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Natália Pinheiro, Medicina Cb OBJ. 1: ANATOMIA DO SISTEMA AUDITIVO: A orelha é dividida em três regiões principais: (1) a orelha externa, que coleta as ondas sonoras e as direciona para dentro, (2) a orelha média, que conduz as vibrações sonoras para a janela do vestíbulo (oval) e (3) a orelha interna, que armazena os receptores para a audição e para o equilíbrio. ORELHA EXTERNA: A orelha externa é formada pela orelha (pavilhão auricular), pelo meato acústico externo e pela membrana timpânica; ORELHA: A orelha é uma aba de cartilagem elástica com formato semelhante à extremidade de uma corneta e recoberta por pele; A sua margem é a hélice; a parte inferior é o lóbulo; Ligamentos e músculos ligam a orelha à cabeça; MEATO ACÚSTICO EXTERNO: O meato acústico externo é um tubo curvado com cerca de 2,5 cm de comprimento que se encontra no temporal e leva à membrana timpânica; Próximo a sua abertura externa contém alguns pelos e glândulas sudoríferas especializadas chamadas de glândulas ceruminosas, que secretam cera de ouvido ou cerume. A combinação entre pelos e cerume ajuda a evitar a entrada de poeira e de objetos estranhos na orelha. Também evita danos à pele delicada do meato acústico externo que podem ser causados pela água e por insetos. O cerume em geral desidrata e desprendese do meato acústico. Entretanto, algumas pessoas produzem muito cerume, que pode se tornar compactado e amortecer sons MEMBRANA TIMPÂNICA: A membrana timpânica ou tímpano é uma divisão fina e semitransparente entre o meato acústico externo e a orelha média. A membrana timpânica é coberta por epiderme e revestida por um epitélio cúbico simples; Entre as camadas epiteliais encontra-se tecido conjuntivo composto por colágeno, fibras elásticas e fibroblastos; O rompimento da membrana timpânica é chamado de perfuração do tímpano. Ele pode ser causado pela pressão de um cotonete, por traumatismo ou por uma infecção na orelha média e em geral se cura em 1 mês. APG 11 Anatomia e histologia do sistema auditivo; Fisiologia da via auditiva; Agentes etiológicos causadores de malformações; Protocolo de aborto legal (aspectos éticos e legais e o que o SUS aponta). 0 1 Natália Pinheiro, Medicina ORELHA MÉDIA: A orelha média é uma pequena cavidade, cheia de ar e revestida por epitélio, situada na parte petrosa do temporal; Ela é separada da orelha externa pela membrana timpânica e da orelha interna por uma divisão óssea fina que contém duas pequenas aberturas: a janela do vestíbulo (oval) e a janela da cóclea (redonda) (fig1 e 2); Estendendo-se através da orelha média e ligada a ela através de ligamentos encontram-se os três menores ossos do corpo, os ossículos da audição, que são conectados por articulações sinoviais. Os ossos, nomeados por causa de seus formatos, são o martelo, a bigorna e o estribo (fig1 e2); O “cabo” do martelo se liga à face interna da membrana timpânica. A “cabeça” do martelo é articulada ao corpo da bigorna; A bigorna, (osso do meio) se articula com a cabeça do estribo; A base do estribo se encaixa na janela do vestíbulo (oval); Diretamente abaixo dessa janela encontra-se outra abertura, a janela da cóclea (redonda), que é encapsulada por uma membrana chamada de membrana timpânica secundária (fig1); A parede anterior da orelha média contém uma abertura que leva diretamente para a tuba auditiva, conhecida também pelo epônimo trompa de Eustáquio (fig1 e 2); A tuba auditiva, contendo osso e cartilagem elástica, conecta a orelha média com a parte nasal da faringe ou nasofaringe (porção superior da garganta); Ela normalmente encontrase fechada em sua extremidade medial (faríngea). Durante a deglutição e ao bocejar, ela se abre, permitindo que o ar entre ou saia da orelha média até que a pressão nela seja igual à pressão atmosférica. A maioria das pessoas já experimentou a sensação de estalo na orelha quando as pressões se igualam. Quando as pressões estão balanceadas, a membrana timpânica vibra livremente conforme as ondas sonoras chegam nela. Se a pressão não estiver equilibrada, podem ocorrer dor intensa, prejuízo auditivo, zumbido nas orelhas e vertigem; A tuba auditiva também é uma rota para patógenos que saem do nariz e da garganta para a orelha média, causando o tipo mais comum de infecção auditiva. Além dos ligamentos, dois pequenos músculos esqueléticos também se ligam aos ossículos (fig2); O músculo tensor do tímpano, que é inervado pelo ramo mandibular do nervo trigêmeo (V), limita o movimento e aumenta a tensão da membrana timpânica, evitando danos à orelha interna por causa de barulhos muito altos; O músculo estapédio, que é inervado pelo nervo facial (NC VII) é o menor músculo esquelético do corpo humano. Ao evitar grandes vibrações no estribo decorrentes de sons altos, ele protege a janela do vestíbulo (oval), mas também diminui a sensibilidade auditiva. Por esse motivo, a paralisia do músculo estapédio está associada à hiperacusia, que é uma audição anormalmente sensível; Como demora uma fração de segundo para que os músculos tensor do tímpano e estapédio se contraiam, eles podem proteger a orelha interna de sons altos prolongados, mas não de sons curtos, como o de um tiro. 2 Natália Pinheiro, Medicina ORELHA INTERNA: A orelha interna também é chamada de labirinto por causa de sua série complicada de canais; Estruturalmente, ela é formada por duas divisões principais: um labirinto ósseo externo que encapsula um labirinto membranáceo interno; (fig3); b b O vestíbulo é a parte central oval do labirinto ósseo. O labirinto membranáceo no vestíbulo é formado por dois sacos chamados de utrículo e sáculo, que são conectados por um pequeno ducto. (fig3); Projetando-se superior e posteriormente ao vestíbulo encontram-se três canais semicirculares ósseos, cada um deles localizado em ângulos aproximadamente retos um em relação aos outros dois. Com base em suas posições, eles são nomeados como canais semicirculares anterior, posterior e lateral; Os canais semicirculares anterior e posterior são orientados verticalmente; o canal lateral é orientado horizontalmente; Em uma extremidade de cada canal encontrase um alargamento redondo chamado de ampola; (fig3); As partes do labirinto membranáceo que se encontram dentro dos canais semicirculares ósseos são chamados de ductos semicirculares. Essas estruturas se conectam ao utrículo do vestíbulo; (fig3); O nervo vestibular, parte do nervo vestibulococlear (VIII) consiste nos nervos ampular, utricular e sacular. Esses nervos contêm neurônios sensitivos de primeira ordem e neurônios motores que formam sinapses com os receptores de equilíbrio. Os neurônios sensitivos de primeira ordem carregam a informação sensorial proveniente dos receptores e os neurônios motores carregam sinais de retroalimentação para os receptores, aparentemente para modificar sua sensibilidade. Os corpos celulares dos neurônios sensitivos encontramse localizados nos gânglios vestibulares Anteriormente ao vestíbulo encontrase a cóclea, um canal espiral ósseo que lembra a casca de um caracol e realiza quase três voltas ao redor de um núcleo ósseo central chamado de modíolo; Ela é dividida em três canais: o ducto coclear, a rampa do vestíbulo e a rampa do tímpano (fig4 e 5) LABIRINTO ÓSSEO: É formado por uma série de cavidades na parte petrosa do temporal divididas em três áreas: (1) os canais semicirculares, (2) o vestíbulo e (3) a cóclea; (fig3); O labirinto ósseo é revestido por periósteo e contém a perilinfa. Esse líquido, que é quimicamente semelhante aolíquido cerebrospinal, reveste o labirinto membranáceo, (uma série de sacos e tubos epiteliais dentro do labirinto ósseo que têm o mesmo formato geral do labirinto ósseo) abrigando os receptores para a audição e o equilíbrio. LABITINTO MEMBRANACEO: O labirinto membranáceo epitelial contém a endolinfa. O nível de íons potássio (K + ) na endolinfa é incomumente alto para um líquido extracelular e os íons potássio desempenham um papel na geração dos sinais auditivos; 3 4 Natália Pinheiro, Medicina O ducto coclear é uma continuação do labirinto membranáceo em direção à cóclea; ele é preenchido por endolinfa; O canal acima do ducto coclear é a rampa do vestíbulo, que termina na janela do vestíbulo (oval); O canal abaixo é a rampa do tímpano, que termina na janela da cóclea (redonda); Tanto a rampa do vestíbulo quanto a rampa do tímpano são partes do labirinto ósseo da cóclea; portanto, essas câmaras são preenchidas por perilinfa. Essas rampas são separadas completamente pelo ducto coclear, exceto por uma abertura no ápice da cóclea, o helicotrema; A cóclea é adjacente à parede do vestíbulo, na qual a rampa do vestíbulo se abre. A perilinfa no vestíbulo é contínua com aquela da rampa do vestíbulo. A membrana (parede) vestibular separa o ducto coclear da rampa do vestíbulo e a lâmina basilar separa o ducto coclear da rampa do tímpano (fig5); Localizada sobre a lâmina basilar encontrase o órgão espiral ou órgão de Corti. Ele é uma lâmina espiral de células epiteliais, incluindo células epiteliais de sustentação e cerca de 16.000 células ciliadas, que são os receptores da audição. Existem dois grupos de células ciliadas: as células ciliadasinternas estão organizadas em uma única fileira, enquanto as células ciliadas externas estão organizadas em três fileiras; Na porção apical de cada célula ciliada encontramse entre 40 e 80 estereocílios, que se estendem para a endolinfa do ducto coclear. Apesar de seu nome, os estereocílios são microvilosidades longas e semelhantes a pelos organizadas em várias fileiras de comprimento graduado. Em suas extremidades basais, as células ciliadas formam sinapses com os neurônios sensitivos de primeira ordem e com os neurônios motores da parte coclear do nervo vestibulococlear (VIII). Os corpos celulares dos neurônios sensitivos estão localizados no gânglio espiral. Embora as células ciliadas externas superem em quantidade as células ciliadas internas em uma proporção de três para um, as células ciliadas internas formam sinapses com 90 a 95% dos neurônios sensitivos de primeira ordem no nervo coclear, que transmite a informação auditiva para o encéfalo. Em comparação, 90% dos neurônios motores no nervo coclear formam sinapses com as células ciliadas externas. A membrana tectória é uma membrana gelatinosa flexível que cobre as células ciliadas do órgão espiral (Figura 17.21D). Na realidade, as extremidades dos estereocílios das células ciliadas estão em contato com a membrana tectória enquanto os corpos das células ciliadas se encontram sobre a lâmina basilar. 5 Natália Pinheiro, Medicina OBJ 2 VIAS AUDITIVAS: O dobramento dos estereocílios das células ciliadas do órgão espiral promove a liberação de um neurotransmissor (provavelmente o glutamato), que gera impulsos nervosos nos neurônios sensitivos que inervam as células ciliadas; Os corpos celulares dos neurônios sensitivos estão localizados nos gânglios espirais; Os impulsos nervosos passam através dos axônios desses neurônios, que formam a parte coclear do nervo vestibulococlear (VIII); Esses axônios formam sinapses com neurônios nos núcleos cocleares no bulbo naquele mesmo lado. Alguns dos axônios dos núcleos cocleares passam por um cruzamento no bulbo e ascendem em um trato chamado de lemnisco lateral no lado oposto e terminam no colículo inferior do mesencéfalo. Outros axônios dos núcleos cocleares terminam no núcleo olivar superior em cada lado da ponte; Diferenças sutis no tempo que demora para que os impulsos nervosos provenientes das duas orelhas cheguem nos núcleos olivares superiores permitem a localização da fonte do som; Axônios dos núcleos olivares superiores também ascendem no lemnisco lateral em ambos os lados e terminam nos colículos inferiores. A partir de cada colículo inferior, os impulsos nervosos são transmitidos para o núcleo geniculado medial no tálamo e, finalmente, para a área auditiva primária do córtex cerebral no lobo temporal do cérebro; Como muitos axônios auditivos cruzam o bulbo, trocando de lado, enquanto outros permanecem no mesmo lado, as áreas auditivas primárias direita e esquerda recebem impulsos nervosos de ambas as orelhas. OBJ 3 AGENTES ETIOLOGICOS CAUSADORES DE MALFORMAÇÃO: ORELHA INTERNA As meningites e encefalites bacterianas e fúngicas podem levar a perdas auditivas uni ou bilaterais de grau profundo. Déficits auditivos sutis também podem ocorrer, o que justifica a avaliação auditiva de pacientes que não têm perda auditiva aparente após meningite bacteriana; Os micro-organismos mais comuns das meningites bacterianas em crianças e adultos jovens são: Streptococcus pneumoniae (47%), Neisseria meningitidis (25%) e Streptococcus do grupo B (12%); Ressalta-se, ainda, a importância do Haemophilus influenza tipo b que, juntamente com o pneumococo e meningococo, é responsável por 90 a 99% das meningites na faixa etária de 2-3 meses a 5-6 anos de idade; A meningite causada por Streptococcus pneumoniae pode levar à ossificação da cóclea, o que dificulta a reabilitação auditiva com implante coclear, que é a técnica para protetização auditiva utilizada para as perdas auditivas profundas. Nesses casos, a inserção do eletrodo na cóclea está inviabilizada; A infecção do sistema nervoso central por Brucella também pode levar a danos auditivos, com perda auditiva neurossensorial em cerca de 20% dos casos . Perda auditiva por sífilis atualmente é rara, ocorrendo mais frequentemente na fase terciária. Sinais vestibulares também podem ser consequências de otossífilis.22; A doença de Lyme (infecção pela bactéria Borrelia burgdorferi) causa perda auditiva neurossensorial bilateral súbita em cerca de 20% dos pacientes acometidos. A infecção por Mycoplasma pneumoniae tem sido relacionada à perda auditiva. Alguns estudos demonstram que tal infecção pode levar a perda auditiva neurossensorial súbita uni ou bilateral e perda auditiva condutiva (otite média aguda) e mista. O acometimento auditivo é comum no estágio inicial da doença e, na maioria dos casos, a audição retorna ao normal após o tratamento. A meningite criptocócica, embora mais frequente em imunodeprimidos, pode ocorrer em indivíduos imunocompetentes. Esse tipo de meningite pode levar a perda auditiva neurossensorial profunda bilateral e disfunção vestibular. Tal dano retrococlear pode resultar em empobrecimento dos efeitos do implante coclear, prejudicando a reabilitação dos pacientes. Natália Pinheiro, Medicina ORELHA MÉDIA: A otite média aguda é definida pela presença de fluidos na orelha média acompanhados por sinais ou sintomas de doença (febre, dor e prejuízo auditivo). Apresenta pico de ocorrência aos três anos de vida, sendo menos comum na idade escolar, em adolescentes e adultos, porém a terapia é similar. Adultos podem apresentar como sequelas a perda auditiva condutiva, colesteatoma, otite média crônica e perfuração do tímpano. Os fatores infecciosos mais comuns nas otites médias agudas são: Streptococcus pneumoniae, Hae- mophilus influenzae e Mycoplasma pneumoniae. Mais raramente,têm sido relatados Chlamydia trachoma- tis, Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium tetani e Mycobacterium chelmonae. O tratamento da otite média aguda inclui administração de antibióticos, entretanto, em alguns casos, há melhora do quadro sem o uso desses agentes A otite média crônica deve-se a episódios recorrentes de otite média aguda. A perda auditiva condutiva bilateral é o achado audiológico mais frequente. ORELHA EXTERNA: A otite externa caracteriza-se por infecção do conduto auditivo externo, similar à infecção de pele. Tal infecção deve-se à tortuosidade e/ou ao estreitamento do conduto auditivo externo, que pode ficar mais propenso à retenção de materiais irritativos. A maceração da superfície tecidual leva à infecção, principalmente por Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus e Corynebacteria. Geralmente, tal infecção é acompanhada de dor intensa. A otite externa aguda difusa mais comum é causada por Pseudomonas aeruginosa ou Staphylococcus aureus e ocorre principalmente em climas quentes e úmidos. A infecção pode ocasionar edema difuso do conduto auditivo externo e dor intensa. Otite externa crônica ocorre devido à irritação do conduto auditivo externo, pela drenagem de secre- ção da orelha média, em pacientes com otite média crônica supurativa. Geralmente, não é acompanhada de dor. Pode raramente associar-se a tuberculose, sí- filis e sarcoidose. A otite externa invasiva, também conhecida por “otite externa maligna”, é causada por Pseudomonas aeruginosa. A infecção, quando não tratada corretamente, pode comprometer o epitélio escamoso do conduto auditivo e áreas adjacentes de tecidos moles, vasos sanguíneos, cartilagem e ossos. Causa dor intensa e edema dos tecidos circundantes da orelha média, mastoide e drenagem de secreção purulenta e de coloração esverdeada pelo conduto auditivo externo. Pacientes idosos, diabéticos, imunodeficientes e debilitados apresentam alto risco de desenvolvimento dessa infecção. A otite externa fúngica decorre de infecção fúngica geral ou local. O agente infeccioso mais comum é Aspergillus sp Natália Pinheiro, Medicina OBJ 4 ABORTO LRGAL: GESTAÇÃO DECORRENTE DE VIOLENCIA SEXUAL: Primeiro é preciso entender que mais da metade dos estupros ocorre durante a vida reprodutiva das mulheres. Boa parte delas são meninas e adolescentes. A estimativa de gestação em uma mulher vítima de estupro é ao redor de 5%. Muita coisa foi legislada, normatizada e regulamentada no Brasil, uma delas é a Portaria nº 1.508/GM/MS, de 1º de setembro de 2005 – Dispõe sobre o procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei, no âmbito do SUS. Esta é uma portaria bastante importante em conjunto com outras normas técnicas do Ministério da Saúde, dentre elas: Norma Técnica de Atenção aos Agravos da Violência Sexual Contra Mulheres e Adolescente, Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, Aspectos Jurídicos da Violência Sexual: perguntas e respostas para profissionais de saúde, Norma Técnica de Atenção à Gestantes com Feto Anencéfalo, Norma Técnica de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual com Registro de Informações e Coleta de Vestígios. É importante a constituição de uma equipe multiprofissional para prestar assistência à essas mulheres e que seja previamente sensibilizada e capacitada para uma atenção empática baseada no respeito à dignidade da mulher, na credibilidade de sua fala, expondo todas as alternativas possíveis para aquela assistência. A mulher deve ser informada de que tem o direito a fazer a interrupção da gravidez, mas é preciso esclarecê-la que ela pode continuar com a gravidez. Se for esta a vontade da mulher, a equipe deve oferecer os cuidados de pré-natal de alto risco nesta gestação e ou então os procedimentos, serão adotados para a doação do feto ao final da maternidade. É importante que a Equipe multiprofissional mantenha uma postura neutra, sem julgamentos de valor ou imposições. A decisão deve ser da mulher após esclarecimento informado. A equipe de serviço social deve acompanhar a vítima até a delegacia da mulher, para que, com o acolhimento necessário, ela faça o boletim de ocorrência e os processos de investigação policial ocorram para identificar o agressor. Caso a mulher não queira fazer a denúncia e o boletim de ocorrência, mantêm-se o direito da mulher de acesso à interrupção da gravidez, isto é, a interrupção não pode ser cerceada. A mulher tem até 6 meses para formular a denúncia nos casos de estupro. Os procedimentos da saúde são para diminuir danos, trazer aspectos benéficos na assistência, tratar e dar acesso ao procedimento do aborto legal e não deve ser confundido com os procedimentos reservados à investigação policial ou judicial; A mulher mentir ao solicitar um aborto legal é um dos mitos que ocorrem em relação à violência sexual. Uma mulher que se submete à todo um processo de atendimento multidisciplinar, em equipe com psicólogo, assistente social, enfermeiro, médico, muitas vezes farmacêutico, anestesista, passa pela assinatura de processos bastante rigorosos. É muito difícil que isso ocorra. E nos casos de violência sexual, para interromper a gestação, não é necessário nem B.O., nem exame de corpo de delito e nem autorização judicial. O fundamental é o consentimento informado da mulher; Como medidas asseguradoras da licitude do procedimento da interrupção, são cinco termos e passos a serem seguidos. Estes cinco documentos são anexos da portaria 1.508 e podem ser obtidos e impressos para serem utilizados pelos hospitais. Pode-se colocar a logotipo da Instituição. Estes documentos devem estar anexados ao prontuário e ter sua confidencialidade garantida: 1. Termo de relato circunstanciado – É feito pela mulher que solicita a interrupção ou pelo representante legal no caso de incapaz. O documento deve conter as informações de dia, hora, local em que ocorreu a violência, características, tipo, descrição dos agentes violadores, se houveram testemunhas, cicatrizes ou tatuagens no violador, características de roupa, etc. Este documento deve ser assinado pela mulher e por duas testemunhas: no caso o médico que ouviu o relato e um enfermeiro, psicólogo ou assistente social. 2. Parecer técnico – Documento assinado pelo médico ginecologista que, após anamnese, exame físico, ginecológico e análise do laudo do ultrassom atesta que aquela gestação tem idade gestacional compatível com a data alegada do estupro. 3. Aprovação de procedimento de interrupção da gravidez – Este documento nada mais é que uma ata, onde se reúne a equipe multiprofissional que fez o atendimento. Todos assinam com a aprovação desta interrupção, concordando com o parecer técnico (que a data da gestação é compatível com a data do estupro) e que não há suspeita de falsa alegação de crime sexual. Natália Pinheiro, Medicina ABORTO TERAPÊUTICO – QUANDO HÁ RISCO DE MORTE MATERNA: Aconselha-se uma avaliação de no mínimo dois profissionais: um médico obstetra e um clínico. Idealmente solicita-se a avaliação de um terceiro médico, um especialista da patologia da qual se solicita o risco que motiva a interrupção; Nesses casos, é preciso ter clareza que a interrupção é a melhor maneira de preservar a vida da mulher. É o caso, por exemplo, da hipertensão pulmonar que chega a ter 70% de risco de morte materna durante a gestação. Ou casos de cardiopatia funcional grau IV, doença renal grave, doenças do colágeno, etc. Casos de patologias que sabidamente há grandesriscos de complicações gravíssimas e são causas frequentes de morte materna em nosso país; O aborto terapêutico no Brasil costuma ser feito muito tardiamente, em situações extremas. Não é pra menos que um número importante das mortes maternas no Brasil são de causas indiretas, de patologias de base que se complicam durante a gestação; É importante a equipe ter o apoio de um profissional da psicologia, pois estão diante de uma gestação desejada. O acompanhamento psicológico desta mulher é fundamental. A autorização e o consentimento dela também, a não ser em situação “em extremis” em que a vontade da mulher não possa ser dada; Há casos especiais, como coma e choque e outras situações individualizadas que devem ser discutidas pela equipe. Nesses casos a decisão da equipe vai prevalecer. Também não é necessária autorização judicial. GESTAÇÃO DE FETO ANENCÉFALO: Desde 2012 o aborto de fetos anencéfalos passou a ser legal no Brasil; A Resolução nº 1989/2012,16 do Conselho Federal de Medicina “dispõe sobre o diagnóstico de anencefalia para a antecipação terapêutica do parto e dá outras providências. Esta resolução estabelece todos os passos que devem ser seguidos para a interrupção da gravidez nos casos de anencefalia; Informação clara e precisa sobre os riscos que a mulher sofre com o evoluir da gravidez diante de uma gestação de anencéfalo: 50% dos casos terão polidramnios graves, partos traumáticos e distócicos, devido à posições anômalas durante o parto com possibilidade de morte materna, explosão do líquido amniótico com descolamento prematuro de placenta, hemorragias maternas, 4% dos casos terminam em histerectomia, 5% precisam de transfusão sanguínea no momento do parto. Isso mostra a gravidade das características do parto de um feto anencéfalo a termo; A mulher, com o consentimento informado, avaliação da psicologia, enfermagem e serviço social, consente ou não a interrupção da gestação. A decisão deve ser da mulher, sem juízo de valor, sem imposição de nenhuma atitude que possa direcionar sua decisão. Importante é mostrar que a inviabilidade do feto já está estabelecida na situação de anencefalia; Nestes casos, o ultrassom precisa ser assinado por dois profissionais que tenham competência para este laudo. Além disso, é necessário duas fotos de ultrassom: uma de face sagital e outra na situação transversal, mostrando a patologia. Isso deve também ficar arquivado no prontuário da mulher, assim como o consentimento informado, o laudo técnico da equipe multiprofissional. Também é muito importante o laudo psicológico da plena capacidade de decisão da mulher em tomar esta decisão. Quanto à técnica utilizada, deve-se prevalecer a vontade da mulher, se cirúrgica ou medicamentosa. Cada vez mais as técnicas medicamentosas tem ganho realce, em razão do seu baixo custo, alta efetividade, poucas taxas de complicações e eficácia quase igual ao procedimento cirúrgico. Após o procedimento, o retorno da mulher se faz aos sete dias (como uma revisão puerperal) e 45 dias após o procedimento. 4. Termo de responsabilidade (assinado pela mulher) – Este documento contém uma advertência expressa que a paciente assina ciência de que ela incorrerá de crime de falsidade ideológica e de aborto criminoso caso posteriormente se verifique inverídicas as informações. 5. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Termo que esclarece sobre os desconfortos, riscos, possíveis complicações, como se dará o procedimento de interrupção da gestação, quem vai acompanhar, a garantia do sigilo (salve solicitação judicial). Este documento é assinado pela mulher e deve conter claramente expressa a sua vontade consciente de interromper a gestação, dizendo também que foi dada todas as informações sobre a possibilidade de manter a gestação e a adoção ou até a desistência do procedimento a qualquer momento