Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONVERSA INICIAL Na primeira aula, vimos como o absolutismo se caracterizou como um período de transição: entre outros aspectos, um novo tipo de Estado começou a ser forjado. No entanto, somente após as críticas iluministas a partir do século XVIII e com a consolidação do capitalismo como sistema econômico é que o chamado Estado Moderno se tornou preponderante. Entre o final daquele século e o ano da grande crise econômica capitalista, 1929, as principais nações do mundo ocidental organizaram um Estado caracterizado por princípios liberais, fossem repúblicas, monarquias constitucionais, parlamentarismos ou presidencialismos na sua forma de governo. Desde o Tratado de Westfália, a instituição Estado- Nação foi paulatinamente se libertando da interferência religiosa, e o pressuposto de não interferência passou a predominar, ainda que nem sempre observado na prática. Esta consolidação não se deu sem conflitos, a começar pela Revolução Francesa em 1789, símbolo de uma mudança de era, mas também em outras nações europeias, onde a antiga nobreza tentava manter seu poder. No início do século XIX, três modelos de Estado liberal surgiram: na Inglaterra e nos EUA, como veremos adiante, e o Estado napoleônico, mais centralizado, hierárquico e autoritário, no entanto, com curta duração (apesar disso, deixou heranças, como, por exemplo, o Código Napoleônico, código civil que, em parte, dura até os dias de hoje). Outros modelos de Estado existiam, incluindo países europeus, como a Suíça e a Rússia (Itália e Alemanha iniciavam o processo de unificação), além das jovens nações independentes no continente americano. Na Ásia, em 1900, o Império Otomano continuava forte, mas com sinais de decadência. A Índia era colônia britânica. A China estava cada vez mais fraca; Japão e Pérsia (Irã) começavam a surgir como nações modernas. Na África, somente dois países eram independentes: Libéria e Abissínia (Etiópia). Acima de tudo, aos poucos a burocracia passa a ser o grande condutor das coisas de Estado e uma grande fonte de poder. O Estado burocrático, cada vez mais racional (científico) e laico, passou a ser o grande “gerente” da administração do Estado- Nação. Em todos os países, uma forma cada vez mais uniforme de administração do Estado foi tomando forma, esticando seus tentáculos, mesmo que o discurso liberal fosse contrário a esse fortalecimento. Este era o Estado burocrático moderno. A consolidação do Estado Moderno - O Estado Nação como ator principal no cenário internacional. - O Estado Burocrático Moderno. - A Revolução Francesa em 1789 como ponto de virada. - Apesar da Revolução, afora Inglaterra e Eua, os demais países europeus se adequaram ao novo modelo de Estado somente 100 anos depois. O Código Napoleônico 1804 - Acabou com os privilégios da nobreza. - Separou igreja e Estado. - Garantiu a igualdade perante a lei. TEMA 1 – A CRÍTICA ILUMINISTA O Iluminismo, séculos XVII e XVIII, foi um conjunto de obras e ideias que questionava o absolutismo e os valores medievais que ainda vigoravam na sociedade europeia – por exemplo, o teocentrismo, que deveria ser substituído pelo domínio da razão (ciência). O termo “Iluminismo” contrapõe-se à ideia de “trevas” que obscureciam o conhecimento, típico do período medieval, de forma a iluminar o mundo com um novo tipo de conhecimento, que certamente seria usado para os assuntos da política e do Estado. Os princípios iluministas regem, em maior ou menor grau, a maioria das democracias modernas – assim como uma parte do cenário internacional – a partir da lógica do Estado-Nação, da mediação das organizações internacionais e dos tratados internacionais. A seguir, as ideias de alguns iluministas sobre o Estado. Título: O Iluminismo - Crítica ao passado medieval e absolutista. - Ênfase ao conhecimento científico. - Crítica à influência religiosa nos assuntos políticos e científicos. -Estado como realidade própria. O Estado, para os iluministas - Locke: Estado como guardião da propriedade privada e garantia da liberdade. - Smith: Estado garantidor do livre mercado e da soberania do Estado Nação. - Montesquieu: Estado controlado e dividido, para evitar a tirania e o autoritarismo. - Rousseau: Estado como defensor da vontade da maioria. - Kant: propostas para a harmonia entre os estados Nação. John Locke (1632-1704) É considerado um dos precursores do Iluminismo e um dos principais disseminadores do pensamento liberal, em especial no que tange à defesa da propriedade privada como garantia da liberdade. Suas ideias estão expostas na obra Segundo tratado sobre o governo (1681), na qual defende valores típicos do Iluminismo: um Estado não autoritário, contrariando o pensamento hobbesiano, comum naquele período, e o uso da razão para explicar a realidade (e não do pensamento religioso ou da fé). Ainda, criticou a ideia do “Direito divino”, em voga durante sua vida (auge do absolutismo). Para Locke, o Estado deve estar sujeito à lei. Defendeu a divisão do poder, sendo o Legislativo o mais importante, pois representa o povo, a fonte real de poder. Mas o Estado, acima de tudo, seria o grande guardião da propriedade privada, base da liberdade. Adam Smith (1723 -1790) O principal aspecto do pensamento de Smith para esta aula é o fato de ele defender um mercado livre das garras do Estado. Portanto, é um dos primeiros a propor a visão hoje conhecida como Estado mínimo, pouco intervencionista. Lembremos que o Estado absolutista era extremamente intervencionista. No livro A riqueza das nações (1776), Smith defende as bases do capitalismo moderno, como a livre concorrência privada, o crescimento econômico, o acúmulo de capital e a divisão do trabalho, e também propõe três atribuições básicas para o Estado: 1) proteção contra ameaças ou invasão externa (defesa); 2) proteção contra ameaças na própria sociedade; 3) criação de instituições e obras públicas que não gerem interesse da iniciativa privada (indivíduos ou empresas). Em conjunto, tais fatores formariam um “Estado guardião”, protetor da iniciativa privada, assim como garantidor da soberania do Estado-Nação, além de um investidor naquilo que atualmente se denomina “obras de infraestrutura”, pelo menos aquelas que não atraem interesse privado, por serem muito caras ou por não gerarem lucro. É neste prisma que o papel institucional do Estado se coloca para Smith, pois seria o garantidor da justiça, em termos de liberdade individual, do comércio, da garantia à propriedade privada e de segurança. 1.3 Charles de Montesquieu (1689-1755) Na obra O espírito das leis (1748), este pensador propõe ideias que impeçam a tirania ou o governo despótico, evitando a violência e a arbitrariedade, tão comuns durante o Absolutismo. Baseando-se no modelo inglês, Montesquieu faz o contraponto monarquia constitucional e república versus despotismo. O Estado seria estruturado em função de três poderes independentes: 1) o Executivo dirigiria as coisas públicas em função das leis, no entanto, teria o poder de veto; 2) a Magistratura seria um poder impessoal e independente, com leis criadas pelos representantes do povo, 3) o Legislativo (Parlamento). As atribuições do Estado seriam racionalmente divididas, e um poder só interferiria em outro em situações especiais. Seria o que ele designou de “sistema de contrapesos”, no qual o poder controla o poder. 1.4 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) Rousseau defende a soberania popular em um Estado que mantenha o interesse geral, garantindo o direito à propriedade. O que o diferencia dos demais é o argumento de que o direito à propriedade seria a grande causa da desigualdade entre os homens e dos conflitosexistentes nas sociedades humanas. Na obra O contrato social (1762), propõe um Estado republicano, cuja função seria evitar a guerra ou os conflitos, garantindo a vontade geral, ou seja, a vontade da maioria. A educação seria o meio por excelência para garantir a igualdade entre todos os cidadãos, sendo função do Estado garanti-la. 1.5 Immanuel Kant (1724-1804) Defensor das ideias iluministas, escreveu o tratado A paz perpétua, no qual apresenta princípios que poderiam evitar a guerra entre as nações, como a não intervenção, a formulação de tratados sem ressalvas, o republicanismo, o fim do patrimonialismo (o Estado pertencendo ao monarca) e o fim dos exércitos permanentes. Mas foi a proposta de uma espécie de “direito internacional” que deixou uma herança no campo das relações internacionais. O princípio deste direito seria o fato de que os Estados viviam na iminência de guerra entre si e, para evitar tal situação, deveriam entrar em acordo e criar uma federação de nações, o que de fato se tentou no século XX, com a Liga das Nações e com a Organização das Nações Unidas (ONU). TEMA 2 – A INGLATERRA COMO POTÊNCIA O Tratado de Westfalia em 1648 foi um marco a partir do qual o Estado Nação passou, paulatinamente, a ser a instituição predominante no cenário internacional. Inglaterra e Holanda eram, naquele momento, as potências que despontavam, embora França e Espanha fossem nações poderosas. Mas a França só se fortaleceu efetivamente décadas depois, enquanto a Espanha entrava em decadência – em boa medida, por não se desligar totalmente dos valores medievais, mas também por sucessivas derrotas militares. Assim, ainda no período absolutista, a Inglaterra supera o poderio dos concorrentes e entra no século XIX como potência maior, principalmente após vencer a França bonapartista. Há várias explicações para o fato de a Inglaterra tornar-se a potência predominante. Apesar de seu território relativamente pobre, três fatores foram essenciais para possibilitar sua hegemonia: o domínio dos mares, a Revolução Industrial e a abertura para a mentalidade capitalista. Para Mello (1994), a esquadra de guerra, a marinha mercante e as inúmeras bases espalhadas pelo mundo seriam a garantia de segurança às Ilhas Britânicas e ao domínio do comércio internacional. Isso seria confirmado mais tarde por uma teoria geopolítica – o almirante norte-americano Alfred Mahan criou a Teoria do Poder Marítimo (1890): a nação que dominasse as principais vias de navegação dominaria o mundo. A teoria, inclusive, instigou os EUA a seguirem os mesmos passos da Inglaterra no início do século XX. A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial, o que possibilitou um aumento em escala sem precedentes na produção de mercadorias. O que lhe deu amplas vantagens comerciais na concorrência com outras nações, oferecendo produtos baratos e em abundância. A Inglaterra possuía amplas jazidas de carvão, produto essencial para a energia a vapor, ampliando o poder britânico e consolidando o capitalismo como forma hegemônica da economia mundial. Com este poderio, a Inglaterra dominou o cenário internacional. Desde o século XVIII, período absolutista, influenciava certos países, como Portugal. Posteriormente, influenciou diretamente na independência de países latino-americanos. Após a vitória sobre Napoleão Bonaparte, a Inglaterra reinou quase isoladamente como Estado- Nação hegemônico, consolidando o chamado Império Britânico. O império Britânico em 1901 Fatores para a hegemonia inglesa - O domínio dos mares como fator geopolítico. - A Revolução Industrial conduzida pela Inglaterra. - Abertura à mentalidade capitalista. O Modelo Político Econômico Liberal -Estado Nação hegemônico. - Economia liberal, apesar de protecionista e autoritária em termos internacionais. - Monarquia Constitucional e parlamentarista. O modelo político-econômico liberal Com uma economia francamente capitalista, os ingleses consolidaram, no século XIX, o modelo político que vinha sendo gestado dois séculos antes. Em termos de Estado-Nação, a Inglaterra foi a potência hegemônica, conduzindo uma política imperialista, ou seja, uma política de expansão territorial pelo mundo, conquistando regiões e países – ou, pelo menos, conquistando-os cultural e economicamente. Neste momento, os ingleses iniciaram o “colonialismo”, isto é, a colonização na Ásia e na África, além de manter territórios no Caribe. Internamente, o Estado Britânico era liberal em todos os aspectos, econômica e politicamente. Mas não era um liberalismo como o atual. Era altamente protecionista e intervencionista, garantindo pela força o domínio comercial e industrial britânico. Politicamente, era uma monarquia constitucional parlamentarista, ou seja, quem realmente dominava o cenário político era o Parlamento, inclusive os assuntos externos. O poder é limitado, sendo o Executivo conduzido pelo Primeiro Ministro, escolhido pelo partido vencedor das eleições. O parlamento é dividido em Câmara Alta (dos lordes, equivalente ao Senado) e Câmara Baixa (dos comuns, equivalente à câmara dos deputados). O Império Britânico começa a perder seu poder após a I Guerra Mundial e se desmantela, de fato, após a II Guerra Mundial. TEMA 3 – OS EUA E O ESTADO LIBERAL REPUBLICANO Se a Inglaterra construiu um modelo de Estado diferente da maioria dos países europeus, predominantemente liberal, foram os EUA que mais radicalizaram essa proposta. Lembremos que defender ideias liberais no final do século XVIII era ser “revolucionário”. Os EUA tiveram uma colonização distinta da latino-americana e, desde seus primórdios, no século XVII, colonos chegaram ao território norte- americano pautados em um ideal religioso protestante baseado no mito da terra prometida. No entanto, também tinham uma mentalidade aberta a uma democracia de base, ou seja, altamente participativa nas menores instâncias de poder, desde a Igreja até o espaço comunitário local. É o que analisa um dos primeiros pensadores a procurar entender o fenômeno, o liberal Alexis de Tocqueville, na obra Da democracia na América, escrita após visita aos EUA em 1831, quando ainda era basicamente um país agrícola, com 25 estados. Após a independência em 1776, os EUA tiveram certas facilidades em relação à Europa para que a democracia avançasse quase sem limites: ausência de uma aristocracia; cultura aberta à participação de base (soberania local); fim do voto censitário e Lei de Sucessões, que acabou com os privilégios hereditários do período colonial. A partir de então, Tocqueville, 50 anos depois da independência, analisa os efeitos deste processo nos EUA, cultural e politicamente. Argumenta que as implicações daquela experiência se alastrariam pelo mundo, pois este não era um fenômeno somente norte-americano; antes, indicava algo bem mais profundo das sociedades modernas: o avanço da democracia e o predomínio de sociedades que hoje chamaríamos de padrão classe média. Saliente-se que tal situação não significa que os EUA eram uma nação “maravilhosa”. O fato de ser democrática não significava ausência de injustiças. Existiam fatores conjunturais ou típicos da época (que hoje chamaríamos de não democráticos, injustos e violentos). É o caso da escravidão, do extermínio de nações indígenas e da usurpação de territórios do México em 1848. -Tocqueville visita os EUA em 1831 e escreve ‘Da Democracia na América’, onde analisa uma sociedade diferente. - Igualdade de condições (sem diferenças de castas, como na idade média). - Soberania popular. Mapa EUA em 1830 A Democracia como Princípio - O Estado: autonomia local como prioridade. -Exemplo: eleição de certos agentes públicos e autoridades. - Apesar de democrático, Exclusão e injustiças (negros e indígenas). Fundadores da República Norte Americana - Forte influencia iluminista. - George Washington, os irmãos John e Samuel Adams, Thomas Jeferson, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, James Madison, dentre outros. Uma Nação Republicana e Liberal - República Presidencialista. - Princípios Iluministas: A divisão do poder. - Grande descentralização administrativa. - Associativismo e jornais livres. Democracia como princípio A soberania é um dos primeiros aspectos ressaltados por Tocqueville (2000) ao afirmar que, na comuna (localidade, a township, algo como um município), havia grande autonomia desde o período colonial em relação aos habitantes, que decidiam a maior parte dos seus problemas locais. Após a independência, essa cultura democrática facilitou ou mesmo forçou que a nação se organizasse a partir desses princípios. É neste aspecto que o Estado norte-americano foi uma novidade naquele momento, distinto inclusive do modelo inglês, também diferente dos demais países europeus. Esse tipo de democracia era inimaginável para a maioria dos países daquele período. Por exemplo, quase todos os cidadãos votavam¹. Grande parte dos funcionários públicos locais era eleita, e havia pouca burocracia. Muitas decisões locais eram tomadas em assembleias. O que se denomina hoje de associativismo era uma prática constante em 1831. Ainda hoje, restam elementos daquela experiência, como a eleição do xerife (responsável pela aplicação da lei nos condados), de certos agentes públicos e de juízes de primeira instância; há também grande variação na legislação de cada estado ou município. Uma nação republicana e liberal Os chamados pais fundadores da nação norte- americana foram fortemente influenciados pelo Iluminismo; tal influência resultou em um modelo de Estado distinto: republicano, tendo desde o início um presidente eleito; três poderes, com um judiciário fortalecido; uma federação de estados altamente descentralizados nos aspectos administrativos. A própria discussão sobre a estruturação do Estado norte-americano foi diferenciada, com as proposições defendidas por cada parte expondo suas ideias em jornais. Havia ampla liberdade para criação de jornais, fossem grandes ou simplesmente panfletos locais. Lembremos que mesmo onde não havia escravidão, como nos estados do Norte, poucos cidadãos negros votavam, fato descrito por Tocqueville. As mulheres só tiveram o direito de votar em 1920. Vários desses textos estão atualmente reunidos na coletânea O federalista, na qual se debate teses contrapostas, como, por exemplo: federação ou confederação; centralização ou descentralização (um Estado central forte ou autonomia local); monarquia constitucional ou república; a divisão dos poderes. Prevaleceu um modelo de federação, mas com várias características de confederação. Tocqueville afirma que, em termos de administração, os EUA eram altamente descentralizados, restando ao Estado Nacional cuidar dos assuntos externos e promover a justiça, mas com poder de submeter a legislação estadual, caso necessário, embora raro – como foi, posteriormente, o caso da luta por direitos civis no século XX. TEMA 4 – O APORTE WEBERIANO O sociólogo Max Weber é considerado um dos maiores teóricos ou intérpretes do Estado Moderno. Em sua vasta obra, analisou inúmeros temas, incluindo o advento do chamado Estado racional legal, fruto de um lento processo histórico, com raízes na Idade Média, mas que só se consolidou na Modernidade, e primeiramente no mundo ocidental, com o predomínio do capitalismo e do Estado-Nação. Antes de ser uma espécie de exaltação do Estado, o liberal Weber estava preocupado com o risco de que esta instituição se transformasse em uma moderna forma de dominação. O Estado como Instrumento de Dominação - O Estado Racional: um grande risco da modernidade. - O Monopólio do Uso Legítimo da Violência. A Burocracia Estatal como Dominação - Dominação institucional ou legal. - Impessoalidade. - Administração científica. - WEBER, 2004: a burocracia como servidão do futuro “talvez um dia os homens estarão obrigados a submeter-se a ela sem resistência” (texto escrito no início do século XX). O Estado monopólio do uso da violência Uma das mais conhecidas frases de Weber é a que define o Estado moderno como a instituição que, em determinado território, de forma legítima (de acordo com as regras socialmente aceitas), monopoliza o instrumental de coação física (a violência legítima), reunindo para esse fim meios organizacionais, dirigentes e funcionários, desapropriando os líderes autônomos que antes detinham aquele poder (Weber, 2004). Tal fato se realiza no poder de coagir e, se for o caso, de forçar, por exemplo, a ação da polícia, de fiscais, de oficiais de justiça, das forças armadas e de variadas instituições estatais ou por elas designadas. A burocracia estatal como forma de dominação No absolutismo e no mundo antigo, o poder se encarnava na figura do soberano ou da nobreza, de forma que as leis eram muitas vezes aplicadas de maneira pessoal, ou seja, variavam de acordo com as circunstâncias ou com a preferência da autoridade. Para Weber, uma peculiaridade da modernidade é o predomínio de uma dada forma de dominação, a institucional ou legal, que se manifesta de maneira impessoal na forma de leis e de uma administração científica, isto é, baseada no cálculo racional, usando os modernos meios técnicos e organizacionais. Seus principais agentes não são indivíduos, mas organizações diversas. Os indivíduos são, antes de tudo, representantes ou agentes dessas instituições. Nessa perspectiva, o poder político é também institucional, ou seja, não se encontra nos indivíduos, ainda que sejam agentes. Dessa forma, Weber (2004) afirma que “o futuro pertence à burocratização”, ou seja, no mundo moderno, seria impossível fugir desta nova e poderosa forma de dominação, pois ela seria imperceptível e até mesmo agradável. O resultado seria uma servidão diferente de todas as formas precedentes, pois agora está atrelada a um gigantesco organismo, o Estado administrado cientificamente. TEMA 5 – A CRISE DO ESTADO LIBERAL Até a II Grande Guerra, a Inglaterra dominou o cenário internacional, embora outras nações europeias estivessem fortalecidas, e também os EUA. Nessas nações, o modelo capitalista reinou soberano, com variações de país para país. Mas as duas guerras mundiais e a grande crise econômica de 1929 abalaram a fé no liberalismo como modelo a conduzir o mundo. A crise de 1929 foi um grande golpe em relação à fé incondicional nas teses liberais, tão comum até então nas principais nações ocidentais. Embora exista um debate sobre as reais causas desta crise, ela resultou posteriormente em um Estado mais intervencionista, seja de modelo autoritário, seja de modelo socialdemocrata. Tanto é que nos anos 30 – período entre guerras – predominou no Ocidente um Estado autoritário e nacionalista (antiliberal e anticomunista), como foi o caso do nazifascismo. Após a II Guerra, predominou o chamado welfare state (Estado do bem-estar social, tema da Aula 4). Além disso, velhos problemas persistiam, em especial a pobreza e a miséria. A crise de 1929 só piorou tal situação, expondo ainda mais o velho dilema europeu (e também global) de populações vivendo na pobreza. Até aquele momento, os Estados Nacionais não tinham resposta para tal problema. Causas do Declínio do Estado Liberal - 1ª e 2ª Guerras Mundiais. - Crise Econômica de 1929. - Persistência da Pobreza e da Miséria. Consequências -Nos anos 30 critica-se o Estado Liberal e dá-se ênfase a Estados autoritários e nacionalistas, como o nazifascismo. - Depois da 2ª Grande Guerra, predomina na Europa o Estado Social Democrata. NA PRÁTICA O chamado Estado liberal, típico do século XIX e início do século XX, era bastante excludente. O consumo de mercadorias diversas era restrito às reduzidas classes alta e média. Em termos políticos, na maioria dos países uma pequena parcela da população efetivamente participava das eleições. No entanto, após a Primeira Guerra Mundial, houve uma progressiva ampliação da democracia, com grandes parcelas da população passando a participar das decisões: pobres, mulheres, população negra e indígena, analfabetos, dentre outras. Mais recentemente, tem ocorrido uma democratização do consumo em todos os lugares do globo, ainda que exista pobreza e miséria. -Estado Liberal (até 1930), um Estado excludente. Pobres, não brancos e mulheres não tinham direitos políticos. FINALIZANDO - O Advento do Estado Liberal. - O Estado Nação como principal ator internacional. - Inglaterra como potência. - Eua como radicalização do modelo liberal de Estado. Vimos nesta aula o advento e o fortalecimento do Estado moderno liberal a partir das críticas elaboradas por autores iluministas. No século XIX, algumas nações levaram adiante o modelo de Estado liberal, principalmente Inglaterra e EUA. Aliado ao predominante modo de produção capitalista, o Estado liberal permitiu que valores da Modernidade, tais como democracia, liberdade, livre mercado e empreendedorismo, se alastrassem pelo mundo. É verdade que isso muitas vezes foi apenas simbólico, contraditório. Mas é inegável que tais valores fazem parte dos projetos da maioria das sociedades contemporâneas.
Compartilhar