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DESENVOLVIMENTO E COMPORTAMENTO MOTOR Patrick da Silveira Gonçalves E d u ca çã o D E S E N V O LV IM E N T O E C O M P O R T A M E N T O M O T O R P at ric k d a S ilv ei ra G on ça lv es Curitiba 2019 Desenvolvimento e comportamento motor Patrick da Silveira Gonçalves Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. G635d Gonçalves, Patrick da Silveira Desenvolvimento e comportamento motor / Patrick da Silveira Gonçalves. – Curitiba: Fael, 2019. 269 p.: il. ISBN 978-85-5337-060-3 1. Capacidade motora I. Título CDD 155.4123 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Ovocim/bestbrk Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Teorias do desenvolvimento humano | 7 2. Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos | 31 3. Crescimento corporal e maturação biológica | 49 4. Princípios do desenvolvimento motor, físico, cognitivo, social e afetivo | 71 5. Aprendizagem motora | 107 6. Fatores que afetam o desenvolvimento motor | 137 7. Influências do exercício físico no crescimento de crianças e adolescentes | 161 8. Características motoras e funcionais da fase adulta | 183 9. Influências do exercício físico no crescimento e desenvolvimento da pessoa idosa | 203 10. Avaliação do desenvolvimento e comportamento motor | 223 Gabarito | 245 Referências | 257 Prezado(a) aluno(a), O comportamento e o desenvolvimento motor exigem que o profissional que atua com o movimento humano compreenda a integração que ocorre entre os fatores genéticos, ambientais e de tarefa durante todo o ciclo da vida. Os estudos nessa área são relativamente recentes, surgindo com maior intensidade na segunda metade do século XX, mas avançam a passos largos, ao ritmo dos avanços tecnológicos. O autor oferece nesta obra subsídios para que se possa compreender os estudos e os parâ- metros atuais referentes ao tema, de forma que o acadêmico seja capaz de compreender e intervir em tais aspectos, como forma de melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Tenha uma excelente leitura e bons estudos. Carta ao Aluno 1 Teorias do desenvolvimento humano Desenvolvimento são as transformações que ocorrem ao longo do período do ciclo vital e que aumentam ou diminuem as capacidades funcionais. Tais modificações ocorrem em diversas dimensões do ser humano, como nos aspectos físicos, motores, sociais e afetivos, e se apresentam de diferentes formas, depen- dendo de fatores genéticos, relacionados aos estímulos ambien- tais ou, ainda, às histórias de vida e contexto que permeiam cada um dos indivíduos (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Para evidenciar os processos de desenvolvimento humano, muitos teóricos buscaram compreender as modificações que os sujeitos apresentam em cada uma de suas dimensões. Assim, nesse capítulo, você vai estudar algumas das principais teorias do desenvolvimento motor, além de compreender aspectos gerais do desenvolvimento humano. No entanto, antes de iniciarmos a abordagens de algumas das principais teorias que permeiam os estudos sobre o desenvolvimento humano, é necessário que você saiba algumas características fundamentais a respeito desse tema. Desenvolvimento e comportamento motor – 8 – Primeiramente, o desenvolvimento depende da história e do con- texto. Indivíduos com histórias de vida e localizados em contextos dife- rentes tendem a apresentar desenvolvimento desigual. Por exemplo, crianças que nascem e vivem em condições de vulnerabilidade social, com condições de alimentação inadequadas, possivelmente irão apresen- tar um desenvolvimento físico e cognitivo menor do que aqueles que possuem condições adequadas. Em segundo lugar, o desenvolvimento é multidimensional e multidi- recional. O desenvolvimento ocorre o tempo todo, em todas as dimensões humanas e de forma conjunta, em que uma dimensão afeta a outra, apre- sentando momentos de grande aumento, de estabilização e de declínio. Por exemplo, crianças desenvolvem-se adquirindo capacidades cogniti- vas, motoras, afetivas e sociais nos seus primeiros anos de vida. No iní- cio da fase adulta, algumas capacidades tendem a se estabelecer. Quando idosos, há um declínio, sobretudo, dos aspectos físicos, o que por vezes é associado a defasagens no desenvolvimento cognitivo, por meio da evo- lução das demências, como o Alzheimer, ainda que o vocabulário possa continuar evoluindo. Por último, o desenvolvimento é flexível e plástico. Muitas das capa- cidades funcionais são passíveis de modificações e aperfeiçoamento ao longo da vida dos indivíduos. Mesmo em idades avançadas, é possível melhorar as capacidades de força, memória e atenção, por exemplo. No entanto, quanto mais se avança na evolução de capacidades, menor é a amplitude de suas possíveis modificações. Ou seja, a evolução das capaci- dades tem limites mesmo em crianças pequenas. Assim, percebemos que a transformação ocorre o tempo todo em todas as dimensões do ser humano. No entanto, ainda que muitos teóri- cos que analisam o desenvolvimento humano possam ter feito análises a partir da totalidade humana, eles geralmente se dedicaram a apontar características ressaltando aspectos do desenvolvimento motor, cogni- tivo, social ou afetivo. A seguir, você conhecerá as principais aborda- gens do desenvolvimento, em que cada autor, a partir da análise especí- fica de área do conhecimento, buscou identificar como os seres humanos se desenvolvem. – 9 – Teorias do desenvolvimento humano 1.1 Teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e Erick Erikson O estudo do desenvolvimento humano esteve centrado por muito tempo nos processos da construção do intelecto e do comportamento humano. Muitas das teorias atuais possuem influências da teoria psicanalí- tica desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “pai da psicanálise” que, por sua vez, foi influenciado pelas teorias evolucionistas de Charles Darwin (COUTO, 2017). Ainda que suas teorias não tenham se centrado especificamente nos processos de desenvolvimento, mas sim em aspectos relacionados à formação da personalidade e dos funcionamentos psíquicos anormais, Freud propôs que os seres humanos passam por está- gios psicossexuais que tinham em suas bases as atividades motoras e as sensações físicas. O teórico sustentava que, para a vida em sociedade, os indivíduos deveriam passar por vários estágios, onde impulsos biológicos devem ser controlados, sendo colocados constantemente em conflitos. A teoria freudiana apresenta que a formação da personalidade ocorre a partir de três dimensões do aparelho psíquico: o id inconscientemente busca o prazer imediato, é guiado pelos desejos e paixões, o ego, que busca realizar uma adequação permanente entre o que os instintos almejam e aquilo que é eticamente correto e o superego, que se apresenta como uma forma contrária ao id, produzindo a internalização dos pensamentos éticos e morais. A partir dessa tríade, Freud propõe que os estágios psicossexuais se apresentam por meio de conflitos e experiências que os sujeitos vivenciam, que permitem seguir e fundamentam a fase seguinte. É importante evidenciar que, apesar da teoria freudiana se destacar pela sua ênfase com o prazer sexual, não busca apenas elaborar os praze- res que estão relacionados aos órgãos genitais. Nesse aspecto, o Vocabulá- rio de Psicanálise aborda que: Na experiência e na teoria psicanalítica, sexualidadenão designa apenas as atividades e o prazer que decorrem do funcionamento do aparelho genital, mas toda uma série de excitações e de ativida- des presentes desde a infância, que proporcionam um prazer irre- dutível a satisfação de uma necessidade fisiológica fundamental (respiração, fome, função de excreção, etc) e que se encontram a Desenvolvimento e comportamento motor – 10 – título de componentes na chamada forma normal de amor sexual (LAPLANCHE; PONTALIS, 1976, p. 619). Com isso, Freud aborda que o desenvolvimento se dá a partir do com- portamento que os indivíduos demonstram frente os prazeres obtidos por meio das diversas estruturas corporais, ocorrendo em diferentes estágios: oral, anal, fálico, latente e genital (COUTO, 2017). No estágio oral, que se estende até o primeiro ano de vida, a boca é a principal zona erógena, uma vez que as fontes de prazer se dão no ato de mamar e de se alimentar. Você já deve ter percebido que bebês levam mui- tos objetos para a boca e também que a chupeta é o principal artifício para auxiliar o bebê a se acalmar. Isso ocorre porque as sensações causadas pela boca são a principal fonte de prazer desses bebês. O principal conflito que ocorre nessa fase é o desmame, já que os bebês devem se afastar do contato contínuo de suas fontes de prazer. O desmame forçado pode levar os indivíduos, na vida adulta, a procurar outros prazeres orais, como roer as unhas e fumar. Já o estágio anal, de 1 a 3 anos de idade, o foco da libido se encontra na bexiga e na evacuação. O principal desafio é o controle das necessi- dades corporais, formadoras das sensações de controle e independência. Quando as crianças, nessa fase, possuem um treinamento higiênico muito rígido, podem sofrer com problemas de obsessão por limpeza, ser rigi- damente ligadas a horários e rotinas ou ser bastante desleixadas consigo mesmas ou com o ambiente em que convivem. Por sua vez, no estágio fálico, que ocorre aproximadamente entre os 3 e 6 anos de idade, o foco da libido se encontra nos órgãos genitais, em que a criança começa a perceber a presença do “falo” (pênis). Freud expu- nha que o principal desafio nessa fase era lidar com o medo da castração para os meninos e com o desejo de possuir um pênis e, para as meninas, o desejo em adquiri-lo. A seguir, o estágio latente, que dura até a puberdade, o ego e o superego mais desenvolvidos contribuem para uma inibição da libido. A energia sexual é transferida paras as atividades socializadoras e intelec- tuais. Trata-se, portanto, em uma pausa para a transição do desenvolvi- mento psicossexual. – 11 – Teorias do desenvolvimento humano Por último, no estágio genital, as funções da libido atendem um cará- ter reprodutivo. Nisso, o grande desafio é a desvinculação dos pais e a busca por um objeto de amor do mundo externo. Atualmente, muitas das teorias de Sigmund Freud são consideradas obsoletas, como a perspectiva de que as experiências dos primeiros anos de vida determinavam o comportamento por toda a vida. Outras, como a ideia do id, do ego e do superego não são possíveis de serem testadas. No entanto, o grande legado de Freud é o fato de considerar as emoções, os pensamentos e as ações inconscientes como parte do desenvolvimento humano, o qual até então era apenas relacionado a uma abordagem bio- lógica. Assim, Freud abre algumas perspectivas para os teóricos pos- teriores, que também estão envolvidos na descrição de como os seres humanos se desenvolvem. As teorias de Freud serviram de influências para os estudos de Erik Erikson (1902-1994), seu aluno. No entanto, Erikson se opôs a algumas características freudianas, por seu professor não levar em consideração aspectos relativos às contribuições que o meio em que cada indivíduo está inserido (família, escola, amigos, entre outros ambientes de socialização) exercem no desenvolvimento. Também passou a abordar o desenvolvimento como o conjunto de experiências que ocorre ao longo da vida dos indivíduos, não centrando-se apenas na infância. Com isso, Erikson se concentrou nas influências que a sociedade exerce, ao invés do sexo, considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste. Na teoria psicossocial do desenvolvimento humano, Erick Erikson elaborou que o ego se constitui em fases maturacionais que envolvem oito estágios. Segundo esse teórico, os fatores ambientais exercem maior influ- ência do que a hereditariedade no ciclo da vida humana, se apresentando de forma sequencial conforme o avanço dos estímulos sociais e aspectos referentes às experiências (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Cada estágio de Erikson envolve o que chamava de crise da personalidade, em que os indivíduos são expostos a sentimentos antagônicos que devem ser bem resolvidos para o desenvolvimento saudável dos egos. Assim, as condi- Desenvolvimento e comportamento motor – 12 – ções ambientais devem favorecer o equilíbrio entre os sentimentos experi- mentados durante as fases da vida, sendo fundamental para o desenvolvi- mento. Em cada uma dessas fases também são formadas virtudes. No primeiro estágio, que surge no nascimento e se encerra entre os 12 e 18 meses de vida, há a experimentação de confiança versus descon- fiança, em que o desenvolvimento se baseia na confiança que a criança adquire por seus cuidadores. O processo inverso, a desconfiança, pode comprometer a segurança de se posicionar frente ao mundo. Assim como Freud explicava, a principal atividade nessa fase é a alimentação. Por meio dos sentimentos orais, o bebê consegue identificar se o ambiente em que se encontra é seguro. Nessa fase, a principal virtude é a esperança. Entre os 12 e 18 meses de vida até a idade de 3 anos, toma forma o estágio de autonomia versus vergonha e dúvida, cujo desenvolvimento parte do orgulho em conseguir controlar o próprio corpo e fazer coisas básicas, como se alimentar, por exemplo. O sentimento contrário, quando em excesso, provoca sensações de inadequação e insegurança. A principal virtude é a vontade. Entre os 3 e 5 anos de vida, surge o estágio de iniciativa versus culpa. Nessa fase, as crianças desenvolvem o seu poder de iniciativa junto a outras crianças, liderando e propondo jogos. Caso estes objetivos não sejam atingidos, passam por sentimentos de dúvida de si e de falta de ini- ciativa (GALLAHUE; OZMUN, 2013). A principal virtude é o propósito. A segunda metade da infância, que vai dos 6 anos à puberdade, é caracterizada pelo estágio de produtividade versus inferioridade, que se mostra a partir do orgulho em dominar certas habilidades e realizar sua exposição para os outros sujeitos. As crianças que recebem pouco estí- mulo social passam a se sentir inferiores às demais. A principal virtude dessa fase é a habilidade. A chegada da adolescência pode ser um tanto confusa aos indiví- duos, sendo caracterizada pelo estágio de identidade versus confusão (ou crise) de identidade, que se constitui a partir das descobertas dos seus próprios interesses e de sua valorização. Aqueles que recebem o estímulo necessário se tornam seguros de si mesmos e de suas escolhas. O contrário – 13 – Teorias do desenvolvimento humano pode se apresentar como um sentimento de insegurança quanto ao futuro. Nessa fase, a virtude que se destaca é a fidelidade. O início da vida adulta se dá a partir do estágio de intimidade versus isolamento, em que o êxito se dá a partir do estabelecimento de relações estreitas com outras pessoas, favorecendo as relações íntimas. A principal virtude dessa fase é o amor. No decorrer da vida adulta, ocorre o estágio de generatividade ver- sus estagnação, em que os sentimentos de contribuição e atividade social devem prevalecer. Caso contrário, os indivíduos adultos são tomados por sentimentos de improdutividade(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). A virtude que se destaca nessa fase é o cuidado. Por último, na velhice, há o estágio de integridade versus deses- pero, em que o sentimento de que a vida valeu a pena e que muitos objetivos foram alcançados para o bem social devem prevalecer. Os indivíduos malsucedidos nessa fase costumam experimentar diversos arrependimentos e medo de morrer. Encerrando o ciclo de vida, a prin- cipal virtude é a sabedoria. Ainda que a teoria de Erikson não seja amplamente utilizada atual- mente, teve importante contribuição. Ao relatar as experiências que os indivíduos obtinham em cada fase da vida, as quais são interferidas pelo meio social, Erikson abriu o espaço para se pensar o desenvolvimento humano para além das mudanças psíquicas e biológicas, motivando diver- sas outras teorias que irão enfatizar as relações sociais que os indivíduos estabelecem ao longo dos seus ciclos de vida. 1.2 Teorias cognitivistas de Jean Piaget e Lev Vigotski Umas das teorias mais populares atualmente é a teoria dos estágios cognitivos, postulada por Jean Piaget (1896-1980), que buscou caracte- rizar as fases de desenvolvimento a partir da cognição. Basicamente, a teoria dos estágios cognitivos é uma perspectiva em que os processos de pensamento são elementares para o desenvolvimento. Ou seja, parte do Desenvolvimento e comportamento motor – 14 – princípio de que existe um esforço intelectual das crianças (sujeitos em que focou seus estudos), para entender e agir sobre o mundo que as cerca. Piaget também pode ser considerado um dos pioneiros na abordagem cientificista do desenvolvimento comportamental, combinando a observa- ção à indagação flexível. Em suas observações, que em grande parte eram realizadas com os próprios filhos ou com crianças próximas a ele, reconheceu que crianças da mesma idade tendiam a se equivocar de maneira parecida que seus pares. Por exemplo, para explorar como as crianças pensavam, colocou em uma mesa dois agrupamentos de moedas, um deles com as moedas dispostas lado a lado e o outro com as moedas empilhadas. Ao indagar diferentes crianças com idades próximas aos 4 anos sobre a quantidade de moedas que dispusera sobre a mesa, ainda que a quantidade fosse a mesma, elas tendiam a apontar o grupo de moedas dispostas lado a lado como em maior quantidade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo ocorre em um processo que envolve três momentos distintos: a organização, a adaptação e a equilibração. A organização consiste na capacidade humana de criar categorias. Desde que nascemos, as categorias são formadas para compreender o mundo e classificar seres, objetos, atitudes, entre outros fenômenos. Essa organização de categorias, com o passar dos anos, se expande e se torna cada vez mais complexa. No início da vida, é bastante evidente que bebês inicialmente mamam ao seio de suas mães, posteriormente, “mamam” o próprio dedo, uma mamadeira ou um brinquedo. A organização, nesse caso, consiste na formação dos esquemas que possibilitam ao bebê com- preender o que é para sugar e o que não é, por exemplo. A adaptação é um processo que exige a adequação dos fatores ambientais de forma a intelectualizar e de internalizar novas informações, ajustando-se ao que é exigido pelo ambiente, pelos objetos ou pelas ações e fazendo correlações com informações que já domina (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Em outras palavras, consiste em a criança receber novas informações e se adaptar a elas. A adaptação ocorre por intermédio de dois outros processos cognitivos: a assimilação e a acomodação. – 15 – Teorias do desenvolvimento humano Papalia, Olds e Feldman (2013, p. 60) explicam que “a assimilação, que é absorver informação nova e incorporá-la às estruturas cognitivas existentes, e a acomodação, que é ajustar as próprias estruturas cognitivas para encaixar a informação nova”, são a base da teoria Piagetiana. Para entender melhor os conceitos de assimilação e acomodação, imagine que você deu uma bola (ou qualquer outro objeto) para uma criança que nunca manipulou esse brinquedo. Em um primeiro momento, ela irá explorar o objeto, tentando retirar diversas informações a respeito da bola (como, por exemplo, o tamanho, a sua textura, o seu peso e a sua resistência). Com esse objeto, ela descobriu que inúmeros movimentos podem ser feitos (quicar, rolar, chutar etc.), construindo estruturas cogni- tivas desse objeto. Este é o processo de assimilação. Agora, em uma segunda situação, imagine que você deu uma bola diferente (como, por exemplo, muito grande, muito pequena ou de for- mato oval) à criança que recebeu a bola na situação anterior. Essa criança, que já possui a experiência com uma bola, já tem construídos esquemas cognitivos a respeito desse objeto. Nesse caso, ela apenas irá adequar as estruturas já formadas ao novo objeto. Esse é o processo de acomodação. A equilibração é o esforço constante que a criança realiza para efe- tuar a passagem da assimilação para a acomodação. Quando a criança não possui estruturas cognitivas suficientes para lidar com uma situação, ocorre o desequilíbrio, um estado motivacional confortável. Por exemplo, na situação em que uma criança que já construiu estruturas cognitivas para identificar os pássaros e, pela primeira vez, observa um avião. Primeira- mente, ela irá decodificar a imagem do avião como sendo um pássaro, pelas suas semelhanças, em um processo de assimilação. Posteriormente, ao observar pássaros e aviões, ficará inquieta pelas suas diferenças, ocor- rendo o desequilíbrio. Por fim, ao dar um novo conceito ao avião, diferen- ciando-o dos pássaros, ela restaura seu equilíbrio e chega à acomodação dessa nova estrutura cognitiva. Ao mesmo estilo de outros teóricos contemporâneos, Piaget elabo- rou fases de desenvolvimento. No entanto, suas teorias apontaram para a importância das atividades físicas, em específico os jogos, para a cons- trução do desenvolvimento da cognição. Com isso, os estágios do desen- Desenvolvimento e comportamento motor – 16 – volvimento são separados nas fases sensório-motora, do pensamento pré- -operacional, das operações concretas e das operações formais. Embora não tenha estabelecido idades, na fase sensório-motora, que se estende até os dois anos de idade, a criança constrói os significados do seu mundo a partir das experimentações motoras e sensoriais que são possíveis na etapa básica manipulativa. Na fase do pensamento pré-operacional, que ocorre entre os 2 e 7 anos de idade, há uma ligação simbólica do seu mundo com as palavras e com as imagens. A atividade física é utilizada para realizar os processos cognitivos. Na fase das operações concretas, entre 7 e 11 anos de idade, ocorre a consolidação dos processos mentais, permitindo às crianças consegui- rem raciocinar sobre eventos e objetos concretos, realizando a classifica- ção e o pareamento com outros eventos, objetos e seres que já conhece. Por último, a fase das operações formais, que se dá a partir dos 11 anos de idade, consiste no processo de transformar o pensamento simbó- lico e intuitivo em pensamento operatório, em que o adolescente consegue deduzir e formular hipóteses abstratas a partir de processos de raciocínio mais complexos (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Dentro da pedagogia e de outras áreas que buscam relacionar a importância do jogo para o desenvolvimento, Piaget apresenta importan- tes contribuições. Para Piaget, a aprendizagem ocorre na medida em que a criança, ao se desenvolver biologicamente, constrói a capacidade de interagir com os objetos. Assim, ainda que dependa da interação com outros seres e obje- tos, possui papel ativo na aprendizagem (PIAGET, 2010). Para esse teó- rico, o jogo é essencial na aprendizagem, sendo uma das condições ao desenvolvimento infantil uma vez que, ao brincar,o indivíduo assimila a realidade, qualidade fundamental para poder transformá-la. Assim, os jogos exercem papel fundamental nos conceitos que Piaget aborda sobre assimilação e acomodação (PIAGET, 2010). O jogo encontra sua finalidade em si mesmo; o jogo é considerado uma atividade espontânea; o jogo é uma atividade que dá prazer; ele tem uma relativa falta de organização; o jogo caracteriza-se por um comportamento livre de conflito, uma vez que ignora o con- – 17 – Teorias do desenvolvimento humano flito; é uma atividade que envolve uma supramotivação ou motiva- ção intensa (PIAGET, 2010, p. 209). A concepção da importância do jogo dada por Piaget o aproxima de Lev Vygotsky e sua teoria sociocultural (1896-1934) em relação ao jogo, quando ambos compreendem que o brincar e os jogos são funda- mentais ao desenvolvimento cognitivo e social. Entretanto, há o enten- dimento de que as duas teorias se afastam quando abordam as formas como as interações acontecem para desencadear o processo de desenvol- vimento da inteligência. Para Vygotsky, cada indivíduo interage no processo educacional, desempenhando um papel de igual importância e não sendo caracteri- zado apenas como sujeito ativo ou sujeito passivo. Dessa forma, o sujeito aprende a partir de suas interações sociais. O brincar ganha espaço nessa dimensão, atuando como uma forma de promover a interação entre os sujeitos e entre o objeto de saber. Dessa forma, Vygotsky (1989, p. 109) assevera que: “[...] é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos”. A partir dessa compreensão, o brincar ganha uma possibilidade de aprendizado que parte da dimensão social para a dimensão subjetiva e, com isso, sendo algo que é formado e formador da cultura compartilhada por cada indivíduo. As atividades, quando compartilhadas, inscrevem as crianças nos modos de ser e viver de determinada sociedade. Para Vygotsky (1991), o brincar é uma atividade típica da infância e ganha maior potência quando as crianças já conseguem elaborar situ- ações imaginárias, criando uma realidade que ainda não participaram. O autor cita que nas brincadeiras características de faz de conta, a criança sempre se coloca como protagonista de uma situação que está à frente de seu tempo, de modo que, durante o jogo, se demonstra em um estágio de amadurecimento que ainda não demonstra em outras atividades. Esse amadurecimento se dá porque o ato de brincar, em que se encon- tram as atividades lúdicas, se mostra como um ensaio da vida real, de papéis, de realidades e de comportamentos que prepararão a criança para Desenvolvimento e comportamento motor – 18 – a vida adulta. Vygotsky (1991) baseou seus estudos a partir do conceito de zonas (ou níveis) de desenvolvimento. Para o autor, o aprendizado pode ser encontrado em três estágios: zona de desenvolvimento real, proximal ou potencial. A zona de desenvolvimento real diz respeito àquelas experiências, saberes, vivências e habilidades já consolidadas pelo sujeito. Ou seja, a cada nova aprendizagem, o sujeito determina uma nova zona de desen- volvimento real. A zona de desenvolvimento potencial faz referência às possibilida- des de desenvolvimento de cada sujeito, ou aqueles saberes que precisam, mas ainda não foram consolidados. Nessa etapa, as interações sociais pos- sibilitam os novos aprendizados. Por fim, a zona de desenvolvimento proximal é o nível em que ocorre a passagem do real para o potencial. Dessa forma, a zona de desen- volvimento proximal é sempre dinâmica, haja vista que, após a consolida- ção dos saberes, há um novo potencial a ser alcançado. As zonas de desenvolvimento propostas por Vygotsky, em uma ana- logia, podem ser comparadas com uma ponte. Em uma das extremida- des, encontramos o saber já consolidado. Na outra extremidade, o saber que deve ser alcançado. A ponte, a zona de desenvolvimento proximal, é o caminho a ser percorrido entre o que o sujeito já sabe e o que ainda precisa saber. Outra analogia possível e também bastante utilizada é o andaime. Imagine trabalhadores construindo uma casa. Em determinando nível do andaime, podem realizar seu trabalho até que essa etapa esteja consolidada. Para ir ao próximo nível de seu empreendimento, precisarão aumentar o tamanho do andaime, que os possibilitará novas construções. Dessa forma, dentro da perspectiva sociointeracionista de Vygotsky, o brincar, no âmbito educacional, é um dos meios em que o educador deve conduzir os estudantes na zona de desenvolvimento proximal, que parte do aspecto social para o individual. Importante salientar que Vygotsky preconiza que o vínculo entre o educador, o estudante e o objeto de saber deve ser estabelecido a partir de interações que gerem laços afetuosos. Assim, as atividades, quais sejam, devem surgir a partir de um caráter lúdico e de um ambiente onde o estudante tenha total liberdade para inte- – 19 – Teorias do desenvolvimento humano ragir com os objetos e sujeitos, de forma a concretizar as possibilidades de aprendizagem objetivadas. As contribuições acerca do jogo e do brincar de Piaget e Vygotsky os fazem compreender essas atividades não apenas como mero entreteni- mento, mas como uma potente forma de desenvolvimento que é essencial ao aprendizado. Como vimos na primeira seção desse capítulo, por muitos anos o jogo e o divertimento foram compreendidos como distrações que afastam os indivíduos de suas tarefas consideradas essenciais, como o tra- balho. Essa visão, de certa forma, ainda pode ser encontrada em alguns ambientes sociais, como a escola. Nessa perspectiva, Kishimoto (1996, p. 54) afirma que: [...] é preciso resgatar o direito da criança a uma educação que respeite seu processo de construção do pensamento, que lhe per- mita desenvolver-se nas linguagens expressivas do jogo, do dese- nho e da música. Estes, como instrumentos simbólicos de leitura e escrita de mundo, articulam-se ao sistema de representação da linguagem escrita, cuja elaboração mais complexa exige formas de pensamento mais sofisticadas para sua plena utilização. Entretanto, os estudos acerca de como o jogo pode ser essencial à construção do intelecto mostram que esse, também, deve ser parte inte- grante das atividades diárias de qualquer unidade de educação formal ou não formal. Além das contribuições do jogo que se aproximam do apren- dizado aos conteúdos que são propostos pela escola, as brincadeiras pos- sibilitam que as crianças aprendam as noções de esforço, participação, criação, reflexão e socialização. Desse modo, o brincar, enquanto atividade individual ou coletiva, é uma possibilidade de reflexão acerca da sociedade. Desde pequenos, os seres humanos, ao participarem de brincadeiras, têm a possibilidade de compreender todos os fenômenos que experimentam e recriá-los, de tal forma que se utilizem dessas atividades como ensaio para que, mais tarde, possam contribuir com ações que visem a transformação da sociedade. Assim, os profissionais que lidam com o desenvolvimento humano devem estar atentos às possibilidades que o lúdico pode oferecer ao apren- dizado e à socialização, promovendo e mediando momentos para que as atividades expressem o máximo de suas potencialidades. Desenvolvimento e comportamento motor – 20 – 1.3 Teoria desenvolvimentista de Gallahue e Ozmun Como você pode ter percebido, até agora foram abordados os pro- cessos de desenvolvimento humano que se pautaram na construção da inteligência, dos processos cognitivos e no estudo da interferência das emoções. De fato, em grande parte da história da modernidade, os estu- dos científicos se centraram a compreender os processos de construção do ser humano a partir dos aspectosintelectuais. Os estudos sobre o desen- volvimento motor e suas relações com as outras dimensões humanas são bastante recentes. Ainda hoje, poucos são os modelos teóricos que se dedicam a explorar o desenvolvimento motor ao longo da vida quando comparados às outras áreas da ciência. Até a década de 1980, os estudos voltados à motricidade buscavam apenas a observação e a catalogação de dados, sem explorar as possibilidades de compreensão do comportamento motor ao longo da vida. Embora tenham sido importantes do ponto de vista científico, pouco apresentavam sobre os processos subjacentes para uma compreensão mais ampla do desenvolvimento motor. Assim, David Gallahue (1946) e John Ozmun (1958) apresentam um modelo teórico voltado ao desenvolvimento motor que possa ser, ao mesmo tempo, descritivo e explicativo, servindo de base aos modelos pos- teriores. A teoria desenvolvimentista de Gallahue e Ozmun é apresentada em fases, de acordo com o comportamento motor que cada um apresenta. Sustentam os autores que: Todos nós, bebês, crianças, adolescentes e adultos, estamos envolvidos, durante toda a vida, no processo de aprender como devemos nos movimentar com controle e competência em res- posta às mudanças que enfrentamos no dia-a-dia [sic], em nosso ambiente em constante mutação. Somos capazes de observar dife- renças desenvolvimentais no comportamento dos movimentos. (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 67) Partindo dos movimentos observáveis, é possível agrupar três catego- rias funcionais ao longo de cada fase do desenvolvimento motor: a tarefa de movimentos de estabilidade, que permite o equilíbrio e a postura, incluindo aqui movimentos dinâmicos, como sentar, ficar em pé, alongar, – 21 – Teorias do desenvolvimento humano puxar, torcer, ou seja, todos os movimentos que interfiram no equilíbrio; as tarefas de movimentos de locomoção, que permitem aos indivíduos se locomoverem em determinado tempo e espaço por meio de vários movi- mentos, como nadar, pular, saltar, caminhar, entre outros; e as tarefas de movimentos de manipulação, que envolvem tanto a coordenação motora ampla (por meio de grandes grupos musculares), como chutar uma bola e arremessar um objeto, quanto a coordenação motora fina (por meio de pequenos grupos musculares), como cortar uma folha de papel utilizando- -se de tesoura ou escrever em um caderno (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Evidentemente, uma tarefa pode exigir categorias de movimentos diferentes. Por exemplo, jogar basquete pode exigir os movimentos posturais, ao ter que preparar um arremesso, os movimentos de loco- moção, na aproximação à cesta e os movimentos manipulativos com a bola. Essas diferentes categorias de movimentos podem ou não se apresentar concomitantemente. Assim, estas três categorias de movimentos mostradas por Gallahue e Ozmun tendem a se apresentar durante todo o ciclo da vida. No entanto, existem diferenças nas formas como se apresentam, induzindo às fases do desenvolvimento motor e que são compostas por diferentes estágios de progressão. Os autores apresentam quatro fases de desenvolvimento: a fase do movimento reflexo, a fase do movimento rudimentar, a fase do movimento fundamental e a fase do movimento especializado. A fase do movimento reflexo ocorre desde o útero até o primeiro ano de vida. Importante ressaltar que os movimentos reflexos, aqueles realiza- dos inconscientemente, são os primeiros movimentos humanos. Essa fase é dividida em dois estágios: codificação de informações e decodificação de informações. No estágio de codificação (do útero aos 4 meses de vida) de informa- ções, os movimentos são predominantemente realizados pelos movimen- tos inconscientes. São importantes, pois fazem com que o bebê busque alimento e se proteja, coletando informações do ambiente. No estágio de decodificação (dos 4 meses ao primeiro ano de vida), ocorre o processamento das informações, que são obtidas por meio de estímu- los sensoriais, permitindo que o bebê consiga controlar e inibir seus reflexos. Desenvolvimento e comportamento motor – 22 – A fase do movimento rudimentar, entre o nascimento até os dois anos de vida, compreende os primeiros padrões de movimentos voluntá- rios do bebê. Obviamente, o período em que ocorre é variado, dependendo do estímulo e da necessidade de sobrevivência. Essa fase também envolve dois estágios: estágio de inibição do reflexo e estágio de pré-controle. O estágio de inibição dos reflexos (do nascimento até 1 ano) é a con- tinuidade dos estágios de decodificação da fase anterior. Nessa fase, os reflexos motores vão gradativamente sendo inibidos conforme a matura- ção músculo esquelética e neuronal. O estágio de pré-controle é marcado pelo amadurecimento do córtex cerebral, que será cada vez mais responsável pelos movimentos. Há, portanto, a gradativa renúncia dos centros cerebrais inferiores no controle motor. A fase do movimento fundamental, dos 2 aos 7 anos de vida, repre- senta as descobertas no controle corporal de crianças. Aos poucos vão descobrindo a capacidade de controlar e realizar os movimentos de esta- bilidade, locomoção e manipulação. Primeiramente, ocorrem de maneira isolada e, depois, combinados. Os movimentos dessa fase surgem de acordo com o desenvolvimento na fase anterior, ocorrendo em três estágios: o está- gio inicial, os estágios elementares eficientes e o estágio de proficiência. O estágio inicial, que ocorre entre os 2 e 3 anos, representa as primei- ras tentativas da infância em realizar atividades que necessitem da integra- ção espacial e temporal. Geralmente os movimentos são bastante restritos e realizados com pouca eficiência. Os estágios elementares eficientes, que ocorrem entre os 3 e os 5 anos de idade, possibilitam à criança o maior controle motor e a eficiência rít- mica dos movimentos. Nessa fase, a realização conjunta de movimentos de estabilidade, de locomoção e de manipulação já garante bastante autonomia. No estágio de proficiência, que se dá entre os 5 e 7 anos, a eficiência nos movimentos já é bastante visível. Para Gallahue e Ozmun (2013) essa fase é a base para o rápido desenvolvimento motor que permite às crianças a prática desportiva. Finalmente, a fase de movimento especializado, que inicia por volta dos 7 anos e não há uma época determinada para o seu encerramento, os – 23 – Teorias do desenvolvimento humano movimentos complexos são utilizados para diferentes tarefas da vida diária. A acumulação das experiências nas fases anteriores, agora, pode ser utilizada em diferentes atividades, como dançar, praticar esportes e outras atividades de lazer. Essa fase também ocorre em três diferentes estágios: o estágio de transição, o estágio de aplicação e o estágio de utilização ao longo da vida. O estágio de transição, que se estabelece entre os 7 a 10 anos de idade, permite às crianças a utilização de diferentes categorias de movimen- tos para realizar tarefas esportivas e recreativas, como escalar uma escada de corda, jogar futebol e andar de skate. No estágio de apli- cação, entre os 11 e os 13 anos de idade, a ampliação das capacida- des cognitivas permite ao indivíduo adequar seus movimentos às exigências das tarefas. Até então, os movi- mentos eram realizados de forma generalizada, sendo repetidos em mui- tas das atividades. O último estágio, o estágio de utilização ao longo da vida, que ocorre a partir dos 14 anos, é o ápice do desenvolvi- mento motor. Nele, as aprendizagens motoras acumuladas ao longo da Figura 1.1 – Ampulheta de Gallahue e Ozmun Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 73). Desenvolvimento e comportamento motor – 24 – história do indivíduo são refinadas para as inúmeras atividades que possam surgir, conforme o interesse e a necessidade de cada um. As fases podem ser observadas na figuraa seguir: Em uma analogia, Gallahue e Ozmun (2013) comparam o desenvolvi- mento motor por meio de uma ampulheta. Nesse instrumento, a areia compõe os elementos da vida, isto é, os fatores hereditários e ambientais determinam os avanços do comportamento motor. Além disso, a taxa de desenvolvimento motor é regulada conforme as exigências mecânicas e físicas de cada tarefa. Observe que na ampulheta, o pote de areia referente à hereditariedade se encontra tampado. Isso significa que, no nascimento, as condições para o desenvolvimento, com base nos fatores genéticos, já estão formadas. Por outro lado, o pote referente aos fatores do ambiente, que representam a con- dição socioeconômica, o país de nascimento, as características culturais, a alimentação, as características socioafetivas do meio social em que o sujeito convive, podem variar constantemente, afetando o desenvolvimento motor. A metade inferior da ampulheta, então, refere-se ao acúmulo de expe- riências nas tarefas, os fatores de restrição ambientais e os fatores de res- trição do próprio indivíduo. O desenvolvimento tende a se acumular e, quanto menos restrições houver, maior será o nível de desenvolvimento motor apresentado. Nas primeiras fases, como a imagem sugere, é bas- tante comum termos um desenvolvimento padronizado, haja vista a pouca complexidade dos movimentos característicos delas. Cada uma das fases depende da fase anterior. Isso é, se um indivíduo possui um desenvolvimento deficitário na fase do movimento reflexo, pre- cisará de maiores estímulos ambientais e exigências mecânicas e físicas de cada tarefa para compensar este déficit. Em outras palavras, um bom desen- volvimento em cada uma das fases é essencial para a fase subsequente e um baixo desenvolvimento em determinada fase, da mesma forma, comprome- terá o desenvolvimento motor ao longo da vida dos indivíduos. A teoria do desenvolvimento motor desenvolvida por Gallahue e Ozmun representa uma nova perspectiva de entender o desenvolvimento humano. Até então, o desenvolvimento se focava em processos cognitivos e as abordagens motoras buscavam apenas a descrição dos comportamentos. Com essa teoria, o desenvolvimento motor passou a ser descrito como uma – 25 – Teorias do desenvolvimento humano integração entre as experiências durante as tarefas, as condições ambientais e hereditárias que marcam a trajetória de cada indivíduo. Para além disso, essa abordagem passou a considerar o indivíduo ao longo do ciclo da vida, partindo da gestação até a terceira idade, buscando identificar as principais características de cada fase e estabelecendo critérios para a identificação, compreensão e ações frente ao desenvolvimento típico e atípico. Conclusão Com isso, o que percebemos é que muitos teóricos apresentaram diversas formulações acerca do desenvolvimento humano. Obviamente, não existe uma teoria completamente correta ou equivocada, mas dife- rentes perspectivas de descrever e interpretar o fenômeno do desenvol- vimento. Embora alguns teóricos tenham ganhado destaque ao longo da história, não podemos esquecer que muitas outras teorias apresentam rele- vantes considerações sobre esse tema. A psicologia da Gestalt, em que seus pesquisadores expunham que o desenvolvimento está baseado nas estruturas biológicas que vamos conseguindo utilizar ao longo da vida; o Behaviorismo, que traduzia os aprendizados como as percepções que ocor- riam por meio dos estímulos e das respostas; os estudos de Vygotsky que, assim como Piaget, buscava compreender as relações que os indivíduos mantinham com o mundo, mas que apresentavam nos efeitos culturais as influências do desenvolvimento; entre tantas outras perspectivas, são fundamentais para compreender o desenvolvimento humano (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Gallahue e Ozmun dão uma nova perspectiva ao desenvolvimento, centrando-se no comportamento motor e como este se desenvolve a partir de diversas relações. Sem dúvida, as teorias que sur- gem atualmente sofrem influências de um ou mais teóricos para explicar o desenvolvimento nas mais diversas dimensões humanas. Ampliando seus conhecimentos Por muitos anos, as teorias se basearam apenas em dados que pudessem ser mensurados numericamente. No entanto, nem Desenvolvimento e comportamento motor – 26 – todas as variáveis subjetivas são mensuráveis, tornando o pro- cesso de compreensão do desenvolvimento humano bastante complexo, sendo necessários outros instrumentos que não sejam aqueles destinados a apenas medir e quantificar. Ao perceber que os dados quantitativos que medem os aspec- tos biológicos dos indivíduos não são suficientes para com- preender os processos que influenciam o desenvolvimento de seres humanos e que era uma forma recorrente na psicologia da época para compreender o desenvolvimento humano, Urie Bronfenbrenner (1917-2005) propôs uma teoria, denominada de teoria bioecológica (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998), a qual coloca que todo organismo biológico desenvolve-se dentro do contexto dos sistemas ecológicos que favorecem ou prejudi- cam seu crescimento. De modo geral, a teoria bioecológica busca compreender o desenvolvimento de crianças a partir do contexto cultural, histórico e social em que vivem. Por exemplo, a condição socioeconômica, que envolve a renda familiar, a profissão dos membros da família e o nível de instrução podem for- necer pistas sobre como será o desenvolvimento de determi- nado sujeito. Crianças em situações socioeconômicas empobrecidas ten- dem a apresentar um QI em média 5 pontos mais baixo do que aquelas que vivem em situações não empobrecidas (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Também, fatores rela- cionados à saúde, como surdez, cegueira, pneumonia, defi- ciências físicas e mentais acometem com maior incidência as crianças pobres. Com isso, os contextos em que o sujeito está inserido interfe- rem no desenvolvimento. Para Bronfenbrenner, o desenvolvi- mento ocorre a partir de processos cada vez mais complexos – 27 – Teorias do desenvolvimento humano de interação regular, ativa e bidirecional entre um sujeito e o ambiente que frequenta diariamente. Esse teórico classificou esses ambientes em microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema. Os microsssistemas são aqueles locais em que o contato pessoal entre os indivíduos é mais direto, como os lares, as escolas e os ambientes de trabalho. Por exemplo, uma proposta de compre- ensão do desenvolvimento em um microssistema diz respeito às influências que um bebê recém-nascido exerce em uma família e vice-versa. Os mesossistemas são a ligação entre dois ou mais microsssis- temas. Como, por exemplo, as influências exercidas pela relação entre amigos que vivem em lares diferentes, pela relação entre a escola e a família ou pela família e o local de trabalho. Os exossistemas também consistem na ligação entre dois ou mais ambientes. Entretanto, pelo menos um deles não deve conter a pessoa em desenvolvimento. Como exemplo, podemos citar um bebê cuja mãe participa em seu local de trabalho de campanhas de amamentação. O bebê, em desen- volvimento, nesse caso, é afetado pelo local de trabalho que não participa. O macrossistema diz respeito às crenças, valores, costumes, sis- temas econômicos e sociais hegemônicos em que a pessoa está inserida. Por exemplo, a cultura de alguns países orientais prega a harmonia do grupo, enquanto em países ocidentais, ocorre um direcionamento ao individualismo. Por sua vez, os cronossistemas dizem respeitos às variações temporais do mundo, como as guerras, os processos migrató- rios e as mudanças nos padrões familiares, por exemplo. A ima- gem a seguir representam os diferentes sistemas. Desenvolvimento ecomportamento motor – 28 – Figura 1.2 – Sistemas ecológicos de Bronfenbrenner Fonte: adaptado de Bronfenbrenner e Morris (1998). Por fim, é importante salientar que Bronfenbrenner explica que, ao mesmo tempo que os ambientes formam os sujeitos, estes últimos também formam o ambiente. Além disso, ele salienta que as pessoas não se desenvolvem de forma isolada, sendo o desenvolvimento fruto das inter-relações ambientais. Atividades 1. Leia uma definição acerca dos estudos do desenvolvimento humano: O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos processos sistemáticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas. Os cientistas do desenvolvimento (ou desenvolvimentistas) – indivíduos empenhados no estudo profis- sional do desenvolvimento humano – observam os aspectos em – 29 – Teorias do desenvolvimento humano que as pessoas se transformam desde a concepção até a maturi- dade, bem como as características que permanecem razoavelmente estáveis (PAPALIA; OLDS; FELDMAAN, 2013, p. 13). Partindo do conceito, existem diversas teorias do desenvolvi- mento humano. Qual o motivo e a importância de haver tantos modelos teóricos? 2. De acordo com Gallahue e Ozmun (2013, p. 69), “o estágio de decodificação substitui a atividade sensório-motora pela atividade perceptivo-motora”. Esse fenômeno ocorre entre os 4 meses e o primeiro ano de vida. Tendo como base a perspectiva de que os movimentos voluntários surgem somente no estágio de decodifi- cação, explique: por que a teoria do desenvolvimento motor deve considerar indivíduos que ainda se encontram no útero? 3. Segundo a teoria do desenvolvimento motor, os avanços pró- prios do desenvolvimento podem ser divididos em quatro fases. Descreva quais são elas. 4. O desenvolvimento motor pode ser explicado por meio de uma analogia a uma ampulheta. Nesse modelo, três restrições delimi- tam o desenvolvimento motor. Descreva quais são elas. 2 Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos Para os profissionais que trabalham com a complexidade que o corpo humano pode oferecer, alguns termos são bastante comuns e recorrentemente utilizados. Embora sejam comumente empregados como sinônimos, os conceitos de crescimento, desenvolvimento e maturação fazem referência a processos dis- tintos. O termo crescimento tem sua origem na palavra em latim crescere, que possui o significado de aparecer, surgir, aumentar ou crescer. O termo desenvolver se origina da negação ao termo latim volvere, com o significado de desenrolar, permitir a saída ou aparecimento de algo que estava tolhido. Por sua vez, o termo maturação se origina do termo latim maturus, com o significado de apontar algo que se encontra pronto. A partir da etimologia das palavras, já podemos presumir algumas distinções. Desenvolvimento e comportamento motor – 32 – De modo geral, todos os seres humanos crescem, se desenvolvem e amadurecem à medida que o tempo passa. Crescem ao passo que as células que os compõem modificam-se, gerando aumento em massa e em estatura; se desenvolvem à medida em que, nas dimensões cognitivas, físi- cas, motoras, afetivas e sociais ocorrem mudanças qualitativas em desem- penho; e sofrem o processo de maturação à medida em que mudanças que atendem uma ordem fixa se desenvolvimento aparecem. Embora os processos de crescimento, maturação e desenvolvimento sejam comuns a todos os seres humanos, cada indivíduo apresenta capa- cidades hereditárias e os fatores restritivos que tornam esses processos individuais. Além disso, esses processos não são constantes e dependem da fase do ciclo da vida que cada indivíduo atravessa e apresentam pecu- liaridades significativas. Sendo assim, nesse capítulo, você vai identificar os principais aspec- tos, características e diferenças entre os conceitos de crescimento corporal desenvolvimento e de maturação, diferenciando-os e reconhecendo a sua importância para a compreensão da complexidade do ser humano. Enten- der esses fatores é fundamental para profissionais de Educação Física, uma vez que é por meio dos avanços físicos, cognitivos, afetivos e sociais que o ser humano se desenvolve e atinge a plenitude de sua complexidade. 2.1 Crescimento corporal No nosso cotidiano, podemos reconhecer e nos deparar com muitos organismos que nascem, crescem e morrem. Por exemplo, ao plantarmos a muda de uma espécie vegetal, em poucos dias ela cresce, apresentando novas ramificações, diferenças no caule e em suas folhas. Isso também ocorre normalmente durante o ciclo da vida de todos os animais e, obvia- mente, neles estão inclusos os seres humanos. Ou seja, desde a fecunda- ção, as células humanas apresentam modificações que dão forma ao que virá a ser um ser humano em toda sua complexidade. Assim, é possível reconhecer que o termo “crescer” está associado ao tamanho que os organismos vivos apresentam, tendo seus corpos trans- formados ao longo de suas existências. O crescimento corporal humano, – 33 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos então, pode ser definido como todas aquelas alterações que o corpo humano sofre quanto ao seu tamanho e que ocorre basicamente pela multiplicação ou pelo aumento das células que o compõem (GUEDES, 1997; TANI et al., 1988). Para ajudar nessa compreensão, Arruda (1993) explica que o crescimento é uma variável que pode ser mensurada por meio de instru- mentos e protocolos de avaliação que conferem aos indivíduos medidas quantitativas, tais como aquelas que se dedicam a aferir as medidas antro- pométricas de estatura, de massa corporal, de dobras cutâneas, de circun- ferências e de diâmetros. Nesse mesmo sentido, Machado (2007) atribui ao crescimento a pers- pectiva das variáveis que se apresentam na massa corporal e na estatura em relação às medidas de tempo. Ou seja, quantos gramas ou quilogramas um indivíduo aumenta ou diminui seu peso corporal por dia ou por mês e quantos centímetros sua estatura acresce ou decresce ao longo de meses ou anos. Esses processos de ganho ao longo do tempo ocorrem devido às mudanças estruturais das células que compõem o corpo humano. Malina e Bouchard (2002) explicam que esse fenômeno de aumento corporal ocorre a partir de três processos distintos: hiperplasia, hipertrofia e agregação. A hiperplasia consiste no aumento de células a partir das divisões celulares. Esse fenômeno ocorre predominantemente nos processos de aumento tecidual. Por exemplo, uma célula do tecido adiposo tem a capa- cidade de se dividir em duas células, que por sua vez, também poderão dobrar a suas quantidades. Há, portanto, o aumento na quantidade de célu- las que formam o tecido. A hipertrofia ocorre pelo aumento dos tamanhos celulares a partir dos processos de elevação funcional, que ocorrem, geralmente, a partir das proteínas e dos substratos. Como exemplo, podemos citar os ganhos de massa dos músculos esqueléticos que ocorrem após sessões de treina- mento sistematizados, em que as células tendem a aumentar de tamanho. Por sua vez, a agregação é o aumento das substâncias intercelulares orgânicas e inorgânicas que agregam e agrupam as células. Por exemplo, a formação de tendões e de ossos necessita de muitas dessas substâncias que ligam uma célula à outra, que geralmente ocorrem por meio de fibras de colágeno. Desenvolvimento e comportamento motor – 34 – É importante ressaltar que esses três fenômenos, apesar de se consti- tuírem como características fundamentais para o processo de crescimento, variam de acordo com o tecido envolvido. Por exemplo, o tecido adiposo apresenta uma capacidade de hiperplasia maior em relação ao tecido mus- cular. Por outro lado, o tecido muscular esquelético está mais ligado aos processos de hipertrofia. Além dos fenômenos que possibilitamo aumento de massa corporal, Malina e Bouchard (2002) ainda atentam para um quarto processo de cres- cimento, que ocorre a partir da destruição celular. O corpo humano geralmente apresenta processos em que células são geradas e/ou aumentam o seu tamanho. Ao mesmo tempo, outras célu- las morrem e podem diminuir a sua massa. Quando o equilíbrio entre os ganhos e perdas celulares se estabelece, geralmente na fase adulta, ocorre o crescimento estável. O crescimento estável, no entanto, não significa que novas células não estejam sendo formadas ou células antigas este- jam perdendo seu tamanho, mantendo o corpo em sua composição igual durante toda uma fase da vida. Pelo contrário, as modificações ocorrem, mas os equilíbrios entre ganhos e perdas faz com que o crescimento seja quase imperceptível. Quando ocorre um desequilíbrio que pende para uma perda celular em demasia sobre os ganhos celulares, ocorre o crescimento negativo. Esse último fenômeno normalmente se origina a partir de processos pato- lógicos ou se apresenta relacionado ao processo natural chamado de enve- lhecimento. Há também que ressaltar o crescimento negativo em decor- rência do estilo de vida de cada sujeito. Por exemplo, em indivíduos que estejam sob dietas de restrição calórica e em indivíduos treinados que dei- xam a sua rotina de treino, é bastante evidente observarmos os processos do crescimento negativo, ainda que não apresentem alguma patologia ou tenham desencadeado os processos de envelhecimento. Geralmente, o potencial de crescimento se encontra intimamente ligado ao potencial genético de cada indivíduo. Assim, podemos constatar que cada sujeito apresenta um potencial de crescimento conforme seus condicionantes hereditários. Evidentemente, a hereditariedade não deter- mina o quanto um indivíduo irá crescer. O crescimento encontra restrições em atingir o seu potencial. – 35 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos Glaner (2005), Guedes e Guedes (1995) apontam que tais potenciais encontram em algumas variáveis ambientais suas barreiras e possibilida- des de se concretizarem. Isso é, o crescimento pode ser influenciado pelas qualidades sociais, econômicas e políticas apresentadas pelo contexto no qual um indivíduo vive. Glaner (2005) e Nahas et al. (1992) ainda apon- tam que medidas como peso e estatura, as quais são basilares para aferir o crescimento corporal, são utilizadas como indicadores de qualidade do bem-estar social de muitos países, como os instrumentos destinados a afe- rir as condições nutricionais de crianças, por exemplo. Com isso, o crescimento, além de suas características hereditárias, também é influenciado por fatores ambientais, nutricionais, hormonais que se diferenciam quanto ao sexo e às patologias. Esses fatores também influenciam os processos de desenvolvimento e maturação, que iremos discutir ao longo deste capítulo. A figura 2.1 apresenta algumas das prin- cipais influências que restringem o crescimento corporal. Figura 2.1 – Influências do crescimento, desenvolvimento e maturação Fonte: Fundação Vale (2013, p. 14). 2.1.1 Fases e tipos de crescimento O crescimento, como foi possível definir até aqui, se caracteriza pelo aumento de massa ou divisão celular e que é passível de ser mensurado Desenvolvimento e comportamento motor – 36 – por meio de métodos quantitativos, como os centímetros e os quilogra- mas, por exemplo. Ao analisarmos o crescimento humano, desde a con- cepção até a morte, é comum notarmos que ele ocorre com muita ênfase nos primeiros anos de vida, em especial até cada indivíduo atingir a fase adulta. No entanto, ainda que o crescimento ocorra com muita intensidade na infância e na adolescência, ele não ocorre de maneira uniforme. Assim, Moreira (2011) elabora que podemos identificar quatro fases nitidamente distintas no crescimento humano: A primeira fase ocorre da concepção até o nascimento. Nesse período, a divisão celular é bastante potente, dando a caracterização dos órgãos internos, a formação das estruturas corporais e o início do crescimento cerebral. As influências ambientais, ou seja, aquelas que são alheias ao próprio organismo do embrião ou do feto são bastante grandes. A segunda fase, também denominada de fase do lactente, inicia no nascimento e se estende até os dois anos, aproximadamente. No pri- meiro ano de vida, as crianças crescem, em média, 25 cm ao ano. No ano seguinte, essa média diminui para 15 cm. Essa desaceleração ocorre gra- dualmente, até que o crescimento atinja de 4 a 6 cm ao ano. A terceira fase, também denominada fase da infância intermediária ou fase pré-puberal, é o período que se estende do terceiro ano de vida até os 11 anos de idade, o crescimento apresenta certo equilíbrio e uniformi- dade. A criança adquire cerca de 5 cm ao ano e o peso tende a acompanhar a sua estatura. A quarta fase, mais conhecida como adolescência, mas também refe- rida como fase puberal, apresenta uma nova aceleração do crescimento, que dura até os 15 anos de idade e ocorre devido às secreções dos hormô- nios sexuais e do hormônio do crescimento (somatotrofina). Após isso, ocorre uma rápida desaceleração até aproximadamente os 18 anos de idade, quando se encerra com a fusão das epífises. Como discutimos anteriormente, o crescimento é desigual mesmo naqueles indivíduos que possuem muitas semelhanças nas suas carac- terísticas genéticas e nos fatores ambientais que os cercam. Com isso, as idades de início e término das fases podem ser distintas para cada ser humano. – 37 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos Ao longo do ciclo da vida de cada indivíduo, ocorrem fases que são denominadas de saltos de crescimento ou estirão do crescimento. Ou seja, períodos em que o crescimento se mostra mais evidente que nos perío- dos anteriores e posteriores. Na primeira infância, por exemplo, ocorrem vários saltos de crescimento; as crianças apresentam, em um período que geralmente dura de uma a seis semanas, um crescimento acima da média. Normalmente, os saltos de crescimento da infância não apresentam gran- des distinções entre indivíduos do sexo masculino e indivíduos do sexo feminino. No entanto, podemos elaborar a perspectiva que as diferenças mais notáveis que ocorrem quanto ao sexo dos indivíduos se dão predomi- nantemente no início da adolescência. A velocidade e o ritmo do crescimento entre meninas e meninos começam a se diferenciar na puberdade, em que o salto de crescimento varia entre 8 a 14 cm por ano. Comumente, a estatura de meninas avança mais cedo, entre 9 a 14,5 anos de idade e com uma duração aproximada- mente de 2 a 3 anos. Em meninos, esse fenômeno tarda um pouco mais para acontecer, ocorrendo geralmente entre os 11 e 16 anos de idade e durando o mesmo período. Esse fenômeno que marca o crescimento ace- lerado durante o início da adolescência é chamado de surto do crescimento adolescente (GALLAHUE; OZMUN, 2013; PAPALIA; OLDS; FELD- MAN, 2010). Logo, não é incomum encontrarmos crianças com 12 anos de idade, por exemplo, com diferentes estaturas e, passados alguns anos, estas diferenças terem se atenuado. É importante ressaltar que as diferenças de crescimento durante a puberdade são cruciais para as habilidades motoras. No início do surto do crescimento adolescente é comum notar pouco ou nenhum avanço na aquisição de habilidades motoras ligado ao pouco domínio de um corpo que se mostra cada vez maior em comprimento e peso. Assim, é funda- mental o profissional de Educação Física motivar e encorajar os adoles- centes até a sua adaptação às novas proporções corporais. Além de suas fases distintas, o crescimento corporal pode ser classifi- cado quanto às mudanças que ocorrem em cada célula, cada órgão e cada tecido do organismo e que ocorrem de maneiras específicas. Nesse sen-tido, Moreira (2011) identifica quatro tipos de crescimento que ocorrem conforme cada estrutura corpórea: Desenvolvimento e comportamento motor – 38 – Crescimento geral somático – busca analisar a totalidade do cresci- mento corporal humano, procurando identificar os ganhos em tecido mus- cular e ósseo, volume sanguíneo, órgãos dos aparelhos respiratório, circu- latório e digestivo, rim e baço. É representado por uma curva crescente, mas de velocidades diferentes devido às acelerações do crescimento que ocorrem na primeira infância e na adolescência. Crescimento neural – apresenta maior velocidade nos primeiros anos de vida, em que o crescimento do cérebro, do cerebelo e de estruturas afins, como o aparelho ocular e o perímetro cefálico são mais evidentes. Crescimento linfoide – marcado pelo crescimento de estruturas como o timo, os gânglios linfáticos, as amídalas, as adenoides e os folícu- los linfoides intestinais. Geralmente encontram maior crescimento entre os oito e dez anos de idade. Crescimento genital – engloba o crescimento de estruturas como os testículos, ovários, epidídimo, vesículas seminais, próstata, útero e seus anexos. Nos primeiros 8 a 10 anos de vida, o crescimento dessas estruturas é bastante lento. Na chegada da puberdade, elas acompanham a aceleração que marca esta fase. Dessa forma, podemos perceber que o crescimento diz respeito às alterações que o corpo humano exerce ao longo dos anos. Essas modifi- cações resultam de alterações celulares e de substâncias que as agregam, podendo ser classificadas conforme as fases em que ocorrem mudanças mais evidentes ou quanto aos tipos de células, tecidos e órgãos em que ocorrem tais alterações. É importante ressaltar novamente que tais modi- ficações não se mostram de maneira uniforme em todos os indivíduos, podendo ser influenciadas por fatores hereditários, que dizem respeito ao sexo, aos contextos ambientais, tais como os nutricionais, econômicos e sociais e, ainda, às patologias genéticas ou adquiridas. 2.2 Desenvolvimento humano O desenvolvimento humano, embora também possa se apresentar de acordo com as alterações do crescimento corporal, também engloba aspectos que envolvem as dimensões físicas (motoras), cognitivas, com- – 39 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos portamentais, afetivas e sociais que ocorrem ao longo da vida de cada um dos seres humanos. Desse modo, é possível presumir que o ser humano apresenta características quanto ao seu desenvolvimento de forma especí- fica para cada fase da vida. Da mesma forma como ocorre com o crescimento, o desenvolvimento se apresenta de maneira distinta para cada indivíduo. Ou seja, ao compa- rarmos crianças em estágios de crescimento iguais, por exemplo, podemos reconhecer diferenças significativas quanto ao seu desenvolvimento e, em outros casos, o crescimento e o desenvolvimento podem apresentar carac- terísticas muito semelhantes. Dentro dessa perspectiva, as mudanças que ocorrem nas diversas dimensões humanas apresentam novas possibilidades de relacionamento dos sujeitos consigo mesmos e com o meio em que estão inseridos. Nesse sentido, Gallahue e Ozmun (2013, p. 469) destacam que o desenvolvi- mento diz respeito às “mudanças no nível de funcionamento do indiví- duo ao longo do tempo”. O desenvolvimento humano, portanto, trata das mudanças funcionais, que podem ser aferidas tanto por métodos quantita- tivos quanto qualitativos, que os indivíduos adquirem ao longo dos anos. Uma observação importante é que, em determinados aspectos, o desenvolvimento pode apresentar avanços durante todo o ciclo da vida. Mesmo em condições de envelhecimento, em que os aspectos físicos podem apresentar um rápido declínio, outras aptidões, como aquelas refe- rentes ao vocabulário, por exemplo, podem continuar se desenvolvendo. Os estudos do desenvolvimento humano começaram a ser enfatizados entre o final do século XIX e o início do século XX, quando alguns teóri- cos romperam com a ideia de que as crianças eram vistas como adultos em potencial, apresentando apenas aspectos referentes aos ganhos corporais e ao uso de novas estruturas morfológicas que se formavam. Assim, várias teorias sobre o desenvolvimento humano foram lançadas, apresentando características conceituais que embasavam os estudos a partir de perspecti- vas dimensionais específicas, que variavam conforme os conhecimentos e interesses de seus criadores. Por exemplo, a teoria psicanalítica, criada por Sigmund Freud em meados de 1927, buscou compreender o desenvolvi- mento humano em uma perspectiva que centrava questões relativas à perso- nalidade e ao funcionamento psíquico por ele considerado como anormal. Desenvolvimento e comportamento motor – 40 – 2.2.1 Abordagens conceituais do desenvolvimento Com as diferentes perspectivas, podemos ressaltar alguns conceitos apresentados acerca do desenvolvimento humano. Para Malina e Bou- chard (2002), se caracterizam pelas alterações adaptativas que propor- cionam determinadas habilidades. Malina, Bouchard e Bar-or (2004) evidenciam que o desenvolvimento ocorre a partir de processos de altera- ção e especialização de células, tecidos e órgãos. Para Guedes e Guedes (1995), esse é um processo que envolve a maturação e as experiências proporcionadas e vivenciadas para cada indivíduo, se estendendo da con- cepção até a morte. Baxter-jones et al. (2002) explicam que o desenvol- vimento se materializa à medida em que os sujeitos adquirem habilidades motoras e as utilizam por meio do uso em competências. Palafox (2009) compreende que o desenvolvimento depende dos comportamentos per- ceptivo-motores, que ocorrem por meio de condicionantes como a explo- ração lúdica, o controle motor, a noção corporal, espacial e temporal, entre outros fatores. Evidentemente, os estudos do desenvolvimento humano podem apresentar diferenças quanto a suas perspectivas teóricas. No entanto, ao analisar tais fundamentos teóricos, podemos perceber que existem várias semelhanças nas compreensões acerca do desenvolvimento. É possível, então, agrupar as diferentes teorias do desenvolvimento a partir de suas semelhanças em abordagens conceituais. O quadro a seguir demonstra as abordagens conceituais a partir das teorias que ganharam maior notorie- dade no meio científico ao longo dos anos. Quadro 2.1 – Abordagens conceituais do desenvolvimento humano Abordagem conceitual Teóricos representativos Foco de pesquisa Teoria das fases- estágios Sigmund Freud Estudo do desenvolvimento psicossexual desde o nasci- mento até́ o final da infância. Erik Erikson Estudo do desenvolvimento psicossocial ao longo da vida. – 41 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos Abordagem conceitual Teóricos representativos Foco de pesquisa Arnold Gesell Estudos dos processos de maturação no desenvolvi- mento do sistema nervoso cen- tral desde o nascimento até́ o final da infância (“a ontogenia recapitula a filogenia”). Teoria da tarefa desenvolvimental Robert Havi- ghurst Estudo da interação entre bio- logia e sociedade na maturi- dade desenvolvimental desde a infância até́ o fim da vida. Teoria dos marcos desenvolvimentais Jean Piaget Estudo do desenvolvimento cognitivo como um processo interativo entre biologia e ambiente desde a época de bebê até́ o final da infância. Teoria ecológica (ramo dos sistemas dinâmicos) Nicholas Berns- tein; Kugler, Kelso e Turvey Estudo do desenvolvimento como um processo transacional descontínuo e auto-organizado entre a tarefa, o indivíduo e o ambiente ao longo de toda a vida. Teoria ecológica (ramo do ambiente comportamental) Roger Barker; Urie Bronfen- brenner Estudo do desenvolvimento como função da interpreta- ção individual de condiçõesambientais específicas em transação com o momento sociocultural e histórico. Teoria do processa- mento de informações Schmidt e Lee; Kephart Estudo do desenvolvimento como um processo perceptivo- -motor e dos eventos que ocor- rem internamente entre o input sensorial e o output motor. Fonte: Gallahue e Ozmun (2013, p. 45). Desenvolvimento e comportamento motor – 42 – Com as diferentes abordagens teóricas, podemos perceber que tal qual o crescimento, o desenvolvimento pode ocorrer ao longo da vida. Cabe destacar que muitas teorias enfatizam as interações entre o orga- nismo biológico com o ambiente no qual cada sujeito se encontra. Ou seja, as condições culturais, sociais e econômicas são fundamentais no processo de desenvolvimento. Do mesmo modo, ainda que os conceitos de crescimento e desenvol- vimento sejam distintos, eles se encontram relacionados à medida em que as alterações celulares e de outras substâncias inorgânicas e orgânicas que compõem o corpo humano ocorrem. O desenvolvimento, portanto, pode apresentar diferentes perspectivas que partem da dimensão humana a ser considerada. É um processo que muitas vezes envolve parâmetros que não se apresentam numericamente, sendo elaborados a partir de critérios qua- litativos de avaliação. O desenvolvimento se modifica com o passar dos anos, especialmente na adolescência, quando os processos de maturação, que iremos discutir na próxima seção, se intensificam. 2.3 Maturação biológica Além dos aspectos referentes ao crescimento e ao desenvolvimento, um terceiro conceito é essencial de ser compreendido. A maturação, para Gallahue e Ozmun (2013, p. 474), compreende o “processo de mudança desenvolvimental caracterizado por uma ordem fixa de progressão, em que o ritmo pode variar, mas a sequência de surgimento das característi- cas é a mesma”. O amadurecimento, então, está ligado aos processos de crescimento e desenvolvimento biológicos e também é, em síntese, muito influenciado por características inatas. Nesse mesmo sentido, Baxter-Jones, Eisenmann e Sherar (2005) também apontam que esse processo não está relacionado ao tempo em um sentido cronológico. Isso é, ainda que a ordem de maturação possa ser a mesma para muitos indivíduos, ela pode se apresentar em momen- tos cronológicos diferentes. Por exemplo, ao compararmos o processo de maturação entre crianças de 10 anos, veremos que determinadas estruturas corporais estarão em um processo maturacional mais avançado em um indivíduo em relação a outro. Assim, os mesmos autores referem que há – 43 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos dois componentes a serem considerados durante o processo de matura- ção: o tempo e o timing. O tempo diz respeito às velocidades que cada indivíduo progride para o estágio maduro. O timing diz respeito aos exa- tos momentos em que os eventos demarcatórios da maturação acontecem, como, por exemplo, em que idade a menarca é atingida. Logo, podemos perceber que, embora a maturação se apresente por meio de vieses qualitativos, os eventos que marcam o amadurecimento do corpo humano ocorrem a partir de fenômenos visíveis. Existem várias formas de verificar mudanças sequencias em que ocorrem os indicadores de maturação e que ocorrem a partir de diversas partes corporais. Comu- mente, os indicadores mais utilizados são a avaliação da idade esquelética, as características sexuais secundárias, o status menarquiano e/ou caracte- rísticas somáticas (BAXTER-JONES et al., 2005). 2.3.1 Idade morfológica A idade morfológica diz respeito à comparação entre o crescimento em altura e peso. Esses índices são avaliados por padrões normativos. O primeiro deles, explicam Gallahue e Ozmun (2013), surgiu em 1948, a chamada escala de Wetzel, que foi usada por algumas décadas por pedia- tras mundiais. Atualmente, a escala de Wetzel se encontra pouco utilizada devido às mudanças morfológicas populacionais que ocorreram ao longo dos anos. Atualmente, é muito comum os pediatras utilizarem os gráficos de desenvolvimento físico construídos pela Organização Mundial de Saúde, elaborados no ano 2006 (WHO, 2006). Essa representação gráfica apre- senta curvas em que os percentis de idade classificam os indivíduos dentro de um padrão – ou fora dele – estipulado pela média geral da população. 2.3.2 Idade esquelética A idade esquelética, ou idade óssea, fornece informações que tornam possível identificar a idade biológica do esqueleto. Geralmente ela é cal- culada por meio de radiografias dos ossos carpais que integram a articu- lação do pulso. Em termos de maturação biológica, esse método fornece informações bastante acuradas (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Desenvolvimento e comportamento motor – 44 – Contudo, por necessitar de equipamentos laboratoriais, o acesso a essas medidas é mais escasso. Além disso, a exposição constante à radia- ção pode ser agressiva à saúde. Portanto, a idade esquelética é pouco uti- lizada devido a sua necessidade laboratorial, os custos que envolvem tal exame, a inconveniência de deslocamento até os locais que possuam os equipamentos necessários e pelos efeitos cumulativos da radiação. 2.3.3 Características sexuais As características sexuais podem ser descritas como primárias e secun- dárias. As características primárias são aquelas relacionadas aos órgãos sexu- ais e definem a sexualidade biológica, ou seja, em masculino e feminino. As características sexuais secundárias são as alterações corporais que ocorrem com maior ênfase na puberdade, acentuando as particularidades masculi- nas e femininas como, por exemplo, os pelos faciais, os pelos auxiliares e o agravamento da voz (GALLAHUE; OZMIUN, 2013). Assim, o surgimento e amadurecimento de características sexuais secundárias, também denomi- nado de idade sexual, é outro método de aferir a maturação biológica. O método mais comum de avaliar a idade sexual é por meio da escala da maturidade de Tanner, desenvolvida em 1962. Esse método consiste em avaliar o crescimento dos órgãos genitais e das características sexu- ais secundárias, por meio de uma análise comparativa. Como tal método sugere que as partes íntimas sejam vistas, enfrentando alguns dilemas cul- turais e sociais, é comum que profissionais não se disponham a realizá-lo. No entanto, essa avaliação pode ser realizada sem a visualização direta do avaliador. É possível solicitar ao indivíduo avaliado apontar a imagem que mais se aproxime de suas características corporais. No entanto, ainda que essa forma possa ser mais confortável tanto para o avaliado quanto para o avaliador, ela corre o risco de incorrer a erros, uma vez que a inex- periência do avaliado em realizar tal comparação ou a timidez em apontar um estágio maturacional pouco desenvolvido, possa fazê-lo apontar um estágio que não condiz ao seu nível maturacional. Por exemplo, para avaliar a maturação sexual de um menino, o ava- liador, após o consentimento institucional e dos responsáveis do sujeito – 45 – Crescimento, desenvolvimento e maturação: definindo conceitos avaliado, e respeitando todos os aspectos éticos, demonstra as figuras a seguir e solicita que o menino aponte para a figura que melhor represente o seu estado maturacional. No caso da avaliação maturacional no sexo feminino, os mesmos procedimentos éticos devem ser abordados. Ou seja, deve haver os termos de consentimento institucional e dos responsáveis. No entanto, nesse caso, as imagens apresentadas são aquelas referentes à genitália feminina e às mamas, solicitando que a menina indique qual figura melhor representa o seu estado de maturação. 2.3.4 Outras características maturacionais Além da idade morfológica, da idade esquelética e do apareci- mento das características sexuais secundárias, outros fenômenos tam- bém podem ser levados em consideração
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