Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Afecções do sistema digestivo DOENÇA GÁSTRICA: O vomito é a principal manifestação clínica da doença gástrica. Sangramento gástrico geralmente ocorre nos casos de doença gástrica erosiva-ulcerativa, como hematêmese e melena (fezes enegrecidas). Sangue vivo é no final do trato e escurecido no começo. A distensão abdominal é menos comum, devendo ser diferenciada de outras causas não gástricas, como ascite, organomegalia, neoplasia, hiperadrenocorticismo canino e obesidade. EXAMES LABORATORIAIS: • O hemograma pode estar normal em gastrites primarias • Nos casos de sangramento crônico, pode ocorrer anemia arregenerativa, já em hemorragias agudas significas é mais comum anemia regenerativa • Doenças virais, como o parvovírus, podem causas neutropenia. A eosinofilia pode correr em parasitismos e gastrite eosinofílicas • Enterocolite bacterianas e doença inflamatória intestinal podem causar leucocitose com neutrofilia RADIOGRAFIA: O exame radiográfico contrastado pode ser utilizado no diagnóstico de doenças gástricas, porem requer tempo e radiografias consecutivas. A acurácia e a especificidade diagnosticam são limitadas. O bário deve ser adm. puro ou misturado ao alimento pastoso, as doses recomendadas 8 a 13mL/kg para cães pequenos ou gatos e 4 a 8 ML/kg para cães grandes. O contraste pode indicar estreitamento no piloro, os quais podem ser caracterizados por hiperplasias, neoplasias ou doenças inflamatórias. ULTRASSONOGRAFIA: A ultrassonografia pode ser utilizada, sem contraindicações, e é a de eleição, rotineiramente, mas sua contribuição diagnostica são limitadas para avaliação gástrica. O gás interfere na interpretação do exame devido a produção de artefatos. Animais que serão submetidos a ultrassom, principalmente para avaliação gástrica, devem estar em jejum alimentar, porem a adm. de água deve ser realizada antes do exame, para facilitar a visibilidade da parede gástrica A presença de conteúdo alimentar no estômago também confunde a interpretação diagnostica. A endoscopia possibilita a visualização do lúmen e do esôfago, do estomago e duodeno, de modo minimamente invasivo (porque precisa de sedação) Ela possibilita visualizar inflamação, caracterizada por edema e hiperemia na mucosa gástrica, erosões, ulceras, corpos estranhos, hiperplasias, hemorragia gástrica, pólipos e proliferações teciduais. Sua contribuição se estende, ainda, a coleta de material para realização de exame citológico e ao estudo histopatológico sob orientação visual. GASTRITE AGUDA E DOENÇA GÁSTRICA ULCERATIVA: São várias as causas e fatores que levam a gastrite aguda, como ingestão de corpo estranho, material erosivo, intolerância e indiscrição alimentar, fármacos, parasitos e infecções virais. Grande parte dos animais responde ao tratamento sintomático, porém sem o diagnostico conclusivo. Acredita-se que a exposição repetida a antígenos pode levar a resposta alérgica ou imunomediada que causaria gastrite aguda. Os mecanismos fisiopatológicos gerais de ulceração gástrica incluem lesão direta na barreira da mucosa gástrica, aumento de secreção dos ácidos gástricos, retardo na renovação de ept gástrico e diminuição do fluxo sanguíneo na mucosa. São mutas as causas de ulceração e erosão gástrica. Entre as mais comuns, está a adm. de antinflamatórios não esteroidais. Os AINE cassam uma gastrite por inibição da síntese de prostaglandinas protetoras. CARACTERÍSTICA CLÍNICA: O início das manifestações clinicas acontece de modo agudo e se caracteriza por vômitos intermitentes, hematêmese, melena, dor, apatia e choque. O DIAGNÓSTICO: Deve se basear no histórico clinico, como tratamento com AINE ou corticosteroides, e nas manifestações clinicas. O exame radiográfico contrastado pode ser útil apenas em casos e ulceras muito profundas. A ultrassonografia pode indicar espessamento de mucosa gástrica pela inflamação e liquido livre nos casos de perfuração. A endoscopia é o método diagnostico mais útil, por possibilitar a visibilidade direta da lesão e confirmar o diagnóstico. Biopsias de erosão e ulceras visibilizadas durante o procedimento endoscópico devem ser realizadas e encaminhadas para estudo histopatológico, principalmente quando houver lesões proliferativas ulceradas. TRATAMENTO: A via oral deve ser evitada até que o vomito seja interrompido. A adm. De fluidoterapia mantem o animal hidratado e a perfusão gástrica. A nutrição enteral ou parental deve ser instituída para manter aporte nutricional adequada. O jejum prolongado não é indicado. Em casos de sangramento significativo, a transfusão é indicada para reposição sanguínea, assim como a cirurgia nos casos de transfusão é de, no mínimo, 2 a 3 semanas. Os inibidores da bomba de prótons (omeprazol e lanosprazol) bloqueiam a enzima sodiopotassio adenosina trifosfatase da célula parietal e inibem a formação de ácido gástrico. Os antagonistas de receptor de H2 se ligam a seus receptores nas células parietais produtoras de ácido e tornam as células menos responsivas a gastrina e a acetilcolina. Os antagonistas são famotidina, cimetidina, a nizatidina e a ranitidina. A diferença entre eles está na capacidade supressora de ácido e nos efeitos pró-cinéticos. A ranitidina e a nizatidina tem efeito procinético e antiácido, pois, além de diminuírem a acidez gástrica, aumentam a motilidade e o esvaziamento gástrico, auxiliando na diminuição dos refluxos gastresofágicos e enterogástrico. O Sucralfato é indicado, por ser eficaz no tratamento de gastrites erosivas e ulcerativas, pois se adere as lesões, formando uma camada protetora. A dose é de 0,5 a 1g a cada 6 a 12 horas. Os fármacos pró-cinéticos melhoram o esvaziamento gástrico e diminuem o refluxo enterogástrico, auxiliando na cicatrização e diminuindo a lesão gástrica. A metoclopramida tem efeito antiemético central e procinético periférico, agindo na musculatura lisa do trato gastrintestinal (contração antral, pilórica e duodenal). Pode ser usada na dose 0,2 a 0,5 mg/kg a cada 8 horas ou 0,01 a 0,02 mg/kg/h em infusão continua por via intravenosa (IV) A eritromicina é um antibiótico que estimula receptores de motilidade da musculatura gastrintestinal lisa. Age, principalmente, no esvaziamento de sólidos, devendo ser administrada em jejum. A dose pró-cinética de eritromicina é de 0,5 a 1mg/kg por via oral (vo) a cada 8h. GASTRITE HEMORRÁGICA AGUDA IDIOPÁTICA: A causa da gastrite hemorrágica não é bem defina, mas pode representar uma reação imunomediada envolvendo o trato gastrintestinal. Sua fisiopatologia se assemelha a enterite hemorrágica aguda em humanos induzida por cepas enteroxigênicas de E. coli Uma característica importante é a Hemoconcentração (hematócrito > 55%), com concentrações normais de proteína plasmática total. A azotemia renal ou pré renal e a trombocitopenia podem estar presentes em animais gravemente acometidos. E Hemoconcentração, associada as manifestações clinicas caracterizadas, pode indicar gastrenterite hemorrágica. Fluidoterapia agressiva é de extrema importância para corrigir a desidratação aguda e evitar choque, coagulação intravascular disseminada secundária à hipoperfusão e insuficiência renal secundaria a hipovolemia. Indicam-se fármacos antissecretores como: • Ranitidina (2 mg/kg, a cada 12 ou 8 h), omeprazol (1 mg/kg, a cada 12 a 24 h) • Fármacos para o controle do vomito, metoclopramida (0,2 a 0,5 mg/kg, a cada 12 a 8 h) e ondansetrona (0,5 mg/kg, a cada 12 a 8 h). • A administração de antibióticos é útil para evitar possível proliferação das bactérias intestinais (p. ex., amoxicilina, ampicilina, enrofloxacina, metronidazol). • O Sucralfato auxilia na cicatrização de úlceras. GASTRITE CRÔNICA – FISIOPATOLOGIA: A gastrite crônica ocorre frequentemente em cães e gatos, porém sua prevalência real não é conhecida. Entreas causas de gastrite crônica, estão alergias alimentares, terapia crônica com AINE e infecções bacterianas, parasitarias e fúngicas. A gastrite crônica é caracterizada por episódios intermitentes de vômitos, algumas vezes com episódios agudos, sem resposta ao tratamento empírico. Outras manifestações clínicas, como anorexia, perda de peso e dor abdominal, podem ocorrer. DIAGNOSTICO: O exame radiográfico simples é útil nos casos em que a causa é a presença de corpo estranho, dependendo de sua radiopacidade. O exame radiográfico contrastado pode contribuir nos casos de retardo no esvaziamento gástrico. O exame ultrassonográfico pode ser útil na mensuração de parede gástrica e, em alguns casos, indicar que existe corpo estranho. A endoscopia digestiva alta é efetiva nesses casos, pois visibiliza a inflamação na mucosa gástrica. GASTRITE ASSOCIADA AO HELIOCOBACTER SPP . : A bactéria em espiral gram-negativa, chamada de Heliocobacter, infecta o estômago de mamíferos. Esses microrganismos produzem urease, enzima que ajuda a bactéria a se adaptar ao ambiente ácido gástrico. • Em humanos, o Helicobacter pylori está associado a gastrites primárias, doença ulcerativa e pode ser causa predisponente de carcinoma e linfoma. • Em cães e gatos, esse microrganismo pode ser encontrado no estômago, porém não é comprovado que seja a causa de gastrite nessas espécies. A prevalência de Helicobacter spp. em cães é alta. TRATAMENTO: O tratamento em cães e gatos geralmente é instituído quando a infecção estiver associada a manifestações clínicas relacionadas ou à ausência de outras doenças que o justifique. Em humanos, o tratamento inclui a associação de antibióticos com bismuto. O bismuto tem atividade antimicrobiana contra Heliocobacter. Metronidazol, azitromicina, amoxicilina e tetraciclina são antibióticos usados em humanos, associados ao omeprazol. RETARDO NO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO: Alterações na motilidade gástrica resultam em doenças que podem interromper, direta ou indiretamente, o funcionamento gástrico. Entre as causas mais comuns de retardo no esvaziamento gástrico, estão obstrução mecânica, alterações funcionais, estenose pilórica e gastropatia pilórica hipertrófica crônica (CHPG –chronic hypertrophic pyloric gastropathy). A obstrução mecânica pode ser secundária a lesões anatômicas em piloro e/ou duodenais. Estenose pilórica ocorre devido à hipertrofia da musculatura pilórica e, assim como a CHPG, pode ser congênita ou adquirida. As raças mais predispostas são as braquicefalicos ou pequenas, como Lhasa Apso, Boxer, Shih Tzu, Boston terrier e Maltês, e machos de meia-idade são mais acometidos. Neoplasias infiltrativas ou pólipos em piloro ou no duodeno também podem prejudicar o esvaziamento gástrico. O tratamento para CHPG e estenose pilórica é cirúrgico. O prognóstico normalmente é bom, mas alguns pacientes necessitam de refeições pequenas e frequentes e do auxílio de medicamentos pró-cine ́ticos, como a metoclopramida. No caso de retardo funcional, no qual não há causa mecânica ou metabólica, o tratamento baseia-se em alimentação específica e na utilização desses medicamentos. O fármaco pró-cinético mais eficaz é a cisaprida, pois coordena as contrações de antro, piloro e duodeno, aumentando o tempo entre as contrações duodenais, sem efeitos colaterais. A metoclopramida também acelera o esvaziamento gástrico e pode ser utilizada em alterações de motilidade associadas a causas metabólicas, as quais podem estimular o centro do vômito. Os antagonistas de receptores H2, ranitidina e nizatidina, também são utilizados como pró- cine ́ticos, inibem a secreção de a ́cido gástrico, estimulam o esvaziamento gástrico e a motilidade do intestino delgado e do cólon. GASTRITE PARASITÁRIA: Nematoides, como Physaloptera spp. habitam o estômago e o duodeno proximal de muitos carnívoros. A existência desses parasitos no estômago causa vômitos intermitentes e gastrite. Em cães, encontra-se o nematoide Physaloptera rara; nos gatos, o Ollulanus tricuspis. TRATAMENTO: • O tratamento com pamoato de pirantel (5 mg/kg, por 3 semanas) elimina o Physaloptera rara. • O tratamento para Ollulanus tricuspis é incerto. • O fembendazol (10 mg/kg, a cada 24 h, por 2 dias) pode ser eficaz. CORPOS ESTRANHOS GÁSTRICOS: A manifestação clínica mais frequente é o vômito. A ingestão de corpos estranhos é mais comum por filhotes, mas cães adultos, e até́ mesmo idosos, podem ingerir objetos. O vo ̂mito pode ser consequência de obstrução da saída gástrica ou irritação da mucosa. Nos casos em que não ocorre lesão grave na mucosa ou obstrução, o objeto pode permanecer no estômago por meses, sem manifestações clínicas ou com vômitos esporádicos. Corpos estranhos lineares podem causar perfuração intestinal com subsequente peritonite, por isso o diagnóstico deve ser preciso. TRATAMENTO: Corpos estranhos pequenos podem passar pelo trato gastrintestinal sem causar lesões importantes, porém grande parte necessita de remoção, que pode ser realizada por meio de cirurgia ou endoscopia. DILATAÇÃO VÓLVULO GÁSTRICO: Dilatação-vólvulo gástrico (DVG) ocorre, em geral, devido ao acúmulo de gás e líquido em excesso, dilatando o estômago. A aerofagia, fermentação causada pelo conteúdo alimentar e por bactérias, também contribui para o acúmulo de gás. A dilatação gástrica pode ser inicialmente simples, mantendo sua posição anatômica, ou progredir para torção, a qual pode ser parcial ou total. Essa rotação pode ocorrer no sentido horário ou anti-horário, entre 270° e 360°. O sentido horário é o mais comum, caracterizado pela rotação do piloro pela direita, passando por cima do fundo e corpo gástrico. Dependendo do grau da torção, o baço pode estar envolvido, juntamente com o omento maior, passando por cima do corpo gástrico e ficando à direita na parede abdominal. Durante a torção gástrica, o fluxo gástrico é interrompido e há́ mais formaça ̃o de ga ́s. O grande volume gástrico causa congestão mesentérica devido à obstrução das veias hepática e cava, levando a diminuição do débito cardíaco, choque e coagulação intravascular disseminada (CID). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: DVG ocorre, predominantemente, em cães de grande porte, devido ao tórax profundo. A ingestão de grandes volumes de comida e água pode causar a distensão do estômago, facilitando a torção, assim como a realização de exercícios com o estômago repleto. Os cães podem apresentar dor abdominal, vômitos improdutivos e distensão abdominal timpânica. A acidose metabólica ocorre comumente no paciente com DVG devido à diminuição do volume sanguíneo circulante, à hipoxia e à acidose láctica. Devido à alteração circulatória importante, os cães podem evoluir rapidamente ao choque. Por isso, DVG caracteriza-se como emergência. TRATAMENTO: • O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível como nos casos de choque, com fluidoterapia agressiva (50 ml/kg nos primeiros 15 min). O mesmo volume deverá ser administrado por mais 30 a 45 min. Dependendo da resposta do paciente, o cristaloide pode ser diminuído para 20 a 40 ml/kg/h pelas próximas 2 h e, então, para 11 a 22 ml/kg/h. • O uso de coloides pode ser de grande valia (11 ml/kg em bolus, em 10 a 15 min). • A aferição de pressão venosa central ou pressão arterial sistêmica, débito rinário, pulso e preenchimento capilar é útil para monitoramento e para avaliar a quantidade de fluidoterapia a ser administrada. O volume globular e a proteína total plasmática devem ser monitorados devido à hemodiluição. A descompressão gástrica deve ser feita imediatamente, pois melhora o débito cardíaco e alivia a oclusãoda veia cava caudal e das veias portais. Pode ser feita pela passagem de tubo ou sonda gástrica ou centese gástrica. A centese é mais bem tolerada e pode ser feita com um cateter 14 ou 16 G do lado esquerdo. Caso seja possível a passagem da sonda, o conteúdo gástrico deve ser removido, sendo necessário sedar o animal. A incapacidade de passagem da sonda não significa que o vólvulo está presente, e vice-versa. O esto ̂mago deve ser reposicionado e a gastropexia, feita para evitar recidiva. A mucosa do estômago deve ser inspecionada quanto a ulcerações, isquemia e necrose. Se necessário, o tecido desvitalizado deve ser removido. O comprometimento vascular do baço deve ser avaliado e, se necessário, realizada a esplenectomia.3 Antibioticoterapia é indicada devido à alta probabilidade de ocorrência de sepse. Recomendam-se ampicilina (22 mg/kg), enrofloxacino (5 mg/kg) e cefalexina (20 mg/kg). O uso de corticoides pode ser benéfico para o tratamento inicial devido ao choque. Altas doses, no início, podem melhorar o fluxo sanguíneo, diminuir a permeabilidade dos vasos e reduzir a absorção intestinal. Recomenda-se succinato sódico de prednisolona (40 mg/kg IV, a cada 1 a 3 h) ou fosfato sódico de dexametasona (10 mg/kg IV, a cada 3 a 6 h, conforme a necessidade) para o choque. Os antagonistas de receptor H2 podem ser administrados, assim como o omeprazol nos casos de lesão gástrica grave. As arritmias podem se desenvolver até 72 h após o início de DVG. DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO: DIARREIAS AGUDAS: Causas comuns associadas a diarreias agudas são alterações ou intolerâncias dietéticas, medicamentos, toxinas, parasitos intestinais, agentes infecciosos (bactérias, vírus e riquétsias), além de distúrbios sistêmicos ou metabólicos. Embora existam exceções, as diarreias agudas associadas a dieta, parasitos e medicamentos são geralmente menos graves e autolimitantes. Algumas causas de diarreias agudas graves que requerem rápida intervenção por representarem risco de vida aos animais ocorrem mais frequentemente em animais jovens (idade menor ou igual a 12 meses) e são causadas por enterites infecciosas. Como exemplo, têm-se as infecções pelo vírus da parvovirose canina (CPV). FISIOPATOGENIA: Vários são os mecanismos de ação envolvidos na instalação do quadro de diarreia, sendo quatro os principais: alterações osmóticas, distúrbios promotores de hipersecreção, elevação na taxa de permeabilidade das mucosas e motilidade intestinal alterada. Em função da grande quantidade de secreções fisiológicas diárias provenientes de glândulas salivares, estômago, intestinos delgado e grosso, pa ̂ncreas e fígado, uma grande quantidade de fluidos é perdida caso o trato intestinal não estiver com seu funcionamento regular e equilibrado. A concentração de solutos osmoticamente ativos retidos no lúmen intestinal determinará o teor hídrico encontrado nas fezes. O aumento excessivo na permeabilidade de mucosas resulta em perda de fluidos, eletrólitos, proteínas e hemácias no interior do lúmen intestinal. Esse aumento de permeabilidade está́, frequentemente, associado a processos erosivos, ulcerativos, inflamatórios e neoplásicos, como as doenças intestinais inflamatórias e os linfomas. TRATAMENTO: A fluidoterapia com soluções cristaloides (solução de ringer com lactato ou NaCl a 0,9%) deve ser iniciada com o objetivo de repor a volemia rapidamente. Esses animais estão sempre desidratados, portanto, a reposição das perdas estimadas deve ser realizada nas primeiras 4 a 6 h. Animais em choque hipovolêmico devem receber uma quantidade de fluido igual a um volume sangui ́neo na primeira hora, até́ o restabelecimento do equili ́brio hemodina ̂mico: • Desidratação = desidratação estimada (%) × peso (kg) • Manutenção = 40 a 60 ml/kg/dia • Perdas (vômito e diarreia) = 40 a 60 ml/kg/dia. • A reposição de eletrólitos, principalmente o potássio sérico, é muito importante. • A administração de glicose é indicada para pacientes com hipoglicemia. Nesse caso, deve-se administrar glicose a 25% embolus e, a seguir, infundir fluidos que contenham 5% de glicose para manutenção da normoglicemia. • A antibioticoterapia geralmente é preconizada para prevenção da sepse • (amoxicilina-clavulanato) DIARREIAS CRÔNICAS: Podem ser classificadas em doenças de má digestão (ou doenças intraluminais) e má absorção (ou doenças da mucosa intestinal). O acometimento da drenagem linfática intestinal ou linfangiectasia é classificado como um distúrbio “pós-mucosa” devido à sua localização (submucosa). A seguir, são destacadas as classificações e as doenças mais comuns de cada uma delas: • Distúrbios intraluminais (má digestão): • Parasitismo • Insuficie ̂ncia pancreática exócrina • Supercrescimento bacteriano intestinal A seguir, são destacadas as classificações e as doenças mais comuns de cada uma delas: • Distúrbios da mucosa intestinal (má absorção): • Síndrome do intestino curto • Hipersensibilidade alimentar • Doença inflamatória intestinal • Linfoma intestinal ou outras neoplasias • Distúrbios “pós-mucosa”: • Linfangiectasia (congênita ou adquirida). A distinção entre os distúrbios da mucosa intestinal e os intraluminais é muito importante para o prosseguimento do diagnóstico diferencial. Os próximos passos incluem exames laboratoriais, de imagem e, algumas vezes, exame histopatológico de fragmento obtido por biopsia do trato gastrintestinal. DOENÇAS DO CÓLON: COLITES CRÔNICAS: As colites crônicas são causas comuns de diarreia de intestino grosso. Cães e gatos com colite têm hematoquezia e fezes com muco. A consistência das fezes é variável. Inicialmente as fezes podem ser aquosas e com volume aumentado, seguidas da eliminação de pequenas quantidades com muco e sangue. Normalmente esses pacientes apresentam tenesmo, disquezia e urgência para defecar. Embora a definição “clássica” de diarreia crônica seja diarreia que persiste por mais de 2 semanas, cães com colite crônica podem ter crises intermitentes que, com o passar do tempo, vão se tornando mais frequentes. ETIOLOGIA E FISIOPATOGENIA: A etiologia e a fisiopatologia das colites de pequenos animais são desconhecidas. Em seres humanos, as principais doenças inflamatórias do cólon são a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Embora a maior parte das colites crônicas de cães seja menos grave do que as doenças de seres humanos, uma etiologia semelhante é postulada. Acredita-se que essas doenças sejam decorrentes de interação anormal entre as bactérias intestinais e o sistema imunológico. Uma das hipóteses é que, nessas doenças, há perda da tolerância imunológica contra antígenos microbianos normais. O defeito primário é do sistema imune da mucosa, que faz uma resposta inflamatória inadequada contra a flora normal, qualitativa e quantitativamente. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Além da diarreia típica de intestino grosso, cães e gatos com colite geralmente têm poucos sintomas associados. Aqueles pacientes com colite intermitente podem apresentar anorexia e vômito, que precedem o episódio de colite. A crise geralmente não dura mais do que 2 dias e o animal volta ao normal. Geralmente ocorre emagrecimento. Sintomas como anorexia prolongada e emagrecimento são indícios de doença mais grave. DIAGNOSTICO: O diagnóstico definitivo depende da avaliação histológica de espécimes de biopsia do cólon. A colonoscopia é um método eficiente e pouco invasivo para avaliação da mucosa colônica e a obtenção de fragmentos para análise. Como a etiologia das doenças inflamatórias intestinais de cães e gatos é desconhecida, abiopsia é importante para descartar malignidade, para classificar a gravidade do quadro e servir como base para o tratamento. O diagnóstico definitivo depende da avaliação histológica de espécimes de biopsia do cólon. A colonoscopia é um método eficiente e pouco invasivo para avaliação da mucosa colônica e a obtenção de fragmentos para análise. Como a etiologia das doenças inflamatórias intestinais de cães e gatos é desconhecida, a biopsia é importante para descartar malignidade, para classificar a gravidade do quadro e servir como base para o tratamento. TRATAMENTO: Inclui a administração de antibióticos, anti- inflamatórios e manejo dietético. ANTIBIÓTICOS O uso de antibióticos é geralmente recomendado nos casos de colite cro ̂nica, devido à hipótese de esses quadros serem decorrentes de uma resposta imunológica inapropriada contra a flora do cólon. O metronidazol é um dos mais utilizados, e alguns pacientes com colite branda podem ser tratados apenas com esse antibiótico. A dose empregada é de 10 a 20 mg/kg, 2 vezes/dia. ANTINFLAMATÓRIOS: Os derivados da mesalamina ou ácido 5- aminosalicilíco são os medicamentos de escolha para o tratamento das colites crônicas em cães. A mesalamina é um fármaco semelhante ao ácido acetilsalicílico, que tem grande ação anti-inflamatória no cólon. A mesalamina, quando administrada por via oral, sofre absorção no estômago e no intestino delgado. Por esse motivo, derivados da mesalamina, como a sulfassalazina e preparados da mesalamina com proteção entérica, são os medicamentos mais usados na rotina clínica. MANEJO DIETÉTICO: O uso de dietas de eliminação ou hipoalerge ̂nicas é recomendado a pacientes com colite eosinofílica e felinos com colite crônica. Constipação intestinal, obstipação e megacólon: Constipação intestinal é um quadro caracterizado por defecação infrequente e fezes excessivamente firmes e ressecadas. O termo “obstipação” é usado para casos de constipação intestinal intratável, decorrente de alterações irreversíveis da função do cólon. O termo “megacólon” é usado em casos de dilatação colo ̂nica total. Muitos casos estão relacionados com a disquezia e o tenesmo, o que faz com que o paciente evite a defecação. Ocorre, então, absorção de água dessas fezes retidas e, na próxima tentativa, a defecação será mais dolorosa. Fatores ambientais ou de manejo também podem fazer que o animal evite a defecação. Assim, esse ciclo de constipação intestinal e dor é estabelecido. TRATAMENTO: Pacientes com constipação intestinal moderada a grave, incapazes de defecar, devem ter as fezes removidas antes de tentativas de tratamento domiciliar. Em alguns casos, a administração de enema de lactulose misturado com água, na proporção de 1:1, é suficiente para lubrificar e hidratar as fezes e o paciente consegue defecar espontaneamente. Enemas fosfatados sa ̃o contraindicados a felinos, pois podem causar hiperfosfatemia, hipernatremia e hipocalcemia graves. TERAPIA DIETÉTICA: As fibras formadoras de massa são compostos de fibras solúveis como o farelo de trigo e o Psyllium, polissacarídios não absorvíveis. Sua ação baseia-se na capacidade de esses compostos atrair e reter água, proporcionando a formação de fezes mais macias e facilitando a defecação. Esses compostos também são metabolizados por bactérias do cólon em ácidos graxos voláteis, que também têm efeito positivo na motilidade do co ́lon. LAXANTES: Os laxantes osmóticos, como a lactulose, são opções para tratar a constipação intestinal a curto prazo, por exemplo, para facilitar a defecação em um paciente enquanto se aguarda a correção da causa de constipação intestinal. A lactulose é um dissacarídio não absorvível, que causa retenção de água nas fezes, por aumentar a osmolalidade do bolo fecal. A flatulência é o efeito colateral mais comum. Como é um açúcar, o sabor pode ser um fator limitante para seu uso, principalmente em felinos. TRATAMENTO CIRÚRGICO: • A colectomia parcial é indicada para gatos com obstipação, e os resultados são bons. • Os resultados da colectomia em cães são variáveis, e muitos animais podem ter incontine ̂ncia fecal após a cirurgia. PRINCIPAIS DOENÇAS ANORRETAIS: SACULITE ANAL: É a inflamação dos sacos anais (ou glândulas para-anais) que causará decomposição da secreção glandular, com posterior infecção secundária. Os cães de porte pequeno parecem ser mais predispostos, como Lhasa Apso, Shih Tzu, Maltês e Daschund. Não há predisposição etária. Observam-se eritema, edema, secreção purulenta acompanhada de prurido e lambedura. Eventualmente, o paciente pode apresentar disquezia. O diagnóstico, na maior parte dos casos, é clínico, mas pode ser necessária a realização de exame histopatológico para descartar neoplasias. FÍSTULA PERIANAL • A fístula perianal, também denominada furunculose anal ou abscesso anorretal, é uma doença imunomediada, com formação de trajetos fistulosos ulcerados de caráter progressivo. • As lesões podem ser acompanhadas de dor, disquezia, hematoquezia e incontine ̂ncia fecal. Há similaridades da fístula perianal com a doença de Crohn em seres humanos, que é uma doença inflamatória intestinal responsiva a fármacos imunossupressores. Existem relatos que sugerem correlações de endocrinopatias, como o hipotireoidismo, e que talvez possam contribuir para o desenvolvimento da doença. • Prednisolona • Imunossupressores: ciclosporina, azatioprina, tacrolimus
Compartilhar