornos da Aprendizagem – Abordagem neurobiológica e 
Multidisciplinar. Porto Alegre. ArtMed: 2006. 
O leitor vai sofisticando as suas habilidades de ler, compreender e interpretar o texto, um exemplo bem 
contemporâneo são as leituras cada vez mais rápidas, baseadas em imagem e escritas pictográficas e abreviadas 
a partir da interação com as novas mídias digitais. 
É no contexto da cibercultura, onde o texto se transformou em hipertexto e onde os links fazem a nossa leitura 
estabelecer diálogos em rede com conceitos que apresentam inúmeras estratégias de organização. 
Para Pierre Lévy (1999), a cibercultura é a comunicação universal, uma nova condição cultural caracterizada 
pelo engendramento das novas tecnologias de comunicação e informação. 
Segundo o autor, há três princípios que orientaram o crescimento do ciberespaço: 
a interconexão - termina com fronteiras mundiais em relação à comunicação, pois tudo está interligado; 
a criação de comunidades - está baseado na afinidade de interesses de conhecimentos, em um processo de 
cooperação ou de troca, independente de proximidades geográficas ou filiações institucionais; a inteligência 
coletiva - seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última visto que o ciberespaço pode ser um local para 
sinergia de saberes. 
Referência: LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 
2 O que vem a ser a leitura? 
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Após conhecer os conceito, responda a seguinte questão: Em qual dos modelos estudados ocorreu a sua 
aprendizagem e vivência como leitor no espaço escolar? 
3 Existe um segredo para uma boa leitura? 
“O bom leitor não se faz por acaso. Quase sempre é formado na infância, antesmesmo de 
saber ler, através do contato com a literatura infantil e as experiências positivas no início da 
alfabetização.” 
(CARVALHO, 2001, pág. 11). 
CARVALHO, M. Guia Prático do Alfabetizador. Rio de Janeiro, Ática: 2001 
Com essas assertivas, Carvalho (2001) nos propõe uma leitura contextualizada, dialógica em que o 
leitor assume um papel ativo na construção dos significados do texto e na busca por informações. 
“Podemos dialogar com o autor, concordar ou discordar, fazer perguntas, procurar respostas Podemos 
criticar.” 
(2011, pag. 11). 
CARVALHO, M. Guia Prático do Alfabetizador. Rio de Janeiro, Ática: 2011. 
Conheça alguns conceitos e pense sobre a resposta. 
Modelo 
dedecodificação 
É um processo bem diferente da leitura, pois se limita a decodificação do 
sistema linguístico: letra, palavras e frases, sem, no entanto, ter maior 
atenção sobre o significado do que se está lendo. 
Esta concepção está fundamentada no ensino da leitura como se fosse 
uma lógica combinatória entre os fonemas, que memorizados 
mecanicamente pelo leitor, são sonorizados no ato da leitura. 
Modelopsicolinguístico 
É um processo de interação entre as estruturas cognitivas que o sujeito 
apresenta e as informações do texto. O objetivo principal da leitura é a 
compreensão e, para isso, no processo de leitura, o leitor utilizará seus 
pressupostos subjetivos que o auxiliarão na compreensão do texto. 
Modelo interativo 
É uma concepção fundamentada no diálogo, na troca, na interação que 
ocorre entre o leitor, o autor do texto e o próprio texto. Há uma espécie 
de co-autoria do texto pelo leitor, na medida em que ele inaugura os 
significados construídos no ato da leitura. Desta forma, a leitura é um 
processo perceptivo e cognitivo que só se torna possível dentro de um 
contexto sociocultural. 
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A autora ainda abre a possibilidade para crítica de algumas práticas que são reproduzidas no interior 
da escola mesmo tendo sido amplamente divulgadas em sua ineficácia. 
Crítica de algumas práticas que são reproduzidas no interior da escola: 
Aprender a ler como se fosse um ato mecânico, separado da compreensão é um desastre que acontece 
todos os dias. Estudar palavras soltas, sílabas isoladas, ler textos idiotas e repetir sem fim exercícios de 
cópia, resulta em desinteresse e rejeição em relação à escrita” (...) “O trabalho de alfabetização em 
nossas escolas (seja qual for o método adotado) parte do pressuposto de que o importante é ensinar o 
mecanismo de decodificação porque depois a compreensão virá automaticamente. 
O pressuposto está errado. Antes mesmo de ensinar a decodificar letras e sons, é preciso mostrar aos 
alunos o que se ganha e o que se obtém com a leitura: mas isso só será possível por meio de atividades 
que façam sentido, atividades de compreensão da leitura desde as etapas inicias da alfabetização 
(2001, pág. 11). 
Assim fazemos mais algumas perguntas: 
Porque são mantidas práticas ineficazes de alfabetização? Seria uma decisão política? 
Qual é o resultado imediato destas metodologias na formação dos leitores e escritores? 
Você já ouviu falar dos analfabetos funcionais? 
4 Analfabetismo funcional – uma realidade que pode ser 
transformada 
O conceito de analfabeto funcional é utilizado para designar pessoas incapazes de utilizar a leitura, a 
escrita e a capacidade de calcular de forma pragmática no seu cotidiano, sendo que estas têm uma 
história de escolarização. 
O analfabetismo funcional não é uma realidade apenas brasileira, aliás, ele foi primeiramente 
diagnosticado nos Estados Unidos, ocasião da Segunda Guerra Mundial quando os soldados do exército 
não eram capazes de ler as instruções para utilização dos armamentos, após terem passado, 
contraditoriamente, por anos de escolarização. A partir da evidência, a UNESCO definiu um novo 
conceito para a alfabetização em suas pesquisas educacionais e 
estatísticas. 
Novo conceito para a alfabetização - indivíduos que sejam capazes de desempenhar tarefas em que 
a leitura, a escrita e o cálculo sejam utilizados para o seu próprio desenvolvimento e para o 
desenvolvimento de sua comunidade. 
Diante desta nova categorização, cresce o número de pessoas que passaram mais de quatro anos na 
escola e não são capazes de utilizar a leitura, a escrita e o cálculo matemático em suas atividades diárias. 
Conheça os três níveis distintos de alfabetização que foram revelados pelo Instituto Nacional de 
Alfabetismo Funcional (INAF) para avaliar as habilidades para numeração (matemática) e letramento 
(leitura/escrita) na população adulta. 
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• Nível Pleno 
Localiza mais de um item de informação em textos mais longos, compara informação contida em 
diferentes textos, estabelece relações entre as informações (causa/efeito, regra geral/caso, 
opinião /fato). Reconhece a informação textual mesmo que contradiga o senso comum. 
• Nível Básico 
Localiza uma informação em textos curtos ou médios (uma carta ou notícia, por exemplo), 
mesmo que 
seja necessário realizar inferências simples. 
• Nível Rudimentar 
Localiza uma informação simples em enunciados de uma só frase, um anúncio ou chamada de 
capa de 
revista, por exemplo. 
O nível pleno é considerado satisfatório, pois, permite que a pessoa possa utilizar com autonomia a 
leitura como meio de informação e aprendizagem. 
A partir daí, perguntamos: 
Há um percentual significativo da população brasileira que apresenta as competências do letramento 
no nível pleno de alfabetização? 
5 E por falar em escrita, existe alguma correlação entre a escrita 
e a civilização? 
Para compreender essa questão, vamos fazer um diálogo com José Juvêncio Barbosa (1994). 
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Saiba mais 
 
José Juvêncio Barbosa é professor formado pela USP, colaborador de revistas em pesquisas e foi 
premiado pelo concurso Nacional de Monografias sobre “Alfabetização e Pobreza” (FLE e SBPC, 
1986). 
Se existe um marco da passagem da pré-história para a história é a escrita, pois ela tem “origem no 
momento em que o homem aprende a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos. 
Signos que sejam compreensíveis por outros homens que possuem ideias sobre como funciona esse 
sistema de comunicação” (1994, pág. 34). 
Barbosa, J. J. Alfabetização e Leitura. Coleção Magistério. 2º Grau. Série Formação do Professor. São 
Paulo, Cortez, 1994. 
6 Evolução da escrita 
Conheça as fases da evolução cultural da escrita: 
Pintura 
Antes utilizada como representação estética, a pintura e os desenhos começaram a ser utilizados como 
símbolos para identificar pessoas ou objetos. Foi uma etapa descritiva que não apresentava relação 
com os idiomas. Progressivamente, um mesmo desenho passou a ser utilizado para representar o 
mesmo objeto, sendo que este símbolo era compartilhado por um grupo social. Neste momento, foi 
inaugurada a etapa da escrita mnemônica. 
Escrita ideográfica 
Representando ideias e não palavras, esta modalidade de representação foi encontrada na Sumária 
num templo que recebeu o nome do seu rei em 3150 a.C. 
Escrita cuneiforme 
“Sinais gráficos em forma de cunha, traçados em tijolos de argila por meio de instrumentos de metal”. 
(Barbosa, 1994, pág. 35). Geralmente silábicos, representavam nomes pelo desenho dos sons desses 
nomes, os chamados 
hieróglifos. 
Barbosa, J, J. Alfabetização e Leitura. Coleção Magistério. 2º. Grau. Série Formação do Professor. São 
Paulo, Cortez, 1994. 
Para Barbosa (1994, pág. 36), com a introdução do sistema de fonetização, abrem-se enormemente os 
horizontes para os registros escritos. Passa a ser possível representar todas as formas linguísticas, até 
as mais abstratas, por meio de símbolos escritos. Os símbolos passam a ter valores silábicos 
convencionais: convenção de formas e de princípios. Os signos foram normatizados para que todos 
desenhassem da mesma maneira; estabeleceram-se correspondência entre signos, palavras e sentidos. 
O primeiro alfabeto foi criado por volta de 3000 a.C. e compreendia 24 consoantes.7 Leitura e escrita contemporâneas – influência das mídias 
digitais 
Desde 1444, quando Johannes Gutenberg criou a imprensa tornando possível a disseminação e a 
conservação da cultura através da escrita, muitas transformações ocorreram nas práticas de leitura e 
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escrita da humanidade. Atualmente, temos o internetês que são neologismos que abreviam a palavra 
para tornar sua escrita mais rápida no ambiente digital. 
Esse tema será aprofundado na aula teletransmitida. 
Saiba mais 
 
Para quem se surpreendeu com o universo que apresentamos sobre a leitura e a escrita, Lya Luft 
tem algo a nos dizer em seu conto: Pensar é transgredir (2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
•compreender a alfabetização como prática histórica e cultural; 
•conhecer a história das cartilhas e dos métodos e alfabetização no Brasil. 
Para início de conversa, tente lembrar-se como ocorreu seu processo de alfabetização e, pensando 
nisso, reflita sobre as questões a seguir. 
Qual foi a cartilha adotada e o método aplicado na época da sua alfabetização? 
Como eles influenciaram na sua compreensão do que é aprender a ler e escrever? 
Qual a relação das cartilhas com a história da alfabetização do Brasil? 
Conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes curriculares 
das 
Linguagens 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Essas 
são algumas das questões que discutiremos nesta aula. 
1 O que é alfabetização? 
Você conhecerá a alfabetização como um conceito que é produzido histórica e culturalmente. Então, 
prepare-se para iniciar seu contato com a história da alfabetização no Brasil. 
Para facilitar, o ponto de partida será no início da república até chegarmos aos dias atuais. 
Desde o início da república a questão da leitura e da escrita foi considerado como um problema a ser 
resolvido. Com 75% da população analfabeta, a nova ordem vigente apontava para a necessidade de 
garantir à população o acesso a cultura “letrada”. 
Também podemos olhar para a história da alfabetização do Brasil através das Cartilhas de 
Alfabetização. No início da república, também começa o processo de escolarização das práticas de 
leitura e escrita, onde o principal material é a Cartilha. Dentro dela, virá o método a ser proposto. 
Foram muitas as cartilhas, mas você conhecerá algumas a partir de agora. 
Esta é a primeira cartilha que você conhecerá: a Cartilha Maternal João de Deus. 
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Lisboa: Convergência, 1977. 
Ilustrações: José Rui. 
• A primeira edição é de 1876; 
• segundo Maria do Rosário Longo Mortatti (2000), o método de alfabetização de João de 
Deus foi introduzido na Escola Normal de São Paulo; 
• isso ocorreu em 1883 pelo então professor Antônio da Silva Jardim; 
• em 1897 o governo paulista importou vários exemplares desta Cartilha para distribuir 
nas escolas do estado. 
Conheça um pouco mais sobre as primeiras Cartilhas. 
As primeiras cartilhas foram produzidas por autores estrangeiros. Em seguida, surgiram os 
professores 
brasileiros escritores de cartilhas. 
Os métodos estão presentes nas cartilhas. Os primeiros foram os métodos sintéticos. 
As primeiras cartilhas brasileiras foram produzidas com base nos métodos de marcha sintética, com 
base nos processos de soletração e silabação. 
Os professores, principalmente os fluminenses e paulistas, foram os principais responsáveis com sua 
experiência didática. 
A partir dos anos de 1930, aproximadamente, as Cartilhas passaram a se basear em métodos mistos ou 
ecléticos. Isso ocorreu especialmente em decorrência da disseminação e da repercussão dos testes 
ABC, de Lourenço Filho 
Os métodos mistos ou ecléticos correspondem ao analítico-sintético e vice-versa. 
Exemplo: 
Vejo uma bonita vaca. 
A vaca é a Violeta. 
Violeta é do vovô. Vovô bebe 
leite da vaca. 
vaca veio ôvo cava vejo 
novo cavalo vadio povo 
cavava vida vovô ouve 
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viva vovó couve vivo 
vila uva voa vivi viúva 
voava viola va ve vi vo 
vu va ve vu vo vu V v V v 
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Cartilha de alfabetização e cultura escolar; um pacto secular. In: 
Campinas: Cadernos Cedes, ano XIX, nº. 52, novembro /2000. 
A finalidade desses testes era medir o nível de maturidade necessário ao aprendizado da leitura e da 
escrita, visando a maior rapidez e eficiência na alfabetização. 
Podemos verificar, então, um processo de secundarização da importância do método, uma vez que o 
como ensinar encontra-se subordinado à maturidade da criança e as questões de ordem didática, às de 
ordem 
psicológica. 
O uso da nomenclatura “Cartilha de Alfabetização” passa a ser considerado inadequado a partir dos 
anos 80. Veja abaixo, como ficaram as Cartilhas a partir dos anos 80. 
Os livros de alfabetização usados passam a incorporar novas propostas introduzidas. Mas, os antigos 
livros baseados nos métodos de alfabetização também continuam presentes no meio educacional. 
Empirismo (métodos de alfabetização) 
Construtivismo 
Histórico-Cultural 
Letramento 
Agora, conheça e compare os métodos de alfabetização que foram empregados nas Cartilhas que 
conhecemos até aqui. 
Métodos sintéticos 
O processo de análise da língua se dá das partes para o todo. São métodos que baseiam-se no conceito 
de que as unidades significativas da língua – sons e letras – é que devem ser o ponto de partida. 
 
Métodos Analíticos 
O processo de análise da língua se dá do todo para as partes. São métodos que dão ênfase à 
compreensão da leitura desde a sua fase inicial, baseiam-se no conceito de que as unidades 
significativas da língua – palavras e sentenças – é que devem ser o ponto de partida. 
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METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
TEORIAS DE CONHECIMENTO/FORMAÇÃO DE 
LEITORES E ESCRITORES 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
•compreender os princípios filosóficos, epistemológicos, psicológicos e didáticos das concepções 
empirista, construtivista e sociointeracionista de alfabetização; 
•relacionar as concepções de conhecimento com as práticas de leitura e escrita para crianças e suas 
repercussões no processo de formação de leitores e escritores. 
Há várias formas de ensinar uma criança a ler e a escrever. 
Para começar seu estudo, pense em suas vivências de alfabetização na infância e reflita sobre as 
questões a seguir. 
O que fazer com a escrita espelhada? 
Como trabalhar com jornais para contribuir para o processo de letramento das crianças já na educação 
infantil? 
Uma importante conquista da criança é a aprendizagem da leitura e da escrita. 
Ambos são processos complexos e que conduzirão a criança a um caminho de crescente autonomia e 
construção do conhecimento sobre a realidade que a cerca. 
Podemos empregar várias formas, não aleatórias, para ensinar uma criança a ler e a escrever. Essas 
formas têm relação com as concepções de conhecimento que são apresentadas pelos professores, pelos 
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autores do material didático e por fim, pelas secretarias de educação ou órgãos responsáveis pela 
alfabetização. 
Conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes curriculares 
das Linguagens 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 
Assista o vídeo a seguir para entender mais sobre alfabetização na BNCC. 
https://www.youtube.com/watch? v=xtnSjQXXnt8 
Você conhecerá a partir de agora três concepções de conhecimento: 
Empirista. 
Construtivista. 
Sociointeracionista. 
Prepare-se para conhecer os teóricos que fundamentam essas concepções, assim como seus princípios 
epistemológicos e as práticas que são produzidas na sala de aula na formação de leitores e escritores. 
1 Concepção Empirista 
Antes de qualquer coisa, veja o relato sobre a representação da uma criança no seu primeirodia de aula 
do 
primeiro ano do Ensino Fundamental. Ele nos trará algumas pistas sobre a concepção empirista na 
escola. 
“Era o meu primeiro dia de aula na escola nova. A professora nos recebeu com uma saudação 
de boas-vindas e logo direcionou o lugar que cada um de nós deveria ocupar na sala de aula. 
Sentamos em carteiras bem diferentes daquelas que usamos nos agrupamentos da educação 
infantil. 
Já precisei copiar o cabeçalho e fazer as duas folhas de exercícios que foram colocadas sobre 
a minha mesa. Eram pontinhos que deveriam ser cobertos com capricho e sem sair da linha. 
Não entendi 
muito bem. Lembro que errei ao ter que ligar a joaninha na folha e a abelha na flor. 
Voltei para casa com um dever: copiar meu nome completo 3 vezes seguidas no caderno de 
casa”. 
Esse relato remeteu a você alguma memória sobre as suas vivências de alfabetização na infância? 
Compare-as com a concepção empirista, que você conhecerá a seguir. 
A Concepção Empirista fundamenta uma prática de alfabetização que associa a aprendizagem da 
leitura e da escrita à experiência e ao treinamento de habilidades psicomotoras. 
A concepção filosófica empirista foi representada fortemente por John Locke (1632-1704) que 
defendia a experiência e os sentidos como elementos a serem valorizados para o alcance do 
conhecimento. 
Sendo assim, a alfabetização é concebida como um processo que deve estar apoiado em critérios de 
prontidão ou maturação neurológica, pois a criança deve ter estruturas nervosas e perceptivas 
prontas para interagir com o meio e extrair dele as experiências alfabetizadoras. 
Em nome desta prontidão, muitos educadores procuram antecipar a maturação das habilidades viso-
motoras nas crianças utilizando, no dia a dia da educação infantil, exercícios psicomotores que 
https://www.youtube.com/watch?v=xtnSjQXXnt8
https://www.youtube.com/watch?v=xtnSjQXXnt8
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objetivam preparar a criança para desenvolver a coordenação motora fina, a discriminação da 
esquerda e da direita, a organização espacial dos traçados no papel entre outras habilidades 
necessárias à escrita. Notem que essas habilidades são exercitadas no papel, em folhas previamente 
planejadas, mimeografadas e oferecidas pelo professor. 
O princípio psicológico que fundamenta as práticas de treinamento empirista no processo de 
alfabetização está baseado na escola behaviorista e na concepção de aprendizagem como uma 
modelização de comportamento a 
partir de estratégias de reforço positivo. 
Saiba mais 
 
Behaviorismo é uma escola psicológica que utilizou o comportamento como objetivo de estudo. 
De acordo com ele, o comportamento humano é definido pelas aprendizagens que ocorrem no 
meio ambiente e através dos reforços recebidos. 
A criança aprenderá a ler e a escrever a língua portuguesa como um modelo, utilizando-se: 
• do treinamento; 
• da cópia; 
• da repetição; • da memorização. 
A criança, portanto, é vista como ser passivo e incompleto, que deve ser ensinado pelo meio, pois as 
suas experiências culturais (não escolares) com a leitura e a escrita não são valorizadas pela escola. 
Com base na concepção empirista, veja como são considerados: 
Escrita 
É compreendida como uma atividade motora que deriva da associação dos estímulos sonoro-auditivos 
e precisa estar de acordo com as regras da gramática normativa, fazendo com que a criança escreva a 
partir de um modelo, ou seja, de uma cópia apresentada pelo professor. 
Dessa forma, a escola ao ensinar a escrita não abre espaço para as práticas discursivas que fazem parte 
da cultura das crianças que estão no processo de alfabetização. (OSWALD, 1996). 
Leitura 
É concebida como uma decodificação ou decifração dos sinais gráficos em fonemas, sendo assim, mais 
importante que o significado do texto lido é a composição dos fonemas que formam as palavras, pois 
através da repetição sonora a criança aprenderá a ler. 
Material didático 
O material didático privilegiado pela escola são a cartilha e as palavras previamente definidas pelo 
professor para a apresentação das dificuldades ortográficas em uma ordem crescente para as crianças. 
Ambiente alfabetizador 
É aquele em que as palavras, as lições, os textos já estão prontos, as crianças são concebidas como 
sujeitos passivos que deverão aprender de acordo com as apresentações feitas pelo professor. 
Cópias, ditados, caligrafia e vários instrumentos priorizam a forma em detrimento do conteúdo da 
escrita. 
Muitos educadores se sentem mais seguros ao se fundamentarem na concepção empirista, pois foram 
alfabetizados com ela. Além disso, conseguiram alfabetizar centenas de crianças ao longo de suas vidas 
profissionais. 
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Levantamos, então, o seguinte questionamento para esses educadores: 
Será que as competências exigidas aos leitores e escritores da atualidade são exercitadas neste 
paradigma empirista? 
 
2 Concepção Construtivista 
Antes de estudar a concepção construtivista, veja um relato de outra criança sobre o seu primeiro dia 
de aula. Ele 
mostrará algumas características da concepção construtivista no cotidiano da alfabetização. 
“No meu primeiro dia de aula, a professora nos convidou para fazer uma rodinha e nos deu 
uma tira de papel colorido. Pediu que cada um escrevesse seu nome, da forma como soubesse 
e desenhasse algo que gostasse ao lado. 
Brincamos de escrever. A professora pediu que mostrássemos a nossa produção para os 
colegas e escreveu o nosso nome na parte de trás da tira. 
Brincamos de ler e descobrimos que vários colegas têm a letra C no início do seu nome. A 
letra C é a mesma de casa e cadeira. 
Trocamos as fichas e a professora pediu para cada um ler o nome que estava escrito na ficha 
do colega e colocá-la na chamadinha. 
Terminamos o dia descobrindo que todos têm um nome, os nomes são diferentes dos apelidos, os 
nomes estão na carteira de identidade e servem para nos diferenciar das outras pessoas.” 
Conheça agora a concepção construtivista. 
Chegou ao Brasil nos anos 80 para fazer uma crítica às práticas mecanicistas de ensino da leitura e da 
escrita tão utilizadas na concepção empirista. 
Chegou juntamente com uma nova proposta de prática educativa conhecida como construtivismo. 
Nesta concepção, a criança era concebida como um sujeito ativo na construção e sistematização dos 
seus conhecimentos. 
A concepção Construtivista de ensino da leitura e da escrita está fundamentada na teoria de 
desenvolvimento psicológico de Jean Piaget. 
Jean Piaget (1896-1980) foi um epistemológico com formação em biologia que dedicou sua vida 
acadêmica ao estudo da epistemologia genética, ou seja, a gênese do conhecimento humano ao longo 
do desenvolvimento. Para Piaget, a criança apresenta uma inteligência em permanente adaptação ao 
meio, e isso acontece pelas sucessivas tentativas de assimilação e acomodação que ocorrem na 
interação com os objetos de conhecimento. Nesta teoria, a criança é concebida como um sujeito em 
18 
 
permanente construção do seu conhecimento, a partir da sofisticação dos esquemas cognitivos 
utilizados para interagir com a realidade. 
Para Piaget, o sujeito passa por sucessivos estágios de desenvolvimento cognitivo, a começar pelo 
estágio sensório-motor que é caracterizado por uma inteligência prática, perceptiva e motora que é 
sucedida por uma forma de inteligência representativa na qual a aquisição da linguagem é a maior 
conquista e, a aprendizagem da leitura e da escrita, as maiores transformações que a criança pode 
sofrer na sua interação com o ambiente. Este estágio é chamado de pré-operatório e, nele, a criança 
inaugura uma lógica simbólica e lúdica nas suas interações com os objetos de conhecimento. 
A obra de Jean Piaget foi o alicerce da pesquisa desenvolvida pela argentina Emília Ferreiro e pela 
espanhola Ana Teberosky. Para as pesquisadoras, da mesma forma que a criança passa por fases do 
desenvolvimento da sua cognição, também passa por fases universais do desenvolvimento da escrita. 
Essa pesquisa é conhecida pelo nome Psicogêneseda Língua. 
Veja a seguir, a transformação que a Psicogênese da Língua Escrita ocasionou. 
É possível afirmar que a pesquisa e Emília Ferreito e Ana Teberosky transformou a lógica do ensino na 
alfabetização por situar a criança enquanto sujeito cognoscente, que interage ativamente com a 
linguagem dos símbolos, e que é capaz de construir hipóteses cada vez mais sofisticadas de leitura e 
escrita. 
Para as autoras, antes de a criança já escrever e ler convencionalmente, ela é capaz de produzir 
hipóteses sobre os sistemas de representação de escrita. 
Veja quais são as fases do desenvolvimento da escrita. 
• Fase pré-silábica 
Nesta fase, a criança escreve da forma como sabe e tenta diferenciar letras, números e desenhos 
numa tentativa de definir o que pode ser lido. 
Não existe qualquer correspondência entre o som e as tentativas de representação gráfica das 
palavras, pois as crianças utilizam elementos gráficos icônicos que podem ter relação com o 
signo que está sendo representado. 
As crianças também utilizam as letras que compõem o seu nome, pois elas fazem parte do seu 
universo 
cultural. 
• Fase silábica 
A criança já percebe que a escrita é formada por um conjunto de símbolos que são convencionais 
e que ela pode representar a realidade. Mas, para isso, é necessário que algumas condições sejam 
satisfeitas como a quantidade e a qualidade mínima de caracteres escritos. 
Palavras monossilábicas e sílabas soltas se tornam um material de mais difícil leitura. A criança 
começa a escrever com uma lógica silábica, atribuindo uma letra para cada sílaba, 
compreendendo que o princípio que forma as palavras é o fonográfico, ou seja, um princípio que 
relaciona grafema e fonema. 
• Fase silábico-alfabética 
Nesta fase, a criança sofistica um pouco mais a sua compreensão da formação da escrita ao 
trabalhar com a lógica silábica e com a alfabética. Nesta transição, ela percebe que cada letra 
pode representar um fonema ou uma sílaba. 
• Fase alfabética 
19 
 
Quando a criança compreende que a escrita é a representação da fala e que cada fonema 
representa uma 
letra, ela está alfabetizada. 
Quando utilizar as letras de acordo com o seu valor sonoro convencional, a criança estará na fase 
alfabética e ortográfica. 
Na medida em que o professor passou a perceber a aprendizagem da escrita como um processo 
cognitivo, a noção de erro foi ressignificada, pois este foi compreendido como constitutivo do 
desenvolvimento das hipóteses cada vez mais sofisticadas de escrita. 
Ao contrário das cópias realizadas na concepção empirista, a criança na concepção construtivista 
escreve refletindo sobre as suas hipóteses de construção da palavra. 
Veja o que Smolka (1989) nos diz como questionamento para a concepção construtivista de 
conhecimento e suas 
práticas de leitura e escrita. 
Smolka (1989) destaca que a alfabetização não deve ficar restrita à correspondência entre grafia e 
fonema, nem tampouco à categorização de crianças de acordo com a fase de desenvolvimento da 
escrita. Isso aconteceu perante uma apropriação superficial da pesquisa de Ferreiro e Teberosky e sua 
aplicação direta na sala de aula. 
Para Smolka (1989), os processos de leitura e escrita são muito mais complexos que os conflitos 
cognitivos destacados na psicogênese e devem ser vivenciados na escola dentro da dimensão simbólica 
do processo de conceitualização e elaboração das experiências. Em outras palavras, a leitura e a escrita, 
precisam ser trabalhadas dentro dos contextos discursivos em que são produzidas. 
3 Concepção Sociointeracionista 
Vamos conhecer a seguir a concepção sociointeracionista. 
Esta concepção foi construída com base na psicologia sócio-histórica de Lev Vygotsky (1896-1934) e 
das pesquisas neuropsicológicas realizas por Alexander Luria (1902-1977) sobre a aprendizagem da 
leitura. 
De acordo com esses autores, a criança é concebida como um sujeito histórico e em permanente 
desenvolvimento de sua subjetividade e da cultura em que vive. 
Neste sentido, Oswald (1996) afirma que “ao mesmo tempo em que a criança é transformada pelos 
valores culturais do seu ambiente, ela transforma o seu ambiente” (p. 63). Sendo que essa 
transformação é mediada pela linguagem e pelas produções culturais que fazem parte da sociedade na 
qual vivemos. 
O conhecimento é construído socialmente e as práticas de leitura, escrita e oralidade são importantes 
elementos simbólicos para o desenvolvimento das funções mentais superiores. 
Lev Vygotsky (1998) dividiu o desenvolvimento psicológico em funções mentais elementares e 
superiores. 
Estas funções se sofisticam, à medida que as práticas culturais se transformam e exigem dos leitores e 
escritores competências cada vez mais complexas para interagir com a informação, a comunicação, as 
imagens e os vários instrumentos culturais presentes na sociedade. 
As funções elementares são inatas e não diferem entre os sujeitos. São aculturais. Fazem parte do 
equipamento biológico para a preservação da espécie. 
20 
 
As funções mentais superiores são construídas na interação social, por meio da linguagem e dos signos 
e instrumentos que fazem parte da cultura. 
Saiba mais 
 
Se desejar ampliar seus conhecimentos, leia o texto “O segredo em preto e branco” e veja como 
o código de barras se constitui como texto de identificação de produtos e como é feita a sua 
leitura. 
Para a concepção sócio-histórica a linguagem informa e constitui os sujeitos como membros de um 
grupo cultural. Na escola, a leitura e a escrita são trabalhadas como experiências histórico-culturais 
que emergem nos discursos, nas palavras, nos ditos e não-ditos dos textos utilizados. 
Sendo assim, não há uma única forma de escrever, pois a escrita revela dialetos e as variáveis 
linguísticas, tão comuns num país com amplitude continental como o nosso. 
Tampouco, há uma única forma de compreender os textos, pois eles são ricos em significados e 
dependem da subjetividade do leitor. Os sentidos de cada palavra são inaugurados no ato da leitura e 
interpretação do texto. 
De um mesmo texto, múltiplos significados podem emergir. Projetos, poesias, músicas, enfim, 
experiências culturais que são condizentes com a cultura vigente e com as demandas da sociedade. A 
leitura, a escrita e a oralidade são trabalhadas na função social que apresentam na sociedade e em 
variados gêneros discursivos: como veículos de informação, comunicação e lazer. 
Os significados das palavras e enunciações são compartilhados pelos interlocutores numa dialogia em 
que o outro dá sentido e interpreta as produções de linguagem. 
Leitor, escritor, leitura e escrita, criador e criatura se confundem num processo em que a singularidade 
faz parte do cotidiano educativo. Veja as palavras de Smolka: 
“a criança aprende a ouvir, a entender o outro pela leitura; aprende a falar, a dizer o que quer pela 
escrita” 
(SMOLKA, 1988 p. 63). 
Como esse aprendizado acontece? 
Esse aprendizado acontece através do estabelecimento de várias Zonas de Desenvolvimento Proximais. 
Isso ocorre porque as práticas linguísticas são desenvolvidas socialmente na escola, em casa, com 
diferentes instrumentos culturais que tornam o indivíduo mais competente do que se estivesse 
aprendendo 
mecanicamente as regras da língua mãe. 
As Zonas de Desenvolvimento Proximais (Vygotsky, 1998) são estabelecidas a partir de uma lógica do 
desenvolvimento humano em que existem dois níveis: um real e um potencial. 
O real se refere às funções maduras ou estabelecidas num sujeito – o que ele consegue fazer sozinho 
no presente. As potenciais significam aquilo que será realizado num futuro próximo ou com a 
cooperação de uma 
companheiro mais capaz no presente, pois a interação social facilita e antecipa a aprendizagem. 
Para saber mais sobre o cotidiano dessa concepção, leia aqui o relato de uma criança no seu primeiro 
dia de aula 
em uma escola com orientação sociointeracionista. 
“Mudar de escola, mudar de professora. Quantas novidades para o primeiro diade aula! 
21 
 
A professora nos sentou no chão e com uma folha de papel bem grande pediu para nós 
falarmos para quê serve a leitura e a escrita. Enquanto falávamos, ela escrevia nossa fala no 
papel. 
Depois ela perguntou o que gostaríamos de aprender a ler e a escrever e nos apresentou uma 
caixa cheia de gibis, revistas, figurinhas, livros e até um dicionário. Ficamos brincando com 
aqueles materiais até que ela sugeriu que, em duplas, escolhêssemos uma palavra para 
pesquisar no dicionário. Eu e minha amiga escolhemos a palavra jornal. A professora leu para 
nós o significado e perguntou quem já tinha lido jornal com a família. 
Terminamos o dia planejando a atividade da semana que seria trabalhar com jornais na 
escola.” 
O trabalho com jornais contempla as premissas da concepção sociointeracionista, pois a leitura, a 
escrita e a pesquisa são realizadas de forma contextualizada e lúdica. 
 
 
 
 
METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
ALFABETIZAÇÃO EM UMA PERSPECTIVA 
CONSTRUTIVISTA 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
•identificar e examinar criticamente a teoria Construtivista; 
•analisar os níveis descritos na pesquisa de Emília Ferreiro, a Psicogênese da Escrita. 
Para dar início ao estudo desta aula, pense no processo de construção da escrita de uma criança e reflita 
sobre as questões a seguir. 
Que olhar devemos lançar para a escrita das crianças? 
Qual é a lógica da criança no processo de construção da escrita? 
22 
 
O erro pode contribuir para a aprendizagem? 
Essas são algumas das questões que discutiremos nesta aula. 
1 Piaget - Construtivismo 
Emília Ferreiro desenvolveu a pesquisa denominada “A Psicogênese da Escrita”, que tem como 
pressuposto a 
Teoria Construtivista elaborada por Jean Piaget. 
Confira os pressupostos da teoria construtivista do suíço Jean Piaget. 
Um sujeito que cresce e se desenvolve na interação com o meio no qual está inserido. Um homem que é 
inteligente e construtor do seu conhecimento. 
Desenvolvimento impulsionado pela aprendizagem. Os indivíduos crescem de forma semelhante, 
passando por estágios de desenvolvimento com características comuns aos diferentes homens. 
O homem na perspectiva piagetiana é um “sujeito universal”, é um sujeito inteligente que constrói o seu 
conhecimento na sua relação com o meio físico e social. 
Agora, conheça a pesquisa feita por Emília Ferreiro. 
Com base nos estudos de Piaget, Emília Ferreiro desenvolveu a pesquisa, em seu trabalho de doutorado, 
investigando como as crianças constroem o seu conhecimento sobre a língua escrita. 
Com a orientação do professor Piaget, Emília Ferreiro observou em seu estudo diferentes crianças em 
situações de escrita. Era uma pesquisa experimental, mas não em situações de sala de aula com crianças 
sendo 
alfabetizadas. 
2 Emília Ferreiro – A Psicogênese da Escrita 
Como acabamos de ver, diferentes crianças foram colocadas em situações de leitura e escrita. Com base 
nas observações, Emília Ferreiro formulou a “Psicogênese da Escrita”. 
Descrevendo um percurso de como a criança constrói conhecimentos sobre a escrita, Emília Ferreiro 
preparou a “Psicogênese da Escrita”. 
Este percurso será analisado em forma de níveis, com características próprias e comuns às diferentes 
crianças. O que poderemos ver é que, nos níveis de Psicogênese, são identificados marcas das escritas 
das crianças em seus percursos de construção sobre este objeto de conhecimento. 
Veja o que Smolka (1991) diz a esse respeito. 
Na recente pesquisa de Ferreiro & Teberosky (1979) sobre a psicogênese da linguagem escrita, as 
autoras apontam justamente que os métodos de alfabetização e os procedimentos de ensino baseados 
em concepções adultas não estão de acordo com os processos de aprendizagem e as progressões das 
noções infantis sobre a escrita. Partindo do pressuposto de que a criança é sujeito ativo e conhecedor, 
elas indicam a importância de se compreender a lógica interna das progressões das noções infantis 
sobre a escrita, mostrando que as crianças exigem de si mesmas uma coerência rigorosa no processo de 
construção do conhecimento. 
Assumindo a perspectiva de epistemologia piagetiana e observando, desta ótica, o esforço das crianças 
para a compreensão da correspondência entre a dimensão sonora e a extensão gráfica na escrita 
alfabética, Ferreiro & Teberosky (1979) evidenciam o que elas chamam de conflito cognitivo no 
processo de construção do conhecimento sobre a escrita. Nesse processo, elas mostram a importância 
23 
 
do erro como fundamentalmente construtivo na superação de contradições e conflitos conceituais, 
explicitando, numa progressão, etapas e hipóteses que as crianças levantam sobre a escrita. 
Assim também, Ferreiro & Palácio (1982:131) argumentam que apesar dos esforços dos docentes para 
fazerem as crianças compreenderem de imediato as correspondências fonéticas que estão na base do 
sistema de escrita alfabética, isto não ocorre, o que não quer dizer que as crianças não aprendam. Elas 
aprendem e avançam. Recebem informação e a transformam. O processo de aprendizagem não é 
conduzido pelo professor, mas pela 
criança. 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da 
escrita. Ed. Cortez, 1991. 
A seguir, você conhecerá os níveis da psicogênese da língua escrita estudados por Emília Ferreiro e Ana 
Teberosky. 
Saiba mais 
 
Se desejar saber mais, consulte: FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana, Psicogênese da língua 
escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. 
Nível 1 - Pré-Silábico 
 
Nível 2 - Pré-Silábico 
24 
 
 
Nível 3 – Silábico 
 
Nível 4 – Silábico-Alfabético (período de transição) 
 
Nível 5 – Alfabético 
25 
 
 
Clique nos links para ver os vídeos sobre o estudo de Emília Ferreiro. Parte 1: 
http://www.youtube.com/watch?v=oXoGEHyGQzY&feature=related Parte 2: 
http://www.youtube.com/watch?v=icFlW3OjesE&feature=related Parte 3: 
http://www.youtube.com/watch?v=fXG_LUhZnA8&feature=related Parte 5: 
http://www.youtube.com/watch?v=YZ4ZcH0Gay4&feature=related Hipóteses da 
Escrita: http://www.youtube.com/watch?v=dT2GYOBdPAg&feature=related 
3 Contribuições de Emília Ferreiro para o Processo de 
Alfabetização 
O estudo de Emília Ferreiro pode nos ajudar com as seguintes questões: 
Com base nos estudos de Emília Ferreiro, como podemos olhar para a escrita das crianças? 
Como pensar diferentes escolas e propostas de alfabetização que foram sendo organizadas tendo como 
base a pesquisa de Emília Ferreiro? 
Reflita sobre essas questões, mas lembre-se que Emília Ferreiro não criou um método de 
alfabetização. Portanto, é um equívoco a indicação de que existe o método construtivista. Cabe ao 
professor organizar situações pedagógicas que considerem o ponto de vista construtivista. 
Mudando o foco da alfabetização, Emília Ferreiro buscou identificar a lógica da criança no processo de 
construção da escrita. 
Podemos identificar algumas contribuições do trabalho desenvolvido por Emília Ferreiro: 
• olhar o processo de aprendizagem do ponto de vista da criança, mudando o foco do como 
se ensina para o como se aprende; 
• o erro passa a ser visto como um momento construtivo do processo de aprendizagem; 
• necessidade de organizar o trabalho pedagógico tendo como referência o conhecimento 
da criança. 
A síntese de Smolka sobre o estudo de Ferreiro: 
Um outro ponto de vista (que se contrapõe ao primeiro) seria o da construção individual do 
conhecimento, que considera a escrita como um objeto de conhecimento, que analisa o "conflito 
cognitivo" no processo de aprendizagem e vê o erro como fundamentalmente construtivo no processo. 
Leva em conta as tentativas e as hipóteses infantis relativas à escrita como representação da fala 
http://www.youtube.com/watch?v=oXoGEHyGQzY&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=icFlW3OjesE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=fXG_LUhZnA8&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=YZ4ZcH0Gay4&feature=relatedhttp://www.youtube.com/watch?v=dT2GYOBdPAg&feature=related
26 
 
(relação dimensão sonora/extensão gráfica), analisando a escrita inicial em termos de níveis de 
desenvolvimento. 
As implicações pedagógicas desse ponto de vista começam, agora, a se esboçar, a partir do trabalho de 
Ferreiro, Teberosky & Palácio. Contudo, ao invés de se tomar o estudo de Ferreiro & Teberosky como 
contribuição para o entendimento dos processos de aquisição da escrita, tem-se reduzido o ensino da 
escrita à questão da correspondência gráfico-sonora, categorizando crianças e turmas de crianças em 
termos de níveis de hipóteses, quando o processo de leitura e escrita abrange outros aspectos e outras 
dimensões. 
O conflito cognitivo apontado por Ferreiro não pode, sem dúvida alguma, ser ignorado. Mas o que 
também deve ser levado em consideração é que, entremeados nessa questão, estão os aspectos das 
funções e configurações da escrita, da dimensão simbólica e do processo de conceitualização e 
elaboração das experiências, da metalinguagem, além do conflito social mencionado anteriormente. 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da 
escrita. Ed. Cortez, 199 
METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: 
CONCEITUAÇÃO E HISTÓRICO 
Olá! 
Ao final desta aula você será capaz de: 
•identificar e examinar criticamente a Teoria Histórico – Cultural (Sociointeracionista) e suas 
contribuições para a alfabetização. 
•analisar os níveis descritos na pesquisa de Emília Ferreiro, a Psicogênese da Escrita. 
O tema desta aula tem como base os estudos da teoria Histórico-Cultural (Sociointeracionista) proposta 
por Lev Vygotsky. 
Com base nesta teoria, vamos investigar como podemos pensar a apropriação da leitura e da escrita 
dentro de um processo de interlocução, troca e compreensão de sentidos que se dão nas interações 
entre os diferentes 
sujeitos. 
27 
 
 
Prepare-se então para começar seu estudo, em que você terá a oportunidade de refletir sobre o trabalho de alfabetização 
em uma dimensão discursiva. 
Vygotsky – Teoria Histórico – Cultural 
Você lembra quais os pressupostos da teoria histórico-cultural produzida pelo russo Lev Vygotsky, 
seus 
colaboradores e outros que o sucederam? Confira abaixo. 
• Aprendizagem 
Por entender que os homens se constituem como pessoas no seu contexto de cultura, o sujeito 
na 
perspectiva vigotskiana é um sujeito da sua história e da sua cultura, um ser histórico-cultural. 
Assim, ele participa, constrói e, na relação com a sua cultura, se constitui como pessoa. 
Os homens não são determinados pela cultura, mas autores de sua história, portanto, os 
percursos de desenvolvimento da vida são singulares e peculiares para cada pessoa. 
Assista o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=kiDlKjEkNPU 
• Desenvolvimento 
Vygotsky nos apresenta uma compreensão de que o desenvolvimento é impulsionado pela 
aprendizagem, que por sua vez depende do desenvolvimento para acontecer. 
Com base na lógica apresentada por Vygotsky, podemos perceber que a aprendizagem e o 
desenvolvimento são inter-relacionados. 
Para aprender, os sujeitos precisam se desenvolver e, para se desenvolver, os sujeitos precisam se 
aprender, ou seja, um processo está intrinsecamente ligado ao outro. 
https://www.youtube.com/watch?v=kiDlKjEkNPU
28 
 
 
Um exemplo desta noção pode ser aplicado ao processo de apropriação da leitura e da escrita. 
Uma criança não consegue ler e escrever com dois ou três anos de idade porque o seu desenvolvimento 
não está adequado para esta aprendizagem. Por outro lado, quando ela tem em torno de cinco ou seis 
anos, quando o seu desenvolvimento está compatível com a aprendizagem da leitura e da escrita, 
podemos identificar que a apropriação da escrita permitirá que faça uso de livros de forma autônoma, 
possa se deslocar, na companhia de adultos, identificando locais e rotas indicados nos transportes 
coletivos, como também poderá buscar informações nas mais variadas fontes. 
Agora veja outro aspecto relevante na concepção vigotskiana. 
A relação pensamento linguagem como elemento fundamental para a compreensão da aprendizagem 
da leitura e da escrita nos leva a perceber que, como sujeitos de linguagem, a organização do nosso 
pensamento é 
constituída socialmente. 
Fazer uso da leitura e da escrita é também organizar a nossa linguagem na oralidade, no pensamento, 
fazendo uso das letras. 
Agora, veja o que Ana Luiza Bustamante Smolka tem a nos dizer. 
“ ... como, por trás das palavras, existe uma gramática própria do pensamento, existe uma 
sintaxe dos sentidos das palavras. Essa gramática, essa sintaxe, tem origem nas formas 
sociais de interação verbal, mas é permeada por uma realidade psicológica, individual.”. 
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da 
escrita. Ed. Cortez, 1991. 
Para complementar seu estudo, é interessante assistir o vídeo: Vygotsky – Parte 5 (A relação 
Pensamento Linguagem). 
A Dimensão Discursiva no Processo de Alfabetização 
Tendo como referência a perspectiva Histórico-Cultural, alguns autores brasileiros vão investigar 
sobre o processo de alfabetização, considerando a possibilidade de encontrar os autores e os 
interlocutores dos 
discursos orais e escritos produzidos para se aprender a ler e escrever. 
29 
 
Dentre os estudos encontrados, identificamos com destaque o trabalho inaugural de Smolka. 
“A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como um processo discursivo.” (Smolka, 1991) 
Neste trabalho, Smolka vai apontar a possibilidade de uma alfabetização numa dimensão discursiva. 
Uma alfabetização em que o ler e o escrever compreenda que as crianças são sujeitos de sua história e 
de sua cultura, autores dos discursos orais e escritos, produzidos para se apropriar da linguagem na 
sua forma escrita. 
Para este estudo, é necessário levantar algumas questões: Qual é a concepção de alfabetização do 
professor alfabetizador? Qual é a sua concepção de aprendizagem? 
Agora você conhecerá o ponto de vista de Smolka (1991), que buscava uma compreensão do processo 
de 
alfabetização diferente do proposto por Emília Ferreiro. 
Ferreiro & Teberosky (1979) e Ferreiro & Palácio (1982) analisam a relação da criança com a escrita - 
como objeto de conhecimento - independente das condições de interação social e das situações de 
ensino. Assim, como elas mesmas afirmam, o trabalho se caracteriza como uma pesquisa no âmbito da 
psicologia cognitiva. Mas o trabalho em sala de aula, portanto, o aspecto pedagógico da questão, nos 
indica a necessidade de se considerar, além disso, as funções da escrita socialmente mediada e 
constituída, e constitutiva do conhecimento no jogo das representações sociais. 
Que informações, por exemplo, as crianças recebem (de quem?) e como as transformam? Quantas 
hipóteses podem surgir e com relação a que aspectos da escrita? Funções sociais? Configurações? 
Dimensão simbólica? Mecanismos? Metalinguagem? Além disso, de quantos recursos as crianças 
lançam mão? Quantos esquemas elas desenvolvem em interação não só com a escrita, mas com os 
"outros" que usam, veiculam e "ensinam" a escrita? 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial 
da escrita. Ed. Cortez. 
Smolka nos traz a discussão da escrita como um conhecimento que é socialmente construído. Sua 
aprendizagem passa, necessariamente, pela compreensão das diferentes relações que os sujeitos 
estabelecem nos contextos nos quais estão inseridos. 
É necessário pensar que, ao aprender a ler e escrever, a criança aprende também a interagir com os 
outros usando uma nova forma de linguagem. 
Isto significa que a criança precisará refletir sobre o que escrever, para quem escrever, quando escrever 
e como escrever, uma vez que a escrita será mais instrumento de interação nas suas relações 
cotidianas. 
Alfabetização como um Processo Discursivo 
Vamosfalar agora sobre a importância da perspectiva da alfabetização como um processo discursivo. 
Para isto, é necessário refletir sobre um trabalho de alfabetização que considere como a escrita 
funciona na sociedade, quais são as situações de leitura e escrita que vivemos cotidianamente, e como 
nos colocamos nestas situações. 
É necessário também compreender que a escrita é um importante instrumento para a aprendizagem 
de outros conhecimentos. Ao aprender a ler e a escrever, a criança aprende também a ler e a escrever 
o mundo no qual 
vive. 
“Pedagogicamente, então, é fundamental observar e considerar, no processo de alfabetização, as 
situações e as condições em que se processa e se produz o conhecimento escolar sobre a escrita. (Quem 
usa a escrita na sala de aula? Para quê? Como? Por quê?) Mas esse aspecto da análise ainda não dá 
conta da amplitude do problema e nos remete a outras questões”. 
30 
 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial 
da escrita. Ed. Cortez. 
A compreensão da alfabetização como um processo discursivo pressupõe a organização de uma 
proposta pedagógica que favoreça: 
Um trabalho com oralidade; 
A leitura e a escrita com função social; 
A criança como um sujeito do discurso. 
Você conhecerá a seguir, cada um desses pontos. 
Um trabalho com a oralidade 
Ao nascer, a criança está mergulhada em um contexto de interações constantes com os que estão a sua 
volta. Além dos gestos, sinais, movimentos e formas de interação variadas, as crianças se comunicam 
por meio da oralidade. Através dela, a criança se constitui como pessoa e pensa o mundo em que vive. 
Neste sentido, é de fundamental importância trabalharmos conversas, leitura de textos, debates e 
brincadeiras, explorando de forma intensa os elementos da oralidade. 
Isso porque, além de ser referência de linguagem para a criança, a oralidade possibilita explorar a 
organização do pensamento para, em seguida, trabalhar com a linguagem na sua forma escrita. 
A leitura e a escrita com função social 
Ler e escrever é viver situações reais com produção de textos nas suas formas mais variadas. 
A escola precisa garantir um trabalho com textos reais, materiais reais e situações adequadas às 
condições escolares. Assim, a leitura e a escrita funcionarão com sentido e significado para as 
diferentes crianças. 
São muitos os textos dos quais fazemos uso socialmente, como, por exemplo, a propaganda, o livro, a 
música, a poesia, os jornais, entre outros. 
Também devemos fazer uso dos textos que estão presentes no cotidiano das relações das crianças 
como os 
avisos, as placas de anúncio, os bilhetes, as listas, entre outros. 
Trazer as experiências do contexto cultural das crianças é o ponto de partida para um trabalho com 
textos funcionais e significativos. Em seguida, é possível ampliar o universo de experiências oferecendo 
outros textos e situações relacionadas com as já vividas, mas que vão possibilitar ampliar o universo 
de interações pela via da linguagem oral e escrita. 
Antes de fazer pressuposições, pesquisar com as crianças é um bom caminho para conhecer o seu 
universo 
cultural de leitura e escrita. 
31 
 
A criança como um sujeito de discurso 
A criança, ao chegar à escola, traz consigo sua história e sua cultura. Isto deve ser considerado como 
algo relevante no processo de alfabetização. 
A ação educativa só tem sentido se estiver adequada a este sujeito, sua idade e seu contexto de vida. 
É através do discurso da própria criança que esses elementos entram na escola. Portanto, a proposta 
pedagógica deve estar organizada para dar voz e vez a esta criança. Dentro desta perspectiva, os 
discursos orais que poderão se organizar em discursos escritos das crianças serão os conteúdos de 
trabalho do professor alfabetizador. 
A fala de Smolka (1991) nos oferece uma síntese do que discutimos até aqui. 
“Um terceiro ponto de vista (que abrange o segundo), da interação, a interdiscursividade, inclui o 
aspecto fundamentalmente social das funções, das condições e do funcionamento da escrita (para que, 
para quem, onde, como, por quê). 
O que aparece também como relevante nesse terceiro ponto mencionado é a consideração da atividade 
mental da criança no processo de alfabetização não apenas como atividade cognitiva, no sentido de 
estruturação piagetiana, mas como atividade discursiva, que implica a elaboração conceitual pela 
palavra. Assim ganham força as funções interativa, instauradora e constituidora do conhecimento 
na/pela escrita. 
Nesse sentido, a alfabetização é um processo discursivo: a criança aprende a ouvir, a entender o outro 
pela leitura; aprende a falar, a dizer o que quer pela escrita. (Mas esse aprender significa fazer, usar, 
praticar, conhecer. Enquanto escreve, a criança aprende a escrever e aprende sobre a escrita). Isso traz 
para as implicações pedagógicas os seus aspectos sociais e políticos. Pedagogicamente, as perguntas 
que se colocam, então, são: as crianças podem falar o que pensam na escola? Podem escrever o que 
falam? Podem escrever como falam? Quando? Por quê?” 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial 
da escrita. 
Ed. Cortez. 
 METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: 
CONCEITUAÇÃO E HISTÓRICO 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
•identificar o conceito de Letramento e suas implicações para as práticas de alfabetização. 
32 
 
O tema desta aula tem como base os estudos de Magda Soares a respeito da identificação do conceito 
de 
letramento e suas implicações para as práticas de alfabetização a partir dos anos 80. 
É possível distinguir... Alfabetização de letramento? 
Esta é uma questão para a alfabetização na atualidade. 
Você sabe o que é letramento? 
Temos convivido no meio educacional e nos últimos anos com o termo “letramento”, mas na maioria 
das vezes o uso do termo não é acompanhado de uma reflexão sobre o seu significado. 
Por isso, a palavra letramento tem sido muitas vezes entendida e usada de forma ambígua e 
inadequada. 
Vamos nos aprofundar sobre a conceituação e o histórico do tema letramento e alfabetização. 
Conceito de letramento: 
É uma noção construída historicamente. 
É tão difundido no campo educacional, que vem sendo formulado e reformulado por vários autores. 
Dentre os trabalhos realizados sobre este assunto, podemos citar com destaque o estudo de Magda 
Soares(2000), no livro “Letramento: um tema em três gêneros”. 
No seu estudo, Magda vai nos trazer um breve histórico do uso do termo letramento no Brasil. 
Uma das primeiras vezes que o termo aparece é no livro de Mary Kato, de 1996, “No mundo da escrita: 
uma perspectiva psicolinguística”, da ed. Ática. Em 1988, a palavra letramento aparece novamente, no 
livro de Ângela Kleiman, “Os significados de letramento: uma perspectiva sobre a prática social da 
escrita”. 
Ao longo do seu trabalho, Magda vai trazer uma reflexão sobre como o conceito de alfabetização, como 
também o de letramento, foram tendo vários sentidos e vários usos na sociedade brasileira. 
Como a palavra letramento foi tendo vários sentidos e usos na sociedade brasileira, Magda Soares vai 
buscar na palavra de língua inglesa literacy, o sentido do termo letramento para o seu estudo. 
Como nos mostra Soares(2000). 
“Ou seja: literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e a escrever. 
Implícita nesse conceito está a ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, 
políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja 
introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. 
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2000”. 
Assista https://www.youtube.com/watch?v=T7M9ZThtwow&t=242s para entender mais 
sobre o 
conceito de letramento em Magda Soares. 
Em seu trabalho, Magda Soares identifica a necessidade de distinçãoentre Letramento e Alfabetização. 
Vamos vê- 
las. 
Alfabetização 
https://www.youtube.com/watch?v=T7M9ZThtwow&t=242s
https://www.youtube.com/watch?v=T7M9ZThtwow&t=242s
33 
 
A alfabetização está vinculada ao processo de aquisição do sistema da escrita. 
 
Letramento 
O letramento está relacionado à participação ou ao envolvimento em práticas sociais de leitura e 
escrita. 
 
Ao fazer a distinção entre alfabetização e letramento, Magda Soares nos apresenta algumas situações 
em que esta diferença pode ocorrer. 
Como nos afirma Soares (2000): 
“Uma última inferência que se pode tirar do conceito de Letramento é que um indivíduo pode 
não saber ler e escrever, isto é, ser analfabeto, mas ser de certa forma, letrado (atribuindo a 
este adjetivo sentido vinculado a Letramento).” 
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,2000) 
Explica ela que uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada, como também pode ser letrada e 
não ser alfabetizada. Vamos ver como isso acontece nos exemplos a seguir. 
Uma criança pequena que ainda não sabe ler, mas folheia livros e “finge” lê-los. 
Um adulto que não aprendeu a ler, mas pede para que alguém leia ou escreva para ele. 
Em ambos os casos, tanto a criança, como o adulto, podem ser considerados analfabetos do ponto de 
vista da aquisição do código, mas são letrados, pois participam de situações sociais em que a leitura e 
escrita estão presentes. 
Como podemos identificar o letramento na escola? 
34 
 
Para explicar as aplicações de letramento nas práticas de alfabetização nas escolas, veja as situações 
pedagógicas 
que estão sendo usadas. 
• Roda de Leitura 
Momentos de leituras de jornais, poemas e literatura em geral, buscando o prazer de narrar e 
imaginar através de histórias. 
• Contação de Histórias 
Leitura de livros da literatura infanto-juvenil. 
• Jornal Escolar 
Criação e produção de jornal com as crianças. 
• Correio 
Troca de cartas entre turmas ou escolar com assuntos e finalidades específicas e dentro de um projeto 
de 
trabalho com a turma 
METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: COMO 
ALFABETIZAR LETRANDO 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
•conhecer as práticas de alfabetização que ultrapassam os objetivos da codificação e decodificação dos 
textos e preparam as crianças para interagirem de forma mais eficiente com a leitura, a escrita e a 
oralidade; 
•conhecer o impacto da proposta de alfabetização como prática de letramento para o desenvolvimento 
de 
35 
 
habilidades de leitura, escrita e oralidade; 
•aplicar uma proposta de letramento para ser realizada nas séries iniciais com o texto literário de Lygia 
Bojunga Nunes. 
Após a compreensão sobre a categoria letramento e sua diferenciação do processo de alfabetização, é 
hora de refletirmos sobre como um educador pode trabalhar com práticas de letramento, que dotem 
as crianças de competências linguísticas para interagir com a diversidade de gêneros de leitura e 
demandas de escrita e oralidade na atualidade. 
A alfabetização é uma tecnologia que engloba as atividades de codificação (escrita) e decodificação da 
língua. Os sujeitos são alfabetizados se dominarem os códigos alfabético e numérico aprendidos na 
escola. 
Na concepção freireana (Freire, 1980), a alfabetização é o desenvolvimento de uma consciência crítica 
e reflexiva do sujeito para que ele tenha acesso à cultura e que se liberte como cidadão. Um processo 
coletivo de democratização do saber através da linguagem. 
Conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes curriculares 
das Linguagens 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 
Assim, entendemos que essas competências são desenvolvidas na medida em que as crianças possam 
refletir sobre os textos que: 
Ouvem 
Falam 
Escrevem 
As competências de letramento requerem não apenas as habilidades de alfabetização, mas também a 
apropriação das práticas sociais da leitura e da escrita vigentes na sociedade. Mais que saber ler e 
escrever, é necessário ter competência na utilização da leitura e da escrita em diferentes gêneros para 
ser letrado. 
Para que esse desenvolvimento ocorra, é necessário que sejam utilizadas tanto as regras da gramática 
normativa quanto as características peculiares de cada gênero textual. 
Saiba mais 
 
Você já assistiu ao filme Os Filhos de Francisco (2005)? Este filme certamente irá auxiliá-lo a 
entender a complementariedade existente entre alfabetização e letramento. 
Vamos aprofundar o estudo do nosso tema descobrindo mais sobre como promover a prática do 
letramento 
através de exercícios que envolvam as práticas de leitura, escrita e oralidade. 
• No que se baseiam essas práticas? 
Essas práticas estão fundamentadas numa compreensão da língua como um processo de 
interação social, na qual os interlocutores constroem sentidos e significados de acordo com o 
36 
 
contexto em que ocorre a interlocução. Em outras palavras, de acordo com as práticas 
discursivas constituídas socialmente. 
Assista https://www.youtube.com/watch?v=wCW8jD2VM-g 
• Como é possível exercitá-las? 
É possível quando o desenvolvimento das competências, é feito através do conhecimento de que é 
possível trabalhar a leitura, a escrita e a oralidade, a partir da interação com o texto. 
Um exemplo para o exercício do desenvolvimento das competências de letramento é indicado no texto 
A professora e a maleta, escrito por Lygia Bojunga Nunes em 1978, como parte integrante do livro A 
Casa da 
Madrinha. 
Um texto rico em realismo fantástico e metáforas que fizeram duras críticas ao poder político da época. 
Como você viu anteriormente, há uma relação entre o desenvolvimento das competências de 
letramento e a interação com o texto. 
Conheça, agora, alguns tipos de leituras que são capazes de contribuir para o desenvolvimento das 
competências de letramento escolar. 
Pré-leitura 
Quanto mais o leitor souber sobre o gênero e o autor do texto lido, mais informações ele terá para 
interpretar a obra. Antes de iniciar a leitura propriamente do texto, os professores podem resgatar os 
conhecimentos prévios que as crianças têm sobre o gênero, o autor e o texto. Podem também trabalhar 
os objetivos da leitura, pois há uma grande variedade de textos que oferecem informações. 
Variedade de textos: 
Os textos enumerativos têm a função de localizar informações concretas, recortar dados, etiquetar, 
classificar, comunicar resultados, anunciar acontecimentos, ordenar, arquivar informações entre 
outros. São exemplos: listas, catálogos, guias, horários entre outros. 
Os textos informativos têm a função de conhecer ou transmitir, explicações e informações de caráter 
geral sem aprofundar sobre o assunto. São exemplos: jornais, anúncios, propagandas, convites, 
entrevistas entre outros. 
Os textos literários têm a função de induzir ao leitor sentimentos e emoções especiais, causar 
entretenimento e diversão, comunicar fantasias ou fatos extraordinários, lembrar-se de 
acontecimentos e emoções vividas pelo grupo ou pela própria pessoa, transmitir valores culturais, 
sociais e morais. São exemplos: contos, poesias e histórias em quadrinhos. 
Os textos expositivos têm a função de compreender ou transmitir novos conhecimentos. São 
exemplos: livros escolares, artigos de pesquisa, biografias e resenhas. 
Os textos prescritivos têm a função de regular o comportamento humano para a realização de um 
objetivo de forma precisa. São eles: receitas, regulamentos, códigos e manuais. 
Leitura oral 
A maior parte dos textos lidos em nossa cultura são realizados de forma silenciosa e individual, 
entretanto, a leitura oral tem a sua importância quando tratamos de contação de histórias, declamação 
de poesias, acentuação da expressividade do texto, literatura de cordel, textos teatrais entre outras 
modalidades que necessitam diferenciar o ritmo e a sonoridade da leitura. 
https://www.youtube.com/watch?v=wCW8jD2VM-g37 
 
Leitura silenciosa 
Na leitura silenciosa a criança pode desenvolver a capacidade de interpretação e síntese do texto. É 
uma leitura que exige maior concentração do leitor e abre maior possibilidade para diálogo como autor 
do texto. 
Interpretação oral 
Todo o texto pode apresentar uma multiplicidade de sentidos e interpretações que são inerentes a cada 
leitor, pois são elaboradas a partir da subjetividade ou dos pressupostos que o leitor apresenta no ato 
da leitura. A criança deve saber que a leitura é um diálogo com o autor do texto e que dessa forma, ao 
dialogar, o leitor constrói significados singulares. Com a interpretação oral, a criança pode confrontar 
pontos de vista e perceber que diferentes leituras podem ser feitas sobre um mesmo texto. 
Interpretação escrita 
Se na interpretação oral o objetivo era confrontar pontos de vistas diferentes, na interpretação escrita, 
a ideia é aprofundar a compreensão individual do leitor sobre os aspectos apresentados no texto. Esta 
modalidade de atividade possibilita a emergência dos sentidos criados pelo leitor, inferências e 
posicionamentos em relação aos temas abordados. O mais importante é refletir em busca da resposta 
e não dar uma resposta correta padrão. 
Interpretação pelo desenho 
Qual é o objetivo das ilustrações que compõem o texto: enriquecer, complementar ou apenas ilustrar 
as informações? No trabalho da leitura como prática de letramento, levamos as crianças a perceberem 
nas ilustrações uma complementação das informações contidas no texto, desta forma, elas podem ser 
interpretadas tanto nos desenhos, como nas fotografias e demais ilustrações que se apresentam como 
signos repletos de 
significados. 
Agora, você aprenderá um pouco mais sobre os aspectos que envolvem uma produção textual. 
Escrever traduz uma capacidade de organizar ideias em argumentos e apresentá-las no papel como 
uma forma de interlocução. 
Quem escreve o faz para alguém, com um objetivo e com um tema definido. Por isso, escrever não é 
uma 
atividade cognitiva tão simples. 
A escrita está presente no cotidiano e as crianças precisam descobrir a sua função social e as formas de 
produção que devem estar relacionadas a cada gênero do texto. 
Na escola escrevemos para: 
lembrar, identificar, localizar, registrar, armazenar, averiguar dados; comunicar 
o que acontece; sistematizar informações; sermos avaliados; desfrutar, 
compartilhar sentimentos e emoções, desenvolver a sensibilidade artística; 
estudar, aprender, conhecer, aprofundar conhecimentos. 
Além disso, a criança pode aprender a diferenciar a sintaxe da oralidade com a da escrita e dotar seu 
texto de organização, coerência, coesão, unidade, informatividade, clareza e concisão. 
Para que as crianças se apropriem da língua escrita em sua totalidade, é preciso que a escola traga esse 
objeto sociocultural para a sala de aula de forma sistemática, mas principalmente significativa. Mais 
que cópias e ditados, a produção de texto é uma forma de comunicação entre interlocutores e precisa 
ter inteligibilidade e correção da língua para que seu objetivo seja realizado. 
As atividades de oralidade fazem parte do cotidiano das crianças, mas devem ser planejadas e 
realizadas na escola de forma sistemática para promover as habilidades indicadas a seguir. 
38 
 
 
 
A consciência fonológica pode ser compreendida como percepção da estrutura sonora da linguagem, como os fonemas que 
constituem a língua e os sons que constituem as palavras. 
A prosódia constitui os aspectos acústicos da fala como o ritmo, a entonação, a intensidade, altura, o timbre de voz e os 
efeitos de sentidos que produzem. 
Alguns exemplos de atividades em que estas habilidades são usadas são: os debates, a argumentação, seminário, relato de 
experiências, notícias, informações, apresentação de regras e instruções, entrevistas e depoimentos. 
Saiba mais 
 
Para compreender o impacto das atividades de alfabetização que objetivam também o 
letramento da criança, leia os seguintes textos: A audácia, de Luiz Fernando Veríssimo (perceba 
a apropriação equivocada que muitos leitores tiveram do texto irônico do autor); O colunista só 
queria ironizar (veja as competências que faltaram nos leitores de Veríssimo na ocasião em que 
escreveu sobre o presidente Lula). 
 
Habilidade 1 Habilidade de expressão em contextos acadêmicos e formais. 
Habilidade 2 
Habilidade de consciência fonológica e dos aspectos prosódicos do texto, pois expressar-se 
oralmente é uma competência linguística muito valorizada atualmente e em vários 
contextos socioculturais e interações discursivas. 
39 
 
METODOLOGIA E PRÁTICA DA 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
PLANEJAMENTO DE UM AMBIENTE 
ALFABETIZADOR 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
•indicar possibilidades de organização do ambiente alfabetizador; 
•organizar propostas de alfabetização com o texto. 
Conhecer a BNCC. 
Para alfabetizar com o texto, é de fundamental importância que ocorra o planejamento de um ambiente 
alfabetizador. 
Por isso, é preciso que haja uma reflexão sobre a forma de organizar o espaço de alfabetização, e que 
este seja capaz de propiciar a forma adequada de apropriação da leitura e da escrita, e por diferentes 
alunos. 
Baseado nos princípios desta reflexão, você irá conhecer dois aspectos, que funcionam como elementos 
fundamentais para o professor alfabetizador. Veja quais são eles. 
 
Além destes elementos fundamentais, o professor deve ainda considerar quatro eixos fundamentais 
para seu 
trabalho com o texto: 
• a leitura 
• a oralidade 
• a escrita 
• a análise linguística 
40 
 
A organização do ambiente alfabetizador exige que o professor considere os alguns aspectos. Veja a 
seguir. 
Quem são meus alunos? 
Qual o seu contexto de vida? 
Qual o período de desenvolvimento humano em que se encontram? 
Quais são suas propostas pedagógicas? 
Analisando textos, podemos descobrir como trabalhar de forma significativa na alfabetização. 
Organizar o espaço da sala é garantir a presença de materiais adequados para o trabalho com a leitura 
e a escrita, como também organizar uma proposta de trabalho que atenda a todos na sua singularidade 
e na sua diversidade. Veja algumas dicas para esta organização. 
Mas, antes conheça a BNCC e veja como esse marco normativa orienta o trabalho nos componentes 
curriculares das Linguagens 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 
 
 
Cantinho 
Organizar diferentes espaços na sala para as crianças circularem e terem uma boa oferta 
de materiais para a sua aprendizagem da leitura e da escrita. 
( leitura/escrita/jogos/dramatização/desafios/artes/etc. ) 
Alfabetário 
O alfabeto deve estar na sala de forma visível, agradável e de acesso para os alunos 
fazerem uso quando necessário. 
Organização 
da sala 
Distribuir as mesas em grupo/duplas para favorecer a troca e a cooperação. 
41 
 
 
O objetivo do ambiente alfabetizador trata de garantir que a sala de aula esteja preparada para 
funcionar colaborando com as aprendizagens de leitura e escrita que os alunos irão realizar. Busca-se 
favorecer a autonomia e a colaboração entre os alunos e pensar que todos são capazes de aprender. 
Assista https://www.youtube.com/watch?v=JmnR3vzZNX8 
Trabalho com o texto 
Para saber como alfabetizar com o texto, vamos descobrir como elaborar uma proposta de trabalho 
cercando-se da leitura e da escrita, e considerando aspectos como “o que se escreve” ,“o que se lê” e “os 
interlocutores do discurso.” 
É através da análise destes aspectos que podemos descobrir como aplicar esse conhecimento de forma 
significativa para a alfabetização com o texto. Veja exemplos de perguntas que você poderá fazer para 
ajudá-lo 
nesta proposta. 
• O que é um texto? 
• Como escolher um texto para trabalhar com a turma? 
• Quem são seus alunos? 
• Qual o seu contexto de vida? 
• Qual período de desenvolvimento humano em que se encontram? 
• Quais são suas propostas

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