Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AE-P0020 Publicação: 03/2011 Revisão: 05/2012 Braskem: a construção de uma petroquímica de porte global Dirk Michael Boehe1 Do Sul para o Norte Depois de um longo dia de trabalho, Júlio assistia ao Jornal da Globo das 23h, descansando no sofá de seu apartamento, num bairro nobre de São Paulo. Ao ouvir a última notícia sobre a nacionalização de várias subsidiárias de multinacionais estrangeiras do setor metalúrgico pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, Júlio ponderava: “É só uma questão de tempo, e a política de nacionalização pode atingir também outros setores, até mesmo empresas que mantêm excelentes relações com o governo, como é o nosso caso...”. 1 Caso desenvolvido pelo professor Dirk Michael Boehe. Agradecemos à assistente de pesquisa do Insper, Gabriela Brogiolo da Silva, pela valiosa colaboração durante o processo de elaboração do caso O caso é somente para fins de discussão em sala de aula: não se propõe julgar a eficácia ou a ineficácia gerencial, nem tampouco deve servir como fonte de dados primários. Copyright © 2010 Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Nenhuma parte deste caso pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia, gravação ou qualquer outro sistema de armazenamento, sem autorização por escrito do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Aos infratores, aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106, 107 da Lei 9.610, de 19/02/1998. AE-P0020 2 O vice-presidente de planejamento estratégico da oitava maior petroquímica do mundo estremeceu enquanto tais possibilidades lhe passavam pela mente... Nesse instante, sua filha entrou na sala para lhe dar boa noite: “Boa noite, Thaís, nos vemos amanhã.” Nos segundos seguintes, o noticiário mostrou as imagens de um discurso do presidente Barack Obama para executivos estadunidenses. Havia pouco tempo, a Braskem comprara uma empresa de polipropileno nos Estados Unidos da América (EUA), uma filial da Sunoco, hoje Braskem PP Americas Inc. A aquisição tinha sido no momento ideal – conseguiram pagar um múltiplo bem abaixo da média do mercado. O que certamente fora um bom negócio começava agora a dar dor de cabeça, pois alguns dos investidores já reclamavam: “Por que você está indo pra um país em crise, com uma margem que é metade da sua, num ambiente supercompetitivo?” E essas reclamações vinham justamente num momento em que a empresa prospectava a compra de mais uma operação nos EUA. “Tem sentido ir para a frente neste momento ou deveríamos nos preocupar com a criação de sinergias entre as operações existentes no Brasil e na América Latina? A que investimentos devemos dar prioridade para ser uma das cinco maiores petroquímicas em valor de mercado até 2012?”, refletia. Nesse instante, as imagens do presidente Chávez passaram de novo pela mente de Júlio e, quando se dava a previsão meteorológica, Júlio começou a cair no sono. Histórico da Braskem do Mercado Brasileiro Indústria química brasileira A indústria química brasileira tem passado por sucessivas mudanças desde a sua origem, em 1948, quando se inaugurou a primeira planta petroquímica no Brasil. Até a década de 1980, predominava o modelo no setor petroquímico o modelo tripartite: empresas estatais, empresas estrangeiras fornecedoras de tecnologia e empresas brasileiras combinavam suas respectivas vantagens competitivas. Enquanto o Estado providenciava a infraestrutura básica, as multinacionais forneciam as tecnologias mais complexas e as nacionais desempenhavam seu papel em tecnologias intermediárias. Em 1968, foi criada a Petroquisa, que assumia as atividades petroquímicas da Petrobras e se associava a empresas nacionais como a Petroquímica União e a Ultrafértil e a multinacionais. Assim, o Estado se erigia em principal investidor, empreendedor e integrador da indústria petroquímica brasileira. Foi assim que articulou a implantação de três polos petroquímicos, o de São Paulo e o do Nordeste (Copene) em 1972, em Camaçari, e o do Sul (Copesul), em Triunfo. Nos três polos, a Petroquisa se dedicava à produção de petroquímicos básicos, as multinacionais aportavam a tecnologia de processos e um número considerável de empresas nacionais dedica-se aos produtos intermediários e finais2. 2 Suarez M.A. (1983). A evolução da indústria petroquímica brasileira e o modelo tripartite de empresa, Revista de economia e Política, 3 (3): 89-102. AE-P0020 3 Apesar desse grande progresso no desenvolvimento industrial do país, as empresas nacionais não conseguiram atingir um porte significativo que lhes permitisse um desenvolvimento tecnológico a par das multinacionais. Embora na época as plantas tivessem escala mundial, o tamanho das empresas nacionais limitava suas possibilidades de investimentos, sobretudo em P&D, o que resultava numa dependência de importações. Além disso, o fato de serem monoprodutoras não diversificadas, que dependiam de matéria-prima cara, baseada na nafta, afetava seriamente a sustentabilidade do modelo. Um dos colegas de Júlio, o vice-presidente de tecnologia, comparava o hiato de produtividade entre aquela época e os tempos atuais: Eu trabalhei numa empresa nos anos 1980, que hoje faz parte da Braskem; ela tinha 550 funcionários e fazia 60.000 toneladas/ano – hoje, seria um faturamento em torno de 120 milhões de dólares por ano; hoje, essa mesma empresa faz 160.000 toneladas, ou seja, 320 milhões de dólares na mesma moeda, e tem aproximadamente 100 funcionários. Então, você vê um grande ganho de produtividade. Na década de 1990, tiveram início a abertura econômica e as privatizações. Sabia-se que a consolidação do setor era necessária para ele sobreviver num mundo cada vez mais integrado comercialmente e em termos de investimento. Nessa época, empresas foram vendidas para aqueles que sentiam uma boa oportunidade de negócios, mas não houve uma privatização organizada, que desse origem a um player competitivo no mercado internacional. Um executivo do setor resumia os fatos: Basicamente, o que se diz é que 1990 foi uma década perdida para a petroquímica. Então, no início dos anos 2000, identificou-se o que se tinha feito errado, e aí vamos tentar ver como é que a gente conserta isso. Enquanto petroquímicas de porte global surgiram mundo afora, no Brasil, tornavam-se manifestas a perda de competitividade e as baixas margens. Surge um novo grupo petroquímico Esse cenário é o pano de fundo em que nasceu a Braskem. Em 2001, dois grupos, a Odebrecht e o Ultra, viam a oportunidade de tomar o controle da Copene e, em 2002, criou-se a Braskem, reunindo os ativos da Copene e os ativos petroquímicos da Odebrecht. Nos anos seguintes, a Braskem adquiriu uma série de outros ativos, tais como a Trikem, a Polialden, a Petroquímica Ipiranga e a Copesul, e, em 2010, a Quattor e a Sunoco (Anexo 14). Essa consolidação não teria sido possível pelas iniciativas dos pais da Braskem, a Odebrecht e a Petrobras, os quais detêm 62% e 31% respectivamente das ações ordinárias. Das ações AE-P0020 4 preferenciais, a Odebrecht detém 24,5%, a Petrobras 22,3%, o BNDES participa com 8,4% e os minoritários com 44,9%3. Assim, a Petrobras voltou à cena como um dos principais investidores e integradores da indústria petroquímica nacional. Os funcionários da empresa atribuem esse crescimento rápido (20% ao ano no passado, com intenção de crescer 40% ao ano no futuro) também à tecnologia empresarial herdada da Odebrecht (TEO). A TEO se baseia nos princípios de delegação, confiança, autonomia e responsabilidade, valorizando “a disposição para servir, a capacidade e o desejo de evoluir e a vontade de superar resultados”4. Um executivo da Braskem descreveu as implicações práticas dessa filosofia: A estruturanos permite correr mais riscos, tomar decisões de forma autônoma, o que conta é cumprir as metas [...] o argumento de que “o jurídico não fez”não é escusa para a proposta não andar. A Odebrecht chegou longe com sua tecnologia de gestão. Nos anos 1970, começou seu processo de internacionalização e hoje divide suas operações internacionais em Odebrecht América Latina e Angola, Odebrecht Venezuela e Odebrecht Internacional. A Odebrecht América Latina e Angola cumpriu 30 anos no Peru e 25 anos em Angola em 2009. Além disso, essa divisão internacional está presente na Argentina, na Colômbia, em Cuba, no México, no Panamá, no Peru e na República Dominicana. Já a Odebrecht Internacional tem unidades nos Emirados Árabes Unidos, nos EUA, na Libéria, na Líbia, em Moçambique e em Portugal. Apostando na capacitação tecnológica Ao longo da sua trajetória, a Braskem tem enfrentado uma série de desafios que, uma vez dominados, fortaleceram a empresa e muniram-na de competências para as próximas conquistas. Desde o início, o ambiente econômico e as características do mercado doméstico têm gerado uma enorme pressão, que desencadeou a constante busca por melhorias. Alberto, o vice- -presidente da área de tecnologia, costuma exprimir assim essa relação: 3 Relatório Anual 2009 da Odebrecht S.A. (p. 53), disponível em: http://www.odebrechtonline.com.br/ relatorioanual/2009/wp-content/uploads/2010/06/ra2010_completo_pt.pdf. Acesso em: out. 2010. 4 Disponível em: <http://www.odebrecht.com/organizacao-odebrecht/tecnologia-empresarial-odebrecht# principiosfundamentais>. Acesso em: set. 2010. AE-P0020 5 Em termos de capital, até hoje, nós estamos do lado pior do que qualquer concorrente nosso pra investir. Eu tenho um custo de capital maior, nosso custo de matéria-prima também é relativamente dos maiores; então, se você tem que competir com esse mundo que está aí fora e tendo situações que não são exatamente desvantagens, você tem que buscar vantagens em outro lado, e uma das vantagens que a gente sempre buscou foi essa da eficiência. Na fase inicial da trajetória das empresas que deram origem à Braskem, havia pouco domínio de tecnologia. Muito pelo contrário, as petroquímicas brasileiras compravam as tecnologias prontas dos seus fornecedores no exterior. Entretanto, logo seus engenheiros se deram conta de que era necessário extrair mais dessa tecnologia para ser competitivo no custo. Carlos, diretor de inovação tecnológica, se lembra, contente, de um fato que reflete bem essa relação: Olha, tem duas plantas no mundo do tipo da Polialden que foram incorporadas à Braskem em 2006. Tem uma aqui no Brasil, que é nossa, e tem uma no Japão, que é irmã – o projeto é o mesmo. Eu visitei o Japão há cinco anos e eu fui visitar essa planta. Ela estava produzindo exatamente as 65 mil toneladas, que era a capacidade nominal da Polialden [hoje da Braskem] no início. A nossa produz 150 mil; então, só pra dar uma ideia de naturezas, e eles não mexeram até por uma questão sei lá, de cultura, não sei exatamente, ou não precisam competir porque o mercado é mais fechado. Nós precisamos fazer isso para fazer um negócio competitivo. Mas os esforços dos engenheiros que hoje formam parte da Braskem não pararam por aí, pois os clientes locais costumam ser bem mais exigentes quanto às propriedades do plástico usado pela indústria alimentícia. Alberto explica: É característica do mercado brasileiro. Por exemplo, no Brasil, você vende arroz e feijão em plástico transparente; lá for a, não é verdade. Aqui, o brasileiro, se não olhar o feijão dentro do saco, não compra, e, lá for a, o cara não está nem preocupado com isso. Então, isso é uma característica do mercado que faz com que você tenha que ter um produto aqui para atender esse cliente. Aparentemente, a concorrência em outros países não enfrenta essas pressões na mesma intensidade. Uma empresa da Arábia Saudita que usufrua de preços de matéria-prima muito baixos (anexo 5 e anexo 6) é competitiva produzindo commodities em grande escala. Assim, a Braskem começou a desenvolver competências de adaptação ou customização de produtos por meio de colaboração com seus clientes. Mais tarde, essas competências lhe serviram inclusive para se defender de concorrentes estrangeiros. Carlos lembra: AE-P0020 6 A Dow, que é um grande concorrente e no início de 2003 montou uma unidade na Argentina […] para evitar o assédio, nós começamos a customizar o produto, e essa customização permitiu que a gente criasse uma reserva de mercado não alfandegária, porque os nossos clientes começaram a se adaptar à nossa resina, que tinha uma melhor performance. Tinha um custo mais alto? Tinha, mas a Dow demorou dois anos para entrar no Brasil, por conta disso, com o produto deles, que era muito melhor que o nosso,e, com isso, a Braskem começou a melhorar a rentabilidade. Tanto que, no ano passado, mesmo produzindo a partir de nafta, que é um produto mais caro do que o gás natural, nós tivemos o segundo melhor resultado da petroquímica no mundo [...]. Muitas vezes, parcerias com clientes industriais não só ajudaram a Braskem a manter uma relação mais próxima e de longo prazo com eles, mas também ao próprio cliente, ao qual a Braskem “entrega competitividade”, ao competir com um produto melhor “com o vizinho dele”. Os exemplos abrangem de copos descartáveis de requeijão até caixas d’água de plástico resistentes às condições climáticas mais extremas. Durante sua trajetória de fusões e aquisições, a Braskem tem herdado uma rede de oito plantas piloto que simulam processos no Brasil inteiro. O conjunto de plantas e laboratórios tem gerado uma diversidade tecnológica toda dominada pelas diferentes unidades da Braskem. Diferentemente de uma empresa grande, que tende a se concentrar numa única tecnologia, a Braskem consegue pegar as melhores práticas de cada tecnologia e fazer adaptações de um negócio para outro. Recentemente, a Braskem inaugurou uma nova planta em Triunfo (RS), com uma capacidade de 200.000 toneladas/ano que produz PE verde, isto é, polietileno com base de etanol usando cana-de-açúcar como matéria-prima. A tecnologia inovadora foi criada pelo centro de P&D da Braskem, em colaboração com uma rede de universidades e empresas de biotecnologia. A planta é competitiva quando o petróleo é mais caro do que US$ 50,00 por barril. O potencial dessa inovação – aliás, o primeiro PE verde certificado do mundo – vem sendo reconhecido por grandes clientes multinacionais como a Procter & Gamble, que assinou um contrato global de fornecimento de PE com a Braskem em agosto de 2010. A Braskem espera poder cobrar um preço diferenciado para o PE verde em comparação com o PE baseado em matéria-prima não renovável, porque o PE verde tem propriedades favoráveis ao meio ambiente. Cada quilograma de PE produzido fixa entre 2 e 2,5 kg de CO2 que estava na atmosfera, enquanto o PE petroquímico emite 2,5 kg para a atmosfera (anexo 16). Sem dúvida, trata-se de um milestone que marca a passagem da Braskem de um usuário de tecnologia alheia, fast follower, para um technology developer. “Exatamente pela dimensão que a Braskem tomou, ela não pode continuar como um simples seguidor”, ressaltou Alberto. Nessa linha, a Braskem já transformou sua antiga área de inovação e tecnologia corporativa numa empresa de tecnologia, a Ideom, em 2009. Eram objetivos declarados da empresa em 2009 AE-P0020 7 aumentar a parcela de novos produtos sobre as vendas (18% em 2008) e aumentar o investimento em P&D de 0,3% para algo em torno de 1% do faturamento, percentual mais próximo da média do setor. Nafta, Gás Natural e Produtos Petroquímicos Resinas termoplásticas como o polietileno (PE) e o polipropileno (PP) são produzidas à base de etileno, que é extraído da nafta ou do gás por meio de crackers,plantas que rompem a cadeia carbônica. Cerca de 98% do etileno no mundo são obtidos por meio do cracking, sendo o restante produzido à base de etanol, carvão e refino de gás. A nafta também é matéria-prima da própria gasolina, e só um terço é usado para gerar produtos petroquímicos. Enquanto o cracking do gás produz primordialmente etileno, o processo com insumo de nafta gera uma série de elementos que são matéria-prima para diversos outros produtos como borracha, isopor, poliéster e gasolina, entre outros (anexo 1). Assim, para viabilizar o uso da nafta como matéria-prima, é preciso aproveitar ou comercializar esses outros produtos, para gerar uma margem de lucro que compense o custo mais alto da nafta em relação ao do gás (anexo 7). Também é importante frisar que o custo marginal de etileno é de US$ 800/tonelada, dado um preço de US$ 60/barril de petróleo. Se o preço do petróleo aumentar US$ 10, a tonelada de etileno aumentará US$ 1205. Essa sensibilidade no custo do etileno produzido à base de nafta pode ter consequências consideráveis, dadas as oscilações do preço do petróleo ao longo do tempo (anexo 3). A nafta serve como matéria-prima para 60% da produção mundial do etileno. Entretanto, em algumas regiões do mundo, predomina o gás; por exemplo, na América do Norte, no Oriente Médio e no Leste Europeu, enquanto a nafta predomina, por exemplo, na América Latina, na Europa e na Ásia Oriental (anexo 5). O uso de diferentes matérias-primas em diferentes regiões do mundo e a diferença entre o custo da nafta e o do gás têm implicações significativas no custo do etileno para os produtores nessas regiões (anexo 6). Oferta e Demanda Embora o crescimento da demanda seja em parte função do crescimento do PIB, a substituição de outras matérias-primas (ex. metais) por plástico assim como novas aplicações têm provocado um crescimento superior às taxas de crescimento do PIB6. criação de nova 5 Ahmed, H. (2009). Global Chemicals – The time is now! Alembic Global Advisors, New York.Disponível em: alembicglobal.com/global-chemicals-the-time-is-now.html&service=forgot, acesso em outubro 2010. 6 Ahmed, H. (2010). Global Chemicals – The China Effect. Alembic Global Advisors, New York. Disponível em: <www.alembicglobal.com/global-chemicals-the-china-effect.html>. Acesso em: out 2010. AE-P0020 8 capacidade em diferentes partes do mundo busca dar conta desse crescimento do consumo (anexo 2)7. Quanto ao consumo mundial, existem três grandes mercados consumidores de resinas termoplásticas: Ásia, EUA e Europa, nesta ordem. Hoje, cada um desses mercados representa mais ou menos 25% do consumo mundial, representando a China e o Japão um pouco mais do que isso e o resto do mundo, os outros 25%. A indústria petroquímica é intensiva em escala de produção, devido ao alto custo fixo das plantas e à margem reduzida em alguns mercados e em algumas fases do ciclo. Muitas novas plantas são concebidas em épocas de demanda crescente e altas margens. Grandes plantas são projetos que requerem vários anos até que estejam funcionando em capacidade plena. No dia da entrada em operação, essas plantas podem adicionar milhões de toneladas à capacidade mundial existente. Assim, quando a entrada em operação de novas plantas coincide com períodos de demanda mais fraca, a dinâmica do ciclo é reforçada. Sérgio, vice-presidente responsável pela área de resinas termoplásticas, descreve essa situação: “Você sabe o ponto em que você está, você não sabe o ponto em que você estará e você não sabe quem mais está tomando a mesma decisão que você e nem quão grande é o efeito manada que você tem.” Dessa forma, resultam períodos de margens altas e de margens baixas, estendendo-se o ciclo todo ao longo de aproximadamente 7 anos ou mais (anexo 4). As projeções contam com uma ampliação de capacidade produtiva (etileno) de aproximadamente 26 milhões de toneladas entre 2010 e 2014, ou seja, um acréscimo de em torno de 20% à capacidade global de 2009 (anexo 2). Enquanto os aumentos de capacidade acontecem primordialmente nos países do Oriente Médio e da Ásia, a tendência na Europa e nos EUA é fechar plantas ao longo dos próximos anos, devido ao grau de obsolescência e ao custo elevado dessas operações. Nos EUA, por exemplo, em torno de 45% da capacidade de produção de etileno têm mais de 30 anos. Já na Europa, a parcela da capacidade com mais de 30 anos em operação é de quase 70% da capacidade total instalada. A construção de novas plantas nesses países é problemática, dada a dificuldade de se obterem licenças ambientais. É importante frisar que as plantas mais antigas também requerem mais manutenção e têm escala menor do que novas plantas. A título de exemplo, plantas construídas há mais de 40 anos têm uma capacidade média de 250.000 toneladas, enquanto novas plantas de escala mundial podem ter capacidade de mais de um milhão de toneladas por ano8. 7 Ahmed, H. (2009). Global Chemicals – The time is now! Alembic Global Advisors, New York. 8 Ahmed, H. (2009). Global Chemicals – The time is now! Alembic Global Advisors, New York. AE-P0020 9 Diante desse panorama, a petroquímica mundial está se deslocando para a região do Oriente Médio e da Ásia, seja quanto ao consumo ou à nova capacidade de abrir novas plantas. A contribuição da China para o crescimento do consumo e da capacidade global tem aumentado nos últimos anos. A demanda interna chinesa por polietileno foi de 18% da demanda global em 2006, percentual que deve subir para 21% em 2011. Os valores correspondentes para polipropileno devem subir de 22% para 25% e, para PVC, de 28% para 34%, no mesmo período. Assim, a China é o maior mercado consumidor e o maior importador de resinas termoplásticas do mundo9. Hoje, o grande mercado consumidor ainda é o estadunidense, mas a área de inteligência competitiva da própria Braskem estima que, em cinco anos, 60% do consumo petroquímico mundial terão migrado para o Oriente Médio e a Ásia. O crescimento da capacidade chinesa tem acompanhado o ritmo de crescimento da demanda doméstica. Enquanto a China contabilizava 8% da capacidade global de polietileno em 2006, essa participação deve chegar a 11% em 2010. No caso do polipropileno, os respectivos valores devem aumentar de 14% para 18% e a capacidade da China na produção de PVC deve pular de 27% para 35% até 2011. Aparentemente, a China busca autossuficiência em muitas das commodities químicas10. Já o segundo mercado, o dos EUA, é hoje um exportador líquido de polietileno e polipropileno. Os EUA importam transformados, mas não resina virgem. Pelo contrário, exportam resina virgem, porque têm uma capacidade de fabricação maior do que de consumo. Mas as projeções são de que os EUA vão deixar de ser exportadores líquidos para se tornar importadores líquidos de resinas, dados o ritmo de expansão do consumo de resinas plásticas no país, sua dificuldade de construir projetos novos, pelas crescentes exigências ambientais, e o possível fechamento de unidades menos rentáveis. Na percepção do vice-presidente responsável pela área internacional da Braskem, Marcelo Ferreira, a expansão física da capacidade nos EUA é um assunto cheio de entraves: Ou seja, é muito pouco provável que você venha a expandir capacidade produtiva nos EUA. Acho que seria muito difícil você conseguir encontrar um lugar nos EUA onde você tenha garantidos suprimentos de matéria-prima competitiva e consiga uma environmental license para construir uma petroquímica que precisa de uma área de 200 hectares, dois milhões de metros quadrados. Como é que você vai conseguir isso? Que ainda vai ter requisitos de consumo de energia, de consumo de água, de geração de resíduos sólidos e líquidos [...]. 9 Ahmed, H. (2010). Global Chemicals – TheChina Effect, Alembic Global Advisors, New York. 10 Ahmed, H. (2010). Global Chemicals – The China Effect, Alembic Global Advisors, New York. AE-P0020 10 O terceiro grande mercado, a Europa, não tem matéria-prima competitiva. O acesso logisticamente mais próximo à matéria-prima seria pelos produtores de petróleo, gás e nafta do Oriente Médio. Alguns destes entraram no mercado europeu mediante fusões e aquisições (anexo 18). Tal como no mercado estadunidense, muitas plantas são antigas. É difícil conseguir espaço físico e licenças ambientais para a construção de novas plantas, devido à alta densidade populacional e às altas exigências governamentais na Europa. Ao lado da forte demanda na China e da demora no fornecimento de matéria-prima pelas empresas do Oriente Médio, essas barreiras têm gerado certa escassez de resinas termoplásticas no mercado europeu, apesar de sua demanda pouco dinâmica. A relação entre oferta e demanda pode levar também ao fechamento das plantas menos produtivas, sobretudo quando a demanda global não consegue absorver a oferta dessas plantas com custo de produção mais alto (anexo 10). Competidores Internacionais É nesse cenário do setor petroquímico global que tem surgido uma série de novos competidores para a Braskem, além dos antigos players globais com atuação na América Latina tais como a Dow, a ExxonMobil ou a Solvay. Esses novos competidores podem cruzar o caminho de expansão internacional da Braskem a qualquer momento, lembra Júlio. Enquanto algumas das maiores empresas petroquímicas do mundo se consolidaram na China – por exemplo, Sinopec e Petrochina –, surgiram a Reliance na Índia e a Saudi Basic Industries Corp (Sabic) na Arábia Saudita. Os estrategistas da Braskem calculam que, por seu tamanho e posicionamento nos principais mercados de crescimento, essas empresas provavelmente estarão entre as sobreviventes de um processo de consolidação mundial (anexo 17). A Braskem pretende fazer parte desse grupo (anexo 13). O crescimento de algumas dessas empresas deve-se a fusões e aquisições realizadas ao longo dos últimos 10 anos (anexo 18). Por exemplo, em 2002, a Sabic comprou a DSM, da Holanda, e, em 2007, a GE Plastics, dos EUA, por US$ 12,7 bilhões. Num movimento semelhante, em 2009, um fundo de investimentos dos Emirados Árabes, o International Petroleum Investment Company (Ipic), comprou a Nova Chemicals, do Canadá, por cerca de US$ 4 bilhões. Sérgio, o vice-presidente responsável pela divisão de polímeros, lembra: Existe uma empresa que nós chegamos a analisar, uma empresa canadense chamada Nova, que é produtora, era mais ou menos do tamanho que era a Braskem antes das últimas aquisições que nós fizemos, tinha dois polos de produção, um base gás e outro base nafta, e foi comprada pela Ipic. Esse foi um claro movimento da Ipic para ter acesso ao mercado estadunidense via Canadá: compraram essa empresa e estão começando a administrá-la. AE-P0020 11 A Braskem de olho no exterior A Braskem exportou o equivalente a US$ 2,1 bilhões em resinas termoplásticas para 65 países em 2009, o equivalente a 27% da receita bruta da empresa. A América do Sul liderava os destinos de exportação com 31%, diante da Europa (27%) e da América do Norte (23%)11. Além das exportações, o que dita a expansão internacional da empresa é o objetivo maior de sobreviver ao processo de consolidação global na indústria petroquímica. Numa das reuniões do comitê de internacionalização, Marcelo formulou essa estratégia: Então, se você tem ambições de ser uma empresa mundial, uma empresa com características para ser uma sobrevivente no mercado petroquímico, um mercado que está sofrendo um grande processo de consolidação, você tem que ter presença física em um desses três mercados. Quando eu digo presença física, é uma presença manufatureira, não só uma presença de distribuição de produção feita em outro lugar. O que impõe à Braskem, dado seu objetivo de ser uma empresa sobrevivente, a missão de estar presente ou no mercado asiático, ou na Europa, ou nos EUA. África Alguns países da África podem ser interessantes como fornecedores de matéria-prima. De fato, as reservas africanas de gás natural equivaliam a 7,8% das reservas mundiais em 2006, o que corresponde quase à reserva total das Américas12. Mais de 90% das reservas africanas de gás natural concentram-se na Argélia, no Egito, na Líbia e na Nigéria. Entretanto, já há empresas francesas explorando o potencial petroquímico da Argélia. De fato, a França é o maior mercado de exportações de gás natural liquidificado da Argélia (anexo 12), que recentemente divulgou planos de construir uma petroquímica com a Total. Só recentemente a Líbia está se integrando ao mercado e à política internacional, e o Egito está começando a desenvolver uma vocação petroquímica e eventualmente pode vir a se tornar um player importante. Embora as reservas nigerianas de gás natural estejam entre as sete maiores do mundo, a maior parte delas ainda não foi desenvolvida comercialmente. Em 2008, a Nigéria exportou 18 milhões de toneladas de gás natural liquidificado, exploradas pela estatal nigeriana, pela Shell, pela Total e pela Agip. Além dessas empresas, a Gazprom, da Rússia, está considerando a possibilidade de investir US$ 2,5 bilhões para explorar e processar gás na Nigéria, assim como as britânicas BG Group e Centrica13. Por outro lado, alguns investidores estão preocupados com o arcabouço institucional desse país, que sofre de muita corrupção e de uma política fiscal pouco estável. Quanto à 11 Ahmed, H. (2010). Global Chemicals – The China Effect, Alembic Global Advisors, New York. 12 Oil and Gas in Africa, African Development Bank, 2009. Disponível em: <www.afdb.org>. Acesso em: set. 2010 13 Oil and Gas in Africa, African Development Bank, 2009. Disponível em: <www.afdb.org>. Acesso em: set. 2010. AE-P0020 12 produção de gás, a Argélia tomou a liderança, diante do Egito, da Nigéria e da Líbia. Enquanto as taxas de produção são crescentes para esses países, a da Argélia tende a diminuir. Ásia Em outubro de 2010, a Braskem instalou um escritório em Cingapura, sua primeira presença física na Ásia. Cingapura foi escolhida por sua excelente infraestrutura e por ser um dos principais polos logísticos da Ásia. O escritório vai assumir várias funções, sobretudo o atendimento e o suporte para os clientes da empresa nos principais mercados asiáticos como a própria Cingapura, a China, a Coreia, a Índia, a Indonésia e o Japão. Além disso, o escritório pode servir como cabeça de ponte visando à estruturação de futuras operações da Braskem na Ásia14. Bolívia A Bolívia, uma economia pequena (PIB nominal de US$ 19 bilhões em 2010), apareceu no mapa da Braskem porque tem a segunda maior reserva de gás da América Latina, atrás apenas da Venezuela. Carolina, a vice-presidente da área financeira, avalia o mercado boliviano da seguinte forma: Por que é importante ocupar Venezuela e Bolívia, nem que seja para ocupar o espaço para que outro não esteja lá? Porque eu tenho um mercado nacional, um mercado brasileiro, que é interessante, competitivo, que me dá uma margem diferenciada. Então, eu pegar um player qualquer – sei lá, um Irã da vida –, que se junta à Venezuela e tenta fazer esse projeto e, com o Mercosul, usar um gás extremamente barato, vender produto aqui dentro, vai me destruir mercado. Entretanto, atualmente, a Braskem só tem planos para fazer um projeto de 3 bilhões com a finalidade de abastecer a Argentina e o Brasil, mas nenhum projeto para a Bolívia. O risco político, considerado alto pela comunidade financeira internacional, é um dos fatores que tem atrasado os novos projetos. Com a nacionalização de refinarias e canais de comercialização da Petrobras na Bolívia, o governo do presidente Evo Morales cumpriu uma desuas promessas eleitorais de 2007. Evidentemente, esse movimento gerou atritos com o governo brasileiro, sendo o Brasil o maior comprador e dependente do gás boliviano, principal fonte de riqueza da Bolívia. 14 Braskem reforça sua presença internacional com novos escritórios no exterior. Disponível em: <http://www.braskem.com.br/site/portal_braskem/pt/sala_de_imprensa/sala_de_imprensa_detalhes_10358.aspx>. Acesso em: out. 2010. AE-P0020 13 Estados Unidos Atualmente, os EUA importam transformados finais, mas não resina virgem. Pelo contrário, desde a crise de 2008/2009, tornaram-se exportadores líquidos. Espera-se que essa situação se reverta a partir de 2015/2016, quando o crescimento da demanda, aliado a uma oferta constante, fará com que os EUA voltem a ser importadores líquidos. O mercado de resinas termoplásticas é muito mais fragmentado nos EUA do que em outros países. O maior produtor tem uma participação abaixo de 15%, de modo que os pequenos players têm menos experiência com fusões e aquisições. Num mercado em que a maior parte das vendas passa por intermediários, a interação entre usuários e fornecedores tem sido tímida ou inexistente. Por isso, os fornecedores raras vezes customizam e agregam valor ao usuário de PE e PP. Nesse contexto, as possibilidades de incrementar as margens são limitadas. Diz Carolina, vice-presidente da área financeira: “O investidor não gosta da indústria petroquímica estadunidense porque tem margem de 8%, enquanto o setor no Brasil tem uma margem de 16%.” Apesar disso, no início de 2010, a Braskem comprou a divisão de polipropileno da Sunoco Chemicals por US$ 350 milhões. O preço foi favorável, mas ainda não se sabe se o momento foi ideal quanto à integração da nova subsidiária com as demais atividades da Braskem. Mais uma vez, Júlio se lembrou do argumento de Carolina: Nem sempre você vai ter o ativo a um preço competitivo no momento que é ideal para você. A aquisição da Sunoco foi num momento de stress econômico, em que as empresas estavam precisando de caixa, em que os recursos eram restritos e eles precisavam vender o ativo. Venderam a um múltiplo de cinco; as empresas estadunidenses hoje são negociadas múltiplos de sete; assim, há uma oportunidade pura e simples nessa aquisição. Com a aquisição, a Braskem obteve participação de 13% na capacidade instalada de PP dos EUA e adicionou quase um milhão de toneladas a sua capacidade total de produção de PP. Além de três plantas, no Texas, na Pensilvânia e na Virginia, o negócio incluiu um centro de tecnologia e inovação. O acesso duradouro à matéria-prima foi um dos principais critérios que induziram ao fechamento da aquisição. Explica Marcelo, vice-presidente responsável pela área internacional: AE-P0020 14 Você não pode comprar uma planta que esteja ligada a uma refinaria que amanhã vai ser fechada, ou corre o risco de ser fechada, porque você perde seu acesso à matéria-prima. Entretanto, pouco depois da compra, a grande questão a resolver é a da integração da empresa estadunidense à Braskem. O que parece preocupar Júlio são as diferenças na maneira de fazer negócios: “Primeiro, a gente tem que superar a barreira de cultura entre países, mas, depois, tem que superar a barreira da tecnologia empresarial específica do nosso grupo.” México O México tem um consumo de resinas mais ou menos equivalente ao do Brasil, de cerca de dois milhões de toneladas de polietileno por ano, dos quais aproximadamente um milhão é produzido localmente, enquanto a maior parte do restante é importada dos EUA. Diante dessa oportunidade, a Braskem, em conjunto com a Idesa, uma empresa parceira minoritária mexicana (que tem 35% na joint venture), ganhou uma concorrência promovida pela Pemex Gás e assinou um contrato de fornecimento de gás com prazo de 20 anos, com a finalidade de produzir polietileno. Diz Marcelo: A gente espera aprovar o projeto do México no final de 2010, mas, quando o projeto entrar em funcionamento, em 2015, o México já vai estar consumindo dois milhões e meio de toneladas de polietileno, portanto, ainda assim, nós não vamos conseguir zerar as importações mexicanas, mas há a grande vantagem de ser um mercado para abastecer o mercado doméstico, o que significa que você não tem um custo de transporte e, portanto, de novo, sua margem, seu net back é mais alto. Esse projeto Etileno XXI do complexo é considerado o maior projeto de investimento no setor petroquímico mexicano em 20 anos. Mais de 70% desse projeto de US$ 2,5 bilhões seriam financiados com dívida. Peru O Peru, uma economia de US$ 144 bilhões em 2010, tem investment grade e estabilidade política e institucional. Entretanto, as descobertas de matéria-prima (gás) são muito recentes, e podem se passar alguns anos até o pleno aproveitamento do potencial de matéria-prima. No Peru, a Braskem está de olho em mais um projeto de um cracker de etano para produzir PE. O investimento previsto é da ordem de US$ 1,5 a U$ 2,5 bilhões, e a empresa planeja que o AE-P0020 15 complexo entre em funcionamento a partir de 2015. O previsto é fornecer PE para os mercados peruano, equatoriano, asiático e estadunidense. Oriente Médio A matéria-prima no Oriente Médio é muito competitiva comparada com o resto do mundo. Os crackers no Oriente Médio têm contratos de longo prazo para o fornecimento de gás (etano) cujos valores oscilam entre US$ 0,75 e U$ 1,25 por mmBTU, enquanto o preço internacional de gás natural é cotado a US$ 6 por mmBTU (em 2010). Essa diferença se traduz numa vantagem de custo para o produtor no Oriente Médio de aproximadamente US$ 600,00/tonelada (anexo 6). Sem dúvida, é um mercado de grandes oportunidades. Por outro lado, a Arábia Saudita não faz “alocações” novas de etano para novos projetos petroquímicos desde 2007, porque não o tem disponível, e, pelo mesmo motivo, o Qatar decretou uma moratória para novos projetos até 2013. Diante desse cenário, Júlio reflete sobre possíveis movimentos estratégicos futuros: A gente tem aí quatro grandes competidores: um sediado na Arábia Saudita, a Sabic, dois sediados na China, a Petrochina e a Sinopec, um sediado na Índia, a Reliance, e o mercado deles me interessa. Minha questão é o que eu posso dar em troca, se quero atender esse mercado com algum tipo de parceria com eles. Não vou dar em troca meu mercado doméstico aqui no Brasil. Então, deles, eu gostaria de uma parceria estratégica para sua matéria-prima competitiva, que é a matéria-prima do Oriente Médio, basicamente, e acesso aos mercados da Índia e da China. Venezuela A Venezuela tem as maiores jazidas de gás da América Latina. Atualmente, esse gás é subaproveitado – não gera valor nem royalties. A exportação de etano ou eteno seria extremamente difícil, e seu transporte, arriscado. O etano teria que ser liquefeito e regaseificado no destino, e o transporte de eteno para um cracker com capacidade de um milhão toneladas/ano, por exemplo, exigiria uma operação enorme, de cerca de 66.000 barris/dia, ou 11.000 m3/dia. Para aproveitá-lo, a Braskem está negociando dois projetos de crackers que seriam conduzidos em conjunto com a Petroquímica de Venezuela S.A. (Pequiven). O menor desses projetos, uma planta com capacidade de produção de 450.000 toneladas de polipropileno e de um investimento de US$ 1 bilhão, pode começar em 2011 e, se tudo sair bem, pode entrar em funcionamento em 2014. Já o projeto maior, um cracker de etano com capacidade de 1,3 milhões de toneladas de etileno e um milhão de toneladas de polietileno, entraria em marcha só em 2017 e custaria cerca de US$ 3 bilhões. Um projeto greenfield dessa natureza requer contratos firmes de fornecimento de matéria-prima de no mínimo 20 anos, o prazo de amortização da planta. Uma AE-P0020 16 vez finalizadoo projeto, o polipropileno e o polietileno poderiam ser exportados para os EUA e outros mercados. Embora a matéria-prima seja muito competitiva, o risco político percebido pelos financiadores internacionais de projetos que financiariam cerca de 70% do investimento tem atrasado o início desses projetos. Nesse momento, Júlio se lembra das palavras da vice- -presidente responsável pela área financeira: A gente só vai fazer esse projeto se conseguir um funding de project finance em que os próprios credores se sintam à vontade com aquele risco; se os credores estiverem à vontade, nós estaremos à vontade também, e seguimos com esse projeto. Epílogo Quando Júlio acordou, já eram 6 horas do dia seguinte; a luz vermelha do nascer do sol iluminava a sala, e a apresentadora da Globo lia as primeiras notícias. Às vezes, os sonhos ajudam a encontrar soluções criativas para os problemas que enfrentamos, pensou. Levantou-se e começou a anotar algumas ideias que discutiria com os executivos do comitê de internacionalização, com quem se reuniria no início da tarde... AE-P0020 17 Anexos Anexo 1 – Matéria-prima para resinas termoplásticas fonte: Disponível em: <www.braskem.com>. Acesso em: ago. 2010. Anexo 2 – Aumentos incrementais de capacidade de 2008 a 2014 (em mil toneladas) fonte: Alembic Chemical Capacity (Ahmed, H., Dec. 16, 2009, p. 3). AE-P0020 18 Anexo 3 – Preços de petróleo bruto (barril) fonte: Disponível em: <http://www.indexmundi.com/commodities/?commodity=natural- gas&months=120>. Acesso em: ago. 2010. Anexo 4 – Modelo da oferta e da demanda global de etileno (000 toneladas métricas) fonte: Alembic Chemical Capacity (Ahmed, H., Dec. 16, 2009, p. 8). AE-P0020 19 Anexo 5 – Principais matérias-primas por região fonte: Alembic Chemical Capacity (Ahmed, H., Dec. 16, 2009, p. 10-11). Anexo 6 – Custo do etileno por região fonte: Alembic Chemical Capacity (Ahmed, H., Dec. 16, 2009, p. 16). AE-P0020 20 Anexo 7 – Relação entre o preço do petróleo e o preço do gás ao longo do tempo fonte: Alembic Chemical Capacity (Ahmed, H., Dec. 16, 2009, p. 10). Anexo 8 – Margens de etileno nos EUA fonte: Alembic “Global Chemicals – The China Effect” (Ahmed, H., May 18, 2010, p. 4). AE-P0020 21 Anexo 9 – Preços de commodities – metais e etileno fonte: Alembic “Global Chemicals – The China Effect” (Ahmed, H., May 18, 2010, p. 2). Anexo 10 – Curva de custo do etileno em nível global fonte: Alembic Chemical Capacity (Ahmed, H., Dec. 16, 2009, p. 11). nota: As premissas são o petróleo a US$ 60/barril e o gás natural a US$ 6/mmBTU. AE-P0020 22 Anexo 11 – Participação das 15 maiores empresas na capacidade global de etileno e PVC fonte: Alembic “Global Chemicals – The China Effect” (Ahmed, H., May 18, 2010, p. 11). Anexo 12 – Exportações de gás natural liquefeito por países africanos em 2006 fonte: Oil and Gas in Africa, African Development Bank, 2009. AE-P0020 23 Anexo 13 – A Braskem comparada com os seus principais competidores fonte: Braskem (2010). empresa % da receita % da receita total por negócios 1T10 EV / EBITDA margem EBITDA EBITDA (US$ milhões) Sabic 84% petroquímico 84%, metais 5% e outros 11% 35,8% 2.715 9,4 Mexichem 100% vinílicos 38%, cadeia flúor 6% e transformados 56% 22,3% 140 12,1 Reliance 30% petroquímicos 30% (30%) 19,2% 618 13,7 Braskem 100% básicos 41%, polímeros 53% e outros 7% 16,3% 404 4,5 Eastman 100% químico perfor. 24%, polímeros perm. 16%, fibras 21%, especialidades 15% e outros 24% 16,0% 251 6,2 Exxon Mobil 100% 15,2% 12.189 7,7 Nova Chemicals 100% olefinas/poliolefinas 70%, Styrenics 5% e Ineos JV 25% 14,7% 206 n/d Chevron Phillips 100% olefinas/poliolefinas 70% e aromáticos 30% 12,3% 370 n/d Quattor 100% básicos 41%, polímeros 53% e outros 7% (101%) 11,2% 74 n/d Formosa Petrochemical 100% refinaria 68%, olefinas 35%, utilidades 6% e outros 9% (118%) 10,1% 632 5,3 Dow 100% especialidades 42%, básicos 48% e AgroScience 11% (101%) 9,2% 1.228 15,1 Borealis 100% poliolefinas 73% e hidrocarbonetos 27% 9,0% 175 n/d Ineos 100% químicos, olefinas e poliolefinas ~90% (90%) 8,8% 684 n/d Total 13% químicos 13% (13%) 8,7% 540 4,4 Westlake 100% olefinas 68% e vinílicos 32% 8,5% 66 7,6 LyondellBasell 100% olefinas/poliolefinas/derivados 69%, refinaria 31% 8,1% 791 n/d Sinopec 100% 7,9% 5.100 6,2 Georgia Gulf 100% vinílicos 44%, aromáticos 15% e produtos acabados 41% 2,2% 14 10,9 média 10,7 % AE-P0020 24 Anexo 14 – A trajetória da Braskem fonte: Braskem (2010). Anexo 15 – Distribuição geográfica dos ativos e dos projetos da Braskem AE-P0020 25 Anexo 16 – Etanol e PE verde AE-P0020 26 Anexo 17 – Os top 10 da indústria química mundial fonte: Braskem (2010). AE-P0020 27 Anexo 18 – Fusões e aquisições na indústria petroquímica global Empresa fusão, aquisição ou greenfield investments data da aquisição participação e preço observações IPIC (Emirados Árabes) Borealis (Áustria) 1997 64% Hyundai Oilbank (Coreia do Sul) 1999 70% Nova Chemicals (Canadá) 2009 100% (US$ 2,3 bilhões) Abu Dhabi National Chemicals Company Chemaweyaat (Abu Dhabi) 2009 40% Sabic (Arábia Saudita) DSM (Holanda) 2002 100% criação da Sabic Europe; inclui Vestolen (Alemanha), comprada pela DSM Huntsman (Reino Unido) 2006 100% (US$ 685 milhões) GE Plastics (EUA) 2007 100% (US$ 11,6 bilhões) Sinopec (China) Addax Petroleum (Suíça) 2009 US$ 7,2 bilhões Ineos (Reino Unido) Kerling ASA (Noruega) 2007 US$ 908,43 milhões negócios de polímeros Borealis AS (Noruega) 2007 US$263 milhões unidade petroquímica Innovene (EUA) 2005 Subsidiária de refinamento e olefinas e derivados da BP (US$ 9 bilhões) plantas nos EUA, Canadá, Reino Unido, França, Bélgica, Alemanha e Itália Basf ( Canadá e EUA) 2005 negócios de poliestireno Petrochina (China) Singapore Petroleum (Cingapura) 2009 45,5% (US$ 2,2 bilhões) AE-P0020 28 ExxonMobil (EUA) BP Chemicals Ltd-IPA Business (Reino Unido) 2004 Basell (França) 2001 plantas de polipropileno (PP) Total (França) Chevron Corp’s (Nigéria) 2010 45,9% Belgium’s Petrofina (Bélgica) 1999 100% (US$ 12 bilhões) torna-se Total Fina Maxichem (México) Divisão de resinas da Petco (Petroquímica Colombiana) 2007 100% (US$ 250 milhões) Eastman (EUA) Genovique Specialties Corporation (Estonia, EUA, China) 2010 Tongxiang Xinglong Fine Chemical Co (China) 2010 Nova Chemicals (Canadá) Sterling Chemicals’ Texas City (EUA) 2007 Aquisição dos direitos exclusivos para a produção de estireno Royal Dutch/Shell Group’s (Shell) European (Inglaterra, França, Holanda, Chile) 2000 US$ 215 milhões Arco Chemical 1996 U$ 160 milhões Ineos Group Ltd-N Amer Asts 2007 50:50 joint venture entre Nova Chemicals Corp e Innovene Reliance (Índia) Oferta de compra da LyondellBasell Industries (Holanda) US$ 14,5 bilhões Westlake (USA) Eastman Chemical’s polyethylene business (EUA) 2006 fontes: Thomson One IB, websites das empresas.
Compartilhar