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LARINGE 
A laringe - palavra derivada do grego larungein (= gritar) e daí larynx (= gaita, parte 
alta da traquéia) - é uma estrutura das vias aéreas superiores que comunica a 
laringofaringe com a traquéia, possuindo tríplice função: 
 age como uma válvula para impedir não só a passagem de ar durante a 
deglutição como também que partículas alimentares possam penetrar na via 
respiratória 
 é via aerífera 
 é órgão essencial da formação dos sons (função vocalizadora) 
Ela possui estrutura semi-rígida, com esqueleto cartilaginoso, no qual as cartilagens 
se articulam em junturas sinoviais. Durante a puberdade, no homem, a laringe cresce 
rapidamente em tamanho e as pregas vocais tornam-se cerca de 1 cm mais longas 
fazendo com que o limite inferior do tom de voz caia de uma oitava. Nas mulheres, 
estas alterações, inclusive no tom da voz, são muito menos acentuadas. A laringe é 
palpável anteriormente, sendo importante referencial em anatomia de superfície. 
Relaciona-se posteriormente com a laringo-faringe. 
CARTILAGENS 
As cartilagens da laringe são a tireóide, a cricóide e a epiglote (ímpares) e a 
aritenóide, a corniculada e a cuneiforme (pares). As cartilagens tireóide, cricóide e 
aritenóide são cartilagens hialinas e podem sofrer calcificação, que se inicia depois 
dos 20 anos. As restantes são cartilagens elásticas. 
As palavras tireóide, cricóide, aritenóide e epiglote derivam do grego. Tireóide vem 
de thyreós (= escudo) e oidés (= forma de). Cricóide é derivada de krykos (= círculo) 
e oidés (= forma de). Aritenóide vem de arytaina (=jarro, copo) e oidés (= forma de), 
enquanto epiglote vem de epi (= sobre, em cima) e glottis (= laringe) . Já corniculada e 
cuneiforme derivam do latim. Corniculada vem de corniculatum (= que tem um pequeno 
chifre). Cuneiforme vem de cunœus (= cunha) e formis (= em forma de). 
A cartilagem tireóide está constituída por duas lâminas divergentes, unidas 
anteriormente em ângulo de 90º no homem e aproximadamente 120º na mulher, o que 
lhe confere forma de escudo e justifica sua etmologia. No ponto de união das lâminas, 
superiormente, há uma projeção anterior, a proeminência laríngea (pomo de Adão), 
mais acentuada no homem, palpável e visível in vivo. As bordas anteriores das lâminas 
divergem superiormente formando a incisura tireóidea. Já a borda posterior de cada 
lâmina prolonga-se superior e inferiormente para constituir os cornos superior e 
inferior, respectivamente. Na superfície lateral de cada lâmina vê-se uma crista, a 
linha oblíqua onde se fixam os mm. constrictor inferior da faringe, esternotireóideo e 
tireo-hióideo. 
A cartilagem cricóide apresenta uma placa posterior, a lâmina, e um arco anterior. 
Nas suas faces laterais há facetas que se articulam com os cornos inferiores da 
cartilagem tireóide, e outras, na parte póstero-superior de sua lâmina, que articulam-
se com as cartilagens aritenóides. No plano mediano da lâmina eleva-se uma crista que 
serve de inserção à musculatura longitudinal do esôfago (tendão crico-esofágico). A 
borda inferior da cartilagem cricóide marca o término da laringe e da faringe e o 
início da traquéia e do esôfago. 
As cartilagens aritenóides situam-se sobre a borda posterior da lâmina da 
cartilagem cricóide. Têm a forma de uma pirâmide triangular, apresentando um ápice 
superior e uma base inferior. Desta destacam-se dois processos: vocal, 
anteriormente, e muscular, lateralmente. O processo vocal é a única parte destas 
cartilagens que não pode sofrer ossificação pois é constituído de cartilagem elástica. 
A face medial da cartilagem aritenóide é recoberta pela mucosa da laringe. Músculos 
e ligamentos cobrem a maior parte das cartilagens aritenóides. 
A cartilagem epiglótica tem a forma de uma folha e está fixada à porção mediana do 
osso hióide e à cartilagem tireóide pelos ligamentos hio-epiglótico e tireo-epiglótico, 
respectivamente. Sua face posterior, a sua borda superior e a parte superior de sua 
face anterior são recobertas pela mucosa da laringe. A cartilagem epiglótica está 
unida ao ápice da cartilagem aritenóide, de cada lado, por uma prega da mucosa, a 
prega ari-epiglótica. Inclusas nestas pregas estão as pequenas cartilagens 
corniculadas e cuneiformes, que são inconstantes. 
ARTICULAÇÕES 
As articulações da laringe são sinoviais e ocorrem entre as cartilagens tireóide e 
cricóide (articulação cricotireóidea) e entre as cartilagens cricóide e aritenóide 
(articulação crico-aritenóide). 
 a articulação cricotireóidea que ocorre entre os cornos inferiores da 
cartilagem tireóide e a face lateral da cartilagem cricóide, permitindo 
movimentos de flexão e extensão de uma cartilagem sobre a outra. 
 a articulação crico-aritenóide que ocorre entre as bases das cartilagens 
aritenóides e face superior das cartilagens cricóides. As superfícies de 
contato são incongruentes mas a articulação permite o movimento de rotação 
das aritenóides em torno de um eixo vertical, bem como a tração lateral 
daquelas cartilagens. 
LIGAMENTOS 
Diversas estruturas ligamentosas são referidas com a laringe. São elas: 
 a membrana tireo-hióidea, que liga a borda superior da cartilagem tireóide à 
borda súpero-posterior do osso hióide. A membrana é espessada na sua 
porção mediana (ligamento tireo-hióideo mediano) e nas suas bordas livres 
posteriores (ligamentos tireo-hióideos laterais) nos quais podem existir 
incrustações cartilaginosas (cartilagem tritícea). O ramo interno do n. 
laríngeo superior e a a. laríngea superior (da a. tireóidea superior) perfuram 
lateralmente a membrana tireo-hióidea. 
 o cone elástico e o ligamento cricotireóideo, que em conjunto constituem uma 
lâmina de tecido conjuntivo cuja inserção inferior se faz em toda a borda 
superior do arco da cartilagem cricóide, de uma faceta articular a outra. A 
parte mediana desta lâmina se prende superiormente à cartilagem tireóide, 
constituindo o ligamento cricotireóideo. As partes laterais não se prendem à 
borda inferior da cartilagem tireóide; passam internamente a ela e se 
prendem, posteriormente, aos processos vocais da cartilagem aritenóide e 
anteriormente se encontram ao inserirem, medianamente, na face posterior 
do ângulo da cartilagem tireóide. Estas partes laterais formam os cones 
elásticos, um de cada lado. A borda superior, livre, de cada cone elástico 
constitui o ligamento vocal, rico em fibras elásticas, o qual após ser revestido 
por músculos e mucosa constituirá a prega vocal. 
 a membrana quadrangular é uma delgada lâmina conjuntiva que se prende 
superiormente na prega ari-epiglótica e que inferiormente termina em uma 
borda livre, o ligamento vestibular. Anteriormente a membrana quadrangular 
prende-se na face posterior do ângulo da cartilagem tireóide. Desta forma, o 
ligamento vestibular vai da cartilagem aritenóide ao ângulo da cartilagem 
tireóide, situando-se alguns milímetros acima do ligamento vocal. O ligamento 
vestibular é a estrutura de sustentação da prega vestibular (ou falsa prega 
vocal), que, ao contrário da prega vocal, não possui músculos em sua 
espessura. 
ÁDITO E CAVIDADE DA LARINGE 
O ádito da laringe é (como o nome indica) a entrada da laringe e encaminha o ar da 
laringo-faringe para a cavidade laríngea. Seus limites são a borda da epiglote, as 
pregas ari-epiglóticas e, posteriormente uma prega que une as cartilagens aritenóides 
(prega interaritenóidea). O fechamento do ádito protege a via respiratória contra a 
penetração de partículas alimentares e corpos estranhos. 
A cavidade da laringe é dividida em três porções: vestíbulo, glote e cavidade 
infraglótica: 
 o vestíbulo vai do ádito da laringe às pregas vocais, englobando as pregas 
vestibulares e os ventrículos. As pregas vestibulares, que vão da cartilagem 
tireóide, anteriormente, à cartilagem aritenóide, posteriormente, incluem os 
ligamentos vestibulares e são revestidas por mucosas, sendo o espaço entre 
elasdenominado de rima do vestíbulo. Os ventrículos correspondem a um 
espaço em forma de canoade cada lado da cavidade da laringe limitado 
superiormente pela prega vestibular e inferiormente pela prega vocal e ainda 
a porção intermediária, mediana, que se situa entre os espaços direito e 
esquerdo. Cada ventrículo apresenta um divertículo, o sáculo, que possui 
glândulas mistas cuja secreção lubrifica as pregas vocais. 
 Galeno usou a palavra grega glottis (= bocal de flauta), derivada de glossa (= 
língua) para denominar toda a laringe. Vesalio usou a palavra para designar a 
região abrangendo as pregas vestibulares, as pregas vocais e os ventrículos. 
Atualmente,a glote corresponde às pregas e a os processos vocais. O 
intervalo entre as pregas e os processos vocais de um lado e de outro é a rima 
da glote. As pregas vocais estendem-se da cartilagem tireóide ao processo 
vocal das cartilagens aritenóides e incluem o ligamento e o músculo vocal, 
revestidos pela mucosa. A parte mais anterior da rima da glote, localizada 
entre as pregas vocais, é a sua parte intermembranosa, enquanto que a porção 
que se situa entre os processos vocais é a parte intercartilaginosa. Enquanto 
que as pregas vocais são de importância na produção da voz, as pregas 
vestibulares exercem função protetora e, normalmente, não participam da 
fonação. É provável que as pregas vestibulares entrem em contato durante a 
deglutição. 
 a cavidade infraglótica, que é a região da laringe limitada superiormente 
pelas pregas vocais e inferiormente pelo início da traquéia. . 
MÚSCULOS 
Há dois grupos de músculos da laringe, os extrínsecos e os intrínsecos. 
Os extrínsecos ou são levantadores da laringe (m.m. tireo-hióideo, estilo-hióideo, 
milo-hióideo, digástrico, estilofaríngico e palatofaríngico) ou são abaixadores da 
laringe (m.m. omo-hióideo, esterno-hióideo e esternotireóideo). 
Dos músculos intrínsecos da laringe três originam-se da cartilagem cricóide: 
 o m. cricotireóideo de trajeto ascendente e posterior, com suas fibras se 
inserindo na borda inferior da lâmina da cartilagem tireóide e na borda 
anterior do corno inferior. 
 o m. crico-aritenóideo lateral de trajeto posterior, com suas fibras se 
inserindo no processo muscular da cartilagem aritenóide. 
 o m. crico-aritenóideo posterior, cujas fibras, com trajeto lateral, se inserem 
no processo muscular da cartilagem aritenóide. 
Dois músculos, intimamente ligados entre si, unem as cartilagens tireóide e 
aritenóides: 
 o m. tireo-aritenóideo vai da face lateral da cartilagem aritenóide à face 
posterior da cartilagem tireóide nas proximidades do plano mediano. Suas 
fibras são paralelas ao ligamento vocal e estão fixadas à borda lateral deste. 
 o m. vocal, formado pelas fibras derivadas do m. tireo-aritenóideo que se 
fixam à borda lateral do ligamento vocal. 
Dois músculos unem as cartilagens aritenóides entre si: 
 o m. aritenóideo transverso que une posteriormente as cartilagens 
aritenóides. 
 o m. aritenóideo oblíquo, formado por dois feixes musculares que cruzam 
posteriormente o aritenóideo transverso e se fixam, por um lado, no processo 
muscular da cartilagem aritenóide e, por outro, no ápice da cartilagem 
aritenóide do lado oposto. 
 Finalmente, dois músculos unem as cartilagens aritenóides à epiglote (m. ari-
epiglótico) e a cartilagem tireóide à epiglote (m. tireo-epiglótico). 
INERVAÇÃO E AÇÕES 
Todos os músculos intrínsecos da laringe, com exceção do cricotireóideo, são 
inervados pelo n. laríngeo recorrente , ramo do n. vago. O m. cricotireóideo é inervado 
pelo ramo laríngeo externo do n. laríngeo superior do n. vago. Acredita-se que as 
fibras que inervam estes músculos, entretanto, se originam da raiz bulbar do n. 
acessório e apenas são distribuídas pelo vago. 
As ações principais dos músculos intrínsecos da laringe são as seguintes: 
 tensionar ou relaxar o ligamento vocal, ou seja, aumentar ou encurtar a 
distância que separa as cartilagens aritenóides e tireóide. 
 aduzir ou abduzir os ligamentos vocais, ou seja, afastar ou aproximar do plano 
mediano os ligamentos vocais. Conseqüentemente, significa aumentar ou 
reduzir a rima da glote. 
 ocluir o ádito da laringe, ou seja, fechar a entrada da laringe. 
O m. cricotireóideo é o principal tensor do ligamento vocal. Ele aproxima as bordas 
anteriores das cartilagens cricóide e tireóide, aumentando a distância posterior 
entre as duas cartilagens e, conseqüentemente, tensionando o ligamento vocal. 
A ação oposta é feita pelo m. tireo-aritenóideo que traciona a cartilagem aritenóide 
em direção à cartilagem tireóide, reduzindo a distância que as separa e relaxando o 
ligamento vocal. Deve ser ressaltado que o m. vocal, parte do tireo-aritenóideo, é 
capaz de alterar a tensão de partes isoladas do ligamento vocal. 
O m. crico-aritenóideo posterior é o principal abdutor da prega vocal. Ele traciona os 
processos musculares das cartilagens aritenóides em direção ao plano mediano. Deste 
modo, estas cartilagens fazem uma rotação em torno de um eixo vertical, fazendo 
com que os processos vocais se desloquem lateralmente. A rima da glote, portanto, 
nesta ação, tanto na sua parte intermembranosa (ligamento vocal), quanto na sua 
parte intercartilaginosa (processos vocais das aritenóides) aumenta. A ação oposta, 
isto é, a aproximação dos ligamentos vocais do plano mediano (adução), com 
fechamento da rima da glote, é feita pelos mm. crico-aritenóideo lateral e 
aritenóideo transverso. O primeiro traciona os processos musculares lateralmente, 
uma ação diretamente oposta ao do m. crico-aritenóideo posterior, e o último 
traciona as cartilagens aritenóides uma para junto da outra. 
Os mm. que ocluem o ádito da laringe são o ari-epiglótico, tireo-epiglótico e 
aritenóideos oblíquos. O ari-epiglótico aproxima a cartilagem epiglótica das 
cartilagens aritenóides, o que fecha o ádito da laringe. O tireo-epiglótico transforma 
o ádito numa fenda transversal, o que auxilia a sua oclusão. Os aritenóideos oblíquos 
são auxiliares dos mm. ari-epiglóticos. 
A mucosa da laringe é inervada por dois nervos: o ramo interno do n. laríngeo superior 
e o n. laríngeo recorrente. O primeiro inerva a mucosa da laringe da epiglote até as 
pregas vocais. O segundo é responsável pela inervação sensitiva inferiormente às 
pregas vocais. Assim, a rima da glote é a linha divisória entre os territórios de 
inervação do laríngeo superior e do laríngeo recorrente. 
As aa. laríngeas, superior e inferior, ramos, respectivamente, das aa. tireóidea 
superior e inferior, irrigam a laringe. A laríngea superior acompanha o ramo interno 
do n. laríngeo superior e ambos perfuram a membrana tireo-hióidea para penetrar na 
laringe. A laríngea inferior acompanha o n. laríngeo recorrente. As veias acompanham 
as artérias e os linfáticos drenam para os linfonodos cervicais profundos.

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